Você está na página 1de 13

Ministério para o Desenvolvimento Internacional (DFID)

Manual de Orientação sobre MEIOS DE VIDA


SUSTENTÁVEIS

Capítulo 1: INTRODUÇÃO
1.1. VISÃO GERAL

Meios de vida sustentáveis: colocando as pessoas no centro do desenvolvimento


A abordagem proposta, chamada “meios de vida”, é uma forma de refletir sobre os objetivos, o
alcance e as prioridades das atividades para o desenvolvimento. Foi criado um arcabouço com
objetivos específicos para auxiliar na sua implementação, mas a abordagem é mais que isso.
Na essência, ela é uma forma de colocar as pessoas no centro do desenvolvimento,
aumentando, assim, a eficácia da cooperação técnica. Esta série de documentos de orientação
visa a resumir e divulgar o pensamento emergente sobre a abordagem “meios de vida
sustentáveis”. Ela não oferece respostas e diretrizes definitivas, mas pretende estimular o leitor
a refletir sobre a abordagem e, assim, contribuir com aperfeiçoamentos.

O arcabouço da abordagem “meios de vida sustentáveis”


O presente arcabouço, apresentado de forma esquematizada a seguir e discutido
detalhadamente na Seção 2 do documento de orientação, foi desenvolvido para auxiliar na
compreensão e análise dos meios de vida das populações carentes. Ele também ajuda na
avaliação da eficácia dos programas de redução de pobreza. Este arcabouço, como qualquer
outro, é uma simplificação; a diversidade e a riqueza de um meio de vida só podem ser
compreendidas por meio de uma análise qualitativa e participativa de âmbito local.

Este arcabouço não pretende fornecer uma representação exata da realidade. No entanto, ele
tenta fornecer um ponto de vista sobre os meios de vida das populações carentes, com o
objetivo de estimular o debate e a reflexão e aumentar, assim, o nível de sucesso dos
programas de redução da pobreza. De forma simplificada, o arcabouço enxerga as pessoas
como agentes em um contexto de vulnerabilidade. Dentro deste contexto, elas têm acesso a
certos recursos ou fatores de redução da pobreza. É o ambiente organizacional, institucional e
social que determina o significado e o valor de tais recursos. Tal ambiente também influencia
as estratégias de meios de vida – as formas de combinar e utilizar os recursos –, das quais as
pessoas podem lançar mão para alcançar resultados positivos para o próprio sustento e para
atingir seus próprios objetivos.

O que é um meio de vida?


A expressão “meio de vida” pode ser usada de várias formas. A definição que se segue expressa
o significado amplo de meios de vida, que é a acepção usada neste trabalho: “os meios de vida
consistem nas capacidades, atividades e recursos (tanto materiais quanto sociais) necessários
para o sustento. Um meio de vida é sustentável quando pode enfrentar e recuperar-se de um
estresse ou impacto, mantendo ou expandindo sua capacidade e seus bens, tanto no presente,
quanto no futuro, sem prejuízo para os recursos naturais que lhe servem de base”. Adaptado de
st
Chambers, R. e Conway, G. (1992) Sustainable rural livelihoods: Practical concepts for the 21
century. IDS Discussion Paper 296. Brighton: IDS.

1
Figura 1. Arcabouço para a abordagem “meios de vida sustentáveis”

Recursos de meios
de vida

Humano
Processos e Resultados
Contexto de Estratégias de dos meios
vulnerabilidade Social Natural estruturas em meios de vida
transformação de vida

Físico Financeiro

De forma específica, este documento visa a:


• mostrar como a abordagem meios de vida sustentáveis se adapta aos objetivos gerais do
DFID;
• explicar o arcabouço da abordagem meios de vida, da forma como é atualmente entendida;
• explicar as ligações entre esta abordagem e outras abordagens e metodologias atuais e
anteriores;
• apresentar sugestões sobre a prática desta abordagem;
• apontar as prioridades (erros de compreensão) para trabalhos futuros;
• identificar os recursos de pesquisa disponíveis (projetos, experiência e literatura
especializada).
Todos os documentos poderão ser encontrados na página do DFID, na Internet (www.livelihoods.org).

Processo: pesquisa e cooperação


O presente documento de orientação é produto de um longo e permanente processo de
pesquisa sobre os meios de vida sustentáveis. A pesquisa, que se iniciou em janeiro de 1998,
abrangeu:
• funcionários da sede e dos escritórios regionais do DFID;
• representantes de ONGs;
• representantes de outros doadores bilaterais e multilaterais;
• pesquisadores;
• consultores do DFID.

O processo de consulta e cooperação tem sido muito produtivo. Este manual foi elaborado em
real parceria; ele tenta captar o pensamento além das fronteiras do DFID. No entanto, até o
momento, os parceiros do DFID nos países em desenvolvimento – os formuladores de
políticas, líderes e clientes – não foram adequadamente envolvidos e suas opiniões foram
obtidas somente de forma indireta. Este documento pode, portanto, ser considerado como um
ponto de partida para que o pessoal do DFID e outros comecem a explorar e a expandir as
novas idéias com as organizações parceiras.

Produtos e recursos
Outros produtos do processo de pesquisa abrangem:
• um livro contendo os trabalhos editados e apresentados na Conferência dos Consultores para
Recursos Naturais do DFID, em 1998: Meios de vida rurais sustentáveis: como podemos
contribuir? A publicação pode ser obtida com Marnie Durnford (m-durnford@dfid.gov.uk);
• o Centro de Recursos Virtuais em Meios de Vida Sustentáveis, criado para apoiar o DFID no
aprendizado e implementação da abordagem meios de vida sustentáveis. Este centro,
administrado na sede do DFID, reúne uma grande variedade de recursos de pesquisa que
auxiliam o DFID. O e-mail de contato é livelihoods@dfid.gov.uk;
• o Grupo Temático de Meios de Vida Sustentáveis, que consiste em uma equipe do DFID
encarregada de aumentar a eficácia do DFID na promoção dos meios de vida sustentáveis. O
Centro de Recursos Virtuais está conectado ao grupo temático via administração no DFID;

2
• o estabelecimento de relações de trabalho produtivas com vários outros parceiros envolvidos
com atividades de desenvolvimento (dentre eles, várias ONGs, o Pnud e o Banco Mundial).

1.2. ORIGENS E OBJETIVOS

A idéia de meios de vida teve origem no trabalho de Robert Chambers, em meados dos anos
80, e evoluiu com Chambers, Conway e outros, no início da década de 90. Desde então, muitos
órgãos de desenvolvimento têm adotado os conceitos de meios de vida e procurado
implementá-los. Para o DFID, no entanto, a abordagem meios de vida sustentáveis representa
um novo enfoque político e prático.

Origem: o White Paper (Documento da Política do DFID)


Este documento de orientação é resultado de um processo permanente de diálogo sobre como
alcançar os objetivos e seguir as diretrizes políticas do White Paper sobre o Desenvolvimento
Internacional, de 1997, do governo britânico. Este documento compromete o DFID a apoiar:
(i) políticas e ações que promovam o desenvolvimento sustentável;
(ii) melhor educação, saúde e mais oportunidades para as populações carentes;
(iii) proteção e melhor gestão do meio ambiente;

e assim contribuir para a criação de condições sociais, físicas e institucionais que apóiem a
erradicação da pobreza.

Embora a abordagem meios de vida sustentáveis pareça centrar-se no objetivo (i), sua
interpretação subentende os outros objetivos. Ela reconhece explicitamente a importância do
bem-estar físico, da educação e da situação do meio ambiente natural, entre outros fatores,
para as populações carentes e a sustentabilidade dos meios de vida.

Objetivos dos meios de vida sustentáveis


A abordagem meios de vida sustentáveis é ampla e abrangente. Ela pode, entretanto, ser
sintetizada em seis objetivos fundamentais. O DFID se propõe a aumentar a sustentabilidade
dos meios de vida das populações carentes por meio de:
• melhor acesso à educação de alta qualidade, informação, tecnologias e treinamento, além de
melhores condições de nutrição e saúde;
• um ambiente social mais coeso e que proporcione mais apoio;
• mais segurança no acesso e gestão dos recursos naturais;
• melhoria do acesso à infra-estrutura básica;
• acesso mais seguro aos recursos financeiros; e
• uma política e um ambiente institucional que apóiem a multiplicidade de estratégias de meios
de vida e promovam o acesso eqüitativo a mercados competitivos.

Estes objetivos encontram-se diretamente ligados ao arcabouço dos meios de vida


sustentáveis e serão examinados mais detalhadamente na Seção 2 do Documento de
Orientação. Juntos, eles definem o alcance das atividades de promoção dos meios de vida
sustentáveis do DFID, embora nem todos os objetivos estejam presentes em todas as
situações.

O que se espera alcançar?


O objetivo do DFID é a erradicação da pobreza nos países mais pobres. Especificamente, o DFID
assinou a Meta Internacional de Desenvolvimento para reduzir pela metade, até 2015, a proporção
de pessoas em situação de extrema pobreza. Espera-se que a adoção da abordagem meios de
vida sustentáveis para a compreensão da pobreza, além do trabalho visando a alcançar os
objetivos descritos, contribua diretamente para se atingir a meta. Tal abordagem estruturará
debates e palestras, além de ajudar o DFID e parceiros a dar uma resposta à visão que as
populações carentes têm da pobreza, tanto nos seus aspectos financeiros quanto não-financeiros.
E, o que é mais importante, ela ajudará a identificar as prioridades práticas com base nas opiniões e
nos interesses dos envolvidos.

A abordagem reconhece as múltiplas dimensões da pobreza, identificadas pelas avaliações


participativas de pobreza (ver 1.5). Seu objetivo é ajudar as populações carentes a identificar e
combater os indicadores de pobreza de forma duradoura. Esta abordagem, ao usar uma visão
mais abrangente e mais fundamentada das oportunidades, limitações, objetivos e interações
que caracterizam a vida das pessoas, expande as possibilidades de apoio do DFID aos meios

3
de vida sustentáveis. A análise exigida nesta abordagem ajuda a melhorar o direcionamento
desse apoio e torna clara a conexão entre as diferentes atividades empreendidas pelo DFID e
parceria. O resultado é uma contribuição mais efetiva para a erradicação da pobreza.

Os meios de vida sustentáveis e a erradicação da pobreza


O Grupo Temático para a Redução da Pobreza e da Exclusão Social do DFID fornece o ponto
inicial para as ações vinculadas à redução da pobreza. O objetivo do grupo é expandir o
potencial do DFID para promover atividades que beneficiem as populações carentes,
empreendendo análises da pobreza e planejando, promovendo e avaliando o impacto das
intervenções de redução da pobreza. O grupo atua tanto no âmbito conceitual, ao produzir
trabalhos de fundamentação e material de orientação, quanto na operacionalização de apoio
aos programas no país. Outra função é divulgar material de publicidade sobre a abordagem do
DFID para a redução da pobreza e atuar como contato com as redes externas, tais como a
Rede Informal DAC de Redução da Pobreza.

O Grupo Temático de Desenvolvimento Sustentável e o Grupo Temático de Redução da


Pobreza e da Exclusão Social têm em comum o compromisso de atuar de forma bem próxima,
proporcionado, antes de tudo, pela vinculação simultânea dos seus membros a ambos os
grupos. O Grupo Temático de Desenvolvimento Sustentável volta-se para o Grupo Temático de
Redução da Pobreza e da Exclusão Social quando necessita de orientação sobre as
abordagens gerais para a redução da pobreza e metodologias específicas para a compreensão
da pobreza, como, por exemplo, a avaliação participativa da pobreza. Ao mesmo tempo,
espera-se que o Grupo Temático da Pobreza possa aprender com as perspectivas e
abordagens de implementação utilizadas pelo Grupo Temático de Desenvolvimento
Sustentável.

Os meios de vida sustentáveis e as abordagens baseadas nos direitos


O White Paper de 1997 compromete o DFID a promover os direitos humanos pela política e
pela prática. As abordagens sobre atividades de desenvolvimento baseadas nos direitos
fundamentam-se na necessidade de promover e proteger os direitos humanos, que são os
direitos reconhecidos pela comunidade global e protegidos por instrumentos internacionais
legais. Os direitos humanos abrangem os direitos econômicos, socioculturais, civis e políticos,
todos interdependentes. Questões relativas à delegação de poderes, à participação e à
eliminação de qualquer forma de discriminação, como de raça, língua, gênero, religião, etc.,
são inerentes à abordagem baseada nos direitos.

As abordagens baseadas nos direitos e em meios de vida sustentáveis são perspectivas


complementares que têm vários objetivos em comum, como a delegação de poderes aos mais
vulneráveis e o aumento da capacidade das populações carentes de conseguir meios de vida
seguros. O principal foco da perspectiva dos direitos é o vínculo entre as instituições públicas e
a sociedade civil, principalmente no que diz respeito ao aumento da responsabilidade e
transparência das instituições públicas perante todos os cidadãos. A abordagem “meios de
vida” reconhece a importância desses vínculos e do papel que a transparência tem perante a
sociedade, embora sua base seja a necessidade de compreender os meios de vida das
populações carentes dentro do contexto geral. A partir dessa base, ela procura identificar as
limitações específicas que impedem a concretização dos direitos das pessoas e,
conseqüentemente, a melhoria dos meios de vida em uma base sustentável.

Parcerias
O White Paper enfatiza a importância das parcerias em todos os níveis e seu significado, na
prática, está sendo discutido. Espera-se que o diálogo em torno do desenvolvimento e da
implementação da abordagem meios de vida sustentáveis proporcione uma base para
parcerias mais plenas e significativas em prol das atividades de desenvolvimento. Na realidade,
isto já está acontecendo com as relações entre o DFID e outros doadores. A discussão ainda
não se estendeu o suficiente às organizações parceiras nos países em desenvolvimento.
Agora, esta é uma prioridade: o DFID só pode atuar de forma efetiva com parceiros com os
quais compartilhe objetivos e abordagens que visem ao desenvolvimento.

4
A adoção da abordagem meios de vida sustentáveis é uma forma de melhorar a identificação, o
acompanhamento, a implementação e a avaliação dos programas de desenvolvimento para que
se dirijam com mais eficácia às prioridades das populações carentes, tanto diretamente quanto
no âmbito das políticas. Assim, ela representa um instrumento para se alcançar o objetivo do
DFID de erradicação da pobreza.

1.3. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A abordagem meios de vida sustentáveis é necessariamente flexível quanto a sua aplicação,


sem comprometer seus princípios fundamentais. Este documento resume os princípios e
esclarece por que eles dão uma contribuição tão importante à abordagem.

Centrada na pessoa
A abordagem meios de vida sustentáveis coloca as pessoas no centro das atividades de
desenvolvimento. É importante que este foco nas pessoas se dê tanto no âmbito global (quando
se buscam objetivos como redução da pobreza, reforma econômica ou desenvolvimento
sustentável), quanto no âmbito mais específico da comunidade, onde já é uma realidade em
muitos casos.

Em termos práticos, isto significa que a abordagem:


• se inicia com uma análise dos meios de vida das pessoas e da forma como esses meios
mudaram no decorrer to tempo;
• envolve as pessoas por inteiro e respeita suas opiniões;
• centra-se no impacto que as diferentes políticas e dispositivos institucionais têm sobre as
pessoas e as famílias e sobre as dimensões da pobreza, conforme a definição das próprias
pessoas, e não nos recursos ou nos próprios resultados;
• enfatiza a importância de se exercer influência sobre essas políticas e disposições
institucionais para que promovam os interesses das populações carentes (um passo importante
é a participação das próprias populações carentes);
• atua de forma a apoiar as pessoas para que alcancem seus próprios objetivos quanto aos
seus meios de vida, embora leve em consideração questões de sustentabilidade (ver 1.4).

A redução sustentável da pobreza só será alcançada se o auxílio externo (isto é, o apoio de


fora da família) atuar com as pessoas de forma consistente, com suas próprias estratégias de
meios de vida, seus ambientes sociais e sua capacidade de adaptação.

As pessoas, e não os recursos que utilizam ou os governos que as servem, são a questão
central. A aceitação deste princípio pode manifestar-se, por exemplo, sob a forma de apoio à
gestão dos recursos ou ao bom governo. No entanto, a motivação básica de promover os
meios de vida das pessoas é o que deve determinar a forma do apoio e servir de base para a
avaliação do sucesso do programa.

Holística
A abordagem meios de vida procura identificar as principais limitações e oportunidades para as
pessoas, não importando a localização (isto é, em que setor, espaço ou nível geográfico, desde
o âmbito local até o internacional). Ela se desenvolve a partir das definições elaboradas pelas
próprias pessoas para essas limitações e oportunidades e, quando possível, ajuda as pessoas
a enfrentá-las ou a alcançá-las. O arcabouço da abordagem meios de vida ajuda a organizar os
vários fatores que limitam ou abrem oportunidades, além de definir a relação entre eles. Este
arcabouço não pretende ser um modelo perfeito de como é o mundo nem sugerir que os
próprios grupos de interesse devam, necessariamente, adotar uma abordagem sistêmica à
solução de problemas. Em vez disso, ele pretende oferecer um ponto de vista sobre os meios
de vida que sejam gerenciáveis e que ajudem a melhorar a eficácia das atividades de
desenvolvimento.

A abordagem meios de vida sustentáveis:

• é não-setorial e aplica-se a todas as áreas geográficas e grupos sociais;

5
• reconhece as múltiplas influências a que as pessoas estão sujeitas e procura compreender as
relações entre essas influências e o impacto que promovem, juntas, nos meios de vida;
• reconhece os múltiplos atores (do setor privado aos ministérios, das organizações
comunitárias aos órgãos governamentais descentralizados);
• reconhece as múltiplas estratégias de meios de vida que as pessoas adotam para garantir o
sustento;
• procura alcançar os múltiplos resultados dos meios de vida a serem negociados e
determinados pelas próprias pessoas.

Desta forma, ela busca obter uma compreensão realista dos aspectos que moldam os meios de
vida das pessoas e da forma como os diferentes fatores que os influenciam podem ser
ajustados para que, juntos, produzam os melhores resultados.

É provável que a unidade de análise da pesquisa dos meios de vida sustentáveis seja um
determinado grupo social. É importante não pressupor que as populações ou as próprias famílias
sejam homogêneas. As divisões sociais podem abranger aspectos como classe, casta, idade,
origem étnica, gênero, que só podem ser definidos e aceitos por um processo de repetidas
pesquisas participativas no âmbito da comunidade.

A palavra “múltiplo” é usada aqui porque ajuda a enfatizar não apenas que pessoas diferentes
adotam estratégias de meios de vida diferentes, mas também que elas têm objetivos diferentes
nas suas estratégias de meios de vida e podem, simultaneamente, empreender uma variedade
de atividades diferentes e ter metas diferentes. Alguns objetivos podem ser até mesmo
conflitantes e a maior parte deles muda com o tempo.

Dinâmica
Esta abordagem, assim como os meios de vida das pessoas e as instituições que os moldam, é
altamente dinâmica. Ela busca compreender e aprender a partir de mudanças, de modo a
apoiar os aspectos positivos das mudanças e ajudar a atenuar os negativos. Ela reconhece,
explicitamente, os efeitos dos impactos externos e das tendências sobre os meios de vida que,
apesar de previsíveis, não são necessariamente menos danosos. A busca pela compreensão e
concretização do dinamismo dos meios de vida aumenta significativamente a abrangência da
análise desses meios. Tal dinamismo exige uma pesquisa permanente e um empenho para
descobrir a natureza das complexas relações de causa e efeito, de mão dupla, além das
cadeias repetitivas de eventos.

O verdadeiro dinamismo dos meios de vida não pode ser adequadamente representado num
arcabouço bidimensional, mas pode refletir-se nos processos e nos métodos de análise. Esta é
uma área importante para monitoramento e aprendizado.

Evolução a partir dos pontos fortes


Um importante princípio desta abordagem é que ela começa com uma análise dos pontos
fortes e não das necessidades. Isto não significa que ela enfatize, indevidamente, os membros
da comunidade em melhor situação, mas que ela implique o reconhecimento do potencial
inerente a cada um, decorra ele das principais conexões sociais de uma pessoa (além do
acesso que ela tem aos recursos físicos e à infra-estrutura), da capacidade dela de influenciar
as principais instituições ou de qualquer outro fator que seja um potencial redutor de pobreza.
Para as atividades de desenvolvimento centradas nos meios de vida, um objetivo essencial
será a eliminação das limitações para realização do potencial, de modo que as pessoas
possam ser ajudadas a tornar-se mais fortes, mais decididas e mais capazes de alcançar seus
próprios objetivos.

Vínculos entre o contexto global e local


As atividades de desenvolvimento tendem a centrar-se ou no contexto amplo ou no local. Ao
destacar a importância das políticas e instituições de âmbito global para as opções de meios de
vida da comunidade e das pessoas, a abordagem meios de vida procura unir os dois aspectos.
Ela enfatiza também a necessidade de usar a experiência e as percepções obtidas nas
comunidades para desenvolver e planejar políticas em um âmbito mais global. Isto ocasionará
o interesse da comunidade nos aspectos políticos e aumentará a eficácia geral. No entanto,
esta é uma tarefa difícil. Grande parte das políticas de caráter mais global é elaborada
separadamente daqueles sobre os quais elas exercem efeito. Na verdade, a compreensão do
efeito das políticas sobre as pessoas (o que acontece na realidade, em oposição ao que se
presume acontecer) e das pessoas sobre as políticas (o processo de formulação política
6
propriamente dito) é muito limitada. Ambas as áreas precisam ser mais bem-compreendidas
para que se apreenda todo o valor da abordagem meios de vida.

Sustentabilidade
Embora seja comum ouvir e usar o termo abreviado “abordagem meios de vida” (isto é,
omitindo-se “sustentáveis”), a idéia de sustentabilidade é fundamental para esta abordagem.
Ela não deve ser ignorada ou deixada de lado. Seus diferentes aspectos são discutidos em
detalhe a seguir (1.4).

O isolamento das áreas rurais tem levado freqüentemente à subestimação do impacto que as
políticas e os eventos ocorridos na capital ou no âmbito internacional exercem sobre as pessoas
do meio rural. O foco das atividades de desenvolvimento rural tem permanecido bastante
limitado geograficamente.
1.4. A SUSTENTABILIDADE DOS MEIOS DE VIDA

O que é sustentabilidade?
A sustentabilidade tem muitas dimensões, todas elas importantes para a abordagem meios de
vida sustentáveis.
Os meios de vida são sustentáveis quando:
• resistem a crises e impactos externos;
• não são dependentes de apoio externo ou, caso sejam, tal apoio é econômica e institucionalmente
sustentável;
• preserva a produtividade dos recursos naturais a longo prazo; e
• não prejudica nem compromete as opções de meios de vida de outras pessoas.

Outra forma de conceituar as muitas dimensões da sustentabilidade é distinguir entre os


aspectos ambientais, econômicos, sociais e institucionais dos sistemas sustentáveis.
• A sustentabilidade ambiental é alcançada quando a produtividade dos recursos naturais
que sustentam a vida é preservada ou ampliada para uso pelas gerações futuras.
• A sustentabilidade econômica é alcançada quando um dado nível de gastos pode ser
mantido no decorrer do tempo. No contexto dos meios de vida das populações carentes, a
sustentabilidade é alcançada se um nível básico de bem-estar econômico for atingido ou
mantido. É provável que a base econômica seja específica a uma situação, embora possa ser
considerada em termos de gasto diário (ou “dólares por dia”, forma adotada pelas Metas
Internacionais de Desenvolvimento).
• A sustentabilidade social é alcançada quando a exclusão social é minimizada e a igualdade
social maximizada.
• A sustentabilidade institucional é alcançada quando as estruturas e os processos
preponderantes têm condições de continuar a desempenhar suas funções a longo prazo.

São raros os meios de vida que se enquadram como sustentáveis sob todos esses aspectos.
No entanto, a sustentabilidade é um objetivo essencial e sua busca deve estar presente em
todas as atividades de apoio do DFID. Dessa forma, os avanços na direção das metas de
sustentabilidade podem ser avaliados, ainda que a sustentabilidade “plena” jamais seja
alcançada.

Por que a sustentabilidade é importante?


A sustentabilidade é um aspecto importante para a qualificação do DFID porque ela denota que
os progressos na redução da pobreza são duradouros. Isto não significa que um determinado
recurso ou instituição deva sobreviver de forma imutável. Em vez disso, ela expressa um acúmulo
do capital de base ampla, que proporciona a melhoria dos meios de vida, principalmente para as
populações carentes.

Conflitos e escolhas
Para a abordagem meios de vida sustentáveis, é fundamental que se reconheçam as múltiplas
dimensões da sustentabilidade e os múltiplos objetivos dos meios de vida das pessoas. No
entanto, com a diversidade vêm os conflitos. São inevitáveis os conflitos dentre os resultados
dos meios de vida e entre as dimensões e os resultados da sustentabilidade. Seguem-se
alguns dos diferentes tipos de conflito que podem surgir:
• conflito entre a necessidade de maior segurança nos meios de vida, identificada na
comunidade, e as preocupações mais abrangentes com a sustentabilidade ambiental;

7
• conflito entre maximizar a produção e a renda a curto prazo e prevenir-se contra a
vulnerabilidade a impactos externos a longo prazo; e
• conflito entre alcançar um objetivo individual, familiar ou comunitário, relativo aos meios de
vida e a necessidade de não comprometer os meios de vida de outras pessoas.

A abordagem meios de vida sustentáveis não oferece soluções simplistas a esses desafios. O
que ela realmente faz é oferecer ao conflito uma abordagem que inclui um arcabouço, para assim
facilitar uma discussão coerente e estruturada a partir de diferentes perspectivas. Ao estimular as
pessoas da comunidade a enxergar os resultados dos meios de vida com mais abrangência, os
conflitos potenciais podem ser discutidos de forma mais clara. Pela associação da análise dos
meios de vida a um processo mais amplo de avaliação social, pode-se trazer questões “externas”
e eqüitativas ao centro da discussão. Este aspecto, no entanto, necessita ser mais bem-estu-
dado.

O pentágono de recursos que se encontra no cerne da análise dos meios de vida (ver 2.3)
estimula os usuários a pensar na possibilidade de os diferentes tipos de capital substituírem
uns aos outros. Isto é particularmente útil se considerarmos a possibilidade de o declínio na
qualidade ou disponibilidade do capital natural ser compensado por um aumento dos outros
tipos de capital, como, por exemplo, social ou financeiro.

• Algumas pessoas argumentam que a sustentabilidade é alcançada quando todos os estoques


de capital, qualquer que seja a combinação, se mantêm e acumulam. Esta metáfora apresenta
problemas de aplicação prática: por exemplo, certos tipos de capital não podem ser
prontamente medidos. Ao mesmo tempo, ela parece refletir a maneira como pensamos sobre o
nosso ambiente e a forma como manipulamos a tecnologia para compensar perdas dos
recursos naturais não-renováveis.
• Outras pessoas argumentam que um dado tipo de capital não pode ser substituído
imediatamente por outro. Este tipo de pensamento de “forte sustentabilidade” se reflete na Meta
Internacional de Desenvolvimento referente à sustentabilidade, a qual afirma que os recursos
naturais são extremamente importantes para uma variedade muito grande de meios de vida e
que o objetivo deve ser sua preservação absoluta, ou mesmo sua recuperação, dada a extensão
da degradação já sofrida.

Em todos os casos, a viabilidade e a possibilidade de se intercambiarem os tipos de capital


dependerá do tipo de meio ambiente onde as pessoas vivem, como, por exemplo, os tipos de
impacto e tendências que elas podem enfrentar, a confiabilidade dos mercados e instituições, etc.

Os sistemas sustentáveis, sejam eles famílias, comunidades ou economias nacionais, acumulam


estoques e recursos e aumentam a base de capital com o passar do tempo. Os sistemas
insustentáveis esgotam o capital, gastando os recursos como se fossem renda, deixando,
portanto, menos para as gerações vindouras.

Para que se alcance a sustentabilidade institucional, é importante que haja: leis bem-definidas,
processos participativos de formulação política, além de organizações públicas e privadas
eficazes, que criem uma estrutura dentro da qual os meios de vida das populações carentes
possam ser continuamente melhorados.

Um fator externo ocorre quando o comportamento de uma pessoa tem, automaticamente, um


efeito sobre outras pessoas. Isto é comum, por exemplo, quando o uso dos recursos naturais
tem um impacto significativo sobre a sustentabilidade dos sistemas como um todo.

Estratégias Nacionais de Desenvolvimento Sustentável (NSSD)


O White Paper de 1997 compromete o governo britânico a trabalhar tanto no âmbito
internacional, quanto com os países parceiros, para ajudar a desenvolver e implementar as
NSSDs. O acordo internacional de implementação das NSSDs até 2005 torna esta questão
uma prioridade imediata para o DFID.

Os principais aspectos do pensamento atual do DFID sobre a implementação das NSSDs são:
• as NSSDs devem basear-se no trabalho existente e não constituir documentos novos e
isolados;
• os objetivos da sustentabilidade ambiental e da redução da pobreza devem ser integrados à
política mais ampla de desenvolvimento e não constituir “adendos”;

8
• deve-se pensar em sua implementação não só no âmbito nacional, mas também no estadual,
municipal, local, etc.;
• a consulta e a participação devem ser equilibradas por uma análise sólida;
• ao mesmo tempo em que os doadores podem ajudar a coordenar, os governos e outros
grupos de interesse nos países devem apropriar-se dos processos de NSSD;
• é de vital importância desenvolver capacitação para o planejamento e a implementação das
NSSDs no âmbito local; e
• os custos ambientais devem ser incorporados a partir de um desenvolvimento de políticas
adequadas e estruturas de incentivo.

Há, claramente, uma grande correspondência entre as questões de sustentabilidade da


abordagem meios de vida sustentáveis e as NSSDs. Além disso, para serem eficazes, as
NSSDs devem basear-se numa ampla participação dos grupos de interesse e numa
abordagem estratégica e de longo prazo das atividades de desenvolvimento. Ambos os
aspectos são essenciais para o sucesso dessa abordagem.

Maximização dos aspectos positivos (em oposição à minimização dos negativos)


Tanto as abordagens das NSSDs, quanto a abordagem meios de vida sustentáveis, vão além
das noções tradicionais centradas nos aspectos ambientais (greening of aid), cuja tendência é
minimizar os impactos negativos das intervenções de desenvolvimento com o uso da avaliação
de impacto ambiental e de quadros de verificação. Tais metodologias são importantes, mas
limitadas. Em geral, são dispendiosas, raramente participativas, e tendem a enfatizar a situação
dos próprios recursos e não das pessoas e seus meios de vida. Por outro lado, a abordagem
meios de vida sustentáveis trata a sustentabilidade dos recursos como um aspecto integrante
da sustentabilidade multidimensional dos meios de vida e, em vez de procurar minimizar os
aspectos negativos, busca maximizar a contribuição positiva dos recursos naturais para os
meios de vida das pessoas.

A Meta Internacional de Desenvolvimento para a sustentabilidade ambiental e a regeneração


busca a “implementação de Estratégias Nacionais de Desenvolvimento Sustentável em todos os
países, até 2005, como uma forma de assegurar que as tendências atuais de perda de recursos
ambientais sejam efetivamente revertidas nos âmbitos global e nacional, até 2015”.

1.5. VÍNCULOS COM OUTRAS ABORDAGENS

A abordagem meios de vida sustentáveis inscreve-se num contexto operacional de atividades


de desenvolvimento já repleto de abordagens. A compreensão dos vínculos entre as diferentes
abordagens é fundamental, tanto para evitar confundi-las, quanto para melhorar o alcance da
cooperação com colegas e parceiros que venham de outras abordagens. A Seção 4 do
documento de orientação refere-se aos vínculos e pontos em comum no âmbito metodológico.
Esta parte do documento apresenta, de forma sucinta, os vínculos entre as amplas abordagens
das atividades de desenvolvimento, como, por exemplo, o desenvolvimento participativo, as
abordagens setoriais e o desenvolvimento rural integrado. Outros pontos em comum, como a
descentralização, a reforma do setor público e o desenvolvimento comunitário são abordados
em outras partes do documento.

Desenvolvimento participativo
A abordagem meios de vida só será eficaz se for dirigida de forma participativa, por pessoas
experientes em análise social e que tenham em comum o compromisso com a erradicação da
pobreza. A abordagem incorpora e se baseia em metodologias participativas já existentes (ver
Seção 4).
• Promove a realização dos objetivos das próprias pessoas com relação aos seus meios de
vida. Não estabelece, de antemão, quais são os objetivos; eles devem ser “determinados” com
base nas atividades participativas.
• Baseia-se nos pontos fortes das pessoas. Novamente, isto só é possível se forem usadas
metodologias participativas para se determinar quem tem acesso a determinado tipo de capital
e como tal acesso é afetado pelas circunstâncias institucionais, sociais e organizacionais.
• Busca compreender, a partir de uma análise participativa, os efeitos das políticas de âmbito
global sobre os meios de vida.
• Espera que os indicadores de impacto sejam negociados com a comunidade. Esta idéia de
“negociação” ultrapassa amplamente as idéias limitadas de participação como uma forma de
consulta.

9
Há vínculos particularmente fortes entre a abordagem meios de vida sustentáveis e as
Avaliações Participativas da Pobreza (PPAs). Estas têm sido desenvolvidas como um
instrumento que inclui a perspectiva das populações carentes na análise da pobreza e na
formulação de estratégias para enfrentá-la. No início, as PPAs destinavam-se a contribuir para
a preparação de um documento mais amplo, como, por exemplo, a PPA do Banco Mundial. A
tendência tem sido, de forma crescente, incluir as PPAs nos processos de formulação política e
de monitoramento do bem-estar, além de usá-las como uma forma de expandir a apropriação e
novas relações entre os vários atores do processo de formulação política.

Da mesma forma que as análises dos meios de vida, as PPAs baseiam-se nas tradições da
pesquisa e ação participativas. Ambas têm muitos aspectos em comum, como a ênfase na
vulnerabilidade aos impactos e tendências e nos vários tipos de recursos. Por isso, espera-se
que se complementem. No entanto, uma vez que os contextos são diferentes, não se pode
afirmar de forma definitiva quais são as conexões entre elas numa dada situação.

Abordagens setoriais
As abordagens setoriais e as abordagens meios de vida são amplamente complementares e
cada uma delas se beneficia dos pontos fortes da outra. As análises dos meios de vida dão
ênfase à compreensão das estruturas e dos processos que condicionam o acesso das pessoas
aos recursos e estratégias de meios de vida. Quando a principal limitação for o fraco
desempenho das agências de governo no âmbito setorial, programas de apoio setorial serão os
mais apropriados. Isto se aplica principalmente aos setores dominados pelo governo, tais como
saúde e educação.

Os próprios programas setoriais se beneficiarão caso estabeleçam suas bases na informação


coletada por intermédio da análise dos meios de vida. Isso ajudará as pessoas envolvidas a
perceber as interações entre os diferentes setores e a importância de se desenvolverem
vínculos intersetoriais para maximizar o impacto no âmbito familiar (o marco de desempenho).
Isto também estimulará as instituições do setor público a reconhecer os diferentes atores no
processo de desenvolvimento, pressionará o processo de planejamento setorial a estabelecer
um diálogo que ultrapasse o âmbito governamental, a inovar e a incorporar os melhores
procedimentos com base nas atividades do projeto.

A qualidade das PPAs é irregular. As pessoas que elaboraram uma análise mais profunda, em
geral, envolveram pesquisadores sociais experientes, com grande conhecimento do país ou área
pesquisada.
É importante não tratar o trabalho de capacitação nas agências do setor público como um fim em
si. Seu objetivo último deve ser contribuir para a erradicação da pobreza, criando uma prestação
de serviços mais eficaz, melhor gestão dos recursos, etc.

As abordagens baseadas em meios de vida sustentáveis e as decorrentes atividades de apoio


devem beneficiar-se das lições aprendidas e dos objetivos buscados nas abordagens setoriais,
que abrangem:
• a importância de se assegurar que os governos locais se apropriem das atividades de
desenvolvimento;
• a necessidade de basear todo o apoio nas melhores práticas dos princípios de gestão pública,
isto é, de não estender o papel do governo a atividades inadequadas ou enfatizar a importância
da capacitação em áreas como gestão financeira e orçamento; e
• a importância da coordenação entre os diferentes doadores e os passos para concretizá-la.

Desenvolvimento rural integrado


Uma das “críticas” que se fizeram, desde o início da abordagem meios de vida sustentáveis, é
que ela se parece muito com as abordagens do fracassado Desenvolvimento Rural Integrado
(IRD) do início dos anos 70. É fácil perceber de onde vem tal idéia, uma vez que ambas as
abordagens têm muitos pontos em comum. Entretanto, a abordagem meios de vida
sustentáveis se empenha em evoluir a partir dos pontos fortes do IRD, principalmente o
reconhecimento da necessidade de uma ampla base de apoio nas áreas rurais, evitando as
armadilhas que causaram o fracasso do IRD. Particularmente, a abordagem meios de vida não
pretende criar programas integrados na área rural. Ao mesmo tempo em que ela reconhece
que há muitos fatores envolvidos para a redução da pobreza na área rural, tal abordagem
também se centra em apenas alguns aspectos fundamentais, auxiliada por uma análise

10
abrangente dos meios de vida existentes e por um planejamento de baixo para cima, de modo
que as atividades continuem administráveis. A abordagem meios de vida também leva em
consideração aspectos de âmbito global e fatores institucionais que constituem limitações
importantes. O IRD, por sua vez, era forçado a funcionar dentro de um contexto institucional e
macroeconômico hostil, dominado e freqüentemente distorcido pelo governo.

11
O quadro 1 justapõe as duas abordagens e aponta algumas das principais diferenças.

QUADRO 1

Desenvolvimento Rural Meios de Vida Sustentáveis


Integrado (anos 70) (fim dos anos 90)
Pontos de partida Estruturas, áreas Pessoas e seus pontos fortes e
fracos
Concepções de pobreza Holística, multidimensional Multidimensional, complexa,
Recomenda uniformidade (uma local
simplificação operacional) Abrange os conceitos de risco e
variabilidade
Análise do problema Realizada por unidades de Processo inclusivo, repetitivo e
planejamento em períodos aberto
curtos, tomada como conclusiva
Abrangência setorial Multissetorial, plano único Multissetorial, muitos âmbitos
Envolvimento setorial Pequeno número de pontos de
estabelecido no início entrada
Envolvimento setorial evolui
com o projeto
Âmbito operacional Local, baseado na área Âmbito político e local, vínculos
claros entre ambos
Organização parceira Governo nacional e local Governo local e nacional,
ONGs, organizações da
sociedade civil, setor privado
Estrutura de gestão do Unidade exclusiva de gestão de Projeto dentro da organização
projeto projeto, fora do governo parceira
Coordenação (entre setores) Execução integrada Direcionada por objetivos comuns,
(direcionada pelo doador) beneficia-se da coordenação
escolhida pelos participantes
Sustentabilidade Não é levada em conta Múltiplas dimensões
explicitamente Questão central
O capítulo 1 contém uma versão mais completa do Quadro 1 de Sustainable rural livelihoods: What contribution can we
make? Documentos apresentados na Conferência dos Consultores para Recursos Naturais do DFID, em julho de 1998.

NOTA DE ENCERRAMENTO: Este documento destina-se a estimular a reflexão e o aprendizado. Os leitores


estão convidados a enviar seus comentários e contribuições para: livelihoods-connect@ids.ac.uk

12
© DFID 1999

13

Você também pode gostar