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PRIVATE SERIES
Private
Invitation Only
Untouchable
Confessions
Inner Circle
Legacy
Ambition
Revelation
Paradise Lost
Suspicion
Scandal
Vanished
Ominous
Vengeance
Last Christmas
The Book of Speels

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SINOPSE
Ariana Osgood tem tudo o que uma garota da Academia Easton
poderia querer: boas notas, o namorado perfeito e um lugar cobiçado
na exclusiva Casa Billings.
Mas, na primeira noite de férias de Natal, uma nevasca a prende no
campus com o irresistível bad-boy Thomas Pearson. Sozinhos. Em vez
de aconchegar-se com o seu namorado ao lado de um fogo acolhedor
em Vermont, ela procura o calor com Thomas na Casa Ketlar.
Enquanto a neve transforma Easton em um paraíso de inverno, Ariana
se encontra apaixonada por Thomas. Mas alguém está assistindo seu
romance clandestino se desdobrar, e esse alguém tenta transformar seu
fim de semana de férias em um pesadelo...
Last Christmas revela o segredo do que realmente aconteceu antes de
Private começar, e a verdade chocante vai mudar tudo para os fãs da
série de sucesso de vendas de Kate Brian.

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PRÓLOGO
OUTUBRO DO ÚLTIMO ANO
Traduzido por I&E BookStore

L
anternas brancas cortaram a escuridão quando ariana Osgood desviou na pista
dupla da estrada para uma rua coberta de folhas perto da periferia de Easton,
Connecticut. Ela agarrou o volante com uma mão e ajustou o espelho retrovisor
com a outra, olhando nervosamente para ele.
Acalme-se, Ariana. Apenas calme-se.
Ela não estava sendo seguida; ela sabia. Ninguém tinha visto ela fugindo da Casa
Billings no Range Rover de Josh Hollis. Ninguém sabia que ela estava indo na rota
que ela tinha tomado apenas uma hora atrás com Noelle Lange, Kiran Hayes e Taylor
Bell. Ela estava voltando por Thomas. E ninguém sabia por que ela tinha que
encontrá-lo. O segredo dela — o segredo deles — estava seguro.
Pedras e pedaços de terra endurecida estalaram sob os pneus do Range Rover
quando ela direcionou o carro para fora da estrada, cortando através do campo
relvado. Ela inclinou-se e olhou para a escuridão.
Ele estava em algum lugar lá fora. Ela só tinha que encontrá-lo, falar com ele. E
quando ela o fizesse, ele iria entender tudo. Entender que ele estava perdendo seu
tempo com Reed Brennan, ela não era nada mais do que uma novidade. Um erro
terrível. Entender que ele deveria ficar com Ariana.
De repente, os faróis capturaram alguma coisa. Alguém. Alguém tombando de
um poste impotentemente. Thomas.
— Não! — Ela pisou no pedal do freio e desviou violentamente, por pouco o
perdendo de vista. Com as mãos trêmulas, Ariana procurou a fechadura e abriu a
porta, deixando os faróis acesos.
— Thomas! — Sua voz soou baixa no espaço aberto, abandonando-se na
expansão ao redor deles. A cabeça de Thomas pendia para frente, com o queixo no
peito. Ele gemeu e murmurou algo que Ariana não conseguiu entender. Pânico
borbulhava em sua garganta enquanto ela olhava incrédula para a figura à sua frente,
como se estivesse vendo pela primeira vez. Elas realmente tinham deixado ele nessas
condições? Seus braços e pernas foram amarrados ao poste com uma corda grossa e
um saco de malha preta estava cobrindo sua cabeça. Seu peito e tronco estavam
cobertos com arranhões, onde suas amigas o cutucaram com galhos de árvores.
Sangue seco cobria um corte em seu ombro. A camisa que ele estava usando estava no
chão, ao lado do taco de beisebol que Noelle havia esquecido de levar com ela
quando ela tinha ido embora há menos de uma hora atrás.
O coração de Ariana torceu dolorosamente em seu peito. Como ela pôde ter
deixado isso acontecer? Ela nunca quis machucá-lo, apenas seguiu em frente com o
plano de Noelle para que ela não suspeitasse de nada.

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— Thomas. — No segundo em que seus dedos roçaram sua pele molhada, ele
estremeceu, afastando-se do contato. Dela. — Thomas, sou eu — ela falou, tirando o
saco da cabeça dele. Ela teve que cobrir a boca para não vomitar. Thomas parecia
quase... morto. Seus cachos molhados estavam emaranhados contra seu rosto cinza e
suado.
— Eu estou aqui. Está tudo bem — ela sussurrou, tanto para ela quanto para ele,
e começou a trabalhar no nó que prendia seus pulsos. Ele não se mexeu. — Você está
seguro. Estou aqui para cuidar de você — ela resmungou, puxando inutilmente o nó.
Ela devia matar a si mesma por não ter pensado em trazer uma faca ou uma tesoura.
As pálpebras dele tremeram. — Cuidar de mim? — ele gritou.
— É claro. — Ele ficaria tão grato a ela por ter salvado sua vida — por esconder
o segredo deles de todos — que ele nunca a deixaria de novo. Tudo voltaria ao
normal, e eles poderiam ficar juntos. Como ela havia planejado. Como ele havia
prometido.
— Vá para o inferno — ele bravejou.
O veneno em sua voz foi como um tapa na cara. Thomas nunca tinha falado
com ela daquela maneira. Cravando as unhas nas palmas das mãos, ela se lembrou de
que ele provavelmente ainda estava bêbado ou drogado. Ele não sabia o que ele
estava dizendo. Ele a amava, queria estar com ela. Ela sabia que ele queria. Ela só
tinha que fazer ele se lembrar disso.
— Thomas, eu só quero ajudar. — Ela soou sem energia. E ela odiava soar sem
energia. Ela pegou a corda em volta do seu pulso e puxou os nós. — Eu...
— Não me toque — ele disse, sua voz mais alta desta vez. Seus olhos azuis
perfuraram os seus, cheios de desgosto. — Você acha que eu não sei que foi você
quem me amarrou desta maneira, você acha que eu não reconheci sua voz?
— Não fui eu! Foi Noelle! Eu não consegui pará-la! — A imagem dele ficou
borrada na frente dela quando seus olhos se encheram de lágrimas. Isso não pode
estar acontecendo. Depois de tudo o que eles haviam passado juntos, isso não poderia
terminar assim. — Eu nunca iria machucá-lo. Eu te amo — ela disse, sua voz um
sussurro quase inaudível. — Você me ama também. Você tem que me amar. — Uma
lágrima salgada escorreu pelo seu rosto.
— Ou o quê? — ele cuspiu. Seu olhar cortou-a como uma lâmina de aço. — O
que você vai fazer, Ariana? Me matar? — Um riso estranho escapou de seus lábios. —
Como você matou...
— Chega. Você está bêbado. Você não sabe o que está dizendo. Você não está
pensando claramente.
Ele balançou a cabeça, sua risada desesperada ainda pairando no ar entre eles. —
A coisa é — ele falou roucamente, — pela primeira vez na minha vida, eu realmente
estou sóbrio. Tudo está claro agora que eu tenho Reed na minha...
— Não se atreva a dizer esse nome — Ariana disse, cravando as unhas em seus
braços. Uma raiva quente cresceu dentro dela. — Ela não é como nós, e você sabe
disso. Ela é uma ninguém, Thomas. Um nada.
— Ela é tudo! — Thomas gritou. Ele pulou para frente, o peito arfando. — Você
não entende? Ela é tudo o que você não é, Ariana. Eu a amo.
— Não, você me ama! — Ariana gritou. — Tudo o que eu fiz, eu fiz por você.
Por nós.
— Não há nenhum nós — Thomas cuspiu.

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— Não há nenhum nós? — ela repetiu estupidamente, recuando e fazendo uma
careta para sua vulnerabilidade. Ela se esforçou para manter a voz firme. — Você não
me ama?
— Não mais. Não depois das coisas que você fez. Das coisas que fizemos. — Ele
ficou em silêncio por um tempo. Quando ele falou, sua voz era calma. — Mas eu vou
consertar tudo — disse ele calmamente. — Vou fazer o que é certo. Eu tenho que
fazer isso.
— O que você está dizendo? — Sua garganta estava apertada, como se ela não
pudesse conseguir ar suficiente. Como ele pode não amá-la mais? Ele tinha que amá-la.
Ele tinha. Ele era a razão pela qual ela fez essas coisas. A razão pela qual as coisas
ficavam bem. Valiam a pena. Como é que ela deveria viver sem ele? Como ela
deveria continuar a vê-lo com Reed? Seu estômago revirou ante o pensamento e ela
ofegou por ar.
Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
— Eu vou à polícia. Vou contar tudo a eles. Vou esclarecer tudo sobre você,
sobre mim e talvez enquanto eu estiver lá, eu diga o que você e suas amiguinhas do
Billings fizeram comigo hoje à noite, também.
— Não. Não, não, não. — Ariana se dobrou. Isso não podia estar acontecendo.
Não podia. O que tinha dado errado? Por que ele estava fazendo isso? Como ele
podia não amá-la mais? Não querer protegê-la? — Você vai estragar tudo. Minha vida
irá acabar. Por favor — ela implorou, tropeçando em direção a ele. Ela tropeçou em
uma pedra e caiu a seus pés, e soluços emanaram de seu corpo tremendo. — Por
favor, não faça isso.
— Eu tenho que fazer — ele repetiu lentamente. O corte no ombro dele tinha
começado a sangrar novamente. — Por Reed. Ela merece a verdade.
— Thomas — queixou-se Ariana, caindo na terra rachada. As lágrimas corriam
pelo seu rosto sujo. Tudo pelo que ela tinha trabalhado tão duro estava escapulindo.
Logo, ela ficaria com nada. Com ninguém.
A imagem borrada de um taco de beisebol hesitou na frente dela, a poucos
centímetros de distância. Ela observou seus dedos se fecharam ao redor do taco de
madeira. Observou quando ela puxou o taco mais perto e o trouxe lentamente para
seus pés. Era como se ela estivesse vendo outra pessoa. — Eu não posso deixar você
fazer isso. Eu não posso deixá-lo me arruinar, me deixar — ela disse calmamente. Era a
voz de outra pessoa. Não era a dela. Não podia ser. Ela era Ariana Osgood. A Boa
Menina da Academia Easton. — Desculpa, mas eu não posso.
O medo e a resignação lentamente filtraram o rosto e a voz de Thomas. — Você
é completamente louca — ele disse calmamente. — Eu já deveria saber.
— Cale a boca, Thomas. — Ela levantou o taco sobre sua cabeça.
— Assim como sua mãe. — Ele a olhou diretamente nos olhos e cuspiu nela.
— Já chega! — ela chorou. As lágrimas vieram em maior quantidade agora. —
Eu não sou nada como ela! Nada!
— Você nunca foi boa o suficiente para mim. Para ninguém.
Nunca se sabe do que as pessoas são capazes até que elas são levadas ao
extremo, Ariana.
— Você é louca. Você é malu...
O estalo doentio do taco contra as costelas de Thomas a assustou. Um grito
primitivo e gutural escapou de sua alma enquanto ela sentia o corpo dele ceder sob

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suas mãos. Os gritos dele se entrelaçaram com os dela, até que ela não conseguia
distingui-los. As súplicas, as queixas e o ruído oco do taco cresceram em torno dela.
Ela precisava de silêncio. Um momento de paz. Ela levantou o taco sobre sua cabeça
novamente e fechou os olhos.
E tudo ficou escuro.

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A BOA GAROTA
DEZEMBRO DO PENÚLTIMO ANO
Traduzido por Lua Moreira

A
riana Osgood só queria ir para casa.
Ela sabia que era uma loucura. Ela estava, depois de tudo, de pé na
beirada do salão de dança no Hotel Driscoll, sendo testemunha da festa mais
decadente do ano. A festa que ela tinha circulado de vermelho em seu calendário
social três meses atrás e tinha estado esperando todos os dias desde então. Mas, agora
que estava no baile de inverno, olhando toda a Academia Easton se misturando,
conversando e dançando, tudo que ela queria fazer era voltar para a Casa Billings e
estar com suas amigas. Suas irmãs. Dentro do Billings isso era simples. Dentro do
Billings ela poderia apenas ser ela mesma.
Ariana levantou a mão e tocou seu cabelo loiro claro, certificando-se pela
quinquagésima vez que o coque que ela tinha trabalhando tanto para fazer estava
arrumado. Como ela podia ter esquecido como esses eventos sempre a deixava
nervosa? Sempre fizeram ela se sentir com calor, presa e sem ar. Ela ia dizer algo
estúpido. Ou fazer algo errado. E todo mundo veria. Todo mundo saberia.
Esse foi o motivo pelo qual ela havia passado os últimos 15 minutos apoiada
contra uma coluna de mármore com nervuras aos arredores do salão, fora de vista da
mesa onde seus amigos e namorado, Daniel Ryan, estavam sentados. Mais cedo ou
mais tarde eles iriam perceber suas maratonas de viagens ao banheiro e seus abraços
constantes à coluna atual, e ela teria que se juntar a eles com seus deleites. Melhor
fazer estes últimos minutos de invisibilidade contarem.
Respirando profundamente, Ariana deixou os sons das risadas e o tilintar dos
talheres de prata se desvanecessem nas curvas de sua mente e viu a cena ao seu redor
se desdobrar como um filme mudo. Ela memorizou todos os detalhes do salão de
mármore branco e preto como se sua vida dependesse disso. Tomar nota dos detalhes
e catalogar uma cena sempre a fazia sentir-se calma, sob controle.
Lá estavam seus companheiros de classe, rígidos e formais em seus ternos e
vestidos. A banda de doze pessoas cantando versões pop de canções de Natal no
palco da frente. A leve neve de dezembro caindo lá fora, os grandes flocos de neve
beijando as vidraças chumbadas. O visco de cera e as coroas de luz das velas que, se
ela semicerrasse os olhos, pareceriam explosões de ouro.
Mas as cortinas... bem, ela teria que lembrar até o último ponto de filigrana para
que ela pudesse informar a sua mãe sobre elas. Elas eram esquisitas, todas de veludo
bordô com flores de lis de fios de ouro. Sua mãe, nativa de Nova Orleans, amava
flores de lis. Quando Ariana tinha nove anos, sua mãe lhe havia dado um lindo colar

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de ouro de flor de lis de Natal. Esse havia sido o Natal favorito de Ariana. O último
Natal feliz que ela podia se lembrar.
O último antes do pai dela ter começado a fazer aquelas viagens extensas de
negócios. Antes da mãe dela ter começado a decair. Ariana nunca tinha tirado o colar
antigo, como se de alguma maneira ele pudesse atá-la àqueles tempos mais felizes.
— Opa, desculpa! — Uma aluna bêbada do penúltimo ano em um vestido
enrugado esbarrou em Ariana no caminho para o banheiro, rindo, se arrastando e
tateando seu rosto cheio de cicatrizes de acne.
Em um piscar de olhos, Ariana voltou para seu corpo e os sons do salão de
dança invadiram seus ouvidos no volume máximo. A banda estava tocando “All I
Want For Christmans” e uma menina soltou um grito estridente, enquanto o
namorado dela a levantava do chão e girava em torno dela. Ariana suspirou e
afastou-se do conforto fresco da coluna, fazendo um movimento rápido com a língua
nos dentes para limpar qualquer gloss enquanto ela tecia o seu caminho através da
multidão.
Enquanto ela se aproximava lentamente da sua mesa, Ariana gravou uma
imagem mental de suas amigas. As Garotas do Billings. Ela gostava de vê-las de longe,
estudar seus jeitos, observar seus tiques, gestos e hábitos. Mais do que tudo, ela
adorava quando ela as pegava fazendo algo grave ou estúpido quando pensavam que
ninguém estava olhando. Como tocar nos seus dentes, ou ajustar seus seios em seus
vestidos, ou olhar para os meninos bonitos-porém-idiotas do Drake do outro lado da
sala. Ela gostava de fazer listas mentais de suas imperfeições. Isso a fazia se sentir
menos imperfeita.
Claro, encontrar as imperfeições entre as Garotas do Billings nunca foi fácil.
Exigia um olho treinado. Elas eram, afinal, a realeza de Easton. O que significava que
Ariana estava na realeza de Easton. Ela tinha estado desde setembro, quando tomou
seu lugar como membro júnior da elite do dormitório de Easton. Agora, as Garotas
do Billings, aquelas que sua mãe sempre falou como se fossem personagens de um
conto de fadas, eram suas companheiras de dormitório. Suas amigas. Suas irmãs.
Quando Ariana estava a poucos metros de distância, ela percebeu que Isabel
Bautista, uma aluna do último ano que tinha carregado Ariana sob sua asa no início
do ano, estava brincando com seus saltos DG violeta debaixo da mesa, deixando-os
balançar em seus dedos enquanto ela olhava ao redor do salão. De repente, o da
direita se soltou e caiu a poucos centímetros de distância de seu pé. Ariana viu quando
Isabel se abaixou em sua cadeira com tanta naturalidade quanto possível para
recuperá-lo. Enquanto ela estava procurando ao redor com os dedos dos pés, ela
roçou o tornozelo de Noelle Lange, e Noelle bateu no braço do seu namorado Dash
McCafferty.
— Você está jogando pezinhos comigo? Por acaso nós temos doze anos? —
Noelle brincou.
— Não fui eu — Dash respondeu, mostrando um sorriso matador. — Mas eu
vou jogar sempre que você quiser.
Isabel finalmente enfiou o pé no sapato e sentou-se novamente, sem admitir
nada, mas a instantânea normalidade acalmou Ariana. Ela sorriu e finalmente se
juntou a eles.
— Aí está você — Noelle disse, colocando seu espesso e escuro cabelo por cima
do ombro enquanto Ariana sentava em sua cadeira. Noelle estava, como sempre,
usando seu preto usual — um vestido Adam Eve de cetim lustroso que exibia todas as

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suas curvas. — Eu estava começando a pensar que você tinha roubado uma garrafa de
Gristal do contrabando de Dash e havia ido andar pelas ruas de Easton.
Noelle tomou um gole de champanhe de sua taça de cristal — o champanhe que
o pai de Dash pagou os garçons para servirem na mesa em vez de cidra, uma vez que
o álcool era proibido em festividades da escola — e, em seguida, deu uma mordida
em um morango coberto de chocolate. Noelle era a melhor amiga de Ariana em
Easton. Elas também se equilibravam entre si. Noelle era mais descarada e confiante,
enquanto Ariana era mais reservada e cautelosa. Durante o seu período de trote no
Billings, Noelle tinha ajudado Ariana em mais de uma crise de confiança, enquanto
que Ariana tinha ajudado Noelle a aguentar as críticas das irmãs mais velhas em mais
de uma ocasião. Ela tinha certeza de que nenhuma delas teria passado pela iniciação
sem a outra.
— Noelle, sair assim é muita falta de educação — Ariana desaprovou enquanto
ela se sentava ao lado de Daniel. Ela alisou o vestido brando em camadas Alberta
Ferretti sobre os joelhos e colocou as mãos em torno do assento de sua cadeira
coberta de seda. — Eu estava apenas dando uma olhada em tudo. O comitê social fez
um trabalho incrível.
— Eu juro, se você começar a fazer análises sobre a gravura nos talheres, eu te
mato. — Noelle gemeu e colocou uma cigarreira de prata com um monograma em
sua bolsa Marc Jacobs.
— Eu acho lindo quando você faz tudo parecer poético — Daniel disse,
cruzando os braços sobre o encosto da cadeira de Ariana. Ariana olhou para seu perfil
esculpido, seu cabelo ruivo, seus cílios ridiculamente longos, e sentiu pela milionésima
vez o triunfo de ter um namorado como ele. Eles tinham sido um casal por mais de
um ano, e ela ainda se admirava de que ele a tinha escolhido dentre todas as outras
garotas de Easton. — E Noelle... — Ele inclinou a taça de champanhe na direção dela.
— Se você matar a minha namorada, você pode dar em Dash um beijo de adeus.
— É Natal. Não haverá morte na minha frente — disse Ariana.
— Desmancha-prazeres. — Noelle ofereceu a garrafa a Dash, mas ele recusou.
— Eu tenho que levantar cedo amanhã — disse ele, consultando o relógio de
prata espesso. Ele passou as mãos pelos cabelos loiros ondulados e soltou um suspiro.
— Eu tenho que estar em Boston às seis da manhã para encontrar o meu pai.
— Seis horas da manhã? Você é um santo, Dash McCafferty — Paige Ryan disse
enquanto Noelle entregou-lhe a garrafa.
Dash corou, inclusive com Noelle observando-o. Paige apenas tinha esse tipo de
poder sobre as pessoas. Sua tatara-tatara-avó Jessica Billings tinha fundado a Casa
Billings a mais de 80 anos atrás. Paige, com seus cachos ruivos e olhos verdes de vidro,
era uma Billings. A verdadeira líder. A menina que fez até mesmo Noelle parar com a
incerteza. Ela também era irmã gêmea de Daniel.
— Então, o que eu perdi? — perguntou Ariana.
— Cerca de dez minutos do seu namorado falando sobre seus planos de férias de
Natal. Foi mortalmente chato — ainda pior do que quando você chega com seu
temperamento de Emily Dickinson. — Noelle revirou os olhos escuros. Um garçom
vestido de preto silenciosamente se aproximou por cima de seu ombro, juntando os
pratos cuidadosamente e ordenando os garfos de sobremesa sobre guardanapos
frescos.
Daniel deu em Ariana um beijo rápido. — Vermont vai ser incrível — ele disse
com uma piscadela.

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Ariana deu um pequeno sorriso para Daniel, seu coração de repente pesando no
peito. Ela sabia o que essa piscadela significava. Ela e Daniel tinham há muito tempo
decidido que iriam perder a virgindade um com o outro em seu aniversário de um
ano. Mas quando seu aniversário rolou em novembro, Ariana tinha se acovardado.
Claro, ela não tinha deixado Daniel saber que ela estava com medo. Ela simplesmente
insistiu que ela não queria perder sua virgindade em um dormitório. Daniel tinha
ficado desapontado, mas foi compreensivo. No dia seguinte, ele a convidou para
passar as férias com ele e sua família em algum lindo albergue de esqui em Vermont,
prometendo algum tempo verdadeiramente sozinhos.
Ariana sabia o que isso significava. Isso significava que não havia mais desculpas.
A pergunta era: por que ela não estava animada sobre isso? Afinal, Daniel era
perfeito. Ele ganhou os primeiros lugares em cada semestre, era o capitão do time de
lacrosse e um modelo lindo, e já havia sido aceito em Harvard na decisão antecipada.
Mas a ideia de fazer sexo com ele a fazia se sentir como se tivesse engolido uma
manada de elefantes. Isso não podia ser normal. Qualquer garota mataria para estar
em sua posição, para ter um namorado como Daniel. O que havia de errado com ela?
Ela estudou o guardanapo branco e italiano de seda até que o sentimento passou.
— Bem, que inveja. — Isobel ajustou a alça de seu vestido de cetim roxo
profundo. — Meus pais estão me trocando por Turcos e Caicos. Estou amarrada ao
campus até o Natal.
— Você pode vir para Nova York comigo, se quiser — Noelle ofereceu com um
encolher de ombros. — Meus pais não vão nem perceber que você está lá.
Eu gostaria de poder aceitar a proposta dela, Ariana pensou, então
imediatamente se sentiu culpada. Ela pegou uma das caixas decoradas em vermelho e
ouro da mesa e envolveu as fitas entre as unhas até que elas se enrolaram. — Ou você
pode vir a Vermont com a gente — Paige disse, com um movimento de seu cabelo.
Ela estava justo passando a garrafa para Ariana quando Thomas Pearson
apareceu do nada e agarrou-a com os dedos. Ele caiu na cadeira vazia entre Ariana e
Paige e tomou um gole.
— Isso está muito bom — disse ele, afastando a longa franja castanha para longe
dos seus olhos com um movimento casual de sua cabeça. — Mas vocês, meninas,
sempre têm as coisas boas, não é?
— Ótimo. Agora eu vou ter que esterilizá-la — Noelle reclamou, inclinando-se
sobre a mesa para pegar a garrafa.
Thomas se virou e sorriu para Ariana, e seus profundos olhos azuis se alegraram.
Ela amaldiçoou silenciosamente sua má sorte. Thomas sempre a deixava
desconfortável. A maneira como ele pensava que ele era melhor do que todos os
outros. A maneira como ele sempre brincava com ela. O fato de que ele era um
traficante de drogas perdedor, sem respeito por ninguém ao seu redor...
— Esterilizar, entendeu? — ele disse a Ariana, seu tom inexpressivo. Ele afrouxou
a gravata do smoking preto e atirou um braço sobre as costas da cadeira. — Porque
eu estou cheio de germes. Ela é hilária.
Ariana desviou o olhar e se afastou de Thomas para mais perto de Daniel,
colocando o ombro na dobra do seu braço.
— Sério, vamos a Vermont — Paige disse para Isobel, ignorando Thomas como
sempre fazia. Mesmo que ele fosse o melhor amigo de Dash e tivesse vindo de uma
das melhores famílias de Nova York, Paige nunca lhe deu nenhuma atenção. — Salve-

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me de ser a vela para esse casal sentimental aí — acrescentou, apontando para Ariana
e Daniel com um morango.
— Ah, você está amargurada porque Brady terminou com você no segundo em
que ele chegou em Yale — Daniel brincou com a irmã.
Os olhos de Paige brilharam com raiva. — Desculpe-me, mas eu não levei um
fora. Eu que eu terminei com ele.
Todo mundo olhou ao redor da mesa. Todos sabiam que Brady Flynn tinha
terminado com Paige. Vários ex-alunos de Easton que estavam em Yale
testemunharam o rompimento e mandaram uma mensagem instantaneamente a seus
amigos sobre isso. Mas é claro que ninguém iria contradizer Paige — não na cara dela,
pelo menos.
— Então, qual é o protocolo de Natal da família Lange? — Isobel perguntou a
Noelle, habilmente mudando de assunto antes que Paige explodisse. A última vez que
Paige perdeu a paciência, não tinha sido bonito. Durante as tarefas numa manhã pós-
separação, ela tinha levado a normalmente forte Leanne Shore às lágrimas, exigindo
que ela refizesse a cama de Paige dez vezes até que os cantos estivessem em perfeitos
ângulos de noventa graus. Depois Leanne tinha passado uma hora no escritório da
enfermeira com o inalador, lutando contra um ataque de pânico.
Ariana estava orgulhosa de que ela nunca havia tido um ataque desses durante o
trote. Ao menos não em público.
— O balé, coquetéis com a desculpa miserável de meu pai para um advogado e
sua esposa. O de sempre — disse Noelle. — Meus pais provavelmente vão tentar
arrumar um pouco de tempo para as atividades extracurriculares e irão às compras de
Natal, o que significa que eles têm mais presentes para me comprar. Eles ficam um
pouco burros, eu ganho algum Armani. E todos ganham.
Noelle falava sobre os assuntos de seus pais como se estivesse dando um
relatório oral sobre a Revolução Industrial. Como se não houvesse nada no mundo
que poderia ter sido mais mundano. Ariana moveu seus dedos em um de seus brincos
de água-marinha, invejando a forma como tudo era tão fácil, tão simples para a sua
melhor amiga.
— Eu não posso imaginar o que é isso, se preocupar quando seus pais vão
programar seu “tempo cara-a-cara” com seus lados descuidados. — Daniel se inclinou
para trás, enquanto o garçom entregou copos de café e tigelas de açúcar na mesa. —
Isso parece ser uma merda.
Ariana inalou bruscamente. Ninguém nesta mesa precisava de um lembrete sobre
o quão feliz e funcional a família Ryan era. Os olhos escuros de Noelle ardiam de
ironia.
— Bem, Daniel, nem todos podem ter a família perfeita, as notas perfeitas, e a
namorada perfeita — Thomas disse ironicamente, provocando Ariana com os olhos.
— Se tivéssemos isso, sobre o que iríamos falar com os nossos terapeutas? —
Dash brincou.
— Ou os populares Xanax acabariam — Thomas acrescentou com uma risada
curta.
— Como se você precisasse de uma desculpa para popularizar alguma coisa —
Noelle disse.
Thomas sorriu. — Touché, senhorita Lange. — Ele pegou um cubo de açúcar na
tigela e jogou-o na boca. — E você, Ariana. Tem popularizado algo ultimamente?
A pele de Ariana esquentou.

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— Cara — Daniel advertiu, sentando de frente para olhar para Thomas.
— O quê? — Thomas fingiu inocência com as palmas das mãos viradas para
cima.
Ariana forçou o olhar para Thomas. Ele estava olhando diretamente para ela
com seus olhos azuis marcantes.
Bem nesse momento uma câmera brilhou, iluminando as bordas chanfradas de
seu copo com faíscas de luz. Ariana se encolheu.
— Jesus — Noelle gritou, agitando o guardanapo na direção do flash. — Sergei,
chega de perseguição de paparazzi. Encontre novas musas.
Sergei Tretyakov ficou parado perto da mesa, havia uma Nikon preta com uma
lente teleobjetiva pendurada em seu pescoço. Sergei era um estudante de intercâmbio
da Letônia e um estranho em Easton. Ele tinha sobrancelhas escuras arqueadas, olhos
negros de carvão, e um nariz um pouco torto. Ele poderia ter sido levemente
atraente, mas ele era muito tímido e tinha uma tendência a encarar. Além disso, ele
sempre usava uns tênis sujos e velhos não importava para onde fosse. Ele até mesmo
estava usando-os hoje à noite, para um evento formal. Ariana poderia dizer muito
sobre uma pessoa a partir de sua escolha de calçado, e os de Sergei gritavam
“moleque de rua”. Ainda assim, ela sentia uma certa afinidade relutante com ele. Ela
era, afinal, uma companheira de observação.
— Só mais uma — ele disse baixinho no seu cadenciado sotaque do Leste
Europeu.
Desta vez, ele apontou a câmera diretamente para Ariana e bateu de longe.
Ariana corou por ter sido a escolhida.
Daniel levantou-se da cadeira arrastando-a ruidosamente contra o chão de
mármore. — Cara, você acabou de tirar uma foto da minha namorada?
A mesa ficou em silêncio e Ariana podia sentir os olhos de Noelle nela. Ela parou
de respirar.
De novo não... de novo não... de novo não...
Ariana observou o rosto de Sergei ficar pálido. Ele se afastou um pouco, com os
ombros encurvados para frente.
— Eu tenho tirado fotos de todos esta noite. — Sergei era como um cachorrinho
encolhido diante de um dono furioso. Ariana não poderia suportar isso. Além disso, a
última coisa que ela queria era uma cena como a que tinha acontecido na floresta no
verão passado. Não aqui. Agora não.
— Daniel, está tudo bem. Não se preocupe com isso — ela disse em uma voz
suave.
Mas Daniel não estava ouvindo. — Não, não está tudo bem. — Ele fixou os
olhos em Sergei e cruzou os braços sobre o peito. — Você acha que a minha
namorada é bonita?
Sergei piscou indecisamente. — Bem... eu... sim? — Isso soou como uma
pergunta.
O rosto de Daniel se contraiu. Vários garçons trouxeram tortinhas de crème
brûlée em bandejas de prata, enchendo a sala com o aroma de maçãs defumadas e
noz-moscada.
— Então o que você mais gosta na minha namorada? Seu sorriso? Seu cabelo? —
Os olhos de Daniel brilharam. — Seu decote?
Thomas e Dash esconderam seus sorrisos por trás de suas mãos. Noelle e Paige
levantaram-se, revirando os olhos para a exibição de testosterona, e foram em direção

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ao banheiro. Isobel pegou seu Sidekick e começou a escrever uma mensagem,
provavelmente alertando os outros alunos no salão para o evento principal se
desdobrando na mesa um.
— Daniel, para — Ariana disse calmamente enquanto Sergei olhava para o chão.
— E você tira fotos de todas as garotas bonitas? — perguntou Daniel, com um
sorriso condescendente brincando em seus lábios carnudos. — Ou apenas da minha
namorada?
— Eu acho que vou embora agora — disse Sergei, afastando-se da mesa. Ariana
encolheu-se quando Daniel agarrou o braço de Sergei. — Só um segundo, amigo.
Com um movimento rápido, ele levantou a câmera de Sergei sobre sua cabeça e
começou a percorrer as imagens armazenadas. Sergei tentou pegar a câmera, mas
Daniel segurou-a fora do seu alcance.
— Oh, aqui está uma foto de Ariana, e outra e mais outra. Isobel... você está
aqui também. E essa é uma ótima de Natasha. Hmm. Não há caras em nenhuma
destas. Interessante. Sabe, você tem sorte de eu não chamar a polícia para prender
você, pervertido.
Thomas riu baixinho.
— Isso é o suficiente — Ariana disse com firmeza, as faces coradas e o coração
acelerado.
Daniel olhou para ela por um segundo, os olhos duros, irritados, vazios. Em
seguida, todo o seu corpo se afrouxou e ele socou Sergei no ombro. — Brincadeira,
cara. Estou apenas zoando.
— Então eu posso ter a minha câmera de volta? — Sergei parecia desnorteado.
— Mais tarde — Daniel disse com uma piscadela. — Eu acho que é melhor eu
ficar com ela por enquanto.
A banda mudou para uma música lenta e de repente o ar cheirava a café e avelã.
Sergei estendeu a mão. — Você não pode simplesmente pegar a minha câmera.
Daniel sentou-se e inclinou a cabeça para o lado. — Cara, você não pode
simplesmente tirar fotos da minha namorada.
Sergei pareceu despedaçado por um segundo, enquanto olhava ansiosamente
para sua Nikon, em seguida, virou-se. Em sua pressa de sair, ele quase derrubou uma
garçonete que carregava copos d’água em uma mesa próxima. Ela olhou para ele e
limpou a água derramada com um guardanapo.
— Você não deveria ter feito isso. — Ariana tomou um gole de champanhe,
esperando que a mensagem de Isobel não tivesse chegado a muitas pessoas. Esperando
que não tivessem notado que seu namorado tinha acabado de humilhar um estudante
de intercâmbio estranho.
Daniel ergueu as mãos e riu. — Ei, eu estava apenas brincando com o cara. Além
disso, ele não deve ficar tirando fotos de você. Não sem pedir, de qualquer maneira.
O cara tem que aprender a ter um pouco de respeito. — Sua voz tornou-se séria, e ele
colocou a mão em seu joelho. Ela parecia fria e pesada. Possessiva. — Você sabe que
eu faria qualquer coisa por você, Ari. Qualquer coisa. Não se esqueça disso.
Ariana sorriu firmemente. — Eu não vou esquecer.
As palavras de Daniel deviam ter soado doces e amorosas. Mas, quando Ariana
teve um vislumbre de Sergei no outro lado do salão, parecendo nu e vulnerável sem
sua câmera, ela não podia deixar de ouvi-las como uma ameaça.

15
2
PERFEITA
Traduzido por I&E BookStore

A
riana olhou para o relógio. Doze e vinte e sete da manhã. Ela tentou lutar
contra a irritação que espetou ao longo de sua pele. Seus amigos tinham ido
embora há meia hora, seus pés doíam em seus saltos Chloe marfim, e o salão
estava quase vazio, exceto por alguns retardatários e trabalhadores da manutenção do
hotel, devidamente limpando mesas e varrendo o chão.
Sufocando um bocejo, Ariana avaliou os danos à sua volta. Havia taças de cristal
meio vazias com desbotadas marcas de batom Chanel espalhadas nas mesas. As velas
afiladas que havia nas peças de centro com enfeite natalino derreteram
completamente, e o cheiro forte de baunilha queimada e vegetais secos pairava no ar.
O lustre que parecia mágico no início da noite agora lançava uma luz berrante sobre o
garçom cansado. O salão de repente parecia normal. Usado. Ariana sentiu uma
pontada de tristeza inexplicável enquanto bebia a última gota de champanhe da sua
taça.
— A festa acabou, Osgood.
Ariana pulou ao som da voz de Thomas. Ele sentou-se pesadamente ao seu lado
no banco perto da saída do salão de baile, com os braços cruzados sobre sua camisa
amassada. Seus olhos azuis estavam ligeiramente fora de foco, e estava claro que ele
tinha bebido muito.
— Então por que você ainda está aqui? — Ela cruzou as pernas e colocou a taça
de champanhe no chão. Thomas cheirava a uísque e algo vagamente picante.
— Bem, eu certamente não estou esperando o meu namorado, que atualmente
está vomitando as tripas lá fora nos arbustos. Porque isso seria idiota. — Thomas
fungou e rolou um dos punhos da manga da sua camisa para cima.
Ariana puxou o seu colar, movendo-o para trás e para frente em sua corrente
delicada. Uma pequena parte dela concordava com Thomas. Ela deveria ter aceitado
a oferta de Noelle para ir para casa com ela e Dash. Mas então ela pensou em como
Paige tinha encarado a sugestão — um não — simples assim — um lembrete sutil de
que era dever de Ariana como namorada cuidar de Daniel. Ela só queria que ele não
tivesse desafiado Gage Coolidge para a hora da superioridade. Porque, então, ela
poderia estar em casa agora, escondida entre os lençóis de cetim.
Ela voltou-se para Thomas. — O que você estava fazendo nos arbustos?
— Oh, você sabe, um pouco disso, um pouco daquilo. Arbustos são sempre
divertidos. — Thomas sorriu sugestivamente. — Você já ouviu falar de diversão,
certo?
— Eu me lembro de já ter ouvido o conceito — Ariana respondeu secamente,
tentando se adiantar na sua brincadeira.

16
— Certo. Eu posso definitivamente ver você ficar estúpida e louca — disse ele
sarcasticamente.
O rosto de Ariana ficou quente. — Eu tenho feito muitas coisas estúpidas e
loucas.
— Verdade. Você está namorando Daniel Ryan — ele respondeu.
— Ha ha — Ariana disse, então percebeu com uma pontada o quão imatura ela
soou. Do outro lado do salão um garçom derrubou uma taça de vinho. Ele xingou,
em seguida, abaixou-se para pegar os fragmentos irregulares. — Daniel e eu estamos
muito felizes — ela acrescentou.
Thomas colocou os cotovelos sobre os joelhos e se inclinou para frente. — Então
você achou que a conversa dele com Sergei foi, o quê? Galante?
— Ele estava bêbado — Ariana apontou. — E se bem me lembro, você estava
rindo. — Ela soltou sua bolsa Gucci vintage do ombro e a colocou no colo. Sua
embalagem de Tic Tacs sacudiu dentro. — Eu estava rindo de Daniel, não de Sergei.
— Thomas passou os dedos pelo cabelo. Um lado ficou preso em sua orelha, fazendo-
o parecer, mesmo que brevemente, como um menino vulnerável em sua roupa formal
e amarrotada. — Então, você está pronto para se “divertir” em Vermont? — ele
perguntou com um sorriso maroto.
Ariana sentiu como se as palavras fossem um desafio. Mesmo que seu estômago
revirasse com o pensamento de perder a virgindade com Daniel, ela ergueu o queixo
e disse friamente: — Eu mal posso esperar.
Um trabalhador em seus vinte e poucos anos pegou uma garrafa vazia de Perrier
de uma das mesas, jogando-a com um barulho dentro do saco de reciclagem que ele
estava arrastando atrás dele.
— Sério? Porque parece que você está prestes a se juntar ao Garoto Danny para
formar um grupo de vomitadores nos arbustos.
— Você é nojento.
— Nojento, mas certo. — Thomas sorriu. Ele puxou um velho símbolo do metrô
de Nova York do seu bolso e o rolou para trás e para frente na madeira do banco. Ele
deixou uma faixa preta nos acabamentos de carvalho imaculados. — Você sabe que
você pode conseguir alguém melhor.
Apesar de Ariana saber que ele não estava falando sério, ela sabia que ele estava
apenas brincando com ela, mas como sempre ela não podia deixar de sentir uma
vibração por causa do elogio.
— Daniel é o namorado perfeito. — Ariana encontrou os olhos azuis de Thomas
com os seus próprios.
— Talvez na teoria — respondeu Thomas.
E ele estava certo. Ariana sabia que ele estava certo. Daniel era perfeito na
teoria, mas, às vezes, na realidade, nem tanto. Como esta noite. Ficando bêbado,
tratando Sergei como sujeira e ignorando-a quando ela pediu que ele parasse. Ele não
era tão perfeito.
Mas ela nunca iria admitir isso a Thomas.
— Por favor. Ele só tinha bebido um pouco demais. Num dia normal, ele é
incrível — Ariana disse a ele, apertando as mãos no banco ao seu lado e olhando para
frente. — Como ontem à noite, ele sabia que eu tinha uma tonelada de trabalhos
atrasados para terminar, então ele me trouxe o jantar no meu quarto — e mais uma
dúzia de rosas.
— Ooh. Que original.

17
— Foi...
— Tanto faz. Eu não quero falar sobre Daniel Ryan. — Thomas se inclinou para
trás, entrelaçando os dedos atrás da cabeça. — Eu quero falar sobre você.
— Sobre mim. — Ariana estava perplexa.
— É. Qual é a pior coisa que você já fez?
— A pior coisa? — Ariana recostou-se também, moldando suas costas enquanto
ele se divertia, em seguida, mudou-se quando ele decidiu que estava entediado. Ele
era o tipo de cara que não tinha nem piscado quando seu melhor amigo, Eli Tate,
tinha sido expulso no ano passado depois de o reitor o encontrar chapado em seu
quarto ao lado de uma garrafa meio vazia de Xanax — uma garrafa que todos sabiam
que Thomas havia lhe vendido. Mais do que isso, ela supostamente deveria estar
apaixonada por Daniel.
Mas, por alguma razão inexplicável, ela não conseguia afastar-se de Thomas.
Não conseguia quebrar o contato visual. Não conseguia evitar querer fazer algo
errado apenas uma vez. Não conseguia evitar de querê-lo.
— Alguém está tendo pensamentos travessos — Thomas falou em um sussurro,
olhando para os lábios de Ariana.
Todo o corpo de Ariana formigava. Ela abriu a boca para falar, sem saber o que
ela ia dizer.
— Ariana! — O grito de Daniel obliterou o momento. — Vamos dar o fora
daqui.
Ariana deslizou instantaneamente até a outra extremidade do banco, como se
Thomas tivesse acabado de queimá-la com um ferro quente. Daniel tinha visto algo?
Não que houvesse alguma coisa a ver, mas...
— Uau. Quando ele diz “pula”, você diz “que altura”? — Thomas brincou.
Ariana estreitou os olhos para ele, mesmo que seu coração batesse em um ritmo
dolorosamente rápido.
— Estarei aí em um segundo — ela falou para Daniel. Mas ele já tinha
desaparecido de volta no corredor.
De repente, tudo o que Ariana podia sentir era a picada de desinteresse de
Daniel. A maioria dos caras não teria estado um pouco preocupado se os visse ao
longo das ripas do banco. Ela fez uma lista mental das coisas que Paige e suas amigas
haviam forçado as meninas novas a fazerem para provar sua devoção ao Billings.
Como a vez em que Paige a fez invadir o Hell Hall com uma caneta para riscar partes
do nome da placa do diretor assistente para que ficasse escrito diretor ass.
Ele começou a assobiar o tema de Jeopardy.
— Pare com isso — disse Ariana.
— Eu quero ouvir algo real. Algo perverso. Algo quente. — Sua voz caiu para
um sussurro, e ele cutucou seu joelho com o dele. Ariana congelou. O contato
mandou um zumbido para a pele dela. De repente, seu rosto estava a poucos
centímetros do dela. Ela podia sentir a respiração dele em seu pescoço. Sua própria
respiração ficou presa na garganta. — Vamos lá, Osgood. Me choque.
— Bem... — Ariana parou, trabalhando para manter a compostura e acalmar seu
coração disparado. Foi difícil, porém, com os olhos de Thomas sondando cada
centímetro de seu corpo, como se descobrindo cada um de seus muitos segredos. Ela
se sentiu exposta. Nua. Exultante.
O que ele faria se ela estendesse a mão e tocasse seu rosto?

18
Por um momento ela se sentiu tonta, inebriante com a possibilidade de que ela
poderia realmente fazê-lo. Ele estava bem ali. Eles estavam sozinhos, relativamente.
Ele não seria capaz de provocá-la mais se ela fizesse algo tão arriscado. Sim, isso iria
tirar esse sorriso esperto de seu rosto incrivelmente bonito.
Ariana sentiu suas mãos contraírem com antecipação e colocou-as sob suas coxas.
O que havia de errado com ela? Este era Thomas Pearson. Todo mundo sabia
que ele era um jogador. Então o que ela estava fazendo sozinha em um banco com
um cara como Thomas? Era embaraçoso. E Thomas tinha notado isso também. Não
havia nada que Thomas Pearson não percebia.
De repente, Ariana sabia o que tinha que fazer. Ela virou-se para Thomas, com
um sorriso puxando seus lábios.
— Desculpe te desapontar, mas eu acho que eu sou uma boa menina. Sempre
fui, sempre serei. — E com isso, ela colocou a mão em sua perna, deixando a ponta
dos dedos roçar o comprimento de sua coxa enquanto ela lentamente se levantava.
Ela não podia acreditar que ela estava fazendo isso — especialmente com Daniel lá
fora.
Aparentemente, nem Thomas podia, cujos olhos estavam arregalados com o
choque. O ar estava espesso com eletricidade, e Ariana podia sentir seu pulso em seus
dedos. Em sua garganta. Em seu coração. Em todos os lugares. Tocá-lo, mesmo que
apenas por um segundo, pareceu inevitável. Como se não houvesse mais nada que ela
pudesse fazer além de tocá-lo. Respirando pesadamente, Thomas estendeu a mão,
como se para pegar a mão dela, mas Ariana se afastou. Ela virou-lhe as costas e
caminhou até encontrar Daniel no corredor, inebriante com triunfo. Ela havia
chocado Thomas Pearson. O próprio Sr. distante.
Aparentemente, ela era capaz de tais coisas.
— Desculpa fazer você esperar. Você está bem, amor? — perguntou Daniel,
colocando a mão em suas costas e conduzindo-a em direção a saída do hotel.
— Estou — ela mentiu. Ela na verdade se sentia fraca e vagamente mal pela
gravidade do que ela tinha acabado de fazer — a linha que ela tinha acabado de
atravessar. Ela tinha feito algo imprevisível. Algo fora do script e não planejado.
E ela tinha gostado.
Mas agora, quando eles entraram no saguão vazio e Daniel pegou a mão dela na
sua, o feitiço foi quebrado e a culpa caiu sobre ela em ondas. Só uma pessoa horrível
podia pensar em um cara que não seja seu namorado, mesmo que por um segundo —
e em um baile de Natal, nada menos.
— Eu mencionei esta noite que eu te amo? — perguntou Daniel, segurando a
porta da frente para ela. Um carro preto lustroso estava parado no estacionamento
circular, o motorista esperando pacientemente na calçada.
Ariana olhou para Daniel, analisando suas feições angulosas e seu smoking
Brooks Brothers, à procura de uma mancha, uma cicatriz, uma falha. Não havia
nenhuma. Mesmo pós-vômito ele estava perfeito.
— Eu também te amo — ela murmurou, dando-lhe um beijo rápido na
bochecha. Naquele momento, ela decidiu que tudo o que tinha acontecido com
Thomas não era nada. Era estúpido. Sem sentido. O resultado de muito champanhe.
Daniel era o namorado dela. Sua vida. O cara certo.
Ela repetiu as palavras repetidamente em sua cabeça, acreditando nelas cada vez
mais. Mas quando ela saiu para o ar frio da noite de dezembro, ela percebeu que sua
perna ainda queimava onde Thomas tinha tocado.

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3
MAIS
Traduzido por I&E BookStore

—E
la precisa de algo mais — Ariana murmurou em voz alta na tarde de
domingo. — Algo que ele não pode dar a ela.
Ela girou em sua cadeira, afastando-se de seu laptop e do
documento do Word inacabado que estava zombando dela. Ela acendeu as luzes de
Natal que ela e Noelle tinham pendurado em torno de suas janelas e viu o anoitecer
começar a se estabelecer ao longo do campus. Começava a escurecer mais cedo a cada
dia. — Então é realmente errado ela esperar que o romance vá dar em algo, se ela
sabe que nunca vai ser verdadeiramente feliz com ele?
— Depende. — Noelle surgiu a partir do closet que elas compartilhavam,
espreitando sobre a pilha de roupas que ela estava carregando em seus braços. —
Talvez ela não esteja se esforçando o suficiente. Eles tentaram fazer isso em público?
— Ela habilmente navegou pela bagunça de roupas que cobria a metade do quarto,
jogando as roupas do armário para uma mala Louis Vuitton aberta e desfeita em sua
cama. — Porque sempre que eu começo a ficar um pouco entediada com Dash, nós
vamos a algum lugar onde sabemos que podemos ser pegos. Aumentando o fator
“travessura”. Ou se ela tem uma câmara de vídeo, ela poderia...
— Não esse tipo de romance — Ariana gemeu, girando de volta para sua mesa.
Ela lançou uma edição antiga da Quill, a revista literária de Easton para a qual ela
contribuía, no chão e digitou uma frase em seu computador. — E me lembre de nunca
pedir emprestado um filme a você sem ter certeza de que ele não é caseiro.
— Anotado. — Noelle abriu a gaveta superior e tirou vários tubos de gloss
MAC.
Ariana pegou a vela de romã e cássis que Daniel lhe dera naquela manhã como
um presente de Natal-antecipado-barra-desculpa-por-eu-ter-ficado-bêbado-ontem-à-
noite e inalou seu perfume de cera. — De qualquer forma, eu estou falando sobre um
romance real. O tipo de romance onde você sente um desejo ardente de estar com a
pessoa o tempo todo.
— De quem estamos falando, afinal? — perguntou Noelle, fechando a bolsa de
maquiagem vermelha da Vera Bradley antes de pegar um par de botas de couro
marrom caramelo perto da porta.
— Emma Bovary — disse Ariana. — E nem sequer pense em levar as minhas
botas Michael Kors para casa com você. Preciso delas para Vermont. — Ela colocou a
vela de volta em sua mesa ao lado das três fotografias em moldura prata. Eram suas
fotos favoritas. Uma delas era uma foto que Paige tinha tirado dela e de Daniel no
último verão na propriedade enorme dos Ryan em Martha’s Vine. A segunda era uma
foto em preto e branco de Ariana, tirada por Daniel na casa de Noelle nos Hamptons
no verão passado, e ela mandava um beijo para a câmera. A outra era uma foto

20
antiga de Ariana e sua mãe na varanda de trás da casa enorme da sua família em
Atlanta. Ambas estavam sorrindo, felizes. Ela tinha sido tirada anos atrás, antes que
seu pai tivesse essencialmente desistido do seu casamento. Antes de todas as
hospitalizações. Antes de Easton. Antes do Billings. Parecia outro tempo, outra vida. A
garota na foto poderia muito bem ter sido outra pessoa. Mas Ariana adorava a foto
do mesmo jeito.
— Emma Bovary? — Noelle ergueu um minivestido bronze cintilante na frente
dela e apertou os lábios no espelho de corpo inteiro na porta do armário. — Você
quer dizer aquela puta do segundo ano que dormiu com Gage após as finais do ano
passado? Porque ele sentiu uma sensação de queimação depois que ele esteve com ela,
mas posso garantir-lhe que não era de desejo.
— Isso foi Emma Benning — Ariana corrigiu, forçando-se a desviar o olhar da
fotografia. — Eu estou falando de Emma Bovary de Madame Bovary. — Ela acenou
com a cópia gasta do romance no ar. — A trágica heroína de um dos romances
franceses mais famosos e polêmicos de todos os tempos. Estamos lendo na aula de
literatura do Sr. Holmes, e nós temos um trabalho para antes das férias.
Noelle bocejou e olhou para o despertador brilhando ao lado de sua cama
coberta de seda. — Você passou dois minutos me contando uma história sobre uma
francesa deprimida que não consegue nem mesmo fazer seu marido transar com ela?
— Ela cruzou os braços sobre seu suéter de cashmere creme com decote em V. — Isso
são 120 segundos da minha vida que eu nunca vou poder recuperar — ela
repreendeu, jogando o vestido em sua mala. — Então eu vou levar essas botas
Michael Kors comigo como reembolso.
Ariana nem sequer se preocupou em discutir quando Noelle empurrou as botas
em sua mala. Se ela decidisse que ela realmente se importava muito, ela simplesmente
se esgueiraria lá mais tarde esta noite, quando Noelle estivesse em sono profundo e as
pegaria de volta. Era bem o seu estilo.
— É realmente um livro incrível — Ariana suspirou, baixando o livro em seu
colo. — Mas este trabalho é incrivelmente ruim. — Ela tamborilou com os dedos
sobre a mesa e apagou a última frase que ela tinha escrito. — Deve ser apenas algumas
páginas, mas eu não consigo me concentrar o suficiente para escrever uma frase
coerente.
— Por favor. Você sabe que Holmes vai lhe dar um A de qualquer maneira.
Tudo o que você precisa para passar na aula dele é uma bunda decente — disse
Noelle. Ela inclinou a cabeça, verificando a bunda de Ariana. — Essa é, pelo menos,
um B-mais.
— Muito obrigada. — Ariana revirou os olhos.
— O que há de errado? Está preocupada com a viagem? — Noelle sentou-se na
sua mala e puxou o zíper. Ele não se mexeu.
— Um pouco — Ariana admitiu. Claro que Noelle sabia. Noelle sempre sabia.
Era quase como se ela tivesse um sexto sentido para fofocas e inseguranças de outras
pessoas.
— Nervosa com o encontro dos pais? Ouvi dizer que é um pouco chato, mas é
requintado. — Ela inclinou-se e tirou um pedaço de gaze de seus Louboutins pretos de
verniz, com o cabelo escuro caindo como uma cortina sobre seu rosto. — Pelo menos
Daniel convidou você. Os pais de Dash nunca me deixariam intrometer em seus
planos de férias. Deus não permita que uma fotografia de férias dos McCafferty seja
nem um pouco diferente à do ano anterior. Tremo só de pensar no que vai acontecer

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quando os netos virem. Eles provavelmente vão ter uma foto de crianças e uma de
adultos. Quero dizer, é sério. Seria uma grande coisa ter uma pessoa a mais na foto?
— Noelle Lange. — Ariana torceu o cabelo em um coque e enfiou um lápis
através dele. — Você está com ciúmes?
Noelle hesitou por uma fração de segundo e Ariana sabia que não importava o
que Noelle dissesse em seguida, ela bateria o prego diretamente na cabeça. Era raro
que Noelle mostrasse uma fenda em sua armadura, e Ariana saboreou o momento.
— Não seja ridícula — disse Noelle. — Eu não fico com ciúmes. — Ela desistiu
do zíper e sentou-se no chão para escolher algumas roupas através de outra pilha de
roupas. — E, além disso, não estávamos falando de mim. Nós estávamos falando
sobre você. E como você está tão nervosa para conhecer os pais de Daniel, que você
não consegue nem escrever algumas páginas de merda decentes.
— Não é isso — disse Ariana lentamente, usando o mouse para destacar tudo o
que ela tinha escrito sobre a ética mais-que-questionável de Madame Bovary. Seu
dedo pairou hesitante sobre a tecla DELETE. — Tenho certeza de que seus pais estão
bem. — Ela abaixou seu dedo e apertou o botão. Seus esforços falhos dos últimos dias
desapareceram, deixando uma tela limpa, em branco. Ariana imediatamente se sentiu
melhor. Era bom quando os erros eram tão facilmente apagados.
— Então o que é? — Noelle perguntou impaciente. — Você está agindo como se
não quisesse nem mesmo ir. O lugar parece incrível. Deveria ser extremamente...
— Exclusivo — Ariana terminou por ela, fechando a tela de seu laptop em
exasperação. — Acredite em mim, eu já ouvi isso. E não é que eu não queira ir. É que
eu estou um pouco nervosa por causa de... — Ela fez uma pausa e olhou para seu
colo. — Por causa de Daniel.
— Nervosa por causa de Daniel? — Noelle ecoou. — Por quê? Você vai estar
com seu namorado gostoso em um resort requintado sem fazer nada além de esquiar,
ficar sentados ao redor da pousada, e... — ela fez uma pausa, um sorriso diabólico se
espalhando por todo o seu rosto. — Ter relações sexuais. E agora eu entendo.
Ariana escondeu o rosto entre as mãos. — Ahh. O que há de errado comigo?
— Nervosismo pela perda da virgindade. — Noelle deu de ombros e jogou um
lenço Hermes em Ariana. — Pare de pensar sobre o assunto e apenas faça logo.
Ariana pegou o lenço e o enrolou em volta do pescoço. — Mas eu só quero ter
certeza de que seja bom.
— Isso definitivamente não vai ser bom — Noelle ofereceu com naturalidade. —
Vai parecer como o inferno. Então você tem que tomar algumas taças de vinho antes,
e estará acabado antes que você saiba.
— Não é isso o que eu quero dizer. — Ariana deixou-se cair na cama e abraçou
o travesseiro. — Eu só não quero me arrepender de nada na minha primeira vez.
— Você realmente tem que lidar com essa sua necessidade obsessiva para
controlar todos os aspectos de cada situação — Noelle disse, divertida. — E, além
disso, do que você vai se lamentar? Daniel Ryan é o cara perfeito. E ele te ama. Todo
mundo sabe disso.
— Eu sei — Ariana suspirou. Ela enrolou uma mecha de seu cabelo ondulado em
torno de seu dedo indicador e puxou com força. Ela queria dizer a Noelle que ela não
estava certa de que ela amava Daniel também, mas ela manteve o olhar fixo no teto.
Ela não teve coragem de dizer as palavras. Ela sabia como Noelle olharia de volta
para ela. Como se Ariana tivesse enlouquecido. Como se ela fosse louca.

22
— Ariana — Noelle disse em voz baixa, sentando-se ao pé da cama de Ariana.
— Quase todas as garotas na escola matariam para ser você.
Implicação: cada menina na escola, com exceção de Noelle, que era
perfeitamente feliz sendo ela mesma.
— Daniel é total e completamente certo para você — Noelle continuou. —
Então pare de pânico.
— Você está certa — Ariana suspirou.
— Não estou sempre? — Noelle estendeu a mão, e Ariana deu-lhe de volta o
lenço Hermes. — Vou me encontrar com Dash. Quando eu voltar, é melhor você ter
a cabeça no lugar. — Ela atravessou para o lado dela do quarto e puxou uma
pequena câmera de vídeo debaixo de sua cama.
— Período de seca? — Ariana riu.
— Não por muito tempo. — Noelle sorriu, caminhando para a porta. Ela abriu-a
e saiu para o corredor. O Billings estava estranhamente quieto para uma tarde de
domingo, a maioria das meninas estavam provavelmente ainda dormindo por causa
da ressaca da noite anterior.
— Oh, e Ariana? — Noelle disse por cima do ombro.
— Hmmm? — Ariana virou a cabeça em direção à porta.
— Só uma idiota trocaria Daniel Ryan por Thomas Pearson. Isso é óbvio para o
mundo, certo? — Seus olhos escuros brilharam.
O coração de Ariana subiu em sua garganta. Ela sentou-se reta rapidamente,
batendo com a cabeça na cabeceira da cama. — O quê? Noelle, eu não...
Mas a batida da porta cortou sua voz. Ariana lançou seu travesseiro em
frustração.
Como Noelle sempre sabia?

23
4
DISTÂNCIA
Traduzido por Báh Tega

—A
lgo mais, algo mais, algo mais — Ariana sussurrava para si mesma,
encarando o teto escuro deitada no conforto da sua cama.
Ela não se movia a horas. Ela estava obcecada com o pedado de
papel em branco. Não havia forma dela dormir até que tivesse algum avanço. Por
sorte, Noelle ainda estava com Dash, então ela não iria chegar e encontrá-la falando
consigo mesma. Então, de repente, seu celular tocou e ela o segurou, mais feliz do que
qualquer outra pessoa ficaria com o seu telefone. No segundo em que viu quem
estava ligando, seu coração se apertou. Era quase onze da noite. Nenhuma boa notícia
viria essa hora.
— Mãe! — ela disse se sentando, ajeitando seu travesseiro para apoiar a cabeça.
— Você está bem? O que aconteceu?
— Oi, bebê. — A mãe de Ariana disse do outro lado da linha, soando longe,
perdida. Vazia. — Só queria escutar a sua voz. Como está o meu anjo?
— Eu estou bem, mãe. — Alguma coisa parecia estar presa na garganta de
Ariana. Sua mãe estava bem. Parecia medicada, mas bem. Ariana engoliu com
dificuldade. — Como você está, mãe? Onde você está?
— Eu ainda estou aqui, mas em breve volto pra casa. Eu acabei de assinar uns
papéis, então provavelmente estarei saindo em vinte minutos — ela riu fracamente. —
O que aqui parece uma eternidade.
— Eu sei, mãe. — Ariana odiava quando sua mãe ligava. Ela amava conversar
com ela, falar tudo o que acontecia nas suas aulas e com seus amigos, mas ainda assim,
ela odiava ligações. Sua mãe sempre soava tão frágil, tão delicada, como se uma única
palavra ou uma entonação errada pudesse quebrá-la. E Ariana sabia — temia, na
verdade — que uma hora ou outra isso iria acontecer e ela não teria como impedir.
— Mas então, meu doce, me conte tudo! Como é o Billings? — Por um breve
momento, Ariana ouviu algo na voz da sua mãe. Ela ouviu fé. Fé e o barulho de um
médico folheando algo ao fundo.
— É ótimo, mãe! É realmente legal — Ariana procurou em sua mente alguma
coisa para contar para sua mãe que a faria feliz. Ela tinha a sensação de que sua
recente crise existencial sobre a perda de sua virgindade não essa coisa. — E também
está tudo bem com Daniel. Nós vamos terça-feira para Vermont.
— Que ótimo!
Ariana podia ouvir um som não muito familiar de um sorriso na voz da sua mãe.
Ela virou para o lado e olhou para a foto em que elas estavam juntas e lágrimas
caíram de seus olhos. As luzes de natal em volta de sua janela piscavam em sintonia.
— O hotel que nós vamos ficar é realmente incrível — Ariana disse, deixando
uma lágrima escorrer por sua bochecha. — Aparentemente o vice presidente fica lá

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todos os anos. — Ela não podia acreditar que ela estava contando as mesmas histórias
chatas que Daniel tinha contado na noite anterior colocando a mesa inteira para
dormir. Mas ela sabia que essas histórias eram exatamente os tipos de histórias que sua
mãe queria ouvir.
— Ah, você vai se divertir tanto! Por favor, não esqueça de dizer oi para Daniel
por mim. E para o Sr. e a Sra. Ryan. Mande lembranças a eles também.
— Certo, mãe. — Ariana fechou seus olhos e forçou sua voz a se manter estável.
— Mas eu não vou conseguir passar o ano novo com você esse ano. Tem certeza de
que não quer que eu refaça meus planos e mude meu voo para Atlanta?
— Não, não! — sua mãe disse rapidamente. — Não seja boba. Você vai com
Daniel. Eu quero que você vá. Eu sei que você gosta muito dele. — Ela fez uma pausa.
— Eu estou tão orgulhosa de você, Ariana. Tão feliz por você. Você tem tudo que eu
sempre quis ter... tem tudo o que eu nunca consegui ter.
— Eu sei. Eu só não quero que você fique sozinha. — Ariana mordeu seu lábio.
— Me prometa que você vai me ligar se precisar de algo? Eu não sei se meu celular
funcionará nas montanhas, mas...
— Ok, pelo amor de Deus, Ariana, eu vou ficar bem. — Sua risada soou
estranha. Houve uma breve pausa e tudo o que se ouvia era o som de vozes abafadas.
— Eu tenho que desligar agora — ela disse. — Nos falamos em breve, meu amor.
— Ok. Eu te amo, mãe. E parabéns por voltar para casa. Eu queria estar aí com
você celebrando.
— Também te amo, bebê.
Ariana ficou segurando o telefone em sua orelha até a linha ficar completamente
muda.

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5
DISCRIÇÃO
Traduzido por I&E BookStore

—C
omo é que é sempre mais frio aqui do que lá fora? — Ariana murmurou
enquanto seguia Paige, Isobel e Noelle através das portas em arco da
capela de Easton na manhã seguinte. Um arrepio percorreu-lhe a
espinha, e ela apertou o cinto do seu casaco de lã branco. Crescendo na Geórgia, ela
nunca tinha experimentado o tipo de frio que dominou o ano escolar de Connecticut.
Era um frio cortante e implacável que se infiltrava diretamente através de seus ossos e
a agarrava com força. Não importava quantos cachecóis, gorros e casacos Ariana
adquiria, ela ainda tinha que encontrar uma maneira de proteger-se dele.
— Eu não tenho tempo para isso — Paige espetou. — Minhas malas Louis
Vuittons não vão se encher sozinhas.
— Não se preocupe. Deve ser bem rápido — Isobel assegurou Paige, sacudindo
seu cabelo preto brilhante depois de retirar seu gorro de lã. — Você vai estar de volta
para Louis antes que ele tenha tempo de sentir sua falta.
O Diretor Cox tinha solicitado uma reunião especial esta manhã para discutir o
protocolo do campus durante as férias de inverno. Ao contrário de Paige, Ariana
estava grata pela distração. Ela precisava de uma pausa de olhar para a tela em branco
do seu laptop e se preocupar com sua mãe. Sua mãe, que estaria sozinha em casa em
apenas uma questão de horas.
Estava escuro dentro da capela, graças aos vitrais, que permitiam entrar apenas
um pouquinho do céu cinzento lá de fora. As lâmpadas que piscavam ao redor do
púlpito eram as únicas fontes de luz na sala. Ariana se abraçou enquanto ela seguia
Noelle para os bancos dos juniores, perto do centro da capela, separando-se de Isobel
e Paige, que, como seniores e Meninas do Billings, tomaram assentos privilegiados na
última fila. Easton estava repleto de tais pequenos lembretes de status. Rituais que
mantinham tudo, todos, no local apropriado. Ariana deslizou em uma cadeira ao lado
de duas outras Meninas do Billings da sua classe, Leanne Shore e Natasha Crenshaw,
atirando-lhes um rápido sorriso de saudação.
— Aqui. Tome isso — Noelle disse, entregando suas luvas de lã e caxemira
enquanto Ariana assoprava suas mãos. — Seus dedos estão ficando roxos.
— Obrigada — disse Ariana. Ela sentiu-se dez vezes melhor assim que ela
colocou as luvas. Era legal a maneira como Noelle estava sempre cuidando dela. —
Tudo que eu quero de Natal é um bom par de luvas — ela brincou.
— Eu vou com certeza dizer isso a Daniel. Nada expressa romance como um
grande e velho par de luvas de lã. — Noelle revirou os olhos.
— Atenção, alunos. — A capela ficou em um silêncio mortal quando o Diretor
Cox falou no microfone no púlpito. Sua voz ecoou ao redor da capela, saltando das

26
vigas para o vidro manchado. — Bem-vindos. Minhas observações serão breves, mas
são importantes, e eu sugiro que vocês prestem muita atenção.
Um ronco alto soou do outro lado da capela, e Gage Coolidge deslizou em seu
banco antes de qualquer um dos professores terem a chance de pegá-lo. Algumas
pessoas deram risadinhas em torno dele. Ou o diretor Cox não ouviu o riso dos
meninos, ou ele não se importou o suficiente para reconhecê-lo. Ariana olhou através
do corredor e viu Thomas bater na mão de Gage em silêncio. Maduro. Como sempre.
Vendo Thomas agora à luz do dia, brincando com Gage, Ariana estava
orgulhosa de perceber que ela não sentia absolutamente nada. Nenhuma faísca,
nenhum rubor, nenhum calor. Talvez tivesse sido apenas a atmosfera, os poucos goles
de champanhe que ela tinha tomado. Um momento de insanidade temporária. Todos
tinham esses momentos, não é?
— Como todos sabem, o campus da Academia Easton será fechado precisamente
a partir das seis horas de amanhã à noite — o diretor Cox continuou. Sombras opacas
das luzes das claraboias tremeluziram parcialmente na cabeça careca do reitor, quase
como se um bando de garotos estivesse fazendo bonecos de sombra contra ele. — Seis
horas em ponto. As únicas exceções a esta regra são os alunos que já tenham recebido
a minha permissão para estar no campus. Esses alunos, e só esses alunos, vão ficar no
Drake durante as férias. Nenhum outro dormitório será aberto aos estudantes durante
este tempo. — Todo mundo sabia que o diretor Cox estava falando dos estudantes de
intercâmbio de Easton. Eles sempre ficavam juntos nas férias e feriados, já que
normalmente era muito longe para eles viajarem para casa. — O custo de
aquecimento de cada um dos dormitórios é muito grande, considerando o número
relativamente pequeno de estudantes no campus.
— Então todos aqueles milhares que vocês extorquiram dos nossos pais na
mensalidade não podem pagar as contas, hã? — Natasha sussurrou. Ela apenas olhou
rapidamente para cima das palavras cruzadas do New York Times que ela estava
fazendo — de caneta. No mês passado, ela anunciou que ela ia fazer isso todos os dias
até que ela completasse uma toda por conta própria.
— Sem sorte ainda? — Ariana sussurrou.
— Não por falta de trabalhar pra caramba — Natasha brincou em resposta, seus
olhos escuros sorrindo enquanto ela preenchia através do número vinte e quatro.
Então Leanne deu a Ariana um injustificado olhar mortal e Ariana olhou para frente
novamente. As duas eram companheiras de quarto e melhores amigas, mas Ariana
sempre achava que Leanne era um pouco possessiva demais quando se tratava de
Natasha.
Sentindo-se indiferente a ter mais alguma conversa, Ariana involuntariamente
deixou sua mente derivar de volta para a conversa que ela teve com sua mãe. Parte
dela estava feliz por sua mãe, feliz que ela finalmente poderia ficar longe daquelas
paredes brancas, das enfermeiras frias e das horas de restrição de visitas. Feliz que ela
poderia finalmente ir para casa. Mas parte dela sabia que sua mãe não estava pronta.
E Ariana não poderia passar por isso novamente. Não poderia ir para uma casa
estranhamente silenciosa. Não poderia ligar para sua mãe e ouvir o som de sua
própria voz ecoando no hall de entrada. Não poderia subir as escadas, percorrer o
longo corredor para o quarto, e encontrar...
— Eu repito. — A voz do Diretor Cox elevou ao longo da capela, e os
pensamentos de Ariana foram cortados, com seu peito arfante e seu coração batendo
forte. Não. Pare. Ela tinha que parar de torturar a si mesma. Fazia mais de dois anos, e

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as imagens ainda passavam em sua mente tão claramente como se estivesse
acontecendo tudo de novo. — Qualquer aluno que for encontrado violando estas
regras irá enfrentar expulsão imediata.
Uma nova onda de silêncio tomou conta do corpo discente. O Diretor Cox não
era de fazer ameaças vãs. Ariana obrigou a si mesma a respirar.
Inspira... dois... três...
Mamãe está bem. Ela está bem. Ela vai ficar bem.
Expira... dois... três...
Não vai acontecer de novo. Você não precisa se preocupar.
Inspira... dois... três...
Acabou. Está tudo acabado. Acalme-se. Calma...
Pelo canto do olho, ela pegou Noelle olhando com curiosidade em sua direção.
Ariana retomou a cadência da respiração normal, mas ela não tinha certeza de quanto
tempo iria durar. Ela precisava de ar. Ar de verdade. Ele estava muito comprimido
nesses bancos.
— Isso inclui qualquer aluno que seja pego no campus sem a documentação
necessária, e qualquer aluno que tente entrar em um dormitório diferente do Drake —
o Diretor Cox esclareceu. — Não há exceções. Nenhuma. — Ele fez uma pausa para
causar efeito, olhando para baixo com autoridade para os alunos sentados na frente
dele.
De repente, Ariana viu o rosto do paramédico, claro como o dia. O que tinha
pairado sobre ela quando ela acordou do choque.
Eu tenho que sair daqui. Agora.
— Isso é tudo. Vocês estão dispensados.
O nível de ruído aumentou na capela antes de o diretor ter a chance de se
afastar do microfone. Os alunos se amontoaram juntos e correram para as portas da
capela, enchendo o corredor central. Uma tontura oprimiu Ariana quando ela se
levantou. Ela passou empurrando um grupo de meninas do segundo ano e ignorou as
chamadas de Noelle. Ela não conseguia parar os pensamentos sobre sua mãe, os
pensamentos daquele dia terrível, de inundar sua mente, de sufocá-la. Finalmente, ela
chegou às portas e tropeçou sob o arco, engolindo o ar afiado de inverno. Ela
encostou-se numa escultura de pedra intrincada e fechou os olhos, tentando distanciar-
se dos alunos ao seu redor e dos seus próprios pensamentos, tudo de uma vez.
Tentando escapar.
— Ei, garota travessa. — Uma voz familiar cheia de confiança surgiu através do
ruído ao seu redor. Ela abriu os olhos e viu Thomas de pé em jeans desgastados e uma
camiseta fina cinza. Flocos de neve caíam em torno dele, mas ele não usava casaco.
Nada para protegê-lo do tempo, exceto por um boné marrom esfarrapado. Ainda
assim, ele não parecia notar o frio.
Seu coração capotou.
Merda. Tanto sacrifício para isso. Aparentemente, tinha sido a distância entre
eles que tinha impedido seu corpo de reagir a ele na capela.
— O quê? — perguntou Ariana, com o rosto cada vez mais quente.
Thomas sorriu. — Eu sei que você disse que era uma boa menina, mas aquele
roçar na coxa provou o contrário. Daí, o novo nome.
— Eu não sei do que você está falando. — Ariana franziu os lábios em sinal de
desaprovação, com a voz baixa. — Eu estava bêbada. Então, eu apreciaria se você não

28
me chamasse assim. — Ela afastou-se da parede e se dirigiu ao redor do lado da capela
para os prédios acadêmicos.
— Como se você não gostasse da ideia de eu ter um nome especial para você —
disse Thomas, seguindo atrás dela.
Ariana virou-se para ele. — Eu não gosto. Apenas me deixe em paz — ela
retrucou.
Thomas ergueu as mãos por um breve momento, mas depois igualou os passos
com os dela, com um sorriso enlouquecedor espalhando-se sobre seu rosto. — Eu não
acho que você estava bêbada. E eu não acho que isso foi um erro. — Contra o pano
de fundo do pesado céu cinzento, seus olhos azuis pareciam brilhar. Ele empurrou
para trás as longas franjas que caíam sobre sua testa.
Ariana desviou o olhar, fixando seu olhar para frente. — Não importa o que
você acha — disse ela no que ela esperava que fosse um tom leve.
— Diga o que quiser a si mesma. — Thomas riu.
Ariana abanou a cabeça, como se pudesse apagar da memória o que tinha feito
na noite de sábado com uma borracha. A voz frágil de sua mãe ecoou em sua mente,
seu entusiasmo sobre Daniel. Sobre os Ryan. Tudo o que Ariana queria era esquecer o
sábado à noite. Esquecer a embriaguez estúpida de Daniel. Esquecer o modo como
Thomas tinha feito ela se sentir livre. Esquecer o modo como Thomas olhou para ela,
como se soubesse o que ela estava pensando. Ele não sabia. Ninguém sabia. Nem
Daniel. Nem mesmo Noelle. E definitivamente não Thomas.
Ela fez uma pausa no centro da quadra e virou-se para Thomas, nivelando-o
com o olhar mais sério que ela pôde reunir.
— Deixe-me dizer isso de novo. Lentamente, de modo que você possa entender
através da névoa de qualquer droga que você esteja atualmente testando. Me. Deixa.
Em. Paz.
O rosto de Thomas caiu. Por uma fração de segundo, ele realmente parecia
ferido. Mas, em seguida, com a mesma rapidez, ele recuperou a compostura
arrogante.
— Tudo bem. Vou te deixar em paz. Por agora. — Ele olhou para a esquerda,
sorriu, depois olhou para ela. — Até mais tarde, garota travessa.
Assim que ele se foi, Ariana olhou para ver o que o fez sorrir e seu estômago se
apertou. Ela encontrou-se cara-a-cara com Daniel e Paige.
Os dedos de Ariana sacudiram e ela agarrou seu antebraço esquerdo com a mão
direita, praticamente cortando a própria circulação até mesmo através de seu casaco
pesado. E se eles estivessem atrás dela o tempo todo? E se tivessem ouvido sua
conversa com Thomas? Ela forçou um sorriso, inclinando-se para dar em Daniel um
beijinho na bochecha.
— Eu não sabia que vocês estavam aí.
E se tivessem ouvido ele chamá-la de garota travessa? E se assim for, ela sabia
que sua vida estava acabada.
— Obviamente. — O sorriso de Paige estava congelado em seu rosto, seus olhos
frios. — Pronta para a aula?
Ariana acenou com a cabeça, com medo de falar.
— Ótimo. — Paige ficou entre Daniel e Ariana. — Então, vamos lá.
— Vejo vocês mais tarde — disse Daniel. Sua expressão estava confusa, mas não
ferida. Não com raiva. Ariana não tinha ideia do que pensar.
— É. Até lá.

29
Ariana e Paige começaram a atravessar a quadra e cada passo de Ariana estava
trêmulo, hesitante, enquanto ela esperava o ataque de Paige — mas ele nunca veio.
Não em palavras, de qualquer maneira. Mas de vez em quando Ariana quase podia
sentir o olhar frio, julgador e aborrecido de Paige para o lado de seu rosto. Ela
recusou-se a olhar e encontrar seus olhos. Em vez disso, ela disse a si mesma
repetidamente que era apenas sua imaginação.
E ela quase acreditou.

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6
C'EST MOI
Traduzido Por Matheus Martins

—V
ocês já ouviram o ditado “A vida imita a arte?” Bom, esse é um perfeito
exemplo. — O Sr. Holmes inclinou-se contra a mesa de mogno da parte
da frente da sala de aula, sua cópia de Madame Bovary de um lado e
uma caneca de café de aço inoxidável do outro. — Quando a história de Flaubert,
uma história de uma mulher infiel e infeliz, foi publicada na Revue de Paris, Flaubert
foi levado a julgamento sob acusação de imoralidade.
— Ele fica tão quente quando fala sobre imoralidade — Paige sussurrou da
carteira mais próxima de Ariana.
— Concordo — Isobel disse. — Quase me faz querer ler a coisa. — Ela jogou seu
brilhante cabelo preto sobre o ombro. — Quase.
Ariana revirou seus olhos e se focou em tomar notas. Quase todas as garotas do
campus tinham uma queda pelo jovem professor de inglês, que havia vindo para
Easton há vários anos atrás depois de se formar em Princeton. Mas Ariana não ligava
para sua aparência. Ela amava o jeito que ele fazia os personagens, do mundo que ela
lia, virarem realidade. Ser convidada para fazer parte de um de seus tópicos de
seminário da Literatura Francesa do Século XVIII era uma grande honra. Havia apenas
oito pessoas na classe, todas sêniores, com a exceção dela. Ela amava que o Sr.
Holmes pensasse que ela era inteligente o suficiente — boa o suficiente — para uma
das classes mais difíceis de Easton.
— A coisa foi que Flaubert sentiu uma conexão real com Emma Bovary — o Sr.
Holmes estava dizendo. — Ele escreveu muitas de suas falhas pessoais em seu
personagem. Uma das mais famosas citações é “Madame Bovary, c’est moi”. — Ele
enrolou as mangas de sua camisa branca com colarinho. — Tradução?
— Seria, “Eu sou Madame Bovary"? — Connie Tolson disse, uma nerd sênior
sentada a algumas carteiras à direita de Ariana. Sua postura vareta reta fazia ela
parecer ter saído de um dos grupos principais de musculação.
O Sr. Holmes riu. — Absolutamente certo, Srta. Tolson. Ponto bônus por sua
entrega criativa. — Ele deixou cair o livro em sua mesa e limpou suas palmas em suas
calças cáqui, deixando fracas manchas de giz.
— Oh, por favor. O que seria, “desesperada e tão fora da sua sociedade”? —
Isobel sussurrou, um sorriso irônico vincando suas bochechas de oliva.
Ariana sacudiu sua cabeça. — Você é terrível.
Isobel sorriu. — E tenho orgulho disso.
— Notavelmente, Flaubert estabeleceu uma forte conexão entre seus leitores e
Emma. Então, mesmo quando ela tece uma trama de excesso, sexo e traição, nós
realmente simpatizamos com Emma ao longo do romance — o Sr. Holmes continuou.
— Nós vemos que a destruição dessa mulher é causada unicamente pelo propósito

31
dela mesma, ainda que sintamos por ela. De um jeito estranho, nós torcemos por ela,
queremos que ela ache a felicidade. E ficamos devastados quando ela não consegue.
— Hum, eu não fiquei — Connie disse alto. — Ela estava errada por trair o seu
marido tantas vezes. Uma mulher que faz coisas como essa não merece ser feliz.
E uma garota que usa botas vermelhas compridas até o tornozelo não merece ser
uma estudante de Easton, mas Ariana não levantou sua mão e anunciou isso para a
classe. Ela manteve seus olhos em Connie, dando o sorriso satisfeito de superioridade
moral que ela difundia em alta definição em volta do semicírculo.
— Ideia interessante, Srta. Tolson. — O Sr. Holmes levantou uma sobrancelha.
— Mas vou bancar o advogado do diabo aqui. Não merecemos todos sermos felizes?
Ou pelo menos buscar o que nós pensamos que pode nos fazer felizes? Não seria esse
um direito básico humano?
— Não se ser feliz significa que você tenha que machucar outra pessoa — Connie
respondeu com a maior naturalidade.
— Eu concordo — Paige anunciou. Um choque passou pelas características de
Connie, e Isobel quase engasgou com seu café. — Pessoas que não pensam sobre
como suas ações afetam as pessoas que elas amam são egoístas. — Ela inclinou-se
sobre sua carteira, olhando além de Isobel diretamente para Ariana. — Você não
acha, Ariana? — ela perguntou docemente. Seus olhos verdes ardendo.
O pulso de Ariana disparou. Paige tinha ouvido o apelido de Thomas para ela.
Não havia outra explicação.
— Srta. Osgood? Você poderia opinar sobre isso? — O Sr. Holmes sorriu.
— Na verdade, poderia — ela disse tranquilamente, respirando fundo. Se elas
estivessem dentro do Billings, Ariana provavelmente teria se submetido por ser
intimidada por Paige, mas não ali. Não se isso afetasse a nota dela. — Eu não acho
que é justo colocar toda a responsabilidade pela felicidade de Charles Bovary em
Emma. Ele é responsável por sua própria felicidade, tal como ela é responsável pela
sua. — O Sr. Holmes assentiu, e Ariana sentiu sua voz fortalecer. — E mesmo embora
ela nunca a tenha encontrado, pelo menos ela teve a coragem de tentar.
Connie cruzou os braços sobre sua camisa branca com colete azul e lançou um
olhar crítico. — Então você está dizendo que tudo bem ter... — ela pausou, sacudindo
a trança francesa por cima do ombro magro. — ...ter relações sexuais com quantas
pessoas que você quiser, apenas para tornar-se feliz?
— Parece que Emma não é a única que precisa ter relações sexuais — Isobel
disse, apenas alto o suficiente. Ariana podia jurar que ela viu uma sugestão de um
sorriso no rosto do Sr. Holmes.
Ela sabia que ela gostava dele.
— Não foi isso que eu quis dizer — Ariana balançou sua cabeça enfaticamente,
evitando o olhar intenso de Paige. — Ela cometeu erros, e pagou por eles. Todos nós
cometemos erros, e eu acho que isso nos faz se sentir próximos de Emma. Ela é
humana. Ela é imperfeita. Mas está fazendo seu melhor, e nós temos que dar algum
crédito a ela por isso. — Ela afundou em sua cadeira, surpresa com o discurso que
tinha deslizado, quase involuntariamente, a partir de seus lábios. Ela não sabia que se
sentia tão forte sobre o assunto até estar cara-a-cara com Connie e Paige e as suas
opiniões intolerantes. Mas ela era bastante inteligente para saber por que ela tinha
reagido da maneira que tinha agido.
Thomas.
— Ariana está absolutamente certa — o Sr. Holmes disse, deslizando seu livro

32
em uma bolsa de couro em cima da sua mesa. — Os erros de Emma Bovary era o que
fazia dela tão sensível para nós. E ela pagou por seus erros. Embora, Srta. Osgood —
ele disse gentilmente — também podia se argumentar que sua morte dolorosa é a
retribuição por seu comportamento imoral.
Ariana sentiu uma distinta angústia em seu peito. Era como se Holmes estivesse
condenando-a ao mesmo destino de Emma Bovary ali mesmo. — Como um carma —
Ariana disse baixinho.
— Exatamente como um carma — o Sr. Holmes respondeu, brincando com sua
aliança de casamento. Ele olhou para o relógio. — Desculpa, gente. Eu mantive vocês
por muito mais tempo. Nós continuaremos essa discussão depois das férias, então se
vocês têm alguns pensamentos sobre moralidade no que se refere ao livro, anote-os e
os traga. — Ele puxou um jornal dobrado no bolso de trás. Como Natasha, o Sr.
Holmes estava sempre trabalhando no jogo de palavras cruzadas do New York Times.
— Só se lembrem de deixar os trabalhos em minha caixa de correio — não em anexos
de e-mail, gente — antes de deixarem o campus. — Ele chamou a atenção dos alunos
conversando. — Tenham ótimas férias de inverno, pessoal.
O trabalho. De repente, o sangue de Ariana corria em suas veias a um ritmo
febril. Em todo o drama da manhã, ela tinha esquecido completamente o trabalho. E
até agora, tudo o que ela tinha era um documento do Word em branco e um enorme
caso de bloqueio de escritor — o que não era nada do feitio dela. Ariana sempre tinha
sido capaz de se concentrar, não importava o que estava acontecendo ao seu redor.
Desde criança, ela aprendeu a afundar em sua própria mente e se estabelecer lá até
que era seguro voltar à realidade. Enrolar-se na cama com Jane Eyre ou Sr. Dalloway
e fingir que não ouviu os gritos arrepiantes, as ameaças que sua mãe atirou em seu pai
como granadas ativas. Apenas me tente. Eu vou fazer isso... Juro por Deus, eu vou
fazer, e você vai se arrepender...
— Qual o problema com você? — Isobel puxou um par de óculos de sol grandes
Gucci de sua bolsa e colocou-os enquanto Ariana e Paige arrumavam suas coisas.
— Nada — Ariana disse, nervosa sobre fazer contato com Paige. Paige tinha o
poder de fazer as férias de inverno dela serem miseráveis. De tornar a vida dela no
Billings miserável. Em sua resposta para agradar o Sr. Holmes, ela tinha sido
temporariamente insana e esquecido esse fato. Por que ela sentiu a necessidade de
mostrar-se a Paige? Ninguém vencia Paige Ryan, e todos em Easton sabia disso. Até
mesmo Connie Tolson. — É apenas esse trabalho — ela contou a Isobel enquanto
abotoava o casaco. — E eu nem estou perto de acabar. Acho que vou ter de ficar para
trás por um dia ou dois para terminar.
— Isso é ridículo — Paige zombou. — Basta pedir uma extensão. — Isobel
assentiu. — Ele me deixou entregar meu trabalho sobre Dangerous Liaisons com uma
semana de atraso.
— É. Eu acho — Ariana disse, mesmo que o pensamento enchesse sua garganta
com bile. Ela nunca solicitou uma prorrogação antes, e ela não queria começar agora.
Mas ela sabia que Paige não estava simplesmente sugerindo que Ariana obtivesse uma
prorrogação. Paige não sugeria. Ela ordenava. Evidentemente, a ideia de que Ariana
perdesse um dia de planos preciosos de Natal de Daniel era inaceitável para ela. — Eu
vou pedir — Ariana cedeu, deixando seu cabelo loiro cair sobre o rosto, quando ela
se abaixou para pegar sua bolsa. Qualquer coisa para evitar ter que olhar para Paige.
— Conversarei com vocês mais tarde.
— Até mais tarde — Isobel disse levemente. Ariana observou quando ela e Paige

33
passaram pela mesa do Sr. Holmes até saírem pela porta. Ela sentou-se em silêncio em
sua cadeira da sala de aula vazia, suas entranhas se contorcendo de nervos. Ela odiava
a ideia de pedir por mais tempo, de perder o respeito do Sr. Homes. Mas para não
enfurecer Paige mais do que ela já estava furiosa, era a única opção dela.
— Sr. Holmes? — A voz de Ariana soou pequena. Ela limpou a garganta e
tentou de novo. — Posso lhe fazer uma pergunta?
O Sr. Holmes olhou sobre seu caça-palavras. — Claro, Srta. Osgood — ele sorriu.
— O que posso fazer por você?
Ele tinha um jeito de fazê-la se sentir calma, segura de si mesma. Ela respirou
fundo. — Eu estava querendo lhe perguntar se eu poderia ter uma prorrogação para
entregar o meu trabalho? Eu estou deixando a cidade amanhã de manhã com meu
namorado, e... — ela parou, o rosto dela corando. Por que ela mencionou Daniel?
Um detalhe completamente desnecessário, e não uma coisa que deixasse a causa dela
mais forte. O coração dela parecia que ia sair da caixa torácica quando ela viu o Sr.
Holmes sacudir a cabeça lentamente.
— Eu receio que não — ele disse, entrelaçando suas mãos na mesa na frente
dele. — Normalmente, eu o faria, mas eu tenho que obter as notas finais para registrá-
las até sexta-feira ao meio-dia. Sinto muito.
O coração de Ariana afundou. — Certo. Tudo bem. Obrigada, de qualquer
forma.
Ela rapidamente se levantou da cadeira e saiu da sala de aula antes que o Sr.
Holmes pudesse dizer outra palavra. Seu rosto queimava com a humilhação. Ela sabia
que não deveria ter perguntado. Foi um erro. Um erro que agora ela teria que
remediar, escrevendo um trabalho A+, uma vez que ela já estava esperando algo
inferior. E ela iria ter que fazer o trabalho A+ em questão de horas. Caso contrário,
ela ia ser forçada a explicar a Paige por que ela não poderia deixar a cidade para ir à
Vermont amanhã. E enfrentar Paige era a última coisa que ela queria fazer.

34
7
AMIGOS NÃO
Traduzido por Lua Moreira

—V
ocê poderia apenas escolher algo para nós podermos sair daqui? —
Noelle falou enquanto permanecia de pé entre duas prateleiras de
casacos esportivos da loja North Face de Easton no centro da cidade.
Com sua pele sem defeitos, diamantes da Tiffany brilhantes nas orelhas, e uma bolsa
Longchamp pendurada na parte interior do braço, parecia um manequim que
acidentalmente havia aparecido na loja errada.
— Ok, que tal esse? — Ariana levantou um gorro de esqui vermelho, de lã e
térmico.
— Sério? Ficamos de pé nesta loja quente-como-o-inferno durante meia hora,
para você poder comprar uma coisa de lã para ele? — Noelle disse. — Eu não
entendo. Você já comprou para ele um presente de Natal perfeitamente aceitável.
— Eu só queria dar-lhe algo mais — disse Ariana, sentindo-se vazia.
— Então apenas pegue o gorro e vamos embora. Este lugar está me irritando —
Noelle disse, ajustando seu lenço.
— Eu não sei...
Noelle gemeu e colocou seus óculos de sol. — Tanto faz. Venha me encontrar na
Sweet Nothings quando tiver terminado de ser obsessiva.
— Eu não estou sendo obsessiva — Ariana respondeu. Mas Noelle já tinha ido,
enchendo a loja com o ar frio enquanto se arrastava para fora. — Eu não estou —
Ariana repetiu baixinho para si mesma enquanto tocava o gorro vermelho.
Mas é claro que ela estava sendo obsessiva. No segundo em que ela tinha saído
da classe do Sr. Holmes, ela sentiu essa necessidade irresistível de comprar para Daniel
o presente de pré-Natal perfeito. Na verdade, ela já tinha dado a ele um relógio Tag
Heuer gravado com suas iniciais. Mas depois de sua conversa com Paige, ela percebeu
que precisava fazer algo para provar sua devoção a Daniel. E esse algo não poderia
esperar até o dia de Natal.
Mas agora eram cinco e cinquenta e cinco. Ela ainda não tinha começado o seu
trabalho, e a loja iria fechar em cinco minutos. Ariana queria mais do que qualquer
coisa seguir Noelle, mas ela não podia ir embora. Ela havia colocado em sua mente
que ela precisava dar algo mais para Daniel, e ela não poderia voltar para o Billings
até que tivesse encontrado algo.
Uma das vendedoras começou a tirar dinheiro da sua registradora enquanto o
gerente musculoso andava pela porta, já com as chaves fora. Ariana de repente sentiu-
se tensa e em pânico. Por que ela se convenceu de que a única coisa que poderia
recentrá-la era um gorro estúpido? Pegando um cachecol de cashmere grosso, Ariana
decidiu não insistir sobre a suspeita de que ser digna de Daniel estava — na mente de
Paige, pelo menos — de mãos dadas com ser digna do Billings. E a ideia de que Paige

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pode ter ouvido Ariana e Thomas falando após a reunião da manhã fez Ariana se
sentir doente do estômago. Mas não havia maneira de ela ter certeza exatamente do
que Paige sabia, ou o que ela suspeitava — e Paige nunca diria isso a ela. Isso seria
muito fácil. Um comentário enigmático aqui, um olhar gelado ali, até que Ariana
enlouquecesse. Uma lenta tortura assassina. Esse era o estilo do Billings.
Ela suspirou, colocou o cachecol para baixo, e examinou a manga de um blusão
azul. De repente, uma mão fria apertou a parte de trás do pescoço dela e a respiração
de Ariana ficou presa na garganta. Ela se virou. Thomas Pearson sorriu para ela.
Mesmo que seu coração parasse de bater e seu pescoço formigasse onde ele tocava,
ela se forçou a estreitar os olhos em indignação.
— Qual é o seu problema? — ela retrucou.
— Você não deveria se assustar tão fácil — ele respondeu com seu irritante
sorriso sexy. Um pouquinho de floco de neve se espalhou sobre o seu cabelo, seu
nariz e bochechas estavam vermelhos e seus olhos brilhavam. A adrenalina correu nas
veias de Ariana, fazendo todo o seu corpo se sentir inseguro.
— O que você está fazendo aqui? — Ela olhou rapidamente ao redor. Além da
vendedora e do gerente, havia apenas duas outras pessoas na loja, duas meninas, mas
nenhuma da Academia Easton.
— Hum, compras? — Ele olhou para ela como se ela tivesse perdido a cabeça.
— Como se você alguma vez tivesse usado algo da North Face — ela respondeu,
esperando que o seu coração batendo forte não fosse visível através de sua blusa. —
Você não é mais um menino grunge do que um rato de esqui?
— Então agora você está mantendo o controle sobre o meu estilo? — Thomas
levantou uma sobrancelha.
— Pare de fazer isso — ela demandou, tentando manter a voz baixa. Ela lutou
contra a vontade de abanar suas bochechas. Havia este calor aqui apenas dois minutos
atrás?
— Fazer o quê? — ele sorriu.
— De agir como se você me conhecesse. Como se fôssemos amigos. — Uma
grossa tensão pairou no espaço entre eles. Deus, ela queria estender a mão e tirar a
neve do seu cabelo. Em vez disso, ela se afastou dele por um instante e pegou o gorro
vermelho de novo. — Nós não somos.
— Não brinca.
Ele deu um passo para mais perto dela. Tão perto que ela podia ver que o azul
bem ao redor de suas pupilas era um pouco mais escuro do que o resto de seus olhos.
Seu coração batia forte em seu peito e sua respiração saiu curta e áspera. Porque
mesmo que ela estivesse segurando o gorro que ela estava prestes a comprar para
Daniel, ela queria puxar o cabelo escuro de Thomas e puxar os lábios dele nos dela.
Ela não deveria estar atraída por alguém como Thomas, alguém que não fazia sentido,
alguém que poderia fazê-la perder o controle, alguém que estava agora inclinando-se
para beijá-la.
Ela fechou os olhos, sentindo seu hálito quente, esperando o contato.
De repente, a prateleira de roupas atrás deles balançou, levando Ariana a cair
para frente no peito de Thomas.
— Opa! — Uma voz de menina soou do outro lado da prateleira. — Sinto
muito.
Com o coração batendo forte, Ariana afastou-se de Thomas, seus olhos correndo
ao redor da parte de trás da loja. As paredes estavam chegando mais perto,

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pressionando as prateleiras de roupas grossas todas ao seu redor, espremendo o ar. Ela
sentiu como se suas costelas estivessem enrolando em seu peito, esmagando seus
pulmões. Suas têmporas pulsavam.
— Você precisa ir embora. Agora.
— Ariana. O que há de errado?
Mesmo no meio de seu pânico crescente, ela ouviu a preocupação em sua voz
geralmente brincalhona e ela ficou tocada. Ela apoiou uma mão em cima de uma
prateleira de metal cheia de jaquetas de esqui e forçou-se a respirar.
Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
— Você está bem?
Ele tocou as costas dela com a palma da mão, e ela se afastou. Claro que ela não
estava bem. Ela estava no meio de um ataque de pânico. Ele não podia ver isso? Ela
tinha sido descuidada, tinha baixado a guarda por apenas um segundo. Tinha feito
isso onde qualquer pessoa podia ver. Era muito perigoso. Se isso sequer chegasse à
Paige... Ariana não queria pensar sobre o que poderia acontecer. O que Paige tinha
poder de fazer. As coisas tinham quase ido longe demais. Isso não poderia acontecer
novamente. Jamais.
— Apenas vá — ela disse, com a voz rouca.
— Tudo bem. — E assim, a preocupação havia ido embora. Seu rosto se apagou.
E então ele havia ido também.
Ariana fechou os olhos e continuou a contar através de sua respiração. Inspira...
dois... três... Expira... dois... três... Até as paredes, finalmente, expandiram-se
novamente. Até o ar voltou e sua pele começou a esfriar. Quando ela abriu os olhos
novamente, a vendedora restante estava olhando para ela com receio do balcão.
— Nós estamos fechando — a menina disse com desdém. Como se estivesse
falando para alguns meninos fedorentos de rua que haviam entrado apenas para
vadiar e se aquecer.
Mexa-se, Ariana disse a si mesma. Apenas se mexa. Ela ergueu o queixo e de
alguma forma chegou até a frente da loja, onde pagou pelo gorro de Daniel. Ela não
se importava se ele era perfeito. Ela só precisava comprá-lo e sair daquele inferno. Ela
precisava voltar para o Billings. Melhor ainda, ela precisava fugir, e ponto. Quando
ela saiu para a noite, ela mal sentiu o vento gelado chicotear seu cabelo ao redor do
seu rosto.
— O que exatamente você estava fazendo ali? — Noelle enganchou seu braço
no de Ariana e acenou com a cabeça em direção à frente da loja North Face.
O sangue de Ariana gelou. Por que Noelle não foi na Sweet Nothings? Por que
ela estava esperando por ela na rua? E se ela tivesse visto Thomas sair? Mas, seguindo
o olhar de Noelle, Ariana percebeu que Noelle estava apontando para Sergei, que
estava passeando na rua com uma pequena sacola de compras da North Face
balançando de seu pulso. Ele deve ter saído logo antes de Ariana. Como ela não tinha
notado ele lá dentro?
— Parece que o seu pequeno admirador da Letônia tem evoluído para
perseguidor. — Noelle sorriu. Ela deu a Sergei um pequeno aceno de zombaria. Ele
enfiou as mãos nos bolsos e aumentou o ritmo. — Que fofo — disse ela com
sarcasmo.
— Noelle, isso não é fofo. Eu não posso ter um perseguidor.

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Especialmente se ele me viu com Thomas. Ariana cerrou os punhos quando
Sergei olhou para ela com seus olhos frios e planos. E se ele tivesse estado na loja o
tempo todo? E se ele tivesse testemunhado seu ataque de pânico? E — ainda pior —
se ele tinha visto o que ela e Thomas quase tinham feito? O pulso de Ariana começou
a correr novamente.
— Oh, por favor. Ele é totalmente inofensivo — Noelle disse com um
movimento desdenhoso do pulso. — Então ele tem uma quedinha por você. Quem se
importa?
Eu, Ariana pensou enquanto Noelle a arrastava pela calçada. Porque se Sergei
tinha visto ela com Thomas — tinha visto eles quase se beijarem — então ela se
importava muito.

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8
CONVITE
Traduzido por L.G.

—O
que você quer dizer com você não pode ir para Vermont? — Os olhos
de Daniel se arregalaram.
A luz da manhã entrava pelo lado oposto da sala do refeitório de
Easton. Enquanto a sala começava a se encher de estudantes, os sons de riso, o tilintar
dos talheres e as cadeiras rangendo borbulharam ao redor de Ariana. Ela se mexeu em
seu assento de madeira, olhando ao redor para ver se alguém estava olhando. É claro
que estavam. Mas por sorte, as Garotas do Billings ainda não haviam chegado.
— É só que eu preciso terminar esse trabalho — ela disse calmamente.
Ou, mais precisamente, começar esse trabalho. Ariana tinha ficado acordada a
noite inteira tentando colocar seus pensamentos no papel, mas infelizmente seus
únicos pensamentos eram sobre sexo. Ela continuou tentando imaginar ela perdendo
sua virgindade com Daniel, continuou tentando mapear em sua mente para que
pudesse estar preparada quando acontecesse. A noite inteira, ela ficara imaginando ela
e Daniel no luxuoso quarto da pousada com velas por todo lugar.
Ela estava usando sua camisola de seda favorita; ele estava usando uma camiseta
e uma calça listrada de pijama. Ele começou a beijá-la. Eles se despiram devagar. Tudo
estava bem. Perfeito até. Mas então, quando ela chegou ao momento principal de seu
sonho, Daniel sempre se transformava em Thomas. Toda vez. E então ela acordava
suada e precisava começar tudo de novo.
A esse ritmo, ela nunca estaria preparada. E ela nunca terminaria o trabalho
também.
— Há quanto tempo você sabia que isso ia acontecer? — Daniel exigiu.
— Desde ontem à noite — ela admitiu.
Daniel bufou um suspiro exagerado. — Então por que você não me ligou?
Porque eu não aguentaria te decepcionar, Ariana pensou. Eu não conseguiria
admitir que eu havia falhado. Falhado com você, falhado com nós, falhado...
falhado... falhado...
— Eu não sei — ela disse sem convicção.
— Ari, os Hearst vão ao jantar dessa noite. Eu queria que você estivesse lá. Meus
pais estão contando com que você esteja lá. — Uma veia pulsou na têmpora de
Daniel.
Ariana agarrou seu antebraço e o apertou. Ela odiava quando Daniel agia assim.
Fazia ela se sentir tão pequena.
— Eu sei, me desculpa. Eu só preciso dessa tarde e depois eu vou e me junto a
vocês. Eu só não conseguirei ir com vocês em uma hora.
— Que merda.

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— Eu sei, mas eu te comprei um presente para te manter aquecido até eu chegar
lá — ela disse, com falso entusiasmo, entregando a ele uma caixa embrulhada com
papel prata com um laço vermelho de veludo. Ela havia passado quarenta e cinco
minutos deixando o laço perfeito.
Daniel somente olhou para o pacote, ainda irritado.
— Abra! — Ariana falou radiante.
Ele suspirou e arrancou o nó, deixando-o cair no chão. Ariana assistiu-o rodopiar
até o chão, seu maxilar trancado de irritação.
Era só um laço, ela disse a si mesma. Você não pode esperar que um cara repare
em um laço...
Daniel tirou o gorro e somente olhou para ele, sem dizer nada. Os segundos se
passaram como horas. Ela desejou que ele pudesse aceitar suas desculpas e seguir em
frente. O refeitório estava se enchendo rapidamente, e as Garotas do Billings estavam
quase chegando ao final da fila. Ela não queria ter essa conversa na frente de todos.
Especialmente na frente de Paige.
— Daniel? — Ariana incitou.
— É ótimo. Obrigado — ele disse melancolicamente. Ele jogou o pacote em
cima da mesa enquanto seus amigos começavam a chegar.
— Uh-oh. Alguém está bravo — Noelle provocou Daniel. Ela colocou sua
bandeja com cereais e frutas na mesa e afundou em sua cadeira em seu lugar habitual
ao lado da Ariana. Paige, Dash e Isobel ocuparam os outros assentos. — Ari te contou
sobre seu encontro quente ontem à noite?
Era como se todo o ar tivesse se esvaído do refeitório. Como se todos
houvessem se virado para olhar para ela. Ariana agarrou sua caneca de café tão forte
que seus nós dos dedos ficaram brancos. Noelle não podia estar falando de Thomas,
certo? Ela os tinha visto então?
— Nem se preocupe em bancar a tímida — Paige falou, sentando-se na ponta da
mesa e mordendo um pedaço de uma maçã verde. Sua cara parecia espremida. Brava.
— É insultante.
— É — Isobel sorriu. — Noelle já nos contou sobre seu amante Letão — ela
disse, lambendo um bocado de iogurte das costas de sua colher.
— Seu amante Letão? — Daniel estava perplexo.
— Você sabe, Sergei. — Noelle falou, tirando seu cabelo preto de seu ombro.
A mesa inteira se dissolveu em risos, e Ariana sentiu toda a tensão se esvair de
seu corpo. Ela forçou uma risada e contou todos os botões da blusa Marc Jacobs de
Noelle — doze — até o seu coração se acalmar em seu peito.
— Aquele estranho? O que ele fez agora? — Daniel retrucou.
— Nada — Ariana respondeu. — Nós só estávamos na mesma loja ao mesmo
tempo.
A explicação pareceu satisfazer Daniel. Ele pegou uma uva da taça de frutas de
Ariana e caiu bruscamente de volta em sua cadeira, meditando enquanto mastigava.
Claramente, ele ainda estava irritado com o anúncio de Ariana, mas pelo menos ele
não sabia de nada sobre Thomas.
— Então, que horas você sai, Noelle? — Isobel perguntou.
Ariana passou manteiga em sua torrada e deixou a conversa fluir. Ela notou
Thomas algumas mesas a frente, balançando sua cabeça para Gage, que estava
curvado de tanto rir. Algumas mesas atrás estava Sergei sentado sozinho, usando seu
suéter xadrez e óculos, debruçado sobre um livro. Ariana não sabia porque a imagem

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dele fazia seu coração palpitar. Ela não deveria sentir pena dele. Ele era estranho e
possivelmente a estava seguindo. Mas ela não podia evitar sentir como se entendesse
ele um pouco. Porque mesmo que tivesse os seus amigos, tivesse o Billings, ela
conseguia se identificar com a sua solidão. Ninguém realmente a conhecia, também.
Daniel tocou seu braço. Engolindo o gigante nó que pairava em sua garganta,
Ariana se virou para a conversa. Quando ela olhou para os olhos dele, ela pode ver
que ele havia decidido perdoá-la. Ela sentiu seus ombros relaxarem.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer? — ele perguntou alisando sua calça
cáqui verde sobre seu joelho. — Para facilitar para você cair fora daqui mais rápido?
— Como o quê? — Ariana perguntou enquanto Paige espetou um pedaço de
toranja com uma faca de passar manteiga. Uma gota ácida pousou na bochecha de
Ariana. Paige sorriu um desanimado pedido de desculpas e voltou para sua toranja.
— Escrever algumas páginas enquanto você faz as malas? — Daniel ofereceu.
— Você nem ao menos leu o livro! — Ariana riu.
— Não importa — Dash falou, com a boca cheia de rosquinha. — Esse cara
consegue fazer qualquer trabalho. Ele escreveu a redação de Gage sobre a Civilização
Ocidental em uma hora e meia ano no ano passado e ainda ganhou um A-menos.
Ariana lançou um olhar inquisidor para Daniel e ele deu de ombros. — Perdi
uma aposta — ele explicou.
— Obrigada — Ariana sorriu, feliz que, no momento, as coisas pareciam ter
voltado ao normal. — Mas eu tenho que terminar sozinha. Se você quiser ajudar,
você pode levar minhas malas para Vermont para eu não ter que lidar com elas no
trem.
— Está bem. Algo mais?
— Você pode provar seu presente — ela disse em tom de brincadeira.
Ela agarrou o gorro de lã da mesa e colocou na sua cabeça.
Daniel puxou o gorro até os olhos, depois o empurrou novamente até ficar bem
acima de sua sobrancelha. Ele sorriu adoravelmente para Ariana.
— O que você acha? — ele perguntou.
— Muito sexy — ela respondeu com uma risada.
Noelle rolou os olhos e tomou um gole de seu café.
Daniel tirou seu gorro e o guardou em sua mochila. — Eu adorei. Obrigado, de
verdade.
— De na... — O som do celular de Ariana vibrando na mesa a interrompeu. O
toque era alto, vibrando vagarosamente sobre a mesa. Isobel e Paige assistiram Ariana
alcançá-lo e pegá-lo. A tela azul mostrou as palavras 1 nova mensagem. Ela abriu o
celular, curiosa. Todos que a mandariam mensagem estavam sentados ali.

Capela velha, 7 da noite. Não se atrase, garota travessa.

Seu coração parou e ela olhou pra cima. Thomas ainda estava sentado com Gage
algumas mesas a frente. Mas agora, ele estava olhando diretamente pra ela. Ela corou
e imediatamente desligou o telefone.
— Quem era? — Daniel estava olhando para ela curiosamente. Ela se forçou a
olhar para trás.
— Hmmm? — ela perguntou, ainda agarrando seu telefone em suas mãos.

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— No celular — Daniel disse impacientemente. Ele avançou para pegá-lo, mas
Ariana o colocou em sua bolsa Kate Spade, torcendo para que Daniel não conseguisse
ver sua mandíbula apertada e a energia nervosa que corria por ela.
— Ninguém — ela falou rapidamente.
— Qual o problema com você? — ele exigiu, seus ombros rígidos e bravos. —
Por que você não me deixa ver?
— Por que você não me deixa ter um pouco de privacidade? — Ariana revidou.
Seu rosto esquentou. Isobel, Dash, Noelle e Paige tinham abandonado os seus cafés-
da-manhã para ver eles discutirem.
Os olhos de Daniel brilharam.
— Porque sim. Você é a minha namorada.
— Uau. Um pouco medieval, Daniel? — Noelle brincou.
Ariana podia ter abraçado sua amiga por tê-la defendido.
— Ele está certo — Paige falou em um tom que desafiava alguém a contradizê-la.
— Ele tem o direito de saber. Especialmente quando ela está agindo tão reservada.
Noelle olhou para a sua comida, rolando os seus olhos apenas de leve.
— Eu não estou sendo reservada — Ariana disse firmemente, disposta a não soar
na defensiva.
— Então quem era, Ariana? — Paige a desafiou.
— Ótimo! Era minha mãe, ok? Ela me manda essas mensagens sentimentais e elas
são muito vergonhosas para eu mostrar para alguém. — Ariana improvisou,
esperando que eles não pudessem ver através dela. Que não pudessem ver a placa
vermelha que tinha escrito mentirosa piscando em sua testa. — A inquisição já pode
terminar agora?
— Sua mãe sabe como mandar mensagens? — Paige perguntou, parecendo
cética. O fecho em seu colar citrino e de diamantes havia caído para frente e ela de
repente ajustou a corrente.
— Ela tem MSN também. É bizarro. — Ariana encolheu os ombros, tentando
parecer alegre. Mas tão desesperada como estava para que todos acreditassem nela,
ela começou a sentir a ira queimando em seu âmago. Ela nunca havia feito nada de
errado antes. Nunca havia dado nenhuma razão para Daniel desconfiar. E talvez ela
tivesse cometido um pequeno — minúsculo, na verdade — erro com Thomas, mas ela
era sempre tão boa.
Noelle bocejou.
— É isso — ela anunciou. — Estou oficialmente entediada. — Ela se levantou e
colocou seu casaco de camurça cor de camelo por cima de seu cardigã. — Eu tenho
que terminar de fazer minhas malas.
— Eu também — Dash acenou com a cabeça.
— E eu preciso terminar meu trabalho. — Ariana se levantou e agarrou sua
bolsa, pendurando-a em seu ombro esquerdo, longe de Paige. Só no caso da garota
tentar algum movimento para agarrar seu celular. Olhando através da sala, ela viu que
Thomas estava olhando para ela novamente, observando-a atentamente. — Te vejo
mais tarde? — perguntou a Daniel.
— Eu passarei para pegar suas coisas — ele disse, se levantando para beijá-la.
Mantendo seus olhos em Thomas, Ariana puxou Daniel para perto e
transformou seu beijinho em um longo e profundo beijo. Depois que terminou,
Daniel estava corado e Thomas parecia chocado. Enquanto Ariana se virava e andava
com Noelle em direção à saída, ela não pôde deixar de sorrir.

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Talvez Thomas estivesse certo. Talvez ela fosse uma garota travessa, afinal.

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9
DESCUIDADA
Traduzido por I&E BookStore

U
ma fenda fina-feito-navalha do crepúsculo brilhava da janela de Ariana, o
último remanescente do dia antes da escuridão envolver o campus. Ela olhou
para o relógio. Eram exatamente 18:00 horas da terça-feira. Ela tinha uma
hora para colocar seu trabalho na caixa de correio do Sr. Holmes e pegar um táxi até
a estação de trem.
Quando ela se inclinou sobre a mesa e clicou o comando de impressão em seu
laptop, seus olhos caíram sobre a foto emoldurada pousada sobre a mesa, a que
estava ao lado da foto dela e de sua mãe. Era a foto preto e branco que Daniel tinha
tirado dela. Ariana estava envolta em uma enorme e macia toalha de praia e
estendida em uma espreguiçadeira, soprando um beijo para a câmera. A garota na
foto parecia feliz. Apaixonada por seu namorado. Normal.
Ela poderia ser essa garota novamente. Ela queria ser. Thomas podia ser sexy e
excitante, mas Daniel era familiar. Ela sabia tudo sobre ele. Não havia surpresas. Para
melhor ou para pior, ele era o cara para ela. O cara que poderia dar a ela tudo o que
ela queria. Tudo o que sua mãe queria. Thomas era apenas um ligeiro desvio.
Ela puxou o celular de sua bolsa Kate Spade, procurando através de suas
mensagens de texto, e leu a de Thomas pela última vez. Em seguida, ela a apagou.
Assim que a mensagem foi apagada, ela se sentiu melhor. Mais leve, de alguma forma.
Ela tinha tomado sua decisão.
Ela pegou o seu trabalho da bandeja da impressora, grampeou às pressas, e
enfiou-o na bolsa. Enrolando um macio cachecol cor aqua em volta do pescoço, ela
olhou uma última vez para as fotografias em sua mesa. Ela tomou a decisão certa. A
decisão que sua mãe aprovaria. Ela pendurou a bolsa no ombro e saiu do quarto sem
olhar para trás.
A neve caiu sobre ela no momento em que ela saiu da Casa Billings. Enquanto
ela atravessava os jardins abandonados, a neve parecia estar caindo mais pesada e
mais grossa em volta dela do que estava no início do dia. O Hell Hall apareceu logo à
frente, escuro e imponente contra o céu de neve. Ela subiu as escadas de dois em dois,
e empurrou a porta.
As luzes já haviam sido desligadas. O som de seus passos ecoou pelo corredor
enquanto ela corria no escuro para a sala de correio do corpo docente. Ela deslizou as
mãos ao longo da parede e parou quando chegou à última porta. Ela se esforçou para
ouvir o som da risada de um professor, ou uma conversa abafada. Não havia nada
além de um silêncio espesso zumbindo alto em seus ouvidos.
Ela encostou-se à porta pesada e teimosa, empurrando-a com o quadril para
forçá-la a abrir. Um abajur Tiffany empoeirado brilhava sobre uma mesa, no extremo
do canto da sala. Fileiras de pequenos cubículos de madeira se estendiam ao longo de

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uma parede, e ela examinou os nomes abaixo de cada caixa de correio até que
encontrou a ranhura do Sr. Holmes. Ela puxou o trabalho de sua bolsa e ficou na
ponta dos pés, deslizando-o em seu cubículo já cheio demais.
Um forte barulho no corredor quebrou o silêncio, e Ariana, instintivamente, se
escondeu atrás da parede de caixas de correio. Ela tinha pensado que ela estava
sozinha. Imediatamente ela se sentia boba. Easton era o lugar mais seguro do mundo.
Ela só não estava acostumada a esse lugar estar vazio. Balançando a cabeça, ela estava
prestes a sair quando ouviu passos, e algo lhe disse para ficar onde estava. Ela ouviu
uma porta se abrindo — ou era o vento sacudindo as janelas antigas? Ela não sabia
dizer. Ela prendeu a respiração e fechou os olhos. Silêncio.
O que estava acontecendo? O campus estava praticamente deserto. Quem viria
ao Hell Hall a esta hora? Lentamente, Ariana abriu a porta e entrou cautelosamente
no corredor. Ele estava vazio. Ela rapidamente se dirigiu para a porta, mas sentiu a
sensação esmagadora de que alguém a estava observando. Seus passos se
transformaram em uma corrida, e o único som que se ouvia era o coração dela
batendo alto em seus ouvidos.
Isso é estupidez, ela se repreendeu, mesmo enquanto corria. Não há ninguém
aqui. Ninguém. Ninguém. Nin... A poucos metros das portas duplas, ela bateu em
algo. Em alguém. Ariana gritou. Uma mão se fechou sobre sua boca e suas costas
bateram na parede. A pessoa estava encapuzada. Era forte e alta, mas magra. Ariana
abriu a boca para morder quando ela sentiu o familiar aroma picante de Thomas
Pearson.
— Acalme-se! Sou só eu.
Ele a soltou e ela engoliu em um enorme suspiro.
— Jesus, Thomas. Você tem um desejo de morrer ou algo assim? — Ariana
afundou de volta contra a parede, a adrenalina drenando de seu corpo. Ela limpou as
mãos úmidas em seu casaco e tentou retardar sua respiração. — O que diabos você
está fazendo aqui?
— Apenas estava nas redondezas. — Ele baixou o capuz e riu. Ela sentiu seu
corpo começar a relaxar. Mesmo no corredor mal iluminado, seus olhos eram
incrivelmente azuis.
— Aham, certo. — Ela sentiu o calor irradiando de seu corpo. Ela sabia que era
ridículo, mas de repente ela se sentiu mais quente.
— Tá bom. Eu sabia que você ia precisar de uma ajudinha para chegar na capela.
O coração de Ariana pulou uma batida, mas ela se lembrou de sua decisão. Ela
tinha que continuar com seu plano. — Eu não posso. Tenho que pegar um táxi. Vou
me encontrar com Daniel em Vermont hoje à noite.
— Então vá de manhã — disse ele simplesmente, aproximando-se.
Ela deu um passo para trás, batendo no muro do corredor. Ele estava a poucos
centímetros dela agora, e Ariana sentiu a resistência evaporando do seu corpo. Era
como se ele tivesse algum tipo de poder sobre ela. O poder de fazê-la esquecer o que
ela tinha com Daniel. Para esquecer o que poderia acontecer se alguém a visse com
ele. O que ela poderia perder. O Billings. Easton. Sua mãe.
Mas quando ele estava assim tão perto, tudo o que existia era Thomas. Tudo o
que ela queria era Thomas.
— Você sabe que você quer ficar. — Ele deu outro passo à frente. As pontas de
seus sapatos bateram contra os dela.

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Eu quero, pensou Ariana, seu desejo tomando conta. Eu quero, eu quero, quero.
Ela tinha que tocá-lo. Tinha que beijá-lo. Agora. Agora ou ela ia perder a cabeça. —
Aria...
Ela o silenciou com seu toque. Ela agarrou-o em torno da parte de trás do seu
pescoço e puxou a boca dele sobre a dela. O poder surgiu através de seu corpo
enquanto ela assumia o controle, beijando-o até que ele finalmente acordou de seu
choque e beijou-a de volta. Ele tirou seu lenço ao redor do pescoço, e seus lábios se
moveram para baixo logo abaixo da orelha, descendo e descendo até a clavícula. Ele
procurou no escuro pelos botões do casaco dela enquanto ela lutava com o cinto. No
momento em que ela estava livre dele, a mão dele escorregou para dentro e sob o
suéter dela. Sua pele queimava em todos os lugares que ele tocava. Ela deixou cair o
casaco no chão e deslizou as mãos sob as suas roupas, correndo os dedos sobre seu
peito. Cada centímetro de seu corpo tremia de emoção, com um tipo de energia que
ela nunca tinha sentido antes. Um desejo a inundou e ela se entregou a ele, sentindo-
se completamente, maravilhosamente fora de controle. Ela precisava de mais. Mais.
Mais, agora.
Mas quando ele começou a puxar seu suéter sobre a cabeça dela, ela o
empurrou. — Espera. Aqui não — ela sussurrou. — Os professores... eles ainda estão
por aí....
Sem dizer nada, ele pegou a mão dela. Ariana só teve tempo o suficiente para
pegar seu casaco e sua bolsa do chão de mármore quando ele a puxou em direção às
portas duplas. Uma vez lá fora, os flocos de neve giraram grossos ao redor deles, e
Ariana sentiu como se seu coração estivesse girando também. Girando
descontroladamente, sem chance de parar. Ela não pensou em como ela supostamente
deveria estar apaixonada por Daniel. Como ela deveria estar à caminho da estação de
trem. Ela só deixou Thomas conduzi-la pelo campus até a borda da floresta. Ela não
tinha ideia do que ia acontecer. Até onde ela iria deixar as coisas correrem.
E, pela primeira vez em sua vida, ela não se importava.

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DESTRUÍDO
Traduzido por I&E BookStore

—D
epois de você. — Thomas segurou vários galhos grossos de pinheiro
cobertos de neve. Atrás deles havia uma série de degraus de pedra
rachados levando a porta da velha capela. O prédio havia sido
marcado para demolição no início do ano e deveria ser demolido até o final de
dezembro. O corpo estudantil havia sido advertido pelo Reitor Marcus para ficar
longe da floresta até que a área seja limpa, mas um grupo seleto, com Thomas
incluído, havia ignorado a advertência do reitor. Esse era o lugar perfeito para beber e
se drogar.
— Eu não vinha aqui há um bom tempo. — Ariana inclinou a cabeça para trás,
observando o vitral circular acima da porta e a torre em ruínas que se estendia para a
nuvem de neve acima. Ela sentiu uma súbita e inesperada onda de tristeza. O prédio
antigo tinha resistido muito ao longo dos anos e tornou-se estranhamente mais bonito
e mais forte com a idade. Mas era apenas uma questão de tempo antes que ele fosse
completamente destruído. Destruído para sempre.
Thomas subiu os degraus e empurrou a porta, que se abriu com um rangido,
gesticulando para Ariana entrar. Ela respirou fundo e cruzou o limiar.
— Merda, está congelando — ele sussurrou enquanto ele fechava a porta atrás
deles. Sua respiração pairava branca e intensa no ar bolorento.
Ariana acenou com a cabeça em silêncio, mesmo sabendo que ele não podia vê-
la no escuro. Ela abraçou a si mesma contra o frio que permeava suas roupas,
penetrando em sua pele e congelando suas entranhas. Com alguma sorte isso iria
manter seu cérebro congelado para que ela não tivesse que pensar sobre o que ela
estava fazendo. Que ela estava em uma capela condenada. Com Thomas. Sozinhos.
— Aqui vamos nós. — Um flash de luz explodiu na frente de Thomas, e ele
baixou o isqueiro para duas velas em castiçais de parede em cada lado da porta. O
tremeluzir das velas lançou sombras sobre as fileiras de bancos empoeirados e vitrais
rachados que preenchiam o comprimento da pequena capela. — Ei, você pode
acender aquelas? — Thomas entregou-lhe o isqueiro e acenou com a cabeça em
direção ao altar.
Ariana pegou o isqueiro devagar e segurou-o na frente dela, caminhando
lentamente para o altar. A chama iluminou um caco de vidro azul aos seus pés. Ela
ajoelhou-se para pegá-lo, de repente dominada pela beleza em decaimento ao seu
redor. Este lugar estava rachado e quebrado, assim como ela estava. Ela sentiu o peso
da gravidade do espaço. De todos os que tinham estado lá antes. Ela podia sentir os
fantasmas ao seu redor, os espíritos dos estudantes há muito tempo mortos e
esquecidos, agarrando-se às paredes sagradas de seus dias de glória.

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Um dia, essa seria eu. E Thomas. E Noelle, Daniel, Isobel e o resto. Um dia,
todos eles estariam mortos e... — Ariana?
A voz de Thomas a assustou. O metal do isqueiro queimou o dedo dela e ela
estremeceu, deixando-o cair no chão. — Eu já vou — disse ela, sentindo-se estúpida.
Ela tateou para procurar o isqueiro, em seguida, rapidamente foi até a frente da
capela, que era repleta de velas votivas, algumas queimadas até o pavio. Uma ponta
de cigarro repousava sobre os degraus do altar. Ela cutucou-a com a ponta da bota.
— O que você está fazendo no campus esta noite, afinal? — ela perguntou,
tentando tirar a atenção de sua falta de jeito enquanto ela cuidadosamente acendia
cada votiva. — Você não vai voltar para Nova York para as férias de natal?
Se Thomas a ouviu, ele não respondeu. Os pavios das velas estalaram e chiaram,
iluminando um altar de mármore cheio e as várias fileiras de bancos atrás,
provavelmente destinadas para o coro.
— Thomas? — Ele ainda estava na parte de trás da capela, mexendo em um
celular. Depois de alguns segundos, ele fechou o celular e colocou-o na bolsa de
Ariana.
— O que você está fazendo com o meu celular? — ela exigiu. Como ele se
atrevia a mexer nas coisas dela?
— Deixando Ryan saber que não é para esperar você.
Ele enfiou as mãos nos bolsos e seguiu pelo corredor em direção a ela.
Daniel. Um arrepio invadiu sua pele ao som do sobrenome de Daniel, e sua
garganta estava de repente seca.
— O que você disse a ele?
— Relaxa. — Thomas riu. — Eu disse a ele que você não terminou o seu
trabalho a tempo, e você não podia sair da cidade hoje à noite. — Ele sentou-se em
frente ao altar, a poucos passos abaixo dela e esfregou as mãos rapidamente sobre
suas coxas. — Portanto, esta noite, você é toda minha, garota travessa.
Thomas sentou-se em um longo banco de madeira e puxou-a para baixo ao lado
dele, tudo em um movimento rápido. Seus olhos azuis brilhavam à luz das velas, e o
calor se espalhou pelo corpo de Ariana como cera quente.
Eu te amo, ela pensou. Em seguida, quase riu de si mesma. Que ridículo —
apaixonada por Thomas Pearson. Mas ela não conseguia impedir seu coração de bater
mais forte. Não conseguia parar suas mãos de agarrar a jaqueta dele e puxá-lo para
ela. Ela não queria estar em nenhum lugar, além de aqui com ele, neste lugar escuro e
frio, mesmo enquanto o garoto perfeito esperava por ela em um resort exclusivo com
sua maravilhosa família e algum presente elaborado sem dúvida escondido em sua
bagagem.
O que era isso, se não amor?
Thomas segurou seu rosto com as duas mãos e beijou-a, desta vez com menos
urgência. Foi doce, suave, penetrante. Como se ele quisesse tomar lentamente cada
centímetro dela. Daniel nunca a tinha beijado assim. Nunca a fez se sentir bonita
assim. Ele era mais mecânico, rígido. Esse beijo era quente. Era certo. Era... perfeito.
Ariana relaxou no momento, captando tudo. Os silvos das velas tremeluzentes, a
neve caindo sobre o telhado em ruínas...
O som da porta da capela, se abrindo com um rangido. E se fechando.
Eles não estavam sozinhos.

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NOVA
Traduzido por I&E BookStore

P
ânico encheu as veias de Ariana. Ela tinha jogado tudo para o alto pela
primeira vez na sua vida, para fazer o que parecia certo apenas uma vez, e ela
estava prestes a ser pega. O que sua mãe faria quando ela descobrisse que
Ariana tinha sido expulsa? Ela não era forte o suficiente para isso, para a humilhação
que viria. Ariana tinha certeza disso. Claro que ela seria responsável pelas
consequências. Ela levantou-se e estendeu a mão para o casaco, que de alguma forma
estava fora de seus ombros mais uma vez.
— Não parem por minha causa — uma voz familiar falou.
Uma tentativa de alívio se espalhou pelo corpo de Ariana. Não é um professor.
Não é um segurança. Graças a Deus. Ela quase teve vontade de chorar.
— Tate! — Thomas gritou, pulando para cima. — Você nos assustou pra
caramba!
Eli Tate, ex-colega de quarto de Thomas, caminhou pelo corredor em jeans
escuros e um casaco de capuz, um sorriso torto estampado em seu rosto. Mesmo que
Eli vivesse a apenas algumas cidades além de Connecticut, ele não tinha voltado ao
campus desde a sua expulsão.
— Pearson! — Eli apertou a mão de Thomas. — E aí, perdedor? — Ele riu. —
Sentiu minha falta? — Ele acenou com a cabeça na direção de Ariana. — Oi.
Ariana tentou falar, mas sua garganta estava apertada e seca. Ela assentiu,
enxugando as palmas das mãos suadas na calça de lã.
— Que diabos você está fazendo aqui, cara? — Thomas perguntou, descansando
os braços sobre os joelhos quando Eli caiu ao lado dele no banco.
— Uma pergunta melhor é: o que vocês dois estão fazendo aqui? — Eli mostrou
seu familiar sorriso travesso.
— Apenas passando um tempo — disse Thomas com cautela, lançando um olhar
para Ariana. — Ariana teve que ficar por alguns dias para terminar algumas coisas.
— Eu aposto que sim — Eli bufou, deixando seus olhos permanecem em Ariana.
— Então, realmente, o que você está fazendo aqui? — ela perguntou
rapidamente.
— Eu precisava de uma pausa, então fugi de Greenwich — ele respondeu,
esticando os braços sobre a cabeça. — Minha meia-irmã malvada número dois vai se
amarrar na próxima semana, e se eu tivesse que ficar ao redor da casa e ouvir mais um
telefonema de gritaria com o florista, eu ia enlouquecer. — Ele tirou algo do bolso do
paletó e rolou entre os dedos, examinando-o com cuidado. Ariana tentou não parecer
óbvio quando ela esticou o pescoço um pouco para ver o que era. Um cigarro de
maconha. — Pensei em vir para o campus para passar o tempo. Não sabia que vocês
dois já estavam aqui. — Ele sorriu, sacudindo seus cachos crespos. Ele pegou uma das

49
velas votivas e segurou-a perto do fim do cigarro. Ele respirou fundo, e fez uma
pausa. Um cheiro doentiamente doce girava em torno dele. — É uma pena que eles
estão dilacerando este lugar.
— É — Thomas disse vagamente. — Uma pena.
Ariana pensou ter visto o início de um sorriso em seus olhos, mas ela não tinha
certeza. Ela teve a súbita vontade de dizer a Eli para sair. Ela conseguiu um gostinho
de como era estar com Thomas, e ela queria mais. Ansiava por mais. Seu corpo ainda
pulsava com antecipação, uma energia inquieta. Ela queria Thomas sozinho. Ela
precisava saber o que poderia acontecer.
Eli passou o cigarro para Thomas. Ele fechou os olhos e levou-o aos lábios.
Ariana sentiu seu corpo enrijecer. Será que Thomas preferia ficar chapado com Eli do
que passar o tempo com ela? Ele deveria ter pensado em maneiras de fazer Eli ir
embora. Uma centelha de raiva inflamou-se dentro dela.
Por que os homens em sua vida sempre a colocavam em segundo lugar? Seu pai,
Daniel, Thomas. Por que ela nunca vinha primeiro?
— Ariana? — Thomas estendeu o cigarro em sua direção.
E só assim sua irritação se derreteu. Ele ainda estava pensando nela, incluindo
ela. Só que ela nunca tinha fumado antes. Isso nunca foi do feitio dela. Mas quem
diabos sabia quem ela era, o que ela poderia fazer? Só de ela estar aqui não provava
isso?
— Por que não? — ela disse casualmente, pegando o cigarro de Thomas e
orando para ela fazer isso direito. Ela colocou o cigarro entre o polegar e o dedo
indicador e inalou, assim como Eli e Thomas tinham feito. Seus pulmões queimaram, e
ela se dobrou em um ataque de tosse. Ela podia sentir suas bochechas queimando de
vergonha, e as lágrimas brotaram de seus olhos.
Boa tentativa, perdedora, uma voz em sua cabeça zombou dela. Por que você se
dá ao trabalho?
— Você está bem? — Thomas perguntou gentilmente, estendendo a mão e
tocando no seu joelho. Agora que seu toque era piedoso, ela não queria.
— Estou bem — ela engasgou, afastando o joelho dele.
— Uau. — Eli riu, apoiando-se nos cotovelos. — Pearson está realmente
começando a contagiar você. No ano passado, quando estávamos todos em Cabo
você disse que não tocaria nessa merda. Lembra? Gage tinha essa impressão certinha
dela? — ele perguntou, batendo no ombro de Thomas.
O rosto de Ariana queimou. Ninguém nunca tinha dito a ela que Gage tinha
zombado dela após o incidente.
— Eu não fui a Cabo no último Natal — Thomas lembrou. — Meus pais me
fizeram ir para a Suíça. Blake estava esquiando em um grande torneio.
— Ceeeerto. Você perdeu um inferno de uma festa, cara — disse Eli. — Mas
então, aqui está Ariana — disse ele, acenando para ela. — A menina que se recusou a
se abrir o tempo todo.
— Bem, muita coisa pode mudar em um ano — ela retrucou. — Embora uma
coisa vai ficar na mesma. — Ela devolveu o cigarro de Eli.
— Justo. — Eli encolheu os ombros, dando mais uma tragada.
— Então, quanto tempo você está pensando em ficar por aqui, Tate? — Thomas
perguntou, lançando um olhar significativo para Ariana. Seu coração pulou uma
batida.

50
Eli deu de ombros. — Depende de quanto tempo eu puder fugir e me esquivar
desta merda de casamento.
— Provavelmente significa muito para a sua irmã que você esteja lá — Ariana
disse categoricamente. Se ela tivesse que levá-lo de volta para Greenwich por si
mesma, ela o faria.
— Irmã adotiva — Eli corrigiu. — E acredite em mim, ela não se importa se eu
estou lá ou não, contanto que ela receba sua droga de tenda de seda branca em
Aruba. — Ele se levantou, bateu nas costas de Thomas, e seguiu pelo corredor até a
porta, com o cigarro apertado entre os dedos.
— Você está indo embora? — perguntou Ariana, consciente de que ela parecia
muito esperançosa.
— Tenho que mijar — ele falou por cima do ombro.
Parecia errado dizer a palavra “mijar” em uma capela. Mas também parecia
errado ficar em uma capela com um cara que nem sequer era o namorado dela. Ela
não estava muito na posição de julgar.
— Temos que nos livrar dele. O mais rápido possível — ela sussurrou enquanto
as portas da capela se fechavam. Ela levantou, envolvendo o casaco com força em
torno de seu corpo. — Levanta. — Ela estendeu a mão em direção a Thomas, o frio
correndo sobre ela novamente. Seus dedos estavam tingidos de um azul claro, seu
nariz e suas orelhas estavam completamente dormentes.
Thomas olhou para ela com uma mistura de curiosidade e diversão. — Eu acho
que eu gosto da nova você.
Ela gostou da nova ela também. Mesmo nesse espaço frio e abandonado, com
um rapaz que ela mal conhecia, ela se sentia segura. Segura o suficiente para dizer
exatamente o que ela queria. Ela brincava com a flor de lis em torno de seu pescoço,
se perguntando se era assim que Noelle se sentia. Saber o que você queria e esperar
obtê-lo.
— Então vamos — disse ela, brincando.
Thomas sorriu e deixou-a puxá-lo de pé. Ele olhou para as portas através das
quais Eli tinha desaparecido, em seguida, começou a ir na direção oposta. — Por aqui.
— Espera! Minha bolsa.
Ariana correu e pegou suas coisas, então pegou a mão de Thomas novamente.
Ele puxou-a para uma saída em arco na parte de trás da igreja, e a onda de excitação
que havia sido roubada dela alguns poucos minutos antes agarrou-a novamente. Lá
fora, eles entraram para a direita em um monte de neve que chegava um pouco
abaixo dos seus joelhos. Ela atravessou a calça, derretendo contra sua pele, mas ela
não se importou. Ela estava quente por toda parte.
Thomas conduziu-a em uma pequena clareira atrás da igreja, onde a copa de
galhos de árvores impedia a neve de se acumular muito profundamente. O vento
rodava acima e Eli estava longe de ser visto.
— Então... — Ele sorriu, mal visível no escuro. — Você é a chefe.
— Nós não podemos voltar para o Drake. Há professores demais ao redor. —
Ariana enfiou as mãos nos bolsos do casaco. — Um hotel? — ela meditou. Uma súbita
rajada de vento enviou uma camada de pó branco em seu rosto, e ela virou-se para se
proteger. — O Driscoll? É perto o suficiente para que possamos andar, e
provavelmente não irá demorar muito tempo.
O pensamento de estar com Thomas, sozinha, em um quarto quente de um
hotel enviou um arrepio na sua espinha.

51
— É. — Thomas puxou o celular do bolso e apertou um botão, segurando o
telefone ao ouvido.
— Marcação rápida? — Ariana gemeu. — Eu realmente queria não ter visto isso.
— É o serviço de quarto — disse Thomas, tentando manter uma cara séria.
Tentando, mas falhando. — Eles fazem um cheeseburger inacreditável. Eu juro.
Ariana levantou uma sobrancelha.
— Você não acredita em mim? — Thomas fingiu estar indignado.
— Tanto quanto eu acredito que você tenha lido a Playboy pelos artigos.
Thomas levantou a mão. — Sim. Eu só queria reservar um quarto para esta
noite? — Ele fez uma pausa, o rosto caindo. — Tudo bem. Obrigado, cara. — Ele
fechou o telefone e empurrou-o de volta no bolso. — Eles estão lotados. O cara do
balcão disse que cada hotel da cidade está lotado. As pessoas não podem sair daqui
por causa da neve.
O coração de Ariana afundou. Foi uma loucura ela querer estar sozinha em um
quarto de hotel com Thomas. Era uma loucura ela estar aqui com ele agora. Mas ela
não podia imaginar estar em qualquer outro lugar.
— Então eu acho que só temos uma opção — disse ela gravemente. Ela acenou
para a cobertura suave de neve no chão.
Thomas riu, afastando-se dela. — Oh, não. De jeito nenhum. Você está louca.
Ariana reuniu cada grama de coragem para poder falar o que ela faria em
seguida. Ela abaixou seu corpo no chão frio, recostou-se nos cotovelos, e olhou para
Thomas, com seus olhos azuis tentadores.
— Me satisfaça?
Ela parou de respirar. Ela não podia acreditar no que estava dizendo. Fazendo.
O sorriso de Thomas aumentou. — Como eu poderia dizer não a isso?
Ariana sorriu, extasiada e aliviada ao mesmo tempo. Ele ajoelhou-se e enterrou
suas mãos em seu cabelo espesso e loiro antes de tocar os lábios nos dela. O coração
de Ariana encheu de felicidade pura quando ele se abaixou em cima dela. Ela não se
importava mais com o frio. Ela não conseguia sentir nada, além do calor de seu corpo.
Ela virou o rosto para deixá-lo correr os lábios ao longo de sua bochecha e com o
canto do olho ela viu um vulto escuro na neve. E congelou.
— Thomas — ela resmungou, empurrando-o. — Pare. — Bile subiu na parte de
trás de sua garganta. Ela estava vendo coisas. Ela devia estar.
— O quê? — Ele olhou intrigado para ela. — O que há de errado?
Parecia que seu corpo tinha sido preenchido com chumbo, mas sua mente estava
correndo. Gritando. Não era possível. Ele não poderia ter... Ela se forçou a se sentar.
Ela pegou o objeto e segurou-o na frente de Thomas, sacudindo a neve dele. Ela ia
vomitar.
— O que é isso? — Thomas perguntou.
— O gorro de Daniel — ela conseguiu dizer, lutando contra a náusea que passou
sobre ela. — Ele deve ter estado aqui. Ele deve ter voltado por mim.
— Não — disse Thomas, olhando ao redor, no entanto. — Ele foi embora esta
manhã. Este gorro pode pertencer a qualquer pessoa. Poderia ser de Eli ou de algum
outro idiota que estava aqui fumando.
Mas Ariana sabia que não. O gorro era novo. Obviamente não foi utilizado. Era
muita coincidência. Daniel tinha estado aqui. Ele deve ter descoberto de alguma forma
e agora ele estava observando-a. Ele sabia o que ela tinha feito.

52
12
ARROMBAMENTO E INVASÃO
Traduzido por L.G.

—E
le sabe. — Ariana olhou para frente, ainda apertando o gorro de Daniel.
Alheia ao calafrio que se apoderou de seu corpo e se recusou a soltá-la.
Alheia à neve que parecia cair cada vez mais forte a cada segundo que
passava. Ela não sentia nada a não ser medo. Cada músculo em seu corpo se
tencionou, como os de um animal preso, amedrontado.
— Ariana.
Ouvir o seu nome na língua dele a fez ter vontade de chorar. Mas ela não podia.
O medo subiu em sua garganta e dificultou a sua respiração.
— Todos os caras do campus tem um gorro como esse. É como ver uma camisa
polo na neve e ter certeza de que é a de Daniel. — Ele puxou o gorro da sua mão e
atirou para a floresta. — Vamos sair daqui. Está congelando pra caramba.
Ariana concordou.
— Você está certo. — Ela o deixou puxá-la para cima e sacudir a neve do seu
jeans molhado. — Esse gorro pode ser de qualquer um.
Ela estava simplesmente repetindo as palavras que Thomas queria ouvir. Uma
pequena parte dela sabia que ela estava sendo irracional, pensando que Daniel
estivesse lá, mas ele era a pior pessoa que poderia tê-los visto. A única pessoa que
poderia fazer tudo desabar de uma só vez. Como poderia sua mente não pensar
nisso? Além disso, ela havia acabado de dar a ele esse gorro. Qual era a
probabilidade?
Outra onda de pânico a invadiu enquanto sua mente corria pelos eventos do
dia. Daniel provavelmente não havia acreditado em sua mentira na mensagem. E se
ele somente houvesse fingido que acreditara para poupar os seus amigos, e depois
tivesse ficado para trás para fazê-la pagar? Ele não gostava de perder. Essa qualidade
era o que fazia dele uma estrela dos esportes. Era o que fazia dele um Ryan. O tipo de
cara que fazia qualquer coisa para evitar perder Ariana. Qualquer coisa.
E se ele estivesse ali em algum lugar, seguindo ela e Thomas, não havia como
saber o que ele faria.
— Vamos. Nós podemos ficar no Ketlar. — Thomas agarrou sua mão, mas seus
dedos estavam muito gelados para senti-la.
— O Ketlar não está aberto.
Ela se agarrou a ele como se ele pudesse apagar o medo. Fazer não ser verdade.
Fazer aquele gorro de alguma maneira não estar ali.
— Eu forcei a porta dos fundos. Nós podemos ficar no meu quarto. — Ele deu
um passo a frente dela enquanto eles alcançavam o fim da floresta, inclinando-se
contra um galho de um pinheiro grosso e coberto de neve para que Ariana pudesse
passar.

53
— Eu não sei — Ariana falou, pausando enquanto o vento sacudia seus cabelos
ao redor de seu rosto. — E se alguém nos vir? Nós podemos ser pegos. E se Daniel...
— Daniel não está aqui! — Thomas gritou contra o vento, soltando sua mão.
Seu tom era afiado, mordaz e Ariana deu um passo para trás em choque.
— Me desculpe — ela murmurou, sem saber exatamente do que estava se
desculpando.
Os ombros de Thomas caíram.
— Não. Quero dizer, me desculpe — sua voz suavizou e ele olhou para a direita,
em direção à escola. Longe dela. — É só que, eu estou cansado de ouvir sobre Daniel
Ryan.
O coração de Ariana esquentou com a vulnerabilidade dessa afirmação.
— E eu tenho consciência de que nós não podemos ser pegos. Eu estarei ferrado
se for expulso — ele falou. — Mas eu não consigo pensar em nenhuma outra opção.
— Certo. — Ariana falou. — Nós iremos para o Ketlar.
Ele procurou pela sua mão novamente e eles andaram o resto do caminho em
silêncio. Enquanto ela arrastava-se contra a neve, inclinada contra o vento, Ariana
tentou colocar seus sentimentos em ordem. O tom de voz de Thomas a tinha
machucado. Tinha feito ela sentir como se fosse uma criança sendo escoltada. Além do
mais, por que ele se importava tanto em não ser pego? Ele sempre saía ileso de tudo.
E não seria ele que teria tudo a perder se fosse expulso. Não seria a família dele que
seria destruída se ele fosse pego. Quando eles chegaram à porta dos fundos do Ketlar,
Thomas facilmente a abriu.
— As maravilhas da fita adesiva — ele disse, apontando para a tira metálica que
ele tinha fixado na fechadura. Ele tirou seu isqueiro de seu bolso, acendeu-o, e depois
fez um gesto para Ariana ir a sua frente.
Os quartos estavam assustadoramente sem vida. Habitualmente preenchidos com
risos e música alta, agora eles ecoavam com um silêncio pesado. Ariana estremeceu no
frio, observando sua respiração subir e desaparecer em sua frente. Silenciosamente, ela
o seguiu até o segundo andar, virando-se enquanto passavam pelo quarto de Daniel.
Eles pararam no final do corredor, na frente da porta de Thomas. Era vazia —
ao contrário da maioria das outras portas do corredor, que eram cobertas de adesivos
para carros, lousas de recados e fotos. Ele empurrou a porta com a sua mão vazia.
— Não é exatamente um quarto do Discroll — ele anunciou, segurando o
isqueiro na frente deles. — Mas deve funcionar. Pelo menos por hoje à noite.
As luzes de segurança do pátio forneceram luzes o suficiente para Ariana ver o
estado do quarto de Thomas. Parecia quase idêntico ao quarto que ela dividia com
Noelle, exceto que era metade do tamanho. O lado de Thomas era espaçado e limpo.
Sua fina colcha xadrez estava fortemente esticada em cima da sua cama de solteiro, e a
mesa ao lado da cama estava quase vazia, com a exceção de lápis apontados em um
porta-lápis e uma garrafa vazia do Capitain Morgan’s. O essencial. O outro lado do
quarto estava cheio de roupas sujas e livros. Uma grande placa de metal que dizia “É
hora de miller1” pendurado sobre uma mesa desorganizada, e a cama não estava feita.
— Que classe — ela disse ironicamente. — Você assaltou uma loja de bebidas?
— Palavras duras de alguém que acabou de cometer um delito — Thomas sorriu.
— Arrombamento e invasão. Considerando sua reputação, eu teria esperado mais de
você.

1
Miller: Marca de Cerveja

54
Ariana exalou devagar. Parecia que a tensão entre eles havia se dissolvido tão
rápido quanto havia aparecido. E sabendo que eles estavam juntos no quarto de
Thomas, fora da tempestade, fora de vista — a fazia se sentir a salvo. Ela derrubou sua
bolsa na cadeira da mesa de Thomas.
— Você parece estar esquecendo que não sou eu quem está arrombando e
invadindo por aqui. Eu sou só a cúmplice.
— Boa tentativa. Mas você está nisso tanto quanto eu. Se eu afundar, você vem
comigo. — Por um momento, as sombras se movendo pelo rosto de Thomas o
fizeram ficar diferente. Como um estranho. Perigoso. Mas então ele sorriu e ele era
Thomas novamente. — Deixa eu acender a luz.
— Não. — Ariana disse rápido, procurando por ele. Ela pegou sua manga. —
Alguém pode notar. — Ela não queria dizer a ele que tinha algo nela que precisava
manter uma escuridão relativa entre eles. Sabendo que ele não poderia ver seu rosto
por inteiro, não poderia lê-la, facilitaria para ela se aproximar dele.
— Bem lembrado, garota travessa.
Ele deixou o isqueiro apagar e se inclinou na direção dela. Todos os pequenos
pelos do pescoço de Ariana se arrepiaram e seus lábios estremeceram, antecipando seu
beijo. Mas então ele se inclinou diante dela e abriu a gaveta superior da sua mesa,
arrancando um par de velas.
— Interessante — ela disse, levantando uma sobrancelha e escorregando para o
lado para dar a ele mais espaço. — Isso não seria algum tipo de truque para me
seduzir, seria?
Thomas colocou as velas na sua mesa e rapidamente as acendeu, depois olhou
por cima do seu ombro. — Como se eu precisasse de velas.
Ariana corou enquanto seu coração se revirava dez vezes. Como uma pessoa
conseguia ser tão confiante? Era intoxicante. Thomas se virou e se jogou em sua cama,
olhando pra cima para ela com um sorriso convencido nas luzes bruxuleantes.
— Você vai ficar parada aí a noite toda? — ele perguntou maliciosamente. — É
muito mais quente aqui.
Ariana não se mexeu. De repente, agora que ela estava aqui — agora que ela
encarava a dura realidade de estar sozinha com Thomas, sozinha na cama com ele —
ela não conseguia. O que ela estava pensando? Que ela iria perder sua virgindade pra
ele aqui e agora? Depois de falar pra Daniel que ela não conseguia dormir com ele em
um dormitório? Depois de enrolar o seu namorado perfeito por tanto tempo, ela
realmente ia se entregar para Thomas?
Além disso, Daniel podia tê-los seguido até ali. Ele poderia estar parado do outro
lado da porta agora mesmo, ouvindo. O próprio pensamento mandou as paredes
fecharem ao seu redor. Não havia como prever o que ele faria se ouvisse a coisa
errada.
— Não posso — ela disse.
O sorriso de Thomas congelou. — Você está brincando.
— Eu apenas vou dormir na cama do seu colega de quarto — Ariana disse a ele,
tentando não estremecer enquanto ela se sentava na pontinha da outra cama. O leve
cheiro de leite estragado vazou de uma mini geladeira debaixo da cama.
— Espera um segundo. Primeiro você me faz ligar para o Discroll e agora você
está toda tímida? — Thomas desafiou, se sustentando em um cotovelo para vê-la.
— Não fique bravo — Ariana disse.

55
— Não estou bravo. Só curioso — ele respondeu. — Dupla personalidade me
interessa.
— Eu não sou doida — Ariana retrucou.
Thomas a encarou por um longo período. Tão longo que Ariana quase começou
a se contorcer.
— Claro. O que você quiser — Thomas deu de ombros.
Ele se levantou e tirou sua boxer na frente dela. Então ele deitou na cama, se
enrolando nas cobertas.
— Mas você deve saber que o meu colega de quarto é meio que um galinha. Eu
já vi algumas garotas bem vadias saindo e entrando desse quarto. E eu preciso te dizer,
nos quatro meses que eu conheço o cara, eu nunca o vi lavando seus lençóis. Sem
contar que tipo de...
— Vou dormir por cima dos lençóis. — Ariana falou. Ela olhou ao seu redor
procurando por um acolchoado. Não tinha nenhum. Ela estremeceu, pressionando seu
rosto nos lençóis para aquecer seu nariz. Ele cheirava a mofo. Ela olhou para Thomas.
Se ele era um cavalheiro, ele iria oferecer a ela um cobertor. Ou pelo menos um
moletom ou alguma coisa. Qualquer coisa seca e quente.
— Está agradável e quente aqui — Thomas falou, com um bocejo exagerado. —
Livre de germes também.
Seus pulsos cerraram com indignação. — Que bom pra você.
Ela não iria pedir roupas a ele. Ela se recusava. Ao invés, ela puxou para fora seu
suéter para tirar a manga molhada de perto da sua pele, deixando a blusa branca de
baixo exposta. Depois ela arrancou seu casaco do seu corpo, tentando deixar a
camada molhada longe dela. Ela puxou seus joelhos até o seu peito e os abraçou,
curvando-se em uma bola apertada. Ela estava com mais frio do que nunca.
— Aham. Agradável e quente — Thomas falou, ficando cada vez mais
confortável em baixo de seu cobertor. — Quentinho, de verdade. Quentinho,
quentinho, quentinho...
— Pelo amor de Deus — ela retrucou, se levantando. — Se eu for até aí você vai
se calar e ir dormir?
Ele levantou as cobertas e escorregou para trás em direção à parede, dando a ela
espaço. — Nenhum de nós vai conseguir dormir.
Ariana estava grata que Thomas não conseguia ver o rubor que penetrou do seu
pescoço ao seu rosto.
— Veremos — ela falou.
Ela se atirou ao seu lado e se virou, ficando de costas para ele. Enquanto ele
arrumava os cobertores sobre o seu corpo, ele deixou seus braços se enrolarem em
volta da sua cintura. Apesar dos seus protestos anteriores, ela se deleitou com o calor.
— E agora? — Thomas sussurrou em seu ouvido, mandando arrepios para seu
corpo abaixo.
— Agora nós dormimos — ela disse a ele firmemente, mesmo que seu corpo
inteiro estivesse formigando.
— Claro — ele falou. — Só me acorde quando você não conseguir aguentar
mais.
Ariana não disse nada, mas ela ficou deitada ali, acordada, enquanto Thomas
caía no sono devagar, preocupada que se ela se movesse mesmo ligeiramente, ele
pudesse pensar que ela estivesse aproximando-se dele. Preocupada que em qualquer
segundo Daniel fosse abrir a porta destrancada e os pegaria juntos. Mas depois de

56
assistir o tic-tac do relógio digital indo de minuto a minuto por mais de uma hora,
depois de tentar ouvir passos no corredor que nunca vieram, ela finalmente deixou o
som da respiração firme de Thomas a acalmar até dormir.

57
13
A MANHÃ SEGUINTE
Traduzido por I&E BookStore

A
riana levantou-se com seu peito arfando. Suspiros barulhentos e irregulares
encheram o ar ao seu redor. O pesadelo familiar, formado como uma
colagem aterrorizante, a tinha acordado. A garrafa vazia de vinho, o traço de
seus próprios gritos, o clarão de luz fluorescente. E a voz da sua mãe.
Nunca se sabe do que as pessoas são capazes até que elas são levadas ao
extremo. Ela estremeceu e olhou ao redor procurando algo familiar. Mas não havia
nenhuma foto dela em cima da mesa. Não havia luzes de Natal em torno das janelas.
Não havia pilhas organizadas de romances gastos empilhados ao lado de sua cama.
Apenas uma bola de futebol debaixo da mesa e uma garrafa quase vazia de Captain
Morgan.
Sua respiração desacelerou quando ela percebeu onde estava. Liberando a colcha
xadrez de Thomas da sua mão, ela olhou para ele. Ele dormia de bruços, sua cabeça
virada na direção dela. Ela observou seu corpo subir e descer calmamente ao seu lado.
Sua boca estava um pouco entreaberta, sua respiração estava leve. Ela tentou ignorar
a pontada de ciúme que ela sentia. Ela não tinha dormido assim há muito tempo. Não
desde que os pesadelos começaram, há pouco mais de um ano atrás.
Ela virou-se para encontrar seu suéter e uma mão em suas costas a fez saltar. Ela
lembrou-se que era apenas Thomas. Apenas Thomas.
— Você parece tensa, garota travessa — Thomas bocejou atrás dela. —
Felizmente, eu conheço algumas maneiras de te acalmar — ele adicionou
sugestivamente, puxando-a para baixo. Ele passou os braços quentes em volta dela
por trás e aconchegando-se em suas costas, seus corpos fundindo juntos.
Ariana forçou uma risada, sem se virar. — Eu tenho que ir — disse ela em voz
baixa, sem se mover. Ela sabia que ela deveria se afastar dele. Deveria levantar-se e
sair pela porta. Ir para Vermont. Acabar essa coisa com Thomas, o que quer que fosse,
enquanto ainda podia. Mas a força de seus braços parecia acalmá-la. Eles estavam tão
perto que ela podia sentir seu coração batendo. Seu corpo inteiro desacelerou sob seu
toque, o que tornava impossível para ela fazer a coisa certa.
— Você não vai sair daqui tão cedo. Não se eu tiver alguma coisa a ver com isso.
Ela queria dizer a ele que ele não tinha nada a ver com isso, ela não tinha nada a
dizer para o que ela fez. Mas ela teria mentido. E ela não podia suportar a ideia de ser
tanto uma fraude como uma mentirosa. Essa não era ela. Não podia ser ela. Ela não
seria capaz de viver com ela mesma.
— Você dormiu bem? — perguntou ela.
— Claro. — Thomas suavemente afastou seu cabelo de lado e beijou sua nuca.
Suas palavras zumbiam em sua pele úmida. — Mas eu teria preferido que nenhum de

58
nós tivesse conseguido dormir. — Ele deslizou as mãos em seus quadris e começou a
movê-las até seu estômago.
Ela ergueu as mãos para as suas, impedindo-o, e virou para enfrentá-lo. Ele tinha
um vinco em um lado de seu rosto, a barba por fazer cobria seu queixo e bochechas, e
seu cabelo estava todo bagunçado. Mas mesmo com tudo isso, ele ainda era tão
bonito.
— Diga-me algo sobre você — disse ela.
Ela precisava ouvir algo que justificasse tudo isso. Algo que tornaria certo ela
estar aqui com ele, em vez de nas encostas com Daniel. Ela precisava que ele tornasse
isso certo.
Thomas sorriu, trazendo seus lábios para perto da sua orelha. — Por quê? — ele
sussurrou.
Calafrios atravessarem a sua espinha, e de repente não importava se fazer isso
fosse certo. Tudo o que ela queria fazer era beijá-lo. — Porque... — Ariana estava tão
ofegante quando ela olhou para ele que ela não conseguia formar as palavras. —
Porque nós acabamos de passar a noite na mesma cama e nós mal nos conhecemos.
Quando ela olhou nos olhos dele, ela percebeu que isso não era totalmente
verdade. Eles podiam não ter passado muito tempo juntos, podiam não saber
pequenos detalhes um do outro, mas de alguma forma, ela conhecia ele. E ele a
conhecia. Ela podia senti-lo na sua mente, seu corpo respondia sempre que ele olhava
para ela. Mesmo que ela não soubesse o seu nome do meio, ou se ele tinha usado
aparelho ou se ele amava seus pais... Ela o conhecia.
— Bem, eu realmente nunca disse isso a ninguém — Thomas disse baixinho, com
o rosto sério. — Mas eu sou um vidente.
— Vidente? — ela repetiu.
— Sim — ele disse sinceramente. Ele estava tão perto agora que seu nariz estava
tocando o dela. O contato fez o seu sangue acelerar. — Como, por exemplo, eu sei
que em cinco segundos, você vai me beijar.
O coração de Ariana bateu mais forte em sua caixa torácica. — Ah, é? — ela
disse, brincando.
— É.
Daniel a mataria se ele soubesse o que ela estava fazendo agora — o que ela
estava pensando. Mas ela não se importava. Naquele momento, isso não importava.
Tudo o que ela queria era estar com Thomas. Se deixar levar. Deixá-lo fazer o que
quisesse.
— Quatro... — Thomas mostrou seu perfeito sorriso de menino.
— Isso não vai acontecer — Ariana brincou.
— Três...
— Você vai ter que me beijar primeiro.
— Dois...
Ele fechou os olhos.
— Uh-uh... — ela falou.
— Um.
Ariana fechou os olhos e esperou o beijo que ela sabia que estava por vir. Em
seguida, o celular dela tocou. Automaticamente, sua cabeça se levantou e ela bateu a
cabeça na de Thomas. Com força.
— Filho da...

59
Thomas a soltou e caiu para trás, com a mão na testa. — Desculpa! Me desculpa
— disse Ariana, ignorando a dor enquanto ela procurava seu celular em sua bolsa.
Quando ela finalmente o encontrou, o display dizia que tinha uma nova mensagem
de texto. Com o coração batendo forte, ela rapidamente a abriu.

Daniel: Não é possível eu me aquecer aqui sem vc. Me ligue pra eu saber q vc tá
bem.

Ariana foi esmagado por uma súbita onda de náusea.


— Quem é? — perguntou Thomas, com o rosto ainda contorcido de dor.
— Nada — Ariana disse rapidamente. — Ninguém.
Ela atirou as pernas para o lado da cama e levantou-se para olhar pela janela.
Neve rodopiava do lado de fora, cobrindo o campus inteiro com uma camada fresca
de branco. Havia pelo menos dois metros de pó grosso. Ariana nunca tinha visto tanta
neve em sua vida, e ela deixou o ar frio despejar sobre ela e lavar a náusea. Ela sentia
como se ela tivesse acabado de ser pega em flagrante. Que Daniel tinha de alguma
forma sabido o momento exato para mandar uma mensagem de texto para ela para
impedi-la de fazer o que ela estava quase fazendo com Thomas.
Abrindo o celular dela, ela leu a mensagem novamente.
Ok. Apenas respire. Respire e pense que isso acabou. Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
E, de repente, sua mente clareou. Daniel estava esperando por ela em Vermont.
Isso significava que o gorro na floresta era realmente uma coincidência. Ele não estava
ainda no campus. Ele não sabia o que ela estava fazendo. O que significava que ela
ainda poderia corrigir isso. Ela ainda poderia voltar atrás e consertar tudo.
Ariana tomou outra lufada de ar gelado da manhã e prendeu-a, olhando para a
luz cinza da manhã. Ela nunca tinha visto o campus deste ângulo antes. Ela tinha
estado no Ketlar muitas vezes, mas sempre do outro lado do prédio, onde o desastre
desleixado do quarto de Daniel estava localizado. Ela pensou em todas as noites que
ele tinha ajudado ela a sorrateiramente passar pelo Sr. Cross, o conselheiro do Ketlar.
Como ele sempre a deixava usar a sua camisa velha de Harvard favorita quando ela
ficava com frio. O quão calorosa e acolhedora ela sempre se sentia quando eles
ficavam abraçados enquanto assistiam filmes em seu laptop. Como ele sempre a
levava de volta para o Billings, não importava que horas fosse, correndo o risco de ser
pego cada vez.
Talvez não fosse emocionante e perigoso como as últimas 14 horas com Thomas
tinha sido, mas era a sua vida. A vida que ela deveria ter. A vida que sua mãe queria
para ela. Thomas Pearson não poderia ser parte dessa vida.
— Algo errado, garota travessa? — Thomas perguntou, caminhando até a janela
e serpenteando os braços ao redor dela por trás.
Uma raiva fria e escura se apoderou dela instantaneamente. Os braços que
tinham feito ela sentir-se tão segura momentos atrás de repente queimaram sua pele.
— Me solta — ela retrucou, se afastando dele.
Thomas deu um passo para trás, assustado, mas Ariana mal notou. Sua mente
estava correndo em uma terrível tangente e ela não conseguia parar. Ela era suja. Ela
não era nada. Ela não era digna de Daniel Ryan. Olha o que ela tinha feito para ele.
Olha onde ela estava, enquanto ele estava esperando por ela em Vermont. Olha com

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quem ela estava. Ariana pegou seu suéter da cama extra e o agarrou com as duas
mãos, torcendo-o em uma espiral. Daniel iria morrer se soubesse.
A culpa caiu sobre ela em ondas impiedosas. Cada vez que ela tentava recuperar
o fôlego, outra tomava conta dela, arrastando-a para baixo. Ela se dobrou, ofegando
por ar, lutando contra a bile que subiu de seu estômago para a parte de trás de sua
garganta. Lágrimas ardiam os seus olhos.
— Ariana, o que há de errado? — Thomas esticou o braço e colocou a mão nas
costas dela.
Ela se afastou. — Não me toque!
— Sinto muito. — Um olhar de surpresa passou pelo rosto de Thomas, e ele
ergueu as mãos para cima em sinal de rendição.
— Eu tenho que ir. Tenho que tomar banho.
Ela sentia-se tão suja. Tão horrível que ela mal podia suportar ficar em sua
própria pele.
— Ok. Ok, tudo bem. Eu vou com você e lhe mostro onde é o...
— Não! — Ariana virou-se para ele. O que ele achava que eles iriam fazer,
tomar banho juntos? Ela não podia acreditar que ele ainda estava tentando seduzir
ela. Esse cara não entendia uma indireta? — Eu não vou tomar banho com você.
Tenho que sair daqui. Tenho que ficar longe de você.
Ariana sentou-se e calçou suas botas, derramando lágrimas de raiva por suas
bochechas.
— Ok. Que diabos aconteceu aqui? — Thomas exigiu.
Ariana olhou para ele. Ele ainda estava sem camisa. De pé com suas boxers.
Enojada, Ariana olhou para o lado e empurrou os cabelos para trás dos ombros.
— O que aconteceu é que eu acordei. Eu percebi o que eu estou fazendo, como
isso é errado — ela cuspiu. — Eu estou indo para Vermont. Estou indo para ficar com
Daniel. Isso foi um erro.
O rosto de Thomas estava saturado com a confusão. Ariana sentiu uma nova
onda de culpa, mas ela não podia deixá-lo influenciá-la. Ele não era importante. Não
mais. Ela tinha que se concentrar.
Daniel... Daniel é o único que eu preciso.
— Tudo bem. — Em um instante, o rosto de Thomas endureceu e ele deu um
passo para trás em direção à cama. — Boa sorte para conseguir sair daqui com este
tempo. E tente não ser pega. Se eu conseguir uma terceira punição, não vai ser por
causa de você.
— O quê? — Ariana desabafou. Ela se levantou e pegou o casaco e a bolsa.
— Você não é a única que tem algo a perder aqui — Thomas gritou, colocando
uma camisa de mangas compridas em cima da cabeça. — Eu não vou ser expulso só
porque uma residente puritana de Easton queria me usar para uma caminhada no lado
selvagem.
Sem sequer pensar, Ariana deu um tapa no rosto de Thomas. Então, enquanto
ele ainda estava ali de pé, atordoado, ela se virou e saiu do quarto, fechando a porta
atrás dela. Sua palma picava do contato enquanto ela corria pelo corredor e na
escada, mexendo em seu celular. O celular de Daniel foi direto para o correio de voz.
Ariana respirou fundo e se concentrou em soar animada.
— Daniel, oi. Eu sinto muito. Eu fui pega por essa tempestade estúpida, mas
estou fazendo tudo o que posso para chegar aí. Te vejo em breve. — Ela subiu as

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escadas de dois em dois, mas ela não estava respirando. Se ela respirasse ele iria saber
que ela estava chateada. — Eu te amo — ela acrescentou rapidamente.
Em seguida, ela saiu para o frio, arfando por ar. Vento soprava por ela, quase
derrubando-a do chão quando a neve gelada se atirou em seu rosto. Mas o ar frio
clareou tudo e Ariana começou a sentir-se no controle novamente. Estava tudo bem.
Tudo iria ficar bem.
Seu momento de loucura acabou.

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14
SEM ARREPENDIMENTOS
Traduzido por Lua Moreira

A
água morna caia do chuveiro mais suave na pele pálida de Ariana. Ela tinha
estado tão desesperada para ficar longe de Thomas que ela tinha quase usado
sua chave eletrônica para entrar no Billings pela porta da frente, em seguida,
lembrou-se no último segundo que ela não deveria estar no campus, e que a
segurança poderia ser alertada se alguém tentasse entrar em qualquer outro
dormitório além do Drake. Amaldiçoando-se por quase botar tudo a perder, ela se
arrastou pela parte posterior e usou a chave da Sra. Lat para entrar pela porta traseira.
Noelle tinha feito a chave no início do semestre, em antecipação das muitas vezes em
que ela não iria estar de volta ao Billings à tempo do toque de recolher. Ela manteve-
a presa atrás de uma dos candelabros de ferro forjado que iluminavam a entrada dos
fundos. Ariana era a única outra pessoa no campus que sabia sobre a chave, mas ela
nunca tinha precisado usá-la. Até agora.
Exausta, ela se inclinou contra a porta de vidro do chuveiro fosco. O grande mar
de espuma verde de banho era geralmente calmante, geralmente fazia o chuveiro se
parecer com um spa — seu próprio pequeno oásis. Mas hoje ele só parecia duro e
frio. Ela estremeceu quando a temperatura da água caiu, em seguida, elevou-se
novamente. Ela sabia que não importava quanto tempo ela ficasse sob a água. Seria
impossível enxaguar a culpa.
Ela tinha que acreditar que não era tarde demais para consertar as coisas. Se ela
pudesse chegar a Vermont, tudo estaria bem. Ela iria se lembrar que ela amava Daniel,
e por quê. Lembrar de todas as coisas doces que ele tinha feito por ela em seu ano
juntos.
E tinha havido tantas. Enquanto passava seu shampoo com cheiro de coco no
cabelo emaranhado, ela sorriu com a lembrança de seu aniversário na última
primavera. Daniel tinha aparecido em sua porta com um jeans e uma camiseta,
segurando uma garrafa de Clos du Mesnil. Eles haviam ido de carro para Manhattan,
onde ele a surpreendeu com um tour literário privado do West Village. Eles
percorreram as ruas pitorescas juntos, explorando os redutos de seus autores
americanos favoritos. Compartilharam uma garrafa de vinho tinto em um pequeno
bar mal iluminado com vista para a Washington Square, onde Henry James disse ter
lutado no filme Asas do Amor. Beberam uma caneca alta de cerveja escura em
Chumley, onde ela quase podia sentir os fantasmas de Fitzgerald e Hemingway na
cabine ao lado. Por uma tarde inteira, ela tinha sido transportada para um lugar onde
ela não precisava se preocupar com sua família, ou tirar boas notas, ou manter Paige
Ryan feliz para que ela recebesse uma oferta para entrar no Billings. Ela pode perder-
se em outro tempo, nas histórias que ela tanto amava. E Daniel tinha feito tudo por
ela. Porque ele a amava.

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Ele mostrava isso a cada dia, na forma como ele era protetor com ela. Como
aquela coisa com Sergei na outra noite. Então... De repente, a lembrança daquela
terrível noite em agosto voltou correndo para Ariana e seus olhos se abriram. Ela não
queria se lembrar do que Daniel havia feito naquela noite, mas as imagens voltaram
em todas as cores, no entanto. Todas as Garotas do Billings e seus namorados tinham
ficado presos na floresta, a última reunião antes do início das aulas. Ariana estava
aconchegada contra Daniel em frente ao fogo, bebendo uma cerveja, quando sentiu
seu corpo tenso ao lado dela. Ele acusou um dos amigos da casa de Dash de ficar
olhando para Ariana, e só assim, Daniel perdeu o controle.
Ariana apertou os olhos fechados novamente e apoiou a mão dela contra a
parede, tentando bloquear o pensamento, mas ela não conseguia. Ela ouviu o crack
quando o cara bateu contra uma árvore. O doente baque surdo dos punhos de Daniel
enquanto o acertava uma e outra vez. A súplica patética, uma e outra e outra vez.
— Por favor, cara... Eu não quis dizer nada... por favor, pare... — Finalmente,
Dash tinha arrastado Daniel para fora e ajudou seu amigo levando-o de volta para seu
carro, mas todo mundo agiu como se nada fora do comum tivesse acontecido. Paige
tinha encolhido os ombros revirando os olhos e dizendo — Esse é o meu irmão. —
Até mesmo Noelle parecia impressionada que Daniel fosse tão longe para proteger o
seu território.
Seu território. Eu, Ariana pensou.
Sua pele arrepiou com o calor mesmo quando a água ficou mais fria. Ela tinha
que sair do chuveiro antes que pegasse uma pneumonia. Quando ela pegou o bocal
do chuveiro e girou-o todo para a esquerda, o som irritante dos canos ecoou no
banheiro, mas a temperatura da água não se alterou. Ariana prendeu a respiração e se
abaixou sob o jato frio, tirando o xampu de seu cabelo com os dedos.
Algo chamou em seus ouvidos e Ariana congelou. Ela tinha acabado de ouvir um
rangido, ou ela estava imaginando coisas? Com o canto do olho, ela viu uma sombra
passar. Ela agarrou seu braço, ansiosamente cravando as unhas em sua carne.
— Olá? Thomas? É você?
Nada. Mas ela tinha certeza de que alguém estava lá. Quem era? Era alguma
pessoa aleatória observando-a? Por um longo momento, Ariana não se mexeu. Ela
simplesmente prendeu a respiração e escutou. Não havia nada. Era sua imaginação.
Ela estava vendo coisas.
Em seguida, outro rangido. Ariana desligou a água gelada.
— Olá? — ela chamou. A palavra pairou no ar por um momento, depois de ela
ter falado. — Tem alguém aí?
Silêncio.
Ela abriu a porta do chuveiro. O banheiro estava vazio. Gotas individuais de
água caíam lentamente da pia de porcelana. Mas ela tinha estado pingando mais
cedo, também, certo? E tudo estava em seu lugar: O cubículo de Noelle abastecido
com shampoo, buchas e máscaras faciais de argila caros; a escova de dentes elétrica de
Ariana, sua toalha, caída sobre o banco do lado de fora da porta do chuveiro. Ela
piscou. Estranho. Ela podia jurar que a pendurou no gancho da porta. Ela sempre
pendurava no gancho.
Ela balançou a cabeça. Era apenas sua imaginação. Isso era tudo. Ela estava no
Billings, sozinha, pela primeira vez, e isso a estava assustando. Ela tinha, obviamente,
com a pressa e a irritação, colocado suas roupas em um lugar diferente. Não é uma
grande coisa. Ela exalou um suspiro trêmulo de alívio e estendeu a mão para a toalha.

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De repente, a porta do banheiro se abriu. Ariana gritou.
— Na hora certa — Thomas Pearson disse com um olhar malicioso.
— Thomas! — Ariana gritou, enrolando a toalha em torno dela tão firmemente
quanto possível. — Você me assustou!
Oh meu Deus, Thomas Pearson acabou de me ver nua. Completamente. Nua.
Suas feições se contorceram, como se ele estivesse tentando manter uma
expressão séria. Havia neve em seu cabelo e seu rosto se tornou adoravelmente rosa
do frio. — Sinto muito. Quero dizer, sinto muito por ter assustado você. Não por eu
ter te visto nua. Só para ficar claro.
— Isso não é engraçado. — Ela fechou a porta novamente, colocando o vidro
nebuloso entre os dois, e se encolheu no canto para respirar, com a mão no peito. —
O que você está fazendo aqui?
Thomas entrou no banheiro. Ela podia ouvi-lo vasculhando o armário de
remédios em cima da pia. — Só queria lhe dar uma chance para se desculpar. Você
sabe, por ser uma vadia.
Ariana congelou enquanto secava seu cabelo. Havia um tom casual em sua voz.
Ele estava brincando. Agora que ela tinha tido a chance de se refrescar, ela sentiu a
humilhação de sua reação exagerada em seu quarto, e decidiu seguir seu exemplo.
Fingir que não era grande coisa.
— Por que você não respondeu quando eu disse o seu nome? — perguntou ela.
Houve uma pausa. — O que você quer dizer? Acabei de chegar.
— Mas eu ouvi você alguns minutos atrás — protestou ela. — Você estava no
banheiro. — Ela se certificou de que a toalha estava em torno dela e abriu a porta.
Thomas parecia genuinamente confuso. O coração de Ariana bateu com medo. —
Você realmente acabou de chegar aqui?
— Eu juro.
Mas alguém tinha estado lá. Ela tinha certeza disso. Thomas estava mentindo?
Ou Daniel estava no campus brincando com ela? Ou tinha sido alguém
completamente diferente? O estômago vazio de Ariana virou perigosamente. —
Como foi que você entrou? — ela exigiu.
— A chave de Noelle — ele respondeu simplesmente, lendo os produtos de
banho ao lado do chuveiro. Ele pegou um frasco gigante de condicionador,
inspecionando o rótulo. — Que diabos é óleo de jojoba?
— Como é que você sabe sobre a chave de Noelle? — Ela pisou no tapete de
banho de tecido e se abraçou contra o ar frio.
— Conhecimento comum, garota travessa.
Conhecimento comum. Noelle provavelmente tinha dito a Dash algo sobre isso.
O que significava que Paige provavelmente sabia sobre isso, também. E Daniel.
Thomas colocou o frasco no lugar e deu um passo incerto em sua direção.
— Me dê um segundo. — Ela segurou a porta de seu quarto aberta. — Eu já
saio.
— Eu vou estar bem aqui — disse Thomas com um sorriso sugestivo antes de
fechar a porta atrás de si.
Sozinha novamente, Ariana inclinou-se contra a parede e tentou retardar sua
respiração. E se Daniel estivesse aqui? E se ele estivesse dentro do Billings agora,
ouvindo ela e Thomas?

65
Mas não. Não. Não podia ser. Ele não iria fugir de seus pais, sua irmã, suas férias
de Natal, só para mexer com ela. Ele não faria isso. Ela tinha que acreditar nisso. Ela
tinha que acreditar nisso ou ela ia enlouquecer.
— Apenas tente lidar com o problema atual — ela sussurrou, limpando a névoa
do espelho e olhando para seu reflexo. Thomas.
O que ela ia fazer? Ela tinha pensado que isso tinha acabado. Pensou que o tapa,
para o bem ou para o mal, tinha posto um fim a esta loucura. Mas agora, aqui estava
Thomas, em seu quarto. Eles estavam sozinhos e sua pele estava formigando
novamente. Ela respirou fundo e vestiu seu robe de seda branca.
Ela tinha que dizer-lhe que não poderia mais fazer isso. Talvez fosse interessante
e divertido, mas isso não podia ser real. O que ela tinha com Daniel era real. Sim. Isso
era o que ela iria dizer a ele, e ele apenas teria que entender. Ela olhou para o
espelho, para seus próprios olhos azuis, e se preparou para a conversa. Mas quando
ela estendeu a mão para a maçaneta da porta um minuto depois, ela percebeu que ela
ainda estava tremendo. E não era por causa do frio.

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15
MANTRA SUPLICANTE
Traduzido por Lua Moreira

—T
homas, Eu...
As palavras de Ariana morreram em sua língua quando Thomas
ergueu uma calcinha sexy de Noelle — uma tanga vermelha com um
pequeno pedaço de tecido na frente.
— São suas ou de Noelle? Porque eu tenho que dizer, minha imaginação está
indo a alguns lugares muito doces agora...
— Elas não são minhas — disse ela, agarrando-as para longe dele e jogando-as
na cama de Noelle com todas as outras roupas que não tinham sido levadas na
viagem dela para casa. — Thomas, escuta...
— Olha, eu só vim aqui para fazer as pazes, porque parece que vamos ficar
presos aqui por alguns dias — disse Thomas, empurrando as mãos nos bolsos da frente
da calça jeans. — E eu ainda não ouvi o pedido de desculpas por você ter fugido de
mim.
Ariana apertou novamente o braço dela. — O que você quer dizer com “presos
aqui”?
Thomas apontou para o computador de Ariana, que estava mostrando um vídeo
de uma transmissão da previsão do tempo. Claramente ele tinha se servido com a
conexão de Internet dela. Ela estendeu a mão e aumentou o volume.
— ...a rodovia foi fechada e todo o trânsito está suspenso durante o período da
tempestade — o meteorologista dizia enquanto era atacado pelo vento e pela neve.
— O governador declarou estado de emergência e todos os funcionários não
essenciais foram orientados a ficar em casa. Quanto menos pessoas nas estradas,
melhor...
O coração de Ariana sentiu-se mal quando ela abaixou o volume novamente.
— Está um pesadelo lá fora — disse Thomas.
Ariana virou-se e olhou para fora da janela. Tudo o que ela podia ver era
branco. Era como um véu opaco que havia sido enrolado em torno da Casa Billings
prendendo-a lá dentro.
— Nós estamos presos — disse ela lentamente, com a boca seca. — Juntos.
— Sim, mas não se preocupe. Eu não vou fazer nada que faça você me bater de
novo — disse Thomas, seus olhos azuis dançando.
— Você não vai? — Ariana perguntou em silêncio. Ela sentiu como se estivesse
acabando de acordar. Acabando de perceber que Vermont não ia acontecer. Ela
estava dando ao seu cérebro um minuto para se ajustar.
— Eu não sou um idiota. Eu já entendi. Você não vai trair Daniel — disse
Thomas. — Então, se você quiser, podemos ficar presos aqui como amigos.

67
Ele olhou diretamente nos olhos dela. Não havia inquietação, nem insinuações,
nem um sorriso arrogante.
— Apenas amigos — disse ela com cautela.
Ela não tinha certeza se ela poderia ser amiga de Thomas Pearson. Ou se ela
queria ser. Mas ela sabia que ela não queria ficar presa sozinha neste quarto. Ela não
podia fazer isso. Não sem perder sua cabeça.
— Apenas amigos — disse Thomas. — Tudo bem.
Ariana acenou com a cabeça e começou a procurar em seu guarda-roupa por
roupas quentes. Apenas amigos era algo bom. Ela poderia fazer isso. Se ela apenas se
concentrasse em Daniel, ela poderia ignorar os olhos de Thomas. Seu sorriso. A
memória de seu peito nu pressionado contra suas costas durante toda a noite. Ela
podia. Realmente.
— Legal. Então, como minha amiga, tem uma história que eu tenho que te
contar. — Thomas se sentou em sua cama. As molas rangeram alto. — Eu acabei de
entrar na ducha de uma garota sexy, e ela estava totalmente nu...
Ariana apertou a mão sobre sua boca. Thomas olhou para ela como se ela fosse
louca, mas ela manteve o olhar focado na porta. Ela tinha ouvido alguma coisa. No
corredor. E desta vez, ela definitivamente não tinha imaginado.
Thomas agarrou seu pulso e retirou a mão de sua boca. — O que foi? — disse
ele, seguindo seu olhar.
— Alguém está aqui — ela sussurrou.
Thomas zombou. — Não há ninguém aqui além de... — Ele parou ao som claro
de passos se aproximando da porta. — Merda!
Ele deu um pulo e ela praticamente o empurrou para o closet de Noelle. Eles se
abaixaram dentro e fecharam a porta silenciosamente atrás de si. Ariana pisou
diretamente em um salto agulha com o pé descalço e teve que morder o lábio para
não gritar. Ela amaldiçoou a si mesma pela escolha de guarda-roupa de Noelle.
Poderia ser maior do que o dela, mas estava repleto de tantas roupas, sapatos e bolsas
que ela e Thomas mal cabiam dentro. Seus corpos foram pressionados um contra o
outro, e ela podia sentir a respiração quente de Thomas em seu ombro. De repente,
ela estava ciente do fato de que não havia nada além de seu robe fino entre os dois.
Sua pele pulsava de medo e excitação.
Em seguida, a porta de seu quarto se abriu lentamente e Ariana se esqueceu de
tudo, exceto do medo. Ela prendeu a respiração, encostada em Thomas como apoio,
com a pele lisa com suor. Alguém entrou em seu quarto e todo o piso de madeira
rangeu. A gaveta da escrivaninha bateu e Ariana segurou Thomas mais apertado.
Quem quer que estivesse lá estava vasculhando suas coisas. Raiva borbulhou dentro
dela, mas ela engoliu a vontade de abrir a porta do guarda-roupa.
Deixe-o ir. Basta deixá-lo ir... Ela tinha que deixá-lo ir. Ela não podia arriscar ser
pega no campus. O Diretor Cox tinha sido muito claro sobre suas regras.
Um profundo estrondo soou do estômago de Ariana, e ela se encolheu e
colocou os braços firmemente em torno de sua cintura em uma fraca tentativa de
abafar o barulho. Ela sentiu o corpo de Thomas tremendo com uma risada silenciosa.
Até agora, ela ainda não tinha pensado sobre o fato de que ela não tinha comido
nada desde o dia anterior.
Os passos se aproximaram do guarda-roupa e pararam em frente a ele. Ela
apertou os olhos fechados.
Por favor. Por favor, apenas vá embora. Vá. Vá. Vá.

68
Ariana agarrou o braço dele em desespero. Ela imaginou sua mãe, recebendo a
notícia de que sua única filha havia sido expulsa de Easton. Imaginou ela sozinha,
naquela casa grande, vazia. Folheando álbuns de fotos cheias das fotos que Ariana
tinha enviado quase todos os meses desde que ela chegou em Easton. Fotos dela e de
Daniel. De bailes, piqueniques e jogos de lacrosse de Daniel. Dela e Noelle se
divertindo em seu quarto. Dos edifícios escuros que projetavam sombras sobre o
campus.
Se Ariana fosse expulsa, se ela fosse embora de Easton e o Billings não fosse mais
uma parte da vida de Ariana, sua mãe não teria nada mais para se orgulhar. Sem esses
lugares, aquelas coisas, aquelas pessoas, Ariana não era nada. Ninguém. E sua mãe não
teria nada para viver. Ariana tremia de terror com o pensamento.
Finalmente, os passos afastaram-se do guarda-roupa, e alguns segundos depois, a
porta do quarto de Ariana se fechou. Instantaneamente, Ariana pulou para fora do
guarda-roupa. Ela estava morrendo de vontade de ir para a porta e pegar o intruso no
corredor, mas ela sabia que não podia.
— Ariana, você está tremendo — disse Thomas, estendendo a mão para ela.
— Eu sei que eu estou tremendo! Havia alguém no meu quarto! — ela sussurrou
em resposta. Ela mergulhou em sua escrivaninha e começou a verificar as suas gavetas.
Ela estava dividida entre o alívio e a raiva. Ninguém deveria estar no Billings. Assim,
quantas pessoas sabiam sobre a chave de Noelle? Além disso, o que essa pessoa queria
em seu quarto? — Que diabos foi isso?
— Um professor, talvez? Verificação em todos os quartos para garantir que todo
mundo está fora? — Thomas parecia incerto.
Ela balançou a cabeça. — Um professor não iria revistar minhas coisas. E todos
eles deveriam estar no Drake, de qualquer maneira.
Ela parou na frente de sua escrivaninha, deixando o olhar vagar de seu laptop
para sua cópia de Madame Bovary, e sobre a vela que Daniel tinha trazido alguns dias
antes. Algo não parecia certo. Algo estava faltando.
Thomas encolheu os ombros. — Quem sabe? Contanto que não sejamos pegos,
estamos bem.
— Como você pode ser tão casual sobre isso? — ela retrucou, passando as mãos
sobre a superfície da sua escrivaninha. O pensamento de que alguém tinha estado
aqui, revistando suas coisas, fez sua pele se arrepiar. — Alguém estava... — Uma lasca
deslizou debaixo da superfície de sua pele. — Merda. — Ela estremeceu, olhando para
baixo para a gota de sangue que apareceu em seu dedo. — Alguém estava revistando
minhas coisas pessoais, e você está agindo como se não fosse grande coisa.
— É só que... não há nada que você possa fazer sobre isso, então não há
nenhuma razão para nos estressarmos. — Thomas aproximou-se da janela, seu ombro
levemente roçando nela. Ela sentiu-o se afastar rapidamente, como se tivesse acabado
de se queimar. — Não é como se você pudesse ir para o diretor. Nós nem deveríamos
estar aqui.
Ariana o ignorou, concentrando-se por um momento na lasca presa na ponta de
seu dedo dolorido. Por que ela não conseguia descobrir o que estava errado, o que
estava diferente na sua escrivaninha? Algo tinha mudado. Assim como algo havia
mudado no banheiro entre o momento em que ela tinha entrado no chuveiro e o
momento em que Thomas tinha aparecido.

69
— Podemos esquecer isso? — Thomas suspirou. — Coloque algumas roupas e
vamos pegar algo para comer antes que o seu estômago nos delate para todo o
campus.
— Tudo bem, eu só preciso descobrir o que está faltando na minha... — A
garganta de Ariana se fechou enquanto seu sangue gelava. Ela tinha acabado de
perceber o que estava diferente. Quem quer que tivesse estado no quarto dela tinha
passado por seu laptop, seus brincos de diamante, seu delicado relógio antigo, e tinha
pego apenas uma coisa.
A foto preto e branca de Ariana — a que Daniel tinha tirado dela nos Hamptons
— tinha desaparecido.

70
16
PANQUECAS E QUEIJO GRELHADO
Traduzido por L.G.

D
aniel. Tinha que ser. Quem mais invadiria seu quarto e pegaria somente uma
foto dela? Uma foto que Daniel havia tirado. Quem mais?
Ariana de repente se sentiu exausta enquanto ela rapidamente vestia
uma calça jeans limpa e um suéter de cashmere azul. Thomas estava esperando por ela
no corredor, mas ela tinha que ter um momento só pra pensar.
Se fosse Daniel, por que ele estava torturando ela assim? Por que ele
simplesmente não se revela e a confronta? Ele era cabeça quente, se irritava fácil. O
jeito com que ele pulou no amigo de Dash... Mas talvez ele estivesse tão magoado
pelo que ela havia feito que ele decidiu tortura-la, depois confrontá-la. As
possibilidades, não saber, estavam fazendo sua cabeça doer.
— Quanto tempo demora pra colocar um suéter? — Thomas perguntou,
invadindo o quarto. Ele piscou ao olhar para cima, os ombros dela pendendo para
frente. — Ah, você está vestida.
— Você não disse para eu me vestir? — ela perguntou sem graça.
— É, mas eu pensei que se eu te surpreendesse eu talvez pegasse o segundo ato
de Nada Além de Pele — ele brincou.
Ariana o encarou com um olhar indignado.
— Eu pensei que nós íamos ser somente amigos.
— Nós somos. — Thomas rolou os olhos. — Agora vamos. Estou morrendo de
fome.
Ariana hesitou. — Thomas... você não acha que foi Daniel quem esteve aqui
antes, acha?
Thomas parou no caminho até a porta. Ele derrubou sua cabeça para trás e
suspirou para o teto. Quando ele virou para ela novamente, sua expressão estava
quase condescendente, como se ele fosse explicar um conceito de matemática simples
para uma aluna da primeira série.
— Ariana. Seu garoto não está aqui. Ele está em Vermont. O gorro que nós
vimos era um parecido com mais de um milhão que tem por aqui. Uma coincidência.
E sim, alguém veio aqui. Mas era provavelmente somente o zelador. — Alguma coisa
em seu olhar disse a Ariana que ele não estava tão confiante da explicação sobre o
intruso quanto ele estava sobre as outras. — De qualquer jeito, nós temos que comer,
certo?
— Certo — ela suspirou. O aquecedor havia sido desligado no dormitório e ela
ainda estava com frio, então ela colocou seu casaco por cima de suas roupas.
— Então vem. Tenho uma surpresa para você.
Ele virou e começou a vasculhar a gaveta da sua escrivaninha.

71
— O que você está fazendo? — Ariana exigiu, irritada. Por que as pessoas
continuavam mexendo em suas coisas?
Ele ergueu um clipe de papel cinza. — Só me chame de Pearson — ele disse de
um jeito persuasivo. — Thomas Pearson.
— O que...
Thomas levou um dedo em seus lábios perfeitos. Depois ele pegou o suéter sem
mangas Donna Karan favorito de Noelle da cama dela e caminhou até Ariana,
balançando a praticamente inexistente peça de tecido na sua mão. Em um único
movimento, ele amarrou apertado ao redor de sua cabeça, como uma venda de olhos
improvisada.
— Thomas, eu realmente não estou no clima para isso.
Ela levantou suas mãos em direção a venda, mas Thomas gentilmente empurrou-
as para longe, segurando as duas mãos para baixo em sua frente, enquanto ele a
encarava.
— Exatamente. Se estamos presos juntos até que o tempo permita, eu vou
precisar que você saia desse clima. Você está me deixando pra baixo, Osgood. — Seu
tom de voz era leve, mas Ariana ouviu algo cansado em sua voz.
— Está bem — ela concordou relutantemente.
— Ótimo. — Ele escorregou atrás dela e prendeu suas mãos em seus ombros,
persuadindo ela a atravessar o quarto devagar. — Porta — ele anunciou, conduzindo-
a gentilmente para o corredor.
Ariana abriu os olhos e tentou ver formas através do tecido frágil. Tudo estava
confuso e distorcido. Seu coração começou a acelerar. Ela não gostava disso nem um
pouco. Não gostava da completa falta de controle.
— Eu não sei por que eu tenho que ser a que está com os olhos vendados —
Ariana disse, em um tom cortado.
— Porque eu sou o único que sabe para onde estamos indo, Einstein.
Enquanto ele a guiava através do corredor escuro, ele suavemente cantarolou o
tema de James Bond no ouvido de Ariana. A repercussão da sua voz provocou
arrepios agradáveis pelo seu pescoço e sobre seus ombros e, de algum jeito, ela
começou a relaxar. Ela estava em boas mãos. As mãos de Thomas.
— Escadas! — ele cantou.
Ariana sorriu, apesar de tudo. Juntos eles começaram a descer as escadas, a mão
de Thomas nos seus ombros, apertando para evitar que ela caísse se perdesse um
degrau. Mas Ariana não era nada senão meticulosa. Ela notou exatamente como seu
pé precisava cair para se manter no caminho, tendo certeza de que ela pisava
exatamente a mesma distância toda vez.
— Aqui estamos. — Ariana o ouviu tateando uma fechadura, depois ouviu o
rangido lento da porta se abrindo. Ele descansou sua mão na parte inferior das suas
costas. — Vai em frente.
Todo o jogo dos olhos vendados havia sido completamente sem sentido. O
Billings era uma casa pequena, e Ariana sabia exatamente onde estava.
— Thomas. Você não fez isso — ela disse, arrancando a venda de seus olhos.
— O quê? — Thomas perguntou, sorrindo triunfantemente. — Você não gostou?
Ariana olhou ao redor da área limpa e pequena. O sofá de dois lugares repleto
de almofadas bordadas ficava perpendicularmente a porta do corredor, ladeado por
duas mesas de canto Mahogany. Uma poltrona marrom, um divã combinando, uma
mesa de café baixa com livros dispostos ordenadamente — Um Guia para a

72
Tranquilidade Doméstica da Srta. Boas Maneiras e O Pequeno Livro da Etiqueta —
eram os únicos pedaços de móveis que cabiam no quarto. Toda a superfície a vista
estava coberta com rendas de crochê em formato de flor, e metade das almofadas
mostravam gatos Siameses.
Ela jogou o suéter de Noelle em cima de uma almofada feia de tapeçaria que
estava escrita com ‘QUE PARTE DO “MIAU” VOCÊ NÃO ENTENDEU?’
— A Sra. Lattimer vai nos matar — ela disse. A governanta do Billings era
notoriamente reservada sobre seu aposento. Antes de hoje, Ariana tinha visto apenas
vislumbres de dentro, e somente quando acontecia de ela estar andando por lá
enquanto a Sra. Lattimer estava saindo ou entrando.
— Somente se ela descobrir que nós estivemos aqui — Thomas respondeu. Ele
pegou a renda de crochê detrás do sofá e envolveu ao redor de seu braço. — Bem
vindo ao Chez Lattimer, experiência gastronômica do Alojamento Billings.
— Sério, Thomas. Talvez a gente devesse tentar um lugar diferente.
Invadir o Billings era uma coisa. Invadir o aposento trancado da governanta
transformava seu delito em um crime.
— Onde mais nós vamos? — Thomas perguntou, cruzando seus braços em cima
do peito.
Ariana mordeu seu lábio. Por um momento ela considerou ligar para o Diretor
Cox, contando a ele onde eles estavam. Mas depois ela pensou na assembleia do dia
anterior — em como ele havia dito que não haveria exceções. Ela percebeu com um
suspiro pesado que ela e Thomas haviam quebrado muitas regras. Thomas estava
certo. Não havia nenhum lugar. Os outros alunos que sobraram estavam usando o
refeitório, então roubar comida da cozinha não era uma opção.
— Antes que você responda, me permita lhe mostrar os aspectos mais tentadores
de Chez Lattimer — ele alcançou o botão do termostato na cozinha e o ligou. —
Espere... — o som estridente dos canos antigos na parede fez Ariana pular.
— Calor! — ela disse feliz. Ela sentiu como se seus ossos estivessem congelados
por dias.
— Calor — Thomas confirmou.
— Estou começando a gostar desse Chez Lattimer. — Ariana entrou na pequena
cozinha e sentou-se nos bancos do balcão. — Então, quais sãos seus especiais?
Thomas encolheu os ombros enquanto pisava no piso de linóleo branco.
— Seu palpite é tão bom quanto o meu — ele abriu alguns armários. — Vamos
ver. No menu de hoje, temos arroz marrom, mistura para panqueca ou Metamucil.
— Uau. Tudo soa tão bom — Ariana brincou. — Me surpreenda.
— Vamos de panquecas.
Thomas procurou pela cozinha até que achou os ingredientes necessários, além
de xícaras de medição, uma fôrma redonda e uma tigela. Ele colocou tudo no balcão
e começou a trabalhar.
— Você sabe cozinhar? — Ariana sorriu. Ela gostava da ideia de aprender coisas
novas sobre ele.
— Quão difícil é seguir instruções? — ele perguntou.
Ariana assistiu ele medir a mistura em uma xícara de medição seca, e o óleo e o
leite em uma xícara de medição para líquidos. Um garoto só saberia a diferença se ele
já houvesse cozinhado antes — Thomas estava tentando esconder o fato de que ele
sabia o que estava fazendo.
— Então você nunca fez isso antes — ela desafiou.

73
De costas para ela, Thomas parou de mexer.
— Ok, certo, você me pegou — ele disse sobre os ombros. — Eu sei fazer
panquecas e queijo grelhado.
— Especialidades interessantes — Ariana disse.
— É, bom, quando eu era criança nós não jantávamos juntos em família e a
empregada estava sempre fazendo, tipo, peixe com chutney de manga, então eu
costumava entrar escondido na cozinha e fazer o que eu queria.
— Panquecas e queijo grelhado — Ariana disse com um sorriso.
— Exatamente.
Ariana entendeu. Foi justamente como o seu décimo segundo aniversário
quando ela teve que organizar e dar uma festa para si mesma porque seu pai estava
longe e sua mãe estava em um de seus estados. Às vezes você tem que aprender a
fazer as coisas sozinho. Ela imaginou o que haveria quebrado a família de Thomas.
Havia sido alguma coisa como a que tinha acontecido com a dela? Um pai
mulherengo e uma mãe que não estava ali nem antes de ele partir seu coração?
— Você nunca mencionou por que você não está indo para casa para o Natal —
Ariana disse. Ela assistiu Thomas concentrado na vasilha da mistura.
— A cidade é muito lotada no feriado — ele disse rapidamente. Na defensiva.
— Thomas — Ariana disse.
Ele olhou para cima, seus olhos fechados. A vulnerabilidade, a dor que ela havia
visto passar em um flash, estava ali, escrita em sua expressão. Mas dessa vez, não
despareceu. Somente intensificou enquanto ela sustentava o olhar. Somente se afiava
o quanto mais profundo ela olhava.
Um nó surgiu no fundo de sua garganta, e ela mordeu o interior de sua
bochecha. Ela já havia visto esse tipo de dor. Olhando para o seu reflexo no espelho
de um banheiro de hospital. Imaginando qual a coisa imperdoável que ela havia feito
na vida para merecer uma família como a dela. Instantaneamente se odiando por ter
tido tal pensamento.
Ele ficou em silêncio por um tempo.
— Vamos dizer que a véspera do Natal não é divertida na casa dos Pearson. A
não ser que você goste de brigas entre pais bêbados.
— Ah — Ariana disse. — Sempre foi assim?
— Desde quando eu nasci — Thomas disse com um sorriso severo. — E você?
Por quê você iria preferir passar o Natal com os Empina-Bundas?
Ariana riu. — Um apelido meio comprido para os Ryan.
— Estou trabalhando nisso — Thomas respondeu. Ele deixou água escorrer em
cima de seus dedos e depois os agitou em cima da frigideira aquecida. Gotículas de
água bateram e crepitaram em toda a superfície. Ele até sabia como testar a
temperatura adequada. — Seus pais brigam, também?
— Não. — Ariana respirou fundo e suspirou. — Pior. Eles não se falam. Nunca.
Mesmo quando estão no mesmo quarto. Ela só olha para ele com um patético desejo
e ele ignora completamente a sua presença.
— Ah, silêncio é bom — Thomas propôs.
— Não esse tipo de silêncio — Ariana disse triste, olhando para suas mãos.
Thomas afastou-se por um instante e agitou a massa de panqueca. Ariana deixou
o som rítmico da calmaria levá-la.
— Eu nunca realmente pensei nisso quando eu era criança — Thomas falou
finalmente.

74
— Pensou sobre o quê?
— O jeito que as coisas são. Como eles gritavam um para o outro se eles
estavam perto por mais de vinte minutos. Como no final de todas as refeições, eles
terminavam desmaiados em quartos diferentes. E depois, em uma véspera de Natal
quando nós éramos muito pequenos, eles estavam fora da cidade a negócios. Tóquio
ou qualquer merda. E então meu irmão e eu...
— Blake?
Ele confirmou com a cabeça.
— Nós fomos para a casa de um amigo para jantar. E era como se alguma coisa
estivesse desligada. Meu pai não estava gritando. Minha mãe não estava chorando.
Thomas derramou a massa sobre a chapa quente e um chiado frenético encheu a
sala.
— Agora você sabe porque eu gosto dos Empina-Bundas — Ariana disse.
— Eles são normais? — Thomas perguntou cético. Ele colocou a tigela no balcão.
— Eu acho isso difícil de acreditar.
— Bem mais normais do que eu estou acostumada.
Thomas terminou as panquecas em silêncio, depois as virou em dois pratos
diferentes e os deslizou na bancada. Ele sentou no banco ao lado de Ariana, seu
cotovelo roçando no dela. Nenhum dos dois se afastou.
— Calda? — Ariana disse com um sorriso.
— Como você quiser — Thomas respondeu, entregando para ela sobre seu
antebraço, como se fosse uma garrafa de vinho.
Ariana esguichou um pouco de calda na sua panqueca e cortou um perfeito
triângulo. Enquanto isso, Thomas agarrou a garrafa, encharcou suas panquecas e usou
seu garfo e sua faca para dizimá-las em milhares de pedacinhos pequenos antes de
enfiar um garfo inteiro em sua boca.
— Então seus pais sempre foram assim? — ele perguntou depois de engolir.
A comida de Ariana virou cimento em seu estômago. Ela nunca havia contado a
ninguém sobre a sua mãe. Nem mesmo para Noelle. Ela nunca tivera vontade. Nunca
sentiu que podia. Parecia desleal... e embaraçoso. Ela baixou seu garfo e limpou seus
dedos com seu guardanapo sistematicamente, um por um.
— Você não pode me contar nada que vá me chocar — Thomas disse sem
rodeios. — Confie em mim.
Ariana olhou para ele. Ele a encarou de volta, seu olhar firme. Aberto. De
repente ela sentiu como se pudesse dizer a ele toda a verdade. Sua família estava
ferrada, também. Não era como os Ryan. Ou como os Lange, que amavam uns aos
outros, mesmo que tivessem um jeito estranho de demonstrar.
— Você tem que jurar que não vai contar a ninguém — ela disse.
— Para quem eu contaria? — Thomas perguntou.
Ele não tinha interesse nenhum em fofoca. Isso era o que ele estava lhe dizendo.
Ele estava acima disso. E ela acreditava nele. Ariana respirou fundo, apertou seu braço
e soltou.
— Minha mãe entra e sai de hospitais psiquiátricos desde que eu consigo me
lembrar.
Ela olhou para ele para ver sua reação. Ele nem ao menos piscou.
— Então eu cresci sendo mais o meu pai e eu — Ariana continuou. — Minha
mãe estava em casa somente de vez em quando.
— Sem irmãos e irmãs? — ele perguntou.

75
Os dedos de Ariana agarraram seu braço mais apertado, mas ela não respondeu.
Ela não tinha nenhum interesse em falar desse assunto.
— De qualquer jeito, quando minha mãe estava em casa, tudo era sempre ótimo
nos dois primeiros dias. Ela cozinhava e jogava jogos comigo e somente estava... leve.
Algumas vezes durava mais tempo do que outras, mas cedo ou tarde ela sempre
voltava a piorar.
— Depressão? — Thomas perguntou, mordendo um pedaço da sua panqueca.
— Depressão grave — Ariana confirmou. — Ela trancava a porta do quarto e
ninguém podia entrar. Meu pai sempre tentava, mas ele sempre ficava mais e mais
frustrado. Ele começava a desaparecer por dias e semanas. Por sorte, eu tive minha
babá para tomar conta de mim. Ou senão...
— O que seria de qualquer um de nós sem nossa babá? — Thomas brincou,
tentando amenizar o clima.
— Em todo o caso, minha mãe sempre fazia ele voltar com ameaças — Ariana
continuou. Ela rasgou seu guardanapo pela metade, depois rasgou-os em quatro.
Pequenos quadrados simetricamente perfeitos.
— Ameaças? — Thomas perguntou.
— Ela ameaçava... você sabe... — Ela olhou para Thomas. Ele encarou de volta.
Ele ia fazê-la dizer.
— Se matar — ela disse rapidamente. Ela rasgou o guardanapo mais uma vez.
Em oito, dezesseis, e continuava rasgando. As panquecas em seu prato haviam
absorvido toda a calda e estavam ficando frias. — E então, um dia quando eu tinha
nove anos e ele tinha ido embora por mais de um mês... ela finalmente fez.
— Sua mãe cometeu suicídio? — Thomas deixou escapar. Depois ele corou, ao
perceber sua gafe.
— Não! Não. Bom, ela tentou — Ariana explicou.
E de repente, ela viu novamente. O corpo de sua mãe parecendo sem vida,
enrolado em uma posição fetal no tapete do banheiro. As pílulas muito laranjas, sobre
o chão de ladrilho branco. Seu cabelo loiro derramado em uma perfeita auréola ao
redor de sua cabeça. Ariana viu tudo, e de repente se sentiu paralisada.
— Era o último dia de aula antes das férias de Natal — ela disse sem graça. Sua
voz assumira um único tom. Imparcial. Era o único jeito que ela conseguia prosseguir
com a memória. — Fui eu quem a achei. Liguei para o 911. O médico disse que se
tivesse chegado uns cinco minutos mais tarde...
Ela ouviu a si mesma gritando para sua mãe várias e várias vezes. Viu a si mesma
chorando histericamente pelo telefone.
— Como ela fez isso? — Thomas perguntou. Ele havia parado de comer.
A pergunta a trouxe de volta.
— Vicodin. Regado com uma garrafa de vinho que meu pai comprou para ela
na lua de mel — ela disse, e forçou um sorriso. — Você tem que ceder pontos a ela
pelo gosto dramático.
— Não brinca — Thomas disse com uma risada curta. — Uau. Você deve
realmente odiar o natal.
— Com paixão — Ariana disse.
Ela estava tremendo por dentro, mas ela estava feliz de ter contado a Thomas.
Sua família, seu passado... não era mais um segredo. Algo a ter vergonha. Ela havia
dito a alguém e o mundo não havia acabado.

76
— Mesmo assim, eu quero ir para casa e ver minha mãe, mas ela realmente quis
que eu ficasse com Daniel, então... — ela parou.
Thomas olhou para o seu prato por um segundo. Quando ele voltou a olhar
para cima, seus olhos pareciam de um azul mais profundo do que eles estavam há
segundos atrás.
— E você? — Thomas perguntou.
— O que tem eu?
— Você disse que a sua mãe quer que você fique com Daniel. Mas e você? O que
você quer?
Ariana piscou. Ninguém nunca havia perguntado isso a ela antes. Como era
possível que ele fosse o primeiro?
— Eu... — sua voz vacilou. — É... complicado.
— Complicado? Ou você gosta do cara ou você não gosta. Isso é o oposto de
complicado.
O desafio em sua voz colocou Ariana no limite.
— Não é tão simples assim — ela respondeu. — Minha mãe... ela vive através de
mim. Ela tem tanto orgulho de mim, da minha vida aqui... Se eu terminasse com
Daniel, ou fosse expulsa, ela simplesmente...
Ela não conseguiu terminar o pensamento. Não conseguia suportar imaginar o
que aconteceria. E seria tudo sua culpa. Tudo. Sua. Culpa.
— E é por isso que eu preciso ir para Vermont — ela terminou. — Eu não tenho
escolha.
— Mas isso não é justo. — Thomas estava incrédulo. — Você não devia viver
sua vida inteira por ela. Ela não quer que você seja feliz?
— Sim, mas ela acredita que Easton, o Billings e Daniel são as coisas que vão me
deixar feliz. E elas deveriam. — Sua voz estava ficando cada vez mais eminente
enquanto ela falava. — Eu digo, elas me fazem feliz. Ele é um cara ótimo, e ele me
ama.
Thomas riu cruelmente.
— Daniel Ryan não ama ninguém a não ser ele mesmo.
— Você não sabe de nada — Ariana disse, empilhando seus pedaços de
guardanapo no balcão. — Por que ele estaria pronto para perder sua virgin...
Thomas olhou boquiaberto para ela.
— Espera um segundo, espera um segundo. Daniel Ryan contou a você que era
virgem? — ele soltou.
Ariana sentiu seu rosto flamejando. — Ele é virgem.
Os olhos de Thomas dançaram felizes, e de repente pareceu que o quarto estava
esquentando. O jeito condescendente que ele olhava para ela como se ela fosse
ingênua. Estúpida. O sangue dela ferveu em suas veias. Na sua mente, ela se viu
pegando a pesada fôrma redonda e batendo com ela na cabeça inclinada de Thomas,
somente para se livrar de seu olhar.
— Para de me olhar assim! — ela disse, se levantando. Seus dedos contraíram.
— Eu não... — Thomas respondeu, seus olhos sérios novamente. — Eu só... Eu
não acredito que ele te disse isso. E eu não acredito que você acreditou.
O sangue de Ariana começou a esfriar.
— Eu não acreditei. É a verdade — Ariana disse firmemente. — Não que seja da
sua conta.

77
— Você acabou de fazer com que seja da minha conta — Thomas falou, se
levantando. — Vamos.
— Para onde? — Ariana não moveu um músculo.
— Eu vou provar para você que ele está mentindo — Thomas disse
simplesmente. — A não ser que você esteja com medo de descobrir a verdade.
Ariana empinou o queixo. — Eu não tenho medo de nada.
— Ótimo. Eu proponho uma aposta — Thomas disse, pegando seu casaco de
cima do sofá onde ele havia jogado antes.
— Que tipo de aposta? — Ariana apostou.
— Eu aposto que eu consigo provar que Daniel Ryan não é nenhum virgem —
Thomas disse, olhando para ela. — Se eu estiver errado, eu vou...
— Voltar aqui e limpar essa bagunça sozinho? — Ariana sugeriu, apesar de que
somente a ideia de sair e deixar a bagunça para trás fez sua pele formigar.
— Certo, e se você estiver errada, você vai ter que me beijar novamente —
Thomas disse.
— Muito criativo — Ariana disse, rolando os olhos.
— Homens são uma raça simples — Thomas brincou.
— Está bem — Ariana disse. — Vamos acabar logo com isso.
Ela passou por ele e puxou o próprio casaco do sofá. Ela sabia que Daniel nunca
mentiria para ela. Não sobre algo tão grande. E depois do jeito que ele a humilhou,
ela mal podia esperar para tirar o sorriso convencido do rosto de Thomas Pearson.

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17
QUASE PEGOS
Traduzido por I&E BookStore

T
homas empurrou a porta dos fundos do Billings e ambos foram atingidos no
rosto com gelo e neve. Ariana mal conseguia ver um metro na frente dela.
— Vamos. Vou me certificar de que você não saia voando. — Thomas
teve que gritar para ser ouvido sobre o vento assobiando. Ele ofereceu-lhe a mão sem
luva.
Ela a pegou com a sua com luva, dizendo a si mesma que era apenas para fins de
sobrevivência e não por outro motivo, e juntos eles partiram para a tempestade. A
neve tinha empilhado tão alto que tocava as molduras das janelas do primeiro andar.
Quando eles deram seus primeiros passos, suas pernas afundaram e a neve chegou até
seus joelhos. Ariana encolheu-se quando o frio embebeu seu novo par de jeans.
Cortantes rajadas de vento sopravam a neve caindo em círculos estonteantes ao seu
redor.
Os olhos de Ariana queimaram. Lágrimas derramaram por suas bochechas
quando ela piscou.
— Talvez tenha sido uma má ideia — ela gritou. Ela se virou e olhou
ansiosamente para a janela do apartamento da Sra. Lattimer. A memória da cozinha
pequena e acolhedora desapareceu com a próxima rajada de vento.
— Apenas continue andando — respondeu Thomas.
Eles se arrastaram o resto do caminho sem tentar conversar. Quando finalmente
alcançaram a porta traseira do Ketlar, eles se aconchegaram sob o beiral, fora do
caminho do gelo e da neve. Ariana respirou fundo. Seu cabelo estava molhado, seu
nariz estava escorrendo e seus ouvidos pareciam que estavam prestes a se tapar.
— Isso não foi tão ruim. — Os olhos de Thomas pareciam cinza contra o sinistro
céu de neve. As nuvens escuras acima tinham um tom amarelado, tornando-se
impossível dizer que era de tarde.
Ariana simplesmente olhou para baixo, pensando em Noelle, toda aconchegada
em Nova York, provavelmente comendo mahi-mahi no Fred’s at Barneys com seus
pais, e os Ryan sentados em frente a uma lareira acesa em Vermont. Em todas as
coisas que ela poderia estar fazendo se ela não estivesse presa nesta nevasca. Ela
empurrou o cabelo emaranhado por trás dos ombros. — Vamos entrar.
Thomas estendeu a mão para a porta e Ariana viu um vulto escuro se mover
pelo canto do seu olho. De repente, Thomas puxou-a para dentro. Juntos, eles se
abaixaram abaixo da janela da porta da frente do Ketlar e Ariana prendeu a
respiração.
— Quem diabos era? — Thomas sussurrou. — Ninguém vai ficar deste lado do
campus.

79
Ariana levantou e, ignorando as súplicas sussurradas de Thomas para ficar
abaixada, espiou pela janela. Uma figura ágil, curvada contra o vento passou
lentamente por lá, seguindo a rota geral da via de paralelepípedos que estava coberta
pela neve. Um cabelo preto balançava violentamente com o vento.
— É apenas Isobel — Ariana sussurrou, abaixando novamente. — Eu acho que
ela não nos viu.
Thomas deu um suspiro de alívio. — Que diabos ela está fazendo aqui?
— Ela vai ficar aqui por uma semana enquanto seus pais estão em férias.
— Isobel Bautista não conseguiu descobrir outro plano de férias? — Thomas
levantou uma sobrancelha. — Soa como uma desculpa para mim.
Ariana encolheu os ombros e tentou retardar sua respiração. Seus pulmões
pareciam que estavam cheios de cacos de vidro. — Temos que ter mais cuidado. Se
algum aluno que ficou aqui nos pegar, estamos ferrados.
— Eu sei. — Thomas levantou-se e agarrou as mãos de Ariana para puxá-la para
cima. — Eu não posso ser pego. Meus pais vão me deserdar.
— É. Os meus também — Ariana disse secamente. Ela apertou as mãos em cada
lado do nariz, na tentativa de aquecê-lo. Não funcionou.
— Não. É sério. — A voz de Thomas ecoou no saguão vazio do Ketlar. — Só
mais uma encrenca, e eu estou cortado do testamento. Tudo vai para Blake.
Ariana olhou para Thomas em descrença. — Eles vão fazer isso?
Thomas assentiu. — Eles me avisaram depois da última vez que o Diretor Cox
ligou para eles. Alguns calouros disseram ao conselheiro Wesley que eu vendi
anfetamina para eles.
— E você vendeu? — ela perguntou, já sabendo a resposta.
— Idiotas ingratos — Thomas murmurou. Ele virou-se e caminhou até o
elevador como se ele não tivesse acabado de admitir que era um traficante de drogas.
— Vamos lá — ele falou por cima do ombro. — Você tem uma aposta para perder.

80
18
A APOSTA
Traduzido por Lua Moreira

—E
u não posso acreditar que estou fazendo isso — disse Ariana, do lado de
fora da porta do quarto do dormitório de Daniel. — Ele me mataria.
— Mataria você, hein? Soa como um vencedor — Thomas brincou.
Ariana lançou-lhe um olhar de morte e empurrou a porta aberta. Pilhas de
uniformes sujos de esportes, edições anteriores da revista ESPN, e embalagens de
barras de proteína cobriam o chão. Sua cômoda explodia com roupas e uma tigela
pela metade de cereais consumidos pousada em sua mesa.
— Isso é horrível — anunciou Thomas, olhando para um conjunto de shorts
manchados de grama e lama na cama de Daniel. — Até mesmo para um cara.
— Ele não tem muito tempo para limpar — Ariana disse, franzindo o nariz
quando ela passou por cima de um capacete de lacrosse.
— Ah, certo. Porque ele é tão ocupado com todos os seus clubes e equipes e em
ser o Primeiro a cada semestre. Mensagem recebida — Thomas respondeu.
Envergonhada de que ele a havia lido tão facilmente, Ariana virou-se e começou
automaticamente a pegar a roupa de Daniel, dobrando as que pareciam limpas e
colocando as sujas no cesto. Enquanto ela estava tentando enfiar uma camiseta
dentro, Thomas puxou-a para longe dela e despejou o conteúdo inteiro na frente das
portas do guarda-roupa. — O que você está fazendo? — Ariana lamentou.
Thomas vasculhou as roupas. — Prova suficiente? — ele perguntou, erguendo
uma camisola rendada da confusão. — Ou o seu garoto está pegando outra garota,
ou ele gosta de brincar de se disfarçar. De uma maneira ou de outra, você perde.
— Isso é meu. — Ariana sorriu, puxando a camisola para longe dele. — Que
bom que você gosta dela, apesar de tudo.
— Huh. — Thomas olhou para a camisola nas mãos dela, em seguida, desviou o
olhar para o seu corpo, deixando seus olhos vagar.
— Strike um — ela disse rapidamente, colocando a peça delicada em sua bolsa.
— Desiste?
— De jeito nenhum — disse Thomas zombando. — Eu estou apenas começando.
Ele caminhou até a escrivaninha de Daniel, abrindo e fechando as portas uma
após a outra. Finalmente, ele jogou um monte de livros no chão e um sorriso lento
veio à tona.
— Ponto. — Ele sentou-se em cima da escrivaninha e colocou o laptop de Daniel
em seu colo. — Senha?
Ela encolheu os ombros. — Não faço ideia — disse ela levemente. Ela atravessou
o quarto e encostou-se à mesa ao lado dele. — Sinto muito.
— Oh, vamos lá — ele protestou. — Você não sabe a senha do seu próprio
namorado?

81
— Eu te disse, eu confio nele. Ele confia em mim. — Mentira.
— É? — Thomas ergueu as sobrancelhas com ceticismo.
— Como regra geral, eu não ando bisbilhotando suas coisas pessoais.
— Não — Thomas corrigiu-a. — Você não estava bisbilhotando suas coisas
pessoais. Até agora. — Ele fez uma pausa, tamborilando os dedos na mesa. — Qual é
o seu número do lacrosse?
— Vinte e nove — ela respondeu. — Mas isso é muito óbvio.
Ainda assim, Thomas digitou Ryan29 na caixa de senha. Senha inválida piscou na
tela. Daniel29, DRyan29 e LAX29 provocaram a mesma resposta.
— Aw. — Ariana fez beicinho. — Strike dois.
Ela levantou a tigela de cereal na prateleira acima da escrivaninha e sentou-se ao
lado de Thomas. Uma estranha sensação se espalhou por seu corpo. Alívio? Não era
possível. Ela não esperava que Thomas encontrasse algo. Daniel nunca tinha lhe dado
uma razão para desconfiar dele. E mesmo se ele não devesse mais confiar nela, ela
confiava nele. Não havia nenhuma razão para eles estarem lá, mexendo em suas
coisas pessoais. Seu cabelo ainda estava úmido, mas de repente ela sentiu que ela
precisava de outro banho.
— Ok — ela anunciou, batendo as unhas contra a mesa. — Você tentou. Agora
vamos sair daqui. — O som de suas próprias unhas na superfície do carvalho a deixou
ainda mais inquieta. — Vamos. Por favor.
— Você tem que me dar uma chance de ganhar a aposta — Thomas murmurou.
— Tudo bem. Vamos tentar algo mais fácil. Quando é o aniversário dele?
Ela suspirou com impaciência. — 12 de Agosto.
Thomas digitou o aniversário de Daniel. Não funcionou. Ariana pulou da
escrivaninha e pegou os livros de Daniel do chão. — Vamos lá. Você tem alguns
pratos para lavar. — Ela organizou os livros a esmo sobre a mesa, mesmo que doesse
não deixá-los em uma pilha limpa, e voltou para a porta.
— Espere. Me dê mais uma chance. — Thomas inclinou-se sobre o teclado.
— Não, nós vamos embora. — Ela optou por ignorar a edição da revista Maxim
com orelhas de burro ao lado de seu pé e preferiu se concentrar na tela enquanto
Thomas digitava a senha na caixa de senha.
Bem-vindo, Daniel Ryan! piscou na tela e uma foto de Daniel segurando o
bastão de lacrosse brilhava por trás de seus ícones do desktop. Seu coração se
afundou.
— Inacreditável. — Thomas sorriu. — Você está namorando uma ferramenta,
sabia disso?
— Cale a boca — Ariana respondeu por entre os dentes.
— Vamos tentar ver suas conversas de mensagens instantâneas primeiro — disse
ele, habilmente clicando através das conversas gravadas de Daniel.
— Para registrar, isso é errado — anunciou ela, mesmo que seu coração estivesse
batendo pela intriga. A mórbida curiosidade definitivamente estava levando a melhor
sobre ela. — Nós não deveríamos estar fazendo isso.
— É um pouco tarde para esse tipo de conversa — respondeu ele, examinando a
lista de conversas. Ele abriu uma e deslizou ela, rindo baixinho para si mesmo. — Oh,
isso é bom.
— O quê? — O coração de Ariana acelerou. Parecia que ele tinha acabado de
ganhar na loteria.
— Apenas leia.

82
Thomas virou a tela do laptop em sua direção. Seu coração acelerou ao ler as
primeiras linhas da conversa.
RyanLAX (08:07 PM): Tá aí? Vem aqui.
Anjo01 (08:08 PM): Ñ posso. Muitos trabalhos para amanhã. Amanhã à noite,
se você puder.
RyanLAX (08:11 PM): Alguma maneira de convencer vc?
Anjo01 (08:13 PM): Você tem algo em mente?
RyanLAX (08:15 PM): Venha e descubra.
Anjo01 (08:18 PM): Preciso de uma dica primeiro.
RyanLAX (08:19 PM): Dica: Vc não vai precisar de suas roupas.
Anjo01 (8:21 PM): Que bom que eu acabei de sair do banho ;)
Ela sentiu os olhos de Thomas sobre ela, e seu rosto aqueceu.
— Isso é o suficiente — disse ela lentamente, saindo da conversa. — Eu não
preciso ler mais nada. — Ela empurrou a tela do laptop para Thomas e desviou o
olhar.
Thomas se virou. — Escuta, Ariana — ele começou. — É melhor você saber
agora, antes de você...
Ariana riu. — Você poderia ser mais ingênuo? Eu não preciso ler mais, porque eu
sou Anjo-zero-um!
Os olhos de Thomas estavam arregalados. — Então, você é uma garota travessa.
Ariana corou. — Você já está pronto para admitir? Admita que Daniel não é um
mentiroso e podemos ir.
— Nem perto — respondeu Thomas. Ele abriu um par de arquivos do desktop e
analisou o conteúdo. Ariana o assistiu, e depois de alguns cliques do mouse, ela viu
seu rosto mudar. Ele fez uma pausa, e seus olhos brilharam com interesse. Os dedos de
Ariana se apertaram junto a seu estômago.
— O que foi?
Quando Thomas olhou para ela, o desgosto e a pena estavam claros em seus
olhos.
— Nada. Eu não consegui encontrar nada. Vamos sair daqui.
Thomas começou a baixar a tela, mas ela estendeu a mão e o impediu. Seu
coração batia em um batimento irregular. Havia algo nessa tela.
— Me dê isso — disse ela, arrancando o computador de suas mãos.
Thomas tentou agarrar inutilmente. — Ariana...
Ela piscou para a tela brilhante em confusão. A planilha em que Daniel
costumava acompanhar suas estatísticas de lacrosse estava aberta. Ela examinou as
colunas familiares: objetivos, tentativas, assistências. A segunda aba, intitulada
“pontuação”, foi anexada à planilha.
— São suas estatísticas de lacrosse. Grande coisa — disse ela, passando o cursor
sobre a aba pontuações.
— Eu não clicaria nisso — disse Thomas, coçando a nuca.
Então, é claro, Ariana tinha de clicar. Instantaneamente uma nova planilha
encheu a tela, mas não era a planilha que ela estava esperando. A coluna da esquerda
estava cheia de nomes de meninas. Alguns ela reconheceu, e alguns não. A coluna da
direita estava cheia de datas, a primeira em agosto do ano de calouro de Daniel,
quatro anos antes.
— Eu não entendo. O que...

83
Então ela viu o último nome da coluna. Ariana Osgood. Na entrada ao lado,
“Férias de Natal do Último Ano”.
Todo o oxigênio foi sugado para fora dos pulmões de Ariana. Seu peito apertou.
Esta era uma lista de meninas que Daniel tinha dormido, e ela era a próxima da linha.
Ele não era virgem. Ele estava dormindo com todas as garotas do campus desde que
ele chegou em Easton. Pior ainda, todos deviam saber. Todo mundo sabia que idiota
e ingênua ela era. O cara que disse que a amava, disse que queria que ela fosse sua
primeira, a havia humilhado na frente de toda a escola. Mentiu para ela durante todo
o ano em que eles estiveram juntos. Ela checou as datas de novo. Ele tinha dormido
com outras duas garotas enquanto eles estavam namorando.
Eu sou uma perdedora. Uma estúpida, estúpida, perdedora. Ele me usou. Eu
deixei que ele me usasse. — Ariana? Você está bem?
Eles estão todos rindo de mim. Todos eles. Rindo de mim pelas minhas costas.
Ariana começou a tremer novamente. O computador tremeu em suas mãos. Ela
não era nada mais que um número em uma planilha. Nada. Um pontinho. Ela era
inútil. Ela agarrou seu braço, suas unhas cortando sulcos profundos em sua blusa. Eu
posso muito bem me matar agora. Ninguém iria sentir falta de mim. Ninguém se
importaria.
— Ele é um idiota — disse Thomas em voz baixa. — Ele não merece você.
Ariana olhou para Thomas e tudo pareceu se encaixar no lugar. Alguém se
importaria. Thomas se importaria. Ele mesmo disse isso. Ela era boa demais para
Daniel. Thomas achava que ela valia alguma coisa.
Ariana deixou o computador cair. Ele bateu no chão e morreu com um som
doentio e um flash da tela, mas ela não se importava. Ela pegou o casaco de Thomas
e puxou-o para ela, apertando seus lábios, seu corpo contra o dele. Nada que tinha
ficado entre eles antes importava agora. Ela sentiu um peso saindo de seus ombros
quando ele a beijou de volta.
Daniel não a merecia... Ele não a merecia... Ela estava cansada de pertencer a
ele.
Ariana agarrou Thomas pelo colarinho e tirou seu casaco por baixo de seus
braços. Ele atirou-o para o chão enquanto suas mãos se moviam para sua camisa. Eles
já não estavam tremendo. Enquanto seus dedos desabotoavam a camisa dele, ela
estava se movendo com um propósito firme.
Que se dane Daniel Ryan. Dane-se ele, sua família perfeita e sua vida perfeita. —
Você tem certeza? — Thomas murmurou enquanto empurrava sua camisa de seus
ombros nus. Seu corpo era perfeito. Firme, definido e bronzeado.
— Uma aposta é uma aposta — ela sorriu, beijando seu pescoço, correndo os
dedos sobre seu peito. — E eu não sou uma má perdedora.
— Deveríamos sair daqui — suspirou Thomas. — Voltar para o meu quarto.
Ele pegou o casaco e foi para a porta, segurando a mão dela na sua.
— Eu quero fazer isso aqui. — Ela apontou significativamente para a cama
desfeita de Daniel e puxou a camisa sobre sua cabeça. — Ele merece isso.
Thomas sorriu e deixou cair o casaco de volta no chão. Ele se moveu em cima
dela rapidamente, inclinando-a sobre os travesseiros familiares. Ele morreria se ele
soubesse o que ela estava fazendo agora. Ele simplesmente morreria.
— Eu gosto da maneira que você pensa, garota travessa — disse Thomas,
pairando sobre ela.

84
Com um sorriso, Ariana puxou o corpo quente de Thomas em cima dela. E
mesmo que ela tivesse jurado a Daniel Ryan que ela nunca iria perder a virgindade em
seu dormitório, foi exatamente isso o que ela fez.

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19
PRESOS
Traduzido por I&E BookStore

E
ra quase como um sonho, como se não houvesse realmente acontecido. Ariana
relaxou no peito forte de Thomas e fechou os olhos, repetindo a série de
imagens em sua mente como um filme mudo em uma tela de projeção. Depois
da sua primeira vez no quarto de Daniel, eles haviam se esgueirado de volta ao quarto
de Thomas e começado tudo de novo. Desta vez, tinha sido mais romântico. Mais
delicado. Vestindo apenas boxers, Thomas a tinha beijado na frente da sua porta, em
seguida, deixou-a entrar antes de puxar seu suéter para fora sobre sua cabeça. Ela
estava nua por baixo, mas na penumbra de seu quarto, ela se sentia totalmente a
salvo. Segura. Eles fizeram amor de novo, desta vez mais lentamente, e Ariana tinha
gravado todos os detalhes em sua mente. Cada toque, cada beijo, cada centímetro
dele.
Isto foi monumental. Foi um dia que ela nunca iria esquecer. Ela queria lembrar-
se de cada coisa.
Agora o sol se pôs do lado de fora e o quarto estava escuro exceto pela luz das
velas que Thomas tinha acendido antes de pegar no sono.
Atrás dela, ele se moveu um pouco e ela se afastou para trás em direção a ele em
sua cama, sorrindo para a intimidade de tudo. Thomas não era nada parecido com
Daniel. Ele nunca iria deixá-la sentir-se vulnerável como Daniel tinha. Sua mãe
entenderia isso. Depois do que Daniel havia feito, ela teria de entender.
Movendo-se desconfortavelmente na cama de solteiro de Thomas, ela percebeu
que seu colar de flor-de-lis estava perfurando sua clavícula. Ela levou os dedos ao
peito. O colar tinha deixado uma marca profunda da flor em sua pele.
— Você está bem? — Thomas disse meio grogue. Ele beijou o topo de sua
cabeça, e ela ergueu o rosto para ele. A luz cintilante das velas sobre a mesa banhou-
os de calor.
— Melhor do que bem. — Ela sorriu, traçando o contorno de seu braço com a
ponta do dedo. O som de sua própria voz a surpreendeu. Não havia nenhum traço
de vergonha, nem de preocupação em suas palavras. Ou em seu corpo.
Ariana Osgood estava finalmente calma. Perfeitamente, felizmente calma.
— Eu também — ele murmurou, acariciando-lhe o cabelo. Ele olhou-a nos olhos
com um olhar fixo, concentrando-se apenas nela. Como se nada mais no mundo
poderia lhe importar mais. Como se nada pudesse afastá-lo dela. Nem Daniel, ou a
ameaça de serem expulsos, ou suas famílias disfuncionais. Ele queria estar lá com ela.
Completamente.
Ela sentiu-se derretendo nele. A tensão que tinha sido construída dentro dela ao
longo das últimas horas — ao longo dos últimos anos, na verdade — havia

86
desaparecido, deixando-a leve. Livre. Sua respiração estava lenta e uniforme. Ela se
perguntou se esse era o sentimento de felicidade.
— Você está muito quieta — observou Thomas, seus dedos arrastando para
baixo de suas costas nuas. Um arrepio subiu ao longo de sua pele.
— Só estou pensando — disse Ariana baixinho, descansando na dobra do seu
braço. Ela tinha imaginado como este momento seria por tanto tempo que ela mal
podia acreditar que realmente aconteceu. Ela sempre tinha fantasiado sobre encontrar
o cara perfeito, sobre se apaixonar perfeitamente. Sendo a heroína de seu próprio
romance. Vivendo feliz para sempre.
Mas Thomas não era perfeito em tudo. Ele era sarcástico e desajustado e dizia as
coisas erradas. Mas ele sabia como era crescer do jeito que ela tinha crescido. E ele
não a culpava por isso.
— Pensando em quê? — Thomas estimulou-a.
— Sobre como isso é o que eu preciso. — Era exatamente o que ela queria dizer,
e ela se sentiu segura o suficiente para dizer isso. Sem máscaras, nem fingimento.
Ela o beijou de leve nos lábios, em seguida, no nariz. Ele tinha gosto de xarope
de bordo. — Mmm, café da manhã — ela riu, afastando-se dele e lambendo os lábios.
Thomas sorriu. — Você tem um gosto muito bom também.
Ele a cobriu com uma série de beijos rápidos e cortantes que se arrastaram de
seus lábios para seu pescoço. Ela o empurrou e ele reagiu, pressionando a mão contra
a parte de trás do seu pescoço e puxando-a para ele.
— Não pense que você pode escapar tão fácil — disse ele em seu ouvido. —
Agora que eu tenho você, eu não vou deixar você ir tão cedo.
Um calor agradável tomou conta do coração de Ariana. Ele a amava. Ela sabia
que ele a amava.
— É melhor você não fazer isso.
Sentando-se, ela tentou lançar-lhe um olhar ameaçador, mas o brilho divertido
em seus olhos apenas a fez desatar a rir de novo.
— Ah, é? — ele a desafiou, deslizando as mãos em volta de sua cintura. — O
que você vai fazer?
— Você não vai querer saber — ela o alertou, brincando. — Acredite em mim.
— Ooh — ele riu. — Estou com tanto medo da grande e malvada Ariana.
Ele passou os braços apertados em volta dela e puxou-a para ele. Ariana sorriu e
adormeceu. Perfeitamente, felizmente calma. Segundos depois, o som alto de uma
sirene puxou-a direto para fora de um sonho disforme.
— Que porra é essa? — Thomas gritou.
O coração de Ariana estava em sua garganta. — É o alarme de incêndio!
Thomas tropeçou para fora da cama, pegou uma camiseta do seu cesto de roupa
suja, e a vestiu. De alguma forma, Ariana encontrou seu jeans por baixo da cama. O
denim úmido agarrou-se a sua pele, e seu coração disparou enquanto ela lutava para
puxá-los para cima. Ela empurrou seus pés em suas botas, puxou o casaco da cadeira
de Thomas e rapidamente apagou todas as velas.
— Nós temos que sair daqui. — Thomas pegou a mão dela e puxou-a para a
porta. — Vamos!
— Não! — Ela puxou-o de volta. — Nós não podemos sair desse jeito. Eles virão
para verificar o dormitório a qualquer momento. No momento em que nós
passarmos pelos montes de neve do lado de fora eles vão nos ver! — Sua cabeça

87
estava começando a pulsar. Ela não conseguia pensar com o som daquele estridente
alarme em sua cabeça.
— Nós não temos escolha! — Thomas gritou. — Se ficarmos aqui, eles vão nos
pegar de qualquer maneira. Eu não posso ser expulso, Ariana, eu não posso! — Seus
olhos estavam selvagens, sua voz rouca sobre o alarme estridente.
— Eu sei! — ela gritou. Ele estava certo. Eles não podiam sair, e eles não
poderiam ficar.
Eles estavam presos.

88
20
O SALTO
Traduzido por L. G.

—N
ós temos que sair pela janela.
— Você está maluco? — Ariana exclamou. — Nós estamos no
segundo andar!
— Então o que nós vamos fazer? Simplesmente desistir? — Thomas exigiu.
— Não — Ariana disse. Se tinha uma coisa que ela nunca faria, era desistir. Sua
mãe havia desistido. E mesmo que Ariana a amasse, ela havia prometido que nunca
seria como sua mãe.
— Então me ajuda — Thomas disse.
Ele escorregou os dedos para os entalhes da parte de baixo da janela e Ariana fez
o mesmo. Com uma respiração profunda, eles jogaram seu peso contra a janela. A
madeira distorcida continuou congelada no lugar.
— Merda. — Thomas se virou e olhou nervosamente para o corredor.
— Vem! Vamos tentar de novo.
Ele voltou a se juntar a Ariana. — Ok. Um, dois, três! — ele gritou. Juntos eles
tencionaram a janela. Ariana segurou sua respiração e puxou até sentir que seus dedos
iriam quebrar. Então, justo quando ela pensou que não conseguiria mais, a janela
finalmente cedeu.
— Vamos! — Thomas se virou enquanto uma rajada de ar frio varreu pelo
quarto.
Ariana se moveu cautelosamente para a janela. A nevasca tinha diminuído, e
somente uma leve e translúcida cortina de flocos de neve caía no chão abaixo. Os
pinheiros cobertos de neve na borda da floresta pairavam não muito longe da parte
de trás do Ketlar. Ela deu um passo atrás, quase tropeçando em Thomas. O chão de
gelo abaixo dela parecia muito, muito longe.
— Não posso — ela balançou a cabeça. — É uma queda muito alta. Nós temos
que sair de outro jeito.
— Não tem outro jeito — Thomas disse severamente. Ele agarrou seu pulso tão
forte que ela estremeceu. — E tem toda essa neve para suavizar nossa queda. — Ele
sentou no parapeito da janela, virando a cintura para caber na pequena abertura. —
Eu vou primeiro.
— Thomas! Não!
Mas ele pulou para longe do prédio e caiu. Ariana o seguiu com o olhar,
imaginando seu corpo quebrado deitado e morto no chão abaixo. Mas ao invés disso,
ele pousou no macio monte de neve amontoado embaixo da janela. Ele estava bem.
— Vem! Você consegue! — ele sussurrou-gritou para ela.
Com o corpo tremendo, Ariana sentou no parapeito, seus pés ainda plantados
no chão de Thomas. Uma perna de cada vez, ela arrastou seus joelhos para o seu

89
peito. Ela girou seu corpo e baixou suas pernas embaixo da janela. A visão de Thomas
no chão embaçou abaixo dela.
— Não posso. — A imagem de seu corpo em queda livre da janela fez sua pele
formigar de medo.
— Eu estou aqui. Vem, Ariana — ele suplicou. — Pula.
Ela fechou os olhos bem forte e hesitou.
Eu não consigo. Eu não consigo. Eu não...
— Eu não vou deixar nada acontecer com você — Thomas disse.
O coração de Ariana pulou em seu peito. Certo. Ele iria protegê-la. Ele a amava.
Ela olhou para ele, respirou fundo, e se empurrou da janela. O vento gelado passou
por ela e ela pousou dura, contra o corpo de Thomas. O som de um osso quebrando
pairou no ar quando os dois atingiram a neve.
— Você está bem? — Thomas fez uma careta. Sua cara estava contorcida de dor.
Ariana se contorceu para sair de cima dele e ajoelhou ao lado de seu corpo na neve.
— Você está machucado.
— Eu estou bem — ele disse, através dos dentes cerrados. — De verdade.
A culpa infiltrou em sua pele, mais rápido do que a neve molhada. — Você não
está. E a culpa é minha — ela insistiu. Ela abaixou seus dedos paralisados para o seu
tornozelo, e ele se contorceu em dor. — Nós temos que...
— Nesse momento, o que temos que fazer é sair daqui — ele interrompeu. Ele
sondou a parte de trás do Ketlar e acenou para um enorme pinheiro que pairava
sobre o canto mais distante do dormitório, em diagonal com porta dos fundos. — Por
ali — ele disse sucintamente.
Silenciosamente, ela puxou seu braço para o seu ombro e ajudou ele a se manter
de pé. Ele derrubou sua cabeça em direção a seu pescoço, sua mandíbula tensionada.
O peso de seu corpo a assustou. Se ele não conseguisse cuidar de si mesmo, ele
definitivamente não conseguiria cuidar dela.
Thomas levantou um pé do chão e eles se movimentaram rapidamente do
dormitório para a árvore, quase dez metros da parte de trás do Ketlar. Ela o ajudou
ao redor do tronco grosso, e eles se apoiaram na casca irregular, virados para floresta.
Thomas fechou os olhos. — A neve — ele disse, enrolando os punhos ao seu
lado. — Você tem que cobrir para ninguém saber que estivemos lá.
O tom da sua voz fez Ariana estremecer. Ela tirou a neve de seus cachos,
olhando em seus olhos. — Thomas — ela começou, — eu estou realmente...
— Não foi sua culpa — ele disse com um sorriso pequeno brincando em seus
lábios. — Eu fui idiota o suficiente para ficar embaixo de uma janela com uma garota
pulando dela. Eu mereci o que tive. — Ele escorregou para baixo do tronco da árvore,
ajeitando-se no chão com uma risada fraca. — Agora vai, antes que nós dois sejamos
expulsos.
Ela se apressou ao redor da parte de trás do alojamento, e ficou de joelhos na
neve, uniformizando o lugar embaixo da janela de Thomas onde seus corpos
aterrissaram. Ela se moveu para trás, correndo suas mãos a esmo em cima de suas
pegadas e a única pegada de Thomas que traçavam seu caminho para a árvore. Não
estava perfeito, mas teria que servir.
— Que merda foi aquela? — ela sussurrou, desmoronando ao seu lado. —
Quem disparou o alarme? Quem teria...?

90
Thomas alcançou sua boca e a cobriu com a sua mão, sacudindo a cabeça
devagar. Alguém estava vindo. Ela congelou ao fraco som de neve sendo esmagada
pelo pé de alguém.
— Olá? — uma voz familiar ecoou na escuridão. — Tem alguém aí?
Os passos pararam na porta dos fundos, não longe de onde eles estavam se
escondendo. Suor pingou das têmporas de Ariana e escorreu pelas suas bochechas
coradas, apesar do frio. Ela virou sua cabeça, espiando detrás do tronco grosso.
A fraca figura do Reitor Marcus, o reitor dos estudantes, estava amontoada
debaixo de um casaco de corpo inteiro de lã cinza. Um cachecol xadrez estava ao
redor de seu pescoço e um gorro estava puxado na altura das orelhas, mas Ariana
reconheceu sua postura curvada e seu andar arrastado e lento. O Reitor Marcus era o
braço direito do Diretor Cox. O homem que era unicamente responsável pelo seu
futuro em Easton estava parado somente há alguns metros de distância.
Qualquer estudante que seja achado violando alguma dessas regras será expulso
imediatamente. Não haverá exceções. Nenhuma.
Parecia que havia sido anos atrás que ela ouvira essas palavras durante a
assembleia matinal, mas agora elas vieram correndo de volta para ela, ameaçando-a
novamente. Se ele se virasse, ele os veria. Mas era muito tarde para se mexer. Ariana
fechou os olhos, cruzou os dedos e torceu para que um homem velho como o Reitor
Marcus tivesse cataratas.
Justamente quando o reitor estava prestes a se virar em sua direção, as lâmpadas
ao redor do Ketlar se apagaram em um sibilante estouro. Tudo ficou escuro. O
campus de repente pareceu mais frio. Deserto. Morto.
Ariana agarrou o braço de Thomas.
— É só uma falha de energia por causa do tempo — ele sussurrou.
Ele procurou por sua mão e entrelaçou seus dedos com os dela, apertando-os
tão forte que suas juntas doeram. Sua respiração era superficial atrás de seu pescoço.
— Pelo menos agora ele não consegue nos ver — ele sussurrou.
Bip, bip, bip.
O coração de Ariana parou. Seu telefone.
Por favor, não venha até aqui. Por favor, não venha até aqui. Por favor, por
favor, por favor. Ariana fechou seus dedos paralisados em seu telefone, silenciando-o.
O reitor se virou do corredor. Ele estava encarando-os agora, forçando os olhos
no escuro. Ela esperou que ele chamasse seus nomes. Esperou ele dizer que sua vida
havia acabado. Que os dois seriam expulsos.
Mas ele somente suspirou e se virou, deixando um caminho irregular na neve
embaixo dele.
— Ai meu Deus — Ariana suspirou, o alívio inundando seu corpo congelado.
— Quem diabos te mandou mensagem? — Thomas exigiu.
Ariana abriu seu celular.

Daniel: Ariana, isso é inaceitável. Espero que você esteja pronta para implorar por
perdão. ONDE VOCÊ SE ENFIOU????

Ela virou o seu celular para mostrar a tela para Thomas. Na mesma hora, seu
estômago pesou. Ela engoliu repetidamente para se impedir de vomitar. Sua pele
queimou apesar do frio, e ela tentou respirar.
— Que babaca — Thomas disse. — Ele sabe o que está acontecendo lá fora?

91
Ariana gemeu. — Você não entende, Thomas? Ele sabe onde eu estou. Ele sabe o
que estivemos fazendo. Ele só está tentando me torturar.
— Você não acredita ainda que ele está no campus. — Não era uma pergunta, e
ela não respondeu. — Você está sendo paranoica, Ariana. — Mas ele não soou tão
seguro quanto tinha soado antes.
— Estou? — ela retorquiu. — Ele nem se referiu a mensagem que eu deixei a ele
dizendo que eu estava indo.
Os nervos de Ariana rangeram por baixo de sua pele, e de repente ela ouviu a
voz de sua mãe na manhã que ela havia tentado se matar.
Nunca se sabe do que as pessoas são capazes até que elas são levadas ao
extremo, Ariana.
Fazendo careta, Thomas arrastou seu joelho bom para o seu peito.
— E daí? Ele é claramente um cretino egoísta. Ele está provavelmente ignorando
isso.
Thomas estremeceu no escuro. No luar fraco sua pele estava pálida. Ariana
poderia ter se chutado por se focar em Daniel quando Thomas claramente precisava
dela.
— Isso não importa agora. — Ela posicionou a palma de sua mão contra a
árvore e se levantou. Não havia nenhum milímetro dela que não estivesse ensopado.
Se eles não saíssem de lá, achassem algum lugar quente para dormir, eles iriam
congelar. — Nós temos que arranjar alguma coisa para o seu tornozelo.
— Eu tenho um pouco de Vicodin na minha mesa. Segunda gaveta — ele
pausou, fechando os olhos. — Mas eu não quero que você vá lá sozinha. Nós
pegaremos depois. Só vamos dar o fora daqui.
— Não. Eu vou.
Ela esperou que o terror que ela sentiu com o pensamento de retornar ao quarto
de Thomas não transparecesse. E se Daniel estivesse lá, esperando por ela? Mas
Thomas precisava dela. Ela enfiou a mão no bolso de sua jaqueta, buscando pelo seu
isqueiro.
— Ariana — ele protestou fracamente.
— Não vá a lugar nenhum — ela disse secamente.
— Hilário.
Você consegue fazer isso, Ariana. Faça por Thomas. Enquanto ela corria para a
porta de trás, ela não conseguia expulsar Daniel de seu pensamento, não conseguia
parar de imaginar se ele estava no campus o tempo inteiro. Vigiando cada movimento
seu com Thomas. Ele podia ter visto tudo. Ele poderia ter assistido ela perder a
virgindade com outro cara.
E, Ariana se lembrou, se tinha uma coisa que Daniel Ryan odiava, era perder.

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21
FÁCIL
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O
frio cortante no quarto de Thomas bateu nela no segundo que ela entrou pela
porta. A neve tinha entrado pela janela aberta, e o som oco do vento
sacudindo o vidro fez sua pele arrepiar. Ela parou na porta, tomando uma
respiração lenta e profunda. Ela poderia fazer isso. Tudo o que ela tinha que fazer era
encontrar as pílulas de Thomas. Ela iria sair do Ketlar e voltar para ele em menos de
um minuto. Tudo ia ficar bem. Ambos iam ficar bem.
Ela segurou o isqueiro na frente dela, movendo-se lentamente através do quarto
de Thomas para a escrivaninha dele. A chama fraca lançou uma luz superficial sobre os
itens espalhados pela superfície. Os lápis, a caneta esferográfica roída, a garrafa vazia
de rum Captain Morgan.
Ela abriu a primeira gaveta. Chicletes, revistas antigas, marcadores e um artigo do
Jornal da Academia Easton sobre o desempenho do time de futebol em um torneio
local. Ela olhou para a foto em preto e branco enrugada da equipe amontoada no
campo. Thomas sorriu de volta para ela, segurando a bola debaixo do braço. Ariana
lutou contra o impulso de dobrar a foto e colocá-la no bolso. Haveria tempo de sobra
para tirar fotos após este fim de semana.
Segunda gaveta. Quanto mais cedo você encontrar as pílulas, mais cedo você
poderá sair daqui. Ela fechou a gaveta e alcançou a maçaneta abaixo dela. Dois
pacotes pesados de papel de computador recheavam a segunda gaveta. Nada mais. A
ponta de metal do isqueiro estava começando a esquentar, e ela estremeceu contra o
calor. Com a mente correndo, ela tentou pensar como Thomas. Se ela tivesse uma
reputação de vender drogas, se ela chegasse perto de ser expulsa várias vezes, onde
ela iria esconder suas pílulas? Ele disse a ela que estavam na segunda gaveta. Ele
poderia ter se confundido?
Ela puxou os pacotes pesados de papel da gaveta. Não havia nada além de
madeira lisa por baixo. Ela correu os dedos ao longo do fundo da gaveta, e a madeira
inclinou ligeiramente sob seu toque. Ela pressionou a borda mais distante da gaveta,
mais forte dessa vez, e a borda mais próxima a ela inclinou-se para cima, revelando
um estoque de frascos de remédios controlados por baixo. Bingo. Só Thomas pensaria
em equipar sua gaveta da escrivaninha com um fundo falso para esconder suas drogas.
Ela abaixou o isqueiro sobre os frascos e analisou os rótulos. Ritalin, Adderall,
Percoset, Vicodin. E nenhum dos nomes nas etiquetas dos frascos eram iguais. Thomas
estava guardando uma farmácia do mercado negro em sua segunda gaveta da
escrivaninha. A velha Ariana teria ficado horrorizada, mas a nova Ariana apenas
enfiou o frasco de Vicodin em seu bolso do casaco e empurrou a gaveta, fechando-a.
O som dela batendo a fez saltar, e uma pequena risada escapou de seus lábios.
Thomas estava certo. Ela era paranoica.

93
Ela levantou-se, com a mão livre, mas algo sobre a mesa lhe chamou a atenção.
Uma folha de papel que ela não tinha notado antes. Ariana aproximou a chama dela.
Era uma foto. Quando as linhas e sombras da página entraram em foco, seu coração
apertou em seu peito e ela deixou o isqueiro cair.
Não. Não, não, não, não, não. Não.
Ela balançou a cabeça em descrença para a foto na frente dela. Uma foto de
Thomas e ela, se beijando no quarto de Daniel. Uma foto de suas mãos sobre o corpo
de Thomas, desabotoando sua camisa. Seu rosto não era visível, mas não havia dúvida
por causa do seu cabelo loiro molhado e do seu casaco branco gritante. Alguém tinha
visto eles juntos. Alguém tinha provas.
Não era possível. Não podia ser. Bílis subiu em sua garganta. Este pedaço de
papel iria arruiná-la. Iria arruiná-los. Ela soltou um baixo gemido desesperado,
pressionando a testa contra a superfície da escrivaninha. Ela precisava de Thomas
agora, mais do que nunca. Precisava dele para abraçá-la, para lhe dizer que tudo
ficaria bem. Ela não podia acreditar que a poucos minutos atrás eles tinham estado na
cama juntos, felizes. Sossegados.
Ao contrário da sua mãe, que tinha desistido da sua vida, do seu marido, Ariana
estava determinada a agarrar-se a esse sentimento de felicidade desesperadamente.
Mas primeiro ela tinha que encontrar o isqueiro. Colocando a foto em seu bolso de
trás, ela caiu de joelhos e deslizou as mãos por baixo da escrivaninha. Depois de um
minuto, suas mãos se fecharam em torno de um retângulo de metal. O isqueiro, graças
a Deus.
Mas enquanto ela se levantava, algo quente no frio do quarto de Thomas
deslizou em volta do seu pescoço. Um hálito quente. Uma nova eletricidade
percorreu seu corpo, e os cabelos ao longo seus braços se arrepiaram. Alguém estava
atrás dela. Quase tocando-a na escuridão.
Alguém estava esperando que ela encontrasse a foto. Espero que você esteja
pronta para pedir perdão. Poderia ser Daniel?
De repente, não importava quem fosse. Quem quer que fosse não deveria estar
aqui. E claramente não queria ela aqui. Instintivamente, sua mão se moveu em direção
a garrafa de rum vazia sobre a escrivaninha. Em um movimento rápido, seus dedos se
fecharam ao redor do seu gargalo, e ela bateu a garrafa com força contra o canto da
mesa. O som agudo de vidro estilhaçando cortou a escuridão, e ela se virou,
balançando a garrafa quebrada descontroladamente na frente dela.
Uma voz gritou de surpresa, ou de dor. Ela não podia dizer se era homem ou
mulher — ou se era na verdade a voz dela. Tudo que ela sabia era que ela tinha que
lutar. Ela balançou a garrafa freneticamente no ar, apontando de um lado para o
outro, enquanto ela corria para a janela, largando-a no chão um momento antes de
ela pular.
Segundos depois, ela caiu no chão, com mais força desta vez, caindo de lado na
neve gelada. Seu braço estava torcido por baixo dela, e ela gemeu quando se
levantou.
Com o pulso acelerado, ela olhou para as cortinas esvoaçantes na janela de
Thomas. Ninguém estava lá — pelo menos não mais. Por um momento ela ficou ali,
com o turbilhão de neve ao redor dela no campus escuro, e ela percebeu que nunca
em sua vida — nem mesmo quando ela encontrou sua mãe naquela terrível tarde —
ela tinha estado tão assustada quanto ela estava agora.

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22
SANGUE
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—A
riana! — a voz tensa de Thomas ecoou na escuridão. Não mais
reconfortante, ela irradiava um medo frio e duro.
O ar frio queimou seus pulmões enquanto ela corria em direção a
ele. Ele estava caído contra a árvore, deflacionado, com os olhos fechados. O último
tom de cor tinha desaparecido das suas bochechas.
— Alguém estava... Havia...
Ariana se abaixou, caindo na neve ao lado dele. Ela escondeu o rosto na jaqueta
de Thomas, inalando seu cheiro. O que ela mais queria era a sua proteção. Mas ela
sabia que, no fundo, ele não poderia mais mantê-la segura. Ele estava muito fraco. E
com tanto medo quanto ela.
Ele deslizou seus dedos em seu cabelo. — Está tudo bem — ele murmurou
baixinho. — Você está bem.
Ela afastou-se, limpando a neve do rosto com as costas da sua manga. — Alguém
estava lá comigo — ela conseguiu dizer. — Em seu quarto. Esperando por mim.
— O quê? — Thomas ficou chocado-assustado. — Você viu quem era?
Ela balançou a cabeça. — Estava escuro, e ele estava atrás de mim, e eu não
consegui... — Sua respiração era superficial, e ela estava começando a ficar tonta. Ela
fechou os olhos, com a voz embargada. — Eu sinto muito.
Ela decidiu não contar a ele sobre a foto. Ainda não. Não até que ela pudesse
descobrir o que fazer.
— Está tudo bem — repetiu ele. — Nós vamos nos esconder no Drake por um
tempo. Vamos nos aquecer até que possamos decidir o que fazer a seguir.
— Thomas, eu não posso — protestou ela. — Alguém vai nos ver.
Mas, mesmo que as palavras tenham saído da sua boca, ela sabia que Thomas
estava certo. Ele estava ferido, e não poderia ficar exposto assim por muito tempo. A
menos que eles quisessem fazer a longa jornada de volta para o Billings e o
apartamento da Sra. Lattimer — o que seria impossível com Thomas em sua condição
atual — então teria de ser o Drake. Era o único dormitório aquecido no campus.
Invadi-lo era um risco que eles teriam que correr.
— Nós vamos entrar pelo porão — ele decidiu. — Mas eu tenho que tomar
umas dessas pílulas primeiro. — Ele puxou a mão dele de seu rosto enquanto ela
cavava através do seu bolso procurando o frasco de remédios.
— Aqui. — Ela colocou várias pílulas do frasco na palma da mão.
Ele pegou os comprimidos com a outra mão e colocou-os na boca, inclinando a
cabeça para trás e engolindo. — Vamos sair daqui.

95
Ariana se levantou, e ele inclinou-se contra ela. Eles lutaram para contornar o
lado do Ketlar em direção ao Drake. A caminhada foi extremamente lenta por causa
da neve profunda, e o peso dele parecia ficar mais pesado à medida que eles se
aproximavam do dormitório. Os músculos de Ariana queimavam a cada passo, e sua
mente correu com pensamentos sobre Daniel. Ela não queria acreditar que ele pudesse
machucá-la assim, não queria pensar que ele poderia... Ela balançou a cabeça,
tentando clareá-la.
O Drake apareceu na frente deles, parecendo tão frio e morto como o Ketlar
tinha estado. Mesmo que eles não tivessem eletricidade, pelo menos eles teriam calor.
Ela parou quando contornou a lateral do prédio, encostada contra o exterior
congelado do Drake. Ela não tinha certeza se tinha força de vontade para andar mais
um passo. Ela lembrou a si mesma que o dormitório era aquecido. Estava quase lá. Ela
cerrou os dentes e deu mais um passo.
— As janelas do porão estão sempre destrancadas — Thomas resmungou. — Eu
entrei por elas algumas vezes. Nunca falhou.
Ariana se preparou contra o peso morto de Thomas. Ele definitivamente tinha
tomado muito Vicodin. Não demoraria muito para ele ficar inconsciente.
— Apenas fique comigo mais um pouco — ela exigiu.
Quatro grandes janelas, uniformemente espaçadas ao longo da borda traseira do
Drake, davam visão para o porão do dormitório. Ela caminhou para a primeira
janela, caindo contra ela.
— Você acha que pode se manter em pé enquanto eu abro a janela?
Ela levantou o rosto de Thomas para o dela. Seus olhos estavam semicerrados e
um sorriso brincalhão apareceu em seus lábios.
— Thomas — disse ela com firmeza.
— Siiim... — Ele acenou com a cabeça.
— Ótimo.
Ela agachou-se em frente à janela, pressionando as palmas das mãos contra o
vidro.
— Está quente — anunciou ela, limpando o vidro com a manga e olhando para
dentro. O porão estava cheio de grandes caixas de papelão empilhadas até o teto,
baldes cheios de produtos de limpeza e materiais de jardinagem. Um grande forno
estava situado do outro lado do porão, ao lado da longa escadaria que levava ao
primeiro andar do Drake.
Ela agarrou a janela e puxou-a para cima. Ela cedeu instantaneamente, e uma
rajada de ar quente escapou de dentro. Surpresa, ela caiu para trás e pousou em seu
bumbum.
— Eu te disse — Thomas murmurou com um sorriso. — Eu sei como contornar
esse dormitório. Quer saber por quê?
— Na verdade não.
Ela arrastou um galho de pinheiro grosso até a janela e o prendeu entre a janela
e o parapeito da janela. A abertura estava quase dois metros acima do chão. Thomas
não seria capaz de passar por ela sem ferir o tornozelo novamente. Mas eles não
tinham escolha. Ela deslizou pela abertura, com os joelhos dobrados, e caiu de pé. O
ar estava com mofo, e ela se dobrou em um ataque de tosse.

96
— Estamos habituados a ter torneios de beer pong2 aqui em baixo. Eu costumava
me esgueirar com uma garota chamada Rebecca — Thomas falou monotonamente do
lado de fora. — Eu acho que é esse o nome dela. — Ele deslizou suas pernas pela
janela e sorriu para Ariana da sua posição elevada. — É isso. Definitivamente era
Rebecca, ou Lindsay ou Paige. — Ele fez uma pausa. — Ou Juliana. Conhecemos
alguma Juliana? Não. Espere. Nós conhecemos uma Ariana.
— Sim, nós conhecemos — Ariana suspirou. — Você acha que você consegue
pular? — Ela deu um passo para trás da janela.
— Paige — Thomas murmurou, gaguejando as palavras. — Ela é meio vadia,
não é?
Ariana riu alto, apesar de tudo. — Agora, Thomas. Antes que você congele.
— Tá. Ok. — Thomas virou de bruços e desceu lentamente. Ele soltou as mãos
da janela e caiu os últimos centímetros no chão. — Que tal isso?
— Legal — disse ela, seu rosto corando de vergonha. Alto como uma pipa, e ele
ainda conseguia descobrir uma maneira de descer melhor do que ela. Ela guiou a mão
dele sobre o ombro dela, e eles se dirigiram ao porão desordenado. Ela olhou para a
escada estreita que se elevava a partir do canto direito da sala, desejando que ela
pudesse caminhar até as escadas e ir para uma cama quente e segura.
Em vez disso, ela teve que se contentar com o espaço vazio debaixo da escada.
Uma vez que ela apoiou Thomas contra a parede, ela parou para olhar para ele. Seu
rosto estava manchado de sangue escuro.
De onde ele tinha vindo? Ela freneticamente procurou cortes em seu rosto e
corpo, ou qualquer coisa. Depois de um momento ela descansou o rosto nas mãos,
derrotada e exausta. Mas havia algo pegajoso em suas mãos. Algo quase quente.
— Oh meu Deus. — Ela levantou, percebendo que o sangue estava vindo dela.
Estava todo sobre suas mãos e seu cabelo. Ela tirou o casaco e examinou o seu próprio
corpo procurando cortes. Não havia nenhum. Mas isso não podia estar certo, a não
ser que...
O sangue não era dela.
Ela olhou para seu casaco, seu pulso pulsando de forma irregular. Havia uma
mancha de sangue no lado esquerdo do casaco, sobre seu coração.
Sangue de outra pessoa. Ela empurrou o casaco no canto debaixo da escada. Seu
estômago revirou.
Sangue de outra pessoa. Só havia alguém no quarto de Thomas com ela. Ela
tinha machucado alguém. Mas quem? De quem era o sangue que estava em cima
dela? De Daniel?
Thomas murmurou algo que ela não conseguiu entender. Com as mãos
dormentes, ela guiou-o para seu colo, embalando sua cabeça nos braços.
— Cuidado — disse ela suavemente, como se falasse com uma criança. O medo
surgiu através dela enquanto ela limpava o sangue de seu rosto com os dedos,
deixando uma mancha enferrujada em sua bochecha. Este não era Thomas. Thomas
era forte, engraçado e confiante. O cara em seus braços estava com medo e dor.
2
Beer Pong: Beer pong, também conhecido como Beirut, é um jogo de mesa em que os jogadores jogam uma bola de ping pong numa
mesa com a intenção de enfiar a bola num copo com cerveja ou outro líquido na outra extremidade da mesa. O jogo consiste
tipicamente em equipes de 2 ou individual. Não há regras oficiais e as regras podem variar amplamente, embora geralmente há seis
(individuais) ou dez (duplas) copos de plástico dispostos em um triângulo de cada lado. Cada equipe então joga tentando "encestar" bolas
de pingue-pongue nos copos do oponente. Se uma bola cair em um copo, então o conteúdo do copo pode ser ou não consumido pela outra
equipe, o copo pode ser colocado de lado ou reinserido no triângulo. Se o cálice é reinserido e a outra equipe volta a "encestar", ele é
removido. Se a equipe adversária joga a bola num copo vazio, eles devem consumir o conteúdo de um dos seus copos. A primeira equipe a
eliminar todos os copos do adversário é a vencedora.

97
— Você é tão bonita, sabia disso? — Thomas disse em voz baixa, com os olhos
fechados. — Eu não mereço uma garota como você. — Sua boca se abriu um pouco e
sua cabeça pendeu para longe dela.
— Thomas? — ela sussurrou, sua voz tremendo.
Ele não respondeu. Ela entrelaçou sua mão na dele e viu seu peito subir e descer,
observando os minúsculos movimentos involuntários do sono. Ela tentou não pensar
sobre o fato de que ela estava sozinha. De que Thomas não poderia ajudá-la. Protegê-
la. Mas protegê-la de quem?
Ela queria acreditar que não era de Daniel, que ele não era capaz de fazer essas
coisas. Não com ela, pelo menos. Sim, ele poderia ser violento. Mas, depois de passar
um ano em um relacionamento com ele, depois de tudo o que eles tinham
compartilhado, será que ele realmente tentaria prejudicá-la fisicamente?
De repente, ela percebeu que ela não tinha ideia. Até esta tarde, ela pensou que
ela sabia tudo sobre ele — coisas boas e ruins. Mas ele tinha mentido para ela sobre
ser virgem. Tinha mentido sobre uma das coisas mais importantes na vida. O que mais
ele tinha escondido dela? Que outros segredos ele estava guardando? O que mais ele
era capaz de fazer?
Havia apenas uma maneira de ela saber se ele estava em Vermont. Ela não podia
ligar para o celular dele neste momento. Ela tinha que ligar para o resort para localizá-
lo. Se ele atendesse, ela saberia que ele estava lá, e não aqui. Que não tinha sido ele
quem ela tinha cortado na escuridão do quarto de Thomas. E então ela saberia, pelo
menos, que ela estava a salvo de Daniel Ryan.
Ariana puxou o celular do bolso do casaco e abriu-o. A tela piscou o ícone de
bateria fraca, em seguida, ficou em branco.
— Não! — ela gemeu.
Ela deu um tapinha nos bolsos de Thomas, em busca de seu celular. Vazios.
Ariana cerrou os punhos, sentindo o sangue que tinha endurecido em suas
palmas formar vincos sob seu aperto. O que ela tinha feito para merecer isso? Nada
que Daniel já não tivesse feito. Nojo brotou dentro dela quando ela pensou em suas
mentiras. Em suas promessas.
Mas Thomas era diferente. Para ele, ela não era uma menina cuja mãe era louca
e cujo pai teve de fugir para outro continente só para ficar longe de tudo. Ela foi
separada de sua família confusa. Ela era Ariana. E ela importava para Thomas. E, pela
primeira vez em sua vida, esse sentimento era mais importante do que qualquer outra
coisa. Mais do que o Billings. Talvez até mais do que a sua mãe.
Ao observar o aspecto de inocência que se instalara sobre suas feições enquanto
ele dormia, sua respiração acelerou. Uma raiva derramou-se sobre ela, e ela sentiu
uma súbita vontade de gritar. De esmurrar a parede de cimento várias vezes até os nós
dos seus dedos sangrarem. De se ferir do lado de fora, tanto quando ela estava
machucada por dentro. Isso não era justo. Não era para ter acontecido assim. Sentir o
que ela sentiu com Thomas só para alguém tirar isso dela.
Os dedos das suas mãos e de seus pés arrepiaram com o sentimento quando seu
corpo começou a se aquecer. Ela piscou, e as lágrimas começaram a cair livremente.
Deslizaram pelo seu rosto seco quando ela se inclinou contra a parede de cimento
duro, seu corpo tremendo. O corpo de Thomas ainda estava embalado em seus
braços.
Cada ranger do antigo edifício, cada som que deslizava através das aberturas do
porão a fazia estremecer. Lágrimas escorreram em seu colo, e ela fechou os olhos

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contra a escuridão, mas ela não conseguia evitar que o sentimento familiar rastejasse
sobre ela.
Ariana estava total e completamente sozinha.

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DUPLICIDADE
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A
riana sentiu a luz em seu rosto antes que ela abrisse os olhos. A luz da lanterna
balançou temerariamente por todo o porão, iluminando as pilhas altas de
caixas mofadas, as ferramentas de jardinagem, a mesa de beer-pong e sacos
empoeirados de fertilizantes. Com o coração na garganta, ela tomou uma respiração
trêmula do ar quente e bolorento quando passos rangeram sobre ela, descendo as
escadas em um ritmo cauteloso. Alguém estava vindo.
Ela tinha que mover Thomas em questão de segundos. Suas pernas estavam
deitadas em um ângulo não natural e à vista para fora de debaixo das escadas.
Cuidadosamente, ela embalou a cabeça dele em suas mãos, baixando-o para o chão
de cimento. Ela colocou seus braços por baixo das panturrilhas dele, se esticando
silenciosamente contra ele. Seu peso morto era pesado demais. Ele não se moveu um
centímetro.
Os passos continuaram descendo as escadas, e Ariana puxou com sua última gota
de força. Ela não estava pronta para deixar Easton. Ele não podia estar acabado para
ela ainda. Um medo ansioso a varreu, e ela encontrou a força para arrastar Thomas
completamente sob as escadas e fora de vista.
Ele murmurou algo em seu sono, e os passos acima deles fizeram uma pausa. Ela
apertou a mão sobre a boca de Thomas, rezando para que ele não tentasse falar de
novo. Os passos retomaram lentamente, provisoriamente, uma vez que eles
navegavam na escuridão.
— Merda. — Uma voz masculina soou a apenas alguns centímetros do seu
esconderijo. O degrau estalou sob o peso do homem, e ele entrou no porão. A
lanterna caiu no chão e deslizou para o outro lado da sala, girando sob a mesa no
meio do espaço. Uma luz branca afiada brilhou paralela à escada, a centímetros do pé
de Thomas.
Ariana parou de respirar.
Por favor. Por favor, não, não, não. A silhueta escura entrou à vista e abaixou-se
para pegar a lanterna. Com cuidado, em silêncio, ela se inclinou para frente e espiou
pela fresta entre o forno e a escada. A luz residual do feixe de luz era apenas brilhante
o suficiente para Ariana distinguir o contorno de uma figura familiar agachada debaixo
da mesa.
Sr. Holmes.
Que diabos seu professor de literatura estava fazendo no porão do Drake?
Pavor quente escorreu pelas veias de Ariana. Não importava por que ele estava
lá. Tudo o que importava era que ele não poderia encontrá-la lá. De todos os
professores que ela já teve em Easton, ela sempre o respeitou mais. Ele era inteligente,
engraçado e bom. E ele acreditava nela. Ela precisava que ele acreditasse nela.

100
Mas tudo isso acabaria se ele a encontrasse no campus ilegalmente, coberta de
sangue, embalando o corpo desmaiado de um traficante de drogas residente de
Easton em seus braços.
Ariana mordeu o lábio com força. Como ela veio parar aqui? Qual era o
problema dela? Ela era uma Garota do Billings, uma das elites de Easton. Não era
assim que ela deveria estar passando suas férias de Natal, escondendo-se como uma
fugitiva e à beira de ser expulsa.
Ela odiava a si mesma. Odiava-se com uma paixão tão quente que queimou sua
pele. Ela desejou que ela pudesse tirar o casaco, mas Holmes estava a apenas alguns
metros de distância. E além do mais, ela estava presa sob Thomas.
O leve gosto de seu próprio sangue surgiu na boca de Ariana, enquanto ela
observava o Sr. Holmes caminhar lentamente até o final do porão, em direção as
janelas, brilhando a lanterna atrás de caixas, sob cadeiras e sobre as mesas. Ele voltou-
se para a escada, varrendo a luz pelo chão sujo. O feixe de luz se aproximava de
Ariana, e ela se abaixou para trás sob as escadas, puxando os joelhos até o peito.
E se ele a viu? E se a ouviu? Se ele tivesse, tudo estava acabado. O Sr. Holmes
teria que entregá-los. Seu corpo tremia com os nervos enquanto os segundos se
passavam, parecendo horas. Qualquer relacionamento que ela pensou que tinha tido
com o Sr. Holmes seria rompido quando ele descobrisse que ela não era quem ele
pensava que ela era. Quando ele descobrisse que ela havia mentido e quebrado as
regras.
E não importava que ela não quisesse. Que ela queria, mais do que qualquer
coisa, que ela pudesse ser a mesma doce e boa Ariana que ela tinha sido apenas alguns
dias antes. Que ela só tinha quebrado as regras porque era absolutamente necessário.
E era tarde demais para voltar atrás. Ela fechou os olhos. — Você está aí? — o Sr.
Holmes falou.
O coração de Ariana parou. Em seguida, um sussurro delicado soou no alto da
escada, e o Sr. Holmes virou a lanterna para cima da escada.
— Eu estou aqui.
Tensão inundou o corpo de Ariana. Ela estava segura, pelo menos por agora.
— Que bom. — Sua voz soou estranha no escuro. Grossa.
— Você queria me ver, Sr. Holmes? — Ariana reconheceu a voz imediatamente e
seu pulso correu com intrigas. Ela ouvia o tom doce e melodioso atado com
condescendência nos corredores do Billings quase todos os dias.
Isobel Bautista.
Ariana ficou de joelhos e se inclinou para frente, olhando para fora de seu
esconderijo. Arriscado, ela sabia, mas ela tinha que descobrir o que estava
acontecendo.
— Queria. — O Sr. Holmes sorriu, inclinando-se contra a mesa e afrouxando a
gravata. — Parece que eu não recebi seu trabalho sobre Madame Bovary em minha
caixa de correios. Você poderia se explicar, senhorita Bautista?
— Deve ter deslizado da minha mente — disse ela maliciosamente, movendo-se
em plena vista. Seu cabelo preto sedoso caia pelas costas. Ela correu os dedos por seus
braços e em seu peito, levantando a boca para sua orelha. — Há algo que eu possa
fazer para compensar?
Ela tirou a gravata do pescoço dele, jogando-a no chão. Suas mãos voaram
habilmente sobre os botões de sua camisa e em frente da fivela do cinto enquanto ele
passava os dedos pelo cabelo dela. Ela deslizou para cima da mesa e puxou-o para ela.

101
Ariana ouviu sua respiração acelerando no escuro quando Isobel tirou a camisa dele e
deixou-a cair no chão.
Oh. Meu. Deus.
Ariana fechou os olhos e recostou-se debaixo da escada ao lado de Thomas.
Aquilo não podia estar acontecendo. O Sr. Holmes nunca teria um caso com uma
estudante. Ele não podia. Todos em Easton sabiam que ele era um cara bom. Um cara
com uma esposa em casa, uma mulher grávida que, por vezes, fazia biscotti para ele
trazer para a aula. Ele não faria isso com ela. De jeito nenhum.
Claro, os sons de beijos molhados vindos do outro lado da sala sugeriam o
contrário.
O estômago de Ariana revirou. Ela ficou ainda mais revoltada com Isobel. Ela
estava saindo com seu namorado, Jack, desde o primeiro ano. Era quase tão ligada a
ele como era com o seu latte matinal. Ariana tinha pegado ela uma vez rabiscando o
nome Sra. John Staton na parte de trás da sua edição da Vogue de primavera, e sabia
que os dois estavam sérios. A edição de primavera era uma posse valorosa de Isobel.
Era de conhecimento geral em torno do Billings que qualquer garota que sequer
olhasse para sua cópia da edição antes de Isobel lê-la de capa a capa duas vezes nunca
viveria para contar a história.
E, no entanto, ali estavam eles, o Sr. Holmes e Isobel, devorando um ao outro
como dois cães raivosos excitados no porão do Drake. Ariana sentiu suas mãos
começarem a tremer, e ela não se incomodou em detê-las.
Não era apenas o fato de que eles estavam se pegando, ou mentindo sobre isso,
ou quebrando todos os tipos de leis estaduais sobre estupro no processo. Ela estava
mais chateada com ela mesma por ser tão ingênua a ponto de acreditar que eles eram
pessoas boas. Que eles eram incapazes de fazer algo tão errado. Ela os tinha
subestimado, assim como ela tinha subestimado Daniel. Ela estava em Easton tempo
suficiente para saber que nada nunca era exatamente o que parecia. Aparentemente,
ela não tinha aprendido a lição bem o suficiente. Ela sentiu suas mãos se curvando
firmemente em torno do casaco de lã de Thomas, e a raiva agitou o fundo do seu
estômago.
Ela notou as calças Dockers do Sr. Holmes com o canto do olho. Isobel tinha
jogado as calças em direção à escada, e elas estavam quase ao seu alcance. Um celular
aparecia saindo do bolso de trás, e Ariana olhou para seu próprio celular, morto no
chão ao lado dela.
Ela ainda precisava ligar para Daniel, para saber se ele estava realmente em
Vermont. E para fazer isso, ela precisava de um celular que realmente funcionasse.
Enquanto o Sr. Holmes estivesse ocupado se agarrando com a sua versão pervertida
do horário de expediente, ele não sentiria falta do seu celular.
Cuidadosamente, Ariana esticou o pé por debaixo da escada, mantendo o olhar
fixo no Sr. Holmes e em Isobel para ter certeza de que eles não a vissem. Ela cutucou
as calças em sua direção, centímetro por centímetro, até que elas estavam perto o
suficiente para que ela pudesse estender a mão e pegar o celular, sem se expor ao casal
feliz.
Cobrindo o celular com a mão em concha, ela abriu-o e olhou para a tela.
Quando seus olhos se adaptaram à luz, os pixels da tela se uniram para revelar uma
mulher grávida sorrindo com uma mão descansando em sua barriga. A esposa do Sr.
Holmes estava de pé ao lado da sua mesa, gesticulando orgulhosamente com a outra
mão em direção à placa de identificação que estava empoleirada no topo de uma

102
pilha de livros. Ariana se forçou a desviar o olhar da tela. Essa mulher merecia algo
melhor do que o Sr. Holmes.
Nós todos não merecíamos ser felizes? Ou, pelo menos, procurar o que
pensamos que pode nos fazer felizes? Isso não é um direito humano básico?
Sua mandíbula se apertou quando ela se lembrou das palavras do Sr. Holmes na
sala de aula há alguns dias. Agora, elas tinham um significado completamente
diferente. Ela pensou que ele estava desafiando a classe com aquelas palavras.
Incitando-os a ir mais fundo. Mas ele estava apenas usando sua aula para justificar um
caso com uma estudante. E ela tinha sido estúpida o suficiente para ouvir. Ela
balançou a cabeça em desgosto, amaldiçoando-se por confiar nele. Por sempre confiar
nas pessoas erradas.
Sua mão escorregou contra um botão na lateral do telefone, e de repente ela
estava olhando para uma imagem torta do Sr. Holmes e Isobel pressionados um
contra o outro. O forno bloqueou parte da tela, mas a lanterna no chão oferecia
apenas luz suficiente para a tela capturar suas faces.
Um pequeno ponto vermelho pulsava no topo da tela ao lado das letras rec. O
celular estava gravando um vídeo. Seu coração começou a bater forte no peito. O que
ela estava fazendo? Tudo o que ela tinha que fazer para parar a gravação era
pressionar o botão novamente, mas algo a deteve. Ariana sentia-se traída — usada.
Desgostosa por que duas pessoas a quem ela tinha admirado tinham resultado por
serem tão indignas. Ela queria preservar as provas deste momento. A evidência de sua
devassidão, a profundidade de sua duplicidade. Entorpecida, ela olhou para a imagem
granulada até que seus corpos saíram do foco da tela.

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PERSEGUIDOR
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O
sol estava começando a subir ao longo da borda leste do campus enquanto
Ariana se arrastava em direção ao Drake. Ela não tinha dormido a noite toda.
Tinha simplesmente olhado para a escuridão, com a mão sobre o peito de
Thomas para monitorar sua respiração. Nas primeiras horas da madrugada, ela
deslizou através de uma das janelas do porão e se esgueirou para o Billings para
conseguir comida. Agora, ela embalava nos braços as únicas coisas que ela tinha sido
capaz de encontrar no armário de Noelle: uma garrafa de água SmartWater, duas
barras de cereal Zone, e um chocolate branco Reindeer que Dash tinha deixado em
seu travesseiro antes das férias.
Ariana estremeceu no frio, seu corpo se sentindo fraco e exaurido. Ela não tinha
sido capaz de se obrigar a vestir o casaco manchado de sangue que ela tinha
escondido debaixo da escada do porão na noite anterior, por isso, enquanto ela
estava no Billings ela pegou sua jaqueta cor de camelo. Era quente, mas não quente o
suficiente para combater o frio da manhã, com seus ventos gelados deslizando contra
a parte de trás de seu pescoço e provocando arrepios contínuos em sua espinha.
O som de suas botas pisando duro sobre a neve flutuou através do ar fresco.
Enquanto ela se apressava em torno do Drake para chegar ao porão, ela achou ter
ouvido outro som. Passos em movimento através da neve junto com os dela. Ela
congelou, pressionando seu corpo contra o lado do edifício. Prendendo a respiração,
ela tentou acalmar o som do seu coração palpitante.
Nada além de silêncio ensurdecedor.
Não seja estúpida, Ariana. Ninguém mais está acordado às 5:00 da manhã em
plenas férias. Você está sozinha. Está tudo na sua cabeça. Ainda assim, ela se apressou
para contornar o edifício, mantendo os olhos no chão na frente dela. Ela não teve
coragem de olhar para o Ketlar. Só de pensar no dormitório deserto a congelou mais
do que o ar de inverno. A fez sentir como se estivesse de volta ao quarto de Thomas,
petrificada e sozinha. Olhando para aquela fotografia terrível enquanto um hálito
quente deslizava por seu pescoço. Seu estômago revirou novamente ante a memória.
Quem quer que tivesse estado lá queria machucá-la. E tinha os meios para fazê-lo. Pior
do que a ideia de que alguém estava tentando sabotá-los era a suspeita de que Daniel
era o intruso.
O celular do Sr. Holmes estava guardado como um peso pesado no bolso de
Ariana. Ela pensou em ligar para o resort do seu quarto no Billings, mas ela queria
voltar antes que Thomas acordasse. Pensar em fazer a ligação fez o seu pulso acelerar,
mas ela tinha que fazer isso. Se ele estava lá ou — Deus nos livre — aqui, ela tinha que
saber. Ela prometeu ligar no momento em que ela estivesse em segurança de volta ao
Drake.

104
À medida que o sol subia no céu, linhas de luz rosa apareciam acima do campus,
lançando sombras coloridas sobre a neve branca. A bela visão dos edifícios góticos de
Easton, subitamente iluminados, deveria tê-la acalmado. Ariana sempre adorou a
forma como o campus parecia no início da manhã. Os pesadelos sempre a acordavam
bem antes de Noelle se mexer, e muitas vezes ela se sentava em sua escrivaninha para
admirar a vista. Easton parecia tão nobre, tão pura nas horas antes de ser corrompida
pelos alunos.
Mas em vez de parecerem serenos e intocados, os prédios avultando-se pareciam
perigosos, ameaçadores.
Ela parou na frente da primeira janela do porão. Algo acima dela havia se
movido. Ela olhou para as fileiras de janelas que se estendiam por cima dela. No
quarto andar, uma sombra se moveu na frente da janela.
Assustada, Ariana atirou-se para o edifício e pressionou suas costas contra a
parede. Ela olhou para o relógio. Cinco e quinze da manhã. Quem estaria acordado a
esta hora? Tentando controlar a respiração, ela inclinou a cabeça para trás para olhar
para a janela acima.
A figura parou de costas para a janela. Na luz do amanhecer, ela reconheceu o
cabelo escuro. O familiar suéter azul marinho xadrez de tricô. Era Sergei. Apenas
Sergei. Aliviada, Ariana abaixou-se e abriu a janela. Ela jogou tudo através da abertura
e sobre a mesa que ela tinha movido para baixo da janela naquela manhã. Ela ouviu o
som da garrafa de plástico rolando no chão.
Rapidamente, Ariana rastejou através da janela, caiu na mesa, e depois no chão.
Com os ombros subindo e descendo com a respiração rápida, ela se repreendeu por
ter deixado sua curiosidade obter o melhor dela. Sergei poderia tê-la visto, para não
mencionar qualquer um dos outros alunos que ficaram para trás durante as férias. Ela
tinha que ter mais cuidado.
E ela tinha que saber onde Daniel estava. Agitando as mãos, ela tirou o celular
do Sr. Holmes e discou.
Depois de um toque, uma voz feminina e jovem chiou em seu ouvido. — Bom
dia, Resort Winter Lodge. Aqui é Alessandra.
Ariana pigarreou. — Eu estou tentando entrar em contato com um de seus
hóspedes — ela sussurrou para o receptor, olhando através do porão. Thomas ainda
estava esparramado no chão empoeirado, a cabeça apoiada no seu casaco. — Daniel
Ryan?
— Um momento, senhorita. Vou tentar ligar para o seu quarto.
— Obrigada — Ariana resmungou.
Está tudo bem, ela disse a si mesma quando o toque ecoou do receptor. Vai ficar
tudo bem.
Ainda assim, ela se sentiu mal do estômago. Se ele atendesse, isso significava que
ele não tinha ideia do que ela tinha feito ou com quem ela tinha feito. Mas se ele
atendesse, ele ainda ia ficar com raiva. O que ela ia dizer a ele?
— Sim? — uma voz grogue e abafada soou do outro lado da linha.
Ariana segurou o celular com força em seu punho suado. A voz de Daniel. Ele
estava em Vermont.
— Alô? — Sua voz soou novamente, mais forte dessa vez. Era familiar, quase
reconfortante. Ariana sentiu uma pontada no coração. Indecisão? Remorso? Mas, em
seguida, a imagem da tela brilhante do laptop dele apareceu em seus pensamentos. A
imagem de todos os nomes, a interminável lista de meninas. E o nome dela, não

105
diferente de qualquer outro, no final. Ela tinha sido um nada para ele. Apenas uma
garota com que ele tinha contado que ia transar no Natal.
Ela fechou o celular com força e jogou-o sobre a mesa ao lado dela. Alívio e
temor a encheram de uma só vez.
Daniel não estava perseguindo ela e Thomas. Isso era uma coisa boa. Mas agora
ela estava de volta ao início. A pessoa que tinha tirado aquela foto tinha o poder de
arruinar sua vida. Ele ou ela tinha provas de que ela e Thomas tinham estado no
campus quando eles não deveriam estar, que tinham estado no quarto de outro
aluno, que eles estavam fazendo coisas que definitivamente não deveriam estar
fazendo. A pessoa que tinha tirado essa foto poderia destruí-la. E ela não tinha ideia
quem essa pessoa poderia ser.
Sentindo uma nova onda de adrenalina através dela, Ariana pegou a garrafa de
água e os alimentos e agachou-se sob as escadas, ao lado do corpo de Thomas.
— Thomas — ela sussurrou. — Acorda.
Ela apertou as mãos contra o peito dele. Seu corpo estava mole, imóvel sob as
palmas das suas mãos. Ela tentou novamente, sacudindo-o mais violentamente desta
vez.
— Que diabos? — ele gritou, sentando-se em linha reta. Quando ele viu Ariana
na frente dele, ele segurou sua cabeça com as duas mãos e afundou de volta no chão,
fazendo uma careta de dor. — Seus serviços de despertador poderiam melhorar.
— Como você está se sentindo? — ela perguntou em voz baixa.
— Como alguém que foi golpeado com um bastão na cabeça. E no tornozelo.
Ele testou o tornozelo, pressionando o pé no chão e se encolheu, com os olhos
ainda fechados.
— Sinto muito por te acordar assim, mas eu preciso que você se concentre —
disse Ariana com firmeza. — Eu tenho que te mostrar uma coisa.
Ela tirou a foto dobrada dela e de Thomas do seu bolso. Ele tinha que ver a foto
— tinha que saber o que estava acontecendo.
— O que é isso?
Thomas lutou para empurrar-se contra a parede de blocos de cimento. Ele pegou
a garrafa de SmartWater e girou a tampa, tomando metade da garrafa em um gole.
Ariana deixou a foto cair no chão na frente dele. — Achei isso no seu quarto
ontem — ela começou, abrindo o celular do Sr. Holmes sobre a foto. A luz azul
derramou-se sobre cada dobra, cada imperfeição no papel. — Em sua escrivaninha.
Parecendo confuso, Thomas inclinou-se sobre o pedaço de papel amassado. O
choque congelou suas feições, e ele ficou em silêncio.
— Alguém está nos seguindo. — Ariana estava tentando soar forte, mas sua voz
saiu trêmula. — E não é Daniel. Liguei para o resort esta manhã. Ele está lá. Assim
como você disse.
— Por quê? — Thomas perguntou, sua testa se franzindo. — Quem iria...
— Eu não sei — disse ela, sem rodeios.
Ela olhou para a foto. Thomas estava de frente para a câmera. Ela estava de
costas. Ambos estavam sentados na escrivaninha de Daniel, no meio de uma pilha de
livros e roupas sujas. O laptop de Daniel estava aberto na borda da mesa, de frente
para a porta. Mais uma vez, o pensamento sobre a planilha enviou um arrepio de
repugnância por seu corpo.
— O que é isso? — Thomas olhou a foto mais de perto, trazendo-a para a frente
de seu rosto.

106
— O que é o quê? — Ariana sentiu o pulso acelerar.
— Nada. — Ele deu de ombros. Suas feições haviam endurecido. — Eu apenas
pensei ter visto alguma coisa. — Ele deixou cair a foto novamente e Ariana pegou-a
antes que tivesse a chance de chegar ao chão.
— Me mostre — ela exigiu.
A foto era a única ligação entre eles e quem os estava seguindo. Se ele tinha visto
algo que poderia ajudá-los a descobrir quem era, ela precisava saber.
Thomas revirou os olhos e apontou. — É apenas essa mancha escura no canto
do espelho. Pensei que fosse o fotógrafo, mas é só da tinta da impressora ou algo
assim. — Thomas pegou o chocolate branco, e retirou a borda do papel alumínio. —
Nunca pensei que eu diria isso, mas eu estou começando a desejar que eu tivesse ido
para casa para o Natal. — Ele estendeu a mão para o tornozelo e o tocou
cautelosamente. — Definitivamente torcido.
Ariana estudou a foto, tentando não deixar que suas palavras doessem. Ela sabia
que seu comentário não significava nada, mas era difícil não levar para o lado pessoal.
— Não é nada — disse Thomas novamente, mordendo um pedaço gigante. —
Não desperdice o seu tempo.
Mas o pulso de Ariana estava acelerando novamente. Ela se levantou e levou a
foto até a janela, onde a luz suave da manhã estava começando a ganhar força. De
repente, a mancha, como Thomas tinha chamado, entrou em foco. Os olhos de
Ariana se arregalaram em descrença quando ela reconheceu o xadrez familiar. O
suéter xadrez azul marinho de tricô que ela tinha visto apenas alguns segundos atrás,
na janela do quarto andar do Drake.
— Oh meu Deus. — Ela levou a mão livre até a boca. Uma energia nervosa
sacudiu suas entranhas. Ela deveria saber. Como ela podia ter sido tão estúpida?
— O quê? — Thomas sentou-se em linha reta.
— Sergei Tretyakov. — Sua voz tremia de emoção.
— O garoto russo? — ele perguntou, incrédulo.
— Ele é da Letônia.
— Sério? Você quer discutir sobre isso? — Pela primeira vez desde que tinham
escapado do Ketlar, Ariana viu uma luz dançando nos olhos de Thomas.
— Esse é o suéter dele, no canto do espelho. — Ariana aproximou mais a foto e
caiu no chão novamente para que ele pudesse vê-la. — Você estava certo. Quando ele
tirou a foto da porta, ele acidentalmente ficou na frente do reflexo.
Thomas parecia cético. — Você tem certeza sobre isso, quero dizer, por que...
— Ele sempre teve uma coisa estranha por mim — disse Ariana, intoxicada pela
descoberta. Agora que ela sabia quem era o perseguidor, ela poderia fazer algo sobre
isso. — Lembra — o garoto estava tirando tantas fotos de mim no Baile de Inverno
que Daniel teve que roubar sua câmera! — Sua voz transbordava de energia. Tudo
estava começando a se encaixar. — Ele está praticamente obcecado. Assim, ele invadiu
meu quarto e roubou a minha foto. De alguma forma, ele descobriu que ainda estou
no campus, e me seguiu, deixando a foto de nós no seu quarto. Era seu sangue no
meu casaco.
— Espera, como é que ele descobriu que você ainda está aqui? — Thomas
interrompeu.
— Eu não sei — Ariana admitiu. — Talvez ele nos viu na outra noite no Hell
Hall ou algo assim. Ele poderia ter estado deixando o seu trabalho na caixa de

107
correios quando eu estava e... oh meu Deus. Ele estava na North Face quando eu
estava — o gorro que estava do lado de fora da capela deve ser dele!
— O garoto é um pouco assustador. — Thomas encolheu os ombros, sem
parecer muito convencido. — Mas por que deixar essa foto para nós encontrarmos?
Ele é idiota demais para fazer chantagem.
— Só há uma maneira de descobrir — disse ela. — Temos que entrar em seu
quarto.
— Oh, não — Thomas gemeu. — Eu vou ficar bem aqui. — Ele se encolheu para
longe dela para a parede.
Ela balançou a cabeça. — Eu não posso fazer isso sozinha, Thomas. E o Drake é
o seu dormitório permanente. Nós não precisamos nem sair daqui.
Alívio atravessou o seu coração. Sergei era um monte de coisas, mas intimidador
não era uma delas. Eles podiam lidar com isso. Juntos. Ela olhou para o relógio. Duas
horas até o café da manhã.
— Vamos esperar até que todo mundo saia para o café da manhã para nos
esgueirar para o quarto dele.
— Eu realmente não tenho escolha, não é? — Thomas entregou-lhe a garrafa
meio vazia de água e abriu uma barra Zone.
— Não. Você não tem — disse ela alegremente.
Ariana levou a garrafa aos lábios e deixou a água fria deslizar em sua garganta,
acalmando-a. Em menos de duas horas, eles teriam as suas respostas.

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A MISSÃO
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—V
ocê consegue andar? — Ariana olhou preocupada para o tornozelo de
Thomas quando eles começaram a subir as escadas do porão.
— Sim. — Ele fez uma careta nos primeiros passos. — Nada que eu
não possa lidar. — Ele segurou o rosto dela entre as mãos, com um olhar sério de
repente endurecendo suas feições. — Sua missão, Agente Osgood, é esta: invadir o
quarto do russo e ter certeza de que ele não está escondendo sua foto lá dentro. —
Os olhos de Thomas dançaram com diversão. — Perguntas?
— Thomas — ela riu, — isso não é engraçado. Isso é sério. Agora vamos. — Ela
segurou a mão dele enquanto ele mancava lentamente o resto da escada.
— É Agente Pearson para você — ele respondeu. — E eu sei que é sério. Se você
aceitar esta missão, o caminho através do quarto do russo será perigoso. Haverá calças
de veludo. Haverá jogos de xadrez.
— Mais uma vez, ele é da Letônia. — Ariana revirou os olhos azuis gelo. — O
quarto do letão.
— E o pior de tudo, Agente Osgood, haverá... — Thomas fez uma pausa
dramática, estreitando os olhos para ela. — Tricô.
— Eu acho que você ainda está um pouco drogado, Agente Pearson — disse
Ariana com uma risada.
— Não há nada de errado com isso — disse Thomas.
Ariana parou e encostou-se na escada, querendo desfrutar da leveza do
momento. Depois de tudo o que eles tinham passado nos últimos dois dias, rir com
Thomas era bom. Parecia normal. E, olhando para fora das janelas, ela notou pela
primeira vez naquela manhã o quão bonito o campus era debaixo da espessa
cobertura de neve. Era como se alguém tivesse pegado um cobertor de cashmere
branco e atirado ele casualmente sobre o chão. As árvores, os antigos edifícios de
pedra, os postes de luz — tudo estava envolto em branco puro. Sob a luz do sol, a
Academia Easton parecia inocente. Intocada.
— Você está pronto? — ela disse finalmente, com a mão na maçaneta da porta.
— Sim. — Thomas balançou a cabeça, olhando com desconfiança em torno do
porão deserto. — Vamos em frente, Osgood.
— Você é um idiota — ela gemeu. — Quando os caras voltarem ao campus eu
vou dizer a todos eles o quão idiota você é — ela mentiu. Ela não tinha certeza de
que partes deste fim de semana ela nunca iria divulgar, mas ela estava apenas se
divertindo — e tentando manter sua mente se perguntando se o perseguidor
realmente era Sergei e se ele era realmente perigoso.
Juntos, eles entraram no lobby escuro do Alojamento Drake. Ariana levantou
seu dedo indicador aos lábios, fazendo sinal para Thomas ficar quieto. Ele deu-lhe um

109
aceno exagerado e ela teve que se concentrar para abafar uma risadinha enquanto ele
verificava a placa do diretório para encontrar o número do quarto de Sergei.
— Ele está no quatro — disse Thomas enquanto mancava até o elevador.
Em momentos, Ariana se viu olhando para uma porta do dormitório coberta de
fotografias. Fotos do campus da Academia Easton. Fotos de edifícios, professores e
estudantes. Havia uma foto de Noelle mostrando o dedo para a câmera no Baile de
Inverno, com um olhar de aborrecimento tingido com autossatisfação no rosto. Uma
foto de Dash e Thomas, jogando uma bola de futebol pela quadra. A foto de todo o
corpo discente, tirada do fundo da capela Easton durante uma reunião matinal. Uma
luz vermelha e azul brilhante infiltrava-se através do vidro manchado e se derramava
sobre os alunos. Era uma foto impressionante. Todas as fotos eram, a sua própria
maneira. De alguma forma, Sergei conseguiu captar algo em Easton que Ariana não
podia nomear. O que Easton era, quem eram seus alunos, quando ninguém estava
olhando, quando ele estava despojado do verniz polido de dinheiro, prestígio e
poder. Sergei tinha capturado o que estava por baixo.
— Aí está você. — Thomas apontou.
A respiração de Ariana ficou presa na garganta. Na foto, ela estava encostada na
coluna de mármore do Driscoll, olhando para o teto, a luz do candelabro de cristal
derramando sobre seu rosto e cabelo. Ela não conseguia tirar os olhos da menina na
foto. Havia uma inocência sobre ela que parecia exótica. Aquela garota parecia estar
sã e salva no mundo. Confiava que tudo ia dar certo para ela no final. Ariana sentiu
uma pontada inesperada de raiva.
— Ariana? — Thomas colocou a mão em seu ombro e ela se encolheu.
— O quê? — ela retrucou. Sua voz cortou o espaço entre eles como uma lâmina
de barbear.
Thomas pareceu surpreso. — Nada. Eu só pensei que você queria acabar logo
com isso.
Ariana evitou seu olhar. — Você está certo. Vamos. — Ela empurrou a porta de
Sergei, a abriu e apertou o interruptor de luz na parede. Funcionou. — A energia
voltou.
O quarto de Sergei era escasso e perfeitamente organizado. Seus livros e
cadernos estavam empilhados em pilhas simétricas em sua mesa, e sua cama estava
feita tão rigidamente que Ariana se perguntou se ele tinha, na verdade, dormido nela.
A atenção aos detalhes era familiar — reconfortante, de uma maneira estranha. Ele era
muito parecido com o quarto de Ariana.
A única fotografia de um homem e uma mulher mais velhos estava pendurada
acima de sua cômoda. E pousada em sua mesa de cabeceira, ao lado de um pequeno
despertador de viagem, estava outra fotografia. A fotografia em preto e branco de
Ariana, soprando um beijo para a câmera.
— Encontrei. — Ela afundou-se na borda da cama de Sergei, incrédula, olhando
para seus próprios olhos. Não importava o quão certa ela tinha soado antes, parte
dela ainda não tinha acreditado que Sergei poderia fazer uma coisa dessas. Ele era tão
modesto, tão calmo. Mas quem sabia o que se agitava sob seu exterior calmo? Pela
primeira vez desde que ela viu o tricô revelador na foto dela e de Thomas, ela sentiu
medo.
Thomas desabou sobre a cama ao lado dela. — Eu peguei a câmera — disse ele,
levantando a Nikon de Sergei. — Seu namorado deve ter devolvido a ele antes de

110
viajar. — Ele ergueu-a para que Ariana pudesse ver e apertou o botão de exibição em
intervalos lentos. — Mas ele deixou o letão manter suas fotos.
Ariana olhou para as fotos brilhantes na tela do display. Fotos de sua caminhada
para a aula, segurando seus livros com força contra o peito. A foto dela e de Noelle,
rindo no refeitório. Inúmeras fotos dela sentada sozinha, lendo. E fotos após fotos
dela no Baile de Inverno. Acariciando o pescoço de Daniel. Tomando um gole de
champanhe. Enrolando uma mecha de cabelo em torno de seu dedo indicador.
Ela encostou-se em Thomas, de repente se sentindo fraca. — Eu não tinha ideia
de que ele era... — Ela não conseguia nem mesmo terminar a frase. Devia haver
dezenas de fotos dela na câmera de Sergei. Percorrer elas era como assistir a uma
apresentação de slides da sua vida nos últimos meses. Tudo o que ela tinha feito, em
todos os lugares que ela tinha estado, ele tinha registrado.
— Oh meu Deus — Ariana engasgou.
A tela tinha acabado de pousar em uma foto dela e Thomas entrando na antiga
capela na floresta na outra noite, seguida por uma foto de Eli voltando na direção da
cidade. Ele provavelmente pegou o último trem para Greenwich naquela noite. Cara
esperto.
— Eu estava certa. Ele está nos seguindo esse tempo todo — disse ela,
empurrando a câmera para Thomas. — O que há de errado com ele?
Ela afastou-se da cama, segurando o retrato emoldurado na mão. O sentimento
familiar de pânico invadiu-a mais uma vez, ameaçando arrastá-la para baixo. Se Sergei
era capaz de persegui-la assim, o que mais ele poderia fazer com ela?
— Thomas, e se ele está pensando em chantagear a gente? — Ariana disse com a
voz trêmula. — Ele tem dezenas de fotos de nós dos últimos dois dias. Ele poderia
fazer nós sermos expulsos num piscar de olhos.
— Ariana, está tudo bem. — A voz de Thomas parecia longe. Um alto bip
emanava da câmera. — Eu acabei de excluir todos os arquivos.
— Mas ele pode tê-las salvo em seu computador. Ou pior, em uma conta da
Internet. Isso não é uma garantia de que...
Thomas abaixou a câmera e colocou as duas mãos em seus ombros. — Está tudo
bem. Nós vamos cuidar disso.
Ariana olhou nos olhos de Thomas, mas ela mal o ouviu. Sergei poderia estragar
tudo. Se ela fosse expulsa, sua vida estaria acabada. Ela nunca iria se formar em
Easton, nunca entraria em Princeton, nunca teria a vida que ela e sua mãe tinham
planejado para ela.
E ela nunca mais veria Thomas novamente. Ela não podia deixar isso acontecer.
Pela primeira vez em sua vida, ela estava realmente vivendo. Ela era ela mesma
quando estava com Thomas. Ariana, e mais ninguém. Ela não podia voltar para o
modo como as coisas eram antes. Ela não poderia voltar a fingir. Isso iria matá-la.
Thomas estava certo. Eles iriam cuidar disso. A partir de agora.
Com o coração trovejando, Ariana se virou para a porta e congelou. Sergei
estava de pé na soleira da porta, seu olhar frio fixo nela.

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TÃO FÁCIL
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—S
eu filho da puta — Thomas sussurrou, fazendo uma careta quando ele
tentou colocar peso em seu tornozelo machucado.
Havia algo nos olhos escuros de Sergei que enviou minúsculos
calafrios elétricos através do corpo de Ariana. Ela o reconheceu instantaneamente, o
olhar que tinha aparecido nos olhos de sua mãe anos atrás e nunca tinha
desaparecido. Desespero.
Sergei olhou de Thomas para Ariana, para a foto na sua mão, para a câmera
sobre a mesa, e vice-versa. No mesmo instante, o desespero em seus olhos se
transformou em medo. Ele virou-se da porta e correu.
— Sergei! Espera! — Ariana gritou, deixando cair a foto de si mesma na cama e
correndo para a porta. Ela correu para o corredor atrás de Sergei. — Nós só queremos
falar com você!
A cada passo, a distância entre eles aumentava. Ariana nunca foi uma atleta, mas
ela não podia deixá-lo escapar.
— Garoto rápido — Thomas bufou atrás dela. Sua voz estalou com a dor.
Ariana não teve tempo para responder. Ela alcançou a escada e voou para baixo
três degraus de cada vez, batendo na porta ao pé da escada assim que Sergei a fechou
de repente atrás dele. Ela bateu o punho contra a madeira pesada.
— Droga! — Ela se dobrou, tentando recuperar o fôlego.
— Você está bem? — Thomas estava se movendo lentamente para baixo, um
degrau de cada vez. Ela olhou para ele, sentindo uma pontada repentina de culpa. Ela
não deveria deixá-lo sozinho em sua condição.
— Ele está fugindo — disse Ariana desesperadamente.
— Apenas vá! — Thomas gritou, sua voz saltando para baixo da escada. — Eu te
alcanço!
Sem outro olhar em sua direção, Ariana abriu a porta e apertou os olhos contra
o brilho do reflexo do sol na neve. Sergei tinha atravessado a faixa de terra atrás do
Alojamento Drake e estava indo para a floresta. Ela cerrou os dentes e seguiu com
determinação renovada. Ela iria alcançar ele. Se ele revelasse as fotos — as fotos que
mostravam ela traindo Daniel — ela perderia tudo. Não importaria que Daniel tivesse
mentido ou que ele a tivesse enganado primeiro. Tudo o que importava era que ela
traiu o irmão gêmeo de Paige. Ela iria perder seus amigos, o Billings, talvez até mesmo
sua mãe. Ela seria um nada.
Sergei desapareceu na espessa cobertura de árvores afrente. Cada nervo em seu
corpo estava tomado de terror. Atingindo a beira da floresta, Ariana virou por um
momento para olhar para Thomas. Ele estava mancando lentamente em direção a ela,

112
pelo menos vinte e cinco metros atrás. Ela inalou uma respiração afiada e mergulhou
através da linha de árvores na floresta.
O triturar de folhas e galhos sob os pés de Sergei desacelerou-o à frente. Ele
estava ficando sem fôlego e ela estava se aproximando. Ela teceu através de agregados
de pinheiros e se abaixou debaixo de seus ramos pesados, a adrenalina
impulsionando-a para frente. Sergei estava logo à frente, lutando contra um galho
grosso com pinheiros. Ele passou empurrando-o, e ele voltou na direção dela, a ponta
do ramo cortando seu rosto.
Ela levou a mão ao rosto dormente. Quando ela puxou-a para longe, seus dedos
estavam cobertos de sangue. Raiva pungente subiu dentro dela. Por que ele estava
torturando-a assim? Sergei tinha toda a sua vida em suas mãos. Easton, o Billings, sua
mãe e Thomas.
— Sergei! — ela gritou, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Pare, por favor!
— Seu desespero era palpável, e levantou-se em sua garganta, ameaçando sufocá-la.
Ele correu para a grande clareira no centro da floresta. O lago se estendia à sua frente,
calmo e congelado.
Ariana tinha passado muito tempo em torno deste lago desde que ela veio para
Easton como uma caloura. Em fogueiras com as outras Garotas do Billings no outono,
estendendo-se em cobertores com uma garrafa de vinho branco na primavera. A
ameaça de ser pega sempre tinha enviado um arrepio de excitação por sua espinha,
um tipo de emoção que ela nunca tinha sentido quando ela morava em casa. A
ameaça que ela enfrentava agora a enchia de pavor angustiante.
Sergei correu para a superfície congelada, então hesitou, olhando por cima do
ombro para ela. Ela correu mais rápido, o espaço entre eles diminuindo a cada passo.
Chegando próximo a ele, ela se esforçou para pegar a bainha de seu suéter. Ela estava
tão perto.
De repente, ele parou e se virou para encará-la. Antes que ela percebesse o que
ele tinha feito, seu corpo se chocou com o dele. Eles caíram sobre o gelo juntos. Sua
cabeça se chocou contra a superfície implacável, e ela sentiu uma dor lancinante na
base de seu crânio. Os sons de seus suspiros ofegantes latejavam em seus ouvidos.
E, em seguida, um outro som, este era mais acentuado. Lento no início, depois
mais rápido. O som crepitante do gelo quebrando por baixo do seu peso.
Ariana gritou, se lançando sobre seu estômago a tempo de ver o gelo ceder sob
o corpo de Sergei.
— Oh meu Deus — Ariana engasgou.
Um olhar de surpresa passou pelo rosto suado de Sergei justo antes de ele
mergulhar na água cinza. Ariana instintivamente deslizou para trás, longe do buraco
que ameaçava engolir os dois, mas os dedos de Sergei se fecharam em torno de seu
tornozelo.
— Não! Me solte! — Ariana gritou, agarrando o gelo debaixo dela, deixando
um rastro irregular no gelo enquanto Sergei a puxava para mais perto e mais perto.
— Socorro! — Sergei resmungou. — Me ajuda!
Seu aperto era como um vício. Ela podia ver a água gelada se aproximando
enquanto ele se debatia com o braço livre. Em segundos ele iria puxá-la para baixo
com ele. Ambos iam morrer.
— Sergei, não! — Ariana engasgou. O medo aperfeiçoou seus sentidos, e de
repente tudo ao seu redor entrou em foco. Ela estendeu a mão para seu tornozelo e

113
agarrou a mão dele, seus dedos cavando na pele pálida dele. Seu rosto se contorceu
de medo e dor.
— Por favor — ele engasgou, se debatendo na água. — Me ajude! Eu não sei
nadar!
Sua voz ecoou na clareira silenciosa. A cor estava deslizando rapidamente de suas
bochechas. Ele não poderia sobreviver por mais de alguns minutos no lago gelado, e
ela não tinha certeza de que ela era forte o suficiente para puxá-lo e salvá-lo. Ela
agarrou seu braço com a outra mão e puxou o mais forte que podia.
— Aguenta firme — ela gemeu, inclinando-se para trás com todo o seu peso. Ela
não podia silenciar o som do seu coração batendo em seu peito. O som de Sergei,
gritando por socorro. O calor na voz da sua mãe, que vinha à tona toda vez que ela
mencionava Daniel. A respiração de Thomas em sua pele, o som suave dele
sussurrando o nome dela enquanto eles estavam deitados na cama. As vozes ecoavam
em sua mente, ficando cada vez mais altas. Se fechando. Sufocando-a.
Nunca se sabe do que as pessoas são capazes até que elas são levadas ao
extremo, Ariana. — Ariana! — Sergei implorou.
— Cale a boca! — ela gritou. As fotos que ele tinha tirado dela e de Thomas
passou pela sua mente. Isso era demais. Muito caótico. Ela precisava de silêncio, de
tempo para pensar. O aperto de Sergei afrouxou um pouco, e ela olhou para ele. A
tonalidade cinza-azulada tinha coberto sua pele. Ele resmungou alguma coisa sobre as
suas fotografias, olhando para ela com grandes olhos suplicantes. Uma sensação
atormentadora na parte de trás da sua mente lhe disse que não era tarde demais para
ajudá-lo. Para salvá-lo.
Mas aquelas fotos. Por que ele tinha tirado elas? O que ele queria pelo seu
silêncio? O que ele iria dizer para ela fazer para se manter calado? Sua vida estava em
jogo aqui. Ele a tinha encurralado.
— Por favor. — A voz de Sergei era um gemido agora.
Ela travou os olhos com os dele. E de repente tudo se tornou claro.
Lentamente, deliberadamente, Ariana soltou seu aperto em seu braço. Os olhos
de Sergei se arregalaram quando ela colocou a mão em sua cabeça escura e molhada,
e empurrou. Empurrou com toda a sua força. Ele lutou por um momento. Apenas por
um momento. Mas ele era fraco. E em pouco tempo ele escorregou silenciosamente
debaixo do gelo. Seus olhos escuros, sem piscar, olharam para ela de debaixo da
superfície cinza vítreo. E então ele se foi. Desapareceu. Como se ele nunca tivesse
existido.
Uma fina camada de gelo novo estava se formando sobre o buraco que ele tinha
caído. Ela olhou para seu reflexo na água gelada, afundando-se no silêncio que
pairava pesado sobre a clareira. Um estranho calor caiu sobre ela enquanto ela se
sentava sobre o gelo.
Tinha sido tão fácil. Ela tinha tomado o controle novamente. Ela conseguiria
manter o Billings, sua mãe, Thomas. Ela teria tempo para resolver tudo perfeitamente.
E com esse pensamento, sua mente estava finalmente calma. Livre. As vozes tinham se
acalmado.
Todas, menos uma.
— Ariana! — A voz de Thomas reverberou através do lago, e ela olhou para
cima para vê-lo mancando em direção a ela. — O que aconteceu? Onde está Sergei?
— Fique aí! — ela gritou. — O gelo não é grosso o suficiente!

114
Thomas congelou, e ela empurrou-se lentamente através do gelo com muito
cuidado. Quando ela o alcançou na beira do lago, ela colocou os braços em torno de
suas pernas, apertando-as firmemente. Ele estava aqui. E eles estavam seguros.

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TUDO
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—N
ós temos que sair daqui. Agora — Ariana murmurou, agarrando
Thomas e puxando-o de volta para o campus. Para longe do lago. Para
longe do corpo de Sergei.
— Ariana. — Ele agarrou-lhe o braço, se recusando a deixá-la fugir. — Você tem
que me dizer o que aconteceu aqui.
Ela procurou seu rosto. Analisou a sua testa franzida, o modo como a sua boca
se contraiu ligeiramente. Ele nunca poderia saber a verdade. Ele não entenderia.
— Ele me agarrou. Ele... ele tentou me bater — disse ela. Houve um vacilar em
sua voz. Ótimo. Parecia que ela estava com medo, tremendo. Na verdade, ela estava
esperando. Esperando que a gravidade do que tinha acontecido a arrastasse para
baixo. Esperando a culpa sufocá-la. Apenas esperando a calma se romper. Esperando
sentir algo.
Mas tudo o que ela sentia era... paz. Tinha sido tão fácil. Todos os seus
problemas se foram — simples assim.
— Ele tentou bater em você? — Thomas repetiu.
— Eu consegui empurrá-lo de cima de mim, mas quando ele caiu no gelo ele se
quebrou debaixo dele. — Sua voz era firme e calma, e a explicação deslizou de seus
lábios com pouco esforço. — Ele caiu e eu tentei salvá-lo, mas eu não era forte o
suficiente.
Por um breve momento, ela pensou ter visto a incerteza nos olhos de Thomas,
sentindo-o se encolher para longe. Mas, então, ele estava segurando-a, puxando-a
para perto.
— Seu rosto — ele sussurrou, quando ele se afastou. Ele estendeu a mão e tocou-
lhe o rosto, onde o ramo do pinheiro havia cortado sua pele. — Foi isso que ele...
Ariana assentiu. Ela puxou uma respiração entrecortada, satisfeita pela forma
como ela parecia devastada, apesar de sua paz-Zen. — Temos de dizer à polícia —
disse Thomas.
Ariana se afastou. — Não!
— O quê? Por que não? Ariana, alguém morreu. Nós somos as únicas pessoas
que sabem o que aconteceu — disse Thomas. Ele cruzou as mãos trêmulas sobre o
peito. — Nós temos que fazer alguma coisa.
— Thomas, por favor. — Ariana se forçou a soar fraca, vulnerável. — Se
chamarmos a polícia, nós vamos ter que explicar tudo. Nós vamos ser expulsos.
Talvez presos. E minha mãe, os seus pais... e essa não seria a sua terceira encrenca?
Os olhos azuis de Thomas endureceram e Ariana sabia que ela tinha atingido no
ponto certo. O instinto de sobrevivência de Thomas tinha emergido. Ele precisava

116
proteger a si mesmo — e ela. Ela era tão importante para ele como ele era para ela.
Ela sabia que isso era verdade.
— Merda. Ok. Ok. Você está certa. — Thomas passou a mão pelos seus cabelos,
seus olhos bordados em vermelho. — Tudo bem. Nós temos que sair daqui. — Ele
agarrou sua mão com força. — Eu não posso acreditar nisso.
Seu rosto se contorceu de dor quando ele se inclinou sobre seu tornozelo
machucado e eles começaram a caminhada de volta. Ariana saboreou a sensação da
sua mão quente sobre a dela quando eles caminharam através das árvores. Tudo
estava bem. Ela estava com Thomas e tudo ia ficar bem. Era romântico, até, caminhar
pela floresta cedo da manhã. Tão sereno, tão calmo. Eles deveriam fazer isso todas as
manhãs quando a escola estivesse de volta das férias...
— Temos que sair do campus — disse Thomas suavemente. — Nos separar por
um tempo.
— O quê?
Ariana estava confusa pela sugestão, pela ruptura repentina de seus pensamentos
felizes. Seu corpo ficou tenso com raiva e ela parou abruptamente. Como ele podia
deixá-la tão rápido, depois de tudo o que eles tinham passado juntos? Depois do que
ela tinha acabado de fazer por eles? Por ele? Ele não podia deixá-la sozinha.
— Não. — Sua voz era como o gelo. — Nós não podemos. Eu não vou fazer
isso — disse ela enquanto olhava através dele.
— Nós temos que fazer isso. — Thomas começou a dar um passo em direção a
ela, mas algo o deteve. Ele olhou para ela, hesitante. Aquilo era medo em seus olhos?
Do que ele teve medo? — Nós não temos escolha, Ariana. Eles vão descobrir que
Sergei está desaparecido e questionar todos que estavam no campus. Se eles
descobrirem que estávamos aqui, nós estamos mais do que ferrados.
— Eu sei disso — ela retrucou. — Mas eu não vou deixá-lo agora, Thomas. Não
quando nós acabamos de encontrar um ao outro — disse ela com mais calma.
Thomas bufou uma risada. — Encontrar um ao outro? O que é isso, algum tipo
de novela de má qualidade?
Os olhos de Ariana ardiam de raiva. Ela agarrou-lhe o braço, cavando na manga
da sua jaqueta com as unhas. — Não zombe de mim — disse ela secamente.
Thomas piscou. — Eu não estou zombando.
— Sim, você está! — Ariana gritou, assustando um corvo em uma árvore
próxima — fazendo-o voar grasnando em direção ao céu.
Ela olhou-o nos olhos e esperou, com os dentes cerrados. Ele a amava. Ela sabia
que ele a amava. Ele tinha de amá-la. Porque se ele não...
Thomas olhou para ela por um longo momento. Olhou para ela como se
estivesse vendo-a pela primeira vez. Finalmente, ele se aproximou e pegou a mão
dela. — Eu não quero ficar longe de você também. Mas Ariana, por favor. Seja
razoável. Se eu for pego, eu vou perder tudo. Minha família, meus amigos, minha
herança... — Ele olhou profundamente em seus olhos e tocou-lhe o rosto com a mão
fria. — Eu vou te perder.
O coração de Ariana se agitou. Ele a amava. Ela sabia disso. Ela deslizou os
braços sob os dele e segurou-o com força.
— Ok — ela sussurrou, agarrando-o mais apertado a cada segundo que passava.
Seu corpo tremia contra o dela. — Tudo o que você quiser fazer. Nós vamos ficar
bem. — Ela ergueu o rosto para ele e beijou-o. — Confie em mim. Ninguém nunca
vai saber.

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— Tudo bem. — Thomas soltou uma respiração trêmula. Seus olhos estavam
vidrados. — Agora vamos sair daqui.
Ele atirou o braço por cima do seu ombro e, apoiando-se um no outro, eles
mancaram em direção ao campus. Ariana respirava uniformemente, deliberadamente,
deixando o ar fresco e frio limpá-la. A cada passo, ela deixava Sergei mais para trás. A
cada momento que passava ia colocando mais distância entre eles, até que ele não
passava de uma vaga lembrança, um garoto que poderia ter ido para a Academia
Easton uma vez. Uma imagem desaparecendo em uma velha e amarelada fotografia.

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28
A COISA MAIS DIFÍCIL
Traduzido por I&E BookStore

U
ma hora depois eles estavam juntos na esquina do cruzamento principal do
centro de Easton. As ruas estavam cobertas pela escuridão, salvo pelas
pequenas esferas de lâmpadas dos postes de luz em cada esquina. Ariana
inclinou-se contra a base fria de ferro de um dos postes de luz, olhando entorpecida
para além de Thomas para o outro lado da rua. As boutiques tinham fechado horas
atrás. Manequins congelados em poses não naturais estavam boquiabertos para ela do
outro lado das janelas escurecidas. Ela estremeceu quando um vento cortante virou a
esquina, trazendo rajadas de neve em pó com ele. — Diga alguma coisa — Thomas
implorou, chutando no gelo sujo que tinha acumulado ao longo da borda da calçada
revestida de tijolos. Ele enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta, olhando preocupado
para ela debaixo de seu gorro de lã.
— O que você quer que eu diga? — Ariana não teve coragem de olhar para ele.
Será que ele queria que ela dissesse que ela não estava pronta para isso? Que ela
queria apenas mais uma noite com ele antes que ela tivesse que ir embora? Que o
pensamento de ir para Vermont para ficar com Daniel fazia seu peito parecer tão
apertado que ela pensava que poderia explodir? Ela disse todas essas coisas. Mas ela
ainda estava de pé no canto, a bolsa pendurada no ombro, os minutos que eles
haviam passado juntos deslizando por ela como o vento. Ela tinha que se lembrar que
o que eles tinham planejado valeria a pena.
Eles tinham falado sobre tudo enquanto eles caminhavam até o centro. Os trens
estavam funcionando novamente, porque finalmente havia parado de nevar, e vários
centímetros de neve já tinham derretido. Mesmo que ela odiasse o frio, Ariana queria
que continuasse nevando para sempre se isso significasse estar com Thomas. Mas eles
tinham que continuar com o plano. Se Ariana rompesse com Daniel agora e começasse
a sair com Thomas, levantaria suspeitas. Especialmente em Paige, que, sem dúvida,
passaria a maior parte das férias atormentando Ariana para saber exatamente onde ela
estava e o que ela tinha feito. Então, Thomas decidiu — bem, eles tinham decidido
juntos, na verdade — deixar toda essa confusão com Sergei de lado. Eles ainda
podiam se encontrar durante este ano, mas ela teria que esperar até o verão para
romper com Daniel. Depois, ela e Thomas poderiam ficar juntos, em setembro. Daniel
e Paige teriam ido embora, e eles poderiam começar a namorar, como se fosse
inteiramente novo. Eles passariam seu último ano juntos, como um casal de verdade.
Só ela e Thomas.
— Eu não sei o que eu quero que você diga. Qualquer coisa, eu acho. — Thomas
estendeu a mão para tocar seu rosto, e ela se encolheu quando as pontas dos seus
dedos roçaram sua bochecha. Sua pele parecia crua. O frio era como uma lixa,
raspando suas camadas de proteção. Deixando-a exposta.

119
Silenciosamente, Ariana envolveu seu fino casaco de camelo apertado ao redor
dela para bloquear o vento, mas não ajudou. Ela pensou com saudade em seu casaco
de inverno branco, que agora era um monte de cinzas na clareira da colina. Ela tinha
ido para lá, para o lugar onde ela e suas amigas tinham festejado em tantas noites
quentes de outono, e queimou todas as provas de seus dois dias no campus. A
primeira coisa que ela faria em Vermont seria comprar um novo casaco de inverno.
Thomas se aproximou dela, apoiando as mãos sem luvas em seus ombros.
Cobrindo seu pescoço e seu queixo com as mãos.
— Olhe para mim — ele ordenou. Ela fez o que lhe foi dito. Olhou-o bem nos
olhos. — Eu não quero fazer isso também. Você sabe disso, não é?
— Eu sei. — Ela assentiu com a cabeça, deixando-o puxá-la para perto. Ela sabia
que ele estava certo, sabia que esse era o único jeito. E ela não estava tornando isso
mais fácil para ele.
— Você se lembra o que você vai dizer a eles? — ele perguntou suavemente.
— Que eu fiquei em um motel na fronteira de Connecticut por duas noites por
causa da neve — ela repetiu roboticamente.
— Ótimo. — Ele deu a ela um sorriso sincero e raro. — Serão apenas duas
semanas, garota travessa. Podemos esperar duas semanas, certo?
Ele cutucou o pé dela com o dele. O som desse apelido, esse apelido estúpido,
trouxe lágrimas aos seus olhos. Ela as enxugou com as costas da mão. Duas semanas
em Vermont parecia uma eternidade. Mas era a única maneira de ela ter um álibi.
Pessoas para atestar onde ela tinha estado durante as férias. Mesmo que essas pessoas
tivessem que ser Daniel e Paige Ryan.
— Não me chame de garota travessa — brincou ela fracamente.
— Por favor. Você adora. — Thomas sorriu. Mas seus olhos estavam em branco.
Mortos. E, pela primeira vez, ela viu que ele estava tão miserável quanto ela. — Eu
quero que você fique com uma coisa. — Ele enfiou a mão no bolso. Era o velho
símbolo do metro de Nova York que ele estava brincando no Baile de Inverno. Ele
colocou-o em sua mão. — Eu tenho levado isso comigo desde sempre. Para dar sorte.
Vai ser o nosso objeto, o nosso símbolo, ou qualquer coisa assim.
O som das sirenes perfurou o ar da noite, e Ariana congelou quando duas
viaturas policiais passaram pela rua em direção a eles em um borrão. A luz vermelha e
azul deslizou pelo rosto de Thomas, e depois desapareceu.
— Você não acha... — Ariana começou, com a voz trêmula.
— Ei. Você tem que mantê-lo junto de você, ok? — Ele a puxou para mais perto,
abaixando a boca para sua orelha. — Eles não vão encontrá-lo — disse ele em voz
baixa. — E mesmo se eles encontrarem, eles não vão pensar em perguntar a nenhum
de nós sobre isso. Eu estava a caminho de Nova York, e você estava a caminho de
Vermont.
— A caminho de Vermont — ela repetiu. Como se repetindo as palavras as
tornassem realidade.
— Para Daniel — disse Thomas sombriamente.
Mais uma vez uma onda de lágrimas brotou de seus olhos. Ela sabia o que ele
queria dizer. Daniel ia esperar que ela tivesse relações sexuais com ele. Será que ela
poderia realmente ir para Vermont e fazer isso? Ela poderia dormir com Daniel, dizer
a ele que o amava, quando tudo o que ela queria fazer era estar com Thomas? O
pensamento de deitar na cama ao lado de Daniel fez seu estômago revirar.

120
Ariana pressionou sua bochecha contra o casaco de lã quente de Thomas e se
apoiou nele. Naquele momento tudo o que ela queria era estar com ele. Deixar
Easton, o Billings, Daniel e sua mãe para trás. Começar de novo. Só ela e Thomas.
Ninguém mais.
— Ei — ela murmurou em seu peito, — quer vir comigo? Ouvi dizer que há um
resort realmente exclusivo lá.
— Eu bem queria. — Thomas beijou o topo de sua cabeça e segurou o rosto dela
entre as mãos. — Basta lembrar que você não é apenas um nome em uma lista,
Ariana. Você é melhor do que isso. Você merece coisa melhor do que isso.
Um táxi branco com uma borda verde xadrez virou a esquina e desacelerou no
meio-fio e, de repente, Ariana não conseguia respirar. Era como se o ar tivesse sido
sugado para fora de seus pulmões, deixando-a murcha.
Thomas a beijou. Com força. Freneticamente, ela tentou memorizar tudo sobre
ele. As linhas de seu corpo sob a ponta dos seus dedos, e a suavidade de seus lábios. A
maneira que a mecha de seu cabelo caiu em seu rosto e roçou-lhe a testa. Ela não
queria perder nada disso.
Ele afastou-se e beijou-a de leve no nariz. — Você vai ficar bem?
Ela balançou a cabeça lentamente.
— Vejo você em duas semanas — disse ele, abrindo a porta do táxi. — Duas
semanas.
De alguma forma, Ariana se obrigou a se afastar dele, mesmo que a dor em seu
coração fosse insuportável. Ela entrou no banco de trás, e a batida da porta do táxi a
fez saltar. Thomas ficou na calçada, olhando para ela através da janela enevoada.
Ariana agarrou-se a lembrança do seu beijo.
O táxi balançou, forçando-a a olhar para frente. Quando ela se virou
novamente, Thomas tinha ido embora.
— Para onde você está indo? — o taxista perguntou com a voz rouca do banco
da frente.
— Para a estação de trem — respondeu ela, sem rodeios.
Um perfumador de ar no formato de uma árvore de Natal balançou do espelho
retrovisor, enchendo o táxi com o cheiro forte de pinho. Traços de fumaça de cigarro
e suor pareciam emergir das cadeiras de couro rasgadas. Respirando pela boca para
bloquear o fedor, Ariana puxou o celular do Sr. Holmes do bolso do casaco. Ela
bloqueou o número antes de discar.
— Alô? — Daniel respondeu após o primeiro toque.
— Sou eu. — Ariana manteve sua voz baixa.
— Quem? Espere um minuto. Você parece familiar. Parece um pouco com a
minha namorada. — Ariana não conseguia decidir se Daniel parecia aliviado ou com
raiva. Ela decidiu que não tinha energia para se importar.
— Foi a tempestade. Eu não consegui sair daqui — respondeu ela, suas palavras
cortadas.
— Meus pais continuam perguntando sobre você. Perguntando quando você vai
vir. Eu realmente não sei o que lhes dizer, Ariana.
Irritado. Definitivamente irritado.
— Eu vou estar aí hoje à noite. — Ela já se sentia cansada.
— Hoje à noite? — A voz de Daniel de repente se suavizou. — Vou encontrá-la
na estação. Que horas seu trem chega?
Ela ouviu um farfalhar de papéis sobre o som familiar da ESPN ao fundo.

121
— Eu ainda não sei — disse ela rapidamente. — Não se preocupe em ir à
estação. Vou chegar tarde. Encontro você no resort, ok?
Ela fechou seus olhos com força, rezando para que Daniel concordasse. Ela
precisava de tempo. De tempo para se transformar na doce e sorridente namorada
que ela teria que fingir ser nas próximas duas semanas. Quanto mais tempo ela tivesse,
melhor.
— Tem certeza? — Daniel parecia incerto.
— Tenho. Eu te ligo quando eu chegar no lobby.
— Tudo bem. Então eu te vejo quando você chegar aqui — Daniel fez uma
pausa e um silêncio zumbiu sobre a linha. — Eu te amo, Ariana.
Ela sentiu todos os músculos do seu corpo se apertarem. — Eu também — ela
conseguiu dizer.
Sem outra palavra, ela fechou o celular e empurrou-o no bolso. Seus dedos
bateram no símbolo do metrô. Ela sorriu e tirou o colar, colocando o símbolo ao lado
das flores-de-lis e recolocando a corrente em volta do seu pescoço.

122
29
VALER A PENA
JANEIRO DO PENÚLTIMO ANO
Traduzido por I&E BookStore

E
ra fim de tarde de domingo, quando o táxi de Daniel e Ariana passaram através
dos portões de Easton. A maior parte da neve havia derretido durante o resto
das férias. O coração de Ariana pulou de emoção quando o taxista caminhou
habilmente ao redor do círculo da frente, evitando as bolsas dos estudantes arrastando
malas de grife em seu rastro.
Ela virou-se em direção à janela e balançou a cabeça ao avistar London Simmons
e Vienna Clark, as alunas do segundo ano cujo estilo de copiar e colar tinha
rapidamente lhes valido o apelido de Cidades Gêmeas. As meninas lutaram com suas
malas rosa choque Chanel, suas faces vermelhas com o esforço. Ou queimaduras de
segundo grau, a julgar pelo seu bronzeado de óculos de sol idênticos e uma garrafa de
rum livre-de-impostos espreitando para fora da bolsa de praia Halston de Vienna.
— Qual o motivo desse sorriso? — Daniel passou o braço em volta dos seus
ombros. Estava pesado, como se estivesse cheio de chumbo.
Ariana encolheu os ombros, ansiosa para estar longe de seu toque, mas
obrigando-se a sorrir para ele. — Apenas feliz por estar de volta.
Daniel gemeu, enfiando a mão no bolso de trás de sua carteira quando o táxi foi
parando.
— Eu não. Essas duas semanas se passaram rápido demais.
Ele pegou cinquenta dólares da sua carteira e entregou ao motorista, em seguida,
saltou e correu ao redor para o outro lado para abrir a porta de Ariana.
— Obrigada — disse Ariana docemente, pisando na calçada.
O ar de inverno enviou um arrepio de antecipação por sua espinha. Todos os
dias, durante duas semanas, ela fantasiava com este momento. Voltando a Easton.
Voltando para Thomas. Ela olhou para o relógio, ajustando-o contra o brilho do sol
de fim de tarde.
— Quer ir para a cidade jantar? — Daniel estava em pé de braços cruzados
enquanto o taxista carregava cada uma de suas malas do porta-malas e as jogava no
meio-fio. — Estou morrendo de fome.
— Não — ela disse, muito rapidamente. Percebendo seu erro, ela forçou um
bocejo. — Estou realmente exausta.
Ela puxou ansiosamente o cachecol de cashmere verde vômito que a mãe de
Daniel lhe dera no Natal. Ela se sentiu obrigada a usá-lo durante toda a viagem, e
agora parecia que estava apertando sua garganta.

123
Daniel fez uma careta. — Tudo bem. Então, no almoço de amanhã? — Sem
esforço, ele pegou uma mochila abarrotada de equipamentos de esqui e atirou-a sobre
um ombro.
— Claro. Parece divertido — Ariana concedeu, seu coração afundando. Ela
pegou sua mala, dando outro olhar para o relógio enquanto eles se dirigiam para o
Billings.
— Precisa ir a algum lugar? — Daniel sorriu. Ela odiava quando ele olhava para
ela assim. Como se ela fosse uma criança que ele mantinha ao seu redor para a sua
diversão.
— Quase passou da minha hora de dormir — brincou ela, forçando um sorriso.
Uma enorme sensação de alívio surgiu quando ela viu o Billings aparecer à frente. Sua
fuga. — Então, te vejo amanhã? — ela disse apressadamente, acelerando seus passos.
Daniel balançou a cabeça, e ela o viu desaparecer no meio da multidão de
estudantes que pululavam ao redor dos dormitórios.
Ariana esperou por alguns minutos de agonia antes de começar a subir os
degraus da frente do Billings. Abrindo a porta da frente, ela jogou a mala na entrada,
em seguida, correu de volta descendo os degraus e através do labirinto de
dormitórios, desligando-se da ociosa fofoca de férias que zumbia ao redor dela.
Quando ela passou pelo Drake e se aproximou do Ketlar, ela examinou as malas dos
estudantes ao seu redor, em busca de qualquer sinal de Daniel. Ótimo. Ele estava
longe de ser encontrado.
O Gwendolyn Hall se esticava um pouco além da linha de árvores na beira do
campus. O edifício mais antigo de Easton tinha sido abandonado anos atrás, e Ariana
nunca teve razão para se aventurar no seu interior. Ela olhou para a fachada infame.
As ervas daninhas e os arbustos congelados que cresciam sob as janelas fechadas com
tábuas pareciam mãos se levantando com dedos de arame, ameaçando estrangular o
velho marco. Dois bancos de pedra em ruínas ladeavam a entrada escondidos por
árvores enormes e arbustos. Cautelosamente, ela abaixou-se no banco mais próximo,
verificando o relógio novamente. O único som que ela ouvia era o de sua própria
batida de pé contra o caminho de cimento rachado.
— Você poderia ter me avisado que estava pensando em aparecer
elegantemente atrasada.
Ariana ouviu sua voz antes que ela o visse. Ela ficou de pé, olhando ao seu
redor.
Finalmente, Thomas surgiu do lado do edifício. Seu cabelo estava mais curto nas
laterais e ele parecia mais velho, de alguma forma. Mais largo. Ainda mais perfeito.
Ela quase tropeçou em um pedaço irregular de cimento no chão enquanto corria
em direção a ele. Quando ela se jogou em seus braços, ele cambaleou sob o seu
impulso.
— Calma! — Ele riu, beijando seu rosto, seu cabelo.
— Você não tem ideia do quanto eu senti sua falta — Ariana arfou.
— Vamos. A única porta que não está fechada com tábuas leva para o porão.
Ele puxou-lhe a mão e levou-a ao redor do lado do edifício, no meio do mato
morto que cobriam as paredes. Thomas segurou a maçaneta da porta e abriu-a,
abaixando-se através da porta. Ela o seguiu até o porão abandonado. O ar úmido de
mofo se espessou em torno deles. Ela desenrolou o cachecol feio ao redor de seu
pescoço e retirou o seu novo casaco azul claro da Dior. Demorou cerca de dois

124
segundos para ela desistir de encontrar um lugar limpo para colocá-los, e ela jogou-os
sobre uma cadeira empoeirada no canto. Era para isso que as lavanderias serviam.
— Eu senti como se estivesse ficando louca. — Ariana puxou a porta de madeira,
fechando-a atrás deles. Fendas da luz do sol empoeiradas se filtravam através de suas
rachaduras, pintando barras vermelhas em seus corpos.
— Eu também. — Thomas a prendeu na parede de pedra, puxando seu suéter
pela cabeça. Ele passou os dedos pelo seu cabelo; beijou-a na boca, no pescoço, ao
longo da sua clavícula. Ela não se sentia assim desde que ela foi para Vermont. Ela
havia sentido falta de se sentir do jeito que ela sentia quando estava com Thomas.
Sentiu falta de se sentir viva, livre. — Pelo menos você não teve que passar duas
semanas enfurnada com seus pais cooperativos e com um irmão idiota.
— Ahhhhh. Coitadinho — disse ela com uma risada. — A vida no Upper East
Side deve ser tão difícil.
Ele tirou o casaco e puxou o suéter pela cabeça. — Como se você estivesse
vivendo duramente em Vermont — disse ele, com as mãos viajando sobre sua pele.
O corpo dela ficou tenso sob seu toque. A última pessoa que ela queria pensar
quando estava com Thomas era em Daniel. Ela queria esquecer as duas últimas
semanas com os Ryan, deixar a memória de tudo o que aconteceu entre Daniel e ela
evaporar, como a sua respiração no ar de inverno.
— O que há de errado? — Thomas soprou em seu ouvido. Ele apertou as mãos
contra os seus quadris, guiando-a através do labirinto de mesas de estudantes
empilhadas ao redor do porão. Suas pernas se apoiaram em um velho balcão de
carvalho empurrado contra a parede, e ele a ergueu sobre ele. — Você está bem?
— É claro — disse ela rapidamente, deslizando os braços ao redor dele e
puxando-o para perto. — Eu estou bem.
De repente, um som vibrante familiar escapou de seu bolso traseiro.
— Meu celular — ela engasgou.
— Ignore-o.
— Eu não posso. — Ela puxou o celular e seu coração afundou. Paige Ryan
estava ligando para ela. Ela apertou as mãos contra seu peito e empurrou-o
suavemente. — Eu tenho que voltar.
— Oh. — Uma compreensão caiu sobre o rosto de Thomas. — Tem um
encontro quente?
Ele recuou rapidamente, agarrando o suéter do chão.
— Não, é só Paige — disse ela. — Ela vai começar a se perguntar onde estou, e
ela já fez taaaantas perguntas durante as férias sobre o que eu fiz sozinha em um
motel por dois dias e...
— Está tudo bem — disse ele, inclinando-se para beijá-la levemente nos lábios.
— Eu sei que esta coisa de se esconder é uma porcaria, mas é muito empolgante,
também — disse ela sugestivamente, olhando para ele através de seus cílios grossos.
— Claro — disse Thomas enquanto se vestia.
A adrenalina ainda pulsava através de Ariana, e cada célula de seu corpo gritava
para ela ficar com Thomas. Para esquecer Daniel.
— Isso tudo vai valer a pena — disse ela, pegando seu cinto e puxando-o para
ela. — Nós apenas temos que esperar até o outono, e então nós poderemos ficar
juntos, certo?
— Certo — Thomas respondeu com outro beijo rápido.

125
— E enquanto isso, podemos continuar nos encontrando aqui — disse ela
timidamente. — Que tal amanhã? Por volta das cinco? Talvez possamos terminar o
que nós começamos.
Ela o puxou para mais perto dela e mordeu seu lábio inferior, brincando.
Thomas sorriu. — Promete?
— Prometo.
Ela o beijou profundamente, cravando as unhas em seus cabelos e segurando-o
com força até que ela finalmente se separou. Sorrindo, Ariana pegou seu suéter e
casaco e rapidamente os vestiu.
— Se há uma coisa que você deve saber sobre mim, Thomas Pearson, é que eu
não gosto de negócios inacabados — disse ela, limpando a sujeira de seu casaco. — Eu
sempre faço tudo até o fim.
— É bom saber — disse Thomas groguemente.
Ela puxou a frente do casaco dele e puxou-o para um beijo final. — Vejo você
mais tarde.
Ariana saiu e tomou uma respiração profunda. Ela odiava deixar Thomas, mas
ambos sabiam que ela tinha que ir. Paige não podia começar a fazer perguntas
novamente.
Caminhando ao redor do lado do Gwendolyn Hall, Ariana se abaixou sob os
galhos baixos das árvores e atravessou a grama marrom emaranhada de neve. Nuvens
cinzentas tinham começado a se mover lentamente ao longo do campus, lançando
sombras esfumaçadas sobre os edifícios iminentes que pontilhavam as dependências.
Na luz estranha da tarde, a Academia Easton parecia deserta. Ariana preparou-se
contra uma súbita rajada de vento, tentando ignorar a sensação de medo que
começou a pesar sobre ela enquanto ela se dirigia de volta ao Billings. Ela ainda não
tinha pensado no que ela diria quando visse Noelle. Noelle, que podia lê-la com um
único olhar.
Ariana preparou-se e dirigiu-se ao vento. Os próximos meses iriam ser uma
grande atuação. Não seria fácil, ela sabia, mas seu trabalho duro iria ser
recompensado em setembro. Em setembro, quando ela e Thomas iriam finalmente
ficar juntos de verdade. Para sempre.

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NENHUMA BOA RAZÃO
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A
riana se mexeu desconfortavelmente na cabine de vinil, olhando para o menu
laminado na frente dela. Ela concordou em se encontrar com Daniel para
almoçar depois da sua aula da manhã. Previsivelmente, ele escolheu o 24/7,
um restaurante de fast-food superlotado que servia hambúrgueres e batatas fritas
gordurosos para os alunos da Academia Easton 24 horas por dia. Em todo o tempo
em que ela e Daniel tinham estado juntos, eles nunca foram a outro restaurante para
almoçar. Não importava o fato de que os únicos pratos vegetarianos no cardápio
eram as batatas fritas e uma fraca tentativa de uma salada. Ele nenhuma vez
perguntou se ela queria tentar algo diferente. E ela nunca se queixou.
— Pedido! — um cozinheiro gritou de trás do balcão, assustando-a. Ela olhou
para o relógio. Daniel estava dez minutos atrasado. Ela daria a ele mais cinco minutos
antes de ela voltar ao campus. Eles estavam de volta a menos de um dia, e ele já
estava fazendo-a esperar.
— Ei, querida. — Daniel apareceu ao lado dela, inclinando-se para dar-lhe um
beijinho rápido. Seus lábios estavam ásperos contra sua bochecha. — Desculpe o
atraso. O treinador queria me ver depois da aula. — Ele deslizou para dentro da
cabine em frente a ela e descansou as mãos em cima das dela, dando-lhes um aperto.
— Você está aqui há muito tempo? — Suas bochechas estavam vermelhas por causa
do frio.
Ariana sacudiu a cabeça, tentando se livrar da decepção que sentiu ao vê-lo.
— Eu cheguei atrasada também — disse ela com um pequeno sorriso.
Ela levantou a mão ao peito, tocando o símbolo do metrô que estava
pendurado na corrente abaixo da sua gola de cashmere, e procurou o rosto de Daniel
por qualquer sinal de que ele sabia. Nada.
— Ótimo. — Ele puxou um menu de trás do dispensador de guardanapo prata e
abriu-o sobre a mesa. — Deus, aqui está tão bom. Está muito frio lá fora — disse ele,
esfregando as mãos e soprando nelas. — Você ouviu sobre o seu amiguinho Sergei?
O coração de Ariana parou. Daniel olhou para ela.
— Eles encontraram o corpo dele no lago. O idiota subiu lá sozinho e
aparentemente se afogou. — Daniel soou divertido.
— Isso é horrível — disse Ariana, forçando suas feições a parecerem de surpreso
horror, mesmo que o alívio tenha inundado seu corpo. Um afogamento acidental.
Perfeito.
A testa de Daniel se franziu. De repente, ele estava falando sério. — Eu sei. Mas
isso faz você pensar, não é? Poderia ter sido um de nós. Nós vamos lá para cima o
tempo todo. Alguém poderia cambalear por lá bêbado e bam!
Ariana saltou em seu assento.

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— O gelo quebra e é isso. Acabou — ele disse, balançando a cabeça enquanto
olhava para o menu.
— Bem, talvez devêssemos começar a sair em outro lugar — Ariana sugeriu, com
a boca seca.
— É. Talvez.
A pele de Ariana parecia apertada. Ela fechou os olhos contra a luz berrante que
derramou sobre eles a partir das lâmpadas balançando acima das suas cabeças. Ela
odiava tudo sobre estar neste lugar com ele: o som de crianças e cozinheiros gritando
pelos pedidos, o estonteante chão quadriculado em preto e branco, o cheiro de
gordura pendurado no ar fedorento. Ela tomou uma respiração lenta e profunda.
Por que ela tinha que fazer isso? Ninguém dava a mínima para Sergei. Daniel
tinha acabado de tornar isso perfeitamente claro. Então, por que, por que, por que ela
estava aqui?
Ariana agarrou seu braço, inspirou e expirou. Para mantê-los juntos. Isso tudo é
por Thomas. Eu tenho que manter o plano. Há muita coisa em risco.
— De qualquer forma, o treinador me disse que recebeu um telefonema do
treinador de Harvard no outro dia — disse Daniel. — Eles querem que eu jogue lá no
outono. O cara disse que estava realmente impressionado com o que viu quando ele
veio para a volta às aulas. — Ele fechou seu menu e deslizou para a borda da mesa.
— Isso é ótimo — disse ela alegremente, descansando os antebraços sobre a
mesa entre eles e inclinando-se na direção dele. — Estou muito orgulhosa de você. —
As palavras derramaram-se da sua boca sem esforço, como se eles tivessem seguindo
um roteiro.
— O único problema é que meu pai não quer que eu jogue no meu primeiro
semestre. — Daniel levantou o gigantesco copo de plástico na frente dele e tomou um
educado gole de água. — Ele acha que vai ser muita distração.
— E o que você acha? — perguntou Ariana. Ela lançou um olhar para o feio
relógio neon do outro lado da lanchonete. Se eles se apressassem, ela poderia estar de
volta ao campus e com Thomas em meia hora.
Ele deu de ombros. — Não sei. Vai ser um semestre difícil. Pegar química
orgânica e biologia ao mesmo tempo é realmente uma grande coisa. Então, talvez o
meu pai esteja certo. — Ele entrelaçou os dedos sobre a mesa e lançou-lhe um sorriso
malicioso. — Ele estava certo sobre você, de qualquer maneira.
— Hmmm? — Ariana inclinou a cabeça ligeiramente para o lado. Um cacho
solto do seu cabelo caiu sobre seu rosto, e Daniel estendeu a mão para afastá-lo. — O
que ele disse sobre mim?
— Ele amou você. — Daniel sorriu. — Ambos os meus pais amaram. Eles não
saíam do meu pé. Ficavam perguntando por que eu não tinha trazido você para casa
mais cedo. — Ele pegou a mão dela. — E eles realmente amaram o seu sotaque. — Ele
sorriu.
— Funciona como um encanto — disse ela em um sotaque do sul exagerado, um
calor rastejando do seu pescoço para as suas bochechas. — Eu realmente gostei deles
também — ela mentiu.
— Eles querem que seus pais vão para Southampton em algum momento em
agosto. — Os olhos de Daniel se arregalaram quando ele percebeu seu erro. — Quero
dizer, sua mãe. Ou seu pai. Tanto faz. — Ele limpou a garganta e apertou as mãos em
suas calças de lã. — Eles, tipo, nunca fazem coisas juntos? — ele se esquivou.
O rosto de Ariana queimou de vergonha. — Às vezes.

128
Muito ocasionalmente, ela acrescentou silenciosamente. Ela sentiu as paredes
protetoras familiares subindo ao seu redor, e isso fez ela não se sentir bem. Ela tinha
sido tão aberta sobre seus pais com Thomas, que ela tinha que lembrar a si mesma
para ser reservada com Daniel. Ele nunca iria entender — não que ela quisesse mesmo
que ele entendesse.
— Bem, eu tenho certeza que eles fariam isso — disse Daniel. — Quero dizer, se
eles soubessem o quanto era importante para você.
Nada importante, você quer dizer? Ariana pensou ironicamente.
— Com certeza — disse ela.
— Ótimo. Enfim, meus pais perguntaram o quão sério nós éramos. Eles queriam
saber quais eram os nossos planos para o próximo ano. — Ele parecia aliviado por
estar mudando de assunto, mas, na opinião de Ariana, este não era nada melhor.
Ariana se irritou. — O que você disse a eles?
Ela teve que se concentrar para não puxar a gola do seu suéter. Parecia que o
restaurante estava ficando mais quente a cada segundo que passava. Como se fosse
um forno gigante, e alguém estivesse girando lentamente o calor. Torturando-a.
— Eu disse a eles que iria fazer funcionar a longa distância, e que provavelmente
você passaria a maioria dos fins de semana em Cambridge. — Ele fez uma pausa,
procurando seu rosto. — Eu disse a eles que eu te amo.
Fins de semana em Cambridge? Eles nunca discutiram como eles iriam lidar com
o próximo ano. Ela já tinha um plano para o próximo ano, e não envolvia Daniel.
— Eu também te amo. — As palavras soaram frias, mecânicas, vindas de sua
boca. Mas Daniel não pareceu notar.
— Então está decidido — disse ele, satisfeito. Vômito. Vômito. Enjoo.
Ariana imaginou Thomas rindo de seu diálogo interior e tentou não sorrir.
— Oh. Pois eu também disse aos meus pais que você era inacreditável na cama
— disse ele, inexpressivo. — Na verdade, talvez devêssemos voltar para minha cama
agora. Ela precisa ser batizada.
Já cuidamos disso, Ariana pensou ironicamente. Thomas teria adorado se ela
dissesse isso em voz alta.
— O que você acha? — Daniel perguntou.
— Daniel! — ela sussurrou, fingindo estar ofendida.
— Desculpe. Não pude resistir — disse ele com um sorriso de lobo.
Ariana estalou a língua e balançou a cabeça, que era exatamente o que a antiga
ela teria feito. O que ela realmente queria fazer era dizer-lhe que ela sabia tudo sobre
a sua lista de conquistas e bater na cara dele. Mas ela não podia. Ainda não. Em vez
disso, ela o olhou por cima de seu cardápio enquanto procurava uma garçonete ao
redor.
Daniel era um idiota. Ele acreditava que ela o amava, e que ela ainda era virgem
quando ela dormiu com ele durante as férias. Ter relações sexuais com ele a tinha
colocado no controle, e ele nem sabia disso. Ele era o único ingênuo. Não ela.
— Alguém trabalha aqui? — ele disse a Ariana. Ele suspirou em frustração. —
Não importa. Eu vou ali e quando eu voltar podemos pedir.
Ele deslizou para fora da cabine e caminhou até o banheiro. Ariana observou-o ir
com um sorriso. Ela adorava estar no controle.
Ela sentiu alguém persistir ao lado da cabine, e ela olhou para cima para ver uma
morena alta e bonita olhando para ela.

129
— Oi. Vou querer uma salada pequena e um chá, mas eu não tenho certeza do
que ele quer — disse Ariana, olhando em direção ao banheiro.
A menina sorriu com condescendência. — Eu não sou sua garçonete, Ariana —
disse ela. — Mas se eu tivesse que adivinhar o que seu namorado quer, eu diria que
provavelmente seria uma namorada que não o traísse no segundo em que ele vira as
costas.
— O quê? — O sangue de Ariana gelou. Ok, não havia nenhuma maneira de ela
ter ouvido a menina corretamente. O restaurante era barulhento e estava lotado, e a
moça devia ter de alguma forma confundido ela com outra pessoa. Essa era a única
explicação. Mas como ela sabia o nome de Ariana?
— O quê? Você não concorda? — a menina disse alegremente. Sua voz era
rouca. Distintiva.
Ariana abriu a boca para falar, mas o único som que escapou foi uma espécie de
tosse seca e estrangulada. Ela apertou as mãos contra seu assento para se firmar. Mas
suas mãos estavam escorregadias de suor, e elas deslizaram da superfície de vinil.
A menina abaixou-se para a cadeira de Daniel. — Ele vai te machucar — disse ela
simplesmente.
Suas palavras cortaram Ariana como uma lâmina afiada. Ela estudou a face da
menina: os olhos cinzentos, a pele pálida e suave, o cabelo castanho brilhante que caía
sobre os ombros. Apesar de seu rosto bonito, a menina tinha um lado mais duro do
que a maioria dos estudantes de Easton. Ela usava uma jaqueta de couro e um gorro
de lã velho. Um lenço azul marinho puído aparecia sob seu colarinho.
Ariana endureceu-se, fingindo indiferença. Fingindo que a simples visão de uma
garota, o som de sua voz, não enviou calafrios pela sua espinha. Ambas sabiam que
isso era uma mentira.
— Eu posso cuidar de mim e de Daniel — disse Ariana.
— Eu não estou falando de Daniel. Estou falando de Thomas. — A menina
entrelaçou os dedos sobre a mesa e se inclinou para frente. Um corte irritado e
vermelho cobria o comprimento da sua mão direita. — Eu estou começando a pensar
que você não é tão inteligente quanto todos dizem.
— Thomas? — A sala começou a girar em torno dela. Ela tinha ouvido aquela
voz antes, mas onde? Ela tentou desesperadamente lembrar. Mas sua mente tinha
ficado em branco com o medo.
— Ele não é quem você pensa que é — disse a moça em voz baixa. — Mesmo
que ele tenha feito panquecas para você ou acendeu velas para mantê-la aquecida
durante a noite. — Ela estava olhando bem através de Ariana com aqueles olhos
cinzentos e vítreos. — Mesmo que ele prometeu guardar seus segredos.
A boca de Ariana estava completamente seca, como se alguém a tivesse enchido
com serragem. Ela tentou engolir, mas não conseguia. O que essa garota sabia? E
como ela sabia? Ariana levantou a mão para o símbolo do metrô de novo.
— É claro, eu nunca fiz essa promessa. — A menina riu para si mesma, sacudindo
o cabelo sobre o ombro.
Ariana se encolheu. Isso era uma ameaça? Esta menina iria machucá-la? Ou pior,
machucar Thomas? Ela lançou um olhar frenético em direção aos banheiros. Seu
primeiro instinto foi procurar Daniel. Encontrar alguém, qualquer pessoa que poderia
protegê-la. Mas ela se conteve. Daniel nunca poderia descobrir sobre essa garota. Ela
sabia demais. Mais do que demais. Ela sabia de tudo.
Mas como?

130
— Não se preocupe — disse a menina tranquilamente, sem se virar. — Eu vou
embora antes de ele voltar.
Ariana sentiu como se alguém tivesse amarrado e amordaçado ela. Ela estava
muda, impotente. À mercê desta estranha. Ela engoliu o nó enorme em sua garganta.
— Quem é você? — ela finalmente conseguiu dizer com a voz tensa e estranha.
Ela definitivamente não estava mais no controle. Ela tentou lutar contra a náusea que
se levantou em seu estômago. Isso não estava acontecendo. Não era possível. Era para
o pesadelo ter acabado. — O que você quer?
— Não importa quem eu sou. Mas o que eu quero é Thomas — a menina
estalou. De repente, seus olhos estavam em chamas. Era como se a simples menção do
nome de Thomas a tivesse trazido à vida. Ariana agarrou seu próprio braço por baixo
da mesa, temendo por sua preciosa vida. — E ele costumava me querer. Tudo estava
perfeito. Nós nos amávamos. Então, um dia, ele me disse que ele ainda me amava,
mas que as coisas estavam muito complicadas entre nós. — Ela piscou, seus olhos
perfurando através de Ariana. — E então ele encontrou você.
Ariana abanou a cabeça lentamente. Essa garota não fazia qualquer sentido.
Claro, Thomas tinha uma reputação no campus, uma reputação para se locomover.
Mas essa garota definitivamente não era uma estudante de Easton. Ariana não
reconhecia o rosto dela. Mas aquela voz...
— Eu sempre soube que eu iria tê-lo de volta. — Um sorriso distante e fraco
surgiu nos lábios da menina. — Você é apenas um ligeiro desvio. Nós fomos feitos um
para o outro.
A menina era louca. — Thomas está comigo agora — disse Ariana, tentando
manter o seu nível de voz. Ela enfiou a mão na bolsa, e seus dedos se fecharam em
torno de uma caneta. — Não com você.
— Isso é o que você pensa — disse a moça, rindo de forma estranha. — Mas
você vai ficar longe dele. A menos que você queira que seu outro namorado saiba
mais sobre o que você andou fazendo.
Ariana não disse nada, segurando a caneta com tanta força que sua mão
começou a formigar, uma dormência deslizando sobre ela.
— Você se lembra, não é? Todas aquelas coisas que você fez. Coisas que eu
tenho certeza que Daniel estaria muito interessado em saber. O sexo... — A menina
balançou a cabeça lentamente. — O assassinato. Aquele pobre menino — ela
murmurou. — A polícia provavelmente apreciaria uma denúncia anônima a respeito
de com quem exatamente ele estava naquele lago e exatamente como ele se afogou.
— Como você sabe tudo isso? — A voz de Ariana era quase inaudível.
— Eu mantenho meus olhos abertos — a menina respondeu. — É claro, está
completamente nas suas mãos se eu vou à polícia ou não. — A menina inclinou sobre
a mesa, com os olhos frios a apenas alguns centímetros de distância. — Apenas se
lembre — você está em gelo fino. E, se me falha a memória, esse é um lugar perigoso
para se estar.
Ela se inclinou para trás, rindo da sua piada doente e retorcida. Quando ela se
levantou, puxou o lenço da gola do seu casaco com a mão cortada e o envolveu em
torno de seu pescoço. Um cachecol azul marinho xadrez e de tricô.
Ariana engasgou, reconhecendo o tecido.
— Fique longe dele — disse ela baixinho, descansando a mão no ombro de
Ariana. Ela apertou com força, cravando as unhas na pele de Ariana. — Eu não vou
pedir de novo.

131
E então ela se foi.
Ariana afundou, sem vida, dentro da cabine. Em poucos segundos, a
compreensão do que tinha acontecido entrou em sua cabeça. Suas mãos começaram a
tremer, em seguida, os braços, as pernas e os pés dela. Logo todo o seu corpo tremia,
torturado com o medo, a culpa e a vergonha.
Essa menina tinha um cachecol azul marinho xadrez e de tricô. Assim como na
foto dela e de Thomas se beijando no quarto de Daniel. O material de tricô nadou
diante de seus olhos enquanto o calor subia por seu corpo. Sergei não tinha tirado a
foto de Ariana e Thomas. Agora que ela pensava nisso, a foto dela e Thomas se
beijando no quarto de Daniel não tinha estado em sua câmera. Como ela poderia ter
sido tão estúpida? Não tinha sido ele quem tinha mexido com suas mentes, tornando
o campus de Easton um inferno.
De repente, Ariana não conseguia respirar. Tudo o que ela podia ouvir eram os
apelos de Sergei. Pedindo-lhe para ajudá-lo. Implorando para ela. Vendo seus olhos
ficarem em branco quando ele afundou abaixo da superfície do lago.
Não tinha sido ele. Mas ele tinha morrido de qualquer maneira. Assassinado.
Ariana havia assassinado ele sem uma boa razão.
Não. Não, não, não.
Tudo tinha sido em vão.
Ela agarrou a gola de seu suéter e se atrapalhou com o copo de água na frente
dela, fazendo-o cair da mesa. A família no balcão virou-se para olhar.
Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
Só então, a garçonete correu com guardanapos. — Você está bem, querida?
— Estou bem. Obrigada — Ariana mentiu. — Acabei de me lembrar que eu
tenho um lugar para ir. — Ela tinha que sair do restaurante. Agora. A qualquer
segundo Daniel ia voltar do banheiro e pegá-la no meio do ataque de pânico. Ela não
podia aguentar isso. Ela tinha que ir. Ariana pegou o casaco e tropeçou para a rua. Ela
engoliu em seco o ar de inverno, como se estivesse lutando para manter sua cabeça
acima da água. Como se ela estivesse prestes a ser puxada sob a superfície novamente.
Seu mundo estava começando a desmoronar. Ela podia sentir isso. Tudo o que
ela tinha trabalhado tão duro para manter, tudo o que ela merecia, estava
escorregando da sua mão. E ela não sabia como segurar com mais força.

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A VERDADE
Traduzido por I&E BookStore

A
riana esperou pacientemente no escuro do quarto de Thomas até que ele
voltasse. Depois de pensar por horas sobre o que aconteceu no restaurante,
ponderando sobre isso e girando ao redor, seu cérebro tinha finalmente
começado a clarear. Sergei não era culpa dela. Aquela garota era a responsável. Ela
estava lá. Ela poderia ter parado Ariana. Poderia ter dito a ela que Sergei era inocente.
Ela era a única com o sangue de Sergei nas mãos. Além disso, Sergei sabia sobre ela e
Thomas. Ele sempre seria uma ameaça. Mas essas compreensões não resolviam todos
os problemas de Ariana.
— Quem é ela? — ela perguntou em voz baixa, quando ele abriu a porta. A
pálida luz do corredor vazou pelo chão, iluminando pequenos cacos de vidro
irregulares embutidos nas tábuas do piso. A garrafa quebrada do Captain Morgan
ainda estava pousada na mesa de Thomas. Lembrando-a.
— O que... — Thomas ligou o interruptor de luz na parede e se virou. Ele caiu
contra a porta quando viu Ariana sentada de pernas cruzadas em sua cama, ainda
vestindo seu casaco e cachecol. — Jesus, Ariana. Você me assustou pra caramba. — Ele
deixou cair sua bolsa atlética e uma bola de basquete ao lado da porta, parecendo
aliviado. — O que você está fazendo aqui?
— Eu perguntei primeiro. Quem é ela? — ela repetiu de forma uniforme,
encarando-o. Apesar do fato de que o Ketlar estava aquecido novamente, um frio
rastejou sobre sua pele.
— Quem é quem? Eu não sei do que você está falando — disse ele, pairando
nervosamente perto da porta.
— Então eu vou refrescar sua memória — disse ela friamente. Ela havia confiado
em Thomas como ela nunca confiou em ninguém antes. Ela havia lhe dado sua
virgindade, e em troca, ele havia escondido algo dela. Isso ia parar. Agora. Se eles
iriam passar por isso juntos, ela tinha que saber de tudo. — Uma morena alta. Bonita.
Diz que te amava, e você deixou-a sem qualquer aviso. — Uma emoção começou a
rastejar pela sua voz, e ela a engoliu. Este não era o momento de deixar seus
sentimentos ficarem no caminho. Sentimentos só complicavam as coisas.
Lentamente, a cor sumiu do rosto de Thomas. — Eu... eu não sei de quem você
está falando.
Mentiroso. — Errado — disse Ariana calmamente, correndo os dedos sobre a
colcha xadrez desgastada embaixo dela. — Tente outra vez. — Sua voz estava plana.
Com nenhum indício da raiva que fervia dentro dela.
— Ariana, eu juro...
— Não minta para mim! — Ariana gritou, se levantando.

133
Thomas deu um passo para trás. — Tudo bem! — ele sussurrou. — Tudo bem.
Apenas se acalme.
Ariana cruzou os braços sobre o peito e esperou. Esperou enquanto Thomas
passava as mãos pelo cabelo. Compondo o que ele ia dizer.
— O nome dela é Melissa — disse ele fracamente. Ele caminhou pelo quarto e
caiu contra sua escrivaninha. — Mel Johnston. Namorei com ela por um tempo neste
outono. — Ele fez uma pausa, olhando com cautela na direção de Ariana enquanto
ele desabotoava o casaco e o jogava em sua cama.
Ariana ficou em silêncio.
— Eu a conheci através de alguns dos meus amigos de Easton High — continuou
ele. — Saímos por alguns meses e ela ficou meio pegajosa, então eu terminei tudo.
Não é grande coisa. Por favor, não...
— Quando? — ela perguntou friamente. — Quando você terminou com ela? —
O som de Thomas implorando só a deixou mais irritada. Isso o fez parecer fraco.
— Eu não sei. — Ele enfiou as mãos nos bolsos e olhou para o chão, estudando-a
como se a visse pela primeira vez. — Talvez um mês atrás? Ela não aceitou muito
bem, e eu não tive notícias dela desde então. — Ele olhou para Ariana, um olhar
suplicante queimando em seus olhos de safira. — Ouça. Acabou. Eu juro que eu não te
disse porque eu não achei que foi uma grande coisa, eu não sei por que é tão
importante...
— Porque ela sabe, Thomas! — Ariana explodiu, se lançando em sua direção. —
Ela sabe de tudo!
Ele recuou em sua escrivaninha, derrubando a garrafa quebrada no chão. O resto
dela se quebrou, enviando pedaços de vidro quebrado até os extremos confins do
pequeno quarto.
— O quê? — A voz de Thomas estava cheia de medo. — O que diabos você está
falando?
— Ela nos viu juntos — Ariana cuspiu, tentando desesperadamente manter a voz
baixa. Se alguém a ouvisse gritar e a pegasse no quarto de Thomas, eles estavam
ferrados. — Ela sabe que fizemos sexo. Ela sabe sobre Sergei. — Lágrimas brotaram em
seus olhos ao som desse nome. — E ela me disse que se eu não ficar longe de você, ela
vai dizer tudo a Daniel. Ela disse que iria à polícia. — O peso da ameaça era palpável
e pesado no ar. — A polícia, Thomas.
— Oh meu Deus. — Thomas esfregou o rosto com as duas mãos, expirando
lentamente. — Tudo bem. Me dê um segundo para pensar. — Ele pulou da
escrivaninha, andando para lá e para cá na frente da cama. Com a cabeça abaixada.
Vidro rangia sob cada passo dele. — Como você... — ele começou. — Onde ela
encontrou você?
— Na cidade.
Ariana de repente se sentiu exaurida. Até o último resquício da sua força tinha
sido drenado de seu corpo. Ela se esforçou ao máximo para poder respirar. Inspirando
e expirando. Uma respiração de cada vez. Ela caiu na cama de Thomas, inalando o
cheiro de seu travesseiro. Mas até mesmo o seu cheiro familiar não poderia consolá-la
agora.
De olhos fechados, ela respirou fundo e disse-lhe tudo o que esta menina, Mel,
tinha dito — exceto, é claro, exatamente como Sergei tinha morrido.
— Ela está falando sério, Thomas — disse Ariana baixinho, desejando que
pudesse afundar-se no colchão e desaparecer. — Eu sei que está.

134
— Vadia louca. — Thomas olhou para o chão por um tempo. — Como diabos
ela sequer sabe sobre nós?
— Eu não sei, mas ela estava nos seguindo todo o fim de semana — disse Ariana.
— Estou surpresa que ela e Sergei não toparam um com o outro no...
De repente, a verdade correu para Ariana. Ela bateu com tanta força que seu
cérebro ficou nebuloso por um momento. Mas quando ele clareou novamente, ela
tinha certeza. Ela sabia exatamente como Mel havia descoberto sobre eles.
— A loja North Face — ela disse calmamente.
— O quê? — Thomas disse.
— Ela estava na loja naquela noite. Quando eu estava fazendo compras para
Daniel e você... me surpreendeu — disse Ariana, com o coração batendo forte. — Eu
me lembro da voz dela. Você estava prestes a me beijar e depois...
O rosto de Thomas se iluminou com entendimento.
— Puta merda. Foi ela quem bateu no raque e nos parou.
— Eu sabia que eu conhecia a voz dela. Ela pediu desculpas — disse Ariana. —
Essa deve ter sido a primeira vez que ela nos viu.
— Como é que você reconheceu a voz dela hoje à noite, se nem eu percebi na
loja? — perguntou Thomas.
— Eu tenho uma coisa para captar mais detalhes — disse Ariana rapidamente. —
Quem se importa? A questão é: o que vamos fazer?
— Eu não sei. Eu não sei — disse Thomas. A raiva e o pânico estavam
começando a se infiltrar em sua voz, e o vidro triturava mais alto, mais
insistentemente sob seus pés enquanto ele cruzava o quarto. — Se ela contar, eu vou
perder tudo. Easton, minha herança. — Ele parou de repente na frente de sua porta e
deu um murro nela.
— Thomas! — Ariana pulou da cama e agarrou o braço dele antes que ele
pudesse socar novamente. Ela ignorou a pequena voz no fundo de sua mente dizendo
que Thomas não tinha dito que ele não poderia perdê-la. — Pare com isso! — Ela
agarrou seu suéter, tentando puxá-lo para longe. Ele tentou afastar ela, mas ela se
abaixou entre seu corpo e a porta, bloqueando-o. Pegando sua mão, ela viu que
pequenas gotas de sangue tinham aparecido em seus dedos.
Ela sustentou seu olhar, mantendo a conexão entre eles como um fio
rapidamente se desgastando. Ela podia senti-lo se afastando, afastando-se dela. E tudo
isso por causa de Mel. Ela era a culpada.
— A culpa é minha — disse ele, com a voz embargada. — Essa coisa toda é
minha culpa.
— Não. — Ariana colocou as mãos ao redor da parte de trás do seu pescoço. Ele
estava encharcado de suor. — Não. Não diga isso.
— Por que não eu? — Thomas retrucou, afastando-se. Seu lábio superior se
contraiu ligeiramente. — É verdade, não é? Nada disso estaria acontecendo se eu não
tivesse ferrado com ela. Eu não posso ser expulso de Easton. Eu não posso.
Thomas respirou fundo e olhou para Ariana. Ela podia ver sua respiração
começar a normalizar e ela sentiu uma vibração de orgulho. Ele confiava nela, a
amava. Ela era capaz de acalmá-lo. Ele estava chateado, porque ele sabia que Mel
poderia arruinar tudo para os dois.
— Nós temos que fazer alguma coisa — disse Ariana com firmeza. — Nós temos
que detê-la.

135
— O que podemos fazer? — Thomas disse. — A menina é louca. Você disse que
ela quer que você fique longe de mim, não é?
— É.
— Então apenas certifique-se de que ela não nos veja juntos. — Ele inclinou a
cabeça na direção dela. Estendeu a mão para tocar a mão dela. — Nós vamos ficar
separados este ano, de qualquer jeito. Agora temos que ser ainda mais cuidadosos
quando nos encontramos.
Ele estava tentando tranquilizá-la, mas não foi o suficiente. Eles haviam
planejado se manterem discretos o resto do ano, mas também tinham planejado estar
juntos no próximo ano, depois que Daniel tivesse ido embora. Por que Thomas não
estava preocupado com o próximo ano? Por que ele não queria ter a certeza de que
Mel nunca teria a chance de delatá-los? Ariana virou-se para ele, olhou em seus olhos.
Eles estavam em branco, ela não conseguia lê-lo.
— Então teremos cuidado este ano — ela começou. — Mas e...
Ela sentiu-o recuar um pouco, e ela congelou. Teria sido imperceptível para
qualquer outra pessoa. Mas não para ela. Ela já o conhecia bem o suficiente para saber
todos os seus movimentos. Ela o conhecia bem o suficiente para saber que ele nunca
iria ficar com ela enquanto Mel estivesse em cena. Ele sabia que Mel poderia
prejudicá-los, e ele queria proteger Ariana. Protegê-la porque ele a amava. Mas
protegê-la significava se afastar. E ela não podia deixar isso acontecer.
Uma calma profunda caiu sobre ela, acalmando seus nervos em chamas. Ela
encaminhou-se para a porta.
— Onde você está indo? — Thomas levantou-se atrás dela.
— Eu tenho que voltar para o Billings — disse ela simplesmente. — Noelle vai
começar a se perguntar onde estou. Ou pior, Paige.
— Tudo bem — disse ele. — Vejo você mais tarde?
— Claro.
— Espera. — Thomas agarrou seu braço, puxando-a de volta. — Você está bem?
Ela abriu a porta e olhou para o corredor. Ele estava vazio.
— Eu estou bem — disse ela tranquilizadoramente. E ela estava. Mas ele não
estava. Ele parecia tão preocupado, tão assustado. Tão frágil. E nesse instante ela
soube que ela era a única pessoa que poderia cuidar dele do jeito que ele precisava. A
única que poderia ter certeza de que ele não desmoronasse.
E, afinal de contas, não era isso o que era estar apaixonado?

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PAZ
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A
riana agarrou a cerca de arame e ficou maravilhada com o quão bem as luvas
que Noelle lhe dera a mantinha aquecida. Apertando os olhos para o pesado
nevoeiro, ela olhou para as grandes portas duplas que pairavam no topo de
vários conjuntos de degraus desconexos. Um grande arco de pedra esculpido com as
palavras Easton High School, const. 1935 desintegrava-se sobre as portas. Havia
musgos penetrados nas fendas das letras, dando-lhes uma coloração esverdeada. Com
a exceção de uma bandeira americana esfarrapada chicoteando no vento, o terreno
da escola estava vazio. Silencioso.
Passou um carro ruidoso — prata, de quatro portas, com o escapamento
quebrado — e Ariana olhou para o relógio. Só então o barulho áspero do sinal da
tarde ecoou nos corredores e em torno das dependências desertas. Segundos depois,
as portas se abriram e uma onda de estudantes começou a descer os degraus. Ela
ignorou o barulho que inundou o pátio enquanto eles se dirigiam para a rua.
Acomodada na calma tranquila da sua mente, ela procurou nas multidões um rosto
familiar. Desta vez seria diferente. Desta vez, ela iria pegar Mel de surpresa.
Ariana quase não a viu, em jeans e a mesma jaqueta de couro que ela usara no
dia anterior. O mesmo cachecol escuro estava enrolado ao redor do seu pescoço
longo. Mel cruzou os braços sobre o peito e desceu as escadas de dois em dois,
mantendo a cabeça baixa. Instintivamente, Ariana se virou quando Mel passou pelos
portões altos. Os outros alunos estavam amontoados em grupos, rindo e
conversando. Mel ficou sozinha, esquivando-se através dos estudantes sem reconhecê-
los. Ariana observou quando Mel moveu-se rapidamente pela calçada, evitando as
ervas daninhas no cimento rachado.
— Ei!
Ariana olhou para cima, assustada. Um garoto alto, com calças de camuflagem,
estava bloqueando seu caminho. Um cigarro apagado estava pendurado entre seus
lábios. Um grupo de alguns caras estava atrás dele, sorrindo em sua direção.
— O quê? — ela retrucou, mantendo seu olho em Mel. A distância entre elas foi
aumentando rapidamente. Ela sentiu seu coração pulsando em seu peito. Ela não
podia perdê-la. Esta era sua chance.
— Tem fogo? — o garoto zombou, dando um passo mais perto.
— Não. — Ariana abanou a cabeça, olhando por ele. — Eu não fumo.
— Sem problemas. — Ele tirou o cigarro de entre os lábios e enfiou-o no bolso.
— Você é nova por aqui?
— Mais ou menos. — Mel estava atravessando a rua, passando pelo
estacionamento do posto de gasolina na esquina. Se Ariana não se movesse rápido, ela
ia perdê-la de vista. Ela passou empurrando pelo grupo de rapazes. O som agudo de

137
seus saltos batendo contra o cimento superou os risos e os gritos atrás dela. Ela correu
através da rua e desacelerou quando chegou ao estacionamento. Mel não estava
muito à frente.
Ariana ficou para trás, seu batimento cardíaco trovejando em seus ouvidos.
A poucas quadras do posto de gasolina, Mel atravessou a rua de novo, descendo
uma pequena rua lateral cheia de pequenas moradias decadentes. Ela destrancou o
portão em frente da última casa na rua e subiu os degraus até a porta da frente.
Ariana se escondeu atrás de uma árvore na beira do quintal, olhando para ela.
Mel retirou sua mochila dos ombros e vasculhou dentro dela, puxando uma
única chave. Ela entalou seu corpo entre uma porta de tela rasgada e a porta da
frente, e inseriu a chave na fechadura. Um alívio envolveu Ariana, e ela afundou de
costas contra a casca áspera da árvore com um pequeno sorriso.
A menina estava sozinha.
Assim que a porta de tela se fechou, Ariana deslizou pelo quintal. Ela fechou a
mão enluvada ao redor da maçaneta enferrujada e tomou uma respiração lenta e
profunda. Só havia uma coisa que se interpunha entre ela e Thomas Pearson. Uma
coisa que ameaçava a felicidade que ela tinha encontrado.
Ela balançou a cabeça quando ela torceu a maçaneta devagar. Thomas havia
deixado Mel, mas ela realmente acreditava que eles ainda poderiam ficar juntos.
Acreditava que eles foram feitos um para o outro. Ela se recusava a aceitar o fato de
que tudo estava acabado. Que Thomas amava Ariana, que a queria. Ele deixou isso
bem claro, mas Mel estava muito cega pela sua própria obsessão para ver isso.
Ariana quase sentiu pena da menina.
A porta de madeira velha rangeu lentamente quando ela abriu. Ela piscou no
momento em que ela entrou pela porta de entrada, seus olhos se ajustando à
escuridão que apareceu na frente dela. Fechou-se sobre ela. Ela levantou a mão a
apenas alguns centímetros na frente de seu rosto, mas ela não conseguia ver nada.
Deslizando as mãos contra a parede ao lado dela, ela se moveu lentamente através da
sala.
De repente, a porta se fechou atrás dela. O coração de Ariana se agitou. Ela
fechou os olhos e se esforçou para ouvir o som da voz de Mel. Seus passos. Mas ela
não ouviu nada exceto o zumbido baixo do calor filtrando através dos radiadores. E o
som de sua própria voz em sua cabeça. Motivando seu corpo a fazer o que tinha que
ser feito.
Silenciosamente, Ariana pressionou seu corpo contra a parede, o suor pingando
do seu rosto até seu pescoço, e para baixo do seu corpo. Seu sangue trovejava em seus
ouvidos, inundando suas veias em alta velocidade. A parede de repente desapareceu
de trás dela, e ela se virou. Ela estava de pé em um longo corredor. O carpete era
cinza claro e desgastado — de aparência barata. Um sorriso se contorceu nos cantos
de sua boca enquanto ela via a porta fechada de um quarto no final dele. Uma luz se
derramava por baixo da porta, como se para guiá-la pelo corredor.
Ela prendeu a respiração enquanto se dirigia ao quarto. À luz cinzenta que
encharcava o corredor, ela acelerou passando entre as fotografias de família que
pendiam de cada lado dela. Fotos de bebês, fotos de casamento. Uma foto de Mel
com uma postura rígida — provavelmente um retrato da escola. Ariana manteve a
cabeça baixa. Quando ela chegou à porta, ela agarrou a maçaneta com tanta força
que machucou sua mão enluvada.

138
Ao abrir a porta devagar, ela entrou em um quarto que parecia estranhamente
semelhante ao seu lado do quarto do Billings. Era perfeitamente organizado. Ao lado
da porta, uma cômoda gasta estava coberta com algumas fotografias emolduradas e
uma cartola de plástico preta com as palavras Feliz Ano Novo impressas com letras
brilhantes. Havia uma mesa com apenas um computador ao lado do guarda-roupa.
Do outro lado do quarto, Mel estava em uma cama de casal coberta com uma
manta violeta e alguns travesseiros. Seus olhos estavam fechados, e uma longa perna
caía para o lado da cama, com o pé tocando o chão atapetado com a batida da
música de guitarra que vazava de seus fones de ouvido. Uma única lâmpada brilhava
do abajur sobre a mesa de cabeceira ao lado da cama.
Ariana fechou a porta atrás dela. A fechadura ecoou com um clique satisfatório,
e ela atravessou o quarto e parou à beira da cama de Mel. Ela notou uma foto na
mesa de cabeceira, uma foto que ela não tinha sido capaz de ver da porta. Uma raiva
agitou dentro dela quando ela olhou mais de perto. Era uma foto de Thomas. Uma
foto dele no futebol. Ele estava ajoelhado no campo com seu uniforme, sua bola de
futebol presa debaixo de um braço. Ariana mordeu a carne no interior de sua
bochecha para não gritar. Ela se inclinou sobre a cama, seu corpo lançando uma
sombra sobre a forma de Mel.
As pálpebras de Mel piscaram e abriram, alargando de horror quando Ariana
segurou a mão sobre a boca dela. Entorpecendo o grito que sacudiu o corpo de Mel.
Ela tirou os minúsculos fones de ouvido brancos das orelhas de Mel e jogou o iPod no
chão. A música continuou a retumbar através do quarto. Mel se mexeu sob o aperto
de Ariana.
— Cale a boca — Ariana estalou. — Cale a boca e eu te solto. Eu só quero
conversar com você.
Mel assentiu em silêncio, seu corpo deflacionando no cobertor embaixo dela.
Ariana tirou a mão lentamente, dando um passo para trás da cama. — Não se
mova — ela alertou.
— O que você quer? — Mel estalou. Ela arrastou-se para o canto da cama mais
próximo à parede, olhando para Ariana com seus olhos cinzentos escuros. Ariana
poderia dizer que ela estava tentando parecer com raiva. Mas, em vez de raiva,
Ariana viu algo mais. Medo puro. Seus lábios se curvaram em um meio sorriso. Ela
sentia o corpo completamente relaxado, drenado de qualquer tensão ou raiva que ela
sentiu com relação a essa garota antes. Ela estava calma, controlada.
Porque Mel estava com medo. E esse medo colocava Ariana no controle.
— Eu acho que você sabe o que eu quero — disse ela suavemente. — Eu quero
Thomas. Mas você estava querendo levá-lo para longe de mim. — Ela estendeu a mão
para o abajur sobre a mesa de cabeceira de Mel. Ele estava quebrado em vários
lugares, e ela traçou as rachaduras devagar, deliberadamente, com a ponta do seu
dedo indicador, as luvas de cashmere ocasionalmente enganchando nos pequenos
cortes. — Eu acho que nós duas sabemos que eu não posso deixar isso acontecer,
Melissa.
O corpo de Mel agora estava levantando, seu rosto avermelhado. — Você o
roubou — ela disse, sua voz profunda ficando progressivamente mais alta sobre o som
de um solo de guitarra que irradiava dos fones de ouvido no chão. — Ele é meu, e...
— Não mais — disse Ariana bruscamente, cortando-a. — Ele não é mais seu. Ele
nunca vai querer você de volta depois de tudo o que você fez com ele. Tudo o que
você fez com a gente. — Seu pulso estava começando a acelerar novamente, e ela fez

139
uma pausa, dizendo a si mesma para se acalmar. Ela regulou a respiração. — Nos
perseguindo, nos chantageando, roubando a minha foto...
— Isso não fui eu — disse Mel freneticamente, agarrando o cobertor em seus
punhos. Pressionando as costas contra a parede. — Foi aquele menino. Ele invadiu seu
quarto e roubou a foto. Eu o vi fazer isso.
— Mentirosa. — Ariana sibilou. — Sergei era inocente. Ele nunca fez nada para
machucar você. E você o matou.
— Eu o matei? — Mel riu, olhando corajosamente nos olhos de Ariana. —
Parece que você esqueceu a parte mais importante da história, Ariana. A parte em que
ele implorou por sua vida. Que pediu para você ajudá-lo. A parte onde você
empurrou-o para baixo. E a parte em que você mentiu para Thomas sobre isso. Então,
eu seria cuidadosa com quem eu chamo de mentirosa, se eu fosse você.
O súbito comportamento controlado de Mel enviou choques de fúria através de
Ariana. Ela só mentiu para Thomas porque ela tinha que mentir. Ela apenas o reservou
do conhecimento de como Sergei tinha morrido. O protegeu. Suas mãos começaram a
tremer.
— Você acha que Thomas vai querer você quando descobrir o que você fez com
aquele menino? — Mel gritou, inclinando-se sobre a cama. — Você acha que ele vai
querer ficar com uma assassina? — Ela mergulhou em direção a Ariana, com um olhar
selvagem nos olhos. — Ele vai deixar você! Assim como ele me deixou!
— Não! — Ariana pegou o abajur na mesa de cabeceira, envolvendo o punho
em torno da sua base. O cabo arrancou da parede quando Ariana pulou para a cama
e o quarto mergulhou na escuridão.
Em um instante estava tudo acabado, e mais uma vez Ariana estava em paz.

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33
I-L-E-G-A-L
Traduzido por I&E BookStore

—E
u ouvi sobre o que aconteceu — Isobel sussurrou para Ariana no meio
da aula do Sr. Holmes no dia seguinte. Suas reluzentes mechas escuras
caíam sobre seu rosto. — Sobre o que você fez durante as férias? — Seus
olhos verdes estavam arregalados, incrédulos.
Um súbito arrepio percorreu o corpo de Ariana. Isobel não podia saber. Era
impossível. Não havia nenhuma única alma viva que sabia o que tinha acontecido;
Ariana tinha certeza disso. Mas Ariana sabia o segredinho sujo de Isobel; era possível
que Isobel soubesse o dela? Ela manteve seu olhar fixo à frente. O Sr. Holmes estava
gesticulando em direção ao quadro, mas ela não ouviu uma palavra do que ele estava
dizendo.
— Eu não sei do que você está falando — ela sussurrou de volta, dando uma
olhada ao redor do semicírculo de cadeiras para ver se Paige conseguia ouvir algo de
sua posição a algumas cadeiras de distância. Paige estava ocupada demais mandando
mensagens de texto em seu BlackBerry para notar.
Connie Tolson se inclinou para frente em seu assento e lançou um olhar de
morte para Ariana.
— Por favor — disse Isobel, estreitando os olhos conscientemente na direção de
Ariana. — Não se faça de inocente comigo, Ariana. Noelle me contou tudo.
Noelle? Ariana estava começando a se sentir fraca. Era verdade que Noelle era
sempre a primeira a saber de tudo o que acontecia no campus. Era verdade que ela
sempre parecia saber exatamente o que Ariana estava pensando, sentindo. Mas ela
tinha sido tão cuidadosa. Amarrou até a última ponta solta. Ela colocou os braços ao
redor de seu corpo, enrolando-se em si mesma. — Noelle sabe?
Isobel assentiu. — Eu me encontrei com ela para tomar uns drinks no Platinum
no final das férias. Só precisou de um Martini e meio para fazê-la contar tudo. — Ela
se inclinou mais perto. — Essas coisas são brutais — ela riu. Seu denso perfume Anna
Sui invadiu o espaço ao seu redor, e Ariana foi dominada com uma onda de náusea.
— Então — continuou Isobel, exibindo um sorriso diabólico. — Como você fez isso?
A cabeça de Ariana virou em direção a ela, incrédula. Como ela podia ser tão
blasé? Ela notou o Sr. Holmes olhando em sua direção, e ela abriu a sua bolsa de
jacaré, fingindo procurar uma caneta.
— Acho que minha primeira vez foi missionária — disse Isobel com um
pensativo jogar de cabelo. — Com Jordan Krauss? Ele se formou no ano passado. Um
pouco chato. Mas eu praticamente só tive que ficar ali e deixar que ele fizesse todo o
trabalho.
O alívio correu para Ariana como uma brisa quente do Caribe no auge do
inverno. — Você está falando de Daniel e eu? — ela sussurrou.

141
— Tudo bem. — Isobel sorriu. — Se faça de tola por agora. Mas eu quero saber
toda a história mais tarde.
Ariana sorriu de volta, com o coração batendo normalmente. — Senhorita
Osgood? — O Sr. Holmes estava olhando diretamente para ela, um olhar divertido
em seus olhos. — Espero não estar interrompendo alguma coisa?
— Não — ela disse fracamente.
Ela olhou para seu colo, suas bochechas queimando. Claro que ele tinha
repreendido ela na frente de toda a classe, sem sequer reconhecer que Isobel tinha
falado também. Aparentemente, tudo o que Isobel tinha aprendido com Jordan
Krauss era bom o suficiente para deixá-la imune pelo resto do semestre.
— Ótimo. — Ele assentiu, afrouxando a gravata. — Eu estava apenas dizendo
que nós vamos começar Les Misérables de Hugo na próxima semana. Estejam prontos
para discutir o prefácio e os cinco primeiros capítulos. — Ele caminhou ao redor da
borda da sua mesa e tirou um grosso envelope pardo de sua bolsa. — E é isso por
hoje, pessoal — anunciou ele, desenrolando o cordão fino que segurava o envelope
fechado. — Assim que vocês tiverem recebido seus trabalhos sobre Madame Bovary
de volta, vocês estão livres para ir. — Ele jogou a pilha sobre a mesa e puxou o
primeiro trabalho da pilha. — Aldridge?
— Então, o que você fez durante as férias? — Ariana virou-se para Isobel
enquanto as conversas na sala de aula cresciam em torno delas. — Algo legal?
— As minhas férias não foram tão emocionantes como as suas, isso é certo. —
Isobel riu. — Eu cortei a franja. — Ela tocou a franja pesada que caía sobre sua testa.
— Fora isso, eu estava presa indo a um monte de jantares com os meus pais quando
eles voltaram de férias. A única coisa legal que aconteceu foi o fato de que Jack foi me
visitar. — Ela baixou a voz, um meio sorriso brincando em seus lábios. — Engraçado
como uma rapidinha no armário de casacos durante as porções de saladas faz você
aproveitar mais a sobremesa e o café. — Ela riu, puxando um batom de sua bolsa.
— Que divertido — Ariana ecoou, observando Isobel mergulhar seu dedo anelar
no gloss pegajoso e aplicá-lo habilmente em seus lábios suaves. — Mais alguma coisa?
Isobel olhou para ela. Inocência irradiava de seus poros, mais densa do que o seu
perfume. — Na verdade não.
Ariana tentou disfarçar o nojo que se arrastou por ela, enquanto observava
Isobel verificar seu reflexo em seu espelho compacto. Isobel Bautista era o exemplo
perfeito de tudo o que havia de errado na Academia Easton. Impecável do lado de
fora. Mas o que estava escondido debaixo de seu brilhante verniz era imperfeito.
Vergonhoso.
— Osgood. — O Sr. Holmes jogou o trabalho de Ariana em sua mesa, e ela o
pegou antes que ele caísse no chão. Ela o virou de ponta cabeça e olhou para as
grandes marcas vermelhas na folha de rosto. C-mais. Ela apertou sua mandíbula
quando a letra nadou na frente dela.
— Pronta para ir? — Isobel fechou seu pó compacto e se levantou.
— E o seu? — Ariana olhava entorpecida para sua mesa.
— Eu tirei um A — ela respondeu, colocando algumas folhas de papel em sua
bolsa. Ela riu para si mesma e puxou o casaco Miu Miu cor de ameixa em cima do seu
cachecol. — Quer sair daqui e tomar um café?
— Eu adoraria um café com leite. — Paige apareceu atrás de Isobel, vestindo
botas até o tornozelo cor de canela e o novo vestido suéter decotado que ela tinha
comprado durante as férias.

142
— Ótimo — Isobel falou. — Ariana vai nos contar tudo sobre as suas pequenas
travessuras das férias. — Alguns segundos tarde demais, sua mão bem cuidada voou
para a sua boca. — Ups.
As bochechas de Ariana coraram.
— Poupe-me dos detalhes, Isobel — Paige zombou, sem olhar para Ariana. — É
do meu irmão que você está falando.
— Eu... eu não estava pensando — Isobel gaguejou.
— Chocante. — Paige bocejou. — Vamos sair daqui.
Ariana baixou o olhar para o trabalho em suas mãos. C+. Isso não poderia estar
certo. Ela nunca tinha tirado nada menos do que um A-menos em toda a sua vida. E o
Sr. Holmes deveria ser um bom avaliador. A raiva cresceu em seu peito. Ela não podia
deixá-lo escapar disso. Não era justo.
— Ariana? — Isobel descansou a mão na manga de Ariana.
— Vão vocês — ela murmurou. — Eu tenho que perguntar uma coisa ao Sr.
Holmes.
Isobel levantou uma sobrancelha perfeitamente arqueada. — Você quer que a
gente espere?
Ariana abanou a cabeça. — Eu encontro vocês no Billings.
— Tudo bem. — O celular de Paige tocou, e ela apertou-o contra seu ouvido,
correndo para fora da sala de aula.
— Não demore muito — Isobel brincou. — Assim que você tiver terminado, eu
quero saber dos detalhes sórdidos.
Ariana forçou uma risada. Soou estranha e gutural aos seus próprios ouvidos. —
Você vai tê-los, eu juro.
— Essa é a minha garota.
Ela colocou sua bolsa debaixo do braço e caminhou para o corredor. Fazendo
uma breve pausa na frente da mesa do Sr. Holmes, ela passou a ponta do dedo
sedutoramente ao longo da madeira polida antes de sair pela porta. Ela pensava que
era tão esperta. Ambos pensavam. Pensavam que iam escapar impunes. Eles não
poderiam estar mais errados.
Ariana esperou o último dos estudantes pegar seus trabalhos e se dirigir para a
porta e para o corredor. Calmamente, ela vestiu seu casaco, reuniu seus livros e se
dirigiu para a frente da sala. O Sr. Holmes estava debruçado sobre as palavras
cruzadas, murmurando alguma coisa para si mesmo. Ela ficou na frente da sua mesa,
olhando para ele. Esperando. Depois de alguns minutos, ele olhou para cima.
— Senhorita Osgood. — Ele parecia genuinamente surpreso ao vê-la. — Você
não ficou para trás para me dizer uma palavra de seis letras para “joias preciosas”,
ficou? — Ele sorriu, colocando a caneta no bolso da camisa.
— Bijoux. — Ariana deixou seu trabalho escorregar de sua mão. Ele escorregou
para sua mesa, pousando em cima do jornal. — Você me deu um C-menos.
O Sr. Holmes exalou lentamente, inclinando-se para trás na cadeira. — Você
merecia um C-menos — disse ele, folheando as páginas. — Esse não foi o seu melhor
trabalho, Ariana — disse ele suavemente. — Você é melhor que isso. Nós dois
sabemos disso. Mas eu tinha que ser justo.
— Justo? — Ela riu amargamente. Estendendo a mão para a sua bolsa, sua mão
se fechou em torno de um celular. Ela correu os dedos lentamente sobre as teclas, feliz
em saber que ela tinha o poder de obter exatamente o que ela merecia.

143
Ele acenou com a cabeça. — Eu sei que você vai me mostrar algo melhor em Les
Misérables, e não se preocupe com isso. Você ainda tem um A do primeiro semestre.
— Ele sorriu calorosamente, entrelaçando as mãos no colo. — Alguma outra
pergunta?
Ela assentiu com a cabeça, puxando o celular de sua bolsa. — Eu estava
pensando... — ela começou quando o choque e a surpresa passaram brevemente
sobre suas feições. Seus dedos voaram sobre as teclas, e ela inclinou a tela em direção
a ele, segurando-a fora de seu alcance. — O que é uma palavra de seis letras para o
sexo com uma estudante de dezessete anos de idade? — Ela apertou o botão na
lateral do telefone e sorriu ao ouvir o som do Sr. Holmes gemendo o nome de Isobel.
— Pare. — Sua voz estava tensa. Desesperada. — Desligue isso. Agora.
— Mas estávamos apenas começando a parte boa. — Ela fez uma pausa no
vídeo, batendo os cílios para ele. — Ah. Eu já sei — ela anunciou docemente,
inclinando a cabeça para o lado. — I-L-E-G-A-L.
A cor tinha sido drenada completamente do rosto do Sr. Holmes. — Onde você
conseguiu isso? — Ele estava tentando soar severo, mas sua voz vacilou com medo.
— Será que isso importa?
Ele balançou a cabeça lentamente. — Não. Claro que não.
Ele tirou uma caneta do bolso e baixou a mão trêmula em seu trabalho.
Deliberadamente, ele riscou o C+ e rabiscou um grande A vermelho no centro da
página. Ele nem sequer olhou para ela quando ele entregou o trabalho de volta. Mas
ela jamais tirou os olhos de cima dele.
— Obrigada. Eu suponho que você vai atualizar o seu livro de notas também? —
ela disse com um sorriso.
— Claro.
— A propósito, só para constar, eu realmente gostei do livro. — Ela colocou o
trabalho em sua bolsa. — Ele me ensinou muito.
— Que bom. — Ele assentiu, ainda olhando para baixo. — Estou feliz. Mais
alguma coisa em que eu possa ajudá-la?
— Isso é tudo por agora. — Ela pairou sobre sua mesa por mais alguns
momentos, desafiando-o a olhá-la nos olhos. Ele não o fez. — Mas eu aviso quando
eu precisar.
Ela deixou cair o celular em sua bolsa. Antes que ela entrasse no corredor, ela
lançou um último olhar para o Sr. Holmes. Ele estava debruçado sobre sua mesa,
passando as mãos pelos cabelos. Destruído. Mas ela não se sentia nem um pouco
culpada. Ele tinha conseguido exatamente o que ele merecia.

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ESTÚPIDA
Traduzido por I&E BookStore

A
riana correu para o Mitchell Hall mais tarde naquela noite, apenas minutos
antes de a aula de história mundial do Sr. Barber terminar. Seu peito subia e
descia em antecipação quando ela subiu as escadas e abriu as portas. O
corredor estava vazio, e ela podia ouvir os sons abafados de cadeiras raspando e risos
vindo do final do corredor. Seu timing foi perfeito. Ela desacelerou para um passeio
— uma Garota do Billings não poderia ser pega correndo nos corredores — e parou
do lado de fora da última porta à esquerda.
A porta estava aberta em uma fresta, e ela sentiu uma onda de calor quando
ouviu a voz de Thomas saindo da sala de aula. Ele ficaria tão feliz quando ela lhe
dissesse. Quando dissesse a ele que ela tinha cuidado de tudo, que seu plano não
estava mais em perigo.
Eles ainda poderiam ficar juntos no outono. Ninguém iria ficar em seu caminho.
Ela enrolou uma mecha de cabelo em torno de seu dedo indicador e sorriu. Ela
tinha tudo planejado. Finalmente, a sua vida se desenrolava do jeito que era para
acontecer. Thomas era o seu felizes para sempre.
A porta da sala se abriu, e Ariana saiu do caminho. Os alunos empurraram uns
aos outros no corredor. Ela achatou-se contra a parede, com a esperança de ter um
vislumbre de Thomas no meio da multidão. Finalmente, ela o viu com uma bola de
futebol debaixo do braço. Ele jogou a bola acima da sua cabeça e o garoto atrás dele
pegou-a no ar.
— Me devolva, idiota. — Thomas riu, empurrando o garoto contra a parede.
Ele pegou a bola e ficou para trás, enquanto o resto da turma continuou pelo
corredor. Em um movimento suave, ele deixou a bola cair no chão, driblando-a
lentamente em direção às portas duplas.
Ariana adorava observar Thomas. Havia uma vulnerabilidade nele que ninguém
em Easton nunca tinha realmente visto. Para eles, ele era o jogador, o bad boy
indescritível. Só mais um garoto intitulado com uma família ferrada. Mas Ariana viu o
verdadeiro Thomas Pearson. Ela o viu na forma como o seu rosto relaxava
completamente quando ele dormia, e na forma como ele enfiava as mãos nos bolsos
quando ele ficava nervoso. No caminho, ele sorriu para si mesmo quando ele pensou
que ninguém estava olhando.
Ela aproximou-se por trás dele e cobriu seus olhos com as mãos.
— Adivinha quem é — ela sussurrou, seus lábios perto de seu ouvido.
Thomas se virou, surpreso. — O que você está fazendo? — Ele se abaixou e
pegou a bola do chão.
— Se eu não soubesse melhor, eu diria que você não está feliz em me ver —
disse Ariana com seus ombros tensos.

145
— Não é isso. — Ele pegou-lhe o pulso e puxou-a para uma sala de aula vazia,
fechando a porta atrás deles. Quando ele se virou para olhar para ela, sua expressão
era séria. Seus olhos corriam para a janela pequena na porta, como se ele tivesse
medo de que alguém espiasse lá dentro. — Você precisa ser mais cuidadosa. Você sabe
como as fofocas viajam rápido em torno deste lugar. E agora com Melissa...
Ariana sorriu. — Eu não estou mais preocupada com Melissa.
Thomas piscou. — Eu estou confuso. Ontem você estava toda assustada com ela.
— Isso foi ontem — disse Ariana friamente, traçando a ponta do dedo sobre a
superfície lisa de uma das mesas de carvalho, fazendo um pequeno coração. — A
partir de hoje, sua namorada não vai mais incomodar a gente.
Thomas olhou-a com curiosidade. Ele não estava entendendo.
— Eu já cuidei dela — Ariana esclareceu.
Ela observou-o atentamente, esperando o alívio aparecer em sua expressão. Em
vez disso, os músculos de seu rosto ficaram tensos. Sua mandíbula se apertou e Ariana
sentiu a mais breve vibração de incerteza.
— O que você quer dizer com você cuidou dela? — ele perguntou, dando um
pequeno passo para trás. — O que você fez, Ariana?
Ariana olhou para seus tênis enlameados. Por que ele se afastou? Esse
movimento a tinha desconcertado completamente. Tinha tomado sua confiança.
— Não importa — disse ela rapidamente, acenando com a mão. Ela deu um
passo em direção a ele, fechando o espaço entre eles mais uma vez. — Tudo o que
importa é que nós podemos ficar juntos agora. Ela não pode mais nos machucar.
Ariana estendeu a mão para ele, mas ele se afastou. Seu coração caiu em seu
estômago como uma pedra, e as lágrimas brotaram instantaneamente em seus olhos.
Era para ele estar aliviado, não com raiva. Ele deveria estar grato. Eufórico. Será que
ele não percebia o que ela tinha feito por ele? Por eles?
— Que porra você fez com ela? — Thomas gritou, com a voz embargada.
O coração de Ariana parou. Pela primeira vez, ela sentiu medo de Thomas.
— Eu... Eu fiz o que tinha que fazer. Ela ia estragar tudo para nós, Thomas. Mas
agora...
— Fez o que tinha que fazer? O quão estúpida você é, Ariana? — Thomas
deixou escapar, enfiando as mãos nos cabelos. Seu rosto estava contorcido de medo e
raiva. — De quem você acha que eles vão vir atrás? Eles vão vir atrás de mim!
Ariana lutava para respirar. Ela nunca o tinha visto tão zangado. Tão fora de
controle. — Não, eles não vão. Eu pensei nisso. Eu tive a certeza de que você tinha
um álibi. Você estava na sala de aula. Quinze outras pessoas serão capazes de
inocentá-lo.
Thomas olhou para ela com as narinas alargadas. — Você tem certeza.
— Eu tenho certeza — disse ela, seu pulso se acalmando quando ele começou a
relaxar.
Thomas respirou fundo e expirou, olhando para o chão. — E você? Qual é o seu
álibi?
— Eles não vão me procurar — disse Ariana com escárnio. — Eu não tenho
nenhuma ligação com a garota. Ela era apenas uma caipira.
— Mas e se eles fizerem isso, Ariana? — perguntou Thomas. — E se alguém se
lembrar de ver vocês duas juntas naquele dia que ela confrontou você? O que você
vai fazer?

146
Ariana sorriu. Ele estava tão preocupado com ela. Ele estava chateado agora
porque ele estava com medo. Assustado por ela. Por eles. Ela sabia que ele a amava.
— Eu estava na biblioteca com Noelle. Eu fui pegar um livro e procurar alguma
coisa online e voltei uma hora depois, mas ela não vai se lembrar disso. Ela só vai se
lembrar que nós estudamos juntas naquele dia — disse Ariana, levantando uma
palma. — Noelle vai lhes dizer que eu estava com ela.
Thomas balançou a cabeça lentamente, mas ele ainda manteve distância. Como
ele poderia estar tão longe?
— Eu fiz isso por nós, Thomas. Você sabe disso, não é? Porque se alguém
descobrisse o que fizemos durante as férias, se Mel contasse... isso seria o fim. De nós.
De você em Easton. Da minha mãe.
Pareceu demorar uma eternidade para ele olhar para ela. Mas quando ele o fez,
seus olhos estavam claros novamente. Ele entendeu. Ele a entendia melhor do que
ninguém. Ele sabia que ela iria fazer de tudo para conseguir o que ela queria. Ela iria
fazer de tudo para proteger o que eles tinham.
Ele veio até ela, segurou-lhe o rosto com as mãos e olhou em seus olhos. — Me
desculpa, eu exagerei. Vai ficar tudo bem.
Ariana ficou leve, aliviada.
— Então você não está com raiva? — perguntou Ariana. — Nós vamos manter o
plano?
Thomas engoliu em seco. Havia algo em seus olhos que ela não conseguia
decifrar completamente, então ela optou por ignorar. — Nós vamos manter o plano
— disse ele com firmeza.
A certeza de sua voz enviou um calor agradável e confiante através de suas veias.
— Ótimo. Porque eu mal posso esperar para ficar com você. Na frente de todo
mundo — ela disse, fechando os olhos e beijando-o suavemente nos lábios. — Eu amo
você, Thomas.
Ela esperou por sua resposta. E esperou. Seu coração começou a se encolher em
si mesmo e ela abriu os olhos para olhar para ele. Ele estava olhando para além dela,
mas rapidamente focou em seu rosto.
— Eu também te amo — ele disse.
Ariana suspirou. Ela sabia. Ela sabia que ele a amava.
— E no próximo ano, quando as coisas estiverem de volta ao normal, nós
ficaremos juntos. De verdade. — Ele torceu sua corrente de ouro em seu dedo e
passou o polegar sobre o símbolo do metrô que ele tinha lhe dado. — Eu juro.
Ariana acenou alegremente. Olhando fixamente em seus olhos, ela desatou a
corrente em volta do seu pescoço, tirou o símbolo e o deixou cair no bolso de
Thomas. Ela não queria que Daniel fizesse perguntas sobre isso, e Thomas poderia dar-
lhe de volta para ela no outono, quando ela poderia usá-lo com orgulho. Setembro
parecia que estava a eras de distância, mas ela não precisava se preocupar. Porque ela
sabia que, no fundo, ela e Thomas eram feitos um para o outro.
Este não era o fim. Era apenas o começo.

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EPÍLOGO
SETEMBRO DO ÚLTIMO ANO
Traduzido por I&E BookStore

A
riana ficou imóvel enquanto o rebanho de estudantes passava por ela na
quadra. Todos estavam em suas aulas da tarde, rindo, mandando mensagens
de texto, mexendo em BlackBerrys e iPods. E ninguém realmente a viu. Era
como se ela fosse parte da paisagem. Um dos silenciosos prédios antigos do campus
que sustentavam tantos segredos.
— Ariana, você vem? — perguntou Noelle.
— O quê? — Ariana piscou, interrompendo seus pensamentos.
— Se nós chegarmos atrasadas, uma de nós corre o risco de ter que começar
toda a discussão “o que você leu durante o verão”. Quer uma dica? — Noelle piscou
os olhos docemente. — Não vai ser eu.
— Eu já alcanço você — Ariana assegurou.
Noelle estreitou os olhos e deu de ombros. — É o seu funeral. — Ela girou nos
calcanhares e caminhou através da quadra, alguns grupos de séries anteriores saíram
da frente dela como o Mar Vermelho.
Ariana abanou a cabeça e suspirou, olhando a multidão que estava saindo
através das portas do refeitório para o sol. Havia momentos em que ela sentia que
Noelle realmente não a conhecia melhor do que ninguém em Easton. Ela sentia o
mesmo por Daniel quando eles estiveram juntos no ano passado. Sentia que não
importava quantos amigos ela tivesse, não importava quantas pessoas a cercavam ou
quantas meninas queriam ser como ela, ela ainda estava sozinha. Que ninguém a via.
Mas então havia Thomas. Ele a conhecia. Realmente a conhecia. Ela poderia
dizer pelo jeito que ele olhava para ela quando eles se reuniam no Gwendolyn Hall.
Era uma mistura de intriga e atração. E amor.
Ela tinha tudo planejado em sua mente — o seu grande encontro, ele
envolvendo-a em seus braços, finalmente capaz de tocá-la em público. Sem nunca
mais se esgueirar em cantos escuros e porões. Sem nunca mais se esconder. Eles
poderiam, finalmente, ser um casal de verdade.
Sua respiração ficou presa na garganta quando ela finalmente o viu, passeando
em torno do canto do edifício da cafeteria. Ela sorriu enquanto captava tudo sobre
ele: seu cabelo desgrenhado, seu sorriso torto. Ele parou perto da porta, recostando-se
contra a parede, tão frio e distante como sempre. Ariana começou a levantar a mão
em um aceno.
Foi então que a garota nova, Reed Brennan, surgiu da cafeteria.
Thomas afastou-se da parede de pedra cinzenta e caminhou em sintonia com
Reed e sua pequena amiga ruiva. Ele enfiou a mão no bolso e puxou-a para fora outra
vez, segurando algo para Reed ver. Ariana se inclinou para frente, apertando os olhos
à luz do sol. A compreensão do que Thomas estava segurando caiu sobre ela

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lentamente. Ela observou quando Thomas segurou o pequeno pedaço de metal entre
o polegar e o indicador.
Era um símbolo do metrô. Assim como o que ele tinha dado a ela.
Um calor espinhoso correu sobre a pele de Ariana e picou os seus olhos. Ela tirou
sua delicada corrente de ouro, onde o símbolo havia estado pendurado ao lado de
suas flores-de-lis, e torceu-o firmemente em torno de seu dedo. Durante todo o verão,
ela sentiu a ausência do formato do símbolo dela e de Thomas. Todo o verão ela
aguardou ansiosamente o dia em que ele iria voltar para ela e ela poderia sentir o
peso gelado dele contra sua pele novamente, lembrando-a da devoção de Thomas
cada segundo de cada dia. Agora ela viu quando Thomas rolou o símbolo
descuidadamente entre os dedos, sorrindo diabolicamente para Reed enquanto ele o
segurava na frente dela. Apenas fora de seu alcance.
Isso não estava acontecendo. Isso não estava acontecendo. Thomas a amava. Ela
sabia que ele a amava.
Mas não havia como negar o que ela estava vendo. Uma raiva quente
borbulhou dentro dela. Ela observou quando um rubor rosa apareceu na face de
Reed. Observou Thomas rir e brincar com ela. Observou quando eles pararam na
beira da quadra. Quando Thomas olhou nos olhos de Reed. Ariana estava perto o
suficiente para ver o jeito que ele olhou para Reed. Uma mistura de intriga e atração.
O coração de Ariana batia freneticamente. Sua garganta seca começou a se fechar
e ela teve que se esforçar para respirar.
Inspira... dois... três...
Expira... dois... três...
Ele não poderia estar interessado em Reed. Esta garota comum do segundo ano.
Isso era algum tipo de erro. Tinha que ser.
Ele me ama. Ele está esperando o verão para ficar comigo. Mas então Thomas
entregou o símbolo do metrô para Reed, e o mundo parou em torno de Ariana. Ele
enfiou as mãos nos bolsos, afastando-se, ainda sorrindo para a garota nova.
Finalmente, ele se afastou de Reed, de Ariana, o sorriso satisfeito ainda aparecendo
em seus lábios. Dash e Gage caminharam em sintonia com ele, e eles percorreram a
quadra, passando a poucos metros de distância de onde Ariana estava de pé.
Ela tinha que fazer alguma coisa. Tinha que parar isso. Ela tinha que controlar
essa situação. Ela tinha que estar no controle.
— Thomas — Ariana chamou, com a voz tensa.
Mas ele não a viu. Ou preferiu ignorá-la. De qualquer maneira, a dor era
insuportável.
De repente, as palavras de Mel naquele terrível encontro no restaurante ecoaram
em sua mente.
— Tudo estava perfeito. Nós nos amávamos. Então, um dia, ele me disse que ele
ainda me amava, mas que as coisas estavam muito complicadas entre nós. E então ele
encontrou você.
O olhar de Ariana voltou para a menina nova, ainda corando enquanto ela
olhava para o símbolo com a sua amiga como se estivesse admirada. Esta garota nova
não tinha ideia de que ela segurava tudo o que era de Ariana na palma da sua mão.
Ele estava deixando Ariana exatamente como ele havia deixado Mel.
Uma sensação fria e familiar caiu sobre os ombros de Ariana. Tão dolorosamente
familiar que se estabeleceu em seus nervos. Lembrou-a de como ela era ingênua.
Como ela era indescritivelmente estúpida, confiável e sem valor. Nem mesmo Thomas

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a queria. Depois de tudo o que ela tinha feito para estar com ele, ele largou-a sem
sequer uma palavra, um olhar, um beijo de despedida.
Mas talvez ele só precisasse se lembrar. Os garotos eram volúveis, não eram?
Especialmente Thomas. Bem notoriamente. Talvez, depois de um longo verão, ele só
precisava ser lembrado do que ele e Ariana compartilharam. Esta garota, Reed, era
apenas uma distração. Um brinquedo. Sua chance de visitar bairros pobres com uma
garota com bolsa de estudos. Quando ele estivesse cansado dela, ele voltaria para
Ariana. Eles tinham compartilhado uma conexão especial. Ela tinha certeza disso.
Mas, então, Ariana teria que esperar. Assim como ela esperou toda a primavera
e o verão. E ela estava cansada de esperar.
A poucos metros de distância, Reed olhou para cima e olhou bem nos olhos de
Ariana. Ela sorriu hesitantemente.
Ariana olhou para ela fixamente, observando a forma como sua blusa estava um
pouco desgastada no colarinho. Ela se perguntou se alguém iria sentir falta de Reed se
ela simplesmente desaparecesse.

FIM!

150
PRIVATE SERIES

PRIVILEGE SERIES

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