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Ministério das Relações Exteriores: Política Externa

Compilação das informações contidas no endereço eletrônico do MRE:


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Conteúdo

1. Diplomacia Econômica, Comercial e Financeira ....................................................................................................... 4


1.1. Diplomacia comercial .......................................................................................................................................... 4
1.2. Comércio internacional ....................................................................................................................................... 5
1.2.1. Porque negociar acordos extrarregionais de comércio? ................................................................................. 5
1.2.2. Acordos extrarregionais do MERCOSUL .......................................................................................................... 6
1.2.3. Organização Mundial do Comércio ................................................................................................................. 6
1.2.4. Normas do sistema multilateral de comércio .................................................................................................. 7
1.2.5. IX Conferência Ministerial da OMC (Bali, 2013) ............................................................................................... 8
1.2.6. Rodada de Doha da OMC ................................................................................................................................ 8
1.3. Agenda Financeira ............................................................................................................................................... 9
1.3.1. G20 .................................................................................................................................................................. 9
1.3.2. Fundo Monetário Internacional .................................................................................................................... 10
1.3.3. Banco Mundial .............................................................................................................................................. 10
2. Direitos Humanos e Temas sociais ......................................................................................................................... 11
2.1. Política externa para direitos humanos ............................................................................................................. 11
2.2. Revisão periódica universal ............................................................................................................................... 12
2.3. Grupos vulneráveis ............................................................................................................................................ 13
2.4. Novos temas ...................................................................................................................................................... 13
2.5. Temas sociais ..................................................................................................................................................... 13
2.5.1. Política externa para temas sociais................................................................................................................ 13
2.5.2. Saúde............................................................................................................................................................. 14
2.5.3. Trabalho ........................................................................................................................................................ 14
3. Diplomacia Cultural ................................................................................................................................................ 14
4. Desenvolvimento sustentável e meio ambiente .................................................................................................... 19
4.1. O Brasil e o meio ambiente ................................................................................................................................ 19
4.2. Desenvolvimento Sustentável ........................................................................................................................... 20
4.2.1. O Brasil e o desenvolvimento sustentável ..................................................................................................... 20
4.2.2. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ........................................................................................ 20
4.2.3. Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 ......................................................................................................... 21
4.3. Meio ambiente e mudança do clima ................................................................................................................. 21

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4.3.1. Biodiversidade ............................................................................................................................................... 21
4.3.2. Biossegurança ............................................................................................................................................... 22
4.3.3. Mudança no clima ......................................................................................................................................... 22
4.3.4. Desertificação ................................................................................................................................................ 23
4.3.5. Espécies ameaçadas ...................................................................................................................................... 24
4.3.6. Florestas ........................................................................................................................................................ 25
4.3.7. Recursos hídricos........................................................................................................................................... 26
4.4. Mar, Antártida e Espaço .................................................................................................................................... 27
4.4.1. Antártida ....................................................................................................................................................... 27
4.4.2. Plataforma continental brasileira .................................................................................................................. 28
4.4.3. Programa espacial brasileiro ......................................................................................................................... 28
4.4.4. Espaço ........................................................................................................................................................... 29
5. Integração Regional ............................................................................................................................................... 29
5.1. MERCOSUL......................................................................................................................................................... 29
5.2. União de Nações Sul-Americanas ...................................................................................................................... 30
5.3. Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos ................................................................................ 32
5.4. Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) ............................................................................. 33
5.5. Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) ......................................................................................... 34
6. Energia ................................................................................................................................................................... 35
7. Cooperação ............................................................................................................................................................ 37
7.1. Cooperação técnica ........................................................................................................................................... 37
7.2. Cooperação educacional ................................................................................................................................... 38
7.3. Cooperação esportiva ........................................................................................................................................ 39
8. Paz e Segurança Internacionais .............................................................................................................................. 40
8.1. Manutenção e consolidação da paz ................................................................................................................... 40
8.1.1. Reformando o Conselho de Segurança da ONU ............................................................................................ 40
8.1.2. O Brasil e o Conselho de Segurança da ONU ................................................................................................. 40
8.1.3. Operações de paz das Nações Unidas ........................................................................................................... 41
8.1.4. O Brasil e as operações de manutenção da paz da ONU ............................................................................... 42
8.1.5. Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti ..................................................................................... 42
8.1.6. O Brasil e a consolidação da paz .................................................................................................................... 43
8.2. Desarmamento e não proliferação .................................................................................................................... 43
8.2.1. Desarmamento e controle de armas ............................................................................................................. 43
8.2.2. Desarmamento nuclear e não proliferação ................................................................................................... 44
8.2.3. Armas químicas e biológicas .......................................................................................................................... 45
8.2.4. Prevenção de corrida armamentista no espaço ............................................................................................ 45
8.2.5. Regimes de controle de exportação .............................................................................................................. 45

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8.2.6. Armas convencionais ..................................................................................................................................... 45
8.3. Outros temas ..................................................................................................................................................... 46
8.3.1. Temas orçamentários e administrativos da ONU .......................................................................................... 46
8.3.2. Tribunal Penal Internacional .......................................................................................................................... 47
8.3.3. Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul .................................................................................................. 48
9. Mecanismos inter-regionais ................................................................................................................................... 48
9.1. BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul ............................................................................................. 48
9.2. IBAS – Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul......................................................................................... 50
9.3. Cúpula América do Sul–Países Árabes (ASPA) .................................................................................................... 52
9.4. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa .................................................................................................. 53
9.5. Fórum de Cooperação América Latina–Ásia do Leste ........................................................................................ 54
9.6. Conferência Ibero-Americana ............................................................................................................................ 55
9.7. União Africana ................................................................................................................................................... 55
9.8. Liga dos Estados Árabes ..................................................................................................................................... 56
9.9. Aliança de Civilizações ....................................................................................................................................... 56
9.10. G-15............................................................................................................................................................... 57
10. Ciência, tecnologia e inovação ........................................................................................................................... 57
10.1. Cooperação em ciência, tecnologia e inovação ............................................................................................. 57
10.2. Governança da Internet ................................................................................................................................ 57
10.3. Inovação ........................................................................................................................................................ 58
10.4. Tecnologias da informação e das comunicações ........................................................................................... 58
10.5. TV Digital ....................................................................................................................................................... 59

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1. Diplomacia Econômica, Comercial e Financeira
1.1. Diplomacia comercial

Nenhuma outra instituição brasileira, pública ou privada, conta com estrutura de promoção comercial no exterior tão
ampla quanto a do Itamaraty, o que demonstra o papel do Ministério na estratégia comercial brasileira – tanto no
aspecto político, mediante realização de contatos governamentais e empresariais, quanto no operacional, por meio da
produção de informações para subsidiar a promoção do comércio exterior.

No Ministério das Relações Exteriores, cabe ao Departamento de Promoção Comercial e Investimentos (DPR) e à rede de
Setores de Promoção Comercial (SECOMs) instalados em Embaixadas e em Consulados brasileiros, promover o comércio
e o turismo, atrair investimentos estrangeiros e contribuir para a internacionalização de empresas brasileiras.

O Departamento de Promoção Comercial e Investimentos está organizado em quatro divisões:

 Divisão de Investimentos (DINV);


 Divisão de Inteligência Comercial (DIC);
 Divisão de Programas de Promoção Comercial (DPG) e
 Divisão de Operações de Promoção Comercial (DOC).

No exterior, os Setores de Promoção Comercial nas Embaixadas e Consulados brasileiros são pontos de referência para a
promoção comercial e a atração de investimentos. Dentre suas atribuições está realizar estudos de mercado e
intermediar reclamações comerciais.

O Ministério das Relações Exteriores atua para atrair capital estrangeiro, contribuindo para o desenvolvimento industrial
e de serviços, como também para fortalecer o mercado financeiro nacional. São desenvolvidas, também, iniciativas para
estimular a participação estrangeira em setores estratégicos, promovendo desenvolvimento econômico com inclusão
social.

Com o objetivo de contribuir para a internacionalização de empresas brasileiras, o Itamaraty divulga estudos sobre
oportunidades em mercados potenciais e realiza gestões oficiais junto a Governos estrangeiros sobre interesses
específicos de empresas brasileiras. Essas atividades são coordenadas pela Divisão de Investimentos.

Por meio do portal Brasil Export, supervisionado pelaDivisão de Programas de Promoção Comercial, o Itamaraty divulga
pesquisas e informações sobre economia e comércio exterior. A Divisão de Inteligência Comercial também apoia
diretamente o empresariado, a exemplo do atendimento a consultas comerciais e da elaboração de publicações sobre
temas de comércio exterior, com o objetivo de identificar e criar oportunidades de negócio em outros países e contribuir
para os debates acerca da estratégia de promoção das exportações nacionais. Por aprofundarem laços de comércio, de
investimento e de integração com outros países, tais iniciativas são, também, instrumentos de política externa.

Por meio da Divisão de Operações de Promoção Comercial, o Itamaraty organiza missões comerciais – das quais, muitas
vezes, participam autoridades governamentais brasileiras, em nível presidencial ou ministerial. Eventos de promoção
comercial resultam em ações diretas e imediatas de divulgação dos produtos, das empresas e do turismo brasileiros no
exterior.

Parcerias na promoção comercial brasileira

O Itamaraty não atua isoladamente na elaboração e na execução da estratégia de promoção comercial brasileira –
desenvolve suas iniciativas em coordenação e cooperação com outros órgãos do Governo brasileiro envolvidos com o
tema.

No setor público, destacam-se os esforços empreendidos conjuntamente com o Ministério do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o BNDES
e com o Banco do Brasil – além de diálogo e eventos realizados em parceria com a ApexBrasil. Dessa colaboração
resultam projetos para o fortalecimento das políticas de promoção comercial brasileiras. A promoção do turismo no

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Brasil é realizada por meio de parcerias com o Ministério do Turismo, com a Embratur, com Secretarias Estaduais e
Municipais de turismo, com outras agências governamentais e com entidades privadas.

No setor privado, destacam-se as iniciativas empreendidas na área internacional por entidades como a Confederação
Nacional da Indústria e as Federações Estaduais de Indústria, além das associações setoriais e das Câmaras de Comércio
bilaterais.

1.2. Comércio internacional


1.2.1. Porque negociar acordos extrarregionais de comércio?

A OMC autoriza seus membros a integrar acordos de livre comércio, com base no princípio do "regionalismo aberto" –
ou seja, desde que o mecanismo para liberalizar exportações e importações entre as Partes de um Acordo não desvie
excessivamente o comércio com os não-membros do grupo.

Os países-membros do MERCOSUL se comprometeram a negociar em conjunto os acordos de comércio que envolvam


concessões tarifárias. Tomada por meio da Decisão nº 32/2000 do Conselho Mercado Comum do MERCOSUL, essa
decisão decorre do objetivo maior de preservar a união aduaneira entre os países do bloco, o que demanda uma política
comercial externa única.

O Brasil busca aumentar seu acesso a mercados estrangeiros contribuindo ativamente para as negociações de acordos
de comércio entre o MERCOSUL e parceiros extrarregionais – que, além de aprofundar as relações com o resto do
mundo, aumentam a competitividade interna. Entre as modalidades desses acordos estão os de "livre comércio"
(redução das tarifas de importação a zero sobre a grande maioria dos bens) e os de "preferências tarifárias" (outorga de
preferências nas tarifas de alguns bens para os membros do acordo), os últimos podendo ser celebrados por países em
desenvolvimento ao amparo da cláusula de habilitação da OMC.

No Itamaraty, a negociação desses acordos é responsabilidade do Departamento de Negociações Internacionais e das


Divisões de Negociações Extrarregionais do MERCOSUL, unidades subordinadas à Subsecretaria de Assuntos Econômicos
e Financeiros.

A negociação de acordos comerciais leva em conta a necessidade de preservar e promover políticas públicas dedicadas
ao desenvolvimento nas áreas econômica, social, ambiental, industrial, da ciência e tecnologia e da agricultura familiar,
entre outras. Para tanto, é fundamental o constante diálogo entre o Governo, os setores produtivos e a sociedade civil.

Acordos comerciais podem contribuir para fortalecer a competitividade interna e externa dos setores produtivos
nacionais e dos demais países do MERCOSUL. No plano interno, atraem investimentos estrangeiros diretos, aumentando
a oferta de empregos e promovendo transferência de tecnologia. No plano externo, contribuem para expandir nossas
exportações e para a integração da do Brasil à economia global – o que possibilita não apenas adquirir insumos a custos
mais acessíveis, como também exportar a preços mais competitivos.

O engajamento do MERCOSUL nas negociações de acordos comerciais tem grande significado político, pois contribui
para consolidar o bloco como protagonista no cenário internacional. Desde sua criação, o MERCOSUL concluiu acordos
comerciais com importantes parceiros extrarregionais: Índia (2004); Israel (2007); União Aduaneira da África Austral –
SACU (2009); Egito (2010) e Palestina (2011). Foram também firmados Acordos-Quadro com diversos outros países em
desenvolvimento, o que é a primeira etapa para negociação de um acordo comercial.

As negociações extrarregionais do Mercosul têm contribuído para a diversificação e a ampliação de mercados para as
exportações do Brasil, além de estreitarem as relações econômicas e políticas com parceiros não-tradicionais.

Acordo de Associação entre o MERCOSUL e a União Europeia

O Brasil confere prioridade às negociações para um Acordo de Associação entre o MERCOSUL e a União Europeia. As
negociações foram lançadas em 1995, quando os blocos firmaram um Acordo-Quadro de Cooperação Interregional,
estabelecendo que as relações bi-regionais se desenvolveriam em três pilares: diálogo político, cooperação e livre
comércio. Em 2010, atingiu-se consenso sobre os parâmetros para o relançamento dessas negociações, havendo um

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compromisso mútuo de que o acordo seja abrangente, equilibrado e ambicioso. Consultas públicas realizadas em 2012
revelaram o firme apoio do setor privado brasileiro em favor da conclusão das negociações com a União Europeia. Em
janeiro de 2013, em Reunião Ministerial MERCOSUL–União Europeia realizada em Santiago, os blocos decidiram trocar
ofertas de acesso a mercados até o fim de 2013.

1.2.2. Acordos extrarregionais do MERCOSUL

Acordos firmados

 Acordo de Livre Comércio MERCOSUL–Israel (vigente)


 Acordo de Preferências Tarifárias MERCOSUL–Índia (vigente)
 Acordo de Livre Comércio MERCOSUL–Palestina (em processo de ratificação)
 Acordo de Preferências Tarifárias MERCOSUL–Egito (em processo de ratificação)
 Acordo de Preferências Tarifárias MERCOSUL–SACU (em processo de ratificação)

Em negociação

 MERCOSUL–União Europeia

Diálogos Econômico-Comerciais

 MERCOSUL–Austrália e Nova Zelândia


 MERCOSUL–Canadá
 MERCOSUL–China
 MERCOSUL–EFTA
 MERCOSUL–Japão

1.2.3. Organização Mundial do Comércio

A Organização Mundial do Comércio (OMC) iniciou suas atividades em 1º de janeiro de 1995 e desde então tem atuado
como a principal instância para administrar o sistema multilateral de comércio. A organização tem por objetivo
estabelecer um marco institucional comum para regular as relações comerciais entre os diversos Membros que a
compõem, estabelecer um mecanismo de solução pacífica das controvérsias comerciais, tendo como base os acordos
comerciais atualmente em vigor, e criar um ambiente que permita a negociação de novos acordos comerciais entre os
Membros. Atualmente, a OMC conta com 160 Membros, sendo o Brasil um dos Membros fundadores. A sede da OMC
está localizada em Genebra (Suíça) e as três línguas oficiais da organização são o inglês, o francês e o espanhol.

As origens da OMC remontam à assinatura do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT), em 1947, mecanismo que
foi responsável, entre os anos de 1948 a 1994, pela criação e gerenciamento das regras do sistema multilateral de
comércio. No âmbito do GATT, foram realizadas oito rodadas de negociações comerciais, que tiveram por objetivo
promover a progressiva redução de tarifas e outras barreiras ao comércio. A oitava rodada, conhecida como Rodada
Uruguai, culminou com a criação de OMC e de um novo conjunto de acordos multilaterais que formaram o corpo
normativo da nova Organização.

A OMC herdou do GATT um conjunto de princípios que fundamentam a regulamentação multilateral do comércio,
dentre os quais se destacam:

 o da nação-mais-favorecida, segundo o qual um Membro da OMC deve estender a todos os seus parceiros
comerciais qualquer concessão, benefício ou privilégio concedido a outro Membro;
 o do tratamento nacional, pelo qual um produto ou serviço importado deve receber o mesmo tratamento que o
produto ou serviço similar quando entra no território do Membro importador;
 o da consolidação dos compromissos, de acordo com o qual um Membro deve conferir aos demais tratamento
não menos favorável que aquele estabelecido na sua lista de compromissos; e

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 o da transparência, por meio do qual os Membros devem dar publicidade às leis, regulamentos e decisões de
aplicação geral relacionados a comércio internacional, de modo que possam ser amplamente conhecidas por
seus destinatários.

A OMC é composta por diversos órgãos, sendo os principais:

 a Conferência Ministerial, instância máxima da organização composta pelos Ministros das Relações Exteriores
ou de Comércio Exterior dos Membros;
 o Conselho Geral, órgão composto pelos representantes permanentes dos Membros em Genebra, que ora se
reúne como Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) e ora como Órgão de Revisão de Política Comercial;
 o Conselho para o Comércio de Bens;
 o Conselho para o Comércio de Serviços;
 o Conselho para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio;
 os diversos Comitês, entre eles os Comitês de Acesso a Mercados, Agrícola e de Subsídios, entre outros; e
 o Secretariado, que tem por função apoiar as atividades da organização e é composto por cerca de 700
funcionários, dirigidos pelo Diretor-Geral da OMC.

Até o presente momento, já foram realizadas nove Conferências Ministeriais da OMC, sendo elas: Cingapura (1996);
Genebra (1998); Seattle (1999); Doha (2001); Cancun (2003); Hong Kong (2005); Genebra (2009); Genebra (2011); e Bali
(2013).

Especialmente relevante, entre estas, foi a Conferência Ministerial de Doha, que estabeleceu o mandato para o
lançamento da Rodada de Doha, primeira rodada negociadora realizada no âmbito da OMC, cujas negociações seguem
em curso.

1.2.4. Normas do sistema multilateral de comércio

O acordo multilateral que cria a OMC é o Acordo de Marraqueche, firmado ao final da Rodada Uruguai do GATT (1986-
1994), o qual serve de base para todos os demais acordos multilaterais em vigor. Esse acordo estabelece a finalidade, as
funções e a estrutura da OMC, além de dispor sobre o Secretariado, a personalidade jurídica e o processo decisório da
organização (normalmente por consenso, mas que também prevê a possibilidade de decisões por maioria).

O Anexo 1 ao Acordo de Marraqueche estabelece a lista dos acordos multilaterais firmados ao final da Rodada Uruguai,
isto é, aqueles que se tornaram obrigatórios para todos os Membros da OMC. O Anexo 1A estabelece os acordos sobre o
comercio de bens, entre os quais estão abrangidos os seguintes:

 Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994 (GATT 1994), que abrange o GATT 1947;
 Acordo sobre Agricultura;
 Acordo sobre a Aplicação das Medidas Sanitárias e Fitossanitárias;
 Acordo sobre Têxteis e Vestuário;
 Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio;
 Acordo sobre Medidas de Investimento relacionadas ao Comércio;
 Acordo Antidumping;
 Acordo sobre Valoração Aduaneira;
 Acordo de Inspeção Pré-Embarque;
 Acordo sobre Regras de Origem;
 Acordo sobre Procedimentos de Licenciamento de Importação;
 Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias;
 Acordo sobre Salvaguardas.

O Anexo 1B estabelece o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços (GATS) e o Anexo 1C compreende o Acordo sobre
os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados ao Comércio (TRIPS). O Anexo 2 estabelece o
Entendimento sobre Solução de Controvérsias (ESC) e o Anexo 3 dispõe sobre o Mecanismo de Revisão de Política
Comercial.

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O Anexo 4, por fim, compreende os Acordos Plurilaterais, isto é, aqueles que somente produzem efeitos para os seus
signatários, sendo eles:

 o Acordo sobre o Comércio de Aeronaves Civis;


 o Acordo sobre Compras Governamentais;
 o Acordo sobre Produtos Lácteos (não está mais em vigor);
 o Acordo sobre Carne Bovina (não está mais em vigor); e
 o Acordo sobre Tecnologia da Informação.

O Brasil não é signatário de nenhum dos acordos plurilaterais negociados na OMC.

Por ocasião da Conferência Ministerial de Bali, realizada em dezembro de 2013, foram aprovadas – pela primeira vez
desde a criação da OMC – novas disciplinas multilaterais, como o Acordo de Facilitação do Comércio, a Decisão sobre
Estoques Públicos para fins de Segurança Alimentar e o Entendimento sobre as Disciplinas para a Administração de
Quotas Tarifárias para Produtos Agrícolas.

Além da administração dos diversos acordos comerciais negociados, as atividades empreendidas pela OMC
compreendem a promoção de capacitação técnica dos funcionários públicos originários dos países-membros em matéria
de comércio internacional, a prestação de auxílio no processo de acessão dos países que ainda não são Membros; a
realização de pesquisas e análises econômicas, e ainda a coleta e a disseminação de dados sobre comércio internacional.

1.2.5. IX Conferência Ministerial da OMC (Bali, 2013)

Realizada em Bali (Indonésia) em dezembro de 2013, a IX Conferência Ministerial da OMC levou à conclusão de um
pacote antecipado de resultados para a Rodada. Ao aprovar os primeiros acordos negociados na OMC desde sua criação,
revitalizou a vertente normativa da Organização e, assim, reabriu o caminho para a atualização e fortalecimento do
sistema multilateral de comércio.

Os resultados da Conferência Ministerial de Bali foram amplamente positivos para o Brasil. O acordo de Facilitação de
Comércio, de grande interesse para o empresariado e para o governo brasileiros, impulsionará reformas que já estão
sendo implementadas no País e facilitará o acesso de nossos produtos a mercados em todo o mundo, ao simplificar e
desburocratizar procedimentos aduaneiros.

Em agricultura, foram aprovadas regras para o preenchimento automático de quotas tarifárias, de grande importância
para exportadores agrícolas, além de Declaração que recoloca a eliminação de todas as formas de subsídio à exportação
no centro das negociações da OMC. A Organização reconheceu a legitimidade dos programas de segurança alimentar no
mundo em desenvolvimento, permitindo a manutenção de políticas de estoques públicos, acompanhadas por
salvaguardas que previnem distorções comerciais.

Além disso, a Conferência Ministerial pôs fim a anos de paralisia da Rodada Doha e mandatou a OMC a preparar, nos
próximos doze meses, programa de trabalho para a retomada das negociações, com foco nos temas centrais da Rodada,
de interesse primordial para o Brasil, sobretudo agricultura.

1.2.6. Rodada de Doha da OMC

Em novembro de 2001, em Doha, no Catar, foi lançada a Rodada de Doha da OMC, também conhecida como Rodada de
Doha para o Desenvolvimento, por meio da qual os Ministros das Relações Exteriores e de Comércio comprometeram-se
a buscar a liberalização comercial e o crescimento econômico, com ênfase nas necessidades dos países em
desenvolvimento.

As negociações da Rodada incluíam agricultura, acesso a mercados para bens não-agrícolas (NAMA), comércio de
serviços, regras (sobre aplicação de direitos antidumping, subsídios e medidas compensatórias, subsídios à pesca e
acordos regionais), comércio e meio ambiente (incluído o comércio de bens ambientais), facilitação do comércio e alguns
aspectos de propriedade intelectual, além de uma discussão horizontal sobre tratamento especial e diferenciado a favor

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de países em desenvolvimento. Fora do mandato formal da Rodada, mas em paralelo a suas tratativas, eram discutidos
aperfeiçoamentos das regras sobre solução de controvérsias.

O Brasil e diversos outros países em desenvolvimento entenderam que o centro das negociações da Rodada Doha
deveria ser as negociações em agricultura, setor em que se concentram boa parte das exportações desses países. Deve-
se ressaltar que, durante as rodadas negociadoras do antigo GATT, esse setor foi objeto de um esforço de liberalização
significativamente modesto, quando comparado ao setor de bens manufaturados, razão pela qual ainda goza de elevada
proteção contra importações em muitos países e está sujeito a disciplinas menos exigentes. Nesse sentido, a Rodada de
Doha deveria ter por objetivo corrigir tanto quanto possível as distorções que prevalecem no comércio agrícola,
promovendo a eliminação dos subsídios à exportação, redução substancial e disciplinamento dos subsídios à produção
(apoio interno), além de ampliação do acesso aos mercados desses bens.

No contexto das negociações agrícolas da Rodada, foi criado, em agosto de 2003, às vésperas da Conferência Ministerial
de Cancun, o agrupamento denominado G-20 Comercial. Esse grupo, composto por países em desenvolvimento de três
continentes (América Latina, Ásia e África), defende o cumprimento, de forma ambiciosa, dos três pilares do mandato
agrícola da Rodada Doha: acesso a mercados (redução de tarifas), eliminação dos subsídios à exportação e redução dos
subsídios de apoio interno (mormente à produção). O Brasil exerceu papel de grande relevo na coordenação das
posições dessa coalizão durante as negociações agrícolas na OMC.

No cenário atual de recuperação pós-crise econômica e financeira global e de preocupação com o recrudescimento do
protecionismo comercial, a conclusão da Rodada e o fortalecimento do sistema multilateral do comércio, em bases
equilibradas, transparentes e inclusivas, tornam-se ainda mais necessários. Os progressos obtidos nas negociações,
entretanto, foram insuficientes, especialmente a partir de julho de 2008, quando reunião de ministros em Genebra
fracassou na tentativa de aprovar acordo nas áreas de agricultura e NAMA.

1.3. Agenda Financeira


1.3.1. G20

O Grupo dos 20 foi criado em 1999, no contexto das crises de balanço de pagamentos em economias emergentes, que
tiveram início em meados daquela década. É um foro para a cooperação internacional em temas econômicos e
financeiros, congregando países desenvolvidos e em desenvolvimento com projeção sistêmica na economia mundial,
para diálogo e cooperação centrados em temas financeiros. Por nove anos, o G20 funcionou em nível de Ministros de
Finanças.

Em 2008, o então Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, convidou os Líderes do G20 para reunião em
Washington. A iniciativa sinalizou interesse e necessidade de cooperação internacional mais ampla, além do marco
delimitado pelo G8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia), para dar uma
resposta mais eficaz à crise gerada nas economias desenvolvidas a partir daquele ano. O G20 consolidou-se como foro de
Chefes de Estado e Governo, que se reúne anualmente, com objetivos mais ambiciosos do que o encontro de Ministros.

Além do Brasil, o G20 tem os seguintes integrantes: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália,
Canadá, China, República da Coréia, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia,
Turquia e União Europeia. Os países que integram o G20 representam 90% do PIB mundial, 80% do comércio
internacional e 2/3 da população mundial e 84 % da emissão de gases de efeito estufa.

O G20 não é uma organização internacional, diversamente do que ocorre com o Fundo Monetário Internacional e o
Banco Mundial. Por essa razão, não possui secretariado permanente nem recursos próprios. A tarefa de preparação e
seguimento dos entendimentos é assumida pelo país que exerce a presidência de turno – que muda anualmente, em
rotação baseada em grupos de países, buscando alternância entre regiões geográficas e entre países desenvolvidos e
emergentes.

Dentre os principais objetivos do G20 estão: coordenar políticas entre seus membros para promover o crescimento
sustentável e a estabilidade econômica; promover regulação financeira que reduza o risco de futuras crises financeiras e
reformar a arquitetura financeira internacional.

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Os trabalhos preparatórios e de seguimento às cúpulas são subdivididos em dois trilhos. O trilho dos representantes
pessoais dos líderes (“sherpas”) é coordenado pelo Itamaraty e o de Ministros de Finanças, pelo Ministério da Fazenda. O
“sherpa” brasileiro é o Subsecretário-Geral de Assuntos Econômicos e Financeiros, Embaixador Enio Cordeiro, que é
assessorado pelo Diretor do Departamento de Assuntos Financeiros e de Serviços, Ministro Luís Antonio Balduino.

1.3.2. Fundo Monetário Internacional

O Fundo Monetário Internacional (FMI) é uma organização internacional que resultou da Conferência de Bretton Woods
(1944). Concebida no final da Segunda Guerra Mundial, seus idealizadores tinham por objetivo construir um arcabouço
para cooperação que evitasse a repetição das políticas econômicas que levaram à Grande Depressão dos anos 1930 e ao
conflito global que se seguiu.

Os objetivos declarados da organização são promover a cooperação econômica internacional, o comércio internacional,
o emprego e a estabilidade cambial, inclusive mediante a disponibilização de recursos financeiros para os países
membros para ajudar no equilíbrio de suas balanças de pagamentos.

Os 188 países membros contribuem colocando à disposição do FMI uma parte de suas reservas internacionais. Se
necessário, o Fundo utiliza esses recursos para operações de empréstimo visando a ajudar países que enfrentam
desequilíbrios de pagamentos. Os recursos são desembolsados mediante o cumprimento de requisitos estabelecidos em
um programa negociado com o Fundo.

Além dos empréstimos para socorrer países em dificuldades, o FMI faz um acompanhamento periódico da política
econômica de seus membros e faz recomendações. O secretariado do FMI elabora pesquisas, faz levantamentos
estatísticos e apresenta previsões econômicas globais, regionais e por país. O Fundo também provê assistência técnica e
treinamento na sua área de competência.

À diferença do que ocorre em outras organizações internacionais, onde as decisões são tomadas segundo o princípio de
um país um voto, o FMI segue um modelo corporativo de tomada de decisões. O poder do voto de cada país é
determinado pela proporção de quotas que possui no Fundo.

A revisão da distribuição de quotas é realizada periodicamente, constituindo oportunidade para que a instituição passe a
refletir o aumento da participação relativa dos países emergentes na economia mundial. O Brasil está empenhado na
promoção da reforma do FMI, com vistas ao aumento do peso de economias emergentes e em desenvolvimento na
instituição.

A estrutura organizacional do FMI é encabeçada pela Assembleia de Governadores (onde o titular brasileiro é o Ministro
da Fazenda), que toma decisões e elege o Conselho de Diretores. Há apenas 24 diretores, o que faz com que muitos
diretores representem um grupo de países (“constituency”). No caso do Brasil, o Diretor brasileiro representa, além do
País, os seguintes membros: Cabo Verde, Equador, Guiana, Haiti, Nicarágua, Panamá, República Dominicana, Timor
Leste, Trinidad e Tobago.

As diretrizes políticas da organização são definidas em reuniões bianuais de nível ministerial do Conselho de Assuntos
Financeiros e Monetários. Essas reuniões, realizadas geralmente na sede em abril e outubro, congregam um número de
ministros correspondente ao número de diretores. No caso do Brasil, o representante é o Ministro da Fazenda.

1.3.3. Banco Mundial

O Banco Mundial é uma organização internacional que surgiu da Conferência de Bretton Woods (1944) para atender às
necessidades de financiamento da reconstrução dos países devastados pela Segunda Guerra Mundial. O nome oficial da
instituição criada em Bretton Woods era "Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento" (BIRD). A
instituição, que se capitalizou a partir da venda de títulos ao mercado garantidos pelos países membros, mudou
gradualmente seu foco para os países em desenvolvimento, muitos dos quais se tornaram nações independentes no pós-
Guerra.

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A estrutura da organização tornou-se mais complexa e deu origem a outras instituições – que hoje conformam o grupo
Banco Mundial – criadas para suprir demandas que o BIRD não podia atender. Em 1956, surgiu a Corporação Financeira
Internacional (CFI), com o objetivo de promover a expansão do investimento privado nos países em desenvolvimento.
Seguiu-se, em 1960, a criação da Associação Internacional de Desenvolvimento (AID), que tornou possível a concessão de
empréstimos aos países mais pobres que não preenchiam as condições para aceder aos empréstimos concedidos pelo
BIRD. Entre os países em desenvolvimento, o Brasil tem sido um dos maiores doadores da AID.

O Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos (CIADI) e a Agência Multilateral de Garantia de
Investimentos (AMGI) foram criadas respectivamente em 1966 e 1988, dentro da perspectiva de alavancar o
investimento estrangeiro nos países em desenvolvimento.

O Banco Mundial tornou-se uma referência importante por suas análises e experimentos relacionados ao processo de
desenvolvimento. A instituição já foi alvo de críticas, por financiar projetos que provocaram desastres ambientais ou
desconsideraram impactos sociais. O Banco Mundial, entretanto, sofisticou seus procedimentos para elaboração, análise
e seguimento dos projetos que financia. Para os mais pobres países em desenvolvimento do mundo, os planos de
assistência do Banco são baseados em estratégias de redução da pobreza.

O êxito econômico de muitos países em desenvolvimento, que hoje têm acesso a fontes de financiamento privado para
seus investimentos, encorajou o Banco Mundial a reorientar seu foco priorizando os países mais necessitados. Temáticas
como a proteção ao meio ambiente e a mudança do clima passaram a figurar com destaque na agenda da instituição.

A estrutura organizacional do Banco Mundial assemelha-se à do FMI, com uma Assembleia de Governadores, onde o
poder de voto é distribuído de acordo com a participação de cada país como garante do capital do Banco em caso de
inadimplência, (algo que nunca ocorreu), e um Conselho de 25 Diretores, eleito a cada dois anos pelos 188 diretores. A
Diretoria integrada pelo Brasil também representa os seguintes países: Colômbia, Equador Filipinas, Guiana, Haiti,
República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago.

Em 2010, o poder de voto no Banco Mundial foi revisto para aumentar a voz dos países em desenvolvimento. Os países
com maior poder de voto são, no momento, os Estados Unidos (com poder de veto), Japão, China, Alemanha, o Reino
Unido, França, e Índia. Brasil, Coreia do Sul, Espanha, Índia, México e Turquia, dentre outros, obtiveram ganhos
significativos.

As diretrizes políticas do Banco Mundial são discutidas e aprovadas em reuniões bianuais (abril e outubro) de nível
ministerial no âmbito do Comitê de Desenvolvimento. O Comitê é composto por 25 membros, refletindo a composição
do Conselho de Diretores.

2. Direitos Humanos e Temas sociais


2.1. Política externa para direitos humanos

A política externa para direitos humanos apresenta um país aberto ao mundo, disposto a cooperar e a debater seus
pontos fortes e fracos. A maneira transparente e construtiva com que enfrenta seus desafios e o modo não seletivo e
não politizado com que aborda os direitos humanos fazem com que o Brasil seja visto internacionalmente como um
interlocutor coerente e equilibrado.

A Constituição Federal determina a prevalência dos direitos humanos como um dos princípios que devem reger as
relações internacionais do Brasil, além de abrir a possibilidade de que direitos reconhecidos em tratados internacionais
se somem aos direitos e garantias fundamentais já consagrados no texto constitucional.

Política externa para direitos humanos no plano multilateral

O Brasil exerce, entre 2013 e 2015, seu terceiro mandato no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH),
tendo sido eleito com a expressiva votação de 184 sufrágios do total de 193 países com direito a voto, o que representou
o reconhecimento da comunidade internacional pelo empenho brasileiro na promoção e na proteção dos direitos
humanos. Nesse órgão, o Brasil tem trabalhado pelo fortalecimento do CDH e enfatiza a não politização e não
seletividade; o combate a todas as formas de discriminação e o direito à saúde, bem como a ampliação da cooperação

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entre os países no combate a violações transnacionais e no intercâmbio de experiências bem-sucedidas. Os outros dois
mandatos brasileiros no CDH foram entre 2006-2008 e entre 2009-2011.

Composto por 47 países, o CDH é responsável pelo fortalecimento da promoção e da proteção dos direitos humanos no
mundo. Foi criado pela Assembleia Geral da ONU em 2006 e realiza, dentre outras iniciativas, a Revisão Periódica
Universal, mecanismo que permite a avaliação da situação dos direitos humanos em todos os Estados-Membros das
Nações Unidas.

O Brasil aderiu à quase totalidade dos instrumentos internacionais sobre a promoção e a proteção dos direitos humanos.
Ademais, estende convite permanente para a visita de Relatores Especiais e Peritos Independentes do CDH dedicados a
averiguar a situação dos direitos humanos pelo mundo. Cabe ao Itamaraty tratar das datas e dos locais das visitas junto
às autoridades locais. Desde 1998, o Brasil já recebeu a visita de mais de vinte desses representantes.

Ainda no plano multilateral, o Brasil também acompanha o trabalho dos comitês encarregados de monitorar a
implementação dos tratados de direitos humanos. Cabe ao Brasil – ao Itamaraty, em coordenação com a Secretaria de
Diretos Humanos (SDH) e outros órgãos federais – encaminhar relatórios periódicos sobre a promoção e a proteção no
país dos direitos consagrados nesses tratados.

Política externa para direitos humanos no plano regional

O Brasil participa ativamente dos trabalhos da Organização dos Estados Americanos, e particularmente do Sistema
Interamericano de Direitos Humanos. A participação no sistema propiciou avanços no tratamento de questões críticas
em áreas como segurança pública, combate ao racismo e ao trabalho escravo, melhoria das condições carcerárias e
prevenção da violência contra mulheres. A eleição do brasileiro Roberto Caldas para o cargo de juiz da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e do brasileiro Paulo Vannuchi para integrar a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH) demonstra esse engajamento. Brasília sediou sessão extraordinária da Corte Interamericana em
novembro de 2013.

No MERCOSUL, os principais foros dedicados a esse tema são a Reunião de Altas Autoridades em Direitos Humanos
(RAADH) e a Reunião de Autoridades sobre Povos Indígenas (RAPIM). A RAADH realizou em novembro de 2013 sua XXIV
reunião, e conta com a participação das chancelarias e dos órgãos de governo responsáveis por direitos humanos, como
a SDH, no caso brasileiro. A RAPIM deverá ser criada na próxima Cúpula do MERCOSUL e será encarregada de tratar da
promoção dos direitos dos povos indígenas. Pelo Brasil, o Itamaraty apoiará a liderança da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) nesse órgão.

Na UNASUL, o tratamento de direitos humanos dar-se-á no Grupo de Alto Nível de Cooperação e Coordenação em
Direitos Humanos. O órgão ainda definirá sua estrutura, sua agenda e suas formas de participação.

2.2. Revisão periódica universal

No âmbito do Conselho de Direitos Humanos, o Brasil já participou duas vezes (2008 e 2012) do mecanismo de Revisão
Periódica Universal, por meio do qual todos os membros da ONU são avaliados quanto a sua situação de proteção dos
direitos humanos. A participação do Brasil nesse mecanismo é capitaneada pelo Itamaraty, em coordenação com a
Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a Secretaria de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR) e a Secretaria
de Políticas para as Mulheres (SPM), entre outros.

Em 2012, o Brasil recebeu 170 recomendações nas mais diferentes áreas, como desenvolvimento e inclusão social;
promoção da igualdade; educação; segurança alimentar; moradia adequada; defensores de direitos humanos; memória
e verdade; segurança, justiça e sistema prisional; crianças e adolescentes; pessoas com deficiência; pessoas idosas e
povos indígenas. É significativo que o Governo brasileiro tenha acolhido todas essas manifestações – com exceção de
uma, que trata da estrutura das polícias no Brasil e que conflita com a Constituição brasileira.

Esse elevado número de aceitações reflete o comprometimento do Governo brasileiro com suas obrigações
internacionais em direitos humanos, ao dialogar de maneira transparente e cooperativa com os mecanismos
internacionais que atuam de forma independente e imparcial, segundo padrões multilateralmente estabelecidos.

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Por meio desse mecanismo, a comunidade internacional pode também reconhecer o impacto positivo gerado por
diversas políticas públicas recentes para a implementação dos direitos humanos no Brasil. Quase um terço das
recomendações adotou a expressão "continuar os esforços" e duas delas se referiram a "compartilhar com outros países
as boas práticas e progressos alcançados", especialmente em matéria de redução da pobreza e de inclusão social.

2.3. Grupos vulneráveis

A política externa para assuntos de gênero promove uma agenda orientada por valores como igualdade de gênero,
empoderamento das mulheres, inclusão econômica, reconhecimento de direitos sexuais e reprodutivos e enfrentamento
da violência contra a mulher.

A diplomacia brasileira é ativa no fortalecimento dos regimes internacionais de proteção de crianças, adolescentes e
idosos. No âmbito da OEA, há negociações voltadas para a adoção de uma Convenção Interamericana dos Direitos da
Pessoa Idosa. O Governo brasileiro também busca fazer avançar os debates sobre uma Convenção sobre idosos na ONU.

Atribuímos grande importância ao processo de implementação da Declaração e Plano de Ação de Durban contra
Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Apoiamos a criação, pela CELAC, da Década dos
Afrodescendentes Latinoamericanos e Caribenhos e trabalhamos para que o combate ao racismo e a promoção da
igualdade racial sejam temas de destaque em foros regionais e multilaterais.

A diplomacia brasileira também tem contribuído para mobilizar a comunidade internacional no enfrentamento à
violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT). Por iniciativa brasileira, em
2013 a Assembleia Geral da OEA aprovou a Convenção Interamericana contra Toda Forma de Discriminação e
Intolerância. Na ONU, temos atuado em favor do tratamento, pelo Conselho de Direitos Humanos (CDH), da promoção e
proteção dos direitos das pessoas LGBT.

O Brasil está empenhado na implementação da Convenção Internacional das Pessoas com Deficiência, de 2007, e na
promoção da inclusão social desse grupo de pessoas. A diplomacia brasileira trabalha por novos avanços na área, a
exemplo da assinatura do Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas para Pessoas Cegas, com
Deficiência Visual ou outras Deficiências.

2.4. Novos temas

Em 2013, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução A/RES/68/167, intitulada "O direito à privacidade na era
digital", originalmente proposta por Brasil e Alemanha. O fato de que foi aprovada pelo consenso dos 193 Estados-
membros demonstra o reconhecimento pela comunidade internacional, de princípios universais defendidos pelo Brasil,
como a proteção do direito à privacidade e à liberdade de expressão, especialmente contra ações extraterritoriais de
países em matéria de coleta de dados, monitoramento e interceptação de comunicações. O documento inovou,
também, ao expressar o reconhecimento de que os direitos dos cidadãos devem ser protegidos tanto "offline" como
"online". A resolução prevê que, no âmbito das Nações Unidas, se dê continuidade ao diálogo e se aprofundem as
discussões sobre o direito à privacidade nas comunicações eletrônicas.

O Governo brasileiro também está em engajado em ações internacionais relacionadas ao direito à memória. O Brasil
coopera com países vizinhos no intercâmbio de documentos relacionados a graves violações de direitos humanos
ocorridas durante os respectivos regimes militares – iniciativa que constitui contribuição importante para os trabalhos da
Comissão Nacional da Verdade.

2.5. Temas sociais


2.5.1. Política externa para temas sociais

Os avanços sociais alcançados pelo Brasil nos últimos foram reconhecidos internacionalmente e despertaram interesse
de outros países pelas políticas públicas brasileiras. O Brasil é percebido como capaz de liderar uma agenda criativa e
inovadora sobre temas sociais no plano internacional. A cooperação em tecnologias sociais é tema de interesse dos
nossos parceiros, especialmente na América Latina e Caribe e na África.

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Além de exprimirem e projetarem nossos valores no plano internacional, as parcerias e compromissos internacionais
contribuem para aperfeiçoar as políticas públicas nacionais nesse campo, proporcionando melhorias concretas na vida
dos cidadãos.

No sistema das Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) coordena os trabalhos relacionados à saúde.
Dentre as diversas atribuições da OMS estão: liderar os debates sobre temas como saúde global, doenças não-
transmissíveis e HIV/AIDS; promover a pesquisa em saúde; estabelecer normas e padrões; fornecer apoio técnico aos
Estados; e atuar na prevenção, avaliação, monitoramento e combate a pandemias. A Organização Panamericana da
Saúde (OPAS) é o Escritório Regional para as Américas da OMS, integrando simultaneamente os sistemas da OEA e da
ONU.

Criada em 1919, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) desempenha papel central na formulação e aplicação das
normas internacionais nesse campo. O "trabalho decente", conceito formalizado em 1999, sintetiza a missão de
promover oportunidades para que todos tenham um trabalho produtivo e de qualidade – condição fundamental para
superar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais, garantir a governabilidade democrática e promover o
desenvolvimento sustentável.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é o órgão da ONU responsável por promover o
desenvolvimento e trabalhar para eliminar a pobreza no mundo. Entre outras atribuições, cabe ao PNUD a coordenação
e o monitoramento da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), criado em 1969, é a principal entidade da ONU na área de população
e desenvolvimento. A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994,
aprovou o "Programa de Ação do Cairo", que se transformou na pedra fundamental do trabalho do UNFPA.

2.5.2. Saúde

Nos últimos anos, a agenda global na área de saúde tem ganhado cada vez mais abrangência, importância e visibilidade.
Nesse período, cresceu o protagonismo do Brasil nos debates da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Programa das
Nações Unidas para o HIV/AIDS (UNAIDS) e em outros foros. Nos últimos anos, em complementação ao foco sobre
doenças transmissíveis e acesso a medicamentos, a atuação do Brasil foi fundamental para que a agenda internacional
de saúde incorporasse, entre suas discussões centrais, a prevenção e tratamento de doenças crônicas não transmissíveis,
os determinantes sociais da saúde e a universalização dos sistemas de saúde.

2.5.3. Trabalho

No plano internacional, o Governo brasileiro tem defendido em diversos foros, especialmente no G-20 Financeiro, a
importância das políticas de emprego e proteção social para fazer frente à crise econômica internacional.

O Brasil está empenhado para que a comunidade internacional dê seguimento à Agenda de Trabalho Decente da
Organização Internacional do Trabalho. Somos, também, um dos principais prestadores de cooperação trilateral Sul-Sul
em parceria com a OIT, com projetos em diversos países.

Além disso, o Brasil tem liderado os debates internacionais sobre a erradicação das piores práticas, em especial o
trabalho escravo e infantil. Em outubro de 2013, o Brasil sediou a III Conferência Global sobre Trabalho Infantil, com
participação de 154 países – ocasião em que se aprovou a Declaração de Brasília sobre Trabalho Infantil.

3. Diplomacia Cultural

A diplomacia cultural é um instrumento importante de aproximação entre os povos, contribuindo para abrir mercados
para a indústria cultural e para o estabelecimento de vínculos culturais e linguísticos. É, também, ferramenta para
estimular os diálogos político e econômico, pois fomenta o entendimento mútuo e cria confiança, interesse e respeito
entre as nações.

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A diplomacia brasileira promove a divulgação da cultura e das artes brasileiras em suas múltiplas dimensões, procurando
estimular a cooperação cultural e o ensino da língua portuguesa. Se, por um lado, ressalta a singularidade de nossa
cultura, por outro, revela as afinidades que a unem a outros povos – particularmente significativas, já que nosso país
acolheu fluxos migratórios das mais diversas origens.

No exterior, a difusão da cultura brasileira é executada por meio dos setores culturais das Embaixadas e Consulados.
Cabe-lhes coordenar-se com instituições culturais estrangeiras, entre as quais universidades, museus, festivais de
cinema, salas de concerto e teatros. Para a consecução dos objetivos culturais, o Ministério vale-se do Programa Anual
do Departamento Cultural, das Comissões Mistas Culturais e dos Programas Executivos Culturais. Na esfera pública, são
tradicionais parceiros do Itamaraty o Ministério da Cultura, a Fundação Biblioteca Nacional, as Universidades federais e
estaduais e as Secretarias de Cultura dos Estados e Municípios.

O Ministério divulga, igualmente, a literatura brasileira, por meio de tradução e publicação, no exterior, de escritores
nacionais. Obras de diversos autores brasileiros – clássicos e contemporâneos – têm sido traduzidas para idiomas
estrangeiros, com apoio do Itamaraty.

O Departamento Cultural do Itamaraty, responsável pela difusão da cultura brasileira no exterior, está organizado em
cinco unidades:

 A Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP) promove a difusão da língua portuguesa na sua vertente
falada no Brasil, bem como coordena a gestão da Rede Brasil Cultural, formada por Centros Culturais Brasileiros,
Núcleos de Estudos Brasileiros e Leitorados.

 A Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) difunde e promove a cultura e a arte brasileiras em suas
múltiplas e diversas vertentes e participa da negociação e da implementação de acordos bilaterais de
cooperação cultural.
 A Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV) tem a atribuição de promover o cinema nacional, a produção
independente para a TV e a publicidade brasileira no exterior.
 A Coordenação de Divulgação (DIVULG) é responsável pela disseminação, no exterior, de informações sobre a
cultura, atualidades e outros aspectos da realidade brasileira, e pelo compartilhamento, no Brasil, de aspectos
das políticas públicas de outros países que contribuam para o enriquecimento da discussão e da formulação de
políticas nacionais.
 A Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais Culturais (DAMC) responde pelos temas de cultura tratados em
organismos multilaterais, como UNESCO, MERCOSUL, UNASUL, OEA, CELAC e OEI.
 A Divisão de Temas Educacionais (DCE) cuida dos temas ligados à Educação no Ministério das Relações
Exteriores, como a cooperação educacional oferecida pelo Brasil e recebida de outros países, organismos
internacionais ou agências estrangeiras; participa da negociação e acompanha a execução de acordos
referentes à cooperação educacional; divulga oportunidades de bolsas de estudos oferecidas a brasileiros no
exterior e estrangeiros no Brasil.

Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP)

Divisão de Promoção da Língua Portuguesa (DPLP): promove a difusão da língua portuguesa na sua vertente falada no
Brasil, bem como coordena a gestão da Rede Brasil Cultural.

Rede Brasil Cultural

A Rede Brasil Cultural é instrumento do Ministério das Relações Exteriores para a promoção da língua portuguesa no
exterior. Presente em mais de quarenta países em todos os continentes, é formada por vinte e quatro Centros Culturais,
cinco Núcleos de Estudo e cerca de quarenta leitorados.

Os Centros Culturais Brasileiros são extensões de embaixadas em que se oferecem cursos de língua portuguesa, bem
como atividades relacionadas à cultura brasileira. Os primeiros centros resultaram de missões culturais enviadas pelo
Itamaraty, nos anos 1940, a embaixadas na América do Sul. As atividades dos Centros Culturais concentram-se no ensino
da língua portuguesa, em sua vertente brasileira. Além de cursos regulares do idioma, os Centros Culturais oferecem

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módulos temáticos – como idioma para diplomatas, para militares e para funções jurídicas – e preparatórios para o
CELPE-Bras, exame de proficiência em língua portuguesa.

Os Núcleos de Estudos Brasileiros também estão vinculados a embaixadas do Brasil no exterior. Os Núcleos dedicam-se
ao ensino da língua portuguesa e à promoção da cultura brasileira, mas têm estruturas menores que os Centros
Culturais. Atualmente, estão localizados em Islamabade (Paquistão), Malabo (Guine Equatorial), Cidade da Guatemala
(Guatemala) e Uruguai (Artigas e Río Branco).

Os Leitores Brasileiros são professores universitários selecionados por concurso público promovido pela CAPES para
atuar em universidades estrangeiras. Durante seu período no exterior, os leitores ministram aulas da vertente brasileira
da língua portuguesa, bem como trabalham temas relacionados às manifestações culturais do Brasil.

A Rede Brasil Cultural promove, ainda, o Português como Língua de Herança junto àsComunidades Brasileiras no Exterior.
Anualmente, apoiam-se projetos que estimulem o aprendizado e a utilização da língua portuguesa por descendentes de
brasileiros que vivem no exterior.

Com apoio da Rede Brasil Cultural, aplica-se internacionalmente o CELPE-Bras, exame de proficiência em língua
portuguesa, vertente brasileira. Diversos Centros Culturais Brasileiros são postos aplicadores do exame no exterior. O
CELPE-Bras é aceito por empresas e instituições de ensino como comprovação de competência na língua portuguesa e,
no Brasil, é pré-requisito para que estudantes estrangeiros possam realizar cursos de graduação e pós-graduação.

Para saber mais: http://redebrasilcultural.itamaraty.gov.br

Para acompanhar notícias da Rede Brasil Cultural: www.facebook.com/redebrasilcultural

Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC)

Cabe à Divisão de Operações de Difusão Cultural (DODC) promover e difundir, no exterior, a cultura brasileira em seus
mais diversos aspectos, como as artes visuais, as artes cênicas, a música e a literatura.

Os principais instrumentos utilizados pela DODC para alcançar tais objetivos são os Programas de Difusão Cultural dos
Postos no exterior (PDC); a instrumentalização dos acordos bilaterais de cooperação cultural; e os projetos temáticos
voltados para a promoção da nova geração de músicos, artistas visuais e dramaturgos brasileiros.

Programa de Difusão Cultural (PDC)

O PDC é a programação executada com periodicidade anual pelos Postos (Embaixadas e Consulados), sob a coordenação
da DODC.
Os Postos avaliam quais manifestações culturais podem despertar maior curiosidade no país em que estão sediados e
submetem proposta de programação cultural à avaliação da DODC. Esta, então, analisa as propostas, as aprova e
administra, seguindo critérios pré-determinados, tais como disponibilidade orçamentária; excelência artística; inovação;
diversidade de manifestações culturais; interesse local; potencial formador de mercado; repercussão na imprensa e
fortalecimento das relações culturais bilaterais e da coesão da comunidade brasileira residente naquele país.
Cada projeto executado é novamente avaliado com base nos relatórios elaborados pelo Posto responsável e pelos
artistas envolvidos e na intensidade da repercussão nas imprensas local e brasileira.

Acordos Bilaterais de Cooperação Cultural

Compete também à DODC coordenar a negociação e a implementação dos instrumentos jurídicos bilaterais que têm o
objetivo de aproximar a cultura do Brasil daquelas de outros países. A assinatura de acordos bilaterais culturais tem por
desdobramento a criação e realização periódica de reuniões das chamadas Comissões Mistas (Comistas). Por meio
destas, propõem-se atividades conjuntas voltadas para o intercâmbio cultural entre os países e para a divulgação de suas
artes. Um dos principais resultados das Comistas é a elaboração periódica dos Programas Executivos Culturais, que visam
à execução de propostas concretas de cooperação cultural, em períodos pré-definidos.

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Novas Vozes do Brasil

Lançado em 2011, o Projeto Novas Vozes do Brasil visa a levar alguns dos mais expressivos nomes da nova geração da
música popular brasileira para apresentações inéditas no exterior, em especial, nos principais mercados fonográficos
mundiais. O apoio é dado a artistas que estejam em fase inicial da carreira e que já tenham seus álbuns de estreia
lançados no Brasil, com bom reconhecimento do público e da crítica especializada.

Projeto de Residências Artísticas no Exterior

Lançado em 2011, o Projeto de Residências Artísticas no Exterior consiste no apoio ao intercâmbio de artistas brasileiros
em renomadas instituições estrangeiras, tais como museus, centros culturais e escolas de arte. Uma vez no exterior, os
artistas contemplados ganham a oportunidade de trocar experiências com artistas de diversas origens, além de estudar
técnicas e materiais pouco conhecidos e de realizar workshops, exposições e projetos comunitários. Cientes de que o
acervo de artes do Itamaraty constitui-se em importante instrumento de divulgação das artes brasileiras no mundo, os
artistas contemplados concordam em doar uma obra por eles criadas no âmbito do projeto.

Nova Dramaturgia Brasileira

Lançado em 2013, em parceria com o Ministério da Cultura e a Associação Cena Brasil Internacional, o Projeto Nova
Dramaturgia Brasileira tem como objetivo ampliar a difusão internacional do teatro nacional.

A estratégia do projeto centra-se na publicação, em diversos idiomas, de coletânea de obras de dramaturgos brasileiros
contemporâneos e na realização, em paralelo, de leituras dramáticas das obras, dado que a apresentação por artistas
locais tende a despertar maior interesse no público.

Como resultado, o projeto acaba por facilitar o estabelecimento de contatos entre atores, produtores, diretores e
roteiristas brasileiros nos países onde a coletânea é lançada.

Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV)

Divisão de Promoção do Audiovisual (DAV) tem por intuito divulgar, promover e apoiar a presença do cinema nacional,
da produção independente para TV e da publicidade brasileira no exterior. Sua criação, em 2006, reflete um maior
envolvimento institucional do MRE nas políticas públicas relacionadas ao audiovisual, em articulação com outros órgãos
públicos dedicados ao tema, como a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV) e a Agência Nacional do
Cinema (Ancine). Busca-se, assim, uma afinação entre a política de consolidação da indústria audiovisual brasileira tanto
no âmbito nacional quanto no âmbito externo.

Entre as competências da DAV está o apoio à participação brasileira em festivais, mostras e outros eventos no exterior,
por meio do envio de filmes e de profissionais da área, além da organização e apoio diretos de mostras e festivais junto à
rede de Postos no exterior. Esses esforços inserem-se numa lógica de capacitação de pessoal e de prospecção de novas
oportunidades comerciais para o setor audiovisual brasileiro, preocupações que permeiam as iniciativas da Divisão.

A ênfase na capacitação de pessoal norteia a manutenção de uma linha de apoio a jovens talentos para participação em
laboratórios de formação, e desdobra-se na realização de oficinas de roteiro no Brasil que permitem o intercâmbio de
conhecimento com profissionais de importantes mercados cinematográficos estrangeiros.

A busca de oportunidades comerciais para as produções brasileiras concentra-se não só no incentivo a coproduções
internacionais e no apoio a eventos específicos, mas igualmente na publicação de pesquisas de mercado audiovisual
voltadas a identificar oportunidades de inserção competitiva em determinados países.

Dessa maneira, cabe à DAV apoiar e organizar mostras, festivais e exibições de produtos audiovisuais brasileiros em
circuitos comerciais e alternativos, bem como nas instalações dos Centros de Estudos Brasileiros, Institutos Culturais e
Postos no exterior, apoiar a participação de diretores, atores, produtores e outros profissionais do setor audiovisual
brasileiro, bem como de produtos audiovisuais brasileiros, em festivais, mostras e outros eventos no exterior; estimular a
digitalização, tradução e legendagem de produtos audiovisuais brasileiros para exibição no exterior; elaborar, coletar e

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adquirir, bem como distribuir no Brasil ou no exterior, publicações, folhetos e outros materiais para a promoção do
audiovisual brasileiro, voltada a identificar oportunidades de inserção competitiva em mercados estratégicos ao redor do
mundo.

Coordenação de Divulgação (DIVULG)

A Coordenação de Divulgação (DIVULG) é responsável pela disseminação, no exterior, de informações sobre a cultura,
atualidades e outros aspectos da realidade brasileira. Além disso, busca compartilhar, no Brasil, aspectos das políticas
públicas de outros países que contribuam para o enriquecimento da discussão e da formulação de políticas nacionais.

Por meio do Programa de Divulgação da Realidade Brasileira, planejado e executado em coordenação com a rede de
Postos em todo o mundo, realiza exposições, palestras, concertos e programas de rádio.

A DIVULG coordena, igualmente, o Programa Formadores de Opinião, que convida jornalistas e outras personalidades-
chaves estrangeiros a visitarem o Brasil, para conhecer projetos exitosos em setores como cultura, ciência e tecnologia e
infraestrutura, e levar a seus países de origem informações atualizadas sobre o País, ajudando a construir uma imagem
do Brasil mais precisa, positiva e despida de estereótipos.

A Coordenação edita, ainda, publicações, em diversos idiomas, sobre temas como música brasileira, culinária, capoeira,
festas populares, teatro, futebol, moda, cultura sul-americana e outros. Essas publicações são distribuídas gratuitamente
ao público, em especial por meio da rede de Postos. São publicados também volumes que compilam iniciativas de outros
países em diferentes esferas da ação pública, como políticas de promoção da inovação, iniciativas em prol da educação
básica do e ensino médio e políticas de promoção da igualdade racial, entre outros temas de especial importância
estratégica.

Várias das publicações da DIVULG podem ser encontradas em formato digital na página do Departamento Cultural. Na
mesma página são publicadas notícias sobre os eventos culturais realizados pelo Departamento Cultural.

Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais Culturais (DAMC)

Divisão de Acordos e Assuntos Multilaterais Culturais (DAMC) é responsável pelos temas de cultura tratados no âmbito
de organismos multilaterais. Compete à DAMC negociar o conteúdo e a forma dos acordos multilaterais culturais, além
de acompanhar sua tramitação até a ratificação. Também coordena a participação do Brasil nos programas relacionados
à Convenção do Patrimônio Mundial e nas demais Convenções culturais no âmbito da UNESCO, como a de Diversidade
Cultural e Economia da Cultura e as de Patrimônio Material e Imaterial.

No que se refere aos organismos multilaterais, cabe à DAMC estabelecer as linhas de atuação junto à UNESCO, em todas
as áreas de atuação da Organização, ou seja, Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas, Cultura e Informação, em
coordenação com as demais unidades pertinentes do MRE. Na Organização, o Brasil defende o fortalecimento do
mandato na defesa da cultura e da diversidade cultural, entendida como elemento essencial do desenvolvimento
sustentável, posição alinhada à do documento final da Conferência Rio+20, "O Futuro que Queremos"

O Brasil apoia, ademais, o fortalecimento da atuação da UNESCO no campo da ética e da privacidade no ciberespaço,
com vistas à preservação da credibilidade das tecnologias de comunicação e informação e à sua utilização como
plataforma de desenvolvimento e de fortalecimento democrático. O País sublinha a importância da promoção da
diversidade cultural e do multilinguismo no ambiente digital.

Ainda, a DAMC atende às demandas de natureza cultural surgidas nos demais organismos multilaterais, incluindo os
regionais, como: i) Conselho Sul-Americano de Cultura; ii) MERCOSUL Cultural; iii) UNASUL, iv) Organização dos Estados
Iberoamericanos (OEI); v) Organização dos Estados Americanos (OEA); e vi) Comunidade dos Estados Latinoamericanos e
Caribenhos (CELAC).

Divisão de Temas Educacionais (DCE)

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Cooperação educacional

A cooperação em temas educacionais é um instrumento político para promover a aproximação entre os Estados por
meio de suas sociedades. Iniciativas brasileiras nessa área em parceria com outros países em desenvolvimento
contribuem para projetar o Brasil como país cuja atuação internacional é solidária. Ademais, a convivência com outras
culturas, o aprendizado de idiomas estrangeiros e a troca de experiências levam à formação de um ambiente de
integração e conhecimento mútuo, propiciando maior compreensão, respeito à diversidade e tolerância.

Veja a seguir algumas iniciativas da Divisão de Temas Educacionais, em parceria com outros países, organismos
internacionais e órgãos governamentais:

Programa Ciência sem Fronteiras

Em parceria com o Ministério da Educação e com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Itamaraty acompanha
a implementação no exterior do programa Ciência sem Fronteiras (CsF). Desde 2011, ano de criação do Programa, foram
concedidas mais de 80 mil bolsas de estudo. Em 25 de junho de 2014, a segunda fase do programa foi anunciada pela
Presidenta da República.

O governo federal concederá 100 mil novas bolsas de estudo até 2019, a fim de seguir estimulando o intercâmbio
acadêmico em áreas de conhecimento consideradas prioritárias para o desenvolvimento nacional. As bolsas do programa
permitem tanto o envio de universitários e pesquisadores brasileiros para instituições de ensino no exterior, como a
atração de acadêmicos estrangeiros para as universidades e centros de pesquisa brasileiros.

Programa de Apoio a Estudantes Brasileiros (PAEB)

Por meio da rede Embaixadas e Consulados brasileiros no exterior, o Itamaraty presta apoio aos bolsistas brasileiros do
Ciência sem Fronteiras no exterior por meio do Programa de Apoio a Estudantes Brasileiros. Veja aqui algumas ações
implementadas no âmbito do PAEB, como seminários e encontros de orientação a bolsistas.

Consulte os manuais voltados a bolsistas brasileiros do Ciência sem Fronteiras elaborados por nossos Consulados e
Embaixadas em alguns países de destino.

Saiba mais acessando o site da Divisão de Temas Educacionais do Itamaraty.

Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G)

Vagas em cursos de graduação em universidades brasileiras para estudantes de países em desenvolvimentos com o quais
o Brasil tem acordo de cooperação educacional

Consulte o Manual do estudante-Convênio atualizado

Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG)

Bolsas de pós-graduação em universidades brasileiras para estudantes de países em desenvolvimentos com o quais o
Brasil tem acordo de cooperação educacional

Oportunidades de bolsas de estudos oferecidas a brasileiros por governos estrangeiros e organismos internacionais

4. Desenvolvimento sustentável e meio ambiente


4.1. O Brasil e o meio ambiente

A discussão sobre o desenvolvimento sustentável realizada em foros multilaterais tem grande relevância para a formação
de políticas nacionais e conta com o engajamento da sociedade civil. O Brasil desempenha papel de crescente

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importância no tema, tanto pelos recentes avanços domésticos nos aspectos ambiental, social e econômico quanto por
sua consistente atuação nos foros internacionais.

O Brasil sediou as duas conferências internacionais sobre sustentabilidade mais importantes da história: a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92) e a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

A Rio92 consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável como a promoção simultânea e equilibrada da proteção
ambiental, da inclusão social e do crescimento econômico. Nessa conferência, o Brasil assumiu postura ambiciosa nas
discussões e teve papel determinante na aprovação de documentos cruciais, como a Agenda 21, a Declaração do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre Florestas e as Convenções sobre Biodiversidade,
sobre Mudança Climática e sobre Desertificação.

4.2. Desenvolvimento Sustentável


4.2.1. O Brasil e o desenvolvimento sustentável

A discussão sobre o desenvolvimento sustentável realizada em foros multilaterais tem grande relevância para a formação
de políticas nacionais e conta com o engajamento da sociedade civil. O Brasil desempenha papel de crescente
importância no tema, tanto pelos recentes avanços domésticos nos aspectos ambiental, social e econômico quanto por
sua consistente atuação nos foros internacionais.

O Brasil sediou as duas conferências internacionais sobre sustentabilidade mais importantes da história: a Conferência
das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio92) e a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

A Rio92 consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável como a promoção simultânea e equilibrada da proteção
ambiental, da inclusão social e do crescimento econômico. Nessa conferência, o Brasil assumiu postura ambiciosa nas
discussões e teve papel determinante na aprovação de documentos cruciais, como a Agenda 21, a Declaração do Rio
sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Declaração de Princípios sobre Florestas e as Convenções sobre Biodiversidade,
sobre Mudança Climática e sobre Desertificação.

4.2.2. Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Desde 2013, seguindo mandato da Conferência Rio+20, as Nações Unidas vêm discutindo um conjunto de Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS), que deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação
internacional nos próximos quinze anos, sucedendo os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).

As discussões se desenvolveram ao longo de 13 sessões, entre março de 2013 e julho de 2014, no âmbito de Grupo de
Trabalho Aberto, formado por 70 países membros da Assembleia Geral. O Brasil participou de todas as sessões, em
assento compartilhado com a Nicarágua. O Grupo de Trabalho chegou a uma proposta que contém 17 Objetivos e 169
metas, envolvendo temáticas diversificadas, como erradicação da pobreza, segurança alimentar e agricultura, saúde,
educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades, energia, água e saneamento, padrões sustentáveis de
produção e de consumo, mudança do clima, cidades sustentáveis, proteção e uso sustentável dos oceanos e dos
ecossistemas terrestres, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança, e meios de
implementação. Confira a íntegra da proposta de ODS.

O Brasil desempenhou papel fundamental na implementação dos ODM e tem mostrado grande empenho no processo
em torno dos ODS, com representação nos diversos comitês criados para apoiar o processo pós-2015. Tendo sediado a
primeira Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), bem como a Conferência Rio +20, em 2012, o
Brasil tem um papel importante a desempenhar na promoção da Agenda Pós-2015. As inovações brasileiras em termos

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de políticas públicas também são vistas como contribuições para a integração das dimensões econômica, social e
ambiental do desenvolvimento sustentável.

A coordenação nacional em torno da Agenda Pós-2015 e dos ODS resultou no documento de "Elementos Orientadores
da Posição Brasileira", elaborado a partir dos trabalhos de seminários com representantes da sociedade civil; de oficinas
com representantes das entidades municipais organizadas pela Secretaria de Relações Institucionais/PR e pelo Ministério
das Cidades; e das deliberações do Grupo de Trabalho Interministerial sobre a Agenda Pós-2015, que reuniu 27
Ministérios e órgãos da administração pública federal.Confira o documento que contém os elementos orientadores da
posição brasileira.

4.2.3. Agenda de Desenvolvimento Pós-2015

A Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 pode ser definida como o conjunto de diretrizes que norteará as ações da ONU
e de seus Estados-Membros com vistas à promoção do desenvolvimento após 2015. Nesse ano termina a vigência dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e deverá ser finalizado o processo de definição dos Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS), lançado na Rio+20.

O Brasil considera que a Agenda deverá promover a continuidade dos esforços para a erradicação da pobreza, iniciados
pelos ODM, e a efetiva integração das três dimensões do desenvolvimento sustentável – a social, a econômica e a
ambiental. A Agenda vem sendo discutida em diversos foros, como o Grupo de Trabalho Aberto sobre Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (GTA/ODS) e o Evento Especial sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,
ocorrido em setembro de 2013, que avaliou os resultados alcançados pelos ODM até aquele momento e discutiu formas
de integrá-los na Agenda de Desenvolvimento Pós-2015.

4.3. Meio ambiente e mudança do clima


4.3.1. Biodiversidade

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) – aberta para assinatura na Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, em 1992 – tem como objetivos a conservação da diversidade biológica,
o uso sustentável de seus componentes e a repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos
recursos genéticos. Além disso, reconhece a soberania dos países sobre seus recursos genéticos – bem como o direito de
cada país determinar, por lei nacional, o regime de acesso aos recursos de sua biodiversidade. O Brasil foi o primeiro país
a assinar a Convenção, a tendo ratificado em 1994.

País megadiverso, o Brasil possui a maior cobertura florestal tropical do mundo e concentra cerca de 12% da
biodiversidade do planeta. O Governo brasileiro tem sido um dos mais atuantes nas negociações desencadeadas pela
Convenção, em razão da importância que têm os recursos da diversidade biológica para o desenvolvimento econômico e
social do país. Os Estados-Partes da Convenção se reúnem a cada dois anos em Conferências das Partes (COP). O atual
Secretário-Executivo da CDB é o brasileiro Bráulio Dias.

Na 10ª Conferência das Partes da CDB (COP-10), realizada em Nagoia, em 2010, aprovou-se um Plano Estratégico para a
Conservação da Biodiversidade para o período de 2011 a 2020, com 20 metas para a redução da perda de
biodiversidade. Estas serão implementadas por cada país de acordo com suas circunstâncias, necessidades e capacidades
nacionais.

Durante a COP-10, concluíram-se as negociações para um regime sobre repartição de benefícios da utilização de
recursos genéticos e de conhecimentos tradicionais associados – e, com isso, adotou-se o Protocolo de Nagoia sobre
Acesso a Recursos Genéticos e Repartição Justa e Equitativa de Benefícios Derivados de sua Utilização. Espera-se que,
uma vez em vigor, auxilie no combate à biopirataria e na proteção dos direitos dos povos indígenas e comunidades
locais. O Brasil foi um dos primeiros a assinar o Protocolo de Nagoia, cujo texto encontra-se em análise no Congresso
Nacional. O Protocolo entrará em vigor quando 50 países o tiverem ratificado.

O acesso aos recursos da biodiversidade também é discutido no âmbito da Comissão de Recursos Genéticos (CRGAA) da
FAO e do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura (TIRFAA), adotado em 2004.
Reunindo a maior biodiversidade do planeta com setores de pesquisa e produção agrícola avançados, o Brasil sempre foi

21
um dos mais atuantes nesses fóruns. A Comissão possui mandato negociador sobre recursos genéticos vegetais, animais,
florestais, aquáticos, de invertebrados e microorganismos de interesse para a segurança alimentar. O TIRFAA enfoca as
espécies vegetais utilizadas na alimentação e agricultura e criou sistema de acesso facilitado a 64 espécies vegetais que
formam a base de 80% da alimentação humana. O Tratado também estabelece mecanismo multilateral de repartição de
benefícios que prevê o compartilhamento de pesquisas realizadas ou o pagamento de percentual pelos benefícios
comerciais auferidos.

O Brasil empenhou-se para a criação da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos
(IPBES), que promove a interface entre ciência e políticas públicas relacionadas à biodiversidade. Estabelecida em 2012
como um fórum intergovernamental independente, aberta a todos os membros das Nações Unidas, a IPBES conta com
114 membros. Não estando vinculada a uma convenção específica, a IPBES pode responder a solicitações tanto dos
Estados-Partes, como das convenções relacionadas à biodiversidade – a exemplo da CDB – da Convenção sobre o
Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), da Convenção das
Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), da Convenção sobre Espécies Migratórias (CMS) ou da Convenção
de Ramsar.

4.3.2. Biossegurança

Questões que envolvem biossegurança e, particularmente, organismos vivos modificados (OVMs) – aqueles cujo material
genético foi modificado pela introdução de gene modificado ou pertencente a outra variedade ou espécie – têm
provocado debates, em especial nas comunidades científica e acadêmica e nos setores ambiental, agroindustrial e
comercial.

No plano internacional, o principal documento sobre o tema é o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança. Adotado
pela Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica, o Protocolo de Cartagena entrou em vigor em
setembro de 2003 e atualmente reúne 167 Estados-partes. Esse tratado disciplina o movimento transfronteiriço de
OVMs que possam ter efeitos adversos para o meio ambiente e para a saúde humana, estabelecendo um "acordo de
informação prévia" segundo o qual as Partes se comprometem a fornecer as informações necessárias para a tomada de
decisão sobre a importação de OVMs para seus territórios. Os Estados-partes criaram, também, a Biosafety Clearing-
House, que promove o intercâmbio de informações e o debate sobre os temas do Protocolo de Cartagena.

O Brasil tem papel incontornável nas discussões internacionais sobre biossegurança, por ser, simultaneamente, um país
megadiverso, um expressivo produtor de OVMs e o maior exportador agrícola a vincular-se ao Protocolo de Cartagena. A
posição do Governo brasileiro nas discussões sobre regras de biossegurança leva em conta os interesses de proteção do
meio ambiente e da saúde humana, mas os equilibra com os interesses tecnológicos e comerciais do País.

Durante a 5ª Reunião das Partes do Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP-5), realizada em 2010, adotou-se
o Protocolo Suplementar de Nagoia-Kuala Lumpur sobre Responsabilidade e Compensação, que estabelece normas e
procedimentos para casos em que a movimentação transfronteiriça de um OVM cause danos à conservação e ao uso da
biodiversidade, levando em consideração os riscos à saúde humana. Atualmente com 21 Estados-partes, o Protocolo
Suplementar apenas entrará internacionalmente em vigor após a ratificação por quarenta países. Signatário desse
documento, o Brasil analisa internamente sua ratificação.

Para saber mais:

Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio)

Lei de Biossegurança (Lei 11.105, de 24 de março de 2005)

4.3.3. Mudança no clima

O regime internacional de mudança do clima está fundamentado na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima (UNFCCC, da sigla em inglês), assinada no Rio de Janeiro, em 1992 e em vigor desde 1994; e
no Protocolo de Quioto, assinado em 1997 e em vigor desde 2005. As negociações do regime são subsidiadas pelos
trabalhos científicos doPainel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC). O principal foro de negociações da

22
UNFCCC é a Conferência das Partes, que se realiza anualmente, sempre em conjunto com a Reunião das Partes do
Protocolo de Quioto (CMP).

Um dos princípios fundamentais da Convenção é o de "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", pelo qual os
países desenvolvidos, por suas responsabilidades históricas e atuais pelo aquecimento global e sua maior capacidade
financeira e tecnológica, assumiram metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, obrigações de
fornecimento de apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento e compromissos mais exigentes de
informar sobre ações nacionais. Os países em desenvolvimento, por sua vez, também contribuem para enfrentar o
aquecimento global, de forma compatível com o imperativo do crescimento econômico e social, cuja prioridade para os
países em desenvolvimento é reconhecida pela Convenção.

O Protocolo de Quioto complementou a UNFCCC, ao estabelecer metas quantitativas legalmente obrigatórias de redução
de emissões de gases de efeito estufa para países desenvolvidos. Suas regras rígidas para monitoramento, informação e
verificação de emissões e remoções desses gases oferecem base de comparabilidade entre os esforços dos países
desenvolvidos – assegurando, ainda, a integridade ambiental de resultados apresentados, ou seja, base confiável de que
a mitigação efetivamente ocorre.

O primeiro período de compromissos do Protocolo começou em 2008 e se encerrou em 31 de dezembro de 2012, tendo
por objetivo reduzir as emissões agregadas dos países desenvolvidos a patamar 5% abaixo de seu nível em 1990.
Avaliação final dos resultados obtidos será determinada após processo de monitoramento, relatórios e verificação nos
próximos dois anos.

Entre os principais resultados recentes das negociações no âmbito das Conferências das Partes da UNFCCC, destaca-se a
COP-16/CMP-16, realizadas em Cancun, em 2010. Em boa medida, Cancun conseguiu avançar em diversos temas
debatidos na COP anterior, em Copenhague, dentre os quais mitigação, redução de emissões provenientes de
desmatamento e degradação florestal (REDD+), financiamento de curto e longo prazo, e o estabelecimento do Fundo
Verde para o Clima (“Green Climate Fund”), do Mecanismo de Tecnologia e do Comitê de Adaptação.

A COP-17/CMP-7 (Durban, 2011) logrou resultado abrangente e equilibrado, com destaque para acordo sobre a adoção
do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto. Lançou-se a "Plataforma de Durban" (“Durban Platform for
Enhanced Action”), por meio da qual será negociado, até 2015, um “protocolo, outro instrumento legal ou resultado
acordado com força legal” aplicável a todas as Partes e sob a Convenção, a ter vigência a partir de 2020.

O principal resultado da COP-18/CMP-8, realizada em Doha, em 2012, foi a formalização da entrada em vigor, em 1º de
janeiro de 2013, do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto. A COP-18 também direcionou os
trabalhos da Plataforma de Durban para abordar a ambição de mitigação no período pré-2020 e a negociação de novo
instrumento internacional.

A COP-19/CMP-9 (Varsóvia, novembro de 2013) exerceu papel de transição, implementando decisões de COPs passadas.
A principal delas foi a aprovação de regras para pagamento por resultados de atividades de redução de emissões por
desmatamento e degradação florestal (REDD+). Também se aprovou a criação de um mecanismo sobre perdas e danos
decorrentes dos efeitos da mudança do clima. Os países desenvolvidos renovaram a intenção de mobilizar US$ 100
bilhões por ano, a partir de 2020.

4.3.4. Desertificação

As secas, a degradação de terras e a desertificação representam sérios desafios globais, especialmente para os países em
desenvolvimento. As secas são fenômenos naturais que podem causar consideráveis desequilíbrios hidrológicos,
afetando negativamente a agricultura. Períodos prolongados de seca têm levado a migrações em massa e a crises
humanitárias, como as ocorridas no Chifre da África e na região do Sahel. A desertificação e a degradação de terras, que
resultam de fatores como as variações climáticas e a ação humana, provocam perda da biodiversidade e da camada
arável do solo, prejudicando a produção agrícola e o desenvolvimento sustentável dos países.

Com grandes áreas semiáridas e subúmidas secas, o Brasil tem participado ativamente das discussões multilaterais sobre
desertificação, reforçando a busca do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza. O Governo brasileiro

23
entende que a cooperação internacional pode contribuir para a mitigação dos efeitos da seca, para a implantação e o
desenvolvimento de sistemas de prevenção e de alerta precoce, bem como para o combate à desertificação e para o
manejo adequado de terras e de solos. O Brasil defende a importância não apenas da aplicação do conhecimento
científico, mas também do conhecimento tradicional e das melhores práticas para enfrentar esses desafios. O manejo
adequado de solos é fundamental para evitar a destruição dos solos e a desertificação, além de ter papel importante na
promoção da agricultura sustentável e da segurança alimentar, bem como para a conservação da biodiversidade, a
mitigação dos efeitos nocivos da mudança do clima e a melhoria na disponibilidade de água.

A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), adotada em 1994, constitui o maior esforço já
empreendido pela comunidade internacional no combate à desertificação e à mitigação dos efeitos da seca. A UNCCD
tem como foco as zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas afetadas ou ameaçadas pela desertificação. A Convenção
estabelece que os Estados-partes desenvolvidos devem mobilizar recursos financeiros e facilitar a transferência de
tecnologia para os países em desenvolvimento afetados, reconhecendo que a África deve ser a principal beneficiária dos
esforços internacionais dirigidos ao combate à desertificação.

A 11ª Conferência das Partes (COP-11) da UNCCD, ocorrida em setembro de 2013, em Windhoek, Namíbia, tratou de
importantes temas para o funcionamento da Convenção, como a provisão de informações científicas e o refinamento de
indicadores para os seus objetivos estratégicos. A COP-12 da UNCCD está prevista para ocorrer em 2015, na Turquia.

Para saber mais:

Ministério do Meio Ambiente (MMA)

Organização Metereológica Mundial (WMO)

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC)

4.3.5. Espécies ameaçadas

Um elevado número de espécies animais e vegetais que correm risco de extinção, seja por existirem em número
reduzido de indivíduos, seja por mudanças nos padrões ambientais ou predatórios. Embora existam causas naturais para
processos de extinção – como a ação de predadores, epidemias ou desastres naturais –, as ações do ser humano são
atualmente as principais responsáveis pela perda de biodiversidade. Como os esforços individuais de qualquer país
seriam insuficientes para evitar a perda de biodiversidade, é necessário que as iniciativas para reagir a essa situação
sejam tomadas coletivamente pela comunidade internacional.

Diversos tratados internacionais lidam com o tema da conservação e uso sustentável da biodiversidade. Dentre as
convenções que fornecem o arcabouço legal para o tratamento especial das espécies ameaçadas de extinção
estão Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção
(CITES), a Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas (IAC/CIT), a Convenção
sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS) e o Acordo para Conservação de Albatrozes e
Petréis (ACAP).

A Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES) –
da qual o Brasil é parte desde 1975 e que já conta com 169 Estados-parte – regulamenta o comércio internacional de
fauna e flora silvestres e prevê um sistema de certificados e licenças para controlar o comércio de espécies ameaçadas.
As normas da CITES se aplicam somente às transações internacionais – não atingindo, portanto, outros fatores de
ameaça à biodiversidade, como o comércio ilegal dentro das fronteiras nacionais.

Os três Anexos à CITES listam as espécies protegidas pelo acordo, classificadas de acordo com o grau de ameaça a que
estão submetidas. O Apêndice I inclui espécies ameaçadas de extinção, cujo comércio somente será permitido em
circunstâncias excepcionais. O Apêndice II lista as espécies não necessariamente ameaçadas de extinção, mas cujo
comércio deve ser controlado a fim de evitar usos incompatíveis com sua sobrevivência. O Apêndice III relaciona as
espécies que são protegidas em pelo menos um país e que tenha solicitado assistência às demais partes da Convenção

24
para controlar seu comércio. No total, os diferentes níveis de proteção se estendem a mais de 35.000 espécies de
plantas e animais.

A Convenção Interamericana para a Proteção e Conservação das Tartarugas Marinhas (IAC/CIT), ratificada pelo Brasil em
2001, tem como objetivo "promover a proteção, a conservação e a recuperação das populações de tartarugas marinhas
e dos habitats dos quais dependem, com base nos melhores dados científicos disponíveis e considerando-se as
características ambientais, socioeconômicas e culturais das Partes".

O Brasil é signatário do Acordo para Conservação de Albatrozes e Petréis (ACAP), instrumento firmado no âmbito da
Convenção sobre a Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres (CMS ou Convenção de Bonn) – tratado
sob o qual são negociados acordos vinculantes e memorandos de entendimento, de caráter global ou regional, sobre
espécies específicas. Em vigor desde 1983, a CMS conta atualmente com 119 Estados-partes. O Brasil espera aderir em
breve à Convenção.

Para saber mais:

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA)

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

Projeto Tamar

4.3.6. Florestas

O debate sobre florestas tem alcançado crescente importância na agenda internacional, principalmente a partir da
Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD) – também conhecida como Rio-
92 ou Cúpula da Terra –, ocasião em que foram negociados os Princípios sobre Florestas e a Agenda 21.

País de imensa área florestal situada em diferentes biomas, o Brasil participa ativamente dessas discussões, defendendo
tratamento que leve em conta todos os sistemas florestais – e que considere não apenas aspectos ambientais, mas
também econômicos, comerciais, sociais e culturais. Os debates internacionais envolvem, igualmente, questões como
soberania territorial, redução das emissões e mitigação dos efeitos adversos da mudança do clima, conservação da
biodiversidade, proteção dos recursos hídricos e promoção do desenvolvimento sustentável.

O Foro das Nações Unidas sobre Florestas (UNFF) é o foro multilateral para a concertação de posições e interesses em
nível global sobre florestas. O UNFF é parte do Arranjo Internacional sobre Florestas e tem como objetivo a promoção do
manejo, a conservação e o desenvolvimento sustentável de todos os tipos de florestas, bem como o fortalecimento do
compromisso político a longo prazo na área.

A 7ª Sessão do UNFF, realizada em abril de 2007, foi especialmente importante, pois nela aprovou-se o Instrumento Não-
Vinculante Sobre Todos os Tipos de Florestas (NLBI), documento de referência para o manejo florestal sustentável (MFS)
e para as tratativas internacionais sobre o tema.

Atualmente, as principais discussões no âmbito do Foro são referentes à provisão de recursos para as atividades
desenvolvidas no contexto do MFS e ao futuro do Arranjo Internacional sobre Florestas e do próprio UNFF. Esses
também serão os principais temas da 11ª Sessão do UNFF, que deverá ser realizada em maio de 2015, em Nova York.

O Arranjo Internacional sobre Florestas conta também com a Parceria Colaborativa sobre Florestas (CPF), criada em 2001
e presidida pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), congregando 14 organizações
internacionais relevantes para o tema – incluindo o próprio UNFF.

Nas discussões internacionais sobre florestas, destacam-se, ainda, o Comitê sobre Florestas da FAO (COFO) e

25
a Organização Internacional de Madeiras Tropicais (OIMT), voltada para o manejo de florestas tropicais – além da coleta,
organização e divulgação de informações técnicas sobre essas florestas e sobre o comércio de madeiras.

Para saber mais:

Ministério do Meio Ambiente (MMA)


Serviço Florestal Brasileiro (SFB)
Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC)

4.3.7. Recursos hídricos

Os recursos hídricos vêm ganhando cada vez mais importância no cenário internacional, devido à importância do manejo
sustentável da água para o bem-estar das populações e para o desenvolvimento dos países.

O Brasil detém 12% das reservas de água doce do planeta, perfazendo 53% dos recursos hídricos da América do Sul.
Grande parte das fronteiras do País é definida por corpos d'água – são 83 rios fronteiriços e transfronteiriços, além de
bacias hidrográficas e de aquíferos. As bacias de rios transfronteiriços ocupam 60% do território brasileiro.

O Brasil promove iniciativas com o objetivo de fortalecer a cooperação em gestão de recursos hídricos, a fim de garantir
pleno acesso à água às populações da região. Na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), os recursos
hídricos representam tema propício para a cooperação, em vista do enorme potencial hídrico compartilhado pelos países
da bacia amazônica. No plano bilateral, o Brasil e seus vizinhos colaboram com vistas à gestão integrada dos recursos
hídricos fronteiriços e transfronteiriços.

Para o Brasil, a gestão dos recursos hídricos deve estar orientada pela Agenda 21 e referir-se aos princípios contidos na
Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), em particular ao seu princípio 2º – segundo o qual
os Estados têm o direito de explorar seus recursos de acordo com suas políticas ambientais e de desenvolvimento. Por
outro lado, os Estados têm a responsabilidade de velar para que as atividades realizadas em suas jurisdições ou sob seu
controle não causem danos ao meio ambiente de outros países ou de zonas que estejam fora dos limites nacionais.

O acesso à água é um direito humano. O Brasil defende sua valorização e faz parte do "Blue Group", grupo informal de
países interessados em sua discussão, reiterando que esse direito não gera obrigações exigíveis entre Estados. A água é
recurso natural estratégico, cuja gestão está no âmbito da soberania nacional, constituindo responsabilidade do Estado
perante seus cidadãos.

O Brasil está empenhado para cumprir a Meta nº 3 do Objetivo do Milênio (ODM) nº 7 – a redução pela metade, até
2015, da proporção da população sem acesso permanente e sustentável à água potável e segura e ao saneamento. O
Brasil acompanha, com interesse, a possível elaboração de Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) relacionado à
água.

No que diz respeito à proteção e manejo sustentável de áreas úmidas, o Brasil é parte, desde 1993, da Convenção
Ramsar sobre Zonas Úmidas – que, embora originariamente voltada à preservação dos habitats das espécies migratórias
de aves aquáticas, ganhou, ao longo do tempo, novas prioridades relacionadas ao uso sustentável da biodiversidade e à
gestão dos recursos hídricos. O Brasil possui doze áreas inscritas na Lista Ramsar de Sítios de Áreas Úmidas de
Importância Internacional, cuja gestão é coordenada pelo Ministério do Meio Ambiente. No âmbito da Convenção, o
Brasil integra duas Iniciativas Regionais voltadas para a conservação das zonas úmidas da região: a "iniciativa para a
conservação e uso racional da Bacia do Prata" e a "iniciativa regional para o manejo integral e uso racional dos
ecossistemas de mangues e corais".

Para saber mais:

UN Water

Dia Mundial da Água

26
Agência Nacional de Água (ANA)

Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH)

Plano Nacional de Recursos Hídricos

Plano Nacional de Saneamento Básico

4.4. Mar, Antártida e Espaço


4.4.1. Antártida

Assinado em 1959, o Tratado da Antártida disciplina toda a área ao sul do paralelo 60° Sul, construindo regime jurídico
que garante a proteção ambiental da área e que congelou as reivindicações territoriais. Desde sua criação, o sistema do
Tratado da Antártida tem adquirido maior estabilidade e institucionalização. Os Estados-partes se reúnem anualmente e,
em 2003, criaram o Secretariado Permanente do Tratado, sediado em Buenos Aires, com objetivo de atuar como
depositário das normas criadas no âmbito das Reuniões Consultivas e de tratar de questões administrativas.

Os princípios fundamentais do Tratado da Antártida são:

 uso pacífico da região e de seus recursos;


 liberdade de pesquisa científica;
 promoção da cooperação internacional em pesquisas antárticas;
 divisão justa e igualitária dos benefícios advindos dos recursos e pesquisas no continente; e
 o respeito à posição de cada uma das partes quanto ao reconhecimento, ou não, de reivindicação de soberania.

Assinado em 1991, o Protocolo de Madri sobre Proteção Ambiental complementa o Tratado da Antártida e declara a
região ao sul do paralelo 60° Sul “reserva natural, dedicada à paz e à ciência”. O Protocolo proíbe, “por tempo
indefinido”, qualquer atividade relacionada a recursos minerais, salvo pesquisas científicas. O Anexo V ao Protocolo
possibilita a criação de Áreas Especialmente Protegidas e Áreas Especialmente Gerenciadas – protegendo determinadas
regiões, ao proibir ou restringir o acesso e determinando formas de manejo.

Estabelecida em 1982, a Convenção para Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártida (CCAMLR), estabelecida
em 1982 integra o Sistema do Tratado. Trata-se de organização criada para promover o uso racional dos recursos
marinhos da Antártida, em especial o krill, e que conta com 25 membros – incluindo o Brasil, que aderiu à CCAMLR em
1985. Dentre os temas em discussão destacam-se a criação de Áreas Marinhas Protegidas no âmbito da Convenção, o
estabelecimento dos níveis de explotação dos estoques na área da Convenção e o combate à pesca ilegal, não declarada
e não regulamentada.

O Brasil aderiu ao Tratado da Antártida em 1975 e realizou, em 1982, sua primeira expedição àquele continente – a
Operação Antártica (OPERANTAR) I. O sucesso dessa operação levou à aceitação do Brasil como Parte Consultiva do
Tratado da Antártida, em 1983. Desde então, o Brasil vem participando integralmente no processo decisório do regime
antártico e no desenvolvimento das normas para as atividades humanas na região.

Em fevereiro de 2012, durante a OPERANTAR XXX, que marcou trinta anos de presença brasileira na Antártida, um
trágico incêndio destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz. Logo após o incêndio, o Governo brasileiro iniciou
processo com vistas à construção de nova estação antártica, garantindo a continuidade das pesquisas científicas e da
presença brasileira no continente.

A forte influência do continente antártico sobre o clima brasileiro, bem como o ambiente propício ao estudo das causas,
dos efeitos e das consequências da mudança do clima demonstram a importância de que o Brasil mantenha programa de
ciência antártica de vanguarda.

Entre 12 e 21 de maio de 2014, o Brasil sediou, em Brasília, a XXXVII Reunião Consultiva do Tratado da Antártida. A
reunião foi oportunidade ímpar para reforçar o comprometimento brasileiro com o Sistema do Tratado da Antártida,

27
com a preservação ambiental da região e com a promoção da cooperação científica internacional, bem como para dar
maior visibilidade ao PROANTAR e às pesquisas científicas nacionais.

Saiba mais:Programa Antártico Brasileiro

4.4.2. Plataforma continental brasileira

De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a plataforma continental de um Estado
compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem para além do seu mar territorial, em toda a
extensão do prolongamento natural do seu território terrestre, dentro de limites mínimos e máximos.

Os países exercem direitos de soberania sobre suas plataformas continentais para efeitos de exploração e
aproveitamento de seus recursos naturais. Por meio da extensão da área reconhecida como sua plataforma continental,
o Brasil aumenta o espaço no qual não se poderá aproveitar recursos naturais sem o consentimento brasileiro.

Em 1989, por meio do Plano de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC), o Brasil deu início a análises
técnicas e científicas com vistas à ampliação de sua plataforma continental.

Em 2004, o Brasil submeteu à Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC) proposta de delimitação de sua
Plataforma Continental para além das 200 milhas marítimas (Plataforma Continental Estendida - PCE), solicitando o
reconhecimento de cerca de 960.000 km² adicionais à atual definição de sua plataforma continental, distribuídos nas
regiões Norte (região do Cone do Amazonas e Cadeia Norte-Brasileira), Sudeste (região da Cadeia Vitória-Trindade e
Platô de São Paulo) e Sul (região do Platô de Santa Catarina e Cone do Rio Grande). O pleito corresponde à área
equivalente a dos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Caso aprovado, a área oceânica sob
jurisdição brasileira totalizaria 4,4 milhões de km² – o que representa cerca de metade da parte terrestre do território
nacional.

Em 2007, a CLPC publicou parecer que não atendia integralmente o pleito brasileiro. As recomendações daquele órgão
apontavam problemas para a incorporação de cerca de 20% a área reivindicada pelo Brasil, que compreendem as
seguintes regiões:

 Foz do Amazonas e Cadeia Norte-Brasileira


 Cadeia Vitória-Trindade; e
 Margem Continental Sul.

O Governo brasileiro decidiu preparar proposta revisada dos limites exteriores de sua Plataforma Continental, de forma a
responder às recomendações da CLPC e assegurar a aprovação para a totalidade da demanda brasileira. Foi iniciada,
assim, em dezembro de 2008, no âmbito do LEPLAC, nova fase de coleta de dados na margem continental brasileira.
Desde a finalização da tarefa, em 2010, o LEPLAC vem conduzindo os trabalhos de processamento e interpretação dos
novos dados coletados, bem como de elaboração de nova proposta a ser apresentada à CLP.

4.4.3. Programa espacial brasileiro

As tecnologias espaciais contribuem para o desenvolvimento, gerando benefícios em áreas como clima, prevenção de
desastres, proteção do meio ambiente, assistência humanitária, controle de endemias, comunicações, navegação por
satélite e educação.

Muitas das atividades espaciais desenvolvidas pelo Brasil são realizadas em cooperação com outros países. Nessas
parcerias, nossa expectativa é a de que os desafios tecnológicos sejam enfrentados conjuntamente pelos países
envolvidos: não interessa ao Brasil que eventual cooperação se limite a mera aplicação de tecnologias já desenvolvidas
por outro país.

O Itamaraty trabalha para encorajar e fortalecer iniciativas de cooperação espacial bilateral e multilateral que tragam
benefícios tecnológicos à indústria brasileira, possibilitem o intercâmbio de estudantes, pesquisadores e cientistas e
resguardem os interesses dos países em desenvolvimento em relação ao uso equitativo do espaço.

28
Estabelecido em 1961, o programa espacial brasileiro é coordenado pela Agência Espacial Brasileira desde sua criação,
em 1991. Os investimentos planejados para o período de 2012 a 2021 têm por foco tem por foco engajar a indústria
brasileira em todos os estágios de desenvolvimento de projetos espaciais e estimular o estabelecimento de uma base
industrial nacional sustentável. Para o Brasil, é prioritário atingir autonomia nas atividades espaciais, em razão de seu
caráter estratégico para o gerenciamento do vasto território nacional, da importância do domínio das tecnologias de
comunicação e de informação, bem como dos seus benefícios econômicos e sociais.

4.4.4. Espaço

O Brasil tem presença ativa nos principais fóruns multilaterais dedicados ao espaço exterior – como o Comitê para Usos
Pacíficos do Espaço Exterior (COPUOS) – e defende as normas que constam dos cinco Tratados das Nações Unidas sobre
Direito Espacial, elaborados entre 1967 e 1979. Desse modo, o Governo brasileiro defende que o espaço deve ser
utilizado de forma sustentável, com fins pacíficos, em benefício de toda a humanidade e em condição de igualdade para
todos os países.

Diante do crescimento do número de países e organizações que desenvolvem atividades espaciais, torna-se cada vez
mais necessário aperfeiçoar o regime jurídico internacional, de forma a garantir a transparência, a previsibilidade e a
sustentabilidade dessas atividades.

A diplomacia brasileira tem contribuído decisivamente para buscar soluções para questões como a utilização equitativa
da órbita geoestacionária, a mitigação dos detritos espaciais e a prevenção de corrida armamentista no espaço. O Brasil
defende, ademais, que cada vez mais países participem dos fóruns e organismos dedicados ao espaço, para que essas
tecnologias sejam efetivamente utilizadas como instrumentos de desenvolvimento social, econômico e cultural.

5. Integração Regional
5.1. MERCOSUL

Com mais de duas décadas de existência, o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é a mais abrangente iniciativa de
integração regional já implementada na América Latina.

Os membros do MERCOSUL (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, países fundadores, e Venezuela, que completou seu
processo de adesão em meados de 2012) abrangem, aproximadamente, 72% do território da América do Sul (12,8
milhões de km², equivalente a três vezes a área da União Europeia); 70% da população sul-americana (275 milhões de
habitantes) e 77% do PIB da América do Sul em 2012 (US$ 3,18 trilhões de um total de US$ US$ 4,13 trilhões, segundo
dados do Banco Mundial).

Em 2013, com a assinatura do Protocolo de Adesão do Estado Plurinacional da Bolívia ao MERCOSUL, deu-se início ao
processo de adesão daquele país também como Estado Parte.

Além dos países membros, são Estados Associados do MERCOSUL o Chile, o Peru, a Colômbia e o Equador, além de
Guiana e Suriname, que adquiriram esse status em julho de 2013. Todos os países da América do Sul estão vinculados ao
MERCOSUL, seja como Estado Parte, seja como Associado.

Se tomado em conjunto, o MERCOSUL seria a quinta maior economia do mundo, com um PIB de US$ 3,32 trilhões. O
MERCOSUL é o principal receptor de investimentos estrangeiros diretos (IED) na região. O bloco recebeu 47,6% de todo
o fluxo de IED direcionado à América do Sul, América Central e ao México em 2012 (dados da UNCTAD). O bloco constitui
espaço privilegiado para investimentos, por meio de compra, controle acionário e associação de empresas dos Estados
Partes. A ampliação da agenda econômica da integração, na última década, contribuiu para incremento significativo dos
investimentos diretos destinados pelos Estados Partes aos demais sócios do bloco.

O MERCOSUL foi fundado em 1991, por meio do Tratado de Assunção. Celebrado em 1994, o Protocolo de Ouro Preto é
outro acordo fundamental para o bloco, pois define a estrutura institucional do MERCOSUL, estabelecendo as atribuições
e o sistema de tomada de decisões de seus órgãos principais. Por meio do Protocolo de Ouro Preto atribuiu-se
personalidade jurídica internacional ao MERCOSUL.

29
O bloco pode ser caracterizado como uma união aduaneira em fase de consolidação, com matizes de mercado comum,
com eliminação dos entraves à circulação dos fatores de produção, bem como pela adoção de política tarifária comum
em relação a terceiros países, por meio de uma Tarifa Externa Comum (TEC).

Em pouco mais de vinte anos, o MERCOSUL provou ser um grande sucesso em termos econômico-comerciais. O
comércio intrabloco multiplicou-se mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões (1991) para US$ 58,2 bilhões (2012).
No mesmo período, o comércio mundial cresceu apenas cinco vezes. O comércio do Brasil com o MERCOSUL quase
multiplicou-se por dez – ao passo que, com o resto do mundo, o aumento foi de oito vezes. O comércio intrabloco
corresponde a cerca de 15% do total global do MERCOSUL e reduziram-se quase totalmente as tarifas para comércio
entre os países do bloco.

À primeira vista, pode parecer que a iniciativa possui objetivos "comercialistas", mas o MERCOSUL é muito mais do que
isso. Desde sua origem, o MERCOSUL é baseado em um projeto político e estratégico de integração no qual o aspecto
comercial se soma a outras vertentes – de igual ou maior importância.

A semente do MERCOSUL está no processo de aproximação entre Brasil e Argentina iniciado na década de 1980 e
reforçado com a redemocratização nesses dois países. Desde sua gênese, o bloco está marcado pelo simbolismo de
nações que se unem em torno de princípios e objetivos como a democracia e o desenvolvimento econômico –
elementos que qualificaram o bloco com o passar do tempo. Hoje, estão consolidadas no MERCOSUL a cláusula
democrática e o entendimento de que o desenvolvimento econômico deve vir acompanhado da melhoria das condições
de vida das populações.

O tratamento das assimetrias entre os países recebe atenção especial. O estabelecimento do Fundo de Convergência
Estrutural do MERCOSUL (FOCEM), em 2005, visou ao financiamento de programas para melhorar a infraestrutura na
região, desenvolver a competitividade, coesão social e o fortalecimento institucional do processo de integração regional.
Em operação desde 2007, o FOCEM conta com carteira de mais de quarenta projetos, em valor total de cerca de US$ 1,4
bilhão – dos quais cerca de US$ 1 bilhão são custeados por recursos não-reembolsáveis do FOCEM. O fundo tem
contribuído para a inciativas em áreas como habitação, transportes, incentivos à microempresa, biossegurança,
capacitação tecnológica e infraestrutura sanitária – em particular nas economias menores do bloco – além de custear
projetos que beneficiam cidades e comunidades fronteiriças, inclusive no Brasil.

O MERCOSUL é fundamental para a atividade industrial dos Estados Partes. Em 2012, 92% das exportações brasileiras ao
MERCOSUL foram bens industrializados (manufaturados e semi-manufaturados). Um dos setores que mais se beneficia
do MERCOSUL é o automotivo, pois o bloco possibilitou a Brasil e Argentina integrar suas cadeias produtivas de
automóveis. Brasil e Argentina juntos são o terceiro maior mercado global de automóveis (depois de China e Estados
Unidos). Em 2013, 47% da produção de automóveis argentinos foram exportados para o Brasil. O mercado brasileiro foi
o destino de 85% das exportações argentinas de veículos no ano passado. As exportações para a Argentina
representaram, em 2013, 16% da produção brasileira de automóveis e 80% das exportações de veículos do Brasil.

Em resumo, o MERCOSUL não se limita à dimensão econômica e comercial, contando com iniciativas comuns que
abrangem da infraestrutura às telecomunicações; da ciência e tecnologia à educação; da agricultura familiar ao meio
ambiente; da cooperação fronteiriça ao combate aos ilícitos transnacionais; das políticas de gênero à promoção integral
dos direitos humanos. Isso é o que faz do MERCOSUL um dos projetos de integração mais amplos do mundo.

5.2. União de Nações Sul-Americanas

A integração regional é prioridade para a diplomacia brasileira. O Brasil incentiva esse projeto não apenas por estar
convicto dos benefícios para a inserção e a projeção do país e da região em um mundo cada vez mais multipolar, mas
também porque se trata de objetivo determinado pela Constituição Federal à nossa política externa. Em seu artigo 4º,
parágrafo único, estabelece que "a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e
cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações".

A criação da UNASUL faz parte de processo recente de superação da desconfiança que havia entre os países sul-
americanos desde os movimentos de independência, no século XIX. Até 2008, a América do Sul se relacionava com o
resto do mundo por meio de um modelo do tipo "arquipélago": cada país atuava de maneira isolada e desintegrada,

30
dialogando primordialmente com os países desenvolvidos de fora da região. Quando do estabelecimento da UNASUL, os
países da região passaram a articular-se em torno de áreas estruturantes, como energia e infraestrutura, e a coordenar
posições políticas. A UNASUL privilegia um modelo de "desenvolvimento para dentro" na América do Sul –
complementando, dessa forma, o antigo modelo de "desenvolvimento para fora".

A UNASUL tem como objetivo construir um espaço de integração dos povos sul-americanos. A região passa por um
importante momento de estabilidade democrática e avanços sociais – consequência, dentre outros fatores, dos
benefícios decorrentes da coordenação política entre os países. A organização tem demonstrado que é possível
fortalecer a integração e identificar consensos, respeitando a pluralidade.

Estrutura institucional

A UNASUL é estruturada por Conselhos formados por Chefes de Estado, por Chanceleres e por Delegados, por uma
Secretaria-Geral – que passa por uma fase de consolidação e fortalecimento – e por doze Conselhos Setoriais, que
tratam de temas específicos:

 energia;
 defesa;
 saúde;
 desenvolvimento social;
 infraestrutura;
 problema mundial das drogas;
 economia e finanças;
 eleições;
 educação;
 cultura;
 ciência, tecnologia e inovação;
 segurança cidadã, justiça e coordenação de ações contra a delinquência organizada transacional.

O compromisso da UNASUL com o fortalecimento da democracia

A UNASUL está comprometida com o fortalecimento da democracia, tendo atingido avanços importantes na mediação
de tensões regionais – a exemplo da crise separatista do Pando (Bolívia, 2008), da crise entre Colômbia e Venezuela
(2010), do apoio à ordem constitucional e democrática do Equador quando da sublevação de sua Polícia Nacional (2010)
e da elaboração de medidas de fomento à confiança e segurança pelo Conselho de Defesa Sul-Americano.

Com o objetivo de desestimular aventuras antidemocráticas na região, os Chefes de Estado da UNASUL decidiram inserir
uma cláusula democrática na organização – o que foi feito por meio do Protocolo Adicional ao Tratado Constitutivo
assinado na Cúpula de Georgetown (2010).

A UNASUL teve atuação destacada na crise desencadeada pela deposição do Presidente paraguaio Fernando Lugo (junho
de 2012), realizada sem respeito às garantias democráticas como o devido processo legal e o direito à ampla defesa. O
Paraguai foi suspenso da UNASUL até que houvesse pleno restabelecimento da ordem democrática no país – o que se
deu com a posse do novo Presidente democraticamente eleito (agosto de 2013).

Nos primeiros meses de 2014, no contexto da crise desencadeada por protestos na Venezuela, a UNASUL voltou a
demonstrar unidade e capacidade de atuar como elemento de estabilização da situação política na região ao catalisar o
processo de diálogo promovido pelo Governo venezuelano com a oposição naquele país.

Infraestrutura

Não há integração regional sem integração da infraestrutura física, necessária para reduzir as distâncias entre os povos e
para aumentar a competitividade das economias da região. O Conselho de Infraestrutura e Planejamento da UNASUL

31
(COSIPLAN) é o principal foro de condução do processo de integração da infraestrutura física sul-americana, tendo como
objetivo prover apoio político de alto nível para a concretização dos projetos. O COSIPLAN incorporou a Iniciativa para a
Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) como seu “Foro Técnico”, aproveitando o acervo de trabalho
acumulado entre 2000 e 2010 no que diz respeito ao planejamento territorial e à identificação dos projetos mais
relevantes para a integração da infraestrutura regional. Dentre os resultados já alcançados pelo COSIPLAN está a
elaboração de um Plano de Ação Estratégico para dez anos (2012-2022), que estabelece um conjunto de ações para cada
objetivo específico do COSIPLAN, e a definição de uma Agenda Prioritária de Projetos, composta por 31 iniciativas de
caráter estratégico e de alto impacto para a integração física e desenvolvimento socioeconômico regional, com
investimentos estimados em mais de US$ 16,7 bilhões.

Recursos naturais

Tem-se discutido, na UNASUL, o desenvolvimento de uma estratégia sul-americana de aproveitamento dos recursos
naturais – uma das principais vantagens comparativas da América do Sul. No continente está a maior reserva de petróleo
do mundo e cerca de um terço de todos os recursos hídricos do planeta. A América do Sul concentra quase 40% da
reserva biogenética mundial e é a 3º maior produtora mundial das principais culturas agrícolas (trigo, milho, soja, açúcar
e arroz). Projeta-se que, até 2050, a América do Sul será responsável por 30% da produção agrícola do mundo.

5.3. Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos

Em dezembro de 2008, o Brasil tomou a iniciativa de convocar a I Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América
Latina e Caribe para o Desenvolvimento e a Cooperação (CALC), que se realizou na Costa do Sauipe, Bahia. O objetivo foi
estabelecer um processo de cooperação que abrangesse toda a região latino-americana e caribenha.

A principal virtude da CALC foi reunir, pela primeira vez, todos os 33 países da região, que não se encontravam juntos
sem a interferência de um país desenvolvido em outros mecanismos. O Grupo do Rio, por exemplo, que se consolidara,
na década de 1980, como foro regional de concertação política – com importante atuação na pacificação da América
Central e na redemocratização – reunia 24 Estados. Para países como Cuba, que não participava de alguns mecanismos
na região, a CALC foi vista como importante meio para sua reinserção. Para a maioria dos países caribenhos que não
participava diretamente do Grupo do Rio, a CALC também tinha essa função. A CALC foi, portanto, a primeira
oportunidade que os países da região tiveram para se reunir e refletir sobre o desenvolvimento e a integração a partir de
uma agenda própria, moldada de acordo com os interesses das sociedades latino-americanas e caribenhas.

Em fevereiro de 2010, o México sediou conjuntamente a II CALC e a Cúpula do Grupo do Rio, na chamada Cúpula da
Unidade. No evento, foi aprovada a ideia de reunir progressivamente o Grupo do Rio e a CALC no marco de um único
foro, intitulado a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC). Com a Cúpula de Caracas, em
dezembro de 2011, ocorreu a primeira reunião da CELAC.

Como herdeira da CALC e do Grupo do Rio, a CELAC assume duas vocações: a cooperação para o desenvolvimento e a
concertação política. Na vertente da cooperação, a CELAC tem promovido reuniões ministeriais ou de alto nível sobre
temas como educação, desenvolvimento social, cultura, transportes, infraestrutura e energia. Em 2013, o Brasil teve a
oportunidade de sediar a I Reunião de Altos Funcionários da CELAC sobre Agricultura Familiar, que analisou estratégias
de desenvolvimento rural, com vistas à promoção da segurança alimentar e nutricional e à erradicação da pobreza rural.
O país também sediou a I Reunião de Altos Funcionários sobre Ciência e Tecnologia na CELAC, ocasião em que se
debateram políticas públicas relacionadas à formação e capacitação de recursos humanos, infraestrutura de pesquisa e
desenvolvimento e serviços tecnológicos de apoio à inovação empresarial. A organização conta com um Plano de Ação
que, para 2014, define as prioridades de cooperação em torno de 19 eixos:

 segurança alimentar e nutricional e erradicação da fome e da pobreza;


 agricultura familiar;
 educação;
 cultura;
 ciência, tecnologia e inovação;
 desenvolvimento produtivo e industrial;
 infraestrutura;

32
 finanças;
 preferência tarifária latino-americana e caribenha;
 energia;
 meio ambiente;
 agenda de desenvolvimento pós-2015;
 assistência humanitária internacional;
 migrações;
 problema mundial das drogas;
 prevenção e luta contra a corrupção;
 cooperação;
 mecanismos regionais e sub-regionais de integração; e
 política internacional.

Na vertente da concertação política, a CELAC tem demonstrado capacidade de emitir pronunciamentos sobre temas
relevantes da agenda internacional e regional, como o desarmamento nuclear, a questão da Síria, o caso das ilhas
Malvinas e o bloqueio norte-americano a Cuba, dentre outros. O diálogo e a concertação política promovidos por meio
da CELAC tem se manifestado inclusive por meio de intervenções conjuntas no âmbito da Assembleia Geral das Nações
Unidas e de suas Comissões.

Além disso, a CELAC tornou-se ferramenta valiosa para o diálogo da América Latina com o resto do mundo e tem
proporcionado à região manter posições coesas nas relações com outros blocos regionais e países emergentes. Hoje, a
CELAC mantém mecanismos de intercâmbio de informações com a União Europeia, China, Rússia, Índia, Conselho de
Cooperação do Golfo, entre outros. Dessa forma, a CELAC está facilitando a conformação de uma identidade própria
regional. As consultas políticas são feitas, em geral, à margem do debate geral da Assembleia Geral das Nações Unidas e
permitem o intercâmbio de informações sobre temas de interesse global e a cooperação desenvolvida entre a América
Latina e o Caribe e atores relevantes do sistema internacional.

A CELAC assumiu, igualmente, a interlocução regional no mecanismo de diálogo e cooperação entre a América Latina e
Caribe e a União Europeia (UE), criado em 1999. A cooperação CELAC-UE inclui temas, como ciência e tecnologia,
migrações, investimentos, gênero e problema mundial das drogas, entre outros. Desde 2012, o mecanismo conta com o
apoio da Fundação EU-LAC, com sede em Hamburgo, que tem por missão estimular a reflexão sobre temas de interesses
das duas regiões, apoiar a execução dos objetivos acordados e promover diálogos com a sociedade civil, academia e
setor privado. Apesar da grande diversidade de perspectivas, natural em um foro que reúne 61 países, o diálogo entre as
duas regiões possui base de sustentação sólida nos estreitos laços culturais, migratórios existentes entre as duas regiões,
bem como em valores comuns, como a democracia e a promoção dos direitos humanos.

A CELAC funciona com base em reuniões políticas, reuniões ministeriais especializadas e grupos de trabalho setoriais. Na
definição da ordem de países que ocuparão a Presidência pro tempore do mecanismo, atenta-se para uma distribuição
equitativa entre as sub-regiões da América Latina e do Caribe. Atualmente, a Costa Rica a ocupa a Presidência, que
passará para o Equador em 2015.

5.4. Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA)

A Região Amazônica, por seu gigantismo e suas particularidades, é peça-chave nos debates internacionais
contemporâneos, como aqueles relativos ao desenvolvimento sustentável, à mudança do clima e ao combate à fome e à
pobreza. Com população de aproximadamente 38 milhões de pessoas, representa 40% do território sul-americano e
abriga a maior floresta megadiversa do mundo, habitat de 20% de todas as espécies de fauna e flora existentes. A Bacia
Amazônica contém cerca de 20% da água doce da superfície do planeta.

As características da região trazem desafios e oportunidades, que requerem tratamento coordenado e diferenciado – o
que é proposta da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), bloco socioambiental formado pelos
Estados que partilham o território Amazônico: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

As origens da organização remontam a 1978, quando, por iniciativa brasileira, os oito países amazônicos assinaram, em
Brasília, o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), com o objetivo promover o desenvolvimento harmônico da região e

33
o bem-estar de suas populações, além de reforçar a soberania dos países sobre seus territórios amazônicos. O
fortalecimento da cooperação regional é o principal meio para alcançar esses objetivos.

Vinte anos depois, em Caracas, os países firmaram Protocolo de Emenda ao Tratado de Cooperação Amazônica, criando
a OTCA, organização internacional dotada de secretaria permanente e orçamento próprio, que permite aperfeiçoar a
implementação dos propósitos do Tratado. Em dezembro de 2002, foi assinado, no Palácio do Planalto, o Acordo de Sede
entre o Governo brasileiro e a OTCA, que estabeleceu a sede da Secretaria Permanente da Organização em Brasília. Vale
notar que, até hoje, a OTCA é a única organização internacional multilateral sediada no Brasil.

A Reunião de Ministros das Relações Exteriores é o órgão deliberativo máximo da Organização, responsável por fixar as
diretrizes básicas da política comum, avaliar iniciativas desenvolvidas e adotar decisões necessárias à consecução dos fins
propostos. O Conselho de Cooperação Amazônica (CCA), integrado por representantes diplomáticos de alto nível dos
países-membros, deve velar pelo cumprimento dos objetivos do Tratado e das decisões adotadas pelos Ministros de
Relações Exteriores. O CCA é auxiliado pela Comissão de Coordenação do Conselho de Cooperação Amazônica (CCOOR),
órgão meramente consultivo.

No âmbito interno, cabe à Comissão Nacional Permanente do Tratado de Cooperação Amazônica – constituída por
representantes de treze Ministérios e presidida pelo Itamaraty – coordenar as atividades relacionadas à aplicação, no
território brasileiro, das disposições do Tratado.

Nos últimos anos, a OTCA experimenta processo de relançamento e de fortalecimento. Nessa nova fase, suas atividades
são pautadas pelas diretrizes da Nova Agenda Estratégica de Cooperação Amazônica, aprovada pelos Chanceleres dos
países-membros em 2010, que reflete as prioridades dos países amazônicos, de acordo com a nova realidade política e
social da região.

Ainda como parte da estratégia de dinamizar a organização, os países decidiram incrementar o valor de suas
contribuições anuais, dotando-a de maior capacidade de financiamento de suas atividades. Em abril de 2013, o Brasil
anunciou a doação de terreno para a construção do novo edifício-sede da OTCA, contribuindo para garantir a autonomia
financeira da Organização.

Atualmente, estão em execução mais de 20 iniciativas, projetos e programas, em áreas como meio ambiente, assuntos
indígenas, ciência e tecnologia, saúde, turismo e inclusão social. Entre eles, destaca-se o Projeto Monitoramento da
Cobertura Florestal na Região Amazônica, executado desde meados de 2011, em parceria com o Instituto Nacional de
Pesquisas Especiais (INPE). O objetivo do Projeto é contribuir para o desenvolvimento regional da capacidade de
monitoramento da Floresta Amazônica, por meio de instalação de salas de observação nos países-membros e de
capacitação e intercâmbio de experiências em sistemas de monitoramento. As atividades planejadas para o período
2013-2017 contam com financiamento do Fundo Amazônia/BNDES, no valor de R$ 23 milhões.

5.5. Associação Latino-Americana de Integração (ALADI)

A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) foi criada em 1980 para promover o desenvolvimento econômico e
social da região, em processo de integração que visa ao estabelecimento, de forma gradual e progressiva, de um
mercado comum latino-americano. Atualmente, são membros da ALADI: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba,
Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A Nicarágua está em processo de adesão. O conjunto
dos 13 membros da ALADI abrange uma área de 20 milhões de km² (quase cinco vezes maior do que a área dos 28 países
que conformam a União Europeia), cerca de 530 milhões de habitantes e um PIB superior a US$ 5 trilhões.

A ALADI é resultado de um processo de integração regional iniciado no final da década de 1950, cujo primeiro marco foi
a criação, em 1960, da Associação Latino Americana de Livre Comércio (ALALC). A ALALC era um mecanismo
relativamente rígido, pois obrigava que qualquer concessão comercial de um país-membro a outro seria estendida,
imediata e automaticamente, aos demais – a "cláusula da nação mais favorecida". Esse modelo não proporcionou os
avanços esperados.

Diante da percepção de que era necessário alterar esse modelo, o Tratado de Montevidéu de 1980 (TM80) –
instrumento que criou a ALADI – trouxe consigo um importante elemento de flexibilização: a possibilidade da assinatura

34
de acordos entre apenas dois ou mais países-membros. Dessa forma, os compromissos não mais precisaram ser
assumidos por todos os países. Isso fez com que o número de acordos assinados no âmbito da ALADI aumentasse de
forma significativa.

O TM80 está notificado junto à Organização Mundial do Comércio (OMC) sob a denominada “cláusula de habilitação”, o
que permite aos países-membros da ALADI estabelecer preferências tarifárias e compromissos em matéria de redução
ou eliminação de medidas não tarifárias sem precisar estender esses benefícios aos demais membros da OMC – uma
exceção, portanto, à cláusula da nação mais favorecida.

Esse mecanismo jurídico para aceitação de exceções para países em desenvolvimento da ALADI é o amparo para os
compromissos comerciais no âmbito do MERCOSUL, formalizados sob o Acordo de Complementação Econômica Nº 18
(ACE-18). Embora o Tratado constitutivo do MERCOSUL não tenha sido protocolizado na ALADI, muitas normas
comerciais do MERCOSUL são registradas na ALADI, como Protocolos Adicionais ao ACE-18. As normas amparadas
juridicamente no TM80 conformaram a zona de livre comércio e a união aduaneira no MERCOSUL. Como resultado,
entre 1991 e 2012, o comércio intrabloco no MERCOSUL multiplicou em mais de dez vezes, saltando de US$ 5,1 bilhões
para US$ 58,2 bilhões.

Atualmente, cerca de 70% do comércio entre os países da ALADI é totalmente desgravado – ou seja, conta com 100% de
preferência tarifária. Para o Brasil, o valor do comércio liberado é de aproximadamente 75% do total das nossas
exportações e quase 90% do total das nossas importações. Graças à rede de acordos da ALADI, prevê-se que a América
do Sul se torne uma área de livre comércio em 2019.

A ALADI também facilita o comércio por meio de outras iniciativas para além de sua rede de acordos. Uma delas é o
Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR), que funciona como um sistema de compensação de pagamentos
derivados do comércio dos países membros entre os bancos centrais participantes. O CCR permite economia de divisas e
a diminuição de risco de exportações aos demais países-membros. Além disso, a ALADI implementa a Certificação de
Origem Digital, sistema que permite a emissão de documentos de origem por meio eletrônico, em substituição ao papel
– modernizando, agilizando e reduzindo os custos dos trâmites nas operações comerciais.

Outra importante iniciativa de promoção do comércio é a EXPO ALADI, voltada para pequenas e médias empresas. A
EXPO ALADI é uma grande rodada de negócios que reúne representantes de entidades governamentais e empresariais
para a divulgação de oferta exportável e das preferências proporcionadas pela rede de acordos comerciais da ALADI.

O Brasil é parte dos seguintes acordos comerciais vigentes amparados pelo TM80: acordos de alcance regional nº 1, nº 2,
nº 3, nº 4, nº 6, nº 7 e nº 8; acordos de complementação econômica nº 2, nº 14, nº 18, nº 35, nº 36, nº 53, nº 54, nº 55,
nº 58, nº 59, nº 62 e nº 69; acordos agropecuários (art. 12 do TM80) nº 2 e nº 3; acordos de promoção do comércio (art.
13 do TM80) nº 2, nº 5, nº 7, nº 8 e nº 19; acordos sob o art. 14 do TM80 nº 3, nº 4, nº 5, nº 6, nº 7, nº 8, nº 9, nº 10, nº
12 e nº 17; e acordos sob o art. 25 do TM80 nº 38 e nº 41. Para saber mais sobre esses acordos, consulte o site da ALADI.

6. Energia

Energia e política externa

Em um mundo marcado pela distribuição desigual das fontes energéticas, o acesso à energia é questão central nas
economias nacionais, representando importante aspecto estratégico a ser levado em conta na formulação da política
externa. A maneira como cada país produz, se abastece e consome energia afeta diretamente a segurança, o
desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente, em nível global.

A garantia do acesso pleno da população à energia, a demanda por investimentos em fontes renováveis e não
renováveis, as preocupações ambientais e os intercâmbios internacionais de energia descortinam aspectos geopolíticos
importantes para o País. O pré-sal e a liderança brasileira em energias renováveis – como bioenergia e hidroeletricidade
– são credenciais que reforçam o papel do Brasil nessa área.

Energias renováveis

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Diante dos desafios globais do desenvolvimento sustentável e da mudança do clima, a busca de alternativas ao uso de
combustíveis fósseis está, em grande parte, voltada ao desenvolvimento de fontes menos poluentes. Soma-se a isso a
necessidade de garantir segurança energética, bem como de promover desenvolvimento socioeconômico de forma
sustentável. Estima-se que as fontes renováveis de energia deverão ganhar mais espaço internacionalmente, criando
oportunidades para países de atuação pioneira na área.

O Brasil é um dos precursores na pesquisa, desenvolvimento e uso de fontes de energia renovável. Atualmente, cerca de
42% da matriz energética nacional é composta por fontes renováveis – número que contrasta com a média mundial de
16,7%. Essa características representam vantagem comparativa fundamental, conferindo papel de destaque ao Brasil.

Objetivos da política externa para Energias Renováveis

A atuação no plano externo de forma coordenada, buscando explorar sinergias, sempre em sintonia com as capacidades
e o interesse nacional, contribui para a consolidação da posição do Brasil como potência energética relevante e pauta-se
pelo imperativo de promover o desenvolvimento sustentável brasileiro.

A política externa brasileira na área de energias renováveis está orientada por três objetivos principais:

 ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz energética mundial;


 promover o uso de fontes energéticas de tecnologia consolidada e acessíveis, entre as quais a bioenergia e a
hidroeletricidade; e
 promover a integração energética regional.

Para ampliar o uso dos biocombustíveis, o Brasil enseja esforços junto aos principais foros e parceiros internacionais. Por
meio de atuação engajada no plano multilateral, o Brasil busca participar e influenciar das discussões a respeito de
políticas na área de energias renováveis, ao mesmo tempo em que diversifica parcerias regionais e extrarregionais para o
tema.

A integração energética regional contribui para maximizar a segurança energética e promover o desenvolvimento da
América do Sul. Juntamente com seus vizinhos, o Brasil envida esforços para sua concretização, a exemplo de:

 identificação de complementaridades entre os recursos energéticos renováveis disponíveis na região;


 identificação de áreas com elevado potencial a ser explorado e de áreas com demanda reprimida pela escassez
de recursos;
 viabilização econômica de projetos; oferta de linhas de financiamento para projetos de geração e transmissão
de energias renováveis; e
 compatibilização normativa para o intercâmbio energético na região.

Principais temas da Divisão de Recursos Energéticos Novos e Renováveis

O Brasil tem atuado em diversas frentes para promover e divulgar a produção e o uso sustentáveis de bioenergia. No
plano multilateral, destaca-se a atuação em foros com a Organização Internacional de Normatização (ISO) e a Parceria
Global de Bioenergia (GBEP – "Global Bioenergy Partnership"). Desde 2008, o Brasil é copresidente, em conjunto com a
Itália, da Parceria Global de Bioenergia (GBEP – "Global Bioenergy Partnership"). Criada em 2006 no âmbito do Plano de
Ação de Gleneagles sobre Mudança do Clima, Energia Limpa e Desenvolvimento Sustentável do G-8, a GBEP reúne hoje
37 membros e 37 observadores – entre países, organizações internacionais e uma gama diversificada de instituições –,
consolidando-se como foro privilegiado para discussão sobre sustentabilidade de bioenergia. Atualmente, o principal
foco da atuação do Brasil na GBEP é a capacitação em bioenergia sustentável. Na ISO, trabalha-se para facilitar o
comércio internacional dos biocombustíveis.

No âmbito da Iniciativa Energia Sustentável para Todos (SE4ALL – Sustainable Energy for All), criada em 2010 pelo
Secretário Geral das Nações Unidas, o Brasil atua em parceria com outros países em desenvolvimento. A elevada
participação das energias renováveis na matriz energética brasileira e os programas de universalização do acesso à
energia – como o programa "Luz para Todos" –, são consideradas ações exemplares dentro dos objetivos estabelecidos
no contexto da SE4ALL até 2030:

36
 dobrar a utilização de energias renováveis;
 dobrar as metas de eficiência energéticas; e
 universalizar o acesso à energia.

Na cooperação Sul-Sul, pode-se destacar a cooperação energética realizada no âmbito do MERCOSUL e do IBAS (Índia–
Brasil –África do Sul). No âmbito do IBAS, a parceria está amparada em três documentos: Memorando de Entendimento
para Estabelecer Força-tarefa Trilateral sobre Biocombustíveis (2008); Memorando de Entendimento sobre Cooperação
em Recursos Eólicos (2009); e Memorando de Entendimento em Energia Solar (2010). No plano do MERCOSUL, o Grupo
Ad Hoc sobre Biocombustíveis do MERCOSUL (GAHB), criado em 2007 por decisão do Conselho do Mercado Comum,
fomenta a cooperação em biocombustíveis com vistas à harmonização de normas e padrões técnicos.

O Brasil também promove esforços para difundir a produção de biocombustíveis, ampliando o número de países
produtores no mundo. Uma das ferramentas para tanto são os estudos de viabilidade para a produção de
biocombustíveis realizados em diversos países africanos e centro-americanos, resultados de iniciativas cooperação
bilateral, trilateral ou regional. Atualmente, o BNDES financia estudo de viabilidade de produção de biocombustíveis no
espaço da União Econômica e Monetária do Oeste Africano (UEMOA).

O Brasil considera o uso de biocombustíveis importante para o desenvolvimento sustentável, por conjugar geração de
renda em meios rurais, redução da dependência de importação de combustíveis fósseis, incorporação de tecnologias à
agricultura e mitigação de emissões de gases de efeito estufa.

No plano bilateral, o Governo brasileiro tem priorizado a assinatura de instrumentos que visam à cooperação na área
energética, em particular sobre biocombustíveis – a exemplo do Diálogo sobre Política Energética entre Brasil e União
Europeia e o Memorando de Entendimento entre o Brasil e Estados Unidos para Avançar a Cooperação em
Biocombustíveis. Há, igualmente, diversas iniciativas bilaterais com países da América do Sul voltadas à promoção da
integração energética regional por meio de projetos hidrelétricos e de interconexão elétrica.

7. Cooperação
7.1. Cooperação técnica

As iniciativas de cooperação técnica são ferramentas que fomentam o desenvolvimento, promovendo a capacitação
humana e institucional e levando a mudanças estruturais na realidade socioeconômica dos países aos quais se destinam.
São exemplos de atividades de cooperação técnica a transferência ou o compartilhamento de conhecimentos,
experiências e boas práticas entre Governos – bilateralmente ou por meio de organização internacional –, em bases não
comerciais.

As atividades de cooperação técnica desenvolvidas pelo Governo brasileiro são negociadas, coordenadas,
implementadas e acompanhadas pela Agência Brasileira de Cooperação, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores.
A cooperação prestada pelo Brasil adensa nossas relações bilaterais com muitos países em desenvolvimento e contribui
para projetar o Brasil como um país solidário e engajado na superação do subdesenvolvimento.

Cooperação prestada pelo Brasil

A atuação da ABC é guiada tanto pela política externa como pelas prioridades nacionais de desenvolvimento, definidas
nos programas setoriais de governo. A cooperação com países em desenvolvimento contribui para consolidar a
autonomia dos países parceiros, promovendo um crescimento sustentável que garanta inclusão social e respeito ao meio
ambiente. Nas últimas duas décadas, a cooperação prestada pelo Brasil se concretizou em cerca de 7000 projetos que
atenderam a demandas de mais de 100 países em desenvolvimento, mobilizando quase duas centenas de instituições
públicas nacionais.

Os projetos de cooperação técnica brasileira têm se voltado prioritariamente à África e à América Latina e Caribe –
dividindo-se em percentuais equitativos entre as duas regiões –, havendo também iniciativas na Ásia e na Oceania
(particularmente no Timor Leste). Os setores em que há maior volume de operações são agricultura, saúde, educação,
meio ambiente e administração pública.

37
Em virtude de suas experiências inovadoras e exitosas em diversas áreas de políticas públicas, muitas instituições
brasileiras têm sido crescentemente procurados por Governos estrangeiros e por organizações internacionais,
interessados em conhecer seus projetos – inclusive relacionados a temas como integração regional, desenvolvimento
social, combate à pobreza, agricultura e igualdade de gênero.

A cooperação técnica prestada pelo Brasil a países em desenvolvimento (Sul-Sul) se vale da capacidade instalada de
instituições nacionais especializadas, sem necessidade de recorrer à mobilização de vultosos recursos financeiros.
Estrutura-se a partir de uma demanda local específica, enfatiza a apropriação dos resultados pelas instituições locais e é
desenvolvida sem condicionalidades – ou seja, sem a exigência de contrapartidas.

Cooperação recebida pelo Brasil

O Brasil recebe cooperação técnica prestada por outros países ou por organizações internacionais, com o objetivo de
obter acesso a conhecimentos e práticas ainda não dominados por instituições brasileiras – especialmente em áreas
como desenvolvimento social, desenvolvimento sustentável e efetividade da gestão pública. Em virtude do atual nível de
desenvolvimento econômico do Brasil, a maioria dos projetos de cooperação recebida é financiada por instituições
nacionais.

Cooperação trilateral

O Brasil também está engajado em iniciativas trilaterais de cooperação técnica – isto é, realizadas em benefício de países
em desenvolvimento e executadas em conjunto com países que são tradicionais doadores e com organizações
internacionais. Atualmente, a ABC coordena, em nome do Governo brasileiro, projetos dessa modalidade realizados em
parceria com países da Ásia, da América do Norte e da Europa. Tem crescido a pauta de cooperação prestada em
conjunto com agências do sistema das Nações Unidas e com organizações de âmbito regional latino-americano.

Cooperação descentralizada e participação da sociedade civil

É cada vez mais frequente a realização de iniciativas de cooperação internacional com Estados e Municípios brasileiros –
a "cooperação descentralizada". Por meio da ABC, o Governo federal mantém contatos regulares com as entidades
federadas, com o objetivo de criar instrumentos que, em conformidade com a Constituição Federal, apoiem essa
modalidade de cooperação, facilitando a interlocução e a troca de informações.

O Governo brasileiro também tem se dedicado a estabelecer mecanismos voltados para a participação de entidades da
sociedade civil e de acadêmicos em ações de cooperação internacional.

7.2. Cooperação educacional

A cooperação educacional é uma vertente positiva das relações entre países, contribuindo para o desenvolvimento
econômico e social e promovendo valores como tolerância e respeito à diversidade cultural. A política externa para
temas educacionais se orienta pela busca de resultados nas dimensões econômica, política e cultural.

Por relacionar-se diretamente à qualificação da mão-de-obra de um país, a cooperação educacional contribui para o
desenvolvimento econômico. Em um mundo globalizado, em que a capacidade de uma economia para atrair capitais,
investimentos e tecnologias está condicionada ao nível educacional e à qualificação de seus recursos humanos, iniciativas
de cooperação educacional objetivam a inserção competitiva no mercado internacional.

A cooperação em temas educacionais é um instrumento político para promover a aproximação entre os Estados por
meio de suas sociedades. Iniciativas brasileiras nessa área em parceria com outros países em desenvolvimento
contribuem para projetar o Brasil como país cuja atuação internacional é solidária. Ademais, a convivência com outras
culturas, o aprendizado de idiomas estrangeiros e a troca de experiências levam à formação de um ambiente de
integração e conhecimento mútuo, propiciando maior compreensão, respeito à diversidade e tolerância.

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Dentre as atribuições do Itamaraty nas ações de cooperação educacional, exercidas por meio da Divisão de Temas
Educacionais, estão:
divulgar oportunidades de emprego e bolsas de estudos oferecidas a brasileiros;

 tratar de questões gerais relacionadas à cooperação educacional oferecida pelo Brasil;


 coordenar, em conjunto com o Ministério da Educação, o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação
(PEC-G);
 coordenar, em conjunto com o Ministério da Educação e com o Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação, o
Programa de Estudantes-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG);
 tratar de assuntos relativos à cooperação educacional recebida pelo Brasil de outros países, agências
estrangeiras ou organizações internacionais;
 participar da negociação de acordos e programas sobre cooperação educacional no plano internacional, bem
como acompanhar sua execução.

Saiba mais acessando o site da Divisão de Temas Educacionais do Itamaraty.

Ciência sem Fronteiras

Em parceria com o Ministério da Educação e com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o Itamaraty acompanha
a implementação no exterior do programa Ciência sem Fronteiras (CsF). Criado em 2011, o programa tem como meta
conceder 100 mil bolsas de estudo até o final de 2014, estimulando o intercâmbio acadêmico em áreas de conhecimento
consideradas prioritárias para o desenvolvimento nacional. As bolsas do programa permitem tanto o envio de
universitários e pesquisadores brasileiros para instituições de ensino no exterior, como a atração de acadêmicos
estrangeiros para as universidades e centros de pesquisa brasileiros.

Por meio da rede Embaixadas e Consulados brasileiros no exterior, o Itamaraty presta apoio aos bolsistas brasileiros no
exterior por meio do Programa de Apoio a Estudantes Brasileiros – cujas iniciativas incluem:

 orientação acerca de aspectos do cotidiano local e das perspectivas para a realização de estágios;
 elaboração de guias com informações relacionadas a temas como moradia, transportes, assistência médica e
procedimentos consulares;
 articulação com as associações de estudantes e de pesquisadores;
 facilitação do contato entre Capes, CNPq e agências envolvidas no programa com empresas e institutos de
pesquisa estrangeiros, com a finalidade de obter vagas de estágio para bolsistas brasileiros.

7.3. Cooperação esportiva

Por criar laços com outras nações e contribuir para a projeção da imagem do Brasil, o esporte é um instrumento de
política externa. O Itamaraty emprega a cooperação nessa área como ferramenta para fortalecer parcerias diplomáticas
e para contribuir para a atração e para a realização de megaeventos esportivos no Brasil. Criada em 2008, a
Coordenação-Geral de Intercâmbio e Cooperação Esportiva é a unidade do Ministério das Relações Exteriores
responsável por esses temas.

O Brasil vive sua “Década do Esporte”, durante a qual já sediou os Jogos Mundiais Militares (2011) e a Copa das
Confederações (2013) – e em que ainda sediará a Copa do Mundo (2014), os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (2015),
os Jogos Olímpicos e Paralímpicos (2016) e os Jogos Universitários Mundiais (2019).

O fato de que todos esses megaeventos esportivos serão realizados no Brasil demonstra a crescente importância do país
para a comunidade internacional. Não é por acaso que, nos últimos anos, todos os países dos BRICS sediaram ou foram
escolhidos para sediar megaeventos esportivos (Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Pequim 2008, Copa da África do Sul
2010, Jogos da Commonwealth de Nova Delhi 2010, Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Inverno de Sochi 2014 e Copa do
Mundo da Rússia 2018).

Megaeventos esportivos representam oportunidades de desenvolvimento e de inclusão social, além de contribuírem no


combate à discriminação racial, étnica e de gênero. São, também, instrumentos de promoção de paz e cooperação – que

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utilizam e reforçam o soft powerbrasileiro. O Brasil já assinou memorandos de cooperação esportiva com mais de 70
países – e a demanda por este tipo de acordo tem aumentado.

O tema está cada vez mais presente no âmbito multilateral – e, diante da visibilidade adquirida pelo Brasil como país-
sede dos principais eventos esportivos mundiais, a atuação diplomática brasileira nesses foros tem se intensificado.

No âmbito das Nações Unidas, o Brasil co-patrocinou as resoluções da Assembleia Geral para "Trégua Olímpica"
(A/RES/66/5 e A/RES/68/9) e a resolução para a criação do "Dia Internacional do Esporte para o Desenvolvimento e a
Paz" (A/RES/67/77). Em 2010, o Brasil patrocinou a resolução A/RES/65/4 sobre "Esporte para a Promoção da Educação,
da Saúde, do Desenvolvimento e da Paz".

No Conselho de Direitos Humanos, o Governo brasileiro trabalhou pela aprovação das resoluções pela "Promoção da
Declaração dos Direitos Humanos por meio do esporte e do ideal olímpico" (Resoluções 24/1 e 18/23), pela realização de
Painéis de Alto-Nível, sobre "Racismo e Esporte" (outubro de 2013) e sobre "Promoção dos Direitos Humanos através do
Esporte e do Ideal Olímpico" (fevereiro de 2012 e de 2013).

Na abertura dos XIV Jogos Paralímpicos, em Londres, os Governos de Brasil, Reino Unido, Federação Russa e República
da Coreia divulgaram comunicado conjunto vinculando os Jogos à promoção dos direitos humanos.

8. Paz e Segurança Internacionais


8.1. Manutenção e consolidação da paz
8.1.1. Reformando o Conselho de Segurança da ONU

Em 1945, quando o mundo saía de um conflito que ceifou a vida de mais de 50 milhões de pessoas, a comunidade
internacional criou a Organização das Nações Unidas, concebendo um sistema multilateral para tratar das questões de
paz e segurança, que tem no Conselho de Segurança seu órgão central.

À época, eram 51 os membros da ONU. Hoje, são 193. A despeito das importantes transformações pelas quais o mundo
desde então passou, a estrutura do Conselho de Segurança foi alterada apenas uma vez: em 1965, com o aumento de
assentos não-permanentes de seis para dez. Regiões como a África e a América Latina seguem excluídas da participação
permanente nesse centro decisório. Uma estrutura de governança desatualizada compromete sua legitimidade – e, com
isso, sua eficácia.

O mundo não pode prescindir de um Conselho de Segurança que seja capaz de lidar com as graves ameaças à paz. O
Conselho de Segurança renovado deveria refletir a emergência de novos atores, em particular do mundo em
desenvolvimento, que sejam capazes de contribuir para a superação dos desafios da agenda internacional.

A reforma do Conselho de Segurança é urgente e precisa ser debatida não somente em gabinetes e conferências
internacionais, mas também nas universidades, na imprensa, em parlamentos – enfim, pela sociedade em geral.

No hotsite http://csnu.itamaraty.gov.br podem ser encontradas não apenas informações sobre o seminário "Atuais
desafios à paz e à segurança internacionais: a necessidade de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas",
organizado pelo Governo brasileiro em abril de 2013 para promover a ampliação do debate, como também documentos
e textos relevantes para que se possa compreender o processo negociador em torno desse tema.

8.1.2. O Brasil e o Conselho de Segurança da ONU

A Carta das Nações Unidas resultou de negociações realizadas ao final da 2a Guerra Mundial e está em vigor desde 1945.
Na arquitetura institucional da ONU, atribuiu-se a um órgão de composição reduzida – o Conselho de Segurança das
Nações Unidas (CSNU) – a primazia sobre condução dos assuntos relacionados à paz e à segurança internacionais. A
guerra tornou-se uma violação ao direito internacional e os Estados se comprometeram a resolver suas controvérsias por
meios pacíficos e a evitar o uso da força nas relações internacionais.

Com base nos Capítulos VI ou VII da Carta da ONU, o Conselho de Segurança pode decidir sobre medidas a serem
adotadas em relação aos Estados cujas ações não se coadunem com as normas relativas à paz e à segurança

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internacionais. Dentre as decisões que podem ser tomadas ao amparo do Capítulo VII estão o embargo de armas,
sanções abrangentes e mesmo a autorização de intervenção armada. Essas medidas são manifestações impositivas da
autoridade do CSNU, pois dispensam o consentimento das partes em conflito.

O Conselho de Segurança é composto por cinco membros permanentes (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino
Unido – os "P-5") e por dez membros não permanentes, eleitos para mandatos de dois anos. O Brasil é, ao lado do Japão,
o país que por mais vezes integrou o CSNU como membro não permanente. Esteve nele presente por dez vezes, nos
biênios 1946-47, 1951-52, 1954-55, 1963-64, 1967-68, 1988-89, 1993-94, 1998-99, 2004-05 e 2010-11. Para o último, foi
eleito com 182 votos (dentre 183 países votantes), o que demonstra o amplo reconhecimento das contribuições do
Brasil à atuação do órgão.

Ciente da importância das atribuições do Conselho de Segurança, o Brasil sustenta que o órgão deve atuar de forma
transparente, responsável e sempre orientada pelos princípios basilares da Carta das Nações Unidas. Defendemos as vias
diplomática e política para a solução dos conflitos e consideramos que as medidas coercitivas são opções de última
instância.

O Brasil procura contribuir para aprimorar o desenvolvimento conceitual dos assuntos de paz e segurança – a exemplo
da diplomacia preventiva, meio mais efetivo para proteger as populações civis sob risco de violência. Enfatizamos a
interdependência entre segurança e desenvolvimento, o que foi endossado pelo Conselho de Segurança em declaração
adotada sob a presidência brasileira do órgão em fevereiro de 2011.

Caracterizado por sua postura de independência, equilíbrio e capacidade de diálogo, o Brasil atua – no exercício dos
mandatos do CSNU e de outros órgãos das Nações Unidas– pela construção de consensos, especialmente em situações
de grande polarização e divergência entre os membros do CSNU.

O Brasil advoga a necessidade de reforma do CSNU para torná-lo mais legítimo e representativo do conjunto dos
Estados-membros da ONU, que hoje somam 193 países. A reforma é necessária para que o órgão passe a refletir a
realidade contemporânea. Trata-se de preservar o arcabouço das Nações Unidas, adaptando suas estruturas às
exigências do século XXI.

8.1.3. Operações de paz das Nações Unidas

Em um mundo marcado por conflitos em diferentes regiões, as operações de manutenção da paz das Nações Unidas são
a expressão mais visível do compromisso solidário da comunidade internacional com a promoção da paz e da segurança.
Embora não estejam expressamente mencionadas na Carta da ONU, foram gradualmente desenvolvidas como
instrumento para assegurar a presença da ONU em áreas conflagradas, de modo a incentivar as partes em conflito a
superar suas disputas por meio pacífico – razão pela qual não devem ser vistas como forma de intervenção armada. Sua
base legal advém dos Capítulos VI (solução pacífica de conflitos), VII (ação em caso de ruptura da paz e atos de agressão)
e VIII (participação de organizações regionais e sub-regionais na manutenção da paz e segurança) da Carta da ONU.

A natureza dessas operações evoluiu significativamente nas últimas décadas, principalmente após os anos 1990,
passando de forças de interposição e observação para operações mais complexas, dotadas de mandatos em áreas
diversas. A importância adquirida pelas operações de paz pode ser demonstrada por números: em 1988, o orçamento da
ONU para essas operações era de US$ 230 milhões e, no orçamento de 2013-2014, atingiu US$ 7,8 bilhões. Atualmente,
existem 15 operações de manutenção da paz, que mobilizam mais de 117 mil pessoas – entre civis, militares e policiais.

Cresceram, também, as operações de paz multidimensionais – ou seja, que se encarregam não apenas de observar um
cessar-fogo ou o cumprimento de um acordo de paz, mas também desempenham funções como facilitar processos
políticos, proteger civis, assessorar processos de desarmamento, desmobilização e reintegração de combatentes, auxiliar
na organização de eleições, proteger e promover direitos humanos e contribuir para o restabelecimento do Estado de
Direito.

A grande demanda pela participação da ONU no apaziguamento de tensões regionais e a complexidade dos novos
desafios à segurança internacional requerem um esforço de reflexão sobre o emprego e o mandato das operações de
paz, de modo que cada situação considerada uma ameaça à paz seja solucionada com meios adequados e eficientes.

41
8.1.4. O Brasil e as operações de manutenção da paz da ONU

Para um membro fundador das Nações Unidas, historicamente comprometido com a solução pacífica de controvérsias,
participar de operações de manutenção de paz é um desdobramento natural de suas responsabilidades internacionais.
Conforme o artigo 4o da Constituição Federal, dentre os princípios que regem as relações internacionais do Brasil estão a
defesa da paz, a solução pacífica de conflitos e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. O Brasil
não se tem furtado a engajar-se na superação de conflitos – como os de Angola, Timor Leste, Líbano e Haiti.

O Brasil já participou de mais de 50 operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 33.000
militares, policiais e civis. Atualmente, participa com mais de 1700 pessoas em nove operações de paz:

 MINURSO (Saara Ocidental)


 MINUSTAH (Haiti)
 UNFICYP (Chipre)
 UNIFIL (Líbano)
 MONUSCO (República Democrática do Congo)
 UNISFA (Abyei)
 UNMIL (Libéria)
 UNMISS (Sudão do Sul)
 UNOCI (Côte d'Ivoire)

O Governo brasileiro defede que os mandatos das operações de manutenção de paz destaquem a interdependência
entre segurança e desenvolvimento como elemento indispensável à paz sustentável, bem como a necessidade de
proteção de populações sob ameaça de violência e a ênfase na prevenção de conflitos e na solução pacífica de
controvérsias.

O Brasil se orgulha de sua participação histórica e consistente nas operações de paz da ONU, sempre consonância com
os interesses de política externa com os princípios e regras nacionais e internacionais. Coerência e prudência têm
balizado a definição das missões nas quais o Brasil opta por se engajar. Aliada ao exemplar desempenho dos militares,
policiais e civis brasileiros, essa orientação tem permitido ao Brasil contribuir para um sistema internacional mais
próximo dos ideais de paz, justiça e cooperação.

8.1.5. Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti

A convite das Nações Unidas, desde 2004 o Brasil exerce o comando militar da Missão de Estabilização das Nações
Unidas no Haiti (MINUSTAH) – atualmente comandada pelo General José Luiz Jaborandy Junior. Trata-se da missão mais
latino-americana da história da ONU, contando com a participação de 13 países dessa região. O Brasil é o principal
contribuinte de tropas, com cerca de 1.430 militares e 10 policiais no terreno.

Desde a chegada da MINUSTAH ao Haiti, o país realizou duas eleições presidenciais democráticas e superou a fase crítica
de emergência humanitária pós-terremoto. Do ponto de vista da segurança, a Missão tem sido bem sucedida em
reprimir gangues que antes agiam livremente na capital, Porto Príncipe, sobretudo nos bairros de Belair, Cité Soleil e Cité
Militaire.

Além de contribuir militarmente à MINUSTAH, o Brasil tem buscado intensificar a cooperação técnica e humanitária com
o Haiti, com vistas ao desenvolvimento do país. A Companhia de Engenharia Militar brasileira tem participado nesse
esforço, desempenhando atividades como perfuração de poços artesianos, construção de pontes e açudes, contenção
de encostas, construção e reparação de estradas – além de atuar em missões de defesa civil, sobretudo após o
terremoto de 2010.

Em março último, a ONU propôs opções para que a MINUSTAH seja substituída, em 2016, por missão menor e mais
especializada, mas já determinou redução do efetivo militar total da missão de 6.270 para 5.021. O empoderamento e a
capacitação das instituições haitianas são fundamentais para que a redução e a eventual retirada da missão ocorram sem
maiores sobressaltos e perda dos esforços já desenvolvidos para reerguer o país.

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O Brasil mantém firme compromisso com a estabilidade, com a segurança e com o desenvolvimento do Haiti.

8.1.6. O Brasil e a consolidação da paz

Promover o desenvolvimento é essencial para o efetivo estabelecimento da segurança. Por isso, o Brasil defende que
sejam adotadas medidas de consolidação da paz em países que acabaram de sair de situações de conflito armado.

Voltadas para o fortalecimento das instituições locais e para o restabelecimento das funções essenciais do governo local,
tais medidas são indispensáveis para superar os problemas que se encontram na base de muitos conflitos – como a
pobreza, a ausência de prestação de serviços básicos e a dificuldade de acesso à justiça.

Essas iniciativas contribuem para evitar o reaparecimento de focos de instabilidade, criando condições favoráveis à
consolidação de uma paz sustentável. É fundamental que as medidas de consolidação da paz sejam realizadas com
consentimento dos países aos quais se destinam.

O Governo brasileiro participou ativamente da criação da Comissão de Consolidação da Paz (CCP) dentro da estrutura
das Nações Unidas, em 2005. Inspirada em alguns dos princípios promovidos pelo Brasil ainda no final da década de
1990, a CCP auxilia países recém-egressos de conflitos armados a consolidar a segurança, bem como a alcançar
estabilidade política e desenvolvimento sustentável com inclusão social. Atualmente, estão na agenda da CCP a situação
dos seguintes países: Burundi, República da Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, República Centro-Africana e Serra Leoa.

O Brasil foi eleito por aclamação para a presidência da Comissão de Consolidação da Paz em 2014. Em seu mandato, o
Governo brasileiro promoverá maior participação de países em desenvolvimento, organizações regionais e sub-regionais
africanas e da sociedade civil nas atividades da CCP, bem como manterá engajamento produtivo com o Conselho de
Segurança das Nações Unidas. O Brasil promoverá reflexão sobre a interdependência entre segurança e desenvolvimento
e sobre a importância da apropriação nacional e da capacitação de quadros locais para o êxito das políticas de ajuda a
países egressos de conflito. Até 2013, o Brasil contribuiu com US$ 600.000,00 para o Fundo de Consolidação da Paz.

Além de atualmente presidir a Comissão, o Brasil também dirige os trabalhos da "Configuração Específica para a Guiné-
Bissau" da CCP desde sua criação, em 2007 e defende enfoque integrado nas ações nesse país, para que envolvam não
apenas componentes políticos e de segurança, mas também econômicos e sociais.

O Brasil defende o fortalecimento dos vínculos da CCP com outros órgãos da ONU – particularmente com o Conselho de
Segurança –, para que se valorize a perspectiva abrangente relativa às causas subjacentes dos conflitos e dos desafios
vividos pelos países recém-egressos desses cenários.

Para promover a articulação entre atividades de manutenção da paz e de consolidação da paz, o Brasil tem buscado
ampliar a participação de especialistas civis em missões da ONU, em áreas como segurança pública, controle de
fronteira, combate ao tráfico de drogas, sistemas eleitorais, sistemas correcionais e administração pública. O Brasil
defende, também, o papel central das mulheres nessas iniciativas, em especial no que diz respeito a reconciliação,
prevenção de conflitos e revitalização econômica.

8.2. Desarmamento e não proliferação


8.2.1. Desarmamento e controle de armas

A Carta da ONU proíbe que os Estados usem da força ou ameacem empregá-la contra a integridade territorial ou a
independência política de outro Estado, estabelecendo que as controvérsias devem ser solucionadas por meios pacíficos
e em conformidade com o Direito Internacional. Reconhece-se, por outro lado, o direito dos Estados à legítima defesa se
vitimados por ataque armado, até que o Conselho de Segurança tome as medidas necessárias para manter a paz e a
segurança internacionais.

Qualquer que seja a situação em que exista um conflito armado, as partes envolvidas devem observar determinados
limites. O Direito Internacional Humanitário requer, por exemplo, que se faça distinção entre combatentes e civis. Além

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disso, proíbe os meios e métodos de combate que causem ferimentos supérfluos ou sofrimento desnecessário e que
causem danos graves ou duradouros ao meio ambiente.

É nesse contexto mais amplo que se insere o compromisso do Brasil com a eliminação das armas de destruição em massa
(como as armas nucleares, químicas e biológicas), a proibição ou regulação de armamentos excessivamente danosos e a
prevenção de uma corrida armamentista no espaço, dentre outras ações relacionadas ao desarmamento e ao controle
de armas.

Mais recentemente, as negociações internacionais passaram tratar também do controle do comércio de armas
convencionais, em razão das implicações que seu tráfico pode ter para o fomento de conflitos armados e sobre a
segurança pública dos Estados – em particular, as armas pequenas (que podem ser operadas por apenas uma pessoa, a
exemplo de revólveres, pistolas semi-automáticas, espingardas, rifles e metralhadoras) e o armamento leve (cuja
operação exige mais de uma pessoa, como metralhadoras pesadas, lançadores de granadas, armas antitanque portáteis
e lançadores de mísseis).

8.2.2. Desarmamento nuclear e não proliferação

A promoção do desarmamento nuclear deve ocupar posição prioritária na agenda da comunidade internacional.
Passados mais de quarenta anos da entrada em vigor do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em
1970, foi possível obter amplo êxito na prevenção da proliferação de armas nucleares entre países que não as detinham
– mas houve poucos avanços no que diz respeito à eliminação, pelos Estados nuclearmente armados, dos arsenais
nucleares por eles mantidos.

Estima-se que existam hoje mais de 17 mil ogivas nucleares (das quais mais de quatro mil estariam em estado
operacional). Os gastos das potências nucleares para manter esse arsenal e, em alguns casos, modernizá-lo, superariam
US$ 100 bilhões anuais. O Brasil entende que há nítido déficit de cumprimento por parte dos Estados nuclearmente
armados no que diz respeito à implementação de seus compromissos de desarmamento nuclear. Além de ameaçar a
humanidade, esses arsenais agravam tensões e prejudicam esforços de paz.

O Brasil tem participado ativamente das Conferências de Exame do TNP e de outros foros multilaterais acerca desse
tema, como a I Comissão da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Conferência do Desarmamento. Nessas discussões,
o Brasil atua no âmbito da Coalizão da Nova Agenda, integrada por seis países não nuclearmente armados com forte
atuação na defesa do desarmamento nuclear (Brasil, África do Sul, Egito, Irlanda, México e Nova Zelândia).

A elevada atenção que deve ser concedida à não proliferação não pode servir de obstáculo ao desenvolvimento da
pesquisa, da produção e da utilização da energia nuclear para fins pacíficos.

O Brasil tem firme compromisso com a não proliferação. Além do TNP, também é parte doTratado para a Proscrição de
Armas Nucleares na América Latina e no Caribe (Tratado de Tlatelolco) e do Tratado de Proibição Completa dos Testes
Nucleares. A Constituição Federal determina, além disso, que "toda atividade nuclear em território nacional somente
será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional” (Artigo 21). O Programa Nuclear
Brasileiro se submete, desde dezembro de 1991, às regras da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e
da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC).

A ABACC possui especial relevância para a política nuclear brasileira. Em 18 de julho de 1991, Brasil e Argentina
assinaram o Acordo para o Uso Exclusivamente Pacífico da Energia Nuclear, por meio do qual renunciaram
conjuntamente ao desenvolvimento, à posse e ao uso das armas nucleares e afirmaram seu compromisso inequívoco
com o uso exclusivamente pacífico da energia nuclear. A ABACC foi criada para verificar o cumprimento desses
compromissos e a experiência acumulada pela Agência ao longo desses anos contribuiu enormemente para a construção
da confiança e para a aproximação entre Brasil e Argentina, levando à crescente cooperação entre os dois países na área
de usos pacíficos da energia nuclear. O exemplo mais marcante dessa cooperação é o desenvolvimento conjunto de
reatores de pesquisa que terão importantes aplicações na área de medicina nuclear.

No âmbito da não proliferação, é importante ressaltar que a América Latina e o Caribe foram região pioneira em colocar
limites à corrida armamentista nuclear. O Tratado de Tlatelolco, de 1967, propiciou o estabelecimento da primeira Zona

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Livre de Armas Nucleares em região densamente povoada. Todos os 33 Estados da América Latina e do Caribe são partes
no Tratado de Tlatelolco e membros do Organismo para a Proscrição das Armas Nucleares na América Latina e no Caribe
(OPANAL).

8.2.3. Armas químicas e biológicas

O Brasil é parte da Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas (CPAQ), que proíbe o desenvolvimento, a produção,
a aquisição, a estocagem, a retenção, a transferência e o uso desse tipo de armamento. A Convenção tem contribuído
para livrar o mundo de armas químicas e é considerada um modelo a ser seguido na área de desarmamento e não
proliferação, em particular na área nuclear.

O órgão criado para velar pela implementação da CPAQ é Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ). Em
sua atuação nesse órgão, o Brasil atribui prioridade à destruição completa dos arsenais químicos ainda existentes.
Detentor da sétima maior indústria química mundial, o Brasil avalia que os controles na área de desarmamento químico
não devem gerar obstáculos adicionais para o progresso técnico e científico dos países em desenvolvimento.

A Convenção sobre a Proibição de Armas Biológicas e Toxínicas (CPAB) foi o primeiro tratado multilateral a banir a
produção e o uso de uma categoria completa de armamentos. Ratificada pelo Brasil em 1976, a CPAB proíbe o
desenvolvimento, a produção, a estocagem, a transferência, a aquisição e o uso de armas biológicas e toxínicas, bem
como determina a destruição de estoques existentes. A CPAB não prevê medidas de verificação do seu cumprimento
pelos Estados-partes. O Brasil defende a criação de um mecanismo de verificação do cumprimento da Convenção, mas
ainda não foi possível atingir consenso internacional sobre esse assunto.

8.2.4. Prevenção de corrida armamentista no espaço

A exploração do espaço exterior deve ser feita com objetivos exclusivamente pacíficos. O Governo brasileiro tem
participado ativamente de iniciativas que buscam impedir que haja uma corrida armamentista no espaço. OTratado do
Espaço Exterior (1967) proíbe a colocação em órbita de armas nucleares e de outras armas de destruição em massa –
mas ainda há lacunas, uma vez que não trata explicitamente de armas convencionais nem de novos avanços
tecnológicos.

Baseado em uma abordagem de desarmamento preventivo, esse tema está na agenda das Nações Unidas desde 1978.
No âmbito da Conferência do Desarmamento, vem sendo considerada – com firme apoio do Brasil – a possibilidade do
início de negociações para um tratado multilateral que proíba que armas sejam colocadas no espaço exterior,
assegurando sua utilização para fins exclusivamente pacíficos.

8.2.5. Regimes de controle de exportação

O Brasil é membro de regimes informais de controles de exportações nas áreas nuclear (Grupo de Supridores Nucleares
– NSG) e missilística (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis – MTCR). Esses regimes elaboram diretrizes e
negociam listas de bens e tecnologias cujas exportações devem ser controladas pelos países, uma vez que podem ser
usados em programas de desenvolvimento e fabricação de armas de destruição em massa.

Comprometido com o objetivo de um mundo livre de armas de destruição em massa, o Brasil defende o equilíbrio entre
a necessidade de controlar as exportações de bens e tecnologias sensíveis e a manutenção do comércio legítimo de bens
e tecnologias para fins pacíficos. Controles de exportação de bens sensíveis não devem colocar barreiras desnecessárias
ao acesso a itens importantes para o desenvolvimento socioeconômico.

No plano interno, o Brasil conta com um sistema abrangente de controle de exportações de bens sensíveis, estabelecido
pela Lei nº 9.112 de 1995, que abarca bens e tecnologias nos setores nuclear, químico, biológico, missilístico e de uso
dual – ou seja, que embora normalmente tenham aplicações civis, também podem ser empregados para finalidades
bélicas.

8.2.6. Armas convencionais

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Em 1980, adotou-se a Convenção sobre Certas Armas Convencionais (CCAC), que proíbe ou restringe o uso de
armamentos que podem ser considerados excessivamente lesivos ou que geram efeitos indiscriminados. O Brasil é parte
da Convenção e de todos os cinco Protocolos que a complementam:

 Protocolo I – proíbe a utilização de armas cujo objetivo primário seja o de ferir por meio de fragmentos não
detectáveis;
 Protocolo II – restringe o uso de minas, armadilhas e outros dispositivos
 Protocolo III – disciplina o uso de armas incendiárias, para evitar que atinjam civis
 Protocolo IV – proíbe o emprego de armas a laser que tenham por objetivo provocar cegueira
 Protocolo V – estabelece o compromisso de remoção de restos explosivos de guerra.

O Brasil também é parte da Convenção sobre a Proibição do Uso, Armazenamento, Produção e Transferência de Minas
Antipessoal e sobre sua Destruição (Convenção de Ottawa), em vigor desde 1999. Esse tratado resultou de intensa
mobilização internacional, em resposta ao grave impacto humanitário de minas terrestres implantadas em diversos
conflitos em todo o mundo.

O combate ao tráfico ilícito de armas pequenas e armamento leve é prioritário para o Brasil, em razão de seu impacto na
segurança pública. Dentre diversas iniciativas sobre esse tema, destaca-se o Programa de Ação das Nações Unidas para
Prevenir, Combater e Erradicar o Tráfico Ilícito de Armas Pequenas e Armamento Leve em Todos os Seus Aspectos
(UNPoA), estabelecido em julho de 2001 e do qual o Brasil tem participado ativamente.

O UNPoA prevê a adoção de medidas nacionais para a prevenção e combate ao tráfico de armas pequenas e armamento
leve. A participação do Brasil nesse foro ocorre em coordenação com o MERCOSUL e seus países associados, grupo que
tem defendido a necessidade de avanços em temas como marcação e rastreamento de armas; manutenção de registros;
gerenciamento de estoques; inclusão de munições no escopo do programa e tratamento da relação entre tráfico de
armas pequenas e armamento leve e violência armada.

Recente e importante avanço no campo do controle de armas convencionais foi a adoção do Tratado sobre o Comércio
de Armas (ATT, na sigla em inglês) pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 3 de abril de 2013. O Governo brasileiro
participou ativamente do processo de negociação desse tratado, apoiando a formação de um instrumento juridicamente
vinculante que regulamentasse as transferências internacionais de armas convencionais, com o objetivo de reduzir a
possibilidade de que tais armas sejam desviadas para o mercado ilícito – evitando, portanto, que contribuam para
conflitos internos e alimentem a violência armada. O ATT obriga os Estados a adotar medidas jurídicas e administrativas
que incluem listas nacionais de controle de armas convencionais, suas munições, partes e componentes. O Brasil assinou
o tratado em 3 de junho de 2013 e iniciou os trâmites internos para a sua ratificação.

8.3. Outros temas


8.3.1. Temas orçamentários e administrativos da ONU

O trabalho desenvolvido pelas Nações Unidas requer previsibilidade de recursos, imparcialidade e transparência. O valor
do orçamento regular da ONU no biênio 2014-2015 é de US$ 5,53 bilhões. Os gastos militares globais declarados
ultrapassaram US$ 1,7 trilhão em 2012 – o que corresponde a mais de US$ 4,6 bilhões por dia. É alarmante e
contraditório constatar que um ano de gastos militares pagaria o orçamento regular da ONU por mais de 630 anos.

As decisões orçamentárias acordadas pelos membros das Nações Unidas refletem os valores políticos fundamentais da
organização. O Brasil defende que a ONU tenha os recursos necessários para financiar, de maneira adequada e
equilibrada, atividades e programas em seus três pilares: paz e segurança, desenvolvimento e direitos humanos.

O crescimento das contribuições voluntárias pode alterar o caráter do financiamento das atividades da organização. Para
o biênio 2014-2015, ao passo em que o orçamento regular da ONU contará com US$ 5,5 bilhões, prevê-se que haja US$
14,1 bilhões de contribuições extra-orçamentárias. É necessário aprimorar os mecanismos de supervisão em relação às
contribuições voluntárias – que devem complementar, e não reorientar, as prioridades acordadas pelos Estados
membros.

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Em 2013, o Brasil contribuiu com 2,934% do orçamento regular da ONU (cerca de US$ 74,76 milhões), passando à
posição de 10º maior contribuinte, à frente de países como México, Coreia do Sul, Austrália e Rússia – esta, um membro
permanente do Conselho de Segurança. Somos o maior contribuinte da América Latina, o segundo do BRICS (atrás
apenas da China) e o primeiro do IBAS, agrupamento que reúne Brasil, África do Sul e Índia.

Nosso compromisso com o bom funcionamento das Nações Unidas e nossa capacidade de diálogo com os países
desenvolvidos reforçam a importância da participação brasileira nas discussões sobre temas administrativos e
orçamentários da organização.

O Brasil está presente nos órgãos subsidiários da Assembleia Geral (AGNU) que tratam de temas administrativos e
orçamentários: a Comissão Consultiva sobre Questões Administrativas e Orçamentárias (Advisory Committee on
Administrative and Budgetary Questions), o Comitê de Contribuições e o Comitê de Programa e Coordenação. A
presença brasileira nesses órgãos propicia maior nível de influência na atuação da organização e acesso
significativamente maior à informação.

É preciso resguardar e fortalecer a natureza intergovernamental e multilateral da ONU e a autoridade da AGNU, inclusive
em relação às suas prerrogativas na área orçamentária. O Brasil defende a maior participação de países em
desenvolvimento, bem como maior acesso de empresas do sul a oportunidades comerciais oferecidas – tanto nas sedes
da organização quanto nas operações de manutenção da paz.

A defesa das prerrogativas da AGNU em questões administrativas e orçamentárias não é mera questão de princípio,
tendo gerado resultados concretos nos últimos anos, como o fortalecimento do pilar de desenvolvimento por meio da
criação de cargos em entidades como a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e o Departamento Econômico e Social (DESA). Também
são exemplos disso a reversão dos cortes propostos pelo Secretario Geral da ONU no orçamento para 2012-2013 e o
aumento da Conta de Desenvolvimento (Development Account), os investimentos adicionais em áreas prioritárias, como
o escritório de apoio à construção da paz (PBSO) e a maior projeção do português na organização, com a criação do
Centro de Informações das Nações Unidas (UNIC) em Luanda e de cargos adicionais para a Rádio ONU Português.

8.3.2. Tribunal Penal Internacional

O Brasil apoiou a criação do Tribunal Penal Internacional, por entender que uma corte penal eficiente, imparcial e
independente representaria um grande avanço na luta contra a impunidade pelos mais graves crimes internacionais. O
Governo brasileiro participou ativamente dos trabalhos preparatórios e da Conferência de Roma de 1998, na qual foi
adotado oEstatuto do TPI.

Com sede na Haia (Países Baixos), o TPI iniciou suas atividades em julho de 2002, quando da 60ª ratificação ao Estatuto.
Subsidiariamente ao Poder Judicial dos Estados, processa e julga acusados de crimes de genocídio, crimes contra a
humanidade, crimes de guerra e, futuramente, crimes de agressão. O TPI julga apenas indivíduos – diferentemente da
Corte Internacional de Justiça, que examina litígios entre Estados. A existência do Tribunal contribui para prevenir a
ocorrência de violações dos direitos humanos, do direito internacional humanitário e de ameaças contra a paz e a
segurança internacionais.

Todos os 21 casos examinados no Tribunal dizem respeito a situações ocorridas em oito países africanos. Até março de
2014, houve apenas duas condenações – em 2012, envolvendo Thomas Lubanga Dyilo e em 2014, de Germain Katanga,
ambas no contexto da situação na República Democrática do Congo. Sete outras situações estão sendo investigadas pela
Promotoria do TPI.

O Brasil depositou seu instrumento de ratificação ao Estatuto de Roma em 20 de julho de 2002. O tratado foi
incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro por meio do Decreto nº 4.377, de 25 de setembro de 2002. Aspectos
importantes de sua internalização ainda estão em trâmite no Congresso Nacional.

Atualmente, o Estatuto de Roma conta com 122 Estados-Partes – dos quais 34 são africanos; 27 latino-americanos e
caribenhos; 25 do Grupo de Países Ocidentais e Outros; 18 da Europa do Leste e 18 da Ásia e Pacífico. Todos os países da
América do Sul são partes do Estatuto.

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Como qualquer instrumento jurídico internacional, o Estatuto de Roma é produto de seu tempo e é passível de ajustes
para seu aprimoramento. O Brasil tem exercido papel de liderança nas reuniões em que os Estados partes tratam de
ajustes com vistas a promover maior aceitação e a consolidação do TPI – a exemplo das discussões que levaram à
adoção, em 2010, na Conferência de Revisão de Campala (Uganda), das emendas relativas ao crime de agressão, que
estabelecem as condições para que o TPI possa exercer sua jurisdição sobre esse crime. O Brasil está comprometido com
o processo de ratificação dessas emendas, que se encontra em andamento.

A brasileira Sylvia Steiner integra o corpo de juízes do TPI. Tendo cumprido seu mandato até 2012, continuará a exercer
suas funções até a conclusão de caso no qual atua. Leonardo Caldeira Brant, também brasileiro, integra o Comitê
Consultivo para Nomeações (eleito em 2012 para mandato de três anos).

8.3.3. Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul

A Zona e Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS) foi estabelecida em 1986, por meio da Resolução 41/11 da
Assembleia Geral das Nações Unidas. É integrada por 24 países banhados pelo Atlântico Sul: África do Sul, Angola,
Argentina, Benin, Brasil, Cabo Verde, Cameroun, Congo, Côte d’Ivoire, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Guiné-
Bissau, Guiné-Equatorial, Libéria, Namíbia, Nigéria, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Serra
Leoa, Togo e Uruguai.

Para a preservação da paz no Atlântico Sul, é imprescindível que a região se mantenha como zona livre de armas
nucleares e de outras armas de destruição em massa. O compromisso dos países da ZOPACAS com esse objetivo foi
formalizado por meio do Tratado de Tlatelolco, do Tratado da Antártida e do Tratado de Pelindaba – que declaram serem
zonas livres de armas nucleares, respectivamente, a América Latina e o Caribe, o continente antártico e a África. Essa
rede de compromissos também contribui para fortalecer iniciativas no âmbito das Nações Unidas voltadas ao
estabelecimento do Hemisfério Sul e de Áreas Adjacentes como zona livre de armas nucleares.

Desde sua criação, já foram realizadas sete Reuniões Ministeriais da ZOPACAS:

 Rio de Janeiro (1988)


 Abuja (1990)
 Brasília (1994)
 Somerset West (1996)
 Buenos Aires (1998)
 Luanda (2007)
 Montevidéu (2013)

A Reunião Ministerial de Montevidéu teve como objetivo central revitalizar a ZOPACAS e contou com a participação de
praticamente todos os países que a integram. Para fortalecer a iniciativa, dotando-a de maior institucionalidade, foi
criado Grupo de Contato que acompanhará a implementação das decisões acordadas em Montevidéu e se coordenará
sobre temas relevantes para a zona de paz e cooperação. O grupo é formado pelos países que já sediaram Reuniões
Ministeriais e por Cabo Verde.

Por meio da Declaração de Montevidéu, os países da ZOPACAS concordaram em reunir-se anualmente à margem da
Assembleia Geral das Nações Unidas para revisar o progresso alcançado e decidir sobre ações futuras.

9. Mecanismos inter-regionais
9.1. BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

Desde a sua criação, o BRICS tem expandido suas atividades em duas principais vertentes: (i) a coordenação em reuniões
e organismos internacionais; e (ii) a construção de uma agenda de cooperação multissetorial entre seus membros.

Com relação à coordenação no âmbito internacional, o BRICS segue atuando tanto na esfera da governança econômico-
financeira como na política. Na primeira, a agenda do BRICS confere prioridade à coordenação no âmbito do G-20 e na
reforma do FMI. Na vertente política, o BRICS defende a reforma das Nações Unidas e de seu Conselho de Segurança, de

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forma a melhorar a sua representatividade, em prol da democratização da governança internacional. Em paralelo,
intensifica-se o diálogo entre os BRICS sobre as principais questões da agenda internacional.

Apenas cinco anos após a primeira Cúpula, em 2009, as atividades intra-BRICS já abrangem cerca de 40 áreas, como
agricultura, ciência e tecnologia, cultura, espaço exterior, think tanks, governança e segurança da Internet, previdência
social, propriedade intelectual, saúde e turismo, entre outras.

Entre as vertentes mais promissoras do BRICS, destaca-se a área econômico-financeira, tendo sido lançadas duas
iniciativas na V Cúpula do BRICS (Durban, março de 2013): o novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (nDB, na sigla
em inglês) – voltado para o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países em
desenvolvimento –, e o Arranjo Contingente de Reservas (CRA, na sigla em inglês) – destinado a prover apoio mútuo aos
membros do BRICS. No encontro dos Líderes à margem da VIII Cúpula do G-20 (São Petersburgo, setembro de 2013),
importantes decisões foram tomadas, a exemplo da definição do capital inicial subscrito do nDB no montante de US$ 50
bilhões e da repartição de recursos entre os membros do BRICS para a constituição do CRA. Esperam-se avanços, na
Cúpula de 2014, rumo à concretização das duas iniciativas.

A coordenação política entre os membros do BRICS se faz e continuará a ser feita sem elementos de confrontação com
demais países. O BRICS está aberto à cooperação e ao engajamento construtivo com terceiros países, assim como com
organizações internacionais e regionais, no tratamento dos temas da atualidade internacional.

Histórico do BRICS

A coordenação entre Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC) iniciou-se de maneira informal em 2006, com reunião de
trabalho à margem da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 2007, o Brasil assumiu a organização do
encontro à margem da Assembleia Geral e, nessa ocasião, verificou-se que o interesse em aprofundar o diálogo merecia
a organização de reunião específica de Chanceleres do então BRIC (ainda sem a África do Sul).

A primeira reunião formal de Chanceleres do BRIC foi realizada em 18 de maio de 2008, em Ecaterimburgo, na Rússia.
Desde então, o acrônimo, criado alguns anos antes como unidade de análise pelo mercado financeiro, não mais se
limitou a identificar quatro países ascendentes na ordem econômica internacional, passando a denominar uma nova
entidade político-diplomática.

Desde 2009, os Chefes de Estado e de Governo dos BRICs se encontram anualmente. Nos últimos cinco anos, ocorreram
cinco reuniões de Cúpula, com a presença de todos os líderes do mecanismo:

 I Cúpula: Ecaterimburgo, Rússia, junho de 2009;


 II Cúpula: Brasília, Brasil, abril de 2010;
 III Cúpula: Sanya, China, abril de 2011;
 IV Cúpula: Nova Delhi, Índia, março de 2012; e
 V Cúpula: Durban, África do Sul, março de 2013.

A I Cúpula inaugurou a cooperação em nível de Chefes de Estado e de Governo do então BRIC – ainda sem a África do
Sul. Realizada sob o impacto da crise iniciada em 2008, a reunião teve suas discussões centradas em temas econômicos e
financeiros, com ênfase na reforma das instituições financeiras internacionais e na atuação do G-20 para a recuperação
da economia mundial, ademais de incursões em temas políticos, como a necessidade de reforma das Nações Unidas.
Além da Declaração, a I Cúpula emitiu documento de seguimento intitulado “Perspectivas para o Diálogo entre Brasil,
Rússia, Índia e China”.

A II Cúpula, sediada no Brasil, aprofundou a concertação política entres os membros do BRIC e caracterizou-se pelo
crescimento exponencial, ao longo de 2010, das iniciativas de cooperação intra-BRIC – reunião dos Chefes dos Institutos
Estatísticos e publicação de duas obras com estatísticas conjuntas dos países membros; encontro de Ministros da
Agricultura do grupo; encontro de Presidentes de Bancos de Desenvolvimento; Seminário de Think Tanks; encontro de
Cooperativas; Fórum Empresarial; e II Reunião de Altos Funcionários Responsáveis por Temas de Segurança. Além da
Declaração, foi emitido novo documento de seguimento, intitulado “Documento de Seguimento da Cooperação entre
Brasil, Rússia, Índia e China”.

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Com o ingresso da África do Sul, a III Cúpulaconsolidou a composição do Foro – que, sendo integrado por cinco países,
passou a ser denominado BRICS. Esse ingresso representa importante contribuição, diante da relevância econômica da
África do Sul no continente africano, sua construtiva atuação política no cenário internacional e sua
representatividade geográfica. Além de aprofundar a cooperação setorial já existente, na Cúpula de Sanya foram
lançadas novas iniciativas em áreas como saúde e ciência e tecnologia. Associado à Cúpula, realizou-se encontro de
Ministros do Comércio para discutir os rumos da Rodada de Doha. Na Declaração, os parceiros reafirmaram a
necessidade de reforma das Nações Unidas, com a inclusão, pela primeira vez, de menção ao tema do alargamento da
composição do Conselho de Segurança. Além dos temas econômico-financeiros, o documento menciona temas como:
condenação ao terrorismo; incentivo ao uso de energias renováveis e ao uso pacífico de energia nuclear; valorização dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e da erradicação da fome e da pobreza. Na oportunidade, foi aprovado Plano
de Ação, anexo à Declaração, com diretrizes voltadas ao aprofundamento da cooperação existente e à exploração de
novas áreas. Além de outros encontros ministeriais, o Plano de Ação institucionalizou a reunião de Chanceleres à
margem do Debate Geral da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Além da realização dos eventos tradicionais, que consolidaram e aprofundaram os dois pilares tradicionais de atuação do
BRICS – coordenação em foros multilaterais e cooperação intra-grupo –, a IV Cúpula lançou as bases para o
desenvolvimento de um terceiro pilar: a cooperação financeira com terceiros países, mediante a criação do “Banco
BRICS”, liderado pelos cinco países e voltado ao financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento
sustentável, nos países do BRICS e também nos demais países emergentes e em desenvolvimento. A Declaração da IV
Cúpula estabeleceu grupo de trabalho para estudar a viabilidade da iniciativa. Adicionalmente, em sequência a
entendimentos anteriores, foram assinados, durante o evento, dois acordos entre os Bancos de Desenvolvimento dos
BRICS, visando a facilitar a concessão de créditos em moedas locais.

A V Cúpula teve como tema “BRICS e África: Parceria para o Desenvolvimento, Integração e Industrialização”. O encontro
de Durban encerrou o primeiro ciclo de Cúpulas do BRICS, tendo cada país sediado uma reunião de Chefes de Estado ou
de Governo. Os principais resultados do encontro foram: início das negociações para constituição do Arranjo
Contingente de Reservas, com capital inicial de US$ 100 bilhões (parágrafo 10 da Declaração); aprovação do relatório de
viabilidade e factibilidade do “banco de desenvolvimento dos BRICS” e decisão de dar continuidade aos entendimentos
para o lançamento da nova entidade (parágrafo 9 da Declaração); assinatura de dois acordos entre os Bancos de
Desenvolvimento dos BRICS: (parágrafo 12 da Declaração); estabelecimento do Conselho Empresarial do BRICS; e
estabelecimento do Conselho de Think Tanks do BRICS. Após o encerramento da Cúpula, os mandatários do BRICS
encontraram-se com lideranças africanas, em evento sob o tema “Liberando o potencial da África: Cooperação entre
BRICS e África em Infraestrutura”.

A VI Cúpula foi realizada no Brasil, em 2014, dando início ao segundo ciclo de reuniões do Foro. Previamente à Cúpula,
tiveram lugar em março, no Rio de Janeiro, reuniões do Conselho de Think Tanks e do Foro Acadêmico do BRICS, que
deram a partida aos encontros ligados ao evento. Por ocasião da Cúpula, foram realizados os seguintes eventos, que
tradicionalmente fazem parte da agenda: Foro Empresarial; reunião do Conselho Empresarial; reunião de Ministros do
Comércio; reunião de Ministros das Finanças e Presidentes de Banco Central; Reunião de Bancos de Desenvolvimento; e
lançamento da publicação estatística anual. Para mais informações sobre a VI Cúpula, acesse
o hotsite www.brics6.itamaraty.gov.br.

9.2. IBAS – Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul

Criado em junho de 2003 por meio da Declaração de Brasília, o Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS)
congrega as três grandes democracias multiétnicas do mundo em desenvolvimento. O IBAS atua em três vertentes
principais: coordenação política, cooperação setorial e Fundo IBAS.

Já foram realizadas cinco reuniões de Cúpula:

 I Cúpula IBAS – Brasília, em setembro de 2006;


 II Cúpula IBAS – Pretória, em outubro de 2007;
 III Cúpula IBAS – Nova Délhi, em outubro de 2008;
 IV Cúpula IBAS – Brasília, em abril de 2010; e
 V Cúpula IBAS – Pretória, em outubro de 2011.

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Além do diálogo intergovernamental, as Cúpulas do IBAS abrangem a realização de sete foros temáticos, nas seguintes
áreas: mulheres; acadêmicos; empresários; pequenos e médios empresários; editores; governos locais; e parlamentares.

Coordenação política

Ao longo dos dez anos de sua existência, consolidou-se amplo repertório de posições conjuntas do IBAS nos
comunicados dos Chefes de Estado e Governo e de Chanceleres em temas como democracia, direitos humanos, inclusão
social e desenvolvimento sustentável. Identifica-se potencial de atuação do IBAS na reforma das estruturas de
governança global, especialmente do Conselho de Segurança e na discussão sobre os Objetivos de Desenvolvimento pós-
2015.

Cooperação setorial

O IBAS conta atualmente com 16 Grupos de Trabalho temáticos orientados para a troca de informações e a cooperação
técnica – dentre os quais se destacam aqueles dedicados a defesa, administração aduaneira e tributária, assentamentos
humanos, comércio e investimentos e Energia.

Está sendo examinada a proposta brasileira de consolidação dos grupos de trabalho, por área temática e com definição
de prioridades, de forma a alinhá-las ao ideário político do Fórum e às vantagens comparativas do IBAS em temas como a
agenda do desenvolvimento pós-2015.

Fundo IBAS para o Alívio da Fome e da Pobreza

Face mais visível do IBAS, o Fundo financia desde 2004 projetos em países de menor desenvolvimento relativo ou
egressos de conflitos armados, com base nas capacidades disponíveis nos três países e em experiências nacionais
exitosas de combate à fome e à pobreza. Por meio de projetos autossustentáveis e replicáveis, o Fundo busca fornecer
exemplos de melhores práticas voltadas à consecução das Metas do Milênio. As diretrizes de operação do Fundo estão
sob constante atualização, de forma a permitir que seja incorporado o aprendizado decorrentes dos projetos
executados.

Cada um dos países do IBAS destina, anualmente, US$ 1 milhão ao Fundo. Os recursos são administrados pelo Escritório
de Cooperação Sul-Sul das Nações Unidas e são repassados aos projetos, em caráter concessional. Até o presente, o
Fundo IBAS captou US$ 25 milhões e destinou US$ 21 milhões para projetos em diversos países.

Foram concluídos oito projetos em seis países (Burundi, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Haiti, Serra Leoa e Palestina):

 Coleta e Reciclagem de Resíduos Sólidos: Uma Ferramenta para a Redução da Violência e Conflito em Carrefour
Feuilles (Fase I), em Porto Príncipe (Haiti);
 Desenvolvimento da Agricultura e Criação de Animais (Fase I), em Bissa, N’tatelai e Capafa (Guiné-Bissau);
 Reforma da Infraestrutura do Sistema de Saúde Covoada e Ribeira Brava, ilha de São Nicolau (Cabo Verde);
 Desenvolvimento Agropecuário e Serviços a Comunidades Rurais (Fase II), nas regiões de Bafatá, Oio e Biombo
(Guiné-Bissau);
 Construção de Centro Multiesportivo, em Ramalá (Palestina);
 Coleta e Reciclagem de Resíduos Sólidos: Uma Ferramenta para a Redução da Violência e Conflito em Carrefour
Feuilles (Fase II), em Porto Príncipe (Haiti);
 Reforço à infraestrutura e à capacidade de combate ao HIV/AIDS, em Bujumbura (Burundi);
 Desenvolvimento de Liderança e Capacitação Institucional para o Desenvolvimento Humano e Redução da
Pobreza, em Freetown (Serra Leoa).
 Existem outros oito projetos em andamento em seis países (Cabo Verde, Camboja, Guiné-Bissau, Laos, Palestina
e Vietnã).

Pelo êxito de suas iniciativas, o Fundo IBAS recebeu, em 2006, o Prêmio “Parceria Sul-Sul para Aliança Sul-Sul”, concedido
pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e, em 2010, o Prêmio “Millennium Development
Goals Awards”, outorgado pela ONG “Millennium Development Goals Awards Committee”. Em 2012, o Fundo IBAS foi

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reconhecido com o prêmio "South-South and Triangular Cooperation Champions Award", entregue pelo Escritório das
Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (ECSS), por sua contribuição inovadora para a cooperação Sul-Sul e cooperação
triangular.

9.3. Cúpula América do Sul–Países Árabes (ASPA)

A Cúpula América do Sul-Países Árabes (ASPA) é um mecanismo de cooperação Sul-Sul e de coordenação política em
foros multilaterais. Sua criação foi proposta pelo Brasil em 2003, com o objetivo de promover a aproximação entre as
lideranças políticas e as sociedades civis dos países das duas regiões, bem como a concertação diplomática em temas de
interesse comum.

A realização da I Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da América do Sul e Países Árabes, ocorrida em Brasília, em
10 e 11 de maio de 2005, marcou a estruturação formal da ASPA, integrada por 34 países – sendo 12 sul-americanos
(Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela) e 22
integrantes da Liga dos Estados Árabes (Arábia Saudita, Argélia, Bareine, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes
Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuaite, Líbano, Líbia, Marrocos, Mauritânia, Omã, Palestina, Síria, Somália, Sudão e
Tunísia). A I Cúpula também reconheceu como membros da ASPA as organizações de integração das duas regiões: a Liga
dos Estados Árabes (LEA) e a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL).

A II Cúpula ASPA foi realizada em Doha, no Catar, em 31 de março de 2009. Seu principal resultado foi consolidar a
estrutura do mecanismo – que compreende, além das Cúpulas de Chefes de Estado e de Governo, um Conselho de
Chanceleres e um Conselho de Altos Funcionários. A implementação das ações de cooperação Sul-Sul acordadas em cada
Cúpula compete aos Comitês setoriais estabelecidos nas seguintes áreas:

 Ciência e Tecnologia;
 Meio Ambiente (com um Sub-Comitê de Combate à Desertificação);
 Cultura e Educação; Economia e Comércio; e
 Temas Sociais.

Foram também designados dois “Coordenadores Regionais”, aos quais compete assegurar o funcionamento do
mecanismo, incluindo a realização das Cúpulas birregionais de três em três anos, de reuniões regulares dos Conselhos de
Chanceleres e de Altos Funcionários e a implementação dos calendários de atividades dos Comitês Setoriais. Pelo lado
árabe, a função de coordenação regional vem sendo desempenhada pelo Secretariado Geral da Liga dos Estados Árabes
(LEA). Na América do Sul, por decisão consensual dos Países da região, esse papel é desempenhado pelo Brasil e será
futuramente transferido à UNASUL.

A III Cúpula ASPA, realizada em Lima (Peru), no dia 2 de outubro de 2012, foi o primeiro encontro entre os mandatários
das duas regiões depois de iniciada a “Primavera Árabe” e revelou o grau de consolidação atingido pela ASPA. Dado
revelador do movimento de aproximação entre as sociedades civis das duas regiões foi o fato de o III Foro Empresarial da
ASPA, realizado à margem da III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo, ter reunido cerca de 450 empresários,
evidenciando crescimento significativo em relação ao II Foro Empresarial da ASPA (Doha, 2009), que havia contado com
cerca de 250 participantes. Fruto dos encontros empresariais foi a constituição da Federação de Câmaras de Comércio
Árabes Sul-Americanas, impulsionada pelo notável crescimento do intercâmbio comercial birregional (101,7% no período
2005-2011) e formalizada em reunião realizada em Buenos Aires, em 15 de abril de 2013. Essa aproximação foi facilitada
pela realização de duas reuniões de Ministros da Economia e Finanças da ASPA (a primeira em Quito, em 26 de abril de
2006 e segunda em Rabat, em 23-24 de maio de 2007) e pela implementação de um Plano de Ação em matéria de
cooperação econômica e comercial, por eles aprovado.

Destacam-se, ainda, como realizações no processo de aproximação inter-regional, a cooperação técnica na redução dos
impactos e no enfrentamento de processos de desertificação e degradação de solos, incluindo a gestão de recursos
hídricos em áreas de clima árido e semiárido.

Particular atenção tem sido dada à cooperação cultural, para promover o conhecimento mútuo entre as duas regiões. A I
Reunião de Ministros da Cultura da ASPA foi realizada em Argel, em 2-3 de fevereiro de 2006, poucos meses após a
celebração da I Cúpula. Na II Reunião de Ministros da Cultura (Rio de Janeiro, 20-21/05/2009) foi aprovado o “Plano de

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Ação para a Cooperação Cultural”, cuja implementação na América do Sul tem sido coordenada pela Biblioteca e Centro
de Pesquisas América do Sul-Países Árabes (BibliASPA), sediada em São Paulo. Entre as ações de cooperação, destacam-
se a publicação de edições bilíngues (português e/ou espanhol e árabe) de grandes obras literárias, a oferta de cursos de
língua e caligrafia árabe no Brasil e na Argentina (a serem estendidos a outros países sul-americanos) e a organização de
mostras de cinema. Desde 2010, a BibliASPA realiza anualmente, no mês de março, o Festival Sul-Americano de Cultura
Árabe, evento que contempla múltiplas manifestações artísticas e culturais e ocorre simultaneamente em diversas
cidades sul-americanas.

9.4. Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi criada em 1996 e conta com nove membros: Brasil, Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Os estatutos da CPLP definem três objetivos centrais para a organização:

 concertação político-diplomática
 cooperação em todos os domínios
 promoção e difusão da língua portuguesa

A singularidade da CPLP reside em na circunstância de seus Estados-membros estarem espalhados por diversos
continentes e o de ter construído, sobre a base sólida do idioma comum e de laços históricos e culturais, uma rede de
interesses e valores compartilhados que transcende a distância geográfica.

A CPLP está erguida sobre princípios que, na perspectiva brasileira, são essenciais. Em primeiro lugar, as decisões são
tomadas por consenso, o que lhes confere legitimidade inquestionável. Em decorrência disso, o diálogo entre os
membros se dá de forma horizontal e democrática, com reconhecimento e respeito às assimetrias existentes.

A presença e a atuação da Comunidade têm contribuído para a projeção internacional da língua portuguesa; para o
fortalecimento institucional e político de seus membros em situação de crise ou instabilidade; para a afirmação conjunta
dos interesses comuns de seus membros em outros foros internacionais; e para o desenvolvimento de programas de
cooperação em diversas áreas. A CPLP tem atendido às expectativas e cumprido com os objetivos que motivaram sua
criação.

Os três principais órgãos da CPLP, em sua esfera política, são:

 Conferência de Chefes de Estado e de Governo


 Conselho de Ministros das Relações Exteriores e Negócios Estrangeiros
 Comitê de Concertação Permanente (CCP), integrado pelos Representantes Permanentes dos Estados membros
junto ao Secretariado Executivo da Comunidade

A CPLP também conta com um foro de Pontos Focais de Cooperação, com Reuniões Ministeriais nos mais variados
setores de governo e com uma Assembleia Parlamentar, constituída por representantes dos Poderes Legislativos dos
Estados membros.

A Presidência pro-tempore da CPLP tem caráter rotativo, com mandato de dois anos. O Estado membro que sedia a
Conferência de Chefes de Estado e de Governo assume a presidência da Comunidade pelo período subsequente. O país
que ocupa a Presidência pro-tempore preside as reuniões dos três órgãos deliberativos – Conferência, Conselho de
Ministros e CCP.

Com sede em Lisboa, o Secretariado Executivo é o órgão operacional da organização e tem como funções principais
implementar as decisões dos órgãos deliberativos e assegurar a execução dos programas de cooperação. O cargo de
Secretário-Executivo da CPLP é ocupado, desde julho de 2012, pelo moçambicano Isaac Murade Murargy.

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A CPLP é financiada tanto por meio do orçamento de funcionamento do Secretariado Executivo, custeado por
contribuições obrigatórias dos Estados-membros, como pelo Fundo Especial, alimentado por contribuições voluntárias e
destinado a custear programas de cooperação, projetos e ações pontuais.

9.5. Fórum de Cooperação América Latina–Ásia do Leste

O Fórum de Cooperação América Latina–Ásia do Leste (FOCALAL) foi criado por iniciativa do Chile e de Cingapura, em
1999, com os objetivos de estimular a interação e o conhecimento mútuo entre as duas regiões, promover maior diálogo
político e intensificar a cooperação, de forma a criar possibilidades de atuação conjunta em diversos campos.

A iniciativa de criação do FOCALAL veio ao encontro do objetivo brasileiro de ampliar e aprofundar suas relações com a
Ásia nas esferas diplomática, econômica e comercial. O Fórum contribui para o fortalecimento e para a dinamização das
relações bilaterais dos países da América Latina com os da região asiática, em particular com aqueles cujo
relacionamento ainda carece de maior densidade.

O FOCALAL constitui o mecanismo mais abrangente de cooperação envolvendo a Ásia de Leste e a América Latina.
Congrega hoje 36 países: 20 da América Latina (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, El Salvador,
Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Suriname, Uruguai e
Venezuela) e 16 da Ásia do Leste (Brunei, Camboja, China, Cingapura, Coreia do Sul, Filipinas, Indonésia, Japão, Laos,
Malásia, Mongólia, Mianmar, Tailândia, Vietnã, Austrália e Nova Zelândia).

São princípios básicos do FOCALAL: o respeito à soberania e à integridade territorial de cada país; a não-interferência em
assuntos internos dos outros Estados; a igualdade, o benefício mútuo e a promoção do desenvolvimento; o respeito à
diversidade cultural e social; e a prevalência do consenso no processo decisório.

Do ponto de vista institucional, o Fórum conta atualmente com três instâncias:

 Grupos de Trabalho, que mantêm reuniões anualmente, e atuam nas seguintes áreas temáticas: Cooperação
Sócio-política e Desenvolvimento Sustentável; Comércio, Investimento, Turismo e Pequenas e Médias
Empresas; Cultura, Juventude, Gênero e Esportes; Ciência e Tecnologia, Inovação e Educação;
 Comitê de Altos Funcionários, que igualmente se reúne todos os anos; e
 Comitê de Ministros de Relações Exteriores, mais alta instância decisória do mecanismo, que mantém reuniões
a cada dois anos.

Há, ainda, dois Coordenadores Regionais, que são países eleitos nas reuniões ministeriais. São responsáveis por sediar os
encontros anuais de Altos Funcionários e as reuniões bienais de Chanceleres, além de coordenar opiniões e propostas
dos Estados-membros e prover consistência aos debates entre eles.

Diferentemente de outros mecanismos inter-regionais de que o Brasil faz parte, o FOCALAL não realiza reuniões de
Chefes de Estado e Governo. Antes de convocar a primeira Cúpula nesse nível, os países membros optaram por aguardar
que as relações entre as duas regiões se aprofundem e a cooperação técnica se intensifique.

Desde a institucionalização do FOCALAL, foram realizadas seis Reuniões de Ministros das Relações Exteriores – uma delas
em Brasília, em 2007, e a mais recente em Bali, em junho de 2013 – e quatorze Reuniões de Altos Funcionários, além de
reuniões dos diversos Grupos de Trabalho. Atualmente, os Coordenadores Regionais são Costa Rica e Tailândia.

Em cada Reunião de Ministros das Relações Exteriores, é adotada uma Declaração que estabelece posições comuns dos
membros do Foro sobre os principais temas da agenda internacional, define metas para intensificar as relações entre as
regiões, além de aprovar o desenvolvimento de projetos birregionais de cooperação propostos pelos países do Foro.

Está em estudos proposta brasileira de criação de uma Rede de Universidades do FOCALAL, que levaria ao
aprofundamento do conhecimento mútuo entre as regiões e incentivaria a cooperação birregional, por meio do
intercâmbio de estudantes, docentes e pesquisadores dos países do Foro. Está também sendo analisado projeto

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colombiano de desenvolvimento de uma Rede de Convergência Científica e Tecnológica entre as duas regiões e proposta
japonesa de realização de um concurso na área de robótica entre universidades latino-americanas. A implementação de
tais projetos ampliará significativamente a perspectiva de cooperação entre as regiões nos campos de ciência, tecnologia
e inovação, que têm potencial de trazer grandes benefícios mútuos.

O FOCALAL pode exercer importante papel no cenário internacional, tendo em vista que reúne regiões que se encontram
em pleno desenvolvimento e ascensão econômica, política e social. Com o atual crescimento da relevância econômica do
Leste da Ásia, o Fórum tornou-se instrumento essencial no aprofundamento das relações do Brasil com os países da
região.

9.6. Conferência Ibero-Americana

Realizada em 1991 por iniciativa do México e da Espanha, a I Cúpula Ibero-Americana levou à criação da Conferência
Ibero-Americana e da “Comunidade Ibero-Americana de Nações”. Concebida como foro para estimular avanços em
temas políticos, econômicos e culturais que sejam comuns aos países participantes, a Conferência Ibero-Americana tem
dentre seus objetivos:

 promoção e garantia da plena vigência dos direitos humanos;


 reconhecimento da contribuição dos povos indígenas ao desenvolvimento e à pluralidade das sociedades latino-
americanas;
 fortalecimento dos mecanismos nacionais e internacionais que permitam avançar políticas de inclusão social.

A diminuição das desigualdades sociais tem ganhado relevância temática nos últimos anos, particularmente em
decorrência dos avanços promovidos por diversos Governos da América do Sul. A Conferência Ibero-Americana fomenta
cooperação entre países em desenvolvimento. O Brasil é um dos principais prestadores de cooperação no âmbito da
iniciativa, com projetos nas áreas da saúde, educação, cultura, turismo, moradia e infraestrutura.

As Cúpulas da Conferência Ibero-Americana têm ocorrido anualmente e reúnem 22 países – sendo 19 das Américas do
Sul e Central (Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, República Dominicana, Equador, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela) e três da península ibérica
(Andorra, Espanha e Portugal). A partir da XXIV Cúpula, as reuniões passarão a ser bienais.

Integram também a Conferência outras instituições que compõem “espaço ibero-americano”:

 Organização de Estados Ibero-Americanos para a Educação a Ciência e a Cultura (OEI);


 Organização Ibero-Americana de Segurança Social (OISS);
 Organização Ibero-Americana de Juventude (OIJ);
 Conferência dos Ministros de Justiça dos Países Ibero-Americanos (COMJIB) e
 Secretaria-Geral Ibero-Americana (SEGIB).

A XXIII Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo foi realizada em 2013, no Panamá. Nessa reunião, a
Presidenta Dilma Rousseff foi representada pelo Ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, e o
Brasil reforçou seu compromisso com a renovação da Conferência.

9.7. União Africana

A União Africana (UA) foi criada em 2002, em substituição à antiga Organização da Unidade Africana.

A União Africana tem atuado na mediação e prevenção de conflitos, como nos casos da Somália e do Sudão. Um dos
princípios consagrados em seu tratado constitutivo e que tem contribuído para a defesa da democracia no continente é
aquele que estabelece a condenação e rejeição a mudanças inconstitucionais de governo. Criado em 2004, o Conselho
de Paz e Segurança da União Africana foi concebido para atuar diante de circunstâncias graves nos países-membros –
tais como crimes de guerra, genocídio ou crimes contra a humanidade. A disposição de intervir em tais situações é, em
si, outro elemento inovador da organização.

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A vertente econômica da União Africana – a Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (NEPAD) – tem privilegiado
projetos de cooperação internacional nos quais o conceito de "parceria" se sobreponha ao da "assistência", com vistas a
fomentar efetivo desenvolvimento no continente. Esse é outro exemplo do empenho africano, estimulado pela UA, de
engajar-se ativamente na solução dos problemas que afetam a região.

A União Africana tem contribuído de maneira significativa para a evolução institucional do continente, passando a
capitanear o chamado "renascimento africano" e forjando um novo perfil para a África – caracterizado, sobretudo, pela
modernização das instituições políticas e das estruturas econômicas. As iniciativas da União Africana estão voltadas ao
respeito aos direitos humanos, à abertura econômica e à transparência administrativa nos Estados-membros.

A União Africana é ator de grande importância para a política externa brasileira, pois é foro incontornável para articular e
impulsionar iniciativas em várias áreas – da política à economia, da agricultura ao desenvolvimento social. A abertura da
Embaixada do Brasil em Adis Abeba, sede da União Africana, em 2005, refletiu o interesse brasileiro em acompanhar as
atividades da organização. O Brasil tem sido convidado, desde então, a participar dos principais eventos da UA, na
condição de observador.

9.8. Liga dos Estados Árabes

A Liga dos Estados Árabes (LEA) foi criada em 1945, no Cairo. A organização conta com 22 membros: Arábia Saudita,
Argélia, Bareine, Catar, Comores, Djibuti, Egito, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuaite, Líbano, Líbia,
Marrocos, Mauritânia, Palestina, Síria (suspenso), Omã, Somália, Sudão e Tunísia.

O principal órgão decisório é o Conselho da Liga, no qual todos os membros estão representados e que se reúne, em
princípio, duas vezes por ano, podendo também reunir-se extraordinariamente. A Presidência do Conselho é ocupada
em caráter de rodízio pelos membros da LEA, por um período de seis meses. As Cúpulas da Liga ocorrem em frequência
anual, geralmente no mês de março.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro Chefe de Estado brasileiro a visitar a sede da Liga, em dezembro de
2003. Em 2005, o Secretário-Geral da LEA anunciou a decisão de reabrir a Missão da Liga em Brasília (fechada desde
meados dos anos 1990) e de nomear Representante residente – o que já se realizou.

Brasil e Liga Árabe têm intensificado os contatos políticos e vínculos institucionais. Trabalham em conjunto na
organização das Cúpulas ASPA (América do Sul-Países Árabes) – onde atuam, respectivamente, como coordenadores dos
países sul-americanos e árabes. Em 2014, o Conselho da Liga concordou em acreditar o Embaixador do Brasil no Egito
como Representante Especial do Brasil junto à Liga dos Estados Árabes, significativo passo para o estreitamento das
relações do Brasil com aquela organização e com os países árabes.

Há Embaixadas brasileiras em 17 dos 22 países que integram a Liga, mesma quantidade de Embaixadas de países árabes
em Brasília. De 2002 a 2013, o comércio com os países da Liga Árabe passou de US$ 4,9 bilhões para US$ 25,4 bilhões
(saldo de US$ 2,6 bilhões para o Brasil em 2013).

9.9. Aliança de Civilizações

A criação de uma Aliança de Civilizações foi proposta pelo então Presidente de Governo da Espanha, José Luis Rodríguez
Zapatero, no Debate Geral da 59ª Assembleia Geral da ONU em 2004, com co-patrocínio do Primeiro-Ministro da
Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

Embora originalmente concebida para aprofundar os laços entre o Ocidente e o Mundo Muçulmano, sobretudo na
região do Mediterrâneo, a Aliança de Civilizações adquiriu escopo mundial desde que foi encampada pelas Nações
Unidas, em 2005: fazem parte da Aliança membros do G-77, do Movimento Não-Alinhado, da União Europeia, da Liga
dos Estados Árabes e da Organização de Cooperação Islâmica, todos grupos de interlocução importantes para o Brasil.

A Aliança de Civilizações é de natural interesse para o Brasil, nação pluricultural e multirracial, que assume a diversidade
como fator marcante de sua identidade.

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Os objetivos da iniciativa são amplamente convergentes com a política externa brasileira, especialmente tendo em conta
seu escopo de promoção da paz e a superação de visões preconceituosas. Desde 2006, o Brasil é parte do “Grupo de
Amigos da Aliança de Civilizações”, atualmente formado por mais de 135 países e organizações internacionais.

O Brasil participou de todos os Fóruns da Aliança de Civilizações – Madri (2008), Istambul (2009), Rio de Janeiro (2010),
Doha (2011) e Viena (2013). O Fórum sediado pelo Brasil foi a primeira edição realizada fora da Europa, o que permitiu
tornar a iniciativa realmente global, trazendo um número maior de países africanos e da América Latina, que muito têm a
contribuir para o diálogo entre culturas.

No I Fórum (Madri, 2008), recomendou-se aos Estados que elaborassem planos de ação nacionais que incluíssem
planejamento de atividades e consolidação de experiências nos assuntos prioritários para a iniciativa (educação,
migração, juventude e mídia). O Brasil apresentou seu Plano Nacional sobre os temas prioritários da Aliança de
Civilizações no II Fórum Mundial, em Istambul, em abril de 2009.

A Aliança de Civilizações foi mencionada pela Presidenta da República, Dilma Rousseff, na abertura do Debate Geral da
67ª Assembleia Geral da ONU: "como Presidenta de um país no qual vivem milhares e milhares de brasileiros de
confissão islâmica, registro neste plenário nosso mais veemente repúdio à escalada de preconceito islamofóbico em
países ocidentais. O Brasil é um dos protagonistas da iniciativa generosa – a Aliança de Civilizações".

9.10. G-15

Criado em 1989 – após a IX Cúpula dos Países Não-Alinhados, em Belgrado – o Grupo dos Quinze (G-15) reúne número
pequeno e representativo de países que coordenam posições sobre temas da agenda econômica internacional, a partir
da perspectiva do mundo em desenvolvimento. O foro também foi constituído com o objetivo de promover a
cooperação Sul-Sul.

São 17 os membros do G-15: Argentina, Argélia, Brasil, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Jamaica, Malásia, México,
Nigéria, Senegal, Sri Lanka, Venezuela, Zimbábue e Quênia. Além das reuniões periódicas de Chefes de Estado e de
Governo, também são realizadas anualmente reuniões de Chanceleres à margem da Assembleia Geral das Nações
Unidas.

A estrutura do G-15 conta com um Comitê Diretivo, composto por uma "troika" formada pelos Ministros das Relações
Exteriores dos países anfitriões das duas Cúpulas mais recentes e da Cúpula futura (excepcionalmente, o Brasil participa,
no momento, da "troika", juntamente com o Irã e o Sri Lanka, anfitriões, respectivamente, da última e da próxima
Cúpula). O Comitê Diretivo tem a atribuição de supervisionar e coordenar os trabalhos do Grupo. O G-15 conta, ainda,
com um Escritório Técnico, incumbido de tarefas administrativas, e com um Grupo de Trabalho sobre Cooperação
Setorial, que identifica possíveis áreas de cooperação.

Cada membro do G-15 indica um Representante Pessoal do Chefe de Estado e/ou de Governo. No caso do Brasil, trata-se
do Representante Permanente junto à OMC. Os Representantes coordenam os preparativos para reuniões de
Chanceleres e de Cúpulas.

10. Ciência, tecnologia e inovação


10.1. Cooperação em ciência, tecnologia e inovação

A política externa brasileira para cooperação em ciência, tecnologia e inovação tem vocação universal, direcionando-se a
países de todos os continentes e de diferentes graus de desenvolvimento.

Há, de toda forma, interesse em priorizar o fortalecimento das parcerias com países da América do Sul, sobretudo do
MERCOSUL, e com países de desenvolvimento científico e tecnológico assemelhado, ou com dimensões comparáveis.
Confere-se, desse modo, particular atenção ao relacionamento político-estratégico com os países que compõem o IBAS
(Índia, Brasil e África do Sul) e o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bem como ao estreitamento das
relações científico-tecnológicas com parceiros tradicionais.

10.2. Governança da Internet

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A Internet e as novas tecnologias digitais podem constituir instrumentos poderosos em prol do desenvolvimento
econômico e da inclusão social. Para tanto, é preciso assegurar que ações voltadas a garantir a segurança das
comunicações e a estabilidade da rede não afetem o exercício da liberdade de expressão e o direito à privacidade.

O Itamaraty atua em defesa de um sistema multilateral, democrático e transparente de governança da Internet, com a
participação de todos os setores relevantes (governo, setor privado, sociedade civil, comunidades técnica e acadêmica e
organismos internacionais), em consonância com a Agenda de Túnis para a Sociedade da Informação e com o modelo
multissetorial de gestão da Internet adotado no Brasil.

É necessário que haja princípios e normas universais para a governança e para o desenvolvimento da Internet. É
essencial, também que sejam adotadas medidas para aperfeiçoar a arquitetura global e preencher as lacunas existentes.
Nesse contexto, o Brasil defende o fortalecimento do Fórum de Governança da Internet (IGF), ao mesmo tempo em que
favorece o estabelecimento de plataforma que permita a discussão de políticas públicas globais relativas à Internet, em
linha com o conceito de "cooperação aprimorada" preconizado pela Agenda de Túnis, mas que nunca foi plenamente
implementado.

Para que a governança da Internet seja efetivamente democrática e responsiva às necessidades do mundo em
desenvolvimento, o Brasil considera imprescindível o aumento da participação de representantes de países em
desenvolvimento – tanto governamentais como dos demais setores relevantes – nas negociações internacionais sobre a
matéria.

10.3. Inovação

Por meio da intensificação de parcerias internacionais em matéria de inovação, a cooperação é instrumento para
potencializar as políticas do Governo, nas esferas federal, estaduais e municipais – a exemplo do Plano "Brasil Maior" e
dos programas "Brasil Inova", "TI Maior" e "Ciência sem Fronteiras".

A "Diplomacia da Inovação" executada pelo Ministério das Relações Exteriores consiste, dentre outras ações, em:

 facilitar a transferência e a incorporação, por empresas brasileiras, de conhecimento produzido no exterior;


 apoiar programas internacionais de mobilidade, capacitação e qualificação de mão de obra para a indústria e o
setor de serviços; e
 promover parcerias entre empresas, laboratórios e instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D),
brasileiras e estrangeiras, para o aprimoramento de cadeias produtivas nos setores industrial e de serviços.

10.4. Tecnologias da informação e das comunicações

Em 2001, a Assembleia Geral da ONU determinou a realização, em duas fases, de umaCúpula Mundial sobre Sociedade
da Informação (WSIS), com o objetivo de fomentar propostas para o desenvolvimento inclusivo da Sociedade da
Informação.

Ao final da primeira fase da Cúpula, em 2003, aprovou-se o “Plano de Ação de Genebra”. Inspirado nas Metas de
Desenvolvimento do Milênio, O Plano de Genebra estabeleceu dez objetivos relacionados ao acesso e ao uso das
tecnologias da informação e das comunicações, para cumprimento até 2015, com especial atenção às necessidades dos
países em desenvolvimento. O documento também estabeleceu 11 linhas de ação para a construção r de uma Sociedade
da Informação inclusiva e para o aproveitamento do potencial das tecnologias digitais para promover o desenvolvimento.

Aprovada na segunda fase da Cúpula, realizada em 2005, a “Agenda de Túnis” propôs o modelo multissetorial para a
governança global da Internet e criou o “Fórum de Governança da Internet” (IGF), além de fomentar a implementação
do Plano de Ação de Genebra e tratar do seguimento das recomendações da WSIS.

A WSIS marcou a entrada definitiva, na agenda internacional, das questões relacionadas às tecnologias da informação e
das comunicações, incluindo, seus usos na promoção do desenvolvimento e a redução do hiato digital. Desde então, o
Plano de Ação de Genebra e a Agenda de Túnis têm orientando as negociações internacionais sobre tecnologias da
informação e das comunicações.

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A atuação do Brasil nas reuniões da Cúpula e no seu seguimento tem sido marcada pela defesa de um sistema
multilateral, multissetorial, democrático e transparente de governança da Internet, refletindo o modelo adotado no
Brasil.

Nos âmbitos bilateral e regional, mediante projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento, o Itamaraty busca
contribuir para a implementação de iniciativas nacionais voltadas à massificação do acesso à banda larga, à capacitação
no campo dessas tecnologias e à promoção de software livre e de ferramentas de governo eletrônico. Também busca
atrair investimentos estrangeiros e promover a instalação, no Brasil, de centros de pesquisa e desenvolvimento ligados à
indústria de alto conteúdo tecnológico.

10.5. TV Digital

O padrão de televisão digital adotado pelo Brasil é o "Sistema Integrado de Transmissão Digital Terrestre" (ISDB-T).

Originalmente desenvolvido no Japão, o padrão de televisão digital "Sistema Integrado de Transmissão Digital Terrestre"
(ISDB-T) foi adaptado para introduzir soluções técnicas concebidas por peritos brasileiros, o que levou ao que hoje é
também conhecido como "padrão nipo-brasileiro". Dentre as contribuições brasileiras encontra-se uma tecnologia que
permite a transmissão gratuita de conteúdos interativos e possibilita a criação de plataformas de governo eletrônico – o
que atende a necessidades específicas dos países em desenvolvimento.

O Ministério das Relações Exteriores encontra-se engajado nos esforços para disseminar o padrão nipo-brasileiro de TV
digital. Após a consolidação desse padrão na América do Sul, o Brasil – em parceria com o Japão e com os demais países
que o adotaram – tem obtido importantes resultados em outras regiões, em particular na América Central, na África
Austral e na Ásia.

Os países que já aderiram ao ISDB-T até o momento são: Argentina, Bolívia, Botsuana, Chile, Costa Rica, Equador,
Filipinas, Guatemala, Honduras, Maldivas, Peru, Paraguai, Sri Lanka, Uruguai e Venezuela.

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