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Visita de um protestante a uma Igreja Ortodoxa (Pe.

Daniel Sysoev)

Não muito longe do Teatro Taganka, de repente um jovem se dirigiu a mim com a pergunta: Você já
leu a Bíblia?

Apesar do fato de que eu sou obrigado a usar roupas sacerdotais em todos os lugares que eu vou,
tais perguntas se revelam inevitáveis. Eu respondi:

- Sim, de vez em quando. Já que você está obviamente familiarizado com este importante livro
ortodoxo, deixe-me perguntar-lhe: O que você especialmente gostou nele para que venha
imediatamente para as ruas da nossa cidade para pregar uma nova doutrina?

O jovem ficou um pouco confuso ao escutar essa pergunta imprevista, mas um pouco depois, após
de abrir a Bíblia, ele respondeu com uma frase estereotipada:

- Antes eu era um homem mau e minha consciência não me deixava em paz e tinha medo de me
perder. Mas eu tenho alguns amigos maravilhosos que me explicaram que não tenho nada a temer;
recebe Jesus como seu Salvador pessoal e você é justificado. Paulo escreve sobre isso: "Mas agora
se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça
de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença.
Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; Sendo justificados gratuitamente pela
sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus." (Romanos 3:21-24)

- Você acabou de ler palavras excelentes - respondi - e é verdade que todos aqueles que, por meio da
fé Ortodoxa, a qual "opera pelo amor" (Gálatas 5,6), recebem em seu coração a graça incriada, que
é dada gratuitamente na Igreja Ortodoxa - são justificados, isto é, são feitos justos pelo poder de
Deus. Mas, deixe-me perguntar-lhe, a que templo seus amigos maravilhosos vão?
O jovem me disse o nome de uma conhecida seita protestante.

- Os ortodoxos - observou ele - perverteram a Sagrada Escritura, adoram os ídolos e, em geral, são
homens que não renasceram em Cristo.

- É lamentável que você tenha caído sob a influência de homens "que causam divisões e obstáculos
contra a doutrina" (Romanos 16, 17) - respondi. Mas, como seus amigos culparam a Igreja
Apostólica por alterar a Bíblia, que ela mesma produziu, então, vamos comparar nossas crenças.

- De acordo.

- Eu acho que você vai concordar comigo que podemos julgar nossa fé por suas manifestações; já
que nosso coração só Deus conhece e não temos poder para penetrar em sua profundidade; E o que
poderia servir melhor como a manifestação da nossa fé do que a maneira como adoramos o
Criador?

- Sim. Eu concordo completamente - o jovem respondeu.

- Diga-me então, o que você mais gosta nos serviços de adoração de sua organização?

- Não da organização, mas da igreja - ele estremeceu. Nós tocamos violão, cantamos canções
bonitas, estudamos a Bíblia por versos, sentimos que o outro é nosso irmão e nos alegramos porque
Deus já nos salvou. Em todos os nossos serviços, o amor puro governa (diferentemente dos serviços
ortodoxos), todos são felizes. Nossos serviços me dão grande satisfação e me permitem um
conhecimento sério da palavra de Deus. Não é como nos serviços dos ortodoxos. Você ora em uma
linguagem incompreensível. Se alguém vem visitar sua igreja, ele é completamente ignorado.
Ninguém se interessa nele ou explica algo para ele. Vovós com velas repreendem os outros. Vocês
não estudam a bíblia. Além disso, todos seus templos, ícones, relíquias dos santos contradizem as
Escrituras.

- Você falou muito bem sobre seus ofícios - respondi. Mas antes de criticar os serviços ortodoxos,
você realmente precisa tentar vivê-los, ficar de pé por algum tempo e orar, e não sair por aí dizendo
coisas que você não compreende, como um membro excessivamente zeloso do Partido da Juventude
Comunista. Vamos voltar agora para seus serviços. Eu observei a partir de sua descrição que seus
serviços se centram em torno de vocês mesmos - suas necessidades e emoções. Bem, mas você vai
concordar comigo que somos seres terrestres, certo?

- Sim claro. Mas por que você menciona isso?

- Porque a Revelação de Deus diz claramente: "Portanto, já que vocês ressuscitaram com Cristo,
procurem as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus. Mantenham o
pensamento nas coisas do alto, e não nas coisas terrenas. Pois vocês morreram, e agora a sua vida
está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a sua vida, for manifestado, então vocês
também serão manifestados com ele em glória."(Colossenses 3, 1-4). O próprio Senhor nos ensina:
"Mas buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas"
(Mateus 6:33). Por essa razão, o ponto central dos serviços divinos deve ser a glorificação de Deus,
arrependimento diante dEle e não nossas emoções e relacionamentos com os outros. O principal é a
vida em Cristo, e não as palavras sobre Ele. A Bíblia deve ser usada para oração, não como livro de
referência para procurar versículos. Sobre aqueles que, como seus amigos, colocam como base não
Deus, mas a palavra sobre Ele ou, o que é ainda pior, seus sentimentos provocados pela palavra, o
apóstolo Paulo diz: "Porque muitos há ... que são inimigos da cruz de Cristo, cujo fim é a perdição;
cujo Deus é o ventre, e cuja glória é sua vergonha (não se trata aqui, pois, dos grupos de rock
protestantes?), que só pensam nas coisas terrenas. Mas a nossa cidade está nos céus, de onde
também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo..." (Filipenses 3:18-20) É evidente, então, que
seus serviços contradizem o mandamento de Deus. O sábio Salomão diz: "O que desvia os seus
ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável" (Provérbios 28, 9). Tenha medo do
castigo de Deus e não julgue a Igreja Apostólica que vive da Revelação de Cristo.

Ao longo do meu longo discurso, o jovem continuou tentando levantar objeções, mas eu perguntei-
lhe:

- Bem, por acaso eu disse algo que não é da Escritura? Eu não descrevi seus serviços? No entanto,
agora você está tentando justificar uma ilegalidade evidente! O Senhor fala através do profeta
Isaías: "Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e
fazem do amargo doce, e do doce amargo!” (Isaías 5, 20). Naquele momento, meu interlocutor
tentou fugir da questão delicada. Me disse:

- Bem, você afirma que servimos a Deus erroneamente. Mostre, então, da Bíblia, que os Ortodoxos
oram a Ele com retidão.

- Bem, eu respondi. Não muito longe daqui, há um templo em que o serviço das vésperas começará
em breve. Vamos até ele e eu, com a ajuda de Deus, esforçar-me-ei para mostrar-lhe que tudo, tanto
a constituição do templo como os nossos serviços divinos, são completamente bíblicos. Não pense
que eu quero te ofender. Pelo contrário, quero que você e eu cheguemos ao conhecimento da
Verdade e, através dela, à unanimidade. Pois eu e você devemos cumprir o mandamento do
Salvador: "para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles
sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste" (João 17, 21).

- Estou de acordo - respondeu ele. - Tente mostrar que todos os seus templos, ícones, relíquias de
santos, velas, incensários não contradizem a Bíblia. Eu não acho que vá conseguir isso!

- É excelente que você tenha concordado. Isso é um sinal de Deus que seu coração está aberto à luz
do Evangelho. Bem, vamos voltar ao que já observamos. Vimos da Bíblia que a essência dos
serviços divinos deve ser pensada não do terreno, mas do celestial. O próprio Senhor disse à mulher
samaritana: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em
espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa
que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade." (João 4:23,24). Isso significa que todo o
nosso serviço deve ter como fonte a vontade do Espírito Santo e deve estar completamente de
acordo com a Verdade - em outras palavras, deve expressar fielmente a fé Ortodoxa.

- Mas por que a fé "Ortodoxa" especificamente? Onde na Bíblia essa palavra é usada?
- Bem, você acha que estar de acordo com a Verdade significa expressar a fé que glorifica
incorretamente o Criador, isto é, que mente a respeito Dele? Bem, você realmente acha que a
heresia é agradável a Deus? Essa palavra apareceu para distinguir a fé dos apóstolos das heresias!
No entanto, também na Bíblia existe a expressão que serve de base para essa palavra. Davi diz: "A
geração dos retos será abençoada" (Salmos 112,2); além disso, os cristãos no Novo Testamento são
chamados a geração de Deus (Atos 17, 29, 1 Coríntios 15, 23, Hebreus 2, 10-13). Como podemos
ver, mesmo aquele nome que a Igreja tomou com o propósito de distinguir-se das heresias não é
estranho às Escrituras. Quando confessamos nossa fé na Igreja, a chamamos de Una, Santa, Católica
e Apostólica, que está totalmente de acordo com os ensinamentos sobre a igreja, expressos na
Revelação.

- Bem, então, você me mostrou que a verdadeira Igreja também pode ser chamada de "Ortodoxa".
Embora isso não signifique que aquela organização que agora se chama assim - é a Igreja
verdadeira. No entanto, vamos voltar ao tópico sobre como adorar corretamente Deus. Como você
vai mostrar praticamente que todos os seus serviços divinos têm como sua fonte a vontade do
Espírito Santo?

- Um momento atrás concordamos que um cristão deve pensar no celestial e não no terreno. Cristo
disse que o Senhor, o Espirito Santo, "vos ensinará todas as coisas" (João 14, 26), e isso inclui a
coisa mais importante de todas: como corretamente servir a Deus e adorá-lo. O apóstolo Pedro diz
que o Espírito Santo é enviado do céu (1 Pedro 1, 12), o que significa que os nossos serviços
divinos também deve ter a origem celeste. No Antigo Testamento Deus ordenou a Moisés, quando
ele estava construindo o tabernáculo: "E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio
deles. Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo do tabernáculo e de cada utensílio."
(Êxodo 25:8,9) Embora naquela época eles estivessem servindo apenas "àquilo que é exemplo e
sombra das coisas celestiais" (Hebreus 8,5), de modo que Deus recebesse as orações dos homens,
no entanto, era necessário que tudo fosse regulado não de acordo com as leis terrenas mas de acordo
com os celestiais. Ainda mais agora, quando Cristo veio "com um maior e mais perfeito
tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação" (Hebreus 9, 11), tudo em nossas orações
deve ser feito de acordo com o modelo celestial. Você concorda com isso?

- Sim, concordo. Mas que relação isso tem com nossa conversa sobre os serviços divinos dos
ortodoxos?

- Bem, tudo! Quero mostrar-lhes que nossa vida litúrgica é baseada na imitação dos céus, o que
significa que ela está completamente de acordo com a Revelação de Deus. Segue-se que nossa fé e
nossa Igreja são o único lugar onde a salvação pode ser alcançada. Pois quem não serve a Deus
corretamente não pode alcançar a vida eterna.

- Bem. Tente provar que ídolos e igrejas podem ser encontradas no céu e eu admitirei que alguém
pode renascer em sua igreja. Mas por que a salvação só pode ser encontrar em um só lugar? Não é
dito que "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo" (At 2, 21)?
- Os demônios também invocaram o nome do Senhor - respondi - mas isso não os ajudou na
salvação deles (Lucas 4, 34). Certamente você realmente não acha que alguém pode ser salvo sem
honrar a Deus e servi-lo?

O jovem concordou comigo, embora com evidente descontentamento.

- Bem, vamos voltar ao assunto da nossa conversa - continuei - vamos ver o que a Bíblia diz sobre
igrejas. Um momento atrás lemos que o tabernáculo de Moisés foi feito de acordo com o padrão
celestial. Obviamente, então, há uma igreja no céu. Mas, além desses testemunhos indiretos, a
Bíblia também fala diretamente sobre isso.

- Onde? - O sectário me perguntou com interesse.

- No livro do profeta Isaías (capítulo 6) e em Apocalipse: "E abriu-se no céu o templo de Deus, e a
arca da sua aliança foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos e
grande saraiva.” (Apocalipse 11:19). São João o Apóstolo foi ordenado a medir este templo: "E foi-
me dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou o anjo, e disse: Levanta-te, e mede o templo
de Deus, e o altar, e os que nele adoram."(Apocalipse 11, 1). Por que era necessário que o templo
fosse medido, senão porque, de acordo com esse padrão, os templos do Novo Testamento devem ser
construídos? Era necessário contar aqueles que adoram nele para mostrar que as igrejas deveriam
ser construídas de acordo com o número dos paroquianos, e não de acordo com o tamanho
estritamente determinado como fizeram no Antigo Testamento. Espero que voltemos logo
novamente à descrição deste santuário celestial pelo apóstolo João.

- Mas por que nossas casas de oração não podem ser consideradas construídas de acordo com o
padrão celestial? - o sectário me interrompeu. Visto que nelas a Bíblia é lida, Deus é glorificado.

- A principal diferença entre um templo e uma casa de oração, tanto no Antigo Testamento como no
Novo, é que no segundo caso não há altar, que é o lugar mais importante em um templo. Já desde o
tempo de Adão era agradável a Deus mostrar Sua presença especial onde quer que os sacrifícios
fossem oferecidos (1 Moisés 4, 4). Ao lado do altar ele se revelou a Noé (1 Moisés 8, 20-21), a
Abraão (1 Moisés 15, 7-21), a Jacó (1 Moisés 35, 1, 7-15). Para a oferta de sacrifícios, Ele ordenou
que se construísse o tabernáculo e o templo de Salomão, que Ele santificou com a aparência de Sua
glória incriada, tendo sido revelado na forma de uma nuvem (Êxodo 40, 34; 3 Reis 8, 10). Sobre o
templo de Salomão, o Senhor disse: "Santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali o meu nome
para sempre; e os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias." (1 Reis 9, 3). Naquele
templo, o próprio Senhor orou e chamou-o "a casa de seu Pai" (João 2:16). Então, na Igreja do
Novo Testamento, os Santos Apóstolos estabeleceram a prática de erguer altares nas igrejas. Eis
como o apóstolo Paulo fala: "Temos um altar, de que não têm direito de comer os que servem ao
tabernáculo" (Hebreus 13, 10). É o mesmo hoje - na Igreja Apostólica o coração de uma igreja é o
altar. A isso podemos acrescentar que também nos céus - que são (como concordamos) o padrão
para nossos serviços a Deus - há um altar místico. João viu sob ele as almas dos mártires
(Apocalipse 6, 9). Desse santo lugar, Deus revela Sua vontade aos anjos (Apocalipse 9, 13, 16, 7).
O profeta Isaías foi purificado de um altar celestial: "Porém um dos serafins voou para mim,
trazendo na sua mão uma brasa viva, que tirara do altar com uma tenaz; e com a brasa tocou a
minha boca, e disse: Eis que isto tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e expiado o teu
pecado." (Isaías 6:6,7) No entanto, é precisamente esse importante objeto que está faltando nas
casas de oração protestantes e, por essa razão, elas não podem ser chamadas de igrejas bíblicas!

- Você de uma maneira muito interessante e com provas demonstrou que nas igrejas os altares
devem existir, mas imediatamente surge a seguinte pergunta: Que sacrifícios você oferece nestes,
desde que o próprio Cristo ofereceu a Deus o Único Sacrifício - Ele mesmo? Você quer de alguma
forma completar com algo o sacrifício do Senhor?

- Claro que não! Quem seria tão louco para pensar que ele, com suas próprias forças fracas, poderia
acrescentar algo ao sacrifício de Cristo? Está dentro de nosso poder apenas se tornar participantes
deste sacrifício, assim como em Israel: "os que comem os sacrifícios não são porventura
participantes do altar?"(1 Coríntios 10, 18). Portanto, na Igreja Ortodoxa, o homem também se
torna participante do altar sobre o qual estávamos falando, através do recebimento do Verdadeiro
Sacrifício. "Pois Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Coríntios 5, 7). Naqueles que não
comungam este sacrifício pascal do Novo Testamento, o mandamento de Deus é cumprido: "tal
pessoa será extirpada do seu povo" (Números, 9, 13). O próprio Cristo disse: "Se não comerdes a
carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos." (João
6:53).

- Ah, você fala da sua Comunhão - o jovem fez um sinal negativo com a mão - isso é apenas
símbolos, uma lembrança; só a fé salva.

- Tudo isso já ouvimos há dois mil anos - respondi. - Imediatamente depois dessas palavras do
Senhor "muitos dos seus discípulos tornaram para trás, e já não andavam com ele. Então disse
Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?" (João 6, 66-67). Os protestantes estão dizendo a
mesma coisa agora, como os judeus fizeram: "Duro é este discurso; quem o pode ouvir?"(João
6:60). Mas assim como fez nessa ocasião, assim Ele insiste agora também que Suas palavras devem
ser compreendidas literalmente. Ele não deu a ninguém o direito de interpretá-las simbolicamente!
Se no Antigo Testamento Israel foi salvo por ter comido um cordeiro pascal real, então como no
Novo Testamento essa mudança poderia ser mudada para um simples pensamento sobre o Cordeiro
de Deus que tira o pecado do mundo (João 1:29)? Quanto ao significado simbólico da expressão
"comer a carne", na verdade existe. Jó, quando seus amigos o insultam, diz: "Compadecei-vos de
mim, amigos meus, compadecei-vos de mim, porque a mão de Deus me tocou. Por que me
perseguis assim como Deus, e da minha carne não vos fartais?" (Jó 19, 21-22). Teremos a vida
eterna se insultarmos o Senhor e zombarmos Dele?

Tendo pensado um pouco, o jovem reconheceu que a interpretação de sua organização está longe da
verdade. Nesses momentos, nós dois já alcançamos o final de nossa caminhada - até uma igreja
pequena e bonita, escondida em uma das ruas próximas a praça Taganka. Meu interlocutor,
levantando os olhos, viu cinco cúpulas maravilhosas daquela igreja e me lembrou:

- Você prometeu me mostrar que todo este ornamento está de acordo com a Bíblia.

- Claro que não esqueci minha promessa - respondi. - A Igreja Ortodoxa durante séculos
desenvolveu esta aparência e forma das igrejas, que ambos estamos olhando agora. Ela fez isso para
entregar com maior plenitude possível a realidade celestial através de uma estrutura terrestre. A
descrição bíblica do tabernáculo de Moisés e do templo de Salomão influenciou grandemente a
construção da Igreja Ortodoxa, embora a igreja não tenha seguido servilmente os exemplos do
Antigo Testamento, lembrando que não estamos mais debaixo da lei, mas debaixo da graça
(Romanos 6, 14). Então, onde devo começar minhas explicações sobre o significado da igreja e seus
componentes?

- Bem, aqui vejo que em suas cúpulas estão as cruzes. Mas a cruz é o instrumento da punição do
Filho de Deus. Além disso, a Bíblia diz: "Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro"
(Gálatas 3:13). No entanto, você exibe esse maldito madeiro para que todos possam ver, e até
adoram esse ídolo!

- Perdoe-me - respondi - você se considera como o quê, que religião você confessa? Eu tenho a
infelicidade de estar falando com um deicida - um judeu? Pois são os judeus que chamam o Senhor
Jesus de "amaldiçoado", e aquelas palavras que você mencionou não falam da Cruz, mas Daquele
que é pendurado nela. Se você considera a cruz como o instrumento de maldição, então para você o
Deus-homem será de fato uma maldição. Sim. A Cruz já foi o instrumento de maldição, mas quando
o Filho de Deus morreu nela, ela tornou-se nossa glória. Como o texto diz, que você mencionou:
"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito
todo aquele que for pendurado no madeiro; para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por
Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito."(Gálatas 3: 13-14). Nos
protestantes, as palavras do apóstolo Paulo são cumpridas: "Porque a palavra da cruz é loucura
para os que perecem; mas para nós, que somos salvos (e não para aqueles que já estão salvos), é o
poder de Deus "(1 Coríntios 1:18). Isso significa que se as palavras de Paulo são verdadeiras que
graças à crucificação na cruz, Cristo estendeu a bênção de Abraão e através dela o poder do Espírito
Santo também entre os gentios, isto é, para nós, então elas tiveram que ser cumpridas e também
estas palavras de Isaías: "E acontecerá naquele dia que a raiz de Jessé, a qual estará posta por
estandarte dos povos, será buscada pelos gentios; e o lugar do seu repouso será glorioso. E há de
ser que naquele dia o Senhor tornará a pôr a sua mão... E levantará um estandarte entre as
nações"(Isaías 11, 10-12). É exatamente por isso que a Igreja do Senhor eleva nos lugares de suas
reuniões estandartes de Seu Noivo - a Cruz. Isso também previu o sábio Salomão quando disse
sobre a Igreja Ortodoxa que Ela é "temerosa como exércitos com estandartes" (Cântico dos
Cânticos 6, 10).

- Bem, você com muitas provas mostrou que os ortodoxos fazem corretamente colocando a cruz nos
templos. Embora eu tenha mais algumas perguntas sobre sua veneração pela Cruz, explique-me
agora o que essas cúpulas significam - disse o sectário.

- Acabamos de ler as palavras do profeta que o Senhor levantará Seu estandarte. O templo é o
símbolo da Igreja e Sua Cabeça - é Cristo. Obviamente, era necessário que os ortodoxos
expressassem essa verdade de alguma forma. É por isso que a construção do templo é coroada com
o símbolo do Senhor e Portador-do-estandarte: com a cúpula. Este templo também tem quatro
cúpulas menores como o símbolo dos quatro evangelistas, graças a quem a imagem e a doutrina da
Cabeça da Igreja - do Senhor Jesus - chegou até nós. Para mostrar a diferença entre os discípulos e o
Mestre, em nossos templos a cúpula principal é coberta por ouro - que representa o Reino e a
incorrupção (é por isso que os sábios ofereceram ao Menino Jesus o ouro como presente), mas as
cúpulas, que representam os evangelistas, tem a cor de um céu estrelado, que nos lembra as palavras
do profeta Daniel: "Aqueles que são sábios reluzirão como o brilho do céu, e aqueles que conduzem
muitos à justiça serão como as estrelas, para todo o sempre.” (Daniel 12,3). E quem converteu mais
pessoas a fé do que os apóstolos? A cúpula em si está no pedestal chamado "pescoço". Como você
vê, em um deles os apóstolos são pintados, enquanto em outros há um ornamento especial
semelhante a um par de asas. Aqui a própria igreja nos sugere o significado dessa sua parte: o
pescoço, graças ao qual a cabeça se une ao tronco, é o símbolo dos apóstolos e seus sucessores,
graças aos quais os ortodoxos têm comunhão com Cristo. Como São João o Teólogo escreve: "O
que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa
comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo." (1 João 1, 3)  Sem a sucessão apostólica
direta, preservada na Igreja Ortodoxa, a comunhão com Deus é impossível. Essa comunhão, por
exemplo, não existe nas comunidades protestantes, que consideram que Deus esqueceu a sua Igreja
e que querem corrigir a sua "negligência".

- E o que essa estranha forma do telhado significa, também tem sua origem na Bíblia? - perguntou o
jovem, comportando-se como se não tivesse ouvido minhas últimas palavras, que, a propósito, são
extremamente dolorosas para os sectários.

- É claro que sim - respondi, tendo decidido não colocar muita pressão sobre o meu interlocutor -
esses ornamentos são chamados de abóbadas. A própria forma dele, semelhante às asas dos anjos,
tem como objetivo mostrar seu significado. Os ortodoxos adotaram firmemente as palavras do
Apóstolo: "Mas chegastes ao monte Sião (é por isso que o telhado parece um monte), e à cidade do
Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos; À universal assembléia e igreja
dos primogênitos, que estão inscritos nos céus (é essa assembléia de anjos e homens que é
representada por esta abóbada), e a Deus, o juiz de todos (simbolizado pela cúpula), e aos espíritos
dos justos aperfeiçoados; E a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão,
que fala melhor do que o de Abel (tudo isto está no altar ortodoxo)" (Hebreus 12, 22-24). Assim,
essas palavras da Escritura são pintadas pela linguagem simbólica em nossas igrejas. Mas já que
falamos desse texto sagrado, mais importante é enfatizar que os protestantes são violadores desse
mandamento. Eles não oram aos santos, nem aos anjos, embora o Apóstolo fale sobre isso aqui,
menos ainda eles se aproximam do sangue aspergido, já que eles evitam à Santa Comunhão
Ortodoxa. Esse sangue vai condená-los no dia do Julgamento, assim como o sangue de Abel
condenou o assassino Caim. Falando desse elemento da arte eclesiástica, deve-se dizer que vem do
tempo do Antigo Testamento. Salomão "nas paredes ao redor do templo, tanto na parte interna
como na externa, esculpiu querubins, palmas e flores abertas." (1 Reis 6, 29). Precisamente a
continuação dessa tradição bíblica que você vê nas paredes de nossa igreja. Sobre a pintura dos
querubins já falamos (se você olhar atentamente os azulejos, verá um deles lá). Quanto aos
ornamentos de plantas, eles cobrem toda a parede. Eles nos mostram que, graças ao que acontece na
igreja, o paraíso que perdemos retorna para nós.

- Sim, sua interpretação deixa uma impressão forte - disse o protestante, pensativamente, mas logo
acrescentou maliciosamente - até mesmo aquelas grades nas janelas, que lembram as celas de
prisão, têm sua origem no Bíblia?

- Eu não entendo seu ceticismo - respondi. Claro que tem. "Ele (Salomão) fez para o templo,
janelas com grades estreitas" (1 Reis 6, 4). Tais são as que vocês vê em nossa igreja (estreitas - em
nossos templos aquelas com persianas). A janela é o símbolo da Revelação da luz de Deus, e as
grades mostram que ainda não é perfeita, "conhecemos em parte" (1 Coríntios 13: 9). Esse
simbolismo tem sua origem na Bíblia: "Lá está ele atrás do nosso muro" - a Noiva fala sobre Cristo
- "observando pelas janelas, espiando pelas grades." (Cântico dos Cânticos 2: 9). Um outro
elemento antigo da aparência exterior da igreja são pilares que têm a sua origem no Tabernáculo
(Êxodo 26) e que simboliza os Santos e Anjos (Gálatas 2: 9).

- Você explicou tudo, menos uma coisa: de onde você tirou esta forma de suas igrejas, isto é, por
que neles a torre do sino é mais alta que a igreja, e a igreja é mais alta que o altar?

- Como você obviamente já se lembra, a divisão tripartite de nossas igrejas tem sua origem no
templo e no tabernáculo do Antigo Testamento - respondi. Com relação à própria forma de nossos
templos, ela também tem sua origem na construção do templo de Salomão. No segundo livro de
Crônicas, na descrição, lemos as seguintes medidas: "... o comprimento em côvados, segundo a
primeira medida, era de sessenta côvados, e a largura de vinte côvados. E o pátio, que estava na
frente, tinha vinte côvados de comprimento, segundo a largura da casa, e a altura era de cento e
vinte; e por dentro o revestiu com ouro puro."(2 Crônicas 3, 3-4); e se nos lembrarmos daquela
outra descrição escrita no primeiro livro dos Reis, onde a altura do templo principal era de trinta
côvados, e o lugar mais santo (ie - o altar) era de vinte côvados de altura, vemos que nossa Igreja
fielmente preservou até mesmo as proporções do antigo templo (1 Reis 6: 2, 20). Bem, agora
reconheça que não descobrimos um único caso de desvio da Revelação Bíblica.

O protestante foi forçado a concordar comigo. Naquele momento, da torre de sino veio o som dos
sinos convidando os cristãos para o ofício divino, e eu disse:

- Assim como durante a peregrinação dos judeus pelo deserto, Deus ordenou que Moisés fizesse
duas trombetas de prata para chamar aos fiéis aos holocaustos e disse: "serão por memorial perante
vosso Deus" (Números 10, 10), assim hoje, imitando isso, os ortodoxos são convocados para o
serviço da manhã e da noite para o Senhor pelo som dos sinos, que para nós substituíram as
trombetas.

- Aqui está uma violação da Bíblia! - disse o sectário com alegria.

- Nesse caso, vocês também são violadores, porque as Escrituras não dizem que vocês precisam
tocar sintetizadores, mas os ortodoxos, ao contrário de vocês, cumprem com precisão as palavras do
Salmo: "Louvai-o com os címbalos sonoros; louvai-o com címbalos altissonantes"(Salmo 150, 5).
De acordo com a fé da Igreja Ortodoxa, o som dos sinos está associado com o poder incriado do
Divino, de modo que pode afugentar os maus espíritos, como o som da harpa de Davi os afastou do
rei Saul (1 Samuel 16, 23).  Por outro lado, aqueles que ouvem o som estão sendo preenchidos com
a graça incriada do Espírito, como foi o caso do profeta Eliseu (2 Reis 3, 15), e é por isso que
muitos vêm à igreja pela primeira vez precisamente por causa do som do sinos. Os protestantes não
têm nada disso, e é por isso que eles são forçados a procurar constantemente por conversos, e ainda
assim não alcançam os mesmos resultados que os ortodoxos. Não há nem mesmo uma nação que
tenha sido convertida ao cristianismo por protestantes. Isso não surpreende, já que, sem o apoio do
poder de Deus, as pessoas não são capazes de receber verdadeiramente Cristo (1 Coríntios
12,3). Mas já é a hora do serviço das Vésperas. Vamos entrar na igreja pelas portas, das quais David
canta: "Abri-me as portas da justiça; entrarei por elas, e louvarei ao Senhor. Esta é a porta do
Senhor, pela qual os justos entrarão." (Salmos 118:19,20)

- Bem, agora você está se esforçando para encontrar a justificativa bíblica para uma simples porta,
acho que você exagera um pouco neste momento.

- Por que você diz isso? Duas portas para o templo foram feitas pelo rei Salomão (3 Reis 6, 33-34)
e, na Igreja Ortodoxa, cada objeto possui, além de seu uso prático, um significado espiritual.

Nós entramos na igreja, sob suas abóbadas silenciosas. Diretamente em frente à entrada estava a
mesa com velas acesas.

- O que esse estranho objeto significa e por que há tantas velas nele? - perguntou o sectário.

- Esta é a mesa para a comemoração dos falecidos, respondi. As velas são um símbolo da nossa
oração por eles. Diante esta mesa, a Igreja oferece incenso e eleva suas orações pelos nossos irmãos
falecidos. Ao lado dela os parentes próximos deixam suas ofertas que trazem em memória de seus
falecidos. Tudo isso representa uma manifestação do nosso amor, que "jamais acaba" (1 Coríntios
13, 8), porque "se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De
sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor."(Romanos 14: 8). Portanto, nossas orações,
tal como a Igreja crê, possuem grande força para os falecidos, que não podem mais fazer nada por si
mesmos.

- Mas como você pode orar pelos falecidos quando o destino deles já está decidido? Afinal, Abraão
disse ao homem rico: "E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os
que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá."
(Lucas 16 : 26).

- É claro que os que partiram não são capazes de mudar sua situação, mas isso ainda está dentro do
poder dAquele que detém as "chaves do inferno e da morte". (Apocalipse 1:18). E Ele disse aos
cristãos ortodoxos: "E, tudo o que pedirdes em oração, crendo, o recebereis" (Mateus 21,22). É
precisamente por isso que rezamos pelos nossos irmãos, ainda mais porque até o Dia do Juízo Final
o destino de cada pessoa ainda não está definitivamente determinado; se não, então o Julgamento
em si não teria significado. E também, nosso Redentor, "porque permanece eternamente, tem um
sacerdócio perpétuo. Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a
Deus, vivendo sempre para interceder por eles." (Hebreus 7:24,25) Acreditamos que para o Seu
poder não há barreiras, exceto a livre rejeição d'Ele pelo homem, é por isso que a Igreja menciona
em suas orações todos os seus filhos, exceto aqueles que evidentemente lutaram contra Deus e
portanto cometeram o pecado de blasfêmia contra o Espírito Santo, que não é perdoado nem neste
século nem no futuro (Mateus 12, 31-32). A partir dessas palavras de Cristo, segue-se que o perdão
dos pecados é possível mesmo após a morte. Mas eu tenho que avisá-lo que se você permanecer na
seita, ninguém mais poderá ajudá-lo, já que agora você está blasfemando contra o Espírito, que
permanece eternamente na Igreja Ortodoxa (João 14,16).

Ele fez uma careta de descontentamento e  se apressou mais uma vez para se afastar do assunto
delicado.
- Tudo bem, sua oração pelos que partiram faz sentido, mas por que você dá esmolas em favor
deles?

- Todos os cristãos receberam o mandamento: "Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso." (Lucas 6:36), é por isso que a esmola ajuda as nossas orações. Já no Antigo
Testamento o filho de Sirácides escreveu: "Seja generoso com todos os que vivem e não se esqueça
de mostrar amor e fidelidade aos mortos." (Eclesiastes 7, 33) Mas se você não tiver outras
perguntas, continuemos nossa caminhada pela igreja.

- Por que você viola publicamente o mandamento de Deus? - O sectário perguntou-me, mostrando-
me os ícones sagrados. - Já que é dito: "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma
semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarás a elas nem as servirás."(Êxodo 20: 4-5). Mas você encheu todo o seu templo com
as imagens de homens e anjos. Trata-se de uma idolatria óbvia!

- E você não acha - eu respondi - que desde que este mandamento foi dado, algumas mudanças
ocorreram na relação entre Deus e o homem? Lembre-se que o próprio Moisés explicou a razão pela
qual era impossível fazer uma imagem de Deus no Antigo Testamento. Ele diz: "Guardai, pois, com
diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou
convosco do meio do fogo; Para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na
forma de qualquer figura." (Deuteronômio 4 15-16). Mas, desde então, alguns grandes eventos
aconteceram. O próprio Invisível tornou-se visível e, confessando essa verdade na prática, fazemos
uma imagem de Deus encarnado. "Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no
seio do Pai, esse o revelou "(João 1:18). E nós anunciamos esta incrível mensagem não apenas por
palavras, mas também na prática. Você, por outro lado, não pode de maneira alguma demonstrar sua
fé em Cristo, que veio na carne, já que você explicitamente nega fazer a Sua imagem. Portanto,
vocês correspondem completamente à descrição do enganador e do Anticristo, dada pelo apóstolo
João (2 João 1, 7)! Rejeitando a veneração dos ícones, vocês também se privam da possibilidade de
cumprir o mandamento do apóstolo Paulo: "Portanto, também nós, uma vez que estamos rodeados
por tão grande nuvem de testemunhas, livremo-nos de tudo o que nos atrapalha e do pecado que
nos envolve, e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, tendo os olhos fitos em
Jesus, autor e consumador da nossa fé. Ele, pela alegria que lhe fora proposta, suportou a cruz
[dizendo estas palavras mostrei-lhe a cruz com a mão], desprezando a vergonha, e assentou-se à
direita do trono de Deus [e eu lhe mostrei o ícone de Cristo em Sua glória]" (Hebreus 12, 1-2).
Tanto quanto sei, os homens olham com os olhos, e isso pressupõe a existência de ícones na Igreja.

- Aqui trata-se de uma questão de não olhar com os olhos, mas pelo pensamento, pela memória -
respondeu o sectário.

- Não, você está errado - eu disse. O próximo verso fala do olhar mental, mas aqui não temos razão
para nos afastarmos do significado literal do texto bíblico.

- Bem, suponha que é possível fazer imagens de Cristo, mas por que fazer ícones dos santos? Como
eles não são deuses, então o que esses ícones testemunham?
- Os santos, claro, não são deuses por natureza, eles são filhos de Deus pela graça incriada de Deus
(João 1, 12-13). Seus ícones representam um testemunho brilhante de que o feito de Cristo não foi
infrutífero. Eles receberam a glória que o Pai deu ao Filho e Ele deu aos santos (João 17, 22). Veja,
por exemplo, este ícone da santa Mártir Paraskeva. Você vê a luz brilhando em volta da sua cabeça?
Este é o símbolo da Glória Divina, porque "Deus é luz" (1 João 1, 5). E o modo de como esta santa
chegou a Deus é indicado pela cruz em suas mãos. Pois é dito: "E quem não toma a sua cruz, e não
segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida,
por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 10: 38-39). Assim também Santa Paraskeva tomou sua cruz,
perdeu sua vida por Cristo e encontrou a alegria eterna. E nós "considerando qual foi o fim da sua
vida, imitamos a sua fé" (Hebreus 13, 7), como o Apóstolo nos aconselha. A partir disso,
obviamente chegamos à conclusão de que a Escritura nos ensina a honrar os ícones dos santos e,
através deles, pedir ajuda na oração, porque "a oração de um justo é poderosa e eficaz." (Tiago
5:16). No entanto, na Bíblia há um mandamento direto de Deus para fazer imagens, dada no Antigo
Testamento. Nós já falamos que no templo de Salomão havia imagens dos querubins, e ele não os
fez arbitrariamente, mas cumprindo apenas a ordem dada a Moisés. "E o Senhor falou a Moisés,
dizendo... farás também dois querubins de ouro batido nas extremidades da tampa (do
propiciatório). Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da
aliança, eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destinados aos
israelitas." (Êxodo 25, 1-22). A partir dessas palavras, fica claro que o próprio Deus ordenou que as
imagens sagradas fossem feitas. Elas são tão agradáveis a Ele que através delas Ele revelava Sua
vontade e realizava milagres, assim como os faz através dos ícones até hoje. Se você se lembra, no
início de nossa conversa falamos sobre o fato de que devemos imitar o serviço divino celestial.
Agora é importante notar que, embora os protótipos dos ícones vivam no céu, também existem
ícones lá. Afinal, no templo o apóstolo João viu a Arca da Aliança, coberta por ícones (Apocalipse
11,19). Nos tempos do Antigo Testamento, era impossível fazer imagens de homens, porque eles
ainda não haviam sido redimidos e não tinham se unido a Deus; mas agora, quando os justos são
feitos iguais aos anjos através da participação na divindade (Lucas 20, 36) e mesmo as faces deles
podem se tornar como as faces dos anjos (Atos 6, 15), nós naturalmente podemos e devemos
representar os santos (lembre-se do mandamento do apóstolo em Hebreus, 13: 7)

- Muito bem. Você mostrou que os ícones não contradizem a Bíblia. Mas por que venerá-los quando
se diz: "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mateus 4, 10)?

- Você notou que não foi dito que devemos venerar somente a Deus. Existem diferentes tipos de
veneração. Abraão se inclinou diante dos filhos de Het (Gênesis 23, 12), Jacó adorou encostado à
ponta do seu bordão (Hebreus 11, 21). Tudo isso é chamado de veneração por respeito - de tal forma
nós nos curvamos diante das coisas sagradas, principalmente diante dos ícones. Um exemplo desse
tipo de veneração nos é dado na Bíblia: Josué, filho de Nun, caiu sobre o rosto diante da arca, que
era uma imagem do Deus invisível e estava coberta de ícones de anjos (Josué 7: 6 ). Davi curvou-se
diante do templo (Sal. 5: 8) e disse que quando acordasse, ele 'estará satisfeito com a semelhança de
Deus (Sal. 16:15). Até mesmo o próprio arranjo do tabernáculo pressupunha tal veneração -
lâmpadas de óleo e incenso diante das cortinas cobertas de ícones dos querubins (Êx 26:31, 35; 30:
6-7). Dessa forma, a Igreja Ortodoxa em tudo é fiel à Revelação de Deus! Mas há também outro
tipo de veneração, chamada adoração ou servir a Deus - tal adoração nós damos somente a Deus e
então nos curvamos diante da Santa Comunhão, porque a própria Palavra de Deus está diante de nós
- com Seu Corpo e Sangue. 
- E onde nas Escrituras você encontrou o mandamento de colocar tantas velas, candelabros e
lâmpadas? Eu sei que agora você vai mencionar o candelabro de sete braços, mas só ele estava em
todo o tabernáculo, e você tem tantas!

- Sim, havia um único candelabro de sete braços no tabernáculo. Naturalmente, também podemos
lembrar o fogo incessante que queimava no altar, e seguindo este exemplo as velas estão
constantemente queimando nas igrejas. Além disso, há indicações na Bíblia sobre muitas lâmpadas
que iluminam o templo como um símbolo da luz divina que ilumina o templo celestial. Salomão
"fez dez candelabros de ouro, de acordo com as especificações, e colocou-os no templo, cinco no
lado sul e cinco no lado norte."(2 Crônicas 4, 7). E o apóstolo Paulo também serviu uma liturgia na
habitação superior, "onde ... havia muitas lâmpadas acesas" (At 20, 8). Então, aqui novamente, a
Igreja permaneceu inalterada desde os tempos apostólicos. Mas, enquanto o ofício divino não
começa, vamos olhar o próprio santuário da igreja. 

Nós nos aproximamos da iconóstase, e o jovem me perguntou:

- Toda essa decoração complicada tem raízes bíblicas?

- Como você já se convenceu muitas vezes - sim, tem. Nós já falamos sobre a cortina coberta com
os ícones que separavam o resto do templo do Santo dos Santos. A mesma parede que juntava essas
duas partes já aparecia no templo de Salomão: "Edificou mais vinte côvados de tábuas de cedro nos
lados da casa, desde o soalho até às paredes; e por dentro lhas edificou para o oráculo, para o
Santo dos Santos.... E todas as paredes da casa, em redor, lavrou de esculturas e entalhes de
querubins, e de palmas, e de flores abertas, por dentro e por fora.... E à entrada do oráculo fez
portas de madeira de oliveira; o umbral de cima com as ombreiras faziam a quinta parte da
parede. (Preste atenção na forma das portas do altar, ela corresponde completamente à descrição)
Também as duas portas eram de madeira de oliveira; e lavrou nelas entalhes de querubins, e de
palmas, e de flores abertas, os quais revestiu de ouro."(1 Reis 6: 16-32). Se você olhar de perto, ao
lado das imagens dos quatro evangelistas, verá também os ícones dos querubins. As imagens dos
apóstolos não apareceram aqui por acaso. É precisamente por causa dos seus Evangelhos que
podemos alcançar a vida eterna, que é o Filho Deus, que habita nos nossos altares com o Seu Corpo
e Sangue. Essa salvação só foi possível pela encarnação que ocorreu no tempo da Anunciação, cujo
ícone também está nas portas. Como testemunho da veracidade da encarnação, vemos nos lados os
ícones de Cristo e de Sua Mãe. Deve-se notar que o protótipo das portas do altar também existe no
céu. O apóstolo João viu: "eis que estava uma porta aberta no céu; e a primeira voz, que como de
trombeta ouvira falar comigo, disse: Sobe aqui" (Apocalipse 4, 1). Vamos também seguir essa voz e
ir para a imagem terrena do santuário celestial. 

Chegamos à porta norte quando tive que avisar meu interlocutor:

- Você não tem o direito e a possibilidade de entrar no altar, porque você está no pecado mortal de
heresia. A força de Deus pode puni-lo se você, não tendo ingressado na Igreja de Cristo, entrar no
altar. Eu não gostaria que acontecesse com você o que aconteceu com Nadabe e Abiú, que
ofereceram fogo estranho diante do Senhor e morreram por Sua chama (Levítico 10, 1-7). Portanto,
mostrarei o altar através de suas portas. 
Depois de me convencer de que meu interlocutor não ficou ofendido com essa atitude em relação a
ele, abri as portas e disse:

- Agora, quase sem mais comentários, pode-se citar as palavras do livro do Apocalipse e mostrar a
imagem do céu em nossa triste terra. "E eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre
o trono. E o que estava assentado era, na aparência, semelhante à pedra jaspe e sardônica; e o
arco-íris estava ao redor do trono, e parecia semelhante à esmeralda."(Apocalipse 4: 2-3). Olhe no
lugar superior e você verá as imagens de tudo isso. Aqui está o trono superior, onde o portador da
graça apostólica incriada está sentado durante o serviço divino - o bispo, que serve como a imagem
de Deus, como alguém que foi ungido pelo Espírito Santo. No trono, vemos o ícone do próprio
Jesus que está sentado, rodeado por um arco-íris de esmeralda. "E ao redor do trono havia vinte e
quatro tronos; e vi assentados sobre os tronos vinte e quatro anciãos vestidos de vestes brancas; e
tinham sobre suas cabeças coroas de ouro." (Apocalipse 4:4) Ao lado do trono principal, você
também pode ver esses tronos menores, onde os presbíteros podem sentar-se durante a Liturgia (os
"anciãos" - do grego). Acima de suas cabeças estão os ícones dos presbíteros celestiais, dos santos
pais que compilaram o texto da Liturgia Apostólica.

- Bem, - o sectário me interrompeu - você introduziu algo novo além do que os apóstolos lhe deram.
Isso significa que sua igreja não é apostólica!

- O fato de termos introduzido algo que não está nos textos bíblicos não significa de forma alguma
que distorcemos a Revelação. Nossa Igreja está viva. É um organismo que cresce, e não podemos
acorrentá-la apenas no contexto da Bíblia. Não somos servos da letra que mata, mas do Espírito que
vivifica (2 Coríntios 3: 6), de quem o Senhor deu testemunho: "Vos ensinará todas as coisas, e vos
fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito." (João 14:26) Portanto, os santos, guiados pelo
Espírito, a cada século acrescentam cada vez mais riquezas ao tesouro da Igreja, revelando nela o
que Cristo lhe deu em toda a plenitude desde o princípio.

-Bem, então, com isso você confirmou sua natureza não-bíblica; seguimos apenas a Bíblia e não
precisamos de mais nada!

- Claro, você não precisa nem do Espírito Santo! Mas se você é tão bíblico, então por que você não
tem nada das coisas que falamos tanto?

Nenhuma resposta clara foi dada. Então eu continuei:

- Vamos voltar para a contemplação dos símbolos celestes. Ouvimos dizer que os anciãos no céu se
vestem não apenas com roupas comuns, mas com roupas especiais; imitando estes, os sacerdotes
ortodoxos usam roupas sacerdotais, rejeitadas por seus correligionários. As coroas de ouro
simbolizam as mitras - que são usadas pelos bispos e sacerdotes. Uma das mitras, como você pode
ver, está no lugar superior. "E do trono saíam relâmpagos, e trovões, e vozes; e diante do trono
ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus."(Apocalipse 4, 5). A imagem
dessas vozes e trovões são as palavras da Revelação de Deus, que são pronunciadas do lugar
superior. As sete lâmpadas que estão queimando estão à sua frente. Este é um candelabro com sete
velas. O apóstolo João viu um mar de cristais que é simbolizado aqui por este lavatório, e quatro
animais representados tanto nas pinturas quanto nas exapterigas. Se você retornar à Igreja e
participar da liturgia, ouvirá os hinos que eles cantam. Agora vamos prestar atenção à parte
principal do altar - chamada Altar ou a Mesa. Até mesmo o Apóstolo Paulo fala sobre sua existência
na Igreja (1 Coríntios 10, 21). Sob o altar celestial estão as almas dos mártires (Apocalipse 6, 9); e
seus corpos repousam sob sua representação terrena - essa é a expressão da unidade da Igreja
terrena com a celestial.

- Bem, e o que essas cobertas significam no altar? Se bem me lembro, no Antigo Testamento, o
templo não estava coberto.

- Você não está exatamente certo. Se você se lembra, o principal santuário do templo - a arca -
estava coberta com véus durante a jornada de Israel, bem como outros objetos sagrados (Números
4, 5-15). Os ortodoxos não consideram esta terra seu lar eterno; toda a sua vida é uma jornada
incessante para a terra da promessa, para Cristo. É por isso que nossos templos estão voltados para
o leste e nosso altar está coberto, porque ainda estamos a caminho. Por outro lado, o altar é o
símbolo do túmulo de Cristo que sofreu por nós; portanto, as cobertas são um lembrete do sudário
que foi deixado para trás após a ressurreição (João 20: 6-7). A coisa mais sagrada sobre o altar no
Antigo Testamento era a arca da aliança. O Evangelista João também viu. Este objeto sagrado
também está em nossa mesa: a imagem de uma igreja que está nela tem como sua parte principal a
arca, onde está o Corpo de Cristo - o protótipo da mana (João 6, 49-51) que era guardada diante da
arca do Antigo Testamento (Êxodo 16, 32-34). Como você se lembra, o conteúdo principal da arca
eram as tábuas da aliança (Êxodo 25, 21), e no templo celestial Aquele que se senta no altar à sua
direita tinha um livro escrito por dentro e por fora, selado com sete selos abertos pelo cordeiro
imolado (Apocalipse 5). Era necessário que houvesse algo semelhante no santuário terrestre
também. Portanto, na mesa você vê o Evangelho de Jesus Cristo - as novas tábuas da aliança e o
livro aberto dos destinos de Deus. Além desses objetos sagrados, em frente à arca da aliança se
encontrava a vara de Arão que floresceu "como sinal para os filhos rebeldes; e farás acabar as suas
murmurações contra mim, e não morrerão."(Números 17,10). Em nosso altar há um sinal
incomparavelmente maior, o sinal do Filho do Homem (Mateus 24:30) - a Cruz Vivificadora, na
qual o próprio Deus estabeleceu um novo sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque, que
superou o sacerdócio de Aarão (Hebreus 7). Nosso altar é consagrado pelo sucessor dos apóstolos
através da unção com o santo crisma, como também era no Antigo Testamento. "Assim santificarás
estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo."(Êxodo 30, 29).

- O que esta mesa à esquerda significa? Por que precisam dela? E, em geral, por que tudo é tão
complicado na Ortodoxia?

- Essa mesa é chamada de mesa da oblação. Ela foi construída de acordo com seu protótipo no
Antigo Testamento (Êxodo 25, 23-30). Nela os pães são constantemente oferecidos "uma oferta
queimada para Senhor ... é uma coisa santíssima" (Levítico 24, 7-9). Em nossa Igreja eles são
chamados prosforas (pães santificados) e são trazidos a Deus em memória dos cristãos vivos e os
que partiram. Através deles, Deus operou muitos milagres com aqueles que crêem nEle, mas o papel
principal desta mesa é preparar o pão e o vinho usados para o sacrifício litúrgico. Bem, a Ortodoxia
é muito complexa: ela foi criada por Deus para responder às inúmeras questões do coração ferido e
imensamente profundo do homem, que é conhecido apenas por Deus (1 João 3:20). Em nossas
vidas, dois abismos são enfrentados: a profundidade do coração humano e a incompreensibilidade
da mente de Deus. Nós não fomos que inventamos a Ortodoxia. Ela nos foi dada por Aquele de
quem Davi cantou: "O teu caminho é no mar, e as tuas veredas nas águas grandes, e os teus passos
não são conhecidos. Guiaste o teu povo, como a um rebanho, pela mão de Moisés e de Arão."
(Salmos 77:19,20) Portanto, não podemos abolir nada: "Por que quem compreendeu a mente do
Senhor? ou quem foi seu conselheiro? ”(Romanos 11:34). Eu também aconselho que você não irrite
o Senhor com sua oposição à Sua Igreja, porque "somos nós mais fortes do que ele?" (1 Coríntios
10:22). É melhor que se humilhe sob Sua mão poderosa, e Ele o exaltará! Mas no momento temos
que terminar nossa conversa, porque nosso sacerdote que preside a nós no Senhor (1
Tessalonicenses 5, 12) já está no lugar, e o serviço de vésperas começará agora. Participemos juntos
desta oração servida na Igreja Ortodoxa desde o tempo do Patriarca Isaac (Gênesis 24, 63), durante
quatro mil anos.

Descendemos do ambão e ficamos ao lado do ícone principal de nossa igreja. Naquele momento, o
sacerdote começou o serviço das vésperas com o clamor do rei e sacerdote Melquisedeque:
"Bendito seja Deus" (Gênesis 14, 20). O devoto leitor começou a cantar em uma única nota as
palavras do profeta Davi, a maravilhosa ordem do mundo criado pelo Todo-Poderoso (Salmo 103).
Então, imitando o sábio rei Salomão, o diácono pronunciou uma litania da paz (1 Rs 8, 22-53), e o
coro começou a cantar o antigo hino vespertino do rei Davi (Salmos 140; 141; 129; 116). Durante
esses cantos, o diácono cumpriu o antigo ritual do incenso vespertino do templo, estabelecido por
Moisés (Êxodo 30, 8), cujo protótipo o apóstolo João contemplou no templo celestial (Apocalipse 5,
8). Enquanto isso, o coro, de acordo com a ordem do Apóstolo, estava cantando: "com salmos, e
hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração" (Efésios 5:19)
por todas as suas grandes bênçãos e pedindo perdão. Então este coro, cumprindo as palavras de
Salomão “a memória dos justos será abençoada” (Provérbios 10, 7), cantou os hinos em honra dos
santos, em cuja congregação o louvor é enviado a Deus. (Salmo 149, 1). No final dos hinos, as
portas do altar foram abertas e os sacerdotes, com velas nas mãos, fizeram a procissão da entrada
vespertina, que tem sua origem no rito de acender as sete lâmpadas no Antigo Testamento todas as
noites (Êxodo 27, 20-21). O coro glorificou Aquele que é a verdadeira Luz (João 1, 9), as palavras
do antigo hino pós-apostólico. Então o diácono pronunciou o grande prokimenon, extraído do
Salmo 61:

"Deste-me a herança dos que temem o teu nome.


Desde o fim da terra clamarei a ti.
Abrigar-me-ei no esconderijo das tuas asas. 
Assim cantarei louvores ao teu nome para sempre"  (Salmo 61, 5, 2, 4, 8).

O coro, imitando o coro celestial dos anjos (Apocalipse 4, 8-11), cantou o primeiro verso em cada
uma dessas orações. 

Percebeu-se pela face de meu interlocutor que ele ficou particularmente comovido com as palavras
do grande prokimenon (expliquei-lhe tudo o que ocorria no serviço divino, passo a passo). 

Como sinal de que chegou o tempo do arrependimento, as portas do altar se abriram, e o leitor
pronunciou uma das mais antigas orações cristãs: "Concede, ó Senhor, que nos guardemos do
pecado esta noite ..." Então o diácono convidou todos os fiéis a buscar o Reino e sua justiça (Mateus
6, 33), e o coro cantou o Salmo 122 e as canções penitenciais acompanhando ele. Elas nos
convidaram a imitar a oração do publicano e a evitar o orgulho farisaico (Lucas 18: 9-14). O leitor
nos lembrou da proximidade de nossa morte, cuja imagem representa o sonho. Ele colocou em
nossos corações o exemplo da atitude correta em relação a este evento inevitável, pronunciando a
maravilhosa oração de São Simeão, o Recebedor de Deus (Lucas 2: 29-32). Tendo purificado nossa
mente de apegos terrenos, nos unimos ao hino dos serafins (Isaías 6: 3) e ousamos chamar Deus de
"Pai nosso", pronunciando as palavras da oração do Senhor (Mt 6, 9-13). Então, pedimos àqueles
que já alcançaram a adoção plena como filhos de Deus que nos ajudem em nossa oração.
Especialmente, clamamos a Ela que profetizou no Espírito: "Pois eis que desde agora todas as
gerações me chamarão bem-aventurada" (Lucas 1:48). Oferecemos-lhe uma doxologia, composta
das palavras do arcanjo Gabriel (Lucas 1:28) e as de Isabel (Lucas 1, 42-43). O padre junto conosco
suplicou ao Senhor com as palavras de Santo Efrem para nos livrar de um espirito de pecado e nos
conceder um espírito de virtude. Depois de glorificar nossa Esperança - Cristo - e a Santíssima
Trindade, revelada por Ele para nossa edificação, nós deixamos a igreja. Nosso caminho e a noite
vindoura foram abençoados pelo nome de Jesus, que é uma  "torre forte; os justos correm para ela
e estão seguros" (Provérbios 18, 10). 

Já era tarde demais e começamos a nos despedir. Eu aconselhei meu companheiro a se reconciliar
com Deus e a ficar sob a proteção de Suas asas, na Igreja Ortodoxa. Ele prometeu que pensaria
sobre isso. Despedi-me dele, lembrando-me das palavras de Cristo: "Examinais as Escrituras ...
elas são as que dão testemunho de Mim" (João 5:39). "Eu edificarei a minha igreja; e as portas do
inferno não prevalecerão contra ela "(Mateus 16:18).

***

A Grande Quaresma passou. A Páscoa foi celebrada na Terra. Visitando as igrejas decoradas com
flores, rodeadas por cerejas perfumadas e macieiras, lavadas com a fresca tempestade de maio,
encontrei uma pequena e maravilhosa igreja em Zamoskvorechye. Meu coração me atraiu para
aquela preciosa casa do Noivo Celestial. Tendo entrado, sob suas abóbadas perfumadas, vi alguns
homens que esperavam para confessar ao padre. De repente, entre os homens que estavam lá, vi
meu interlocutor. Acontece que, depois de algumas dúvidas, esse meu conhecido rejeitou seus erros,
ele se arrependeu de seus pecados e agora está aprendendo a viver de acordo com os mandamentos
de Deus ...

"E (o Senhor) disse: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. E
dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele
como. Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão
cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está chegada a
ceifa." (Marcos 4:26-29)

https://skemmata.blogspot.com/2018/09/visita-de-um-protestante-uma-igreja.html

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