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ive eS A DOUTRINA DO FASCISMO, de Benito Mussolini ¢ Giovanni Gentile (1932) fee = Eco Tueches extraidos de htp:/Mforumpatcia.comfindex.php?topic=52 0] Sere ae Ideias fundamentais BULA Fete 1. Como toda a concepeio politica sélida, o Fascismo ¢ acgo € pensarnento; acco em que esté imanente uma doutrina e doutrina que, surgindo de um dado sistema de foreas histéricas, esti nele inserido ¢ af opera intemnamente Possui, portanto, uma forma correlativa is exigéncias de lugar e de tempo e, simultaneamente, um conteido ideal que a eleva a formula de verdade na histéria superior do pensamento. E impossivel agir espiritualmente no mundo, como ‘vontade humana, dominadora de vontades, sem um conceito da x altlode transitrla particular sobre a qual & preeiso actuar, e da realidade permanente ¢ universal, que & rez#o de ‘ser ¢ da vida da primeira. E preciso conhecer 0 homem para poder conhecer os homens; ¢ para conhecer o homem, & aecessirio conhecer a realidade e as suas leis, No ha concepedo de Estado que no seja fundamentalmente uma concepgdo da vide ilosofia ov intuigf, sistema de ideias que se desenvolve numa construgdo légica ou se concenta numa visao ov numa fé, mas sempre, pelo menos virtualmente, uma concepgao orgénica do mundo. Bassin, nao se poder compreender o Fascismo nos seus varios aspectos pric, como organizaqdo de parti, 2 nade edusagto e disciplina, sem o encararmos, antes de mais, luz do seu modo geral de conceber a vide: modo spiritualist, Para o Fascismo, o mundo hao é o mundo material conforme aparece & primeira vista, no qual o homem um indi xisténcia de prazer egoista e momentineo. O homem do Fascismo € 0 individuo que € nagio e patra, lei ‘moral que sine conjuntamenteindividuos e geragBes numa tradigdo e numa misslo, que suprime o instinto da vida encerrada nd breve instante do prazer para instaurar no dever uma vida superior liberta dos limites do tempo ¢ do espago: ume vida em que o individuo, através da abnegaglo de si mesmo, do sacrifcio dos seus interesses particulares ¢ ‘até da propria Jnorte, realiza aquela existéncia inteiramente espiritual onde reside o seu valor de homem. Foncepeto espirtualista, portanto,surgida também da reacgz0 geral do século contra o positivismo do Ocidente Froco o materialicia. Antipositivista, mas positiva: nem céptica, nem agndstica, nem pessimiste, nem passivamente coptimista, como sfo em geral as doutrinas (todas negativas) que colocam o centro da vida fora do homer, ‘qual pode cueve, com a sua livre vontadé criar o seu mundo. O Fascismo quer o homem activo ¢ empenhado na aero com odes gs suas energias, virilmente consciente das dificuldades e pronto para enfrenté-las. Concebe a vida como ume Jota, pensando que cabe ao homem conquistar a existencia vordadeiramente digna dele, criando em si proprio, antes de tafe oinstrumento (fsico, moral, intelectual) para a edifiear. Isto aplica-se tanto a0 individuo singular como 4 ago e 4 humanidade. Daj oalte valor da cultura em todas as suas formas - arte, religifo, ciéncia-e a formidvel importancia da eduencto. Dal também o valor esseneial do trabalho, com 0 qual o homem vence a natureza ¢ produz o mundo humano (econémico, politico, moral ¢ intelectual). f Esta concepgdo positiva da vida é uma concepedo ética, evidentemente; abrange toda a realidade, bem como 2 datividade humana que a domina. Nenhuma acgao escapa ao julgamento moral: nada ha no mundo que possa despojar-se do valor que a tudo cabe atribuir em relagio aos fins moral Portento, tal qual a concebe o fascist a vida 6 séra, austera, religiose,inteiramente concentrada num mundo gustentado pelas forgas morais e responséveis do espirit. O Fascismo despreza a vida cémoda $S Taceieno € uma concepeto religiosa onde o homem é encarado sob o ponto de vista da sua relaglo com uma le superior, com uma vontade objectiva que transcende 0 individuo particular, elevando-o a membro consciente de uma sociedade cspiritual, Quem, na politica religiosa do regime fascista, se deteve em consideragdes de mera Sportunidade, nfo compreendeu que, além de serum sistema de governo, o Fascismo ¢ também ¢ acima de tudo um sistema de pensamento, 6.0 Fasciomo é uma concepc0 histérica, segundo a qual o homem sé é aquilo que é, em virtude do proceso ec Retuel para que coneorre no grupo familiar ¢ social, na nacio e na histéria, na qual todas as nagdes colaboram. Dai, © prande valor da tradigao nas memérias, nas linguas, nos costumes, nas normas da vida soci Fora da historia, o homem nada é. Por isso, o Fascismo se ergue contra todas as abstracydes ind rnaterialista tipo século XVI; e contra todas as utopias ¢ inovagdes jecobinas. Nao julga possivel afeli Tears, como a desejava a literatura economicista do século XVIII e, portant, repele as concepedes teleoldpicas ve amen certa época da historia, a organizagao defintiva do género humano. Isto significa colocar-se fora da historia e da vida, que é um continuo flur e devir, Politcamente, 0 Fascismo quer ser uma doutrina realista: na pritica, aspiraa resolver apenas os problemas que surgem por si, historicamente, permitindo a sua propria solugso(), Fara agir entre ce homens, tal como na natureza, & preciso entrar no processo da realidade e tomnar-se senhor das forgas actuate catista, a eonceppio fascista &a favor do Estado; e € pelo individuo, na medida em que este coincide eaenaaeda, conscigacia e ventade universal uo Kemer, na sua existésca histories. Repeleo iberalistuo cléssico, Gque surgiu da necessidade de reagir contra 0 absolutismo ¢ esgotou a sua fungao histériea desde ques o Estado se 1a STornou na propria consciencia e vontade populares. O liberalismo negava o Estado no interesse do individuo particular, o Fascismo reafirma o Estado como a realidade verdadeira do individuo. E, se a liberdade deve ser a ‘duo separado de todos os outros, governado por uma lei natural que, instintivamente,o leva a viver uma prerrogativa do homem real e nao do abstracto fantoche em que pensava o liberalismo individualista, o Fascismo é pela liberdade. E é pela dnica liberdade que pode ser uma coisa séria, a liberdade do Estado ¢ do individuo no Estado, tuma vez que, para ¢ fascista, tudo esta eoncentrado no Estado e nada existe de hunano ou de espiritual, ¢ muito menos tem valor, fora do Estado. Neste sentido, 0 Fascismo € totalitério, ¢ 0 Estado fascista, sintese ¢ unidade de todos os valores, interpreta, desenvolve € potencia a totalidade da vida do povo. ‘ 8, Nem individuos, nem grupos (partidos politicos, associagdes, sindicatos, classes) fora do Estado. Por isso, o Fascismo € contra 0 socialismo que paralisa 0 movimento histdrico na luta de classes ¢ ignora a unidade estatal que funde as classes numa tnica realidade econémica e moral; analogamente, é contra o sindicalismo classista. Mas, na Grbita do Estado organizador, o Fascismo quer que sejam reconhecidas as exigéncias reais que deram origem ao movimento socialista e sindicalista, fazendo-as valer no sistema corporativo, que concilia os diversos interesses na unidade do Estado. 9. Segundo as categorias dos interesses, os individuos sao classes; so sindicatos, segundo as diferentes actividades ‘econémicas co-interessadas; mas, antes e acima de tudo, sio Estado. Este nao € numero, um somatério de individuos que constituem a maioria de um povo. Por isso mesmo, o Fascismo € contra a democracia, que identifica 0 povo ao maior niimero, rebaixando-o ao nivel da maioria, mas é a forma mais pura de democracia, se 0 povo ¢ concebido consoante deve ser, isto é, qualitativa e no quantitativamente, como a ideia mais forte, porque a mais moral, coerente ¢ verdadeira, que actua no povo como consciéncia ¢ vontade de poucos ou até de um sé € como teal que tende a agir na consciéncia ¢ na vontade de todos. De todos os que, etnicamente, extraem da natureza e da hist6ria as raz6es para formar uma nagao, ligados pela mesma linha de evolug2o e de formagao espiritual de modo a constituir uma s6 consciéncia, uma s6 vontade. ‘io estamos perante uma raga ou uma regi8o geograficamente individualizada, mas face a uma estirpe que se perpetua historicamente, urna multidao unificada por uma ideia que € vontade de existéncia e de poder: consciéneia de si, personalidade. 10. Essa personalidade superior é a nago, porque & Estado. Nao é a nao que eria o Estado segundo o velho conceito naturalista que serviu de base & exaltago dos Estados nacionais no século XIX, Antes, a nagdo é criada pelo Estado, que dé ao povo consciente da propria unidade moral uma vontade e, portanto, uma existéncia efectiva. O direito de uma nag&o a independéncia deriva, nao de uma ‘consciéncia literdria ¢ ideal do préprio ser, nem to-pouco de uma situagdo de facto mais ou menos inconsciente ¢ inerte, mas de uma consciéncia activa, de uma vontade politica em ‘acco € disposta a demonstrar 0 proprio dircito, isto é, de uma espécie de Estado ja in fieri. De facto, como vontade. ética universal, o Estado é criador do direito. 11,A nagdo como Estado é uma realidade ética que existe e vive enquanto se desenvolve. Se parar, morre, Por isso, 0 Estado ndo é somente a autoridade que governa e da forma de lei e valor de vida espiritual & vontade individual, € também forga que fez valer a sua vontade no exterior, obtendo reconhecimento e respeito, isto é, demonstrando factualmente a sua universalidade em todas as determinagdes necessirias do seu desenvolvimento. , portanto, ‘organizagao ¢ expanséo, pelo menos virtual. Pode assim adaptar-se & natureza da vontade humana que no seu desenvolvimento ndo conhece obstaculos e se realiza provando a propria infinitude. : 12, O Estado fascista, forma mais alta e poderosa de personalidade, é forga, mas forea espiritual. Esta concentra em si todas as estruturas da vida moral e intelectual do homem, Nao pode limitar-se a simples fungies de ordem ¢ de tutcla, ‘como pretendia o liberalismo. Nao é um simples mecanismo que limita a esfera das chamadas liberdades individuais. E forma, norma interior e disciplina da pessoa na totalidade; penetra na vontade como na inteligéncia. O seu principio, inspiragio central da personalidade humana vivendo em sociedade, entra nas profundidades e instala-se no coraco do hhomem de aogio, do pensador, do artista, do sébio: alma da alma. 13. Em sintese, o Fascismo nao é somente promulgador de leis ¢ fundador de institutos, mas educador ¢ promotor de vida espiritual, Pretende refazer, nfo as formas da vida humana, mas o homem, o cardcter, a fé, Para alcangar este fim, nocessita de disciplina e de autoridade que penetrem nos espiritos, dominando-os incontestavelmente. O seu emblema 6, pois, o feixe dos Lictores, simbolo de unidade, de fora ¢ de. justiga. Doutrina politica ¢ social 1. Quando no j to longinquo Margo de 1919 convoquei em Milo nas colunas do Popolo d'talia os sobreviventes intervencionistas-combatentes que me haviam seguido desde a constituigo dos Fascios de Acgéo Revolucionaria, em ‘Janeiro de 1915 - nao havia qualquer plano doutrinério especifico no meu espirito, De uma s6 doutrina tinha tido experiéncia viva: a do socialismo desde 1903-1904 até ao Inverno de 1914; quase um decénio. Experiéncia de filiado ¢ de chefe, no experiéncia doutrinal. Mesmo naquele periodo, a minha doutrina foi ‘sempre a doutrina da acs. Nao havia desde 1905 uma doutrina univoca, universalmente aceite, a0 comecar n’ ‘Alemanha 0 movimento .ov'sionista chefiado por Bemsicin contra o qual, na aiternéncia das tendéncias, se formou ‘um movimento revoluciondrio de esquerda que na Itélia no passou do terreno teérico, mas que no socialismo russo foi o prelidio do bolchevismo. Reformismo, revolucionarismo, centrismo; até os ecos dessa terminologia se cextinguiram, mas na grande corrente do Fascismo encontrareis os fildes que partiram de Sorel, de Péguy, de 1 agardelle, do Mouvement Socialiste ¢ da coorte dos sindicalstasitolianos que de 1904 a 1914 trouxeram uma nota de novidade ao meio socialista italiano, desvirilizado e cloruformizado pela jomicayao giolitiana, com as Pagine Libere de Oliveiti, La Lupa de Orano, ¢ Il Devenir Sociale de Enrico Leone. ‘Acabada a guerra, 0 soclalismo ja nao existia como doutrina em 1919: exist sé. como rancor e com uma tnica Ainalidade, prineipalmente na Ita, as represslias contra aqueles que tinham querido a guerra e que deviam expié-la © Popolo d'tala tina como subtitulo Diério dos combatentes ¢ dos produtores. A palavra produtores era jé.a expresso de uma oYentagio mental, O Fascismo nao surgiu de uma doutrina elaborada antecipadamente em tomo de dima secretéria: nasceu da necessidade de acgao e foi acgo; ndo foi partido, nos primeiros dois anos foi antipartido e jnovimento, O nome que dei a organizagio fixava-Ihe os caracteres. Entretanto, quem reler nas folhes jé amareladas dda época a narragao da reunifio constitutiva dos Fascios itaianos de combate, ndo encontraré urna doutrina, mas uma ‘série de apontamentos, antecipagSes e esbocos que, libertados do jugo inevitavel das contingéncias, deviam, depois de alguns anos, desenvolver-se numa série de posigdes doutrinérias que feziam do Fascismo ume doutrina politica em confronto com as outras, passadas e contemporaneas. "Se a burguesia, dizia eu entGo, julga encontrar em nds 0 seu péra-raios, engana-se. Devemos ir de encontro ao trabalho... Queremos habituar as classes operérias 4 capacidade de ireegdo, até para as convencer de que no é facil diigir uma industria ou um comércio ... Combateremos 0 retrogradismo téenico e espirtual. Aberta a sucessio ao regime, nfo devemos ficar imbeles. Devemos acorrer se 0 regime cair, devemos ocupar 0 seu posto. Cabe-nos 0 direito de sucessio por termos levado 0 pais 4 guerra ¢ 0 Conduzir a vitéria. A representacdo. politica actual ndo é suficiente, queremos uma representacko directa dos vérios interesses ... Poderia dizer-se que com este programa voltamos as Corporagdes. Nao importa! Queria, por isso, que a ‘Assembleia accitasse as reivindicagdes do sindicalismo nacional do ponto de vista econémico. ‘Nao € singular que desde o primeiro dia ressoe na Praga do Santo Sepulero a palavra corporagao, que no decorrer da Revolugdo devia significar uma das criagdes legislativas ¢ sociais bésicas do regime? 2. Os anos que precederam a Marcha sobre Roma foram anos durante os quais as necessidades de acgio no toleraram westigagbes ou elaboragdes doutrindrias completes. Lutava-se nas cidades e nas aldeias, Diseutia-se ¢ o que era mais ‘sagrado e importante - morria-se. E sabia-se morrer. A doutrina completa com divisdes de capitulos, de pardgrafos © floreados de elucubrasio, podia faltar; mas havia algo de mais decisivo a substitui-la: a é. Todavia, quem se lembrar de consultar os livros, 0s artigos, 0s votos dos congressos, os mais longos e mais curtos discursos, quem souber indagar e escolher, descobrira que 0s fundamentos da doutrina foram lan¢ados no ‘mais aceso da luta. E justamente nesses anos que o pensamento fascista se ergue, se aperfeigoa e se encaminha para uma organizagao. Problemas do vdividuo e do Estado, da autoridade ¢ da liberdade, politicos e sociais ¢ os mais especificamente nacionais; a luta contra as doutrinas liberais, democraticas, socialistas, magénicas, populares, foram conduzidas contemporaneamente ‘com as expedigdes punitivas. Mas, porque faltou sistema, os adversérios de mé fé negeram a0 Fascismo toda @ capecidade de doutrina, apesar desta, ainda que tumultuosamente, ir surgindo, primeiro, sob o aspecto de uma negaso dogmatica violenta, como sucede com todas as ideias que despontam, em seguida, sob o aspecto positive de luma construgo que nos anos de 1926, 1927, 1928 encontrou a sua concretizago nas leis ¢ nos insttutos do regime. ‘Nao apenas como regime mas também como doutrinia, o Fascismo esté hoje claramente individualizado. Esta expressaio 6 interpretada no sentido de que, exercendo a sua critica sobre si ¢ sobre os outros, o Fascismo tem o seu ponto de vista inconfundivel de referéncia - portanto de orientagio - em relagao aos problemas que afligem pratica ow intelectualmente os povos do mundo. 3. Antes de tudo, no que diz geralmente respeito a0 futuro ¢ & evolugao da humanidade, o Fascismo ndo eré na possibilidade e na utilidade da paz perpétua. Portanto, repele 0 pacifismo, que oculta uma reniincia & luta ¢ uma Cobardia perante tudo o que é sacrificio. Sé6 a guerra eleva a0 méximo de tensio todas as energias humanas, imprimindo um eunho de nobreza aos povos que tém a virtude de a enfientar. Todas as outras provagSes se reduzem a tmeros substitutes que, na alternativa da vida e da morte, jamais colocam o homem frente a frente consigo mesmo. ‘Assim, uma doutrina que parte do postulado prévio da paz, é tio alheia 20 Fascismo como 0 so a0 seu espirito, inesmo se aceites pela utilidade limitada que possam ter em certas situagdes politicas, todas as organizagdes intemnacionalistas e societérias, que, como a histOria nos demonstra, se dispersam a0 vento quando elementos sentimentais, ideais e préticos, agitam tempestuosamente 0 corago dos povos. Esse espirito antipacifista,transporta-o também o Fascism a vida particular dos individuos. A orgulhosa divisa dos esquadristas me ne frego, “estou-me nas tintas", escrita nas ligaduras de uma ferida, nfo é s6 um acto de filosofia estdica, éa sintese de uma doutrina nao ‘somente politica: 6a educago para o combate ¢ a aceitagdo dos riseos que comporta - é um novo estilo de vide italiano, Assim, o fascista aceita e ama a vida; ignora e considera 0 suicidio uma vileza; compreende a vida como ever, elevago, conguista, a vida deve ser alta e plena: vivida por si propria, mas principalmente para todos os outros, préximos ou longinquos, presentes ou futuros. 4A politica demogrifica do regime é uma consequéncia dessas premissas. O fascista ama o préximo também, mas tease préxiinoe no 6 para cle um con?sito indeterminade: 9 stior ac prosimo nic ienpede as necesséries severidades ‘Educadoras e ainda menos as diferengas e as distancias. O Fascismo repele os abracos universais e, ainda que vivendo ‘ta comunho dos povos eivilizados, olha-os com atengdo e desconfianga, observa-os nos seus estados de espirito ena transformagiio dos seus interesses ¢ niio se deixa enganar pelas aparéncias inconstantes ¢ falsas. 5. Uma tal conceprao da vida leva o Fascismo a ser a decisiva negagao da doutrina fundamental do chamado ‘socialismo cient ismo: a doutrina do mate ino histéri~o, segundo a qual a histéria da civitizagac humana se explicaria univamente pela luta de interesses entre as varias classes sociais ¢ pela mudanga dos meios € instrumentos de produgao. Ninguém nega que as vicissitudes da economia - descoberta de matérias-primas, novos sistemas de trabalho, invengSes cientificas - tenham a sua importéncia prépria; mas que bastem para explicara - histéria humana excluindo todos os outros factores, é um absurdo: o Fascismo cré, ainda e sempre, na santidade e no heroismo, isto é, em acgdes sobre as quais nenhum motivo econémico - longinquo ou préximo - possa ter influéncia. ‘Negado o materialismo histérico para o qual os homens nada mais sto que comparsas da historia que aparecem & desaparecem na superficie das vagas enquanto na profundidade se agitam e trabalham as verdadeiras forgas directrizes, esta negada a luta de classes, invariavel e inevitével, que é a natural consequéncia dessa concepgio ‘economicista da histéria; também e sobretudo, esti negada a tese que a luta de clusses seja o agente preponderante das transformag®es sociais. Ferido o socialismo nesses dois baluartes da sua doutrina, nada mais resta dele que a aspiragio sentimental - antiga como a humanidade - a convivéncia social na qual sejam aliviados os sofrimentos € as dores dos mais humildes. Aqui, porém, o Fascismo repele o conceito de felicidade econémica que se realizaria socialistica e quase automaticamente em dado momento da evolugdo da economia, quando assegurasse a todos 0 maximo de bem- estar. O Fascismo nega o conceito materialista de felicidade, abandonando-o aos economistas da primeira metade do isto é, nega a equacdo bem-estar = felicidade, que converteria os homens em animais e com 0 pensamento numa s6 coisa: comer e engordar, reduzidos, pois, a mera e simples vida vegetativa. 6, Depois do socialismo, o Fascismo bate em brecha o conjunto das ideologias democraticas ¢ repele-as nas suas premissas te6ricas e nas suas aplicages ou instrumentalizagdes praticas. O Fascismo nega que o niimero, pelo simples facto de ser niimero, possa governar as sociedades humanas através da consulta periddica; afirma a desigualdade irremediavel, fecunda e benéfica dos homens, que ndo se pode nivelar através de um facto mecinico € ‘extrinseco como o sufragio universal. Os regimes democraticos podem ser definidos como aqueles que de vez em ‘quando dio a0 povo a ilusto de ser soberano, apesar da verdadeira soberania estar noutras forgas, por vezes irresponsiveis ¢ secretas, A democracia é um regime sem rei mas com muitissimos reis, em muitas ocasies mais ‘exclusivistas, tirinicos ¢ ruinosos que um Unico rei tirano. Isto explica porque o Fascismo, apesar de ter assumido antes de 1922 - por razdes contingentes - uma atitude tendencialmente republicana, renunciou a esta antes da Marcha sobre Roma, convencido que a questio das formas politicas do Estado no € hoje decisiva ¢ que, considerando-se os ‘exemplos das monarquias ¢ das repiblicas presentes e passadas, se verifica que nflo se devem apreciar monarquias € repiblicas numa perspectiva de eternidade, uma vez que representam apenas formas nas quais se exterioriza a ‘evolugdo politica, a histéria, a tradicao e a psicologia de determinado pais. O Fascismo supera a antitese monarquia- repiiblica na qual se deteve 0 democratismo, que sobrecarregou a primeira com todas as insuficiéncias e faz a apologia dda segunda como um regime de perfeico. Ora, jé se viram repiiblicas extremamente reacciondrias ¢ absolutas € monarquias que acolhem as mais ousadas experiéncias politicas e sociais. 7. "A razio, a ciéncia - dizia Renan, que teve iluminagdes pré-fascistas numa das suas Meditagdes Filosficas - sio produtos da humanidade; mas querer a razo directamente para 0 povo e através do povo, é uma quimera. Para a existéncia da razo, nfo é necessério que todos a conhegam. Em todo 0 caso, se tal iniciago se verificasse, néo seria através da baixa democracia, que parece levar & extingo de toda a cultura superior € de todas as disciplinas clevadas. O prinefpio segundo o qual a sociedade existe para o bem-estar ¢ a liberdade'dos individuos que a compéem néo parece estar de acordo com os planos da natureza, onde sé a espécie & tomada em consideragio'¢ 0 individuo aparece sacrificado, E muito de recear que a altima palavra da democracia assim compreendida (apresso-me a dizer que ‘também pode ser compreendida de outro modo) nao seja mais que um estado social em que a massa degenerada tem apenas a preocupagio de gozar os prazeres igndbeis do homem vulgar’ Até aqui, Renan, O Fascismo repele na democracia a mentira convencional e absurda da igualdade politica, o habito da irresponsabilidade colectiva, o mito da felicidade e o progresso indefinido. Se a democracia se pode entender de modo diverso, isto é, se democracia significa nao colocar o povo 4 margem do Estado, o Fascismo pode ser definido por quem escreve estas linhas como uma democracia organizada, centralizada, autoritari 8. Face as doutrinas liberais nos terrenos da politica ¢ da economia, o Fascismo est4 em completa oposig’o. Nao se deve exagerar - com simples finalidades polémicas actuais - a importéncia do liberalismo no século passado ¢ fazer do que foi uma das numerosas doutrinas formuladas naquele século uma religio para todos os tempos presentes ¢ futuros. O liberalismo floresceu apenas durante quinze anos. Surgiu em 1830 como reacgfo a Santa Alianga, que queria fazer regressar a Europa a época anterior a 1789, e atingiu o seu esplendor em 1848, quando até Pio IX foi liberal, Logo depois, comecou a decadéncia; a luz ¢ a poesia de 1848, sucederam-se as trevas € as tragédias de 1849. A repiiblica de Roma foi aniquilada pela repiblica francesa no mesmo ano, quando Marx langava 0 evangelho da religido do socialismo com o famoso Manifesto Comunista. Em 1851, Napoledo III da o seu golpe de Estado aniil:bere! ¢ reina na Fraga até 1870, sendv derrubado depois devido a um motim popular determinado por uma das mais formidaveis derrotas militares da histéria, Saiu vencedor Bismark, que nunca soube em que consistia a religido da liberdade ¢ quais fossem os seus profetas. E sintomitico que um povo de alta civilizaga0 como o alemao tenha ignorado totalmente a religio da liberdade no século XIX. Hé um tinico paréntesis, o do denominado “ridiculo pariamento de Frankfurt, que durou trés meses. A Alemanha conquision @ 5 unidade nacionat fora do liberalismo ¢ Parner de oor duirina que parece estranna & alma alern, essencigimente monéequica. 80 Baste i © Peer eect antecdmara historia © lgica éa anerquia, As eapas da wnidede atom foratt &6 1S ET de 1864, 16a. 1870 conduridas por iberais como Moltke e Bismark. Quanto & unidade italian 0 liberalismo teve uma parte ieee tamente inferior ao contributo dado por Mazzi ¢ Garibaldi, que nunca foram ‘iberas ‘Nao teriamos tido a ose aaa ema intervengao do antiliberal NapoleBo; sem o auxilio do antiliberal Bismark em Sadowa Sedan, muito provavelmente ndo teriamos conseguido Veneza en: 1866 ¢ nao teriames entrado em Roma em 1870. De 1870 wyO14, decorre o perfodo em que os préprios sacerdates do novo eredo reconhecsi 0 crepisculo da sua religifo, tatida em brecha pelo decadentismo na literature, pelo aetivismo na prtiea. Activism, 50 nacionalismo, rane, Fascismo. Depois de acumular uma infinidade de n6s gordios,o século liberal ross desaté-los com a saetambe da guerra mundial. Nunca religio alguma impos to imenso sacificio. Os deuses do liberalismo tinhem were de sangue? Agora, porém, 0 Tiberalismo est a fechar as potas dos seus tempos deseros, pois os povos sentem Gque o seu agnosticismo na economia, o seu indiferentismo na politica © na ‘moral, levariam, como levaram, os Estados Sone Todo isto explica que todas as experiéneias politics do mundo contemporéneo Sejm antiliberais © é anne hte ridicuto querer clasifii-Ias fora da historia, como se esta fosse uma couiads de 168 reservada 20 saree e aos seus professores © como se consttusse a dltima e insuperdvel palavra da civilizagao, aoe emo. ae negagdesfescistas do socialismo, da democracia, do liberalismo, no devem faner ever Fascismo Geseje que o mundo recue para o que era antes de 1789, considerado o ano de aberturs do século democratico-liberal. Nicos volta para trés. A doutrina fasista no elegeu De Maistre como seu profeta. 0 absolutismo moharquico j& se foi, tal como toda a eclesiolaria,¢ também os privilégios feudais ¢ a divisso em castes impenetraveis ¢ Fe torr cis ent si, O coneeito de autridade fascista nada tem de comum com 0 Estado de policia. Um partido que governe totalitariamente uma nagio é um facto novo na histéria. Sto impossiveis as referéncias ¢ os confrontos. ae verre tna dag runs das doutrinas liberas, socialistas, demoerdtiens, os elementos que tem, valor vital. Mantém fs que podem ser considerados como facts histéricos e ejeta o resto, isto 6 0 conceito de doutrina boa para todos 0s fempos e tod0s 05 povos. Admitindo que 0 séeulo XIX tenha sido o do socialism, doliberalismo, da democracia, nfo Gtuvae a dizer que o século XX também deve ser 6 do socialism, do liberalism, da democracia. As doutrinas politica passam, 0s povos ficam. Pode pensar-se que 0 século XX € o séeute da 0 idade, 0 século das direitas, 0 poate feecista, so 0 Século XIX foi o século do individuo(liberalismo significa in wvidualismo) pode pensar-se que este € 0 século do colectivo e, portanto, do Estado. E perfeitamente ldgico que a nova doutrina se aprovcite dos ae oe vitals das outras, Nenhuma surgiu inteiramente nova, brilhante, nunca vista. Nenhuma s pode vangloriar soeracnrsidade absolute, est ligada, mesmo que s6 historicamente, as doutrinas passadss © preset Assim, 0 oe eee Sientifico de Marx est ligado a0 socialismo ut6pico dos Fourier, dos Owen, dos Sal i-Simon; 0 liberalismo do século XIX a todo o movimento ilum é .s doutrines democriticas estio ligadas & Eneielopédia. Toda a doutrina tende a encaminhar a actividade dos homens para Wo objectivo determinado; mas essa atividade reage sobre a doutrina, transforma-e, adapta-a as novas necessidades ov SOP. ‘A doutrina, portanto, no Jeu ser um jogo de palavras, mas um acto de vida, Da, a estruturapraginties do Fascismo, 9 S24 desejo de poder, 0 Seu queter afirmar-se, a sua posigtio em face da violéncia ¢ do seu valor. «Ot Hace da doutrina faseista € a concepeo do Estado, da sua esséncia, das suas obrigasSes © finalidades. Para o Fosclono,o Estado 6 0 absoluto, ante 0 qual os individuos e grupos representam o relativo, Individuos e grupos s6 S80 ascii ae pertencentes a0 Estado. O Estado liberal nfo dirige o desenvolvimento material¢ espiritual da sree dade: Iita-se a registrar os resultados; o Estado fascist tem conscinciae vontads proprias, por isso & Pree tieo Em 1929, na primeira assembleia quinquenal do regime dizia eu: “Para o Fascism, © Estado nfo € 0 garde noctumo que se ocupa da seguranca pessoal dos cidadios; nfo é ilo penes Wo ‘organizagio com fins puramente materiais, como assegurar um certo bem-estar uma relative ¢ pacifica convivéncia social, bastando nesse vara para isso um conselho de administrapo, nfo & também uma crag de politica pore som ligagbes com a

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