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AUDITORIA DO SUS
NO CONTEXTO DO SNA
Brasília - 2015
© 2015 Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que
citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial.
Organização
Jane Aurelina Temóteo de Queiroz Elias
Kelly Fernandes da Silva
Supervisão técnica
José Antonio Bonfim Mangueira
Elaboração do conteúdo
Almir Serra Martins Menezes Neto
Salvatore Palumbo
Colaboração
Alcinda Hossana de Oliveira
Herlon Francisco dos Santos
Jane Aurelina Temóteo de Queiroz Elias
Maria das Graças Marinho Cardoso
Maria Elena Ribeiro
Silvia de Fátima Alves Dantas
Revisão
Isa Maria Bezerra de Queiroz
José Antonio Bonfim Mangueira
Jozimar Barros Carneiro
Lucia Tavares de Sales
Projeto gráfico
Adriana Palumbo
Sumário
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO À AUDITORIA DO SUS 7
1.1 Processo de auditoria 8
1.2 Processo de auditoria no SUS 12
1.3 Princípios éticos e profissionais do auditor 13
Referências 103
Pesquisa de Imagens 104
Imagens
Figura 1 - Etapas de uma auditoria. 9
Figura 2 - Aspectos tipicamente focalizados em auditorias. 11
Figura 3 - Fases de uma auditoria no SNA. 13
Figura 4 - Princípios éticos e profissionais do auditor. 14
Figura 5 – Questão e possível constatação associadas a um objetivo de auditoria. 23
Figura 6 - Variáveis que afetam a qualidade de uma auditoria. 24
Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma auditoria. 26
Figura 8 - Informações que contribuem para obter visão geral do objeto a auditar
e de seu contexto. 27
Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar. 28
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações. 31
Figura 11 – Matriz de análise de informações. 31
Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de
análise de informações (números em vermelho indicam ordem de preenchimento). 33
Figura 13 – Exemplo de matrizes de coleta e análise de informações. 34
Figura 14 – Exemplos de critérios de auditoria. 35
Figura 15 – Técnicas de coleta de informações indicadas conforme a finalidade. 38
Figura 16 – Potencialidades e limitações das modalidades de sondagem. 42
Figura 17 – Abordagens possíveis na análise de dados. 46
Figura 18 – Medidas estatísticas frequentemente utilizadas em auditoria. 47
Figura 19 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico no Brasil em 2010. 48
Figura 20 – Execução orçamentária do Programa Farmácia Popular do Brasil. 49
Figura 21 – Exemplos de abordagens qualitativa e quantitativa utilizadas em auditoria. 49
Figura 22 – Exemplo de cronograma de auditoria. 56
Figura 23 – Exemplo de planilha de custos de uma auditoria. 57
Figura 24 – A fase operativa dentro do ciclo de auditoria. 73
Figura 25 – Elementos da constatação. 78
Figura 26 – Atributos da evidência. 79
Figura 27 – Processo lógico de identificação de constatações e formulação de recomendações. 83
Figura 28 – Matriz de constatações e seu preenchimento. 84
Figura 29 – Transposição de informações da matriz de constatações para o relatório preliminar. 86
Figura 30 – Checklist da qualidade de um relatório de auditoria. 101
APRESENTAÇÃO
Este curso foi desenvolvido em estreita parceria entre a Interlocus e o DENASUS com a fina-
lidade de desenvolver competências que levem à qualificação do processo de auditoria do
SUS, em especial do relatório de auditoria.
A premissa que orienta este projeto é a de que a ênfase na aplicação consistente de méto-
dos e técnicas de auditoria ao contexto do Sistema Nacional de Auditoria aliada ao maior
envolvimento dos servidores na construção de cada trabalho conduz a níveis mais elevados
de qualidade.
Equipe Interlocus
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 7
MÓDULO 1
INTRODUÇÃO À
AUDITORIA DO SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS), que teve suas de controle, desempenha papel fundamental
bases lançadas na Constituição Federal de 1988 para a melhoria da qualidade dos serviços de
e sua implantação iniciada na década de 1990, saúde prestados pelo SUS. Entre as atividades
propõe-se a oferecer atendimento integral à executadas pelo SNA estão as auditorias, ins-
população por meio de gestão descentraliza- trumentos com grande potencial para detec-
da com a participação da União, dos estados tar falhas, irregularidades e oportunidades de
e dos municípios brasileiros. A criação do SUS melhoria na gestão do SUS, desde que realiza-
colocou o Brasil como um dos primeiros paí- das observando-se princípios, métodos e téc-
ses fora da Organização para a Cooperação e nicas apropriados.
Desenvolvimento Econômico (OCDE) a incluir
na legislação o acesso universal aos serviços Este capítulo está organizado para apoiar o de-
de saúde, reconhecendo a saúde como direito senvolvimento do módulo 1 em sala de aula,
do cidadão e dever do Estado (Nações Unidas, cujo objetivo é de preparar os participantes
2013). para descrever o processo de auditoria reali-
zado no contexto do SNA e reconhecer e valo-
O SUS movimenta mais de 170 bilhões de re- rizar os princípios éticos e profissionais essen-
ais por ano, considerando as três esferas da ciais ao exercício da função de auditor do SUS.
federação, e tem contribuído para ampliar o
acesso da população aos serviços básicos de
saúde, com importante impacto na redução
da mortalidade. Contudo, ainda enfren-
ta uma série de desafios relacionados à
aplicação dos recursos públicos visando
obter ganhos de eficiência, eficácia e efe-
tividade e garantir o acesso aos serviços
com equidade.
método para executar suas auditorias, estabe- f) A eventual discrepância entre a situação
lecendo os padrões que elas deverão observar, existente e o critério originará a constatação
incluindo regras claras quanto à documentação. de auditoria. Evidências são elementos de
comprovação da discrepância (ou não) entre
c) Auditoria requer atitude de independência a situação encontrada (real) e o critério de
por parte do auditor, de modo a assegurar a auditoria (ideal).
imparcialidade do seu julgamento, nas fases de
planejamento, execução e emissão de seu pare- g) Os resultados de uma avaliação de audito-
cer, bem como nos demais aspectos relaciona- ria são relatados a um destinatário predeter-
dos com sua atividade profissional. minado, que normalmente é quem solicitou
a auditoria, sem prejuízo de outros interessa-
d) Auditoria é um processo de avaliação ob- dos. Por meio de um relatório formal e técni-
jetiva, o que significa que na execução de suas co, o auditor comunica o objetivo, o escopo, a
atividades, o auditor se apoiará em fatos e evi- extensão e as limitações do trabalho, as cons-
dências que permitam o convencimento razoá- tatações de auditoria, as avaliações, opiniões,
vel da realidade ou a veracidade dos fatos, do- recomendações e conclusões.
cumentos ou situações examinadas, permitindo
a emissão de opinião com bases consistentes. A ausência de qualquer um desses elementos
pode tornar sem efeito o processo de audito-
e) A avaliação objetiva é feita comparando-se ria. Não é possível, por exemplo, assegurar a
uma situação real, encontrada na gestão ou qualidade da auditoria se o auditor não está
atividade auditada, com uma situação ideal, numa posição de independência ou se não
chamada de critério de auditoria. O critério, faz uma avaliação baseada em evidências.
portanto, é o referencial utilizado pelo audi- Não é possível revisar ou comunicar os re-
tor para fazer seus julgamentos em relação à sultados da auditoria se o processo não for
situação ou condição existente. Critérios de documentado.
auditoria são encontrados em leis, normas e
padrões relativos ao objeto da auditoria. Como visto, o objetivo da auditoria é comparar
10 Introdução à Auditoria do SUS – MÓDULO 1
Percebe-se que a qualidade do relatório de- a regularidade dos atos de gestão praticados
pende da qualidade das constatações, evi- com foco em legalidade e legitimidade dos
dências e conclusões obtidas, a qual resulta atos é chamada de auditoria de regularidade
de uma boa execução, assim entendida a que ou de conformidade. É por meio da audito-
fornece as evidências necessárias e suficien- ria de conformidade que se busca identificar
tes para sustentarem logicamente as consta- fraudes e desvios de recursos.
tações. Uma boa execução, por sua vez, de-
pende de um bom planejamento, pois é no Quando o objetivo é avaliar o desempenho da
planejamento que a equipe se prepara para gestão de um órgão, processo ou serviço, a
a execução. Portanto, uma auditoria bem su- auditoria é denominada auditoria operacional
cedida começa no planejamento, que para ou de desempenho. Os aspectos tipicamente
ser eficaz deve ser detalhado e metodologica- focalizados numa auditoria de desempenho
mente suportado. são eficácia, qualidade, equidade e efetivida-
de. Há aspectos que podem estar presentes
Uma distinção comum entre tipos de auditoria tanto num quanto noutro tipo de auditoria,
se dá em razão dos aspectos focalizados nos como mostrado na figura 2.
trabalhos. Uma auditoria que busque verificar
LEGALIDADE EFETIVIDADE
ECONOMICIDADE
LEGITIMIDADE EQUIDADE
EFICIÊNCIA
DESVIO DE QUALIDADE
RECURSOS DESPERDÍCIO
EFICÁCIA
FRAUDE
É importante ressaltar que pode haver aspec- Esse novo paradigma de auditoria, compro-
tos de conformidade e de desempenho em metido com o fortalecimento da gestão,
uma mesma auditoria. Nesse caso, sua classi- requer profissionais trabalhando na lógica
ficação será definida pelo foco principal. Por de um observatório social das questões de
exemplo, em uma auditoria para avaliar o de- resolutividade do SUS, visando contribuir
sempenho de um serviço de saúde, pode-se efetivamente para a construção do modelo
pretender verificar a legalidade de determina- de saúde voltado para qualidade de vida e
dos atos de gestão. Trata-se de uma auditoria cidadania (BRASIL, 2011).
predominantemente de desempenho.
Nesse contexto, as finalidades da auditoria do
1.2 Processo de auditoria no SUS SUS consistem em:
O processo de auditoria do SUS obedece à lógica apresentada na seção 1.1, com o uso de alguns
termos próprios. As fases da auditoria no âmbito do SNA recebem nomes específicos, indicados
na figura 3.
A fase analítica tem por objetivo organizar in- constatações, recomendações e a conclusão
formações de maneira a facilitar execução do do trabalho. É peça de comunicação do resul-
trabalho de campo. O produto dessa fase é tado da auditoria ao demandante, ao órgão/
o relatório analítico, que traz uma síntese da instituição auditada e ao público, mediante
coleta de dados sobre o objeto da auditoria e publicação na internet.
indica a natureza, a extensão e a profundidade
dos exames. Um bom relatório analitico orien- As auditorias no DENASUS são realizadas por
ta a equipe e otimiza o tempo da verificação equipes lideradas por coordenador e acompa-
in loco. nhadas por supervisor técnico.
2. Independência Independência
Sigilo Credibilidade
O auditor é obrigado a utilizar os dados e as in- A credibilidade dos auditores do SNA não é um
formações que obteve no desempenho de sua princípio, mas o resultado da percepção de
função somente na execução dos serviços que que os trabalhos são conduzidos em conformi-
lhes foram confiados. Salvo determinação legal dade com todos os princípios éticos e profis-
ou autorização expressa da alta administração, sionais aqui listados.
nenhum documento, dado ou informação po-
derá ser fornecido ou revelado a terceiros, nem Em auditoria no setor público, vale a máxi-
deles poderá utilizar-se o auditor, direta ou indi- ma que diz que não basta apenas ser fiel aos
retamente, em proveito pessoal ou de terceiros. princípios éticos e profissionais, mas deve-se
também parecer; ou seja, a equipe de audi-
Cortesia toria deve se comportar de acordo com esses
princípios, e exemplificar essas qualidades no
O auditor deve manter atitude serena e tratar dia-a-dia. Importa destacar que a confiança e
com cortesia, de forma justa e equilibrada, a o respeito públicos de um auditor depende em
todos com os quais se relaciona profissional- grande parte da impressão deixada por outros
mente (superiores, subordinados, pares e re- auditores, do presente e do passado.
presentantes das entidades auditadas). Deve
agir com cortesia sem, contudo, abrir mão das
prerrogativas de sua função.
MÓDULO 2
PROGRAMAÇÃO DE
AUDITORIA
auditoria. Normalmente deve apontar fatos, Hospital São Joaquim no Município de Rio
indícios ou caracterizações de falhas, irregulari- Seco”. O teor dessa demanda não aponta fa-
dades ou problemas de desempenho na opera- tos ou indícios de irregularidades ou impro-
cionalização do SUS, ou ainda recomendações priedades que indiquem a necessidade de
ou determinações de órgãos de controle que uma auditoria, o que impede que se faça um
devem ser monitoradas a fim de verificar seu planejamento da ação de controle, uma vez
cumprimento. que não se sabe o quê, nem por que auditar.
A menos que o órgão seja mais específico, o
Por ser a demanda insumo básico desencadea- DENASUS não tem condições adequadas para
dor de uma atividade de controle, o seu enten- ser eficaz e eficiente em uma eventual tentati-
dimento e cadastro fidedigno no SISAUD/SUS, va de atender a demanda.
qualifica a auditoria a ser realizada.
Tomemos, agora, o caso de uma demanda
A demanda deve ser interpretada visando ob- vinda da Secretaria de Ciência, Tecnologia
ter as seguintes especificações para o desenho e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS), cujo
da atividade de controle: teor diz que o Departamento de Assistência
Farmacêutica (DAF) verificou que a maioria
• tipo de atividade de controle (auditoria, ve- das receitas apresentadas ao estabelecimento
rificação de TAS ou visita técnica, entre ou- Décio Brasso Ltda no Município de Porto dos
tros); e Milagres foi emitida pelo mesmo médico com
• objetivo da atividade de controle. grafias diferentes. Os fatos se verificaram no
contexto do Programa Farmácia Popular do
Tais especificações conferem foco à demanda Brasil. São tais elementos suficientes para que
e são o primeiro passo para a delimitação de a demanda possa ser interpretada em termos
escopo. Quando falta algum elemento impor- de tipo e objetivo de atividade de controle?
tante na demanda apresentada, a qualidade
dessas especificações fica prejudicada. Nesse Com base nas informações trazidas pela de-
caso, o ideal é devolver a demanda ao deman- manda, é possível fazer tal interpretação:
dante para que ele forneça os elementos res-
tantes e seja mais preciso. Quando a demanda • Tipo de atividade de controle: auditoria;
não apresenta materialidade que justifique a • Objetivo: verificar a regularidade das dis-
realização de uma auditoria, deve ser devolvida pensações realizadas pelo estabelecimen-
sem necessidade de registro no SISAUD/SUS. to Décio Brasso Ltda em Porto dos Milagres
no âmbito do Programa Farmácia Popular
Tomemos, como exemplo, uma demanda fic- do Brasil.
tícia vinda de um Ministério Público Estadual
que solicita “auditoria de amplo escopo no Uma informação que poderia complementar
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 21
essa especificação seria o período em que tais relatório de auditoria e se pronunciar sobre se
fatos foram verificados pelo DAF, o que daria o resultado atendeu ao que foi demandado.
melhor foco à auditoria. Obviamente uma tarefa mal elaborada preju-
dica essa revisão por terceiros.
2.2 Elaboração da tarefa
São exemplos de tarefas formuladas de modo
Conceitua-se tarefa como o conjunto de infor- incompleto:
mações que permite à equipe nortear a rea-
lização da auditoria demandada. A principal • “Realizar Auditoria no Município de
finalidade da tarefa é delimitar o escopo da Santana do Agreste com a finalidade de
auditoria e estimar o prazo de execução. verificar se os recursos da Atenção Básica
estão sendo remanejados para outro blo-
Define-se escopo como a indicação da abran- co de financiamento, proibido pela PT/GM
gência e dos limites da auditoria. O escopo in- nº 204, de 29/01/2007. Período de realiza-
clui as questões a responder, bem como loca- ção: 11/2 a 31/3/2014”.
lidades, organizações, processos, atividades e
períodos que serão alcançados pela auditoria. • “Por solicitação do Ministério Público
Escopo refere-se ao que será feito na auditoria. Federal, realizaremos auditoria para veri-
Para deixar claro o que não será realizado no ficar a aplicação dos recursos da Dengue
curso da auditoria, pode-se especificar o cha- pela Secretaria Municipal de Saúde de
mado não escopo, como é usual na gestão de Ouro Negro. Período de realização: não
projetos. Uma auditoria pode mesmo ser vista previsto”.
como um projeto, visto que é uma empreitada
de tempo limitado e objetivos definidos. Em ambos os exemplos, faltou indicar o pe-
ríodo abrangido pela auditoria, bem como a
É recomendável que a tarefa seja elaborada abrangência do que será examinado (ativida-
em equipe. A participação de auditores com des, localidades).
experiências distintas aumenta a chance de
que a tarefa elaborada seja coerente com a Ao elaborar tarefas, pode-se apoiar na experi-
demanda e que traga as informações necessá- ência construída pelo DENASUS. Examinando-
rias para orientar a equipe na execução da au- se o planejamento e o resultado de auditorias
ditoria. Envolver a equipe desde cedo também realizadas anteriormente em objetos e com
melhora a eficiência da fase analítica. escopos semelhantes, pode-se obter informa-
ções úteis para a especificação da tarefa, tais
Um dos usos da tarefa é servir de parâmetro como:
para que, ao final, seja possível a um auditor
que não tenha participado do trabalho ler o • questões investigadas;
22 Programação de Auditoria – MÓDULO 2
A formulação das questões de auditoria é um Para cada questão, deve-se formular uma hi-
processo interativo, que parte das informações pótese sobre a possível constatação, que indi-
oferecidas pela demanda e torna-se mais acura- ca a resposta mais provável a se obter conside-
da conforme se obtém informações sobre o ob- rando-se informações trazidas pela demanda
jeto na fase analítica. É usual empregar a técnica e por auditorias similares realizadas anterior-
de brainstorming na equipe de auditoria para mente. Tal procedimento contribui para au-
gerar opções de questões, seguida por arranjos mentar o foco da auditoria e facilita a identifi-
lógicos entre o problema a examinar e as ques- cação das informações requeridas, suas fontes
tões e subquestões de auditoria até se alcançar e procedimentos de coleta e análise.
uma configuração satisfatória de questões.
MÓDULO 3
FASE ANALÍTICA DA
AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 3 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase analítica de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguintes
seções e objetivos de aprendizagem:
Uso de matrizes de
Os participantes deverão ser capazes de valorizar a importância do
coleta e de análise de
uso das matrizes de coleta e de análise de informações em uma
informações em audi-
auditoria.
toria
A fase analítica, em essência, corresponde ao tarefa, a fase analítica tendis e a fluir melhor
planejamento da ação de controle de modo porque seus membros já estarão sintonizados
que possa ser adequadamente executada com o que é esperado da auditoria. Quando a
pela equipe dentro do prazo estabelecido. tarefa é definida previamente pelo supervisor
Iniciaremos a exploração desse assunto com sem a participação da equipe, cabe a ele apre-
uma visão geral das atividades que compõem sentar a tarefa à equipe. Em ambos os casos,
a fase analítica para, em seguida, tratarmos de supervisor técnico e equipe devem verificar
cada uma delas. em que medida os elementos da tarefa permi-
tem orientar a ação e o que deverá ser melhor
3.1 Atividades da fase analítica especificado durante a fase analítica.
A fase analítica da auditoria tem por objetivo Para que a fase analítica possa agregar valor
criar as condições necessárias para que a equi- substancial à auditoria, recomenda-se que to-
pe designada possa conduzir com qualidade as das as atividades apresentadas na figura 7 se-
fases subsequentes – em especial a fase ope- jam realizadas.
rativa e a de elaboração do relatório final. Tais
condições consistem em conhecer suficiente-
mente bem o objeto da auditoria e dispor de
um plano de ação e dos instrumentos necessá-
rios para realizar o trabalho.
Quando a equipe participa da elaboração da Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma auditoria.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 27
Como ficará demonstrado ao longo do capítu- o foco e delimitar a extensão dos trabalhos.
lo, as atividades previstas na fase analítica são Estamos falando, portanto, de revisar e apri-
suficientes para responder as perguntas que morar a definição de objetivos e do escopo da
o planejamento de uma auditoria deve bus- auditoria, construídos durante a elaboração
car responder, a saber: o que será auditado? da tarefa. Além disso, deve-se procurar infor-
Como, quando, onde e por quem? A que cus- mações que indiquem os critérios que podem
to? Por quê? ser usados para avaliar a situação do objeto de
auditoria em termos de conformidade ou de
3.2 Levantamento de informações desempenho.
sobre o objeto de auditoria
Quando o objetivo da auditoria é definido de
Após tomar conhecimento da tarefa, a equipe forma precisa, o levantamento de informações
deve levantar informações sobre o objeto da pode ser realizado de forma mais objetiva, pois
auditoria de modo a obter o conhecimento su- se sabe o que se está buscando. Ao contrário,
ficiente para executar as fases subsequentes. quando o objetivo é estabelecido de modo ge-
Pode ser que a equipe tenha tido condições de nérico, o levantamento de informações deve
fazer uma pesquisa sobre o objeto a auditar ser mais extenso para que se possa conferir
por ocasião da elaboração da tarefa. Agora a foco ao trabalho.
equipe deve se aprofundar mais, procurando
caracterizar bem o objeto da auditoria. Afinal, que tipo de informações devem ser
buscadas? Basicamente aquelas informações
A principal finalidade do levantamento de in- que permitem estabelecer uma visão geral so-
formações na fase analítica é procurar definir bre o objeto e seu contexto (figura 8).
Pontos fracos e
Legislação aplicável deficiências de controle
Objetivos do órgão ou
programa de governo
Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 29
o mesmo objeto pelo próprio DENASUS e por Por isso, a equipe deve ter bem claro, antes de
outros órgãos de controle (TCU, CGU) é reco- ir a campo, que informações serão necessárias
mendável, visto que tal procedimento pode para produzir evidências que irão sustentar
revelar informações importantes para a audi- possíveis constatações. Quando a equipe, na
toria que está sendo planejada. A busca em fase operativa, não sabe bem o que está pro-
sistemas de informação é relativamente usual curando, a tendência é recolher informações
para verificar transações que possam vir a ser desnecessárias, o que torna ineficiente a fase
alvo da auditoria. de análise.
Em auditorias de objetos complexos ou pou- A motivação para realizar uma auditoria surge,
co conhecidos, em especial os que não te- em geral, de sinais de que um órgão ou progra-
nham sido alvo de ação de controle anterior, ma de governo pode não estar gerando o de-
pode ser necessário convidar alguns servido- sempenho esperado ou não estar atendendo a
res e gestores do órgão ou entidade audita- requisitos de leis, normas e padrões. Assim, com
da e especialistas que possam contribuir com base nesses sinais, a equipe propõe questões a
diagnóstico preliminar que auxilie a equipe a serem respondidas com a auditoria, bem como
focalizar com mais precisão a auditoria. Entre possíveis respostas, que nada mais são do que
as técnicas de diagnóstico mais usadas estão hipóteses sobre as constatações que podem vir
o mapeamento de processos, a identificação e a se confirmar com o correr da auditoria. Para
avaliação de riscos, e a análise SWOT (forças, que possíveis constatações possam ser vislum-
fraquezas, oportunidades e ameaças). bradas, necessário se faz conhecer os critérios
que servirão de referência para confirmá-las.
3.3 As matrizes de coleta e de
análise de informações Considerando as questões e possíveis constata-
ções que nortearão o trabalho, a equipe deve
Planejar é um exercício sistemático de an- identificar que informações são necessárias e
tecipar os elementos necessários para ca- suficientes para responder as questões, onde
racterizar as constatações, e então definir o podem ser obtidas (quais as fontes de informa-
que a equipe deve fazer para que, ao final da ção) e como podem ser coletadas.
fase de execução, as constatações possam
estar sustentadas com base em evidências. Dando sequência ao raciocínio, a equipe deve,
Como as evidências são fruto da análise das imaginando-se de posse das informações re-
informações coletadas durante a auditoria, queridas, traçar um caminho lógico que leve
percebe-se que a forma como informações à confirmação ou rejeição das constatações
são obtidas e tratadas desempenha papel hipotéticas. Para tanto, deve propor como as
fundamental para a qualidade da auditoria. informações serão analisadas para sustentar
30 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
LIMITAÇÕES:
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações.
A matriz de análise de informações, por sua vez, indica, por meio dos procedimentos descritos,
como as informações serão tratadas visando revelar a situação real do objeto e compará-la à
situação ideal (critério). Essa comparação permitirá confirmar ou não possíveis constatações
e, assim, responder as questões de auditoria (figura 11). Repare que uma questão de auditoria
pode ter uma ou mais constatações associadas e que cada constatação, via de regra, apoia-se
em um único critério.
LIMITAÇÕES:
Figura 11 – Matriz de análise de informações.
32 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
7 3 2 1
Procedimentos Critérios Possíveis Questões de
de análise constatações auditoria
Identificar as Especificar os Indicar as escopo:
técnicas a serem critérios que constatações que - período de
empregadas na servirão de poderão ser obtidas. abrangência;
análise de dados base para as - abrangência
e descrever constatações. geográfica;
os respectivos - atores e atividades
procedimentos. envolvidos.
5 4 6
Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Identificar a fonte de cada Identificar as informações Identificar as técnicas de
item de informação. necessárias para responder coleta de dados que serão
à questão de auditoria. usadas e descrever os
respectivos procedimentos.
Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de análise de informações
(números em vermelho indicam ordem de preenchimento).
Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Datasus (Sistema SIA/ Dados das Apacs referentes aos Extração de dados.
SUS) tratamentos de radioterapia e
quimioterapia de 2010:
(i1) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i2) estadiamento da doença.
INCA (SisRHC) Dados do Registro Hospitalar Requisição de informações.
de Câncer:
(i3) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i4) estadiamento da doença.
Possíveis Questões de
Procedimentos de análise Critérios
constatações auditoria
Análise quantitativa dos O paciente com O diagnóstico A estrutura da
lapsos temporais entre o neoplasia maligna e o início do rede de atenção
diagnóstico e o início dos tem direito de tratamento oncológica tem
tratamentos (i1; 13) e do se submeter não têm sido possibilitado aos
estadiamento dos tumores no ao primeiro tempestivos. doentes de câncer
diagnóstico (i2; i4). tratamento no acesso tempestivo
Analise qualitativa das SUS em até 60 e equitativo ao
percepções de pacientes dias contados do diagnóstico e ao
sobre a tempestividade de diagnóstico em tratamento?
atendimento (i5). laudo patológico
(Lei 12.732/2012,
Triangulação dos art. 2º).
dados quantitativos de
tempestividade com as
percepções dos pacientes.
Fonte: adaptado do relatório de auditoria sobre a Política Nacional de Atenção Oncológica (TCU, 2011).
A utilização das matrizes de coleta e análise é O uso dessas matrizes também é vantajosa
vantajosa, em primeiro lugar, para a própria para o supervisor. Ao ver detalhada a lógica
equipe, que pode explicitar a forma como se que a equipe propõe para executar a audito-
pretende obter e utilizar informações para po- ria, o supervisor pode identificar falhas e lap-
der responder às questões de auditoria. Sem sos no planejamento da coleta e análise de
instrumentos desse tipo, pode ocorrer de a informações e propor correções. Desse modo,
equipe ir a campo sem ter um entendimento ele pode se assegurar de que a equipe sabe o
uniforme sobre como o trabalho será desen- que vai fazer e de que a maneira como o traba-
volvido, o que, certamente, prejudicará a qua- lho foi planejado é adequada para se alcançar
lidade da auditoria. o objetivo e o escopo estabelecidos na tarefa.
Critérios de auditoria podem ser encontrados em diversas fontes. Fontes usuais de critérios são as leis
e os regulamentos que regem o funcionamento da entidade, projeto ou programa auditado. Normas
e valores expressos em códigos de ética da instituição ou profissional indicam condutas apropriadas e
vedadas aos servidores e funcionários e, por isso, também são fontes de critérios.
Quando se trata de opinar sobre desempenho, indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, além
de metas estabelecidas pela entidade auditada, são os principais critérios de comparação. Se a orga-
nização não estabeleceu metas e padrões de desempenho a alcançar ou se existem razões para crer
que esses valores estão aquém do que se poderia esperar, então deve-se adotar como critério os
resultados obtidos anteriormente por instituição ou programa similar.
Tomemos como exemplo uma questão sobre de informação; imprensa. Descobrir a melhor
a correta aplicação de recursos destinados à fonte de cada informação contribui para a agi-
saúde repassados fundo a fundo a um municí- lidade na coleta de dados.
pio. Um termo central da questão é a expres-
são “correta aplicação”, cujas dimensões são A experiência do servidor em auditorias no
aplicar o recurso dentro da finalidade a que SUS é o principal recurso para descobrir a fon-
se destina, dentro do objeto (bloco de finan- te de cada informação requerida. De fato, co-
ciamento) e de forma regular, de modo a não nhecer o funcionamento do SUS, os principais
causar dano ao Erário. Sendo ampla a questão, atores e suas responsabilidades, e os princi-
deve-se olhar para as possíveis constatações pais sistemas de informação é fundamental.
para poder descobrir as informações necessá- Sendo a fase analítica realizada em equipe, as
rias. Supondo que uma possível constatação experiências de seus membros podem se com-
seja pagamento de consultoria prestada por plementar para bem realizar a tarefa de identi-
servidor público do quadro do próprio municí- ficar informações e fontes.
pio, então as informações requeridas seriam:
relação de servidores do município; nota de A segunda pergunta envolve decidir qual é a
empenho dessa despesa; cópia do contrato técnica de coleta mais adequada para obter a
de prestação de serviço, se houver; cópia de informação de determinada fonte. Para res-
recibo assinado pelo servidor ou de nota fiscal pondê-la, deve-se considerar o uso que se pre-
emitida por empresa por meio da qual atuou tende fazer da informação, bem como carac-
o servidor; ordem bancária que efetivou o terísticas das fontes. O quadro a seguir oferece
pagamento. subsídios para isso.
compreender um mapa dos processos de uma gestor. Os tipos de perguntas mais utilizadas
unidade hospitalar obtido pela equipe de audi- em entrevistas são as abertas, que podem ser
toria ou interpretar dados registrados no pro- respondidas de forma livre.
jeto básico de uma aquisição.
Na condução da entrevista, o auditor deve
Na fase operativa, pode-se usar entrevista para buscar estabelecer uma relação de confiança
obter do auditado sua avaliação sobre possí- com o entrevistado. Assim, após a equipe se
veis recomendações, o que auxilia a equipe na apresentar, deve relembrar os objetivos co-
tarefa de propor recomendações exequíveis e municados quando do agendamento e dar iní-
relevantes. cio à entrevista. O roteiro deve ser observado,
porém de forma flexível, visto que informa-
A realização de uma entrevista divide-se nas ções importantes não previstas podem surgir
etapas de planejamento, condução e transcri- e a equipe pode se permitir explorá-las.
ção. No planejamento, a equipe deve definir:
Durante a entrevista, um integrante da equipe
• os objetivos da entrevista; faz as anotações. No caso de temas complexos,
• a forma de seleção dos entrevistados; pode-se optar por gravar a entrevista, desde
• as informações a obter, elaborando o ro- que o entrevistado concorde. Deve-se cuidar
teiro de perguntas; para evitar comportamentos que possam ini-
• os documentos a solicitar; bir o entrevistado e interromper o fluxo natu-
• as atribuições de cada integrante da equi- ral da conversação, tais como: anotar tudo o
pe (quem pergunta, quem anota, quem que é dito, escrever sem parar e anotar quan-
observa); do o entrevistado fala de pontos delicados.
• local, segundo a conveniência do entrevis-
tado; e Antes do encerramento da entrevista, o en-
• horário de início e término. trevistador deve verificar se todas as pergun-
tas foram respondidas e resumir os principais
Um fator importante para o sucesso da entre- pontos abordados, dando a oportunidade para
vista é o preparo da equipe, que deve estudar que o entrevistado preste algum esclareci-
bastante o tema a ser abordado. Ao planejar o mento adicional. Se for o caso, pode recolher
roteiro, deve-se formular perguntas que con- os documentos entregues e solicitar a indica-
tribuam para fornecer as informações necessá- ção de outras pessoas para entrevistar.
rias à auditoria. As perguntas devem estimular
o auditado a falar; portanto, deve-se ordená Após a entrevista, o conteúdo deve ser transcri-
-las das mais simples para as mais complexas e to num papel de trabalho denominado extra-
evitar perguntas tendenciosas que expressem to de entrevista. O registro deve ser feito logo
ideias preconcebidas ou possam constranger o depois do encerramento do encontro, quando
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 41
Sondagens podem ser realizadas via contato pessoal, por telefone, via postal e por meio eletrôni-
co. Cada uma dessas modalidades apresenta potencialidades e limitações (figura 16), que devem
ser consideradas ao se desenhar uma sondagem para uso em auditoria.
ou estão envolvidos emocionalmente a ponto inspeção física. Uma inspeção física requer
de não ter condições de falar a respeito com menos habilidade para ser aplicada adequada-
propriedade. Nesses casos, alguém externo mente, porém o cuidado metodológico deve
ao processo pode observar o que se passa de estar presente, seja no momento de desenhar
uma forma neutra e imparcial. o roteiro de inspeção, seja no momento de re-
alizá-la de forma criteriosa.
A principal limitação dessa técnica é que a pre-
sença do observador no ambiente em estudo
pode alterar o comportamento do indivíduo e
levar a um resultado distorcido da realidade Para saber mais
observada. Além disso, o custo da aplicação
da técnica pode ser alto, visto que a observa- Para preparar um roteiro de
ção de uma situação pode levar horas, e que observação e saber mais sobre
podem ser necessárias diversas observações a técnica, consulte o documento
para se poder extrair alguma conclusão sobre Técnica de observação direta em
o fenômeno. auditoria, publicado pelo TCU
(BRASIL, 2010c).
Quando a observação de uma situação física
é decisiva para alcançar os objetivos da audi-
toria, ela deverá ser confirmada por meio da
observação de dois ou mais auditores e, se Extração de dados
possível, por representantes do órgão audita-
do (ISSAI 3000, 2004). A técnica consiste na identificação e extração
de dados úteis aos propósitos da auditoria de
A qualidade das evidências coletadas por meio sistemas de informação. Para que o auditor
da observação direta requerem que os proces- possa se decidir por essa técnica, deve con-
sos ou atividades observados sejam represen- firmar que determinado sistema armazena as
tativos do objeto auditado, que o roteiro de informações necessárias. Isso requer conhecer
observação seja bem planejado e que a equipe a estrutura das bases de dados, o que pode ser
seja criteriosa no registro. Para robustecer as feito tendo acesso ao dicionário de dados ou
evidências obtidas com a observação, podem lendo relatórios emitidos pelo sistema.
ser usadas gravações de vídeo e áudio e regis-
tros de declarações de usuários, por exemplo. Há várias maneiras de se obter dados arma-
zenados num sistema. Há sistemas que ex-
Quando a observação se dá sobre situações portam dados ao comando do usuário, como
estáticas (equipamentos, instalações e infra- o SIA/SUS, disponível no site do DATASUS.
estrutura em geral), a técnica é denominada Quando isso não é possível, é usual fazer uma
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 45
requisição ao auditado para que providencie a usados frequentemente para confirmar ter-
extração dos dados e os apresente ao auditor mos de acordos, contratos e transações, como
na forma de uma planilha eletrônica. Outra nos casos de confirmação de pagamento a for-
possibilidade, para auditores habilitados, é necedores, confirmação de saldos em bancos,
utilizar softwares especializados de auditoria se os licitantes mencionados foram convida-
para identificar e extrair os dados que procura. dos e se procedimentos ambulatoriais foram
realizados (carta SUS).
Normalmente dados extraídos em grandes
volumes de sistemas de informação prestam- A equipe deve avaliar se o resultado de um
se a análises quantitativas. Softwares estatís- procedimento de confirmação externa forne-
ticos ou mesmo planilhas eletrônicas como o ce evidência relevante e confiável, ou se ou-
MS Excel facilitam a manipulação e a análise tras fontes de evidência são requeridas.
dos dados.
No caso em que o auditor avalia que a res-
Exemplos de aplicação da técnica são a extra- posta a uma solicitação de confirmação não é
ção de dados de infraestrutura dos estabele- confiável, deve verificar se existe forma alter-
cimentos de saúde, armazenados no CNES e nativa de obtenção de evidências. Se o auditor
dados de Autorização de Internação Hospitalar entender que a confirmação é necessária para
do SIA/SUS. Outro exemplo é a requisição de obter evidência de auditoria, e a confirmação
dados do funcionamento de uma central de não é fornecida, o auditor deve avaliar as im-
regulação do SAMU 192 armazenados em sis- plicações para o resultado da auditoria.
tema próprio do município.
Triangulação
Confirmação externa
Corresponde ao uso de diferentes métodos de
Segundo as Normas Brasileiras de pesquisa ou de coleta de dados para estudar a
Contabilidade, mesma questão, com o objetivo de fortalecer
as conclusões finais (PATTON, 1987, citado por
Confirmação externa é a evidência de auditoria obtida BRASIL, 2010a).
como resposta por escrito direta para o auditor de um
terceiro (a parte que confirma), em papel, no formato Em auditoria, a triangulação visa fortalecer a
eletrônico ou outro meio (NBC-TA-505). consistência das evidências, podendo assumir
as seguintes formas (BRASIL, 2010a):
A técnica, também conhecida como circulari-
zação, presta-se a confirmar, junto a terceiros, • coletar dados de diferentes fontes sobre a
fatos apresentados pela entidade auditada, de mesma questão;
modo a fortalecer as evidências obtidas. São • empregar diferentes entrevistadores e
46 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
A análise de informações pode ser quantitativa ou qualitativa, o que depende basicamente dos
tipos de informações a coletar, definidas com foco nas questões de auditoria.
Usa-se análise qualitativa para obter uma b) Como os pacientes avaliam sua experiência
compreensão mais profunda de percepções, ao buscar atendimento nessa unidade?
razões e motivações acerca de um problema e
seu contexto. No âmbito do SUS, estas seriam c) Como se dá o relacionamento entre a UPA e
questões apropriadas para o uso de aborda- a Secretaria Municipal de Saúde?
gem qualitativa:
Técnicas usadas para obter dados de natu-
a) Que fatores afetam o desempenho da UPA reza qualitativa em auditorias são menos es-
24h do município? truturadas, como é o caso de entrevistas em
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 47
Dados numéricos podem ser analisados por séries temporais da execução orçamentária
meio do uso de gráficos, tais como histogra- do Programa Farmácia Popular do Brasil, reve-
mas e gráficos de dispersão, que revelam la que a execução direta do FNS cresceu bem
tendências, regularidades, descontinuidades, mais do que as demais modalidades no perío-
desempenhos extremos (bons e ruins), desi- do de 2006 a 2009.
gualdades na distribuição de bens e serviços
públicos. O gráfico mostrado na figura 19 re- Na figura 21, são apresentados três exemplos
vela que a maioria dos pacientes de câncer de situações de auditoria a fim de ilustrar a co-
diagnosticados em 2010 tinham a doença erência que deve existir entre questão de au-
em estágio avançado (estadiamento 3 e 4). ditoria, informação requerida, procedimento
Já o gráfico seguinte (figura 20), que mostra de coleta e procedimento de análise.
Caso a descrição do procedimento seja longa para sustentar uma possível constatação
para ser descrita na matriz, pode-se indicar ou contribuir para responder uma questão
o título do procedimento e fazer referência de auditoria, elas devem ser eliminadas da
ao papel de trabalho destinado a registrar a matriz;
análise.
• quando as informações previstas não fo-
3.7 Validação das matrizes rem suficientes para responder as ques-
tões de auditoria, deve-se identificar e
As matrizes construídas devem ser submetidas acrescentar as informações que faltam;
a validação, primeiramente pela própria equi-
pe e, em seguida, pelo supervisor. • quando a equipe não souber ao certo onde
e como cada informação pode ser obtida,
Na revisão de cada questão de auditoria, a deve consultar auditores que possam ter
equipe deve se perguntar: utilizado esse tipo de informação anterior-
mente ou fazer uma prospecção de possí-
• se as informações previstas na matriz de veis fontes para verificar se a informação
coleta são necessárias e suficientes para existe e como pode ser acessada;
responder as questões de auditoria;
• quando a equipe acreditar que as informa-
• se está claro onde e como cada informação ções previstas não podem obtidas dentro
pode ser obtida; do prazo da auditoria e com os recursos
disponíveis, ou que não haverá tempo para
• se a obtenção das informações previstas é se fazer todas as análises previstas, deve
factível dentro do prazo da auditoria e com restringir as questões de auditoria àquelas
os recursos disponíveis; que sejam as mais urgentes ou relevantes
ou modificar a estratégia de coleta e análi-
• se está claro como cada informação obtida se planejada;
será usada na construção da constatação;
• finalmente, quando não estiver claro como
• se haverá tempo para se fazer todas as cada informação obtida será usada na
análises previstas. construção da constatação, mas se acredi-
tar que a informação é necessária, deve-se
Cada um desses pontos de verificação enseja procurar a orientação de auditores que já
uma ação por parte da equipe, a saber: enfrentaram a mesma situação.
• quando houver informações previstas na A validação das matrizes pelo supervisor técni-
matriz de coleta que não serão usadas co, além de repassar esses pontos que foram
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 51
alvo de revisão pela equipe, deve enfatizar a O painel de referência é um mecanismo bara-
consistência lógica da matriz, a capacidade to e rápido para se ouvir especialistas visando
desse instrumento de levar a equipe a alcan- focalizar melhor a auditoria e construir crité-
çar os resultados esperados com a auditoria e rios. Os pontos de vista trazidos pelo painel
a exequibilidade do trabalho. Eis algumas per- auxiliam a equipe a sustentar ou alterar suas
guntas que o supervisor técnico deve fazer: premissas e decisões. Deve-se cuidar para
que a seleção de convidados e a condução
• As questões, quando respondidas, permi- das discussões sejam feitas de modo a não
tem alcançar o objetivo da auditoria? privilegiar determinado grupo, evitando-se o
risco de viés.
• As informações requeridas são suficientes
para responder as questões? As fontes de Um painel de referência também funciona
informação estão corretas? como ferramenta de controle de qualida-
de, pois possibilita conferir a relevância das
• Os procedimentos de coleta são adequa- questões de auditoria, verificar o rigor e a
dos segundo o tipo de informação? suficiência do método proposto, e colher va-
riado conjunto de opiniões especializadas e
• Os procedimentos de análise são suficien- independentes sobre a estratégia de coleta e
tes para conduzir às constatações? análise de informações.
Preparar a visão geral do objeto a auditar O cronograma, além de indicar prazos para as
pressupõe fazer uso das informações levan- atividades, cumpre a função de indicar a me-
tadas preliminarmente, conforme descrito na lhor sequência para realização das atividades
seção 3.2. A visão geral permite compreender durante a fase operativa. Ao listar as ativida-
as características principais do que será audi- des, deve-se indicar o membro da equipe res-
tado, seja um órgão ou entidade, um processo ponsável por executar cada uma delas e se ha-
de trabalho, um serviço; a legislação e normas verá outro membro prestando apoio.
aplicáveis, que serão fontes de critérios; pro-
blemas de desempenho, impropriedades e ir- Quanto mais complexa e longa for a auditoria,
regularidades detectadas anteriormente; pon- mais importante será o uso de um cronograma.
tos fracos e deficiências de controle. Contudo, mesmo auditorias com fases operati-
vas reduzidas (menos de duas semanas) podem
Um mecanismo para compartilhar, no âmbito se beneficiar de um cronograma simplificado.
do DENASUS, o levantamento de informações
de auditorias com objetos similares pode en- A experiência em auditoria mostra que quan-
riquecer e agilizar a tarefa de construir a visão do a equipe se encontra no trabalho de campo,
geral. O texto da visão geral servirá para com- surgem fatos novos e imprevistos que exigem
por a versão final do relatório de auditoria. que os planos sejam alterados. A equipe deve
ter flexibilidade para, mantendo o foco no ob-
Deve-se atentar para o fato de que o levanta- jetivo da auditoria, fazer ajustes ao cronogra-
mento preliminar em sistemas de informação ma. (figura 22)
do SUS pode revelar transações que pareçam
56 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
Os censos são vantajosos quando a população menor escala, realizadas por amostragem, em
é pequena o suficiente para permitir a análi- geral, permitem a contratação de profissionais
se de todos os elementos, quando o tamanho com maior experiência e, também, maior in-
amostral necessário para permitir a inferência vestimento em sua capacitação. Com isso, há
estatística é muito próximo ao tamanho da uma tendência de melhor qualidade dos dados
própria população, ou quando uma caracte- coletados em levantamentos amostrais.
rística particular que se está estudando é tão
rara, que não permitiria um número mínimo As técnicas de amostragem podem ser divi-
de casos para análise caso se utilizasse uma didas em dois grandes grupos: a amostragem
amostra. Existem situações, ainda, em que probabilística, também denominada estatís-
os elementos que compõem a população são tica; e a amostragem não probabilística. A
importantes por si mesmos e o levantamento amostragem probabilística prevê a seleção de
dos dados relacionados a todos são essenciais indivíduos por meio de métodos aleatórios, de
aos objetivos do trabalho. forma a assegurar que a amostra é represen-
tativa da população da qual foi retirada e, por
Na prática, em auditoria, em função da limita- isso, permite a generalização dos resultados
ção de recursos, a realização de censos torna- amostrais. A amostragem não probabilística,
se possível apenas quando a população de in- por sua vez, não permite a generalização au-
teresse é pequena. Nesse caso, a equipe tem tomática dos resultados. É adequada ao enfo-
condições de analisá-la por completo. que de avaliação qualitativo, sendo mais con-
veniente quando se requer escolha controlada
Por outro lado, os levantamentos amostrais de indivíduos com determinadas característi-
podem apresentar vantagens sobre os cen- cas, como criminosos, pacientes etc.
sos. Por exemplo, os censos possuem fortes
requisitos técnicos e administrativos. Esses Amostragem não probabilística
requisitos nem sempre são perfeitamente se-
guidos em grandes populações em função da A amostragem não probabilística é desenvolvi-
dificuldade em se manter o adequado nível de da com o objetivo de analisar um grupo de ele-
qualidade em todos os testes aplicados. Isso mentos pertencentes a uma população, mas
significa que a qualidade e a confiabilidade dos não obedece a regras estatísticas de seleção
dados coletados em um censo mal executado dos elementos que permitam que as conclu-
podem vir a ser menores do que aquelas ob- sões observadas na amostra possam ser esten-
tidas em um trabalho menor e mais manejá- didas automaticamente ao restante da popu-
vel como a amostragem. Normalmente, nos lação. Na amostragem não probabilística ou
levantamentos censitários necessita-se a con- não estatística, a seleção dos elementos para a
tratação de uma grande quantidade de pes- análise ocorre de forma não aleatória e segun-
quisadores. Por outro lado, as pesquisas em do critérios definidos caso a caso. Portanto,
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 59
amostra não probabilística é um subgrupo da para compor uma amostra. Essa forma de se-
população no qual a escolha dos elementos leção geralmente é feita em função de limita-
não depende da probabilidade de seleção, e ções de tempo ou de recursos impostos aos
sim das características da pesquisa. trabalhos de pesquisa. Assim, processos de
uma mesma unidade ou com localização ge-
A amostragem não probabilística pode ser uti- ográfica acessível podem ser priorizados por
lizada em diversas situações, como, por exem- serem menos onerosos, mesmo com o conhe-
plo, quando a pesquisa não tem interesse em cimento de que eles podem não refletir a re-
estudar todo o universo e a amostra não pre- alidade que se apresenta em todo o universo
cisa ser representativa da população; os obje- desses processos. Os elementos são incluídos
tos podem ser raros ou difíceis de localizar; a na amostra por conveniência. A vantagem da
pesquisa precisa se basear em respondentes amostragem por conveniência é a facilitação
voluntários; a pesquisa busca identificar al- da seleção amostral e da coleta de dados.
guns casos individuais que são materiais ou
relevantes por si próprios; os pesquisadores Outra técnica não probabilística é a amostra-
entendem que alguns elementos precisam gem por julgamento. Nela, o conhecimento e
ser analisados por possuírem indicativos de a experiência dos profissionais envolvidos na
irregularidade; ou quando os pesquisadores pesquisa orientam a escolha dos itens. Neste
desejam apenas descrever uma determinada método a seleção dos elementos é funda-
questão, sem quantificá-la. mentada apenas no juízo, na capacidade e
na experiência do pesquisador ou de um es-
A amostragem não probabilística não impli- pecialista, que julgam quais elementos mais
ca, necessariamente, no abandono de abor- apropriados para o estudo ou exame em ques-
dagens sistemáticas de seleção para permitir tão. Por exemplo, em uma auditoria, o auditor,
a escolha de elementos específicos. Para ser com base no seu conhecimento sobre o tema,
bem executada, ela demanda o tratamento pode optar por investigar aqueles elementos
das informações e conhecimento suficiente considerados mais típicos do universo pesqui-
acerca da população para identificar os casos sado, mais materiais ou, ainda, que tenderiam
capazes de fornecer informações relevantes a apresentar os maiores problemas.
para o alcance dos objetivos da auditoria.
Na amostragem bola de neve o pesquisador
Nesse sentido, duas alternativas de ação co- identifica, inicialmente, apenas alguns ele-
muns em auditorias são a seleção de itens com mentos populacionais e entra em contato
base na conveniência ou no conhecimento e com eles. Nesse primeiro contato, solicita-se
experiência dos profissionais envolvidos. A aos elementos selecionados que indiquem ou-
amostragem por conveniência ocorre quando tros possíveis membros da população, e assim
os elementos mais acessíveis são escolhidos sucessivamente. Dessa forma, os elementos
60 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
entrevistados indicam novos elementos re- desse tipo de amostragem como substituto
petidamente até que seja obtido um “ponto da amostragem aleatória é tema controverso
de saturação”, o que ocorre quando novos entre especialistas no tema. Os defensores ar-
entrevistados passam a repetir opiniões ou gumentam que é eficiente e barato e permite
informações já levantadas por participantes estudos que poderiam ser impossíveis de ou-
anteriores. tra forma. Os críticos, incluindo a maioria dos
estatísticos, argumentam que os resultados
Esse tipo de seleção é bastante utilizado para não são significativos, pois não podem ser es-
a realização de entrevistas com pessoas parti- tatisticamente generalizados.
cipantes de grupos não formais, sobre os quais
os pesquisadores encontram dificuldade em O método dos casos críticos é utilizado quando
definir um contorno adequado para a popu- o pesquisador busca conhecer casos essenciais
lação e em identificar todos os seus elemen- ou chave para compreender como ou por que
tos. Um exemplo de utilização de amostragem um determinado fenômeno ocorreu de forma
bola de neve é a realização de pesquisas sobre diferente daquela que se esperava que ele ti-
o uso de drogas, em que se procura entrevis- vesse ocorrido. Ou seja, os elementos são es-
tar grupos de usuários de drogas e se solicita colhidos dentre aqueles que apresentam com-
que indiquem outros usuários para a continui- portamento não usual, ou raro. Esse seria o
dade da pesquisa. caso de escolher objetos de auditoria em que
já há indícios de irregularidades, ou denúncias.
Na amostragem por cotas, busca-se obter uma
amostra que se assemelhe à população no que Nesses casos, faz-se necessário que a equipe
diz respeito a um determinado conjunto de fa- explicite essa limitação em seu relatório, para
tores. São consideradas várias características evitar generalizações inadequadas por parte
da população, tais como sexo, idade, nível de do leitor e para evidenciar o verdadeiro alcan-
renda, localização geográfica, dentre outros. ce das conclusões obtidas.
Ou seja, as amostras são preenchidas por quo-
tas de acordo com a proporção de certas vari- Auditorias que utilizam amostragem não pro-
áveis demográficas na população. Isso significa babilística, mesmo não podendo fornecer
que se faz necessário um conhecimento prévio conclusões definitivas sobre o universo estu-
das características da população ao se empre- dado, podem produzir informações e indicati-
gar esta técnica. vos relevantes para a compreensão dos itens
observados e gerar evidências qualitativas im-
A amostragem por quotas é considerada não portantes, que podem ser corroboradas por
probabilística em função de os elementos que outras evidências, ou pela confirmação dos
irão compor a amostra não serem seleciona- gestores.
dos de forma aleatória. A validade da utilização
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 61
A fórmula empregada para calcular mais de duas proporções, utiliza um fator z’ que é obtido a
partir do fator “z”. Esse ajuste é uma função da quantidade de categorias utilizadas, representa-
das por “k”.
Assim, a fórmula para se calcular o tamanho da amostra em proporções múltiplas passa a ser:
Para calcular “z’ ” é preciso, antes, calcular a área crítica relativa ao nível de confiança desejado,
por meio da seguinte fórmula:
Onde:
k = número de categorias;
(1-α) = nível de confiança.
A fórmula acima fornece o valor da área crítica. Esse valor deve ser, então, subtraído da área da
metade da curva normal, que, como vimos, é 0,5. O valor resultante permite achar o valor de “z’
” numa tabela específica construída para facilitar o uso.
Então, a área que define “z’ ” será: 0,4915 (0,5 – 0,00848). Pela tabela abaixo essa área corres-
ponde a um fator “z’ ” de 2,39.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 67
É interessante observar que, para o mesmo nível de confiança, 95%, obtivemos um fator “z’ ”
maior que o fator “z” habitual, o que implicará, também, uma amostra maior, uma vez que o
tamanho da amostra é diretamente proporcional a “z”.
Como decorrência disso, ao se utilizar questionário com várias perguntas, o tamanho da amostra
deverá ser calculado considerando a questão com maior quantidade de opções de resposta, que
é a que exigirá um tamanho de amostra maior.
Como nos casos anteriores, a fórmula para o cálculo do tamanho da amostra pode necessitar
ser ajustada, considerando o tamanho da população. Nesse caso, a fórmula a ser utilizada é a
seguinte:
68 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
Para gerar uma lista aleatória, a forma mais fácil é utilizar o Excel. Abaixo segue um passo a passo.
1. Insira uma coluna antes da coluna que contém os dados (selecione a coluna com os dados,
clique com o botão direito do mouse e clique em “inserir”)
Atenção ao segundo número do par ordenado. Ele deve ser muito maior que o tamanho da
população para evitar repetições.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 69
3. Arraste a fórmula para as outras linhas (selecione a célula, clique com o botão esquerdo do
mouse no canto inferior direito da célula e arraste até a última linha com dados). O resultado
ésemelhante ao mostrado na tela a seguir:
70 Fase Analítica da Auditoria – MÓDULO 3
4. Selecione a coluna com os números gerados, clique com o botão direito e depois em “Copiar”
na janela que vai aparecer. Selecione novamente a mesma coluna, clique com o botão direito
e depois em “Colar Especial” na janela que vai aparecer. Selecione “Valores” e clique em “OK”.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 71
6. Pronto, agora use os n primeiros números como os elementos da sua amostra de tamanho n.
Importante
É desejável que os auditores tenham noções de estatística
para poderem tomar decisões sobre como utilizar amostragem
em trabalhos de auditoria. Ainda assim, recorrer ao apoio de
um especialista em estatística pode ser útil para assegurar a
qualidade da amostragem.
72 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4
MÓDULO 4
FASE OPERATIVA
DA AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 4 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase operativa de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguin-
tes seções e objetivos de aprendizagem:
A fase operativa corresponde à execução do que foi planejado na fase analítica. O objetivo
central nessa fase é obter evidências para caracterizar as constatações de forma consistente.
Evidenciação insuficiente compromete seriamente a qualidade da auditoria.
Para que possa ser bem-sucedida nesse intento, a equipe de auditoria deve pautar sua ação pelas
matrizes de coleta e análise de informações e executá-la dentro do cronograma desenvolvido. Os
principais produtos dessa fase da auditoria são a matriz de constatações e o relatório preliminar,
que sistematizam as constatações de auditoria e suas evidências.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 73
Ao lado das matrizes e dos papéis de trabalho, Um tipo de imprevisto ocorre quando a equi-
o cronograma é outro instrumento que auxilia pe se depara com fatos alheios ao escopo do
a equipe a manter o foco no que foi planeja- trabalho, porém relevantes. O que fazer? Duas
do ao indicar a sequência de atividades e os opções se apresentam. A primeira seria regis-
responsáveis por elas. É importante mesmo trar sucintamente o fato por meio de notas e
quando a auditoria é simples e o período de fotografias e relatá-lo ao supervisor, que irá
verificação in loco é reduzido. Em auditorias decidir se isso poderá ser abordado em outra
complexas e mais demoradas, cronograma é ação de controle.
imprescindível.
A segunda opção é abordar o fato inesperado
A realização das atividades de coleta de na auditoria em curso, desde que as seguintes
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 77
a) se o fato estiver muito próximo do escopo O foco de uma auditoria está em obter evi-
previsto e puder se constituir no núcleo de uma dências de que a situação do objeto auditado
nova constatação; atende ou não ao critério aplicável. Segundo a
publicação Auditoria do SUS,
b) se houver tempo para recolher evidências
que permitam confirmar essa constatação; e A essência da fase operativa é a busca de evidências
que permitem ao auditor formar convicção sobre os
c) se isso não prejudicar a coleta de evidências fatos. As evidências são as informações que funda-
já planejada. mentam os resultados de um trabalho de auditoria. A
obtenção e a análise de dados é um processo con-
No caso de incorporar o fato novo à auditoria, tínuo, que inclui a coleta e a reunião de documentos
as matrizes de coleta e de análise devem ser comprobatórios dos fatos observados, cuja análise e
atualizadas. interpretação têm como objetivo fundamentar o posi-
cionamento da equipe de auditoria sobre os fatos au-
Terminado o período das verificações in loco, é ditados. As evidências validam o trabalho do auditor,
recomendável realizar reunião de encerramen- sendo consideradas satisfatórias quando reúnem as
to para informar ao auditado sobre os próximos características de suficiência, adequação e pertinência
passos, inclusive o envio de relatório preliminar (BRASIL, Ministério da Saúde, 2011, p.22).
para que ele tome conhecimento do que foi en-
contrado pela equipe de auditoria e a possibili- Ao resultado da comparação entre critério e
dade de ele oferecer justificativas para o caso situação encontrada dá-se o nome de consta-
de não conformidades. tação. Uma constatação pode ser conforme,
quando a situação atende ao critério, ou não
Possíveis constatações podem ser apresentadas conforme, quando há discrepância entre situ-
nessa reunião verbalmente, dando ao auditado ação e critério. São elementos da constatação
a oportunidade de prestar algum esclarecimen- a situação do objeto, carcaterizada por evidên-
to útil às análises da equipe. Deve-se deixar cla- cias, o critério que define a situação ideal do
ro que as constatações são preliminares e que objeto, a causa que levou à situação e o efeito
poderão vir a ser confirmadas ou excluídas em gerado (figura 25).
virtude de análise mais aprofundada.
Evidência física: obtida por inspeção física; deve ser documentada por meio de amostras, foto-
grafias e filmes.
Evidência testemunhal: declarações tais como as obtidas em entrevistas e grupos focais. Esse
tipo de evidência deve ser registrada em documentos, sejam de áudio, vídeo ou textuais, de
modo a permitir sua análise.
Evidência analítica: obtida por meio de cálculos, comparações e raciocínio lógico utilizando-se in-
formações coletadas. Podem ser apresentadas em planilhas de cálculo e quadros comparativos,
por exemplo.
Evidências podem estar sujeitas a limitações Caso 1 – Auditoria realizada para apurar irre-
que afetam sua suficiência e adequação. gularidade na execução de convênios.
Evidências testemunhais tendem a não ser su-
ficientes, o que requer, para sua utilização em Constatação: A porta de entrada dos pacien-
auditoria, sejam corroboradas por documento tes ao tratamento oncológico na Fundação do
ou observação. Câncer não ocorre pela Central de Regulação
de Alta Complexidade.
Evidências provenientes apenas do gestor ou
da equipe da unidade auditada podem não
Evidência: A organização da porta de entra-
ser adequadas devido a problemas de viés, o da dos pacientes ao tratamento oncológico na
que afeta a confiabilidade. O mesmo ocorre Fundação, não ocorre a partir da Central de
quando a única fonte consultada tem interes- Regulação de Alta Complexidade do Estado.
se no resultado do trabalho. Nesses casos, o Essa ferramenta existe, mas o tratamento de
auditor deve procurar obter uma outra fon- Oncologia não está sendo regulado pela mes-
te de evidências para melhor fundamentar a ma, em desacordo com a Portaria GM/MS
constatação. no.1559/2008 artigo 8o paragrafo 1o incisos
I,II,V,VI e as orientações do INCA/MS.
Evidências obtidas de amostras não-represen-
tativas ou relacionadas a ocorrência isolada Fonte da Evidência: No SCNES, sob o nº
não permitem fazer afirmações em relação 99999, está cadastrado, no Estado X, o
ao conjunto de casos, o que representa uma Complexo Regulador, tendo como um dos ní-
limitação. veis de atenção a Central de Regulação de Alta
Complexidade.
A seguir, são analisadas evidências apresenta-
das em relatórios de auditoria do DENASUS. Conformidade: Não Conforme
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 81
Trata-se de ferramenta utilizada para organizar informações necessárias à sustentação das cons-
tatações obtidas. O processo lógico para identificação de constatações e formulação de reco-
mendações traz os elementos fundamentais envolvidos com uma constatação.
Critério de auditoria
(o que deveria ser)
Evidência (o que é)
Determinação de
causas e efeitos
Formulação da recomendação
O ponto de partida é o critério de auditoria, que pois há maior eficácia quando a recomendação
indica a situação ideal do objeto, definida por é dirigida à eliminação da causa de uma situação
norma ou padrão. Em seguida, toma-se a situa- não conforme. Explicitar o efeito dá a dimensão
ção real do objeto, encontrada na auditoria. Da da gravidade de uma situação não conforme.
comparação do critério com a evidência, surge
a constatação, que pode ser conforme ou não A organização dos elementos da constatação
conforme. no contexto de uma auditoria é feita por meio
de matriz de constatações, que, para cada
Uma constatação tem causas e efeitos, cuja ex- constatação, apresenta os respectivos crité-
plicitação contribui para sua caracterização. A rios, evidências e suas fontes, causas, efeitos e
causa da constatação é o alvo da recomendação, recomendações.
84 Fase Operativa da Auditoria – MÓDULO 4
Constatações
Evidências
Critérios
Recomendações
O relatório preliminar é elaborado pela equipe com base nas constatações preliminares resul-
tantes dos trabalhos de verificação in loco. Trata-se de instrumento exclusivo de notificação ao
órgão, instituição ou unidade verificada, e aos agentes indicados como responsáveis. Com base
no relatório preliminar, o auditado apresenta justificativas para as constatações não conformes.
fonte de evidências
recomendações
constatação
evidências
}
MÓDULO 5
FASE DE RELATÓRIO
Este capítulo está organizado para apoiar o de-
senvolvimento do módulo 5 em sala de aula,
cujo objetivo foi o de preparar os participantes
para discutir com propriedade as característi-
cas de um relatório de auditoria eficaz e proce-
dimentos para encerramento da auditoria. O
capítulo é composto pelas seguintes seções e
objetivos de aprendizagem:
A construção de um bom relatório começa O conteúdo do relatório deve ser de fácil en-
com a interpretação da demanda e a elabora- tendimento, utilizando-se uma linguagem di-
ção da tarefa, quando se definem as questões reta, com períodos curtos e vocabulário ade-
de auditoria e o escopo. Ter um foco bem de- quado, e respeitando-se os aspectos técnicos
finido favorece o planejamento da auditoria, o do objeto da auditoria. Os termos técnicos,
que, por sua vez, favorece uma execução obje- desde que necessários, devem ser definidos
tiva buscando obter um conjunto de constata- em notas de rodapé ou glossário. Além disso,
ções relevantes, suficientemente apoiadas em as constatações devem ser apresentadas de
evidências bem documentadas. maneira direta e objetiva, demonstrando a
convicção da equipe de auditoria nos resulta-
Se as fases analítica e operativa foram bem dos do seu trabalho. Expressões que denotam
sucedidas e redundaram em constatações re- incerteza, tais como “parece que” ou “enten-
levantes apoiadas em evidências suficientes, demos”, enfraquecem a argumentação.
adequadas e pertinentes, organizar esse mate-
rial em um texto bem cuidado e organizado é o O relatório não é uma peça literária. Por isso,
passo seguinte. Porém, nem a melhor retórica deve-se eliminar o supérfluo, o floreio, as me-
vai resolver um problema de inconsistência na táforas e analogias desnecessárias. Sobretudo,
análise ou insuficiência de evidências. deve-se evitar clichês. Se for transcrever algum
texto, deve-se fazê-lo somente quando neces-
sário ao entendimento do raciocínio. O relató-
rio deve ater-se apenas a aquilo que é relevan-
Importante te, que tem importância dentro do contexto,
que contribui para as conclusões ou reforça as
Relatório depende fundamen- evidências.
talmente de um bom planeja-
mento da auditoria (fase ana- A análise das evidências envolve argumentação
lítica) e de uma boa execução lógica baseada em fatos (evidências). Por isso,
(fase operativa). deve-se evitar inferências descabidas, precon-
ceitos e opiniões não embasadas em fatos.
90 Fase de Relatório– MÓDULO 5
sendo objeto de auditoria. A visão geral deve 743/2012 dispõe sobre o procedimento de no-
trazer uma descrição do objeto auditado que tificação e oitiva de agentes públicos, órgãos e
permita ao leitor compreender a sua relevân- entidades públicas e pessoas físicas e jurídicas
cia e as suas principais características. privadas, além de outros interessados, a res-
peito de resultados de auditorias e outras ati-
Metodologia vidades de controle realizadas pelo DENASUS.
A equipe deve informar as estratégias meto- Toda constatação de não conformidade implica
dológicas e os métodos de coleta e análise de a audição do auditado em função do princípio
dados empregada, e descrever o modo como do contraditório e da ampla defesa, previsto
foram utilizados. É fundamental indicar os na Constituição Federal (art. 5º, inc. LV). Mas
procedimentos adotados para estabelecer os não é somente em função do princípio do con-
critérios de auditoria, os métodos emprega- traditório que devemos ouvir o auditado a res-
dos na coleta de evidências e na definição de peito das nossas constatações. Por melhor que
achados e recomendações. tenha sido o planejamento da auditoria, por
melhores que sejam os instrumentos de coleta
Sempre que forem utilizados métodos estatís- e por mais que os auditores sejam cuidadosos
ticos ou outras abordagens quantitativas de na análise das evidências e interpretações dos
análise de dados, esses métodos devem ser normativos, haverá sempre certo risco de que
devidamente detalhados. Da mesma forma, se as constatações obtidas não retratem adequa-
as constatações e conclusões basearem-se no damente a realidade, ou de que as conclusões
exame de uma amostra, a equipe deve infor- e recomendações apontem para a direção er-
mar a técnica de amostragem utilizada e justi- rada. Para minimizar esse risco, deve-se sub-
ficar a sua escolha. meter o relatório preliminar aos auditados.
Por fim, também devem ser mencionadas as É razoável pressupor que o auditado, na condi-
limitações impostas ao trabalho de auditoria ção de gestor do objeto da auditoria, conhece
associadas à confiabilidade ou à dificuldade na com razoável profundidade esse objeto, ou,
obtenção de dados, assim como as limitações pelo menos, conhece mais do que o auditor.
relacionadas ao próprio escopo do trabalho, Assim, se houver alguma imperfeição na cons-
ou seja, as áreas e os aspectos não analisados. tatação, é o olhar crítico do auditado que me-
lhor pode evidenciá-la. Ou seja, ouvir o audita-
do, além de dever em função do princípio do
5.2 Análise de justificativas do contraditório, é uma ótima oportunidade para
auditado qualificar o trabalho de auditoria.
Do ponto de vista formal, a Portaria GM/MS nº Evidentemente, quanto mais claro e completo
92 Fase de Relatório– MÓDULO 5
for o relatório preliminar encaminhado para a sim contrarrazões que podem alterar a análise
manifestação do auditado, melhor será a qua- ou interpretações das evidências, ou mesmo do
lidade desses comentários. De nada adianta critério de auditoria (por exemplo, uma nova
enviar um relatório incompleto ou confuso, regulamentação), o esforço da equipe deve ser
que dificulte o entendimento do auditado do em considerar a plausibilidade dos argumen-
que está em questão. tos apresentados. Mesmo que os novos argu-
mentos não sejam suficientes para convencer a
Análise das justificativas equipe, a mera dúvida, se não resolvida tempes-
tivamente, já é suficiente para alterar o teor da
Em função do princípio do contraditório, todas constatação. Lembre-se de que o compromisso
as alegações apresentadas pelo auditado de- do auditor é com a verdade, ou com a melhoria
vem ser objeto de análise. De fato, não exami- do serviço público, e não com as próprias ideias.
nar alguma das alegações pode se configurar
numa violação ao princípio do contraditório, o Caso o auditado apresente uma alegação que
que pode levar o auditado a contestar o rela- não esteja relacionada a qualquer constatação,
tório final. a equipe deve explicitar isso na análise de jus-
tificativas. Seja como for, deve ficar claro que
Na análise das justificativas apresentadas, a houve manifestação do auditado, mas que es-
equipe de auditoria deve ficar especialmente sas não dizem respeito ao conteúdo do relató-
atenta às situações que contestem ou pro- rio. Nesse caso, a justificativa do auditado tam-
blematizem as constatações. Há duas situa- bém deve ser anexada ao relatório, para que
ções típicas que podem provocar a revisão da possíveis leitores possam se certificar da inter-
constatação. Primeiramente, o auditado pode pretação dada pela equipe de auditoria.
apresentar evidência nova, ou contestar a ve-
racidade de uma evidência apresentada pela Do ponto de vista da organização do relatório,
equipe. Nessa situação, a equipe deve se per- a melhor prática é colocar a justificativa do au-
guntar se a novidade está diretamente relacio- ditado no respectivo campo. Contudo, se o tex-
nada a constatação. Será que ela pode ser con- to for muito grande, ou contiver documentos
siderada uma exceção ou é forte o suficiente anexos, deve ser apresentada uma síntese ob-
para rever ou colocar em dúvida a constata- jetiva dos argumentos ou novos fatos. Nesses
ção? Há elementos suficientes para compro- casos, deve-se colocar o texto original como
var a veracidade dessa nova evidência? Em al- anexo, e referenciá-lo no corpo da justificativa.
guns casos, pode ser que seja necessário obter O mesmo deve se dar se a justificativa não for
elementos complementares, que permitam clara ou objetiva. A equipe deve fazer um es-
decidir a questão. forço de entendimento e reescrevê-la da for-
ma mais clara possível, colocando a justificativa
Caso o auditado não apresente fatos novos, mas original em anexo.
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 93
Vamos analisar alguns exemplos: Nesse caso, embora o auditado conteste a evi-
dência, não apresenta elementos suficientes
Exemplo 1 para corroborar seu ponto de vista. Portanto,
a equipe não acatou a justificativa. Contudo,
Constatação: O Núcleo da Vigilância epide- em função da forma como foi redigida a cons-
miológica da MEAC não apresentou registro tatação, o que realmente aconteceu não ficou
de investigação de óbitos maternos. claro. Antes de tudo, observe que a equipe
não explicitou o critério. A evidência também
Evidência: Os relatórios de epidemiologia não está clara, ela apenas repete o texto da
produzidos pela maternidade registram 12 constatação.
óbitos maternos no ano 2013 e 5 óbitos ma-
ternos até agosto/2014, sem apresentação Exemplo 2
de registro de investigação de óbitos mater-
nos durante os períodos de 2013 e 2014. Constatação: A maternidade não dispõe de
Centro de Parto Normal (CPN).
Fonte da Evidência: Cópia dos mapas com
os indicadores produzidos pelo o Núcleo da Evidência: A maternidade apresenta 09(nove)
Vigilância Epidemiológica da maternidade. quartos PPP (pré-parto, parto e pós-parto),
sendo 08 apartamentos com um leito por
Conformidade: Não Conforme. quarto e um apartamento com dois leitos
para observação da paciente, em áreas des-
Justificativa: “O Núcleo de Vigilância tinadas ao pré-parto, parto e pós-parto, não
Epidemiológica da Maternidade Escola Assis configurando um Centro de Parto Normal, em
Chateaubriand (MEAC) informa que os 12 desacordo com o que determina o Art.4º da
óbitos maternos de 2013 e os 5 óbitos ma- Portaria GM/GM nº 985, 05 de agosto de 1999
temos ocorridos até agosto de 2014 foram e Art. 1º da Portaria GM/MS nº 904, de 29 de
100% investigados, conforme documento em maio de 2013.
anexo (Anexo 1).”
Fonte da Evidência: Visita à maternidade, em
Análise da Justificativa: O Núcleo de 08/09/14.
Vigilância Epidemiológico não encaminhou as
cópias das investigações dos referidos óbitos Conformidade: Não Conforme
maternos, apenas foram encaminhados os in-
dicadores epidemiológicos. Justificativa: “A MEAC possui atualmente um
Centro de Parto Humanizado que atende pa-
Acatamento da Justificativa: Não cientes de baixo e alto risco, sendo os partos
realizados por médicos e enfermeiros. Existe
94 Fase de Relatório– MÓDULO 5
Além disso, a recomendação deve ser clara com o inciso II, do artigo 37, da Portaria/GM/
e objetiva, em especial sobre o que e como MS nº 204, de 29 de janeiro de 2007.
deve se dar a mudança desejada. E se possí-
vel, uma estimativa dos resultados esperados Fonte da Evidência: Processos de pagamentos
com essa mudança. analisados, do período 2013 a 2014.
informamos que se encontram gravadas em por quanto tempo e em que local. E ainda, se
midia eletrônica os anexos, da citata impro- for os casos, as consequências de não cumprir
priedade. Ressalta-se que o pagamento do exatamente o que se pede.
valor de R$ 18.257,03 (Dezoito mil, duzentos
e cinquenta e sete reais e três centavos), re-
gistrados nas dispensações ficará condicio- 5.4 Proposição de devolução de
nado ao encaminhamento da documentação recursos
comprobatória.
A proposição de devolução de recursos decor-
Fonte da Evidência: Autorizações consolida- re de uma constatação de não conformidade
das no mês de agosto de 2014. na utilização de recursos destinados a ações e
serviços de saúde, sejam recursos repassados
Conformidade: Não Conforme. fundo a fundo a Estados e Municípios, sejam
recursos repassados a entidades privadas por
Acatamento da Justificativa: Não apresentou meio de convênios, contratos ou instrumentos
justificativa. congêneres.
Dentro de cada uma dessas hipóteses, existem devolução, que constituem fontes de evidências;
diversos motivos que ensejam uma proposi-
ção de devolução de recursos, como indicado g) documentos administrativos da auditoria:
na publicação Devolução de recursos em au- demanda e tarefa; ofício de apresentação da
ditorias do SUS (BRASIL, 2014). Os motivos in- equipe e comunicado de auditoria; AR do rela-
dicados constituem o núcleo da constatação, tório preliminar e ofício do auditado com a jus-
que deve ser construída desta forma: tificativa; relatório de auditoria e ofício de enca-
minhamento da auditoria.
“Constatou-se (motivo da devolução), contrariando a
(fundamentação legal)”. Caso a proposição de devolução elaborada pelo
auditor não seja cuidadosamente fundamenta-
Exemplo: da de modo a observar esses requisitos, ela po-
derá ser derrubada administrativamente a par-
Constatou-se que o responsável não apre- tir da justificativa do auditado ou judicialmente.
sentou comprovação da entrega dos medica-
mentos adquiridos, contrariando o previsto no 5.5 Elaboração de conclusão
artigo 63, § 2º, inc. III da Lei 4.320/1964, que
estabelece que a liquidação da despesa por for- A conclusão do relatório de auditoria tem por
necimentos feitos terá por base os comprovan- objetivo oferecer uma visão global e sintética
tes da entrega de material. dos aspectos tratados em cada um de seus
capítulos, de maneira a se obter um quadro
Para que a proposição de devolução de recur- geral compreensível das principais constata-
sos seja consistente, os seguintes requisitos são ções e das recomendações cabíveis. A conclu-
necessários: são deve conter a síntese das constatações e
suas recomendações, a indicação de dificul-
a) especificação do objeto: tipo de recurso (blo- dades enfrentadas pelos auditados e de suas
co de financiamento, recurso do TAS, repasse iniciativas positivas para superá-las.
por convênios e congêneres);
b) motivo da devolução;
A equipe deve destacar os possíveis bene- A conclusão não deve ser uma exposição ex-
fícios esperados com a implementação das tensa de fatos ou argumentações detalhadas.
recomendações feitas. Sempre que possí- Além disso, ela não deve conter nenhum fato
vel, deve quantificá-los em termos de eco- ou argumento novo, que não tenha sido trata-
nomia potencial de recursos ou de melhoria do no corpo do relatório. Deve-se evitar opini-
no desempenho do objeto auditado. Nesse ões que extrapolem o conteúdo das análises e
sentido, a factibilidade das recomendações constatações.
sugeridas deve ser objeto de uma análise
criteriosa por parte da equipe de auditoria, Exemplo
incluindo o exame do impacto dos proble-
mas identificados e de como tais recomen- “O SAMU 192 do Município de Imperatriz foi
dações podem gerar melhorias. habilitado pelo Ministério da Saúde na Rede
Nacional de Atenção às Urgências em 2005,
É recomendável, que a equipe adote uma contando atualmente com uma Central de
abordagem equilibrada, reconhecendo as Regulação e três Bases Descentralizadas no
dificuldades enfrentadas pelo gestor e des- próprio município, regulando mais 14 Bases
tacando as iniciativas importantes por ele Descentralizadas em outros municípios. A
empreendidas para melhorar o desempenho Central de Regulação encontrava-se de acor-
e superar as deficiências apontadas. do com os parâmetros preconizados quanto à
divisão e dimensionamento dos ambientes, e
Por fim, a equipe deve incluir no relatório as Bases Descentralizadas no município pos-
quaisquer temas ou questões que conside- suíam localizações adequadas e instalações
re relevantes, mas que não façam parte dos com as áreas mínimas necessárias. A frota
objetivos da auditoria, para que sejam exa- de veículos em operação está formada por
minados oportunamente. duas Unidades de Suporte Avançado - USA,
sete Unidades de Suporte Básico - USB e uma
motolância, devidamente caracterizadas com
o logotipo padronizado pelo Ministério da
Saúde.
Importante
Foram identificadas não conformidades, tan-
Não se pode concluir so- to na Central de Regulação quanto nas três
bre o que não foi objeto Bases Descentralizadas, destacando-se: desa-
de análise suficiente! tualização cadastral; quantidade de médicos
reguladores e TARM insuficiente; inexistência
de vínculo empregatício formal com os médi-
cos; unidades móveis com recursos materiais
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 99
documentação que apoia a auditoria. Ofícios, e elaboração da tarefa, passando pela carac-
documentos, papéis de trabalho, evidên- terização consistente das constatações, até
cias materiais, tudo deve estar organizado e a produção de um texto claro e objetivo que
armazenado adequadamente para futuras comunique adequadamente ao leitor o que foi
consultas. feito na auditoria e quais os resultados.
A pergunta que a equipe deve se fazer é: Todos Para facilitar a verificação de requisitos es-
os papéis de trabalho e fontes de evidência ne- senciais de um relatório de auditoria, foi ela-
cessários e citados no relatório estão disponí- borado o checklist mostrado na figura 30.
veis e armazenados para utilização da equipe, Recomenda-se que tanto a equipe quanto o
supervisor, órgão de controle de qualidade e supervisor revisem os relatórios considerando
terceiros com a qualidade e tempestividade esses itens.
adequada?
A primeira linha de defesa da qualidade é feita
Pode-se traçar um paralelo entre uma audito- pela própria equipe. É comum que cada parte
ria e uma pesquisa científica: do relatório tenha sido feita por um membro
da equipe. Assim, uma boa prática é que cada
• Ambas devem ser suficientemente bem membro da equipe leia todo o relatório uma
documentadas, de modo que seja possível vez mais e aponte erros de redação, trechos
verificar todas as informações! ambíguos ou pouco claros e pontos fracos na
fundamentação das constatações.
• Ambas devem ser completas, no sentido
de que com todos os elementos que con-
tribuíram para as conclusões estão presen- Importante
tes. Assim, qualquer um poderia recons-
truir passo a passo o caminho percorrido Recomenda-se que os
pela equipe até os resultados obtidos. membros da equipe re-
leiam o relatório e veri-
Uma vez finalizado o relatório de auditoria e fiquem os itens de qua-
organizada a documentação, é preciso ainda lidade relacionados no
fazer uma última checagem com o objetivo checklist.
de obter a máxima qualidade. A qualidade de
um relatório de auditoria vai muito além da
linguagem e de aspectos formais de redação.
Ela se manifesta na observância de um con-
junto de aspectos construídos ao longo da
auditoria, desde a interpretação da demanda
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 101
Em seguida, cabe ao supervisor técnico, ainda Muitas vezes, estar a uma certa distância do
que tenha acompanhado de perto todo o de- processo permite uma leitura mais objetiva
senvolvimento da auditoria, fazer uma revisão do relatório. É bastante comum que a equi-
minuciosa, considerando: pe de auditoria, e mesmo o supervisor técni-
co, quando atua mais próximo da equipe du-
- a forma, a qualidade da escrita, e sobretudo rante a execução, acabe por se esquecer de
a correção e a clareza; explicitar algum elemento essencial da sua
argumentação.
- a estrutura lógica do relatório, verificando se
todas as constatações estão devidamente evi- Considerando a importância dos relatórios de
denciadas, se as recomendações estão ampa- auditoria, é fundamental que haja diferentes
radas nas constatações e se a conclusão não níveis de verificação de qualidade. Se o obje-
extrapola as constatações. tivo é fazer com que as auditorias contribuam
com a melhoria da gestão do SUS, deve-se
O supervisor é responsável pela segunda linha buscar a qualidade do processo como um todo
de defesa da qualidade. Um trabalho bem fei- e, em especial, do relatório de auditoria, seu
to de revisão pelo supervisor diminui bastante principal produto.
a chance de erros graves nos relatórios. Uma
boa prática é usar o check list apresentado
acima para orientar a revisão por parte do
supervisor.
Importante
A última verificação de qualidade é feita pela Quando tudo estiver
CMAUD em Brasília, o que deve ser visto pela pronto, leia o relatório
equipe como mais um nível de segurança, que mais uma vez!
visa a garantir a qualidade do trabalho de audi-
toria. Embora possa parecer redundante, essa
última etapa é muito importante, pois propicia
uma revisão ao mesmo tempo técnica e com
uma razoável distância do processo de audi-
toria. A CMAUD analisa o relatório com base
unicamente nos elementos nele contidos, o
que geralmente permite observar se todos os
elementos necessários para caracterizar cons-
tatações, recomendações e conclusão estão,
de fato, presentes.
103
Referências
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Padrões de auditoria de conformidade. Brasília: TCU, 2009.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de entrevista para auditorias. Brasília: TCU, 2010.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de observação direta em auditoria. Brasília: TCU,
2010.
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BRASIL. Tribunal de Contas da União. Painel de referência em auditorias. Brasília: TCU, 2013.
BRASIL. Tribunal de Contas da União. Técnica de grupo focal para auditorias. Brasília: TCU,
2013.
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