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Julio Assis Simoes Sexualidade Genero Lugares de Sociabilidade Homoerotica em SP
Julio Assis Simoes Sexualidade Genero Lugares de Sociabilidade Homoerotica em SP
Para Hall o termo multiculturalismo ganhou diversas faces a depender do seu uso e por
esse motivo se tornou um significante sem um significado estável, delimitado e
unívoco. Apesar da sua aparente abrangência em termos que podem até ser
contraditórios, o autor pensa que seu uso se faz mais do que necessário para refletir a
respeito de certas contradições em torno de “raça, etnicidade, identidade e diáspora”.
O autor acha necessário fazer distinção entre o termo multicultural, sendo esse um
termo qualificativo que explicita a situação social e política em torno dos problemas
advindos da governabilidade em sociedades que convivam com a pluralidade de
comunidades culturais no seu interior, (p. 52). O multiculturalismo, por sua vez, é uma
série de processos e estratégias políticas sempre inacabadas, não podendo ser
compreendido como uma doutrina política por conta dos múltiplos atores coletivos que
fazem uso e chamam-no para si, dessa forma, o autor argumenta que assim como há
distintas sociedades multiculturais, também há usos diversos em torno do que seja o
multiculturalismo. (p.53).
Seus contestadores conservadores argumentam que seus pressupostos ameaçam a
pureza e homogeneidade da nação, enquanto os liberais dizem que o reconhecimento
das diferenças vai na contramão do universalismo, da liberdade individual e da
igualdade formal. Dentro de outras matizes pós-modernas e demais posições da
esquerda e dos grupos antirracistas, também pululam contestações aos pressupostos do
multiculturalismo, porém, o autor enxerga exatamente na sua condição contestada a
potência que o mesmo carrega, isso é, ele expressa a importância da diversidade cultural
e das lutas pelo reconhecimento das diferenças como contribuições inestimáveis para
um incremento qualitativo da democracia.
2. Cultura desestabilizada
O segundo efeito transruptivo é aquele ligado à compreensão da cultura como
constituinte das identidades. O autor aponta que o sentido de cultura compreendida pela
antropologia diz respeito à subordinação dos indivíduos que participam dela às sanções
e meios de vida determinados comunalmente, sendo essa contraposta à noção de cultura
da modernidade, caraterizada como aberta, racional, universalista e universal. (p. 73)
Apesar de distintas, Hall afirma que as culturas tradicionais colonizadas são fruto do
processo de modernização que as submeteu nos processos de globalização, sem no
entanto perderem seus traços distintivos, não se contrapondo como negação à
modernidade dessa forma. O processo de hibridização dessas comunidades que já não
são fixas, coesas e fechadas se dá no compartilhamento de repertórios de significados,
num infinito exercício de tradução cultural de um campo para o outro, a saber:
“tradicional” e “moderno” não como oposições binárias, mas como identificações
múltiplas e deslocadas.
No caso boliviano, é relevante afirmar que o modelo de autonomia previsto pela
constituição do Estado Plurinacional leva em conta os direitos consuetudinários, num
diálogo das tradições para com a organização do Estado convivendo com governos
autônomos, propondo novos modelos de gestão pública das diferenças; dessa forma, a
cultura aparece nesse processo dialógico da hibridização produzindo a “difference”.
Conclusão
A análise que Hall propõe do exemplo britânico se torna especificamente interessante
para o caso boliviano já que sua análise estava sendo escrita no calor das lutas da
América Latina que desembocaram na formação do Estado Plurinacional da Bolívia.
Na seção em que o autor elabora o alcance das lutas por reconhecimento
contemporâneas intitulado como “Além dos vocabulários políticos contemporâneos”,
ele cita a falência da noção liberal na garantia de igualdade e justiça para os cidadãos
minoritários. Essas lutas, portanto, teriam como maior potência a reconfiguração dos
imaginários sobre a nação, constituindo dessa maneira formas radicalmente “pós-
nacionais”(p. 82), o que parece ser o caso da constituição boliviana ao configurar o
respeito à pluralidade étnica que constituiria a nação boliviana. Dessa maneira, Hall
afirma que o desafio político posto para uma realidade multicultural e o reconhecimento
da mesma pelos estados nacionais é a reatamento de termos que pareceriam
contraditórios na lógica liberal, recombinando o particular com o universal, da liberdade
e da igualdade com a diferença. (p.88). Dessa forma, as condições para a emergência de
uma política multicultural para o melhoramento qualitativo da democracia dependem de
dois fatores: uma expansão e radicalização da democracia e das práticas democráticas
dentro da vida social e a constante contestação das formas de fechamento racial e étnico
que impedem a efetivação de uma plena cidadania por meio da exclusão e de
desvantagens advindas do não reconhecimento da especificidade das diferenças.
BIBLIOGRAFIA