Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES

GUSTAVO PIMENTEL NASCIMENTO

UMA ANÁLISE DA IMPRENSA GAY NO BRASIL

SALVADOR
2018
O surgimento da imprensa gay no Brasil
Murilo Nonato mostra em seu artigo (2013), que o surgimento do homossexual representado pela
imprensa é anterior ao aparecimento de uma imprensa voltada para esse público.

As primeiras aparições da figura gay na imprensa brasileira já em 1904.


Cartunistas desenhavam homens femininos de forma caricata na tentativa de
produzir humor. A revista humorística O Malho, por exemplo, em uma de suas
edições exibiu uma charge junto a um poema intitulado Fresca Theoria em que
satirizavam homens que se reuniam na Praça Tiradentes em busca de relações
sexuais no local. Em 1914, foi publicado também o conto homoerótico O
Menino de Gouveia, pela revista Rio Nu. (VELOSO e SANTOS, apud,
NONATO, 2013, pp. 3-4)

Na década de 1950, os primeiros grupos LGBT brasileiros surgiram essencialmente por causa da
grande necessidade de sociabilização que essa parcela da população possuía. Dessa forma, esses
grupos não tinham um caráter político, militante nem informativo, portanto, posteriormente os
jornais gays iriam ser criados como meios de comunicação alternativos que pudessem engajar
esses grupos.
No Brasil, a mídia LGBT começou na década de 1960. Nessa época, começaram a surgir os
jornais alternativos, uma vez que os jornais de grande circulação não davam espaço para essa
pauta. Segundo Péret (2011, p 18), "As primeiras publicações no país voltadas especificamente
para homossexuais eram feitas de maneira artesanal, mimeografadas e distribuídas ou trocadas
entre pessoas das diferentes turmas"
O primeiro jornal LGBT foi o carioca Snob, criado em 1963, por Agildo Guimarães. Desse modo,
houve a primeira publicação abertamente homossexual no país. No seu início, ele continha
fofocas, entrevistas com travestis famosos e concursos de contos e poesias, posteriormente ele
passou a trazer reflexões no âmbito do movimento LGBT. De acordo com Péret (2011, p 19),
uma linguagem considerada própria e caracterizada como sarcástica e irônica. Ele foi extinto, em
1969,, época em que sofreu a censura do Regime Militar. Por ter sido o primeiro, ele acabou sendo
parâmetro para outros periódicos que surgiram na mesma década como o Little Darling e o Fatos
e Fofocas, como frisa Péret (2011).
Com o endurecimento do regime militar, muitos jornais dessa categoria deixavam de existir pouco
tempo depois de terem sido criados. Eles eram artesanais, com tiragem limitada e, em alguns
casos, única; era comum os autores usarem pseudônimos por questões de segurança. De acordo
com Péret (2011, p 20), “grupos minoritários tendem a usar uma linguagem cifrada, tanto para se
autoidentificar como para dificultar o entendimento por indivíduos que não participam da mesma
cultura". Assim, pode-se entender que esses jornais utilizavam uma linguagem própria e
específica desse grupo, adotando uma identidade textual diferenciada. A imprensa LGBT, assim
como a alternativa em geral, era considerada subversiva pelo regime militar. O termo
“subversivo”, em definição encontrada no dicionário eletrônico de Língua Portuguesa Priberam,
corresponde a “que ou quem pretende perturbar ou alterar a ordem estabelecida; revolucionário”
"A imprensa alternativa foi alvo sistemático de perseguição e controle. Jornalistas foram presos,
torturados e assassinados, edições recolhidas, e grupos paramilitares explodiram bombas caseiras
em bancas que vendiam publicações consideradas subversivas" (PÉRET, 2011, p. 45). Assim,
pode-se ter uma noção da tamanha repressão que a imprensa alternativa sofria no ditadura.
Entre as décadas de 1960 e 1970, os grupos militantes brasileiros começaram a incorporar ideias
dos movimentos da contracultura que estavam sendo disseminadas ao redor do mundo. Um dos
marcos desse movimento foi a revolta de Stonewall. Ela aconteceu no dia 28 de julho de 1969 em
Nova York e foi protagonizada pelas pessoas que frequentavam o bar Stonewall Inn, sobretudo
jovens, que protestaram contra a opressão e intolerância contra os homossexuais na cidade.

Esse confronto ocorrido em Stonewall marcou o movimento gay tanto nos


Estados Unido quanto no mundo em geral. A data que ocorreu tal conflito, 28
de junho de 1969 se tornou o dia do Orgulho Gay, a data mais importante do
calendário para esse movimento. A partir de então, o movimento homossexual
passou a ser um movimento identitário, e com adefesa de plataforma política,
fugindo do seu âmbito puramente sexual. (NASCIMENTO, 2011, p. 15)

Nesse contexto, em 1978, surge o Lampião da Esquina, o primeiro jornal gay de circulação
nacional, que também abrangia questões dos direitos de outros movimentos sociais, como
mulheres e negros. Segundo Péret (2011), “o jornal diferenciava-se pelo caráter político que
tinha. Ao contrário das publicações da década de 1960, que eram vendidas de forma clandestina,
esse jornal era comercializado nas bancas das grandes cidades. O Lampião ampliou a perspectiva
da discussão sobre a homossexualidade e abraçou a militância, aproveitando a onda da
redemocratização e do fim da censura prévia”. No final da década de 70, houve o surto da
indústria pornográfica, Lima (2007), atribui esse surto pelo interesse à pornografia ao fim da
distensão política, da repressão, da censura e da demanda reprimida por pornografia.

A imprensa LGBT na atualidade

Nos dias atuais, a mídia brasileira tende a representar pessoas LGBTs de uma forma
extremamente preconceituosa e sensacionalista, sendo isso muito frequente em programas
humorísticos.

Desde o século XIX, histórias escandalosas e crimes envolvendo


homossexuais enchem as páginas dos jornais brasileiros e, mais recentemente,
os programas de televisão. A abordagem, quase sempre, é preconceituosa,
homofóbica e sensacionalista. O humor, principalmente televisivo, também
possui longo histórico de utilização da imagem do homossexual para reforçar
estereótipos e estimular o machismo e a discriminação contra gays, lésbicas e
travestis. (Perét, 2011, p. 109)

Outro aspecto atual dessa mídia é o erotismo, especialmente voltado ao público homossexual
masculino, essa tendência passou a se fortalecer a partir de veículos como Júnior e DOM, lançados
nos anos 2000. Outra revista que ficou muito conhecida foi a G Magazine, que ganhou fama por
expor homens famosos pelados, ela circulou de 1997 até 2008.
Um conceito que surgiu nesse contexto foi o dinheiro rosa, que é uma tradução da nomenclatura
norte-americana pink money, que visa, segundo Péret (2011), designar a “consolidação de um
mercado de serviços específicos para o público gay”. No entanto, esse mercado criou uma
sensação falsa de aceitação por parte de alguns grupos. Assim, alguns homossexuais que se
encaixam em um determinado perfil são privigeliados, perfil este que é: homem, branco, másculo,
com alto poder aquisitivo e discreto. Esse poder de consumo gay funciona como uma barreira que
restringe as identidades sexuais e de gênero que se manifestam na sociedade, é a forma como o
capitalismo administra esse universo, utilizando os seus mecanismos potentes com toda a força.
O desenvolvimento do “mercado gay” também proporcionou novas formas de experimentação de
conteúdo para o público com o advento da internet. Essa nova fase possibilitou que o público
LGBT tivesse acesso à um maior leque de conteúdo específico e também vários sites de
entretenimento. Todavia, esse período coincidiu com a expansão da indústria pornográfica que se
tornou altamente lucrativa. A internet foi fundamental nesse processo, uma vez que muitos sites
e portais misturavam conteúdo jornalístico com um forte apelo erótico.
Segundo Nonato (2013, p. 11) , “Brasil é pioneira em vários aspectos. Entre eles está, em 1993,
a criação do Mix Brasil, o primeiro portal gay da América Latina. Enquanto era o único portal
gay produzindo para esse espaço chegou a alcançar 300 milhões de visualizações. O portal
pertence ao grupo Mix Brasil”. O que ilustra muito bem o papel importante que a internet teve na
época.
A limitação da imprensa e a exaltação da heteronormatividade
O termo Imprensa Gay, teoricamente tem a intenção de abordar publicações voltadas para todas
as identidades: gays, lésbicas, travestis, transexuais, etc. Porém, é notório que o termo evidencia
a limitação dessas publicações, já que privilegia um determinado grupo. O foco no homossexual
homem, cis, branco, bem-sucedido justifica de forma inconsciente a denominação Imprensa Gay.
Isso não se dá por acaso, as publicações voltadas para esse público seguem diretrizes capitalistas
e reforçam a estrutura social da heteronormatividade.

Principalmente com a produção de revistas a partir da década de 90 e os sites


voltados para os LGBTs, o segmento mostrou seu desejo em apostar no
erotismo de corpos esculturais, masculinos, respeitando um padrão de beleza
hegemônico. O homossexual, sempre o indivíduo do sexo masculino, era
incitado a consumir e se comportar de acordo com o padrão dominante do
homossexual masculino. Um corpo heterossexualizado, heternormativo.
(NONATO, 2013, p. 13)

Ooo

Você também pode gostar