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Graduanda em Letras – Português/Inglês, pela Universidade Estadual de Goiás-UEG. Endereço eletrônico:
andressamarie20@gmail.com.
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Deste modo, o autor estabelece uma comunicação entre as figuras que ele cria e os
sujeitos que a sociedade cria, uma vez que não se distanciam dentro do padrão pop. Nessa
atmosfera, pode-se apontar uma das personagens mais significativas de Nick: Rob Fleming,
de Alta Fidelidade (1995), que é o típico ser persuadido pela cultura pop “[...] que faz
profundas reflexões sobre sua vida a partir da música, muitas vezes se questionando sobre
quem influencia e quem é o influenciado.” (PIRES, 2017, p. 2).
Assim, salienta-se que no meio literário, os romances narrados do ponto de vista
masculino tem ganhado espaço. Se antes existia a categoria chick-lit, utilizada para definir
literatura de mulher para mulher, de tempos para cá, esta começou a andar ao lado de outras
subcategorias do gênero romance: a dude-lit ou lad-lit. Estas espécies do estilo romântico
abordam características profundas também, mas do ponto de vista masculino. Em Alta
Fidelidade, é apresentado um segundo lado da moeda em uma escrita contemporânea que
sofre influência da cultura pop. Essa narrativa apresenta ao leitor a sensibilidade masculina
aflorada, que retrata o lado mais delicado do sexo que não é considerado como frágil.
A narrativa construída por Nick se dá em primeira pessoa. A personagem principal,
Rob, dono de uma loja de discos semi falida, na década de 90, conduz o leitor pelos seus
pensamentos sobre as questões da vida, amizades e, em especial, relacionamentos. Rob define
tudo em listas: há o Top Five dos melhores filmes como Cães de Aluguel, ou os melhores
episódios do seriado Cheers, além de lista das melhores bandas, das piores, e claro dos
relacionamentos. Esse exercício de enumeração tipicamente masculino, que Rob divide com
seus funcionários Barry e Dick “[...] mescla memória afetiva, julgamento crítico e irônico,
que vai além da ideia de preferência pessoal a respeito de artigos culturais e fomenta a própria
construção do seu “eu”, onde o sujeito fala através de outros.” (ALBERTO, 2013, p. 123).
Rob se encontra encurralado pela famosa crise dos trinta e poucos anos. Quando
Laura, sua última namorada o dispensa e vai morar com Ian – o babaca que morava no andar
de cima –, o jovem homem inicia seu Top Five dos rompimentos mais trágicos pelos quais
passou. A partir dessa listagem pessoal, Fleming começa a apontar as lições que um cara de
trinta e cinco anos aprendeu ao longo da vida. Para os jovens, a galera dos quase vinte anos, a
necessidade de beijar e se envolver com alguém, mesmo sem saber o porquê de fazer isso –
talvez por que se espera que seja feito – pode implicar em desilusões e marcas de toda uma
vida. Essas memórias vão impulsionar Rob para fora da sua rotina maçante e inércia. Ao
buscar repostas, reencontros, ele vai se decifrando e ao mesmo tempo entrando em outras
crises existencialistas. E, se a minha vida fosse assim? E se eu tivesse essas roupas? E se eu
tivesse esse carro? Eu quero isso. E, se eu estivesse com essa mulher? Não me encaixo aqui.
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Estas são indagações que passam pela cabeça de vários Rob Fleming espalhados por aí ao
olhar para trás e se enxergarem no presente.
Com todas as buscas e emaranhados sentimentais em que Rob se perde ele torna-se o
seu próprio antagonista. Ele não assume a responsabilidades das suas conquistas e derrotas.
Com isso, terceiriza sua condição interna aos relacionamentos que findaram sem um final
feliz. A sua mente trabalha de modo que o trai. As atitudes que o jovem homem toma em
relação ao ser amado o afastam de quem ele quer se aproximar. Contudo, quando o jogo vira,
quando Laura precisa dele, o quer por perto, pois está fragilizada, Rob foge. Porém, ele foge
dele mesmo. Rob tem medo. Medo de se aprofundar na vida, nas relações.
O seu temor pode estar ligado a comodidade que é não assumir a responsabilidade de
que as uniões, os laços, amorosos ou não, dependem de todos os envolvidos para dar certo. E
assim, a personagem principal se sente magnetizada por traições e relações rasas. É o medo de
se aprofundar, de se entregar e estar presente assumindo as consequências de suas ações. Este
comportamento pode ser compreendido, pois de certa forma, cada um de nós está
condicionado a culpar o outro pelas mazelas nos afligem, pois é o meio mais confortável. No
entanto, como encontrar a felicidade? Pode ser sentida ou o que o homem busca, de fato, é
sofrer e se afundar nas tristezas para que consiga sentir-se vivo?
A força do consumo impregnada na atualidade é relatada na literatura pop, todavia o
foco vai além das amarras da sociedade capitalista, remete ao presente. Traduzir os
indivíduos, a forma do pensamento dentro da linha da contemporaneidade. A personagem
Rob, nos ajuda a compreender estas questões em uma de suas frases:
O que veio primeiro, a música ou a dor? Eu ouvia música porque estava infeliz? Ou
estava infeliz porque ouvia música? Esses discos todos transformam você numa
pessoa melancólica? […] As pessoas mais infelizes que conheço são as que mais
gostam de música pop. (HORNBY. Alta Fidelidade, p. 28).
Com isto, fica claro que a pop culture, neste caso a música, age sob o sujeito como
formadora de identidade, e assim não é possível desassociar ambos. O autorreconhecimento
se dá por meio de identificação no outro através dessa voz do pop, mas ainda assim busca-se
uma caracterização singular, pois por mais que se ouça a mesma melodia, cada um é tocado
de uma forma distinta a dos demais. Tanto em Alta Fidelidade quanto em outras obras de
Nick “essa relação entre reconhecimento dos personagens com o pop, e sua representação
através do pop, é substrato fundamental na composição narrativa [...] sua literatura é farta de
exemplos nesse sentido.” (ALBERTO, 2013, p. 124).
Sendo assim, os desafios deste romancista contemporâneo é externalizar o eu
moderno. Uma vez que, se autodecifrar não é tarefa fácil, toda uma sociedade de forma
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verbal, imagética, textual parece ser possível quando há o encontro com o roteiro cultural do
que nos é comum. O que vem de fora nos compreende e o nosso interior penetra a superfície e
é através dessa forma clássica, um romance, que Hornby, trabalha o cenário midiático e pop
sob a ótica literária do presente.
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Referências
HORNBY, NICK. Alta fidelidade. Tradução Christian Schwartz. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
LENNON, John. Como fazer uma boa análise literária. Disponível em:
<https://canaldoensino.com.br/blog/como-fazer-uma-boa-analise-literaria> Acesso em: 17
jun. 2018.
MUNDO DOS LIVROS. Resenha: Alta Fidelidade por Nick Hornby. Disponível em:
<http://www.mundodoslivros.com/2015/12/resenha-alta-fidelidade-por-nick-hornby.html>
Acesso em: 19 jun. 2018.