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Doutoranda em História pela Liberdades Negras nas Paragens do Sul: alforria e inserção social dos
Universidade de São Paulo (FFLCH/ libertos em Porto Alegre.
USP – São Paulo/Brasil) Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009. 204p.
e-mail: diorio@usp.br
GUEDES, Roberto.
Egressos do Cativeiro: trabalho, família e mobilidade social (Porto Feliz,
São Paulo, c.1798 - c.1850).
Rio de Janeiro: Mauad X/FAPERJ, 2008. 401p.
DOI - http://dx.doi.org/10.1590/2236-463320110111
Almanack. Guarulhos, n. 01, p.155-161, 1º semestre 2011 resenhas 155
no Rio de Janeiro. Já Aladrén se deteve nas trajetórias individuais e anali-
sou os ex-escravos a partir dos acontecimentos políticos que inquietaram a
região de Porto Alegre nas três primeiras décadas do século XIX.
Esses autores atribuem importante papel aos escravos em prol da li-
berdade e de melhoria das condições de vida após a sua efetivação. Embora
fosse um acordo entre desiguais, a alforria consistia em uma doação feita
pelo proprietário, mas, acima de tudo, aceita pelos escravos. Tratava-se,
portanto, de uma troca que gerava novos vínculos entre os forros e seus
antigos senhores, os quais se perpetuavam para o resto de suas vidas. Os
ex-senhores esperavam dos escravos alforriados (gratuitamente ou sob
condição) constante respeito e subordinação. Qualquer desvio ou rompi-
mento dessas referências colocava em risco a legitimidade do novo status.
Várias discussões já propuseram que as manumissões estariam vincu-
ladas à negação da ordem escravista, mas os três autores as analisam como
parte de um sistema composto pela tríade tráfico, escravidão e liberdade. A
alforria seria parte estrutural da escravidão, amortecendo conflitos inerentes
à relação existente entre escravos e seus proprietários. Outro ponto marcan-
te desses trabalhos consiste na idéia de que, após a conquista da liberdade,
os libertos buscavam melhores condições de vida. Ainda que encontrassem
limitações inerentes à condição social, estiveram atentos às oportunidades
que lhes eram apresentadas e conseguiram trilhar caminhos diferenciados
daqueles em que se encontrava grande parcela dessa população.
A ascensão econômica não indicou necessariamente ascensão social.
Em especial, Roberto Guedes e Márcio de Sousa Soares mostram que a mo-
bilidade social era geracional, ou seja, acontecia predominantemente para
gerações que descendiam dos libertos. Os casamentos com pessoas livres
contribuíram fortemente para isso. Também evidenciam que as categorias
de cor encontradas em registros coloniais e do período imperial eram fun-
damentais para a inserção de pretos e pardos na hierarquia social vigente.
Os três livros contribuem de maneira decisiva para os estudos sobre a
escravidão no Brasil. Além de levantar dados sobre as alforrias em regiões
pouco exploradas pelos historiadores que os antecederam, como as áreas
rurais e o sul do país, ainda avançaram na análise da vida dos escravos após
a libertação. Os três pesquisadores utilizaram métodos qualitativos e seriais.
Recorreram à micro-história e reuniram fontes diferenciadas que permitem
conhecer múltiplas experiências dos homens e mulheres investigados. Os
registros referentes à justiça colonial e imperial como os processos crime e as
ações cíveis forneceram importantes recursos para tal perspectiva.
O trabalho de Roberto Guedes consiste na análise de quatro gera-
ções de famílias de Porto Feliz, compostas por libertos e seus descendentes,
entre os anos de 1798 e 1850. A partir de cruzamento onomástico, o autor
acompanha a dinâmica econômica e social de seus membros, com o objetivo
de compreender as principais estratégias de mobilidade social em âmbito
familiar. Márcio Soares fez um estudo da escravidão, priorizando a região
de Campos dos Goytacazes no período que compreende a segunda metade
do século XVIII e as três primeiras décadas do século XIX. Seu foco, contudo,
é a investigação das complexas relações entre senhores e escravos em uma
região rural. Observou principalmente as estratégias sociais que favoreciam o
acesso à liberdade e a inserção social de libertos e seus descendentes.
Gabriel Aladrén trata basicamente dos padrões de alforrias encon-
trados nas proximidades de Porto Alegre e das experiências dos egressos
do cativeiro e seus descendentes entre os anos de 1800 e 1835, período de