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Cultura e politica nos anos eriticos Leandro Konder Professor do Departamento de Educaio da Pontificia Universidade Catohica-RJ 1 APOLITICA eabre a Historia, Escuta. $6 ouvirés rumores de guerra”, Assim come conto “O espido alemao”, do escritor brasileiro Monteiro Lobato omesne De faro, as guerras tém sido, infelizmente, os fatores mais freqiientes das gcansformagdes hist6ricas mais dramaticas — e mais ruidosas! — na historia xs sociedades. E a guerra que envolveu quase todos os paises da Europa e reve repercussdes em escala mundial — a Primeira Grande Guerra — acele- rou, com certeza, mudangas mais vastas do que as das guerras anteriores. Nunca, até entio, se havia gasto tanto dinheiro com munigdes e arma- mentos. Nunca a industria de material bélico tinha tido um crescimento tio vertiginoso. E nunca o conjunto das grandes empresas industriais tinha tido em suas maos tanto poder para pressionar e influenciar os politicos que diri- giam os Estados. Quando o conflito foi deflagrado, as motivagdes patriéticas proclama- das nos discursos ainda tinham certo poder de persuasao e impressionavam muita gente. Encerrada a matanga, entretanto, cresceu muito o mimero de que por tras da hedion- pessoas que, no cendrio europeu, passaram a ac! da destruig3o estavam grandes interesses capitalistas. E essa opiniaio, ao se difundir, tornava amplos setores da populagio receptivos a critica do capita- limo pelos socialistas, especialmente a contestagio mais radical do sistema, feita pelos comunistas. Em estreita ligagdo com a guerra de 1914- u lideranga de Lenin, tinham tomado o poder na Russia e organizaram a ‘temacional Comunista (a Terceira Internacional), com sede em Moscou e imegrada por partidos comunistas que atuavam disciplinadamente * mundo inteiro, imbuidos da convicgio de que lhes cabia fazer a revolugio ™ nome do proletariado e superar 0 modo de produgao capitis, dos ‘0 imediato pés-guerra, a economia nos paises mais industrializa 1918, os bolcheviques, sob a 63 o stcuLo XX »mas. Ao se manifes- uns problemas. A nifes. ssentou alts ; apresentou alt” | faléncia iminente do mo. Europa e nos Estados Unidos tO tarem, foram vistos por MUILOS como delo liberal do capitalism igta inglés Joh Maynard Keynes jg de 1926, 0 ecor preconi 3 “nova mentalidade™ e L Jo otimismo I u ver, deveri ftic i 50 n: litica de intervengao na economia, 0 dos socialistas e comu- Em um livro > fim do laissez-aller ontes d ava um beral e da confianga cega no am encarar seriamente os anunciava “ capaz de ir além dos hori mercado. O Estado e os patrdes, 4 $e se praticar uma politics as tensdes € 0 fortaleciment graves problemas soci para evitar 0 aumento da nistas. . . . Outras expressdes de insatisfagao diante da confianga cega dos liberais aracteristicas muito diferentes da- i i ci nos mecanismos do mercado assumiram a : quelas que se encontravam na linha do pensamento critico de Keynes e segui- ram um caminho resolutamente de direita. ; Os termos “direita” e “esquerda”, adotados a partir da Revolugao Francesa, tém sido questionados por diversos autores recentes. De fato, exis- tem numerosas situagées bastante significativas nas quais © uso desse par de conceitos nao dé conta da complexidade das contradigGes que se manifestam nas acdes humanas. Com freqiiéncia, no entanto, a contraposigao de “es- querda” e “direita” contribui para uma caracterizagao inicial clara do con- flito, nas sociedades modernas, entre as forgas favordveis e as forgas contrd- rias a transformagées profundas (de inspiragdo “igualitaria”) na estrutura s6cio-econémica e no sistema politico dos paises. Tradicionalmente, a direita — desde a Revolugao Francesa — se opunha a crescente participagao das massas populares na vida politica. Nas condi- gGes criadas a partir do fim da Primeira Grande Guerra, contudo, aparece uma direita moderna que procura assimilar algo da experiéncia da esquerda revolucionaria, alguns elementos dos métodos de seus adversarios. Essa nova direita, tepresentada inicialmente pelo movimento fascista, li- ma eine bs ete mb was ‘ousades técnicns de one a le um discurso enérgico de agitacao e de Hungria, desde 1920 eebae a. A ditadura do almirante Horthy, ” direita, podia ter o apoio de am; ro Pritica que um governo autoritizio, °° Aocontrétio das velhin am ‘0s setores da populagio. ; , iderangas conservadoras aristocrdticas tradicio nais, os diri irei ibi : — igentes da nova direita exibiam a imagem de chefes inovadores, fir mente proximos de seus povos,

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