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Regime Anual
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Unidade 1: O PROBLEMA DO MÉTODO E DO VALOR DA CIÊNCIA: a) Introdução. Fime me-
todologia da Filosofia das Ciências. b) O rol da ciência no mundo actual. c) A ciência como objecto
de reflexão filosófica.
Unidade 2: CIÊNCIA E FILOSOFIA NO PASSADO: a) Origem e desenvolvimento da ciência rui
antiguidade. b) A ciência medieval e renascentista. c) Características epistemológicas da ciência an-
tiga
Unidade 3: A CIÊNCIA MODERNA: a) O nascimento da ciência experimental. b) A consolidação
da visão cientificista do mundo. c) A crise da ciência ao início do século XX.
Unidade 4: AS ORIGENS DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA: a) As primeiras reacções epistemológi-
caso b) O Círculo de Viena e a visão científica do mundo: c) A herança do Positivismo lógico: a me-
todologia da ciência
Unidade 5: KARL R. POPPER E A METODOLOGIA DA CIÊNCIA: a) Vida e obras. b) O proble-
ma da indução. c) A demarcação entre ciência e metafísica. d) O racionalismo crítico: A natureza.
das teorias científicas. A busca da verdade.
Unidade 6: THOMAS S. KUHN E AS REVOLUÇÕES CIENlÍFICAS: a) Vida e obras. b) A ciên-
cia normal e os paradigmas. b) As revoluções científicas. c) As revoluções científicas e a incomen-
surabilidade dos paradigmas.
Unidade 7: A HERANÇA DO DEBATE POPPER - KUHN. a) As propostas alternativas. b) A soci-
ologia da ciência. c) Perspectivas actuais na Filosofia da Ciência
Unidade 8: A NATUREZA DA ACTIVIDADE CIENTÍFICA E A QUESTÃO DO MÉTODO: a) A
ciência como actividade humana b) Caracterizações e objectivos da ciência c) Dimensões e aspec-
tos da actividade científica. d) A questão do método: Teoria e experiência e) Da experiência à teo-
ria: O problema da indução. t) Da experiência à teoria: O objecto científico. g) As teorias científicas
e sua verificação. .
Unidade 9: A VALIDADE DA CIÊNCIA: a) Os critérios de avaliação da ciência b) A intersubjec-
tivídade das construções científicas. c) Os limites da intersubjectividade da ciência.
Unidade 10: CIÊNCIA E VERDADE: a) Objectividade e verdade da ciência. b) Verdades parciais e
níveis de verdade. c) O valor da ciência. e
BmLIOGRAFIA BÁSICA:
BACHELARD G. A Epistemologia: Edições 70, Lisboa, 1971/1984.
B UTIERFIELD H. As Origens da Ciência Moderna. Edições 70, Lisboa, 198412003.
CHISHOLM, R. Teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
HANNE R. As Filosofias da Ciência. Edições 70, Lisboa, 1972/1988.
KUHN T. A Tensão Essencial. Edições 70, Lisboa, 1989.
___ A Revolução Copemicana. Edições 70, Lisboa, 2002.
_.~, :,~ !:-AMT9~J~ Hi~fc?r,k'=l!fl§; Q~'1~~~§YE:t~~lJo.lu.ç?!t:~~~4jçQ~~.Zº~ 1)~~~.J 97~~ , <'- "
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Lisboa, 1999.
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e contexto histórico e cultural nasce a filosofia das ciências, dentro de uma
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perspectiva particular que procurava transformar a filosofia dando-lhe um estatuto
definitivamente cientlfico. Referimo-nos concretamente à posição adoptada pelo
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positivismo lógico, representado pelos membros do assim chamado «Circulo de Viena»l
nos anos
1920- A ciência como actividade humana ............................................................................................42;'
A ciência como método ...............................................................................................,' ..........43:.:
CAPiTUlO·.I· MÉTODO E VALOR DA ClêNCIA •••••.•••. ; .••••..••....•...••••.••••..••..••••...•..•........................... 2 1930.
Esses A ciência: conteúdos cognoscitivos ........." ............." ..............." ............." .. :" .................: ......43','
·1.1-.INTRODUÇÃO •••••..••.••....••.••..••.•.•••.•••...•...•.......••....................•.......•.•...........•..•...............................• 2 9.2.CARACTERlSTICAS E OBJECTIVOS DA CI~NCIA ............." ........•.......•....... " ...•......... " .. " ............""" ....••.• ",,,.43
1.2. A F~NÇÃO DA CI~NCIA NO MUNDO ACTUAL .....•..••...................•.....••.•.....•................•........ " ...........•.. 2 Objectivos internos e externos da ciência ...................................................................•......... ".44:
11 A CllôNCIA COMO OBJECTO DE REFLEXÃO FILOSÓFICA ........•.•.•........•....•............•.............................. 3 Os objectivos intemos gerais da ciência ..............................................................................." ....44_
Definição da actividade científica ...................................................................., .........................45
~ CAPi~UlOi~l. A ciêNCIA E A FilOSOFIA NO PASSADO ••.•...•..••••.•••......•......•..........................•.•.. 4 9.3. ASPECTOS DA ACTIVIDADE CIENTIFICA ......................•..... " .......•......•....••. , ....•......... ,,,, ...............,,,, ......., ......45
2.11, ORI<?EM E DESENVOLVIMENTO DA CI~NCIA NA ANTIGUIDADE ••.••.•..•••.••••••••...•.........•........•.............•..• 4 A Investigação Científica
2.2. A CléNCIA MEDIEVAL E DO RENASCIMENTO. " ...•..•...•...•..•...•.•..•.•..•..• " ..........................................•... 7 A sistematização cíentífica .........................· ........, ............................•........ : .. , ..., ..., .. : ........47
2.:\ CARÂ,CTERlSTlCAS EPISTEMOLÓGICAS DA CltNCIA ANTlGA .•..••...•••..•••••..••.....•..•.•••..•••.. " ...•.. "" ......•. 11 A transmissão da ciêncía ............" ..............." ...." ............, .......•.................................•............ 47-
r. /' A aplicação das teorias .............................................................................................................: 48
~ CAPiTtUlO: 111 • A CiêNCIA MODERNA •.•.••••..•.• , •••.• ; .•.•.••.••....•...••••.•..•••.•...•.....•......•...•.................•....
CARíTUlO VIII· OS ELEMENTOS DO MÉTODO CIENTíFICO ...................................•..........•........ .49 •.
13
j .J(..! 8.1. TEORIA E EXPERIJ:NCIA ........................................" .........................•........................... " ............................................49
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3.1. O NASCIMENTO DA CltNCIA EXPERIMENTAL ; ..•..••••..•.••.•.•.•.•.•.•.•..••......•..•.....•.••..............•.............• 13
3.i. A CdNSOLlDAÇÃO DA VISÃO CIENTIFICA DO MUNDO ..•.•..•.•.•.•.••.••••..•.•.•.•.•.•••..••.•.••. "." ....• : .•..•..•..•.•. 15 A relação entre teoria e experiência
·3,J. A CRISE DA CltN.CIA NO S. XX ........................................................: ...................................................... 17 A experiência como ponto de partida da ciência ........................." .............................................. 50
8.2. DA EXPERltNCIA A TEORIA: O PROBLEMA DA INDUçAo ......•.......................•................ ; .•.................. 51
. CAPiTULO IV· AS ORIGENS DA FilOSOFIA DA CltNCIA .•••.•••.•.• ; ...................•...•....................... 20 Olhando a história ........................................................................." ..........................................51·
4, h As Flíl-IMEIRAS REACÇOES EPISTEMOLÓGICAS ••..•..••..•.••...•.•.••.•...•.••••.•...•.•.••....••.•.....•................... ' 20
I ./4,2, O CIRCULO DE VIENA E A VISÃO CIENTIFICA DO MUNDO •••••.•...••...•••••••••.•.••.•••••.•••.•.•••.•••••.....•.•.••..•. 21 . Os diversos' significados da indução ........." ....., ............................................" ................" ....,51
4.3'. A HERANÇA DO POSITIVISMO LÓGICO: METODOLOGIA DA CltNCIA ..••••.•......•.•.•...•.......................•..... 22 8,3. DA EXPERltNCIAATEORJA: O OBJECTO CIENTIFICO ....................................." ....." ...................." .........•......... 52·:
('. A construç~o do objecto científico
C.~,O!TULO V· KARl POPPER • A METODOlOGIA DA ClêNCIA •.•........•...............•....•................. 24 8.4. As TEORIAS CIENTIFICAS E SUA VERIFICAÇÃO ......................................................................................".", .........53
Método hipotético.<fedutivo: Verificação e falsificação ........................................................ ." .. 5.1.
5.1: KARi'R POPPER(1902·1994): VIDA E OBRAS ...•....•...•.••.......•.......•...•..•..•.•••....•...............•......•..• 24
5.:!: O PROBLEMA DA INDUÇÃO •.••.••.•••.•.•..•..•..•.••.•..•...••. : .•••..•...•...•..•.••..••...•......•......•..•............••.....•.• 26 CAPíTULO IX· O VALOR DA CIÊNCIA ............................................................................................ ." .. ~6
5,3, A DeMARCAÇÃO (LIMITE) ENTRE CltNCIA E FILOSOFIA (METAFlsICA) .•.••...•....................................... 29
9.1. QUE CRITtRIOS PARA VALORAR A CltNCIA? ................
5.4; A PR<DPOSTA DE POPPER: O RACIONALISMO CRITICO .....................•............................................... 30
Duas características da ciência: Rigor e objectividade ..............." ..............................................56
CAPiTULO \h . THOMAS S. KUHN E AS REVOlUÇÓES CIENTiFICAS .•........•.......•....... ; ...........•• 34 A objectividade da ciência tem dois sentidos ..............................................................................57
6.1, THOMAS S, KUHN (1922-1996.): VIDA E OBRA .•..•.......•........•..........•............................................. 34 9.2. A INTERSUBJECTIVIDADE DAS CONSTRUÇOES CIENTIFICAS
Conhecimento intersubjectivo e actividade.. ..............................................................................58
Vida 'ir:telectuel e académlca .........................................................................................................34
Fundamento gnoseo/ógico da intersubjectividade ......." ...........................................................58
Obras principais ...........,.,' .............., ......" ...................................., ..................., ..., ........., , 3~
A intersubjectividade da objectividade científica .........." .................." ..........., ...........................58
6.2. A CIt:NCIA NORMAL E OS PARADIGMAS .......•....•..••.....•....•.•.......•.•. ; ..••.•....•...•................................. 35
i A estrutura da revolução cientlfica e a filosofia da ciência popperiana ........................................35 . CAPiTULO X· A CiêNCIA E A VERDADE .. "~ ..............." .................." .........................".,, ................... 61.
::A no~o de ciência normal ...........................................................................................................35
1 0.1. DOIS MODELOS DE CltNCIA: DOGMATISMO E IRRACIONALlSMO
"Caraeterlsticas do paradigma (modelo) ., .................................................................................... 36
:'A ori~3m da ciência normal ..............................................................................., ........................ 36 10.2~ EXISTE UMA TERCEIRA VIA? .............................................................
.A ciência normal como paradigma ................, .................... 36 ! •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
11.3. JUSTlFICACIONISMO E REPRESENTACIONISMO .....................••...........•...... , ............" ........................................62
Ascondiçóes da ciência normal •.....•..........•. , .....•.... ; ....................•.......................... , ..............37 BIBLIOGRAFIA
6.3 . .As REVOLUÇOES CIENTIFICAS E A INCOMENSURABIUDADE ENTRE OS PARADIGMAS, .....................•.•.• 38 NOTAS ..................................................................................................................................................... 64
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8. DEBATE POPPER-KuHN: PROPOSTAS ALTERNATIVAS .•...................•...•............................•...........• 39
f~~í!cd,~
8.1. Novas perspectivas ......, ........., .." ..........., ............., .........................................................40
FAPil1tJLO VII· A NATUREZA DA ACTIVIDADE CIENTiFICA .........................................................................42
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t pensadores afirmavam que a filosofia devia transforma-se
;l u numa filosofia científica, e sua missão era assegurar a cientificidade do pensamento. Desta
r maneira, a filosofia da ciência não seria só uma parte importante da filosofia, mais ainda, .
CAPITULO I· MÉTODO E VALOR DA CI~NCIA seria a única filosofia realmente válida e aceitável. As outras disciplinas filosóficas também ;
a
seriam transformadas em científicas e experimentais (antropologia, psicologia, etc.), ou
1.1. Introdução a seriam descartadas como residuos de um pensamento imaturo (metafisico).
n
Parece lógico que na introdução a uma nova disciplina, dentro de um curriculum filosófico, g . O nascimento da filosofia da ciência esta estreitamente ligado a esse tentativo do Circulo
procuremos justificar a oportunidade e a importância do seu estudo. É certo que a filosofia l de Viena, e, ainda hoje em muito lugares é; assim ensinada, assumindo implicitamente que
das ciências não parece ser uma das disciplinas nucleares da filosofia, como poderia ser a ó o único conhecimento válido é o conhecimento científico experimental. É evidente que
metafísica, a antropologia ou a gnoseologia. A filosofia da ciência se ocupa de questões f desta maneíra a filosofia fica reduzida à filosofia das ciências. '
muito especificas que surgem entorno a um fenómeno bem delimitado: a ciência o
experimental. Desta maneira, poderlamos pensar que a filosofia da ciências seria a n Ora, é também evidente para n6s, que não podemos aceitar esta posição «tout-court».
aplicação de uma disciplina filosófica especifica, a teoria do conhecimento, a uma questão a Pensamos que há que evitar este radicalismo e procurar uma posição de equilíbrio que
particular como é a ciência experimental. A filosofia da ciência teria então um rol . reconheça a importância da filosofia da ciência sem negar a legitimidade e importância dos
secundário dentro da reflexão filosófica geral.
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Mas pode haver outros motivos que justifiquem a importância de uma disciplina, como por N
exemplo, sua relação com a situação acíual. Nesse sentido, deve se reconhecer que a e
ciência experimental tem adquirido uma importância notável e, em alguns âmbitos, a s
filosofia das ciências é considerada como uma parte central da filosofia, como acontece na s
filosofia das "Iênolas não está
ligada'a urna forma de conceber o conhecimento, senão, às exIgências ooncretas da vida
humana nas circunstâqcias actuais. De fato, o fenómeno clentlfico possui hoje um rol
fundamental em nossa cultura e em nossa sociedade, até o ponto de podor tlnrmor sem
duvldar que vivemos num mundo «dominado» pela ciência. Isto é Inegável, vivamo/! num
mundo em que muitas vezes a ciência se converte em norma e medida da fOelldnr/n fi do
agir humano.
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fência (especialmente sobre sua dimensão lógica e metodológica).
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iNos anos 50' criam-se nos Estados Unidos de América as primeiras cátedras de filosofia
da ciência,
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' no seu conjunto, tem um influxo positivo no mundo de hoje, contribuindo, . por exemplo o valor da filosofia da Ciência. \.... chegando assim a
, através da medicina, aum melhoramento notável g,aJ) .•• nossas condIçQ~§:,Q.~ .. vidél-~ consfiíulr-se uma
prolo'hgamento. Outro interrogante que devemos resover é sobre o valor de verdade que pode ter a disciplina autónoma
. . ~Jr . .)-. j~ filosofia~. Digamos, pois, que o ponto central a considerar é: em que' sentido a . filosofia a nlvel académico.
.' - '. .., /;"f'7i'&I ~. Dai em diante sua
A ci6h claitom o valor fundamental da cultura actual. -; :./ .. ;)' //~~. fb ...
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·2 pode julgar à ciência? De fato a filosofia não julga a ciência em si mesma, isto é, em
importância foi
lo , l~ej(f..,<I.( .•• jf~l.til'/{,:'?·"'()·
i. seu
objecto próprio, seus ~\étodos especificos matemáticos ou experimentais, suas hipóteses, crescendo
As razões expostas fazem com que a ciência seja, hoje considerada como o valor continuamente e
fundamental (ou um dos valores fundamentais) do homem actual. Concretamente, muitos seus resultados, etc. t:stas são questões para as quais a filosofia não tem nenhum
contributo. É cada ciência particular que deve julgar seus próprios métodos e resultados. estendendo-se a
a consideram como o único conhecimento válido, como se este fosse o único caminho outras
, para atingir a realidade e chegar à verdade; volta-se a propor, como no século XIX, uma Ora, a filosofia sim pode julgar à ciência quando se trata da imagem da realidade que a áreas geográficas.
atitude ci~i1tificista de aproximação à realidade, embora não seja tão agressiva como nos ciência nos oferece: que significado tem a realidade tal como é apresentada pela ciência? Sua vitalidade
tempos passados. Que valor tem o conhecimento que adquirimos através da ciência? Quais são os limites da continua imutável
actividade científica? ... Estas são algumas das questões filosóficas que nos coloca, a
a
: portanto, pergunta obrigatória que deveríamos responder seria: qual é a posição que actividade científica.
até hoje.
·1 assumiremos nós? Submetemo-nos ou rejeitamos? Com segurança podemos afirmar Antes de entrar nos
que Em fim, temos o problema principal a nivel teórico: a ciência atinge a verdade? E ainda, diversos períodos
os fundamentalismos nunca foram bons. Uma coisa é certa, devemos ao menos, fazer da não devemos descuidar o nivel pràtico: a ciência é um bem para o homem? históricos, pode ser
. ciência objecto da nossa reflexão; ou seja, perguntar-nos s.eriamente'/o qU7 é a ciência, e
qual é o ser valor? E esta será a finalidade do nosso cursa..., r'1
lj,)j.,o.(. co»: ,I.'o.{.r;;: /17 j,;, t
muito útil fazer
(observações sobre
1·. c-b I' algumas
1.3. A Ciência como objecto de reflexão filosófica. u/o" encarar esta ')"'r'L ~ i:~.~:·} ':. disciplina. De fato, nos últimos
\t·/- I,..,";:..J.:' ~(... .: .
Chegados a este ponto percebemos a necessidade de uma filosofia da ciência que CAPITULO 11· A anos, nos encontramos · com duas atitudes
l ,"',,' ,
Cada ciência tem seu objecto de estudo, que analisa, descreve e explica; mas, à ciência actual conhecimento cientifico.
f
I em seu conjunto carece de perspectiva para julgar-se a si mesma e, com certeza, nunca Desde este ponto de vista só
Para responder i
poderá dizer se seus resultados são absolutos e definitivos ou simplesmente parciais, Daí interessa o que realmente serviu para atingir a ciência actual. A ciência se apresenta,
aos interrogantes c
que a flosofla pode ser considerada como uma «reflexão sobre a totalidade», que nos portanto, como um conjunto de sucessos e erros. A segunda orientação é contrária a
a
pode ~Juda,~ a enconírar o sentido do que a ciência faz, ou do que a ciência afirma sobre a com que anterior e pretende entrar na mentalidade de cada período, julgando a ciência em cada
realidade. i:' . encerramos o momento histórico segundo os critérios de valor desse período. Assumido até suas últimas
c
capIM) anterior, consequências, este critério tem o risco de relativizar o valor objectivo das teorias
e
,será útil fazer científicas, vendo-as como um elemento mais de cada é~oca.
Em realidade os problemas apresentados não são somente filosóficos, são também n
problemas teológicos, e colocam em jogo a dimensão religiosa e transcendente do uma t
homem. Em outras palavras, entramos no debate entre «razão e fé» ou «ciência e fé», do apresentação r Os dois extremos parecem incompletos e se deve buscar um equilíbrio. Por um lado
qual o caso Galileu é um exemplo paradigmático. Portanto, a consideração teológica será histórica sobre o a devemos avaliar criticamente cada momento histórico para extraír não somente os
também necessária, mas é evidente que esta precisa da mediação filosófica. Acontece às que foi a filosofia d «resultados» da ciência, mas também as atitudes, os interesses, as ideias directrizes que
vezes-cus !J dialogo entre ciência e fé fracassa não por falta de vontade, mas por uma da ciência, e o a guiavam e orientavam a pesquisa. Ao mesmo tempo, deve se reconhece o distinto valor
dificuldade :t~ada à diversidade da linguagem. que é objectivo conseguido em cada período, para que fique em evidência o valor de verdade
1I actualmente. n atingido pela razão humana através dos séculos.
a
2.1. Origem e desenvolvimento da ciência na antiguidade.
Considerada com parte autónoma da filosofia, a filosofia da ciência é bastante 3 recente.
Seu nascimento é datado entorno a 1920, com a constituição do grupo filosófico c
i Admite-se como um dado adquirido que a ciência teve sua origem entorno ao s. VIII-VII a.
denominado «Circulo de Viena», foi este grupo que iniciou pela primeira vez uma reflexão
C p o. A actividade
. d a cientlfica nasce assim conternporaneamente com a filosofia e sem uma distinção
e r
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n b especifica desta. De fato, os primeiros filósofos (Tales, Pitágoras, eté.) são aqueles que
a v t manifestam os primeiros traços de uma especulação cientffica.
n o e
t l r Os precedentes da ci6ncia grega.
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O, dito anteriormente não significa' que não possamos citar «antecedentes» da ciência
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grega. Diversas civilizações deixaram vestfgios que podem ser catalogados como formas
.
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de ciência primitiva, porque mostram, se bem de forma imperfeita, o uso da racionalidade
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para conhecer o mundo. Estes são os precedentes mais importantes 9a ciência gregai.
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é m d Egipto: Mostra alguns traços de incipiente ciência, em particular, na' geometria, na
c o a aritmética e na medicina. Todavia estes saberes tinham uma finalidade eminentemente
i d d prática. Por exemplo, a geometria era praticada para medir a terra, algo necessário pelas
enchentes do Nilo que faziam desaparecer os limites das propriedades. Por outra parte, a
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medicina tinha um alto componente de magia, sendo praticada especialmente pelos
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sacerdotes.
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e v o Bàbifón;a e os Caldeus: Na Mesopotêmia se cultivou um certo conhecimento da
s o n Matemática e da Astronomia (pelo que se sabe de forma independente de outras culturas
t h orientais e da América pré-colombína). Na Astronomia, por exemplo, se chegam à predizer
e d e os eclipses e a elaborar calendários, mas trata-se de técnicas de cálculo carentes de
e c bases teóricas e sistemáticas.
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e u m Caracterlsticas é novidade da ciência grega: Na Grécia antiga, a partir dos séculos VIII·
r s e VII a. C. se produz uma transformação, o saber técnico-prático assume uma drecção
l a n decididamente teoret/cs e sistemática, em outras palavras, o saber prático se transforma
o r t em ciência, inciplente ao principio, mas continuará progr:edindo continuamente. Podemos
d a o descrever brevemente algumas das manifestações desta transformação. .:
o r
r a (1) Na ciência grega ~encontramos, em primeiro lugar, um ~nteresse principalmente
c a c teorético: a finalidade que motiva â pesquisa não se encontra tanto nos resultados técnicos
o z i obtidos, quanto no conhecimento em si mesmo (teoresi).
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(2) Encontramos também uma precisa orientação epistemológica: o conhecimento
e o n
teorético da realidade se obtém quando se descobrem as causas dos' fen6menos da
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natureza, isto é, quando sabemos não somente como acontecem, mas conseguimos
a h l explicar o porque.
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! (3) . Em terceiro lugar podemos descrever a ciência grega com base no método: os Na primeira se encontram reunidos todos os escritos conhecidos, tornando-se um grande
pensadores gregos desenvolvem um método preciso mediante o qual deve proceder o centro de estudos, em particular filológicos. O Museu foi concebido como um lugé}; de .[
estudo cíenílflco dos problemas: a demonstração, a partir de princípios universais. colectâneas de ciências naturais e resultados técnicos. Entorno a estes materiais se . S
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desenvolvem importantes estudos em todas as ciências.
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Passaremos agora a apresentar os principais âmbitos em que se desenvolve a ciência a
entrei os gregos: a matemática (que inclui aspectos da mecânica), a astronomia e a Neste âmbito encontramos a obra do mais importante matemático da antiguidade: Euclides os
medicina. (s. 111 a. C.), sua fama está ligada a sua obra mais importante! Os Elementos (não foi sua
única obra, houve outras 10 ou 12, mas só se conservam fragmentos).
I A matemática~: As origens da matemática grega são um tanto incertas, mas a fradiçáo
i considera como seus primeiros cultivadores a T ales de Mileto e a Pitágoras de samos. A Os Elementos não são propriamente uma novidade original, como indica seu nome trata-
\ Tales (ap~x. 624-548 a. q se lhe atribui alguns importantes resultados em geometria2 se de um resumo dos' principais resultados da matemática elementar elaborada pelos
(são famosos os seu teoremas). Pitágoras de Samos(aprox. 580-500 a. C.) é o fundador gregos. O fim da obra era mais didáctico que especulativo. Ora, porque tem tanta
I da escola pitagórica, na qual a matemática é muito mais do que uma ciência, é também importância? EOIl:ju_e pela primeira vez na história, uma obra mostra de modo completo, os
. um componente rnlsílco-rellçloso e cosmológico. Além do «teorerna de Pltáqoras», esta r?.§.!ill.<l..d.~~_y_álid~.~.9.~iridos num sector da ciência, desde o .eonto de vista slstemáucoe
escola produz a mais, importante «revolução conceptual» da ciência antiga, causada pela !12~todQlógico. ~m.º.\J1rªs palavras, o aspecto mais importante dos Elementos não é tanto
descoberta dos «números irracionais». Esta descoberta levou a abandonar a visão seu conteúdo(embora durante séculos foi o que se ensinou em matemática) qua!:l.!º"su,a
aritmético-monádica, . isto é, o cosmos considerado como formado por unidades estrut1!!ªJoll71.?Fe-õprimerFo exemplo de um método axiomático rigoroso, no"qU'áfSe parte'
elementares ou mônadas, por uma visão geométrica que exprime melhor as grandezas do de--fertos princípios, considerados mais conhecidos, para obter depois dedutivamente
universo. Esta situação dá inicio ao predominio da geometria sobre a matemática, que todos os outros resultados.
durará por muito tempo. A «teoria das proporções» foi outra parte importante da
matemática pitagórica. Esta se une com a música que assume uma função importante em
suas especulações, de fato, a harmonia é considerada como uma questão de proporções. «Os. Elementos» constam de três tipos de proposições: (1) 8.:5 çlef[fl~é),es, q~e.p~<?s~r..§.f!1_
.• Dentre os discipulos de Pitágoras tiveram grande fama Arquito de Taranto e Hipócrates de (ê~Rr5!ssar o significado dos termos que serão usados, cornocponto», «recta», e a~§jmp.Q[
Cio. diant~; (2) os axioma.s, que exprimem de modo geral, verdades evdentes, por e;xel'!1P19_~s_~,
A=:.ê_e 6.=C'éntãõ_A::.C; (3) .os postulados, que são verdades basilares da di~Gipllnq
'êspecificél que se est~.da. No caso da-geometria plana temos os famosos cinco
Os matemáticos no apogeu da cultura ateniense: O s. V a .C. marca o momento põStulados, como por exemplo, «entre dois pontos sempre se pode traÇ?LUméue~ta)!, O\!,
culminante. de Atenas, é o famoso século de Péricles, no qual encontramos grandes <:.~?dO§...Q~.ftn,gulo~ reçtos são iguais». Em base a estes principios, toda outra verdade é
matemáticos: além de Zenão de Eleia, podemos citar a Anaxágoras de Classomene, Hipia deduzida rigorosamente usando as leis da lógica formal.
de Eliades e Demócrito de Abdera. Posteriormente se deve mencionar também la
Academia platónica (428-347 a. C.), embora sem resultados relevantes, a matemática A Escola Alexandrina contribui à ciência com outros importantes matemáticos,como
:tinha uma grande importância dentro da escola, e entre seus discípulos tiveram resultados Apolónio de Pergue (260-190 a. C.), cujo estudo das secções cónicas permaneceu
,intereSsantes: Teeteto, Teodoro de Cireile e Eudoso de Cnido, autores de teoremas sobre . insuperável até a idade moderna,
;as proporções, além de ser criadores da primeira teoria astronómica dos movimentos dos
astros.
Arquimedes (287-212 \13. C.): Foi outro matemático importante da antiguidade, conta com
importantes estudos sobre geometria superior, Todavia é famoso. sobretudo por ser o
~ matemática Álexandrina. Euclides e os Elementos: A matemática grega atinge seu ~~i,!dorg9.n1~çãnicai duas são suas obras principaisc ne$tecã-mpõ:-""'-'-' ".----- .... --,
esple~por alguns séculos depois em Alexandria. Esta cidade, querida e fundada por
Alexar,{jre 1.1agno, assume sob o dominio de Ptolomeu, uma grande importância cultural
dentro da sll'ciedade helenística, graças sobretudo a duas instituições de grande prestigio: ,[ §.QPrp..Q .~guil{l:!.rio..st.?s (Qrças: Estuda sistematicamente as leis da alavanca, e outros
A Biblioteca e o Museu. prô01ãmas de equillbrio que colocam as bases da estática.
,
5
l
i
I o famoso «principio de
f Arquimedes» que determina a força vertical recebida por um corpo submergido num fluído,
q e portanto, as condições de flutuação.
u
i Além disso, Arquimedes é recordado pelos seus inventas no campo da técnica, inventando
d (a) ~..,.--~
O geocentrislJlQ; A Terra era o ponto de referimento estável para todo o sistema. Este
engenhosas máquinas bélicas na defesa da sua cidade de Siracusa, onde encontrou a ..
o princípio estava baseado na simples experiência.
morte quando esta caiu nas mãos dos Romanos.
s
: (b) O movimento circular,' Os corpos celestes percorrem trajectórias circulares. Este
A Astronomia.
principio estava baseado além da experiência, na concepção platóríco-arlsíotéíóa de que
c o movimento circular era o movimento perfeito sendo sempre igual a si mesmo.
o A AstronomiaI teve inicio como pura observação, era praticada como recolhimento d~
'aE~~~..oQ[~, ª§ yosiçt?es dos astros,' o que permitia .. ~91!l .. mai,s .. o.y ...
i
l
men_9s.'pre~i~-ª,Q O sistema clássico foi desenvolvido sistematicamente por Eudosso de Cnido. Começou
o
e~,t9belec,er sistemas de cálculo para predizer os fenómenos cel~!es, corno ,ºs. eclipses., introduzindo quatro esferas para explicar os movimentos celestes, mas chegou a um
c
a os ~~.s9.Istl~!os» e os «equinócios» (a posição do sol durante .o.aro.c que permitemarç~r.s.,· sistema de 27 esferas. Mais tarde Calipo chega a 34, até que Aris16teles para justificar
,i.nJ,.çJ.o._das_estaçpRS). Esta orientação da Astronomia era já praticada no EgTpf6'e~êntre todos os movimentos observáveis chegou a 56. •• •
a os
s Caldeus. Posteriormente o sistema foi aperfeiçoado por Hiparco de Nicela (s. 11 a.' C.) que
desenvolve as teorias de Apolónio, chegando a seu máximo desenvolvimento com
b ;.\Ptolomeu~. JEs~~..Q!~.,!~~!!.rrr.~.lOjA..~-ª-~tiYLqª9.e. Pr~ç.ê.Q~n~E3 na sU,a_ obra •.. ,!
9.2m~JlJ!Lwqugn.do, à mera observação se lhe acrescenta .um .espirito ... .de fípo-rnals <Sintaxe
a
i sistemátifQ ..•. a .asfronomla começa a ser uma ciência. Isso significa que se.corneça a
s M?~<ttiçaJ}.:rmªl~_G.QJlb.e.çid.u.oDL.Q-!l.O~~.m.~g~), .Ç,ºll~Q~[ªº"ª. até
e bUscãrum «sist~..9..l>J~tQ..é, um conjunto de postulados,gue~rmlt.ª deduzir,aaparêncja os
s do céu, em outras P.9.1.?_y@_s./..i(s-ª1varosienômeroe». temIJos n:lSLq§rm:>~_çomo a Summa do saber astronómico. Ptolomeu mantém inalterado
o
d Isso significa, ao menos em parte, uma precisa concepção de ciência porque, de fato, prog'raníã da astronõmlãhelêillSfiêã'~Tst'ô1i:-â'âfrãiaóclãaparência através de 11m modelo
estar em condições de «salvar os fen6menos» não significa necessariamente possuir um
---
a que tenha em conta as exigências teoréticas que na concepção daquela época o Cosmos
conhecimento real sobre a natureza dos corpos celestes e seus movimentos. e
devia manter, e que se resumem nos dois elementos: órbitas circulares velccload
h constante dos-'p!anetas, embora esta última seja só aparente.
i - Os sistemas geocêntricos. -...
I
d ~ Modelos heliocêntricos.
r
o
s Nenhum dos modelos apresentados coloca em dúvida o carácter geocêntrico do cosrnce.
t Só foi negado na época helenlstica por Aristarco de Samos (320-250 a. C.) qu
apresentava um modelo heliocêntrico. Diz-se que teve um disclpulo, .Seleuco de Seléucl
á
t e
no s. 11. Mas, foi negado por muitos outros como Arquírnedes, Eratóstenes Apol6nlo.
i
c
a
,
c
o
m
A pensamento dominante foi o
geocentrismo. O cosmos,
qJ.leu.1ileI"a..tQtaJiº-ªsl~"olSJ~n.ada._ 6 -
dg.'2l_~~s!9.!~rª ~is!9. ~or1)(),l!!)1
sistema cujo centro era. a Terrq,.
~Jr.cu_n~~_da~e ul11aJ~riede
esfera,s. n.§~ .. quais se encontravam
os corpos celestes, ~og(),)f Rf!:>blem.a
.ce.n!raLc.!ª-
aStronomia consistia em determinar qual
esfera, isto é, qual movimento
çirçular"p.ermitia
<kscr.~ye.r as observações da maneira
mais simples e preclsasposslveis. Em
realidade, o
problema principal era descrever o
movimento dos chamados «astros
errantes» que eram
os planetas, porque seu movimento não
regular. Por outra parte, supunha-se que
as
estrelas tinham um rnóvirnento único
circular, tudo entorno à Terra. Por isso,
para explicar
a aparência, não basta uma s6 esfera, a
das estrelas fixas, mas se deve
introduzir outras
esferas com movimentos diversos, nas
quais se encontram os planetas. Desde
o ponto de
vista metodológico, notamos que estes
modelos eram construidos com base a A Medicina.
dois
princípios: A medícinat constitui a terceira ciência desenvolvida sistematicamente no mundo grego. A
sua origem parece estar ligada à prática religiosa, concretamente ao templo do Esculáplo.
Entorno a este templo surgem escolas, nas quais a medicina começa a separar-se d
prática religiosa ou mágica.
;: 1
.
.
·
I1 1I
~------
------'--
------- --
8
cristianismo. Desde então a religião de Cristo é culpada da crise que atingiu ao Império
Romanoll.
Hoje, esta visão da história da ciência já não pode ser aceite a nível científico, embora
continua a ser repetida uma e outra vez nas escolas, nas universidades, nos jornais ... e
portanto, continua sendo a ideia mais comum sobre a história da ciência. Consideremos
agora algumas das razões principais pelas que rejeitamos a posição iluminista.
o declino da ciência antiga acontece muito antes do que o final do. Império Romano (476
a. C.). A última época de esplendor da ciência grega é o tempo de Ptolomeu e Galeno (s.
11-111 d. C.), mas trata-se de personagens isolados no meio de um panorama científico que
já havia tempo tinha perdido sua vitalidade. A época verdadeiramente criativa da ciência
grega acaba, mais ou menos, entorno ao s. III a. C. Oá últimos séculos do império são
caracterizados por trabalhos de «compilação» e pela aplicação de estudos e obras que já
eram «antigas». t este o caso de Plinio com sua História Natural. Esta característica se
. manterá constante até o s. V-VI, depois da queda do Império Romano de Ocidente. Boécio
é considerado o grande último compilador da antiguidade. Traduz ao latim os principais
" resultados da ciência grega: geometria, aritmética, música, astronomia, 16gica, e suas
obras constituirão a base dos estudos medievais.
- As mudanças sócio-culturais.
dono da lingua grega, na qual linha sido
redigida toda a ciência clássica. A queda do Império Romano de Ocidente interrompe as
relações com a civilização grega, sobretudo com as grandes cidades, comoConstantinopla
e Alexandria. O mundo Ocidental já não falava mais o grego (até S. ~gostinMo.manifestará
suas dificuldades com alfngua grega e a ciência dessa época).·"
T
e Um último elemento a considerar, ligado às mutações sociais, foi o desaparecimentos das
m escolas públicas que, durante os séculos do Império, tinham mantido a difusão e
o transmissão da ciência. Nesses séculos,· as escolas não eram mais resultado da livre
s iniciativa dos filósofos, mas uma instituição do Estado. Com a queda do Império chegam a
seu fim estas estruturas estatais.
o
u - Relação do cristianismo com a ciência grega.
t
r O fato de que a ciência clássica fosse aos poucos esquecida, não se pode atribuir ao
o infiuxo negativo do cristianismo. Os Padres da Igreja, embora não tendo preocupações
especificamente cientificas, acolhem e aceitam a cultura da época, tanto a nlvel filosófico
e como científico. Mas a .vitalidade e o impulso racional que guiaram à ciência clássica,
l tinham já desaparecido, e o impulso cultural do mundo pagão se tinha apagado (devido em
e parte a concepções filosóficas mais místicas e religiosas de tipo neo-platónico e gnóstlco,
m que racionais: a astrologia, a magia, a alquimia).
e
n Outrossim, é também falso que a ciência tinha recomeçado desde zero na ~poca modern •.•.
t
o O medievo conheceu momentos de grande inquietação intelectual e; racional. Embora
direcção do pensamento tenha sido principalmente para a filosofia e a teologia, deu
a importantes contributos a nível cientlfico. Hoje, depois das investigações históricas do
. principio do s. XX, levadas adiante por P. Duhem, e mais tarde por A. Maler e outros,
c reconhece-se comummente uma «ciência medieval». E é também um fato hlstórloo aooll
o que a ciência moderna nasce da ciência e da filosofia me,dieval, além das,descoberta d
n fontes antigas.
s
i
Para alguns históricos, em particular para St. Jaki, a ciência nasce em realidade 'graç
d
cultura cristã. As principais novidades do pensamento cristão, isto é, a transcendênol
e
Deus e a autonomia do criado, a criação no Logos, com aconsequente afirmaçêo de um
r
radical inteligibilidade da natura, la espiritualidade do homem e sua capaoldado d
a
conhecer e dominar a natureza, teriam formado uma «matriz cultural» necessérla pare qu
r
a ciência pudesse finalmente desenvolver-se. Em outras culturas, êlnbora em dlvors
:
ocasiões se tenha chegado a colocar as bases (teóricas, metodoTóglc~s, soeals) d
o
ciência, esta nunca alcançou uma verdadeira maturidade: é ·0 que acontecera
a posteriormente no mundo árabe, e em outra civilizações orientais ..
b fI
a
n
U rna: tem lugar
" m no mundo 'medieval nos séculos XII e XIII.
Vejamos quais são os elementos que confiuem
v nesta época e qual é o significado deste
I ;1 é renascimento para a ciência sucessiva.
1• A ciência no alto medievo. r
-: d - A constituição das escolas. e da Universidade.
Por outra parte,' no alto medievo a ciência não a
desaparece totalmente. Em Oriente d Já mencionamos as escolas monásticas 'e
continua uma certa actividade. Em Ocidente, entre ei episcopais. No s. IX Carlomagno cria as
muitas dificuldades sociais, continua o r premerias escolas Pala tinas, que tinham como
esforço por conservar os antigos conhecimentos, o função a formação de funcionários para o
sobretudo através do trabalho de r Sacro Império. Ainda, são mais significativas no s.
copiado d~ manuscritosll. A copia de manuscritos e X a fundação de uma escola de
esteve entre as principais actividades n medicina em saerno, que pode ser considerara
dos mosteiros, como o de Casiodoro (VI século), e a como a origem remota da Universidade.
sobretudo nos mosteiros beneditinos, a s
. começar p.elo de Montecasino. ci
m
•
Dai que logo aparecem as figuras dos e ~
compiladores, como Isidoro de Sevilha (c: 600), n
com t
sua obra étímologias,! dita obre constitui uma o
enciclopédia de todo o saber transmitidos d
pelos ,antigos. Também Seda o Venerável (c. 700) a
que reúne em De Rerum Naturae uma ci
nova .colec;ção de conhecimentos que vão desde ê
aritmética e astronomia, às ciências n
naturais. . ci
a
Um r~1 pri!Ycipal corresponderá durante este ,
longo período às escolas que eram de diverso p
tipo. Em ~primeiro lugar as «escolas monacais», r
surgidas entorno aos mosteiros. é
Posteriormente aparecem as «escolas vi
episcopais», entorno à cúria do bispo, e também, o
sobretudo .corn o renascimento carollngio (c. 800), a
as escolas palatinas, que constituirão o
aos poucos os centros do saber de maior a
importância. c
o
Também houve um grande trabalbo de n
conservação -e em certa medida de t
desenvolvimento- no mundo árabe a partir do 700', e
através do contacto que teve com a ci
cultura grega (principalmente em Siria). Os d
trabalhos de tradução para o árabe serão o o
camiriro p~lo qual a ciência grega retomará a n
Ocidente. Junto com esta actividade, os a
árabes realizaram importantes trabalhos de recolha id
em diversos âmbitos da ciência: a
medicina, astronomia, matemática, etc. d
• e
• o renascimento especulatívo do s. XIII e a m
o
ciência tardo-medieval. d
e
t de dois tradutores, um que traduzia do árabe à
r língua local, e
a um segundo que o fazia desde a língua local ao
d latim. Entre as escolas de tradutores
Era concebida como uma comunidade de maestros e u foram de relevância as de Salerno (Adelardo de
discípJlos. A tradição a apresenta ç 8ath) e a de Toledo (Gerardo de
como um lugar de encontro de diversas culturas, pois õ Cremona).
nela participam cristãos, árabes e e
hebreus. s - A influência do Aristotelismo.
I
e A maior novidade foi sem dúvida, a recepção em
r Ocidente das obras de Aristóteles, graças
A Universidade começará propriamente no s. XII. As
a ao contacto com a cultura árabe, Até o s. XI só se
primeiras foram as de Bolonha e
m conheciam as obras de lógica,
Paris, seguidas por outros importantes núcleos como
Montpelier, Oxford, Pádova, Nápoles,
m
.
Salamanca, etc. Todas são concebidas como
u
comunidades de maestros e estudantes, dai
i
o nome originário: «Universitas studiorum» em
t
Bolonha, ou também, «Universilas magister
o
et studiorum» em Paris. Além do mais, gozavam de
uma grande autonomia do poder civil e
c
eclesiástico, porque foram postas directamente sob a
a
protecção do Sumo Pontífice. Só
n
aceitam a autoridade religiosa em matéria de fé.
s
a
A estrutura da Universidade era totalmente original t
com respeito ao que tinha havido até i
esse momento em matéria de educação. Eram v
formadas por uma Faculdade de Artes, na a
qual se segue o Trivium (gramática, retórica e lógica) s
e o Quadrivium (geometria, ,
aritmética, astronomia e música); e por uma
faculdade de Teologia, centrada sobretudo no
estudo da Sagrada Escritura. Surgem como núcleos u
independentes as Faculdades de s
Direito e de Medicina. O estudo das ciências se u
realizam na faculdade das artes e de a
medicina. l
m
As Universidades terão uma importância fundamental e
na sociedade do tardo.-medieval. n
Constituem a primeira abertura da ciência a qualquer t
estrato e grupo social (as escolas e
gre~as e romanas foram sempre para as elites).
estendendo a ciência e a formação para n
uma nova «nobreza». não baseada no sangue, nem e
no poder económico (possessão de c
9 terras), mas, na qualidade intelectual. e
s
• As traduções do árabe, s
i
Desde o s. XI reaparecem em Ocidente, através do t
mundo árabe, muitas obras perdidas a
da antiguidade. Abrem-se em Ocidente centros de v
traduçào; em primeiro lugar, do árabe a
ao latim, e mais tarde directamente do grego. As m
traduzidas por Boécio, em dos etapas sucessivas se conhecerão todas as obras do A ciência do Renascimento.
Estagirita.
"
o
conhecimento
de. Arist6teles
tem como
consequêncla
uma maior
conscíêncla da
distinção entre
Teologia e
Filosofia, isto é,
entre saber
revelado e
saber natural. A
filosofia
começa? ser
concebida como
conhecimento
do mundo
natural
mediante a
força da razão,
A sua finalidade
será determinar
as causas
(segundas) das
coisas. Este é,
para alguns
históricosH, o
grande
descobrimento
do mundo
medieval, ou da
escolástica: a
força da .
demonstração
A ciência moderna não está precedida directamente da ciência - scimento.
1 medieval, mas da ciência
do Renascimento. Contudo a delimitação temporal não. é muito C Graças aos estimulas anteriormente mencionados, a actividade
a cientlfica prossegue seu
~;ecisa. O tempo do r
Renascimento abrange os s. XV-XVI; mas parte do s. XIV já a caminho de desenvolvimento sempre com maior impeto. Algumas
ãpreienta traços do c das caracterlsticas
Renascirnenío, especialmente em Itália. t principais deste perlodo são: .I
' e
r 1) cresce a diversificação e cada aspecto do saber adquire. sempre
- O movimento do Renascimento. i maior independência;
s •..
t 2) a investigação se afasta aos poucos da Universidade. Esta te\i;,
A caracterlstica principal deste movimento é o chamado humanismo: i air+da um grande
há um grande c nfluxo, mas começa a aparecer um novo tipo de intelectual
interesse pela literatura; a arte, a poesia ... e também pelas a independente da Universidade,
conquistas da antiguidade, s
se reúnem em centros de edição de livros, em oficinas de artesãos e
vista como a época clássica destas artes. Descobrem-se textos
clássicos até esse d artistas, e nas cortes,
momento desconhecidos e se fazem traduções desde os originais. a onde príncipes e reis se convertem em grandes mecenas que
procuram reunir entorno a si
Esta redescoberta dos
c os melhores artistas e estudiosos;
originais gregos é favorecida pelas trocas comerciais cada vez mais i
intensas com Oriente, ê 3) intensifica-se o aspecto observacional. Em medicina se realiza um
e também porque chegam a Ocidente não poucas personagens n volGme notáveJ de
fugidas da agressividade c estudos anatómicos e fisiológicos particularizados, também o
do Império Turco~. i
a aperfeiçoamento das
técnicas artlsticas permite a estampa de mapas, lãmlnas e figuras
Outro factor que contribuiu grandemente à expansão da cultura na
n sempre mais perfeitas.
época do o
Renascimento foi a invenção da imprensa (Gutenberg, 1450). As
obras clásslcas; e R
modernas, a cultura antiga e as novas conquistas cientfficas, são e
assim colocadas a n
disposição de um número de estudiosos cada vez maior. a
\; iE
:"J
Destâ ma'Í1eira, as ciências clássicas (matemática, medicina, astronomia), gozam de 2.3 Características epistemológicas da ciência antiga
importantes desenvolvimentos que abrem a estrada para a ciência moderna 12.
- Características epistemológicas da ciência aristotélica.
- A astrondmia medieval e renascentista.
Até aqui apresentamos os principais elementos da ciência antiga desde o ponto de vista
Durahte o ~lnedievo dá-se um debate fundamental (que aparece inclusive na obra de Santo histórico. Agora nos interessa reflectir sobre algumas questões epistemológicas, que nos
: Tomás). Trata-se do debate sobre dois sistemas astronómicos, o aristotélico e o permitam traçar desde o ponto de vista filosófico, a imagem da ciência clássica. Esta não é
· ptoleinalco. O primeiro segui o sistema de Eudoso, enquanto Ptolomeu usava todos os um assunto do passado, porque essa imagem ficou em vigor no mundo ocidental, ao
i artifidos maternátlcos necessários para salvar as aparências celestes. menos, até o início do s. XX.
"
I I Em que consiste este ideal? De fato, trata-se de um dos contributos principais da cultura
: O slsíerna ptolemaico lera certamente superior desde o ponto de vista técnico. Porém. a
grega. Esta, elaborou um modelo de saber que influiu em ocidente por quase 2500 anos ...
I questão dificil e.ra quando não se tratava de dar uma interpretação matemática do cosmos, e sem dúvida sua validade não está esgotada, essa é ainda hoje um elemento essencial
· mas nsica(real). Encontramo-nos então com duas posições antagónicas: de nossa compreensão do mundo e da realidade. Vejamos esse elementos:
> a p'bsiçâb ptolemaica buscava de «salvar as aparências», considerando a astronomia > Segundo E. Agassi, o núcleo fundamental é o seguinte: para conhecer qualquer
.corno, umá~ ciência matemática, cujo objectivo, diriamo.s hoje, é apresentar hipóteses e
· modelos bem elaborados;
realidade do mundo, não podemos limitar-nos a saber o zs:s
e como é feita,mas
devemos também compreender porque existe e é feita assim como aparece22.
>a ~osiç~o aristotélica buscava, por sua vez, um modelo descritivo do céu. Portanto, > Para obter o anterior, não é suficiente amarrar-se à experiênciaimediata das coisas, mas
;prete~dia falar de movimentos e esferas reais. Tratava-se de uma «astronomia física». deve também intervir a razão, a qual tem a função de fazer-nos ver com clareza a não
casualidade de quanto aparece e o justifique como um elemento da totalidade, na qual a
O debate prossegue durante todo o medievo e o renascimento. São concepções diversas coisa resulta explicáveln. .
da astronomia: a de Ptolomeu é matemática e instrumentalista; a de Aristóteles é fisica e
realista. Porém, nenhuma das duas está ligada necessariamente às origens das quais Portanto, conhecimento teórico ... e este se consegue através da razão. E esta implica,
'surçirarn. Portanto, frente ao maior sucesso do sistema de Ptolomeu, se procuram para esclarecer a não casualidade, conhecer as causas: há verdadeira explicação quando
modelos que possam dar uma interpretação «física» aos movimentos ptolernalcos. Um dos se poder dar a conhecer as causas daquilo que acontece.
tentativos mais completo é o realizado por Georg von Peurbach (1423-1461) na sua obra:
Theoricae novae planetarum (1474).' r > Outro problema será como podemos chegar ao conhecimento das causas, Será o
. jo", problema fundamental de Hume, mas, por enquanto, o grego não discute que este
TOdav.,la, a;\insatisfação pelo sistema ptolemaico, não desaparecia com as tentativas de conhecimento é possível.
dar-he ao ststerna ptolemaico um senso físico, No s. XVI se procura substituir os artifícios
matemáticôs da astronomia ptolemaica, embora isso significasse retomar ao sistema
Contudo, para os gregos, a caracteristica fundamental da ciência é passar dos principios
antigo~. Outro sinal de insatisfação pode notar-se nas especulações cosmológicas como a
aos fatos, das causas aos efeitos: «ter ciência» significa ser consciente da .exigências de
de Nicolau de Cusa (1401-1464), radicalizada depois por Giordano Bruno(1548-1600),
fazer explícitas as razões através de uma demonstração, a qual ser capaz de chegar aos
ambos concebem um universo infinito em contraste com a ideia grega de cosmos, por
princípios universais.
definição fechado e «terminado», quer dizer, «finito»ll.
- Necessidade, universalidade e certeza.
Mas a obra fundamental de Astronomia e certamente de toda a ciência renascentista é a
de Nicolau Copérnlco (1473-1543), com a que inicia a «revolução cientlfica», embora se
deverá esperar um século e meio para que dê seus frutos.
11
..
it
•
A ciência aristotélica se apresentava como um conhecimento certo per causas (as famosas
as premissas experimentais, e a dedução da qual derivam as' conclusões. Arlstóteles
quatro) e seus resultado eram concebidos como necessários, universais e certos. desenvolveu ainda da maneira mais completa a lógioa da dedução ou do silogismo,
enquanto indicou só sumariamente o procedimentoindutivo ... que ajudam ao pesquisador
a buscar as premissas necessárias da ciência·~.
> Já desde a ideia platónica de episteme, a ciência era considerada como conhecimento
necessário. Descobrir a causa dos fen6menos significa descobrir as conexões essenciais
que se dão na realidade do mundo flsico. Para Aristóteles não existe ciência per accidens,
porque ai não pode haver necessidade causal.
> O conhecimento científico é também universal, quer dizer, o conhecimento obtido vale
sempre, quer dizer, sempre que as circunstâncias e condições sejam mantidas. Quando se
descobre o nexo necessário entre causa e efeito, essa conexão é válida em todo tempo e
lugar.
> Em terceiro lugar, a ciência é certa, quer dizer, o conhecimento científico produz um
estado de certeza no cognoscente porque se encontra em possessão das razões, dos
princípios, dos quais procedem necessariamente e universalmente 05 efeitos.
Em todo caso a ciência, embora sujeita a erros, procura atingir a natureza dos entes, e em
certa medida o conseque. De fato, a ciência descobre os principias das coisas, e estes
principios são em último término reconduziveis à essência. E é justamente da essência de
" onde provêm as três caraterísticas antes mencionadas: necessidade, universidade e
certeza.
~
A reflexão filosófica sobre a ciência.
..
No mundo clássico ciência significa simplesmente saber racional (certum scire per causas,.
conhecimento certo pelas causas, na formulação escolástica). Assim descreve F. Selvaggi
o esquema da filosofia da ciência de Aristóteles:
t
o recurso à experiência é o ponto de partida de todo conhecimento". todavia a
li".
experiência sozinha nunca leva à ciência, já que esta exige não só a determinação do fato,
mas também a demonstração por meio da causa e, para chegar a demonstração, é
necessária uma combinação de indução e dedução: a indução que provê os principios e
1
2