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Designação da cadeira: FlL()SOFIA DAS CIENCIAS (EPISTEMOLOGIA)

Regime Anual
.
.... ~ I""

. Posição no curso: 3° Ano

Tempos lectivos semanais: 4 Tempos semanais /3 teóricos e 1 teórico-práticos

Precedência obrigatória: Cosmologia


EMENTA
Que a ciência desempenha um rol central nas sociedades hodiemas, também a nível de educação e
_ _ __ ~_~ult~~ é.WIlR verdade:admíti<là 1>0/" t~O~::::N-~~ênéia@..9ue a ciêI!CÍlEdetemiiÍ1a- em .hoá IÍ1edi~ -,:- :~.
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da o nosso mesmo módo de ver a realidade. Com efeito, não é pouca a influência que nossos con-
ceitos e esquemas mentais recebem da linguagem científica, particularmente das novas tecnologias.
Além disso, a ciência não só transforma o nosso mundo e a nossa visão dele; ela, de facto, reclama
para si constituir-se como factor normativo, que sinteticamente poderia ser expressado assim: «o
que a ciência e a tecnologia nos consentem de fazer, pode ser feito, ainda, deve ser feito». Os riscos
de tais perspectivas são evidentes, por exemplo, a uivei ecológico, ou em referência à ciência da
vida, como a engenharia genética. Apesar dos riscos, é indubitável que ela tem um influxo positivo
no mundo de hoje, contribuindo por exemplo ao melhoramento da qualidade de vida do homem. Es-
tes são só alguns dos motivos pelo que parece conveniente uma aproximação filosófica ao tema ci-
entífico. É necessária uma filosofia da ciência ou epistemologia que reflicta sobre o conhecimento

-
1M .

científico, seus fins, métodos e valores.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
Unidade 1: O PROBLEMA DO MÉTODO E DO VALOR DA CIÊNCIA: a) Introdução. Fime me-
todologia da Filosofia das Ciências. b) O rol da ciência no mundo actual. c) A ciência como objecto
de reflexão filosófica.
Unidade 2: CIÊNCIA E FILOSOFIA NO PASSADO: a) Origem e desenvolvimento da ciência rui
antiguidade. b) A ciência medieval e renascentista. c) Características epistemológicas da ciência an-
tiga
Unidade 3: A CIÊNCIA MODERNA: a) O nascimento da ciência experimental. b) A consolidação
da visão cientificista do mundo. c) A crise da ciência ao início do século XX.
Unidade 4: AS ORIGENS DA FILOSOFIA DA CIÊNCIA: a) As primeiras reacções epistemológi-
caso b) O Círculo de Viena e a visão científica do mundo: c) A herança do Positivismo lógico: a me-
todologia da ciência
Unidade 5: KARL R. POPPER E A METODOLOGIA DA CIÊNCIA: a) Vida e obras. b) O proble-
ma da indução. c) A demarcação entre ciência e metafísica. d) O racionalismo crítico: A natureza.
das teorias científicas. A busca da verdade.
Unidade 6: THOMAS S. KUHN E AS REVOLUÇÕES CIENlÍFICAS: a) Vida e obras. b) A ciên-
cia normal e os paradigmas. b) As revoluções científicas. c) As revoluções científicas e a incomen-
surabilidade dos paradigmas.
Unidade 7: A HERANÇA DO DEBATE POPPER - KUHN. a) As propostas alternativas. b) A soci-
ologia da ciência. c) Perspectivas actuais na Filosofia da Ciência
Unidade 8: A NATUREZA DA ACTIVIDADE CIENTÍFICA E A QUESTÃO DO MÉTODO: a) A
ciência como actividade humana b) Caracterizações e objectivos da ciência c) Dimensões e aspec-
tos da actividade científica. d) A questão do método: Teoria e experiência e) Da experiência à teo-
ria: O problema da indução. t) Da experiência à teoria: O objecto científico. g) As teorias científicas
e sua verificação. .
Unidade 9: A VALIDADE DA CIÊNCIA: a) Os critérios de avaliação da ciência b) A intersubjec-
tivídade das construções científicas. c) Os limites da intersubjectividade da ciência.
Unidade 10: CIÊNCIA E VERDADE: a) Objectividade e verdade da ciência. b) Verdades parciais e
níveis de verdade. c) O valor da ciência. e

BmLIOGRAFIA BÁSICA:
BACHELARD G. A Epistemologia: Edições 70, Lisboa, 1971/1984.
B UTIERFIELD H. As Origens da Ciência Moderna. Edições 70, Lisboa, 198412003.
CHISHOLM, R. Teoria do conhecimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.
HANNE R. As Filosofias da Ciência. Edições 70, Lisboa, 1972/1988.
KUHN T. A Tensão Essencial. Edições 70, Lisboa, 1989.
___ A Revolução Copemicana. Edições 70, Lisboa, 2002.
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Lisboa, 1999.
v 11:

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e contexto histórico e cultural nasce a filosofia das ciências, dentro de uma
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perspectiva particular que procurava transformar a filosofia dando-lhe um estatuto
definitivamente cientlfico. Referimo-nos concretamente à posição adoptada pelo
l
positivismo lógico, representado pelos membros do assim chamado «Circulo de Viena»l
nos anos
1920- A ciência como actividade humana ............................................................................................42;'
A ciência como método ...............................................................................................,' ..........43:.:
CAPiTUlO·.I· MÉTODO E VALOR DA ClêNCIA •••••.•••. ; .••••..••....•...••••.••••..••..••••...•..•........................... 2 1930.
Esses A ciência: conteúdos cognoscitivos ........." ............." ..............." ............." .. :" .................: ......43','
·1.1-.INTRODUÇÃO •••••..••.••....••.••..••.•.•••.•••...•...•.......••....................•.......•.•...........•..•...............................• 2 9.2.CARACTERlSTICAS E OBJECTIVOS DA CI~NCIA ............." ........•.......•....... " ...•......... " .. " ............""" ....••.• ",,,.43
1.2. A F~NÇÃO DA CI~NCIA NO MUNDO ACTUAL .....•..••...................•.....••.•.....•................•........ " ...........•.. 2 Objectivos internos e externos da ciência ...................................................................•......... ".44:
11 A CllôNCIA COMO OBJECTO DE REFLEXÃO FILOSÓFICA ........•.•.•........•....•............•.............................. 3 Os objectivos intemos gerais da ciência ..............................................................................." ....44_
Definição da actividade científica ...................................................................., .........................45
~ CAPi~UlOi~l. A ciêNCIA E A FilOSOFIA NO PASSADO ••.•...•..••••.•••......•......•..........................•.•.. 4 9.3. ASPECTOS DA ACTIVIDADE CIENTIFICA ......................•..... " .......•......•....••. , ....•......... ,,,, ...............,,,, ......., ......45
2.11, ORI<?EM E DESENVOLVIMENTO DA CI~NCIA NA ANTIGUIDADE ••.••.•..•••.••••••••...•.........•........•.............•..• 4 A Investigação Científica
2.2. A CléNCIA MEDIEVAL E DO RENASCIMENTO. " ...•..•...•...•..•...•.•..•.•..•..• " ..........................................•... 7 A sistematização cíentífica .........................· ........, ............................•........ : .. , ..., ..., .. : ........47
2.:\ CARÂ,CTERlSTlCAS EPISTEMOLÓGICAS DA CltNCIA ANTlGA .•..••...•••..•••••..••.....•..•.•••..•••.. " ...•.. "" ......•. 11 A transmissão da ciêncía ............" ..............." ...." ............, .......•.................................•............ 47-
r. /' A aplicação das teorias .............................................................................................................: 48
~ CAPiTtUlO: 111 • A CiêNCIA MODERNA •.•.••••..•.• , •••.• ; .•.•.••.••....•...••••.•..•••.•...•.....•......•...•.................•....
CARíTUlO VIII· OS ELEMENTOS DO MÉTODO CIENTíFICO ...................................•..........•........ .49 •.
13
j .J(..! 8.1. TEORIA E EXPERIJ:NCIA ........................................" .........................•........................... " ............................................49
"
3.1. O NASCIMENTO DA CltNCIA EXPERIMENTAL ; ..•..••••..•.••.•.•.•.•.•.•.•..••......•..•.....•.••..............•.............• 13
3.i. A CdNSOLlDAÇÃO DA VISÃO CIENTIFICA DO MUNDO ..•.•..•.•.•.•.••.••••..•.•.•.•.•.•••..••.•.••. "." ....• : .•..•..•..•.•. 15 A relação entre teoria e experiência
·3,J. A CRISE DA CltN.CIA NO S. XX ........................................................: ...................................................... 17 A experiência como ponto de partida da ciência ........................." .............................................. 50
8.2. DA EXPERltNCIA A TEORIA: O PROBLEMA DA INDUçAo ......•.......................•................ ; .•.................. 51
. CAPiTULO IV· AS ORIGENS DA FilOSOFIA DA CltNCIA .•••.•••.•.• ; ...................•...•....................... 20 Olhando a história ........................................................................." ..........................................51·
4, h As Flíl-IMEIRAS REACÇOES EPISTEMOLÓGICAS ••..•..••..•.••...•.•.••.•...•.••••.•...•.•.••....••.•.....•................... ' 20
I ./4,2, O CIRCULO DE VIENA E A VISÃO CIENTIFICA DO MUNDO •••••.•...••...•••••••••.•.••.•••••.•••.•.•••.•••••.....•.•.••..•. 21 . Os diversos' significados da indução ........." ....., ............................................" ................" ....,51
4.3'. A HERANÇA DO POSITIVISMO LÓGICO: METODOLOGIA DA CltNCIA ..••••.•......•.•.•...•.......................•..... 22 8,3. DA EXPERltNCIAATEORJA: O OBJECTO CIENTIFICO ....................................." ....." ...................." .........•......... 52·:
('. A construç~o do objecto científico
C.~,O!TULO V· KARl POPPER • A METODOlOGIA DA ClêNCIA •.•........•...............•....•................. 24 8.4. As TEORIAS CIENTIFICAS E SUA VERIFICAÇÃO ......................................................................................".", .........53
Método hipotético.<fedutivo: Verificação e falsificação ........................................................ ." .. 5.1.
5.1: KARi'R POPPER(1902·1994): VIDA E OBRAS ...•....•...•.••.......•.......•...•..•..•.•••....•...............•......•..• 24
5.:!: O PROBLEMA DA INDUÇÃO •.••.••.•••.•.•..•..•..•.••.•..•...••. : .•••..•...•...•..•.••..••...•......•......•..•............••.....•.• 26 CAPíTULO IX· O VALOR DA CIÊNCIA ............................................................................................ ." .. ~6
5,3, A DeMARCAÇÃO (LIMITE) ENTRE CltNCIA E FILOSOFIA (METAFlsICA) .•.••...•....................................... 29
9.1. QUE CRITtRIOS PARA VALORAR A CltNCIA? ................
5.4; A PR<DPOSTA DE POPPER: O RACIONALISMO CRITICO .....................•............................................... 30
Duas características da ciência: Rigor e objectividade ..............." ..............................................56
CAPiTULO \h . THOMAS S. KUHN E AS REVOlUÇÓES CIENTiFICAS .•........•.......•....... ; ...........•• 34 A objectividade da ciência tem dois sentidos ..............................................................................57
6.1, THOMAS S, KUHN (1922-1996.): VIDA E OBRA .•..•.......•........•..........•............................................. 34 9.2. A INTERSUBJECTIVIDADE DAS CONSTRUÇOES CIENTIFICAS
Conhecimento intersubjectivo e actividade.. ..............................................................................58
Vida 'ir:telectuel e académlca .........................................................................................................34
Fundamento gnoseo/ógico da intersubjectividade ......." ...........................................................58
Obras principais ...........,.,' .............., ......" ...................................., ..................., ..., ........., , 3~
A intersubjectividade da objectividade científica .........." .................." ..........., ...........................58
6.2. A CIt:NCIA NORMAL E OS PARADIGMAS .......•....•..••.....•....•.•.......•.•. ; ..••.•....•...•................................. 35
i A estrutura da revolução cientlfica e a filosofia da ciência popperiana ........................................35 . CAPiTULO X· A CiêNCIA E A VERDADE .. "~ ..............." .................." .........................".,, ................... 61.
::A no~o de ciência normal ...........................................................................................................35
1 0.1. DOIS MODELOS DE CltNCIA: DOGMATISMO E IRRACIONALlSMO
"Caraeterlsticas do paradigma (modelo) ., .................................................................................... 36
:'A ori~3m da ciência normal ..............................................................................., ........................ 36 10.2~ EXISTE UMA TERCEIRA VIA? .............................................................
.A ciência normal como paradigma ................, .................... 36 ! •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
11.3. JUSTlFICACIONISMO E REPRESENTACIONISMO .....................••...........•...... , ............" ........................................62
Ascondiçóes da ciência normal •.....•..........•. , .....•.... ; ....................•.......................... , ..............37 BIBLIOGRAFIA
6.3 . .As REVOLUÇOES CIENTIFICAS E A INCOMENSURABIUDADE ENTRE OS PARADIGMAS, .....................•.•.• 38 NOTAS ..................................................................................................................................................... 64
o
8. DEBATE POPPER-KuHN: PROPOSTAS ALTERNATIVAS .•...................•...•............................•...........• 39

f~~í!cd,~
8.1. Novas perspectivas ......, ........., .." ..........., ............., .........................................................40
FAPil1tJLO VII· A NATUREZA DA ACTIVIDADE CIENTiFICA .........................................................................42
I ,I

9.1. A CI~NCIA COMO ACTIVIDADE HUMANA ••••.•.•.••.••.•••.•.••.••••••••.•••.•.•.••••••••.•.•••.•.•••.••.•.•.•.•.•.•..••..•.•..•.• 42


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t pensadores afirmavam que a filosofia devia transforma-se
;l u numa filosofia científica, e sua missão era assegurar a cientificidade do pensamento. Desta
r maneira, a filosofia da ciência não seria só uma parte importante da filosofia, mais ainda, .
CAPITULO I· MÉTODO E VALOR DA CI~NCIA seria a única filosofia realmente válida e aceitável. As outras disciplinas filosóficas também ;
a
seriam transformadas em científicas e experimentais (antropologia, psicologia, etc.), ou
1.1. Introdução a seriam descartadas como residuos de um pensamento imaturo (metafisico).
n
Parece lógico que na introdução a uma nova disciplina, dentro de um curriculum filosófico, g . O nascimento da filosofia da ciência esta estreitamente ligado a esse tentativo do Circulo
procuremos justificar a oportunidade e a importância do seu estudo. É certo que a filosofia l de Viena, e, ainda hoje em muito lugares é; assim ensinada, assumindo implicitamente que
das ciências não parece ser uma das disciplinas nucleares da filosofia, como poderia ser a ó o único conhecimento válido é o conhecimento científico experimental. É evidente que
metafísica, a antropologia ou a gnoseologia. A filosofia da ciência se ocupa de questões f desta maneíra a filosofia fica reduzida à filosofia das ciências. '
muito especificas que surgem entorno a um fenómeno bem delimitado: a ciência o
experimental. Desta maneira, poderlamos pensar que a filosofia da ciências seria a n Ora, é também evidente para n6s, que não podemos aceitar esta posição «tout-court».
aplicação de uma disciplina filosófica especifica, a teoria do conhecimento, a uma questão a Pensamos que há que evitar este radicalismo e procurar uma posição de equilíbrio que
particular como é a ciência experimental. A filosofia da ciência teria então um rol . reconheça a importância da filosofia da ciência sem negar a legitimidade e importância dos
secundário dentro da reflexão filosófica geral.
,
Mas pode haver outros motivos que justifiquem a importância de uma disciplina, como por N
exemplo, sua relação com a situação acíual. Nesse sentido, deve se reconhecer que a e
ciência experimental tem adquirido uma importância notável e, em alguns âmbitos, a s
filosofia das ciências é considerada como uma parte central da filosofia, como acontece na s
filosofia das "Iênolas não está
ligada'a urna forma de conceber o conhecimento, senão, às exIgências ooncretas da vida
humana nas circunstâqcias actuais. De fato, o fenómeno clentlfico possui hoje um rol
fundamental em nossa cultura e em nossa sociedade, até o ponto de podor tlnrmor sem
duvldar que vivemos num mundo «dominado» pela ciência. Isto é Inegável, vivamo/! num
mundo em que muitas vezes a ciência se converte em norma e medida da fOelldnr/n fi do
agir humano.

, 1.2. A função da ciência no mundo actual J


Não há dúvidas de que nossa sociedade pode ser qualificada (em maior ou menor mediei
. segundo as zonas do planeta) como sociedade tecnológica, basta pensar no mundo d
comunicações e do transporte. Também à nivel das relações interpessoais e sociais,
o nossas vidas se viram t~ansformadas pelos avances cientlficos e tecnológicos, e tudo Isso
u têm profundas repercussões no âmbito da educação e da cultura. CO'ill efeito, a educação
t passou de ser principalmente humanlstica a cientlfica, e até a forrnãção 'profissional que
r era baseada na prática e na experiência de tipo artesanal, passou a ser clentlflco-técnlca.
o . j.,o

s O função dominante e normativa da ciência. ~ }wr~[l!,J, )JÚrm"1-CeJ, cú ....


r
a A consequência destas mudanças é que hoje a ciência determina nossa forma de ver a
m realidade, nossos conceitos e esquemas mentais reflectem em grande medida os meios e
o as possibilidades que /lOS oferece a ciência, especialmente os que gerivam dajoforn.J.ê&Sê.:
s
As pretensões da ciência não param por aqui, ela parece querer converter-se num factor
d normativo desde dentro da realidade. De fato, ~ia..p.à.s.slb.ili1aHm controlo da n.atl..u:e~
a 9Ue se cQoverteeOJ~norma • dancssareação.com.ascoíaas, . .d..e~JÊ. maneira ª~~cia.nãQ.
s6 transforma nossa conQ.~'p'ç.ão_do_muodQ..(mundividência), mas se ergue como ins.tancia
f ~cal~oaodo ~gue se Qode e sadeJJ.e1aze.rl,
i
l Essa função normativa e .dominante da ciência manifesta-se de uma parte à nível
o
tecnológico, isto é, o que a ciência e a tecnologia nos consentem de fazer, pode ser feito,
s
aliás, deve ser feito. Os riscos desta perspectiva são evidentes quando nos introduzimos
o
f na
no mundo da ecologia, das ciências da vida e, mais especificamente, engenharia
i genética; .
a
. A função positiva da ciência .:
}! "
S
e O dito anteriormentê não significa alimentar o preconceito sobre uma função negativa da
n ciência na vida humana. É certo, a ciência tem os seus riscos, todavia'Jnão ~á dúvidas ~ue
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fência (especialmente sobre sua dimensão lógica e metodológica).
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iNos anos 50' criam-se nos Estados Unidos de América as primeiras cátedras de filosofia
da ciência,
,,
' no seu conjunto, tem um influxo positivo no mundo de hoje, contribuindo, . por exemplo o valor da filosofia da Ciência. \.... chegando assim a
, através da medicina, aum melhoramento notável g,aJ) .•• nossas condIçQ~§:,Q.~ .. vidél-~ consfiíulr-se uma
prolo'hgamento. Outro interrogante que devemos resover é sobre o valor de verdade que pode ter a disciplina autónoma
. . ~Jr . .)-. j~ filosofia~. Digamos, pois, que o ponto central a considerar é: em que' sentido a . filosofia a nlvel académico.
.' - '. .., /;"f'7i'&I ~. Dai em diante sua
A ci6h claitom o valor fundamental da cultura actual. -; :./ .. ;)' //~~. fb ...
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·2 pode julgar à ciência? De fato a filosofia não julga a ciência em si mesma, isto é, em
importância foi
lo , l~ej(f..,<I.( .•• jf~l.til'/{,:'?·"'()·
i. seu
objecto próprio, seus ~\étodos especificos matemáticos ou experimentais, suas hipóteses, crescendo
As razões expostas fazem com que a ciência seja, hoje considerada como o valor continuamente e
fundamental (ou um dos valores fundamentais) do homem actual. Concretamente, muitos seus resultados, etc. t:stas são questões para as quais a filosofia não tem nenhum
contributo. É cada ciência particular que deve julgar seus próprios métodos e resultados. estendendo-se a
a consideram como o único conhecimento válido, como se este fosse o único caminho outras
, para atingir a realidade e chegar à verdade; volta-se a propor, como no século XIX, uma Ora, a filosofia sim pode julgar à ciência quando se trata da imagem da realidade que a áreas geográficas.
atitude ci~i1tificista de aproximação à realidade, embora não seja tão agressiva como nos ciência nos oferece: que significado tem a realidade tal como é apresentada pela ciência? Sua vitalidade
tempos passados. Que valor tem o conhecimento que adquirimos através da ciência? Quais são os limites da continua imutável
actividade científica? ... Estas são algumas das questões filosóficas que nos coloca, a
a
: portanto, pergunta obrigatória que deveríamos responder seria: qual é a posição que actividade científica.
até hoje.

·1 assumiremos nós? Submetemo-nos ou rejeitamos? Com segurança podemos afirmar Antes de entrar nos
que Em fim, temos o problema principal a nivel teórico: a ciência atinge a verdade? E ainda, diversos períodos
os fundamentalismos nunca foram bons. Uma coisa é certa, devemos ao menos, fazer da não devemos descuidar o nivel pràtico: a ciência é um bem para o homem? históricos, pode ser
. ciência objecto da nossa reflexão; ou seja, perguntar-nos s.eriamente'/o qU7 é a ciência, e
qual é o ser valor? E esta será a finalidade do nosso cursa..., r'1
lj,)j.,o.(. co»: ,I.'o.{.r;;: /17 j,;, t
muito útil fazer
(observações sobre
1·. c-b I' algumas

a história da ciência, porque


,: .. ' . t (jfJ[C.rjj./Y(j- elaLY a inda não resulta i'..., 7 .. v 1.'
. evidente a maneira de
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"', / i-'.r
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': t.. I ~'V) ~ .
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1.3. A Ciência como objecto de reflexão filosófica. u/o" encarar esta ')"'r'L ~ i:~.~:·} ':. disciplina. De fato, nos últimos
\t·/- I,..,";:..J.:' ~(... .: .
Chegados a este ponto percebemos a necessidade de uma filosofia da ciência que CAPITULO 11· A anos, nos encontramos · com duas atitudes
l ,"',,' ,

estremas que originaram um intenso debate. A primeira apresenta a ciêncía


!~ ~I -/

podemos definir provisoriamente como: Y01a ceflexão sobreê.9iênci.ª"_§..~~~.~9..s'.:.mé~doe_ CltNCIA E A o


~Iores. De'fato, a clêncla sozinha não pode responder a este génerode questões, no passado
FILOSOFIA NO s
.: v."(..'1 )!7J" ,")". y: "','" Qt.) f...jj-t.:J..(} :; somente em função do nosso
I PASSADO ó • '- " _ ..... . I ,t ~. ~/ \ .- ..•.. ~ !

Cada ciência tem seu objecto de estudo, que analisa, descreve e explica; mas, à ciência actual conhecimento cientifico.
f
I em seu conjunto carece de perspectiva para julgar-se a si mesma e, com certeza, nunca Desde este ponto de vista só
Para responder i
poderá dizer se seus resultados são absolutos e definitivos ou simplesmente parciais, Daí interessa o que realmente serviu para atingir a ciência actual. A ciência se apresenta,
aos interrogantes c
que a flosofla pode ser considerada como uma «reflexão sobre a totalidade», que nos portanto, como um conjunto de sucessos e erros. A segunda orientação é contrária a
a
pode ~Juda,~ a enconírar o sentido do que a ciência faz, ou do que a ciência afirma sobre a com que anterior e pretende entrar na mentalidade de cada período, julgando a ciência em cada
realidade. i:' . encerramos o momento histórico segundo os critérios de valor desse período. Assumido até suas últimas
c
capIM) anterior, consequências, este critério tem o risco de relativizar o valor objectivo das teorias
e
,será útil fazer científicas, vendo-as como um elemento mais de cada é~oca.
Em realidade os problemas apresentados não são somente filosóficos, são também n
problemas teológicos, e colocam em jogo a dimensão religiosa e transcendente do uma t
homem. Em outras palavras, entramos no debate entre «razão e fé» ou «ciência e fé», do apresentação r Os dois extremos parecem incompletos e se deve buscar um equilíbrio. Por um lado
qual o caso Galileu é um exemplo paradigmático. Portanto, a consideração teológica será histórica sobre o a devemos avaliar criticamente cada momento histórico para extraír não somente os
também necessária, mas é evidente que esta precisa da mediação filosófica. Acontece às que foi a filosofia d «resultados» da ciência, mas também as atitudes, os interesses, as ideias directrizes que
vezes-cus !J dialogo entre ciência e fé fracassa não por falta de vontade, mas por uma da ciência, e o a guiavam e orientavam a pesquisa. Ao mesmo tempo, deve se reconhece o distinto valor
dificuldade :t~ada à diversidade da linguagem. que é objectivo conseguido em cada período, para que fique em evidência o valor de verdade
1I actualmente. n atingido pela razão humana através dos séculos.
a
2.1. Origem e desenvolvimento da ciência na antiguidade.
Considerada com parte autónoma da filosofia, a filosofia da ciência é bastante 3 recente.
Seu nascimento é datado entorno a 1920, com a constituição do grupo filosófico c
i Admite-se como um dado adquirido que a ciência teve sua origem entorno ao s. VIII-VII a.
denominado «Circulo de Viena», foi este grupo que iniciou pela primeira vez uma reflexão
C p o. A actividade
. d a cientlfica nasce assim conternporaneamente com a filosofia e sem uma distinção
e r
n s a
a e o
n b especifica desta. De fato, os primeiros filósofos (Tales, Pitágoras, eté.) são aqueles que
a v t manifestam os primeiros traços de uma especulação cientffica.
n o e
t l r Os precedentes da ci6ncia grega.
i v u
O, dito anteriormente não significa' que não possamos citar «antecedentes» da ciência
g e m
grega. Diversas civilizações deixaram vestfgios que podem ser catalogados como formas

.
a r a
de ciência primitiva, porque mostram, se bem de forma imperfeita, o uso da racionalidade
u v
para conhecer o mundo. Estes são os precedentes mais importantes 9a ciência gregai.
Gm e
r r , ~
é m d Egipto: Mostra alguns traços de incipiente ciência, em particular, na' geometria, na
c o a aritmética e na medicina. Todavia estes saberes tinham uma finalidade eminentemente
i d d prática. Por exemplo, a geometria era praticada para medir a terra, algo necessário pelas
enchentes do Nilo que faziam desaparecer os limites das propriedades. Por outra parte, a
a o e
medicina tinha um alto componente de magia, sendo praticada especialmente pelos
. ir
sacerdotes.
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No c I
e v o Bàbifón;a e os Caldeus: Na Mesopotêmia se cultivou um certo conhecimento da
s o n Matemática e da Astronomia (pelo que se sabe de forma independente de outras culturas
t h orientais e da América pré-colombína). Na Astronomia, por exemplo, se chegam à predizer
e d e os eclipses e a elaborar calendários, mas trata-se de técnicas de cálculo carentes de
e c bases teóricas e sistemáticas.
p i
e u m Caracterlsticas é novidade da ciência grega: Na Grécia antiga, a partir dos séculos VIII·
r s e VII a. C. se produz uma transformação, o saber técnico-prático assume uma drecção
l a n decididamente teoret/cs e sistemática, em outras palavras, o saber prático se transforma
o r t em ciência, inciplente ao principio, mas continuará progr:edindo continuamente. Podemos
d a o descrever brevemente algumas das manifestações desta transformação. .:
o r
r a (1) Na ciência grega ~encontramos, em primeiro lugar, um ~nteresse principalmente
c a c teorético: a finalidade que motiva â pesquisa não se encontra tanto nos resultados técnicos
o z i obtidos, quanto no conhecimento em si mesmo (teoresi).
mã o
(2) Encontramos também uma precisa orientação epistemológica: o conhecimento
e o n
teorético da realidade se obtém quando se descobrem as causas dos' fen6menos da
ç a
natureza, isto é, quando sabemos não somente como acontecem, mas conseguimos
a h l explicar o porque.
u d
a m o
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e a n r.:
'I,
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! (3) . Em terceiro lugar podemos descrever a ciência grega com base no método: os Na primeira se encontram reunidos todos os escritos conhecidos, tornando-se um grande
pensadores gregos desenvolvem um método preciso mediante o qual deve proceder o centro de estudos, em particular filológicos. O Museu foi concebido como um lugé}; de .[
estudo cíenílflco dos problemas: a demonstração, a partir de princípios universais. colectâneas de ciências naturais e resultados técnicos. Entorno a estes materiais se . S
o ,
desenvolvem importantes estudos em todas as ciências.
br -
Passaremos agora a apresentar os principais âmbitos em que se desenvolve a ciência a
entrei os gregos: a matemática (que inclui aspectos da mecânica), a astronomia e a Neste âmbito encontramos a obra do mais importante matemático da antiguidade: Euclides os
medicina. (s. 111 a. C.), sua fama está ligada a sua obra mais importante! Os Elementos (não foi sua
única obra, houve outras 10 ou 12, mas só se conservam fragmentos).
I A matemática~: As origens da matemática grega são um tanto incertas, mas a fradiçáo
i considera como seus primeiros cultivadores a T ales de Mileto e a Pitágoras de samos. A Os Elementos não são propriamente uma novidade original, como indica seu nome trata-
\ Tales (ap~x. 624-548 a. q se lhe atribui alguns importantes resultados em geometria2 se de um resumo dos' principais resultados da matemática elementar elaborada pelos
(são famosos os seu teoremas). Pitágoras de Samos(aprox. 580-500 a. C.) é o fundador gregos. O fim da obra era mais didáctico que especulativo. Ora, porque tem tanta
I da escola pitagórica, na qual a matemática é muito mais do que uma ciência, é também importância? EOIl:ju_e pela primeira vez na história, uma obra mostra de modo completo, os
. um componente rnlsílco-rellçloso e cosmológico. Além do «teorerna de Pltáqoras», esta r?.§.!ill.<l..d.~~_y_álid~.~.9.~iridos num sector da ciência, desde o .eonto de vista slstemáucoe
escola produz a mais, importante «revolução conceptual» da ciência antiga, causada pela !12~todQlógico. ~m.º.\J1rªs palavras, o aspecto mais importante dos Elementos não é tanto
descoberta dos «números irracionais». Esta descoberta levou a abandonar a visão seu conteúdo(embora durante séculos foi o que se ensinou em matemática) qua!:l.!º"su,a
aritmético-monádica, . isto é, o cosmos considerado como formado por unidades estrut1!!ªJoll71.?Fe-õprimerFo exemplo de um método axiomático rigoroso, no"qU'áfSe parte'
elementares ou mônadas, por uma visão geométrica que exprime melhor as grandezas do de--fertos princípios, considerados mais conhecidos, para obter depois dedutivamente
universo. Esta situação dá inicio ao predominio da geometria sobre a matemática, que todos os outros resultados.
durará por muito tempo. A «teoria das proporções» foi outra parte importante da
matemática pitagórica. Esta se une com a música que assume uma função importante em
suas especulações, de fato, a harmonia é considerada como uma questão de proporções. «Os. Elementos» constam de três tipos de proposições: (1) 8.:5 çlef[fl~é),es, q~e.p~<?s~r..§.f!1_
.• Dentre os discipulos de Pitágoras tiveram grande fama Arquito de Taranto e Hipócrates de (ê~Rr5!ssar o significado dos termos que serão usados, cornocponto», «recta», e a~§jmp.Q[
Cio. diant~; (2) os axioma.s, que exprimem de modo geral, verdades evdentes, por e;xel'!1P19_~s_~,
A=:.ê_e 6.=C'éntãõ_A::.C; (3) .os postulados, que são verdades basilares da di~Gipllnq
'êspecificél que se est~.da. No caso da-geometria plana temos os famosos cinco
Os matemáticos no apogeu da cultura ateniense: O s. V a .C. marca o momento põStulados, como por exemplo, «entre dois pontos sempre se pode traÇ?LUméue~ta)!, O\!,
culminante. de Atenas, é o famoso século de Péricles, no qual encontramos grandes <:.~?dO§...Q~.ftn,gulo~ reçtos são iguais». Em base a estes principios, toda outra verdade é
matemáticos: além de Zenão de Eleia, podemos citar a Anaxágoras de Classomene, Hipia deduzida rigorosamente usando as leis da lógica formal.
de Eliades e Demócrito de Abdera. Posteriormente se deve mencionar também la
Academia platónica (428-347 a. C.), embora sem resultados relevantes, a matemática A Escola Alexandrina contribui à ciência com outros importantes matemáticos,como
:tinha uma grande importância dentro da escola, e entre seus discípulos tiveram resultados Apolónio de Pergue (260-190 a. C.), cujo estudo das secções cónicas permaneceu
,intereSsantes: Teeteto, Teodoro de Cireile e Eudoso de Cnido, autores de teoremas sobre . insuperável até a idade moderna,
;as proporções, além de ser criadores da primeira teoria astronómica dos movimentos dos
astros.
Arquimedes (287-212 \13. C.): Foi outro matemático importante da antiguidade, conta com
importantes estudos sobre geometria superior, Todavia é famoso. sobretudo por ser o
~ matemática Álexandrina. Euclides e os Elementos: A matemática grega atinge seu ~~i,!dorg9.n1~çãnicai duas são suas obras principaisc ne$tecã-mpõ:-""'-'-' ".----- .... --,
esple~por alguns séculos depois em Alexandria. Esta cidade, querida e fundada por
Alexar,{jre 1.1agno, assume sob o dominio de Ptolomeu, uma grande importância cultural
dentro da sll'ciedade helenística, graças sobretudo a duas instituições de grande prestigio: ,[ §.QPrp..Q .~guil{l:!.rio..st.?s (Qrças: Estuda sistematicamente as leis da alavanca, e outros
A Biblioteca e o Museu. prô01ãmas de equillbrio que colocam as bases da estática.
,
5
l
i
I o famoso «principio de
f Arquimedes» que determina a força vertical recebida por um corpo submergido num fluído,
q e portanto, as condições de flutuação.
u
i Além disso, Arquimedes é recordado pelos seus inventas no campo da técnica, inventando
d (a) ~..,.--~
O geocentrislJlQ; A Terra era o ponto de referimento estável para todo o sistema. Este
engenhosas máquinas bélicas na defesa da sua cidade de Siracusa, onde encontrou a ..
o princípio estava baseado na simples experiência.
morte quando esta caiu nas mãos dos Romanos.
s
: (b) O movimento circular,' Os corpos celestes percorrem trajectórias circulares. Este
A Astronomia.
principio estava baseado além da experiência, na concepção platóríco-arlsíotéíóa de que
c o movimento circular era o movimento perfeito sendo sempre igual a si mesmo.
o A AstronomiaI teve inicio como pura observação, era praticada como recolhimento d~
'aE~~~..oQ[~, ª§ yosiçt?es dos astros,' o que permitia .. ~91!l .. mai,s .. o.y ...
i
l
men_9s.'pre~i~-ª,Q O sistema clássico foi desenvolvido sistematicamente por Eudosso de Cnido. Começou
o
e~,t9belec,er sistemas de cálculo para predizer os fenómenos cel~!es, corno ,ºs. eclipses., introduzindo quatro esferas para explicar os movimentos celestes, mas chegou a um
c
a os ~~.s9.Istl~!os» e os «equinócios» (a posição do sol durante .o.aro.c que permitemarç~r.s.,· sistema de 27 esferas. Mais tarde Calipo chega a 34, até que Aris16teles para justificar
,i.nJ,.çJ.o._das_estaçpRS). Esta orientação da Astronomia era já praticada no EgTpf6'e~êntre todos os movimentos observáveis chegou a 56. •• •
a os
s Caldeus. Posteriormente o sistema foi aperfeiçoado por Hiparco de Nicela (s. 11 a.' C.) que
desenvolve as teorias de Apolónio, chegando a seu máximo desenvolvimento com
b ;.\Ptolomeu~. JEs~~..Q!~.,!~~!!.rrr.~.lOjA..~-ª-~tiYLqª9.e. Pr~ç.ê.Q~n~E3 na sU,a_ obra •.. ,!
9.2m~JlJ!Lwqugn.do, à mera observação se lhe acrescenta .um .espirito ... .de fípo-rnals <Sintaxe
a
i sistemátifQ ..•. a .asfronomla começa a ser uma ciência. Isso significa que se.corneça a
s M?~<ttiçaJ}.:rmªl~_G.QJlb.e.çid.u.oDL.Q-!l.O~~.m.~g~), .Ç,ºll~Q~[ªº"ª. até
e bUscãrum «sist~..9..l>J~tQ..é, um conjunto de postulados,gue~rmlt.ª deduzir,aaparêncja os
s do céu, em outras P.9.1.?_y@_s./..i(s-ª1varosienômeroe». temIJos n:lSLq§rm:>~_çomo a Summa do saber astronómico. Ptolomeu mantém inalterado
o
d Isso significa, ao menos em parte, uma precisa concepção de ciência porque, de fato, prog'raníã da astronõmlãhelêillSfiêã'~Tst'ô1i:-â'âfrãiaóclãaparência através de 11m modelo
estar em condições de «salvar os fen6menos» não significa necessariamente possuir um

---
a que tenha em conta as exigências teoréticas que na concepção daquela época o Cosmos
conhecimento real sobre a natureza dos corpos celestes e seus movimentos. e
devia manter, e que se resumem nos dois elementos: órbitas circulares velccload
h constante dos-'p!anetas, embora esta última seja só aparente.
i - Os sistemas geocêntricos. -...
I
d ~ Modelos heliocêntricos.
r
o
s Nenhum dos modelos apresentados coloca em dúvida o carácter geocêntrico do cosrnce.
t Só foi negado na época helenlstica por Aristarco de Samos (320-250 a. C.) qu
apresentava um modelo heliocêntrico. Diz-se que teve um disclpulo, .Seleuco de Seléucl
á
t e
no s. 11. Mas, foi negado por muitos outros como Arquírnedes, Eratóstenes Apol6nlo.
i
c
a
,

c
o
m
A pensamento dominante foi o
geocentrismo. O cosmos,
qJ.leu.1ileI"a..tQtaJiº-ªsl~"olSJ~n.ada._ 6 -
dg.'2l_~~s!9.!~rª ~is!9. ~or1)(),l!!)1
sistema cujo centro era. a Terrq,.
~Jr.cu_n~~_da~e ul11aJ~riede
esfera,s. n.§~ .. quais se encontravam
os corpos celestes, ~og(),)f Rf!:>blem.a
.ce.n!raLc.!ª-
aStronomia consistia em determinar qual
esfera, isto é, qual movimento
çirçular"p.ermitia
<kscr.~ye.r as observações da maneira
mais simples e preclsasposslveis. Em
realidade, o
problema principal era descrever o
movimento dos chamados «astros
errantes» que eram
os planetas, porque seu movimento não
regular. Por outra parte, supunha-se que
as
estrelas tinham um rnóvirnento único
circular, tudo entorno à Terra. Por isso,
para explicar
a aparência, não basta uma s6 esfera, a
das estrelas fixas, mas se deve
introduzir outras
esferas com movimentos diversos, nas
quais se encontram os planetas. Desde
o ponto de
vista metodológico, notamos que estes
modelos eram construidos com base a A Medicina.
dois
princípios: A medícinat constitui a terceira ciência desenvolvida sistematicamente no mundo grego. A
sua origem parece estar ligada à prática religiosa, concretamente ao templo do Esculáplo.
Entorno a este templo surgem escolas, nas quais a medicina começa a separar-se d
prática religiosa ou mágica.

É considerado o grande propulsor da medicina na antiguidade, afastando-a definitivamente


das práticas mágicas. Não temos muitos dados biográficos sobre ele, só chegou até nós O
'

;: 1

.
.

·
I1 1I

~------
------'--
------- --
8

cristianismo. Desde então a religião de Cristo é culpada da crise que atingiu ao Império
Romanoll.

o núcleo desta acusação consiste na afirmação de que o cristianismo fez mudar os


interesses do homem antigo. As inquietações que este sentia pela natureza e pela
explicação racional, teriam sido substituídas pelo interesse quase exclusivo nas coisas do
«além» e pelas explicações mlstico-sobrenaturais. Desta maneira, se teria chegado aos
«séculos obscuros» do medievo, período que abrange desde a crlstianizaçâo da
sociedade (s. IV-V) até o renascimento (s. XV.XVI). Depois voltaríamos a assistir a uma
laicização do pensamento, liberando-se de preconceitos passados e fazendo possível a
retomada da caminhada científica.

Hoje, esta visão da história da ciência já não pode ser aceite a nível científico, embora
continua a ser repetida uma e outra vez nas escolas, nas universidades, nos jornais ... e
portanto, continua sendo a ideia mais comum sobre a história da ciência. Consideremos
agora algumas das razões principais pelas que rejeitamos a posição iluminista.

- O esgotamento da ciência grega.

A explicação do eclipse da ciência grega é muito mais complexo do que a interpretação


apenas exposta. Hoje não é aceite de maneira indiscutida a divisão da história em mundo
antigo, medievo, mundo modemo. Tanto o filial do Império Romano como o Renascimento
literário e científico têm uma estruturação mais complexa. Por exemplo, não é possível
identificar o Renascimento, fenómeno literário e humanístico (s. XIV-XV), com a chamada
«revolução científica», que chega quase dois séculos mais tarde (s. XVí-XVII).

o declino da ciência antiga acontece muito antes do que o final do. Império Romano (476
a. C.). A última época de esplendor da ciência grega é o tempo de Ptolomeu e Galeno (s.
11-111 d. C.), mas trata-se de personagens isolados no meio de um panorama científico que
já havia tempo tinha perdido sua vitalidade. A época verdadeiramente criativa da ciência
grega acaba, mais ou menos, entorno ao s. III a. C. Oá últimos séculos do império são
caracterizados por trabalhos de «compilação» e pela aplicação de estudos e obras que já
eram «antigas». t este o caso de Plinio com sua História Natural. Esta característica se
. manterá constante até o s. V-VI, depois da queda do Império Romano de Ocidente. Boécio
é considerado o grande último compilador da antiguidade. Traduz ao latim os principais
" resultados da ciência grega: geometria, aritmética, música, astronomia, 16gica, e suas
obras constituirão a base dos estudos medievais.

- As mudanças sócio-culturais.
dono da lingua grega, na qual linha sido
redigida toda a ciência clássica. A queda do Império Romano de Ocidente interrompe as
relações com a civilização grega, sobretudo com as grandes cidades, comoConstantinopla
e Alexandria. O mundo Ocidental já não falava mais o grego (até S. ~gostinMo.manifestará
suas dificuldades com alfngua grega e a ciência dessa época).·"
T
e Um último elemento a considerar, ligado às mutações sociais, foi o desaparecimentos das
m escolas públicas que, durante os séculos do Império, tinham mantido a difusão e
o transmissão da ciência. Nesses séculos,· as escolas não eram mais resultado da livre
s iniciativa dos filósofos, mas uma instituição do Estado. Com a queda do Império chegam a
seu fim estas estruturas estatais.
o
u - Relação do cristianismo com a ciência grega.
t
r O fato de que a ciência clássica fosse aos poucos esquecida, não se pode atribuir ao
o infiuxo negativo do cristianismo. Os Padres da Igreja, embora não tendo preocupações
especificamente cientificas, acolhem e aceitam a cultura da época, tanto a nlvel filosófico
e como científico. Mas a .vitalidade e o impulso racional que guiaram à ciência clássica,
l tinham já desaparecido, e o impulso cultural do mundo pagão se tinha apagado (devido em
e parte a concepções filosóficas mais místicas e religiosas de tipo neo-platónico e gnóstlco,
m que racionais: a astrologia, a magia, a alquimia).
e
n Outrossim, é também falso que a ciência tinha recomeçado desde zero na ~poca modern •.•.
t
o O medievo conheceu momentos de grande inquietação intelectual e; racional. Embora
direcção do pensamento tenha sido principalmente para a filosofia e a teologia, deu
a importantes contributos a nível cientlfico. Hoje, depois das investigações históricas do
. principio do s. XX, levadas adiante por P. Duhem, e mais tarde por A. Maler e outros,
c reconhece-se comummente uma «ciência medieval». E é também um fato hlstórloo aooll
o que a ciência moderna nasce da ciência e da filosofia me,dieval, além das,descoberta d
n fontes antigas.
s
i
Para alguns históricos, em particular para St. Jaki, a ciência nasce em realidade 'graç
d
cultura cristã. As principais novidades do pensamento cristão, isto é, a transcendênol
e
Deus e a autonomia do criado, a criação no Logos, com aconsequente afirmaçêo de um
r
radical inteligibilidade da natura, la espiritualidade do homem e sua capaoldado d
a
conhecer e dominar a natureza, teriam formado uma «matriz cultural» necessérla pare qu
r
a ciência pudesse finalmente desenvolver-se. Em outras culturas, êlnbora em dlvors
:
ocasiões se tenha chegado a colocar as bases (teóricas, metodoTóglc~s, soeals) d
o
ciência, esta nunca alcançou uma verdadeira maturidade: é ·0 que acontecera
a posteriormente no mundo árabe, e em outra civilizações orientais ..
b fI
a
n
U rna: tem lugar
" m no mundo 'medieval nos séculos XII e XIII.
Vejamos quais são os elementos que confiuem
v nesta época e qual é o significado deste
I ;1 é renascimento para a ciência sucessiva.
1• A ciência no alto medievo. r
-: d - A constituição das escolas. e da Universidade.
Por outra parte,' no alto medievo a ciência não a
desaparece totalmente. Em Oriente d Já mencionamos as escolas monásticas 'e
continua uma certa actividade. Em Ocidente, entre ei episcopais. No s. IX Carlomagno cria as
muitas dificuldades sociais, continua o r premerias escolas Pala tinas, que tinham como
esforço por conservar os antigos conhecimentos, o função a formação de funcionários para o
sobretudo através do trabalho de r Sacro Império. Ainda, são mais significativas no s.
copiado d~ manuscritosll. A copia de manuscritos e X a fundação de uma escola de
esteve entre as principais actividades n medicina em saerno, que pode ser considerara
dos mosteiros, como o de Casiodoro (VI século), e a como a origem remota da Universidade.
sobretudo nos mosteiros beneditinos, a s
. começar p.elo de Montecasino. ci
m

Dai que logo aparecem as figuras dos e ~
compiladores, como Isidoro de Sevilha (c: 600), n
com t
sua obra étímologias,! dita obre constitui uma o
enciclopédia de todo o saber transmitidos d
pelos ,antigos. Também Seda o Venerável (c. 700) a
que reúne em De Rerum Naturae uma ci
nova .colec;ção de conhecimentos que vão desde ê
aritmética e astronomia, às ciências n
naturais. . ci
a
Um r~1 pri!Ycipal corresponderá durante este ,
longo período às escolas que eram de diverso p
tipo. Em ~primeiro lugar as «escolas monacais», r
surgidas entorno aos mosteiros. é
Posteriormente aparecem as «escolas vi
episcopais», entorno à cúria do bispo, e também, o
sobretudo .corn o renascimento carollngio (c. 800), a
as escolas palatinas, que constituirão o
aos poucos os centros do saber de maior a
importância. c
o
Também houve um grande trabalbo de n
conservação -e em certa medida de t
desenvolvimento- no mundo árabe a partir do 700', e
através do contacto que teve com a ci
cultura grega (principalmente em Siria). Os d
trabalhos de tradução para o árabe serão o o
camiriro p~lo qual a ciência grega retomará a n
Ocidente. Junto com esta actividade, os a
árabes realizaram importantes trabalhos de recolha id
em diversos âmbitos da ciência: a
medicina, astronomia, matemática, etc. d
• e
• o renascimento especulatívo do s. XIII e a m
o
ciência tardo-medieval. d
e
t de dois tradutores, um que traduzia do árabe à

r língua local, e
a um segundo que o fazia desde a língua local ao
d latim. Entre as escolas de tradutores
Era concebida como uma comunidade de maestros e u foram de relevância as de Salerno (Adelardo de
discípJlos. A tradição a apresenta ç 8ath) e a de Toledo (Gerardo de
como um lugar de encontro de diversas culturas, pois õ Cremona).
nela participam cristãos, árabes e e
hebreus. s - A influência do Aristotelismo.
I
e A maior novidade foi sem dúvida, a recepção em
r Ocidente das obras de Aristóteles, graças
A Universidade começará propriamente no s. XII. As
a ao contacto com a cultura árabe, Até o s. XI só se
primeiras foram as de Bolonha e
m conheciam as obras de lógica,
Paris, seguidas por outros importantes núcleos como
Montpelier, Oxford, Pádova, Nápoles,
m
.
Salamanca, etc. Todas são concebidas como
u
comunidades de maestros e estudantes, dai
i
o nome originário: «Universitas studiorum» em
t
Bolonha, ou também, «Universilas magister
o
et studiorum» em Paris. Além do mais, gozavam de
uma grande autonomia do poder civil e
c
eclesiástico, porque foram postas directamente sob a
a
protecção do Sumo Pontífice. Só
n
aceitam a autoridade religiosa em matéria de fé.
s
a
A estrutura da Universidade era totalmente original t
com respeito ao que tinha havido até i
esse momento em matéria de educação. Eram v
formadas por uma Faculdade de Artes, na a
qual se segue o Trivium (gramática, retórica e lógica) s
e o Quadrivium (geometria, ,
aritmética, astronomia e música); e por uma
faculdade de Teologia, centrada sobretudo no
estudo da Sagrada Escritura. Surgem como núcleos u
independentes as Faculdades de s
Direito e de Medicina. O estudo das ciências se u
realizam na faculdade das artes e de a
medicina. l
m
As Universidades terão uma importância fundamental e
na sociedade do tardo.-medieval. n
Constituem a primeira abertura da ciência a qualquer t
estrato e grupo social (as escolas e
gre~as e romanas foram sempre para as elites).
estendendo a ciência e a formação para n
uma nova «nobreza». não baseada no sangue, nem e
no poder económico (possessão de c
9 terras), mas, na qualidade intelectual. e
s
• As traduções do árabe, s
i
Desde o s. XI reaparecem em Ocidente, através do t
mundo árabe, muitas obras perdidas a
da antiguidade. Abrem-se em Ocidente centros de v
traduçào; em primeiro lugar, do árabe a
ao latim, e mais tarde directamente do grego. As m
traduzidas por Boécio, em dos etapas sucessivas se conhecerão todas as obras do A ciência do Renascimento.
Estagirita.

"
o
conhecimento
de. Arist6teles
tem como
consequêncla
uma maior
conscíêncla da
distinção entre
Teologia e
Filosofia, isto é,
entre saber
revelado e
saber natural. A
filosofia
começa? ser
concebida como
conhecimento
do mundo
natural
mediante a
força da razão,
A sua finalidade
será determinar
as causas
(segundas) das
coisas. Este é,
para alguns
históricosH, o
grande
descobrimento
do mundo
medieval, ou da
escolástica: a
força da .
demonstração
A ciência moderna não está precedida directamente da ciência - scimento.
1 medieval, mas da ciência
do Renascimento. Contudo a delimitação temporal não. é muito C Graças aos estimulas anteriormente mencionados, a actividade
a cientlfica prossegue seu
~;ecisa. O tempo do r
Renascimento abrange os s. XV-XVI; mas parte do s. XIV já a caminho de desenvolvimento sempre com maior impeto. Algumas
ãpreienta traços do c das caracterlsticas
Renascirnenío, especialmente em Itália. t principais deste perlodo são: .I

' e
r 1) cresce a diversificação e cada aspecto do saber adquire. sempre
- O movimento do Renascimento. i maior independência;
s •..
t 2) a investigação se afasta aos poucos da Universidade. Esta te\i;,
A caracterlstica principal deste movimento é o chamado humanismo: i air+da um grande
há um grande c nfluxo, mas começa a aparecer um novo tipo de intelectual
interesse pela literatura; a arte, a poesia ... e também pelas a independente da Universidade,
conquistas da antiguidade, s
se reúnem em centros de edição de livros, em oficinas de artesãos e
vista como a época clássica destas artes. Descobrem-se textos
clássicos até esse d artistas, e nas cortes,
momento desconhecidos e se fazem traduções desde os originais. a onde príncipes e reis se convertem em grandes mecenas que
procuram reunir entorno a si
Esta redescoberta dos
c os melhores artistas e estudiosos;
originais gregos é favorecida pelas trocas comerciais cada vez mais i
intensas com Oriente, ê 3) intensifica-se o aspecto observacional. Em medicina se realiza um
e também porque chegam a Ocidente não poucas personagens n volGme notáveJ de
fugidas da agressividade c estudos anatómicos e fisiológicos particularizados, também o
do Império Turco~. i
a aperfeiçoamento das
técnicas artlsticas permite a estampa de mapas, lãmlnas e figuras
Outro factor que contribuiu grandemente à expansão da cultura na
n sempre mais perfeitas.
época do o
Renascimento foi a invenção da imprensa (Gutenberg, 1450). As
obras clásslcas; e R
modernas, a cultura antiga e as novas conquistas cientfficas, são e
assim colocadas a n
disposição de um número de estudiosos cada vez maior. a
\; iE
:"J

Destâ ma'Í1eira, as ciências clássicas (matemática, medicina, astronomia), gozam de 2.3 Características epistemológicas da ciência antiga
importantes desenvolvimentos que abrem a estrada para a ciência moderna 12.
- Características epistemológicas da ciência aristotélica.
- A astrondmia medieval e renascentista.
Até aqui apresentamos os principais elementos da ciência antiga desde o ponto de vista
Durahte o ~lnedievo dá-se um debate fundamental (que aparece inclusive na obra de Santo histórico. Agora nos interessa reflectir sobre algumas questões epistemológicas, que nos
: Tomás). Trata-se do debate sobre dois sistemas astronómicos, o aristotélico e o permitam traçar desde o ponto de vista filosófico, a imagem da ciência clássica. Esta não é
· ptoleinalco. O primeiro segui o sistema de Eudoso, enquanto Ptolomeu usava todos os um assunto do passado, porque essa imagem ficou em vigor no mundo ocidental, ao
i artifidos maternátlcos necessários para salvar as aparências celestes. menos, até o início do s. XX.
"

I I Em que consiste este ideal? De fato, trata-se de um dos contributos principais da cultura
: O slsíerna ptolemaico lera certamente superior desde o ponto de vista técnico. Porém. a
grega. Esta, elaborou um modelo de saber que influiu em ocidente por quase 2500 anos ...
I questão dificil e.ra quando não se tratava de dar uma interpretação matemática do cosmos, e sem dúvida sua validade não está esgotada, essa é ainda hoje um elemento essencial
· mas nsica(real). Encontramo-nos então com duas posições antagónicas: de nossa compreensão do mundo e da realidade. Vejamos esse elementos:

> a p'bsiçâb ptolemaica buscava de «salvar as aparências», considerando a astronomia > Segundo E. Agassi, o núcleo fundamental é o seguinte: para conhecer qualquer
.corno, umá~ ciência matemática, cujo objectivo, diriamo.s hoje, é apresentar hipóteses e
· modelos bem elaborados;
realidade do mundo, não podemos limitar-nos a saber o zs:s
e como é feita,mas
devemos também compreender porque existe e é feita assim como aparece22.
>a ~osiç~o aristotélica buscava, por sua vez, um modelo descritivo do céu. Portanto, > Para obter o anterior, não é suficiente amarrar-se à experiênciaimediata das coisas, mas
;prete~dia falar de movimentos e esferas reais. Tratava-se de uma «astronomia física». deve também intervir a razão, a qual tem a função de fazer-nos ver com clareza a não
casualidade de quanto aparece e o justifique como um elemento da totalidade, na qual a
O debate prossegue durante todo o medievo e o renascimento. São concepções diversas coisa resulta explicáveln. .
da astronomia: a de Ptolomeu é matemática e instrumentalista; a de Aristóteles é fisica e
realista. Porém, nenhuma das duas está ligada necessariamente às origens das quais Portanto, conhecimento teórico ... e este se consegue através da razão. E esta implica,
'surçirarn. Portanto, frente ao maior sucesso do sistema de Ptolomeu, se procuram para esclarecer a não casualidade, conhecer as causas: há verdadeira explicação quando
modelos que possam dar uma interpretação «física» aos movimentos ptolernalcos. Um dos se poder dar a conhecer as causas daquilo que acontece.
tentativos mais completo é o realizado por Georg von Peurbach (1423-1461) na sua obra:
Theoricae novae planetarum (1474).' r > Outro problema será como podemos chegar ao conhecimento das causas, Será o
. jo", problema fundamental de Hume, mas, por enquanto, o grego não discute que este
TOdav.,la, a;\insatisfação pelo sistema ptolemaico, não desaparecia com as tentativas de conhecimento é possível.
dar-he ao ststerna ptolemaico um senso físico, No s. XVI se procura substituir os artifícios
matemáticôs da astronomia ptolemaica, embora isso significasse retomar ao sistema
Contudo, para os gregos, a caracteristica fundamental da ciência é passar dos principios
antigo~. Outro sinal de insatisfação pode notar-se nas especulações cosmológicas como a
aos fatos, das causas aos efeitos: «ter ciência» significa ser consciente da .exigências de
de Nicolau de Cusa (1401-1464), radicalizada depois por Giordano Bruno(1548-1600),
fazer explícitas as razões através de uma demonstração, a qual ser capaz de chegar aos
ambos concebem um universo infinito em contraste com a ideia grega de cosmos, por
princípios universais.
definição fechado e «terminado», quer dizer, «finito»ll.
- Necessidade, universalidade e certeza.
Mas a obra fundamental de Astronomia e certamente de toda a ciência renascentista é a
de Nicolau Copérnlco (1473-1543), com a que inicia a «revolução cientlfica», embora se
deverá esperar um século e meio para que dê seus frutos.

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A ciência aristotélica se apresentava como um conhecimento certo per causas (as famosas
as premissas experimentais, e a dedução da qual derivam as' conclusões. Arlstóteles
quatro) e seus resultado eram concebidos como necessários, universais e certos. desenvolveu ainda da maneira mais completa a lógioa da dedução ou do silogismo,
enquanto indicou só sumariamente o procedimentoindutivo ... que ajudam ao pesquisador
a buscar as premissas necessárias da ciência·~.
> Já desde a ideia platónica de episteme, a ciência era considerada como conhecimento
necessário. Descobrir a causa dos fen6menos significa descobrir as conexões essenciais
que se dão na realidade do mundo flsico. Para Aristóteles não existe ciência per accidens,
porque ai não pode haver necessidade causal.

> O conhecimento científico é também universal, quer dizer, o conhecimento obtido vale
sempre, quer dizer, sempre que as circunstâncias e condições sejam mantidas. Quando se

descobre o nexo necessário entre causa e efeito, essa conexão é válida em todo tempo e
lugar.

> Em terceiro lugar, a ciência é certa, quer dizer, o conhecimento científico produz um
estado de certeza no cognoscente porque se encontra em possessão das razões, dos
princípios, dos quais procedem necessariamente e universalmente 05 efeitos.

Contudo, estas caracterlsticas da ciência aristotélica são de necessidade mas não de


necessidade absoluta (paradoxalmente, podemos dizer de «necessidade relativa») porque
ao mesmo tempo são contingentes, isto é, na natureza existe realmente o per accidens, o
que outras escolas chamariam o acaso: a coincidência fortuita de dois ou mais causas
(cada uma com sua necessidade intrlnseca) que' comporta, portanto, a possibilidade de
uma contingência real no mundo.

Em todo caso a ciência, embora sujeita a erros, procura atingir a natureza dos entes, e em
certa medida o conseque. De fato, a ciência descobre os principias das coisas, e estes
principios são em último término reconduziveis à essência. E é justamente da essência de
" onde provêm as três caraterísticas antes mencionadas: necessidade, universidade e
certeza.
~
A reflexão filosófica sobre a ciência.
..
No mundo clássico ciência significa simplesmente saber racional (certum scire per causas,.
conhecimento certo pelas causas, na formulação escolástica). Assim descreve F. Selvaggi
o esquema da filosofia da ciência de Aristóteles:
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o recurso à experiência é o ponto de partida de todo conhecimento". todavia a
li".

experiência sozinha nunca leva à ciência, já que esta exige não só a determinação do fato,
mas também a demonstração por meio da causa e, para chegar a demonstração, é
necessária uma combinação de indução e dedução: a indução que provê os principios e
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