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Capítulo 1: INTRODUÇÃO
1.1. VISÃO GERAL
Este arcabouço não pretende fornecer uma representação exata da realidade. No entanto, ele
tenta fornecer um ponto de vista sobre os meios de vida das populações carentes, com o
objetivo de estimular o debate e a reflexão e aumentar, assim, o nível de sucesso dos
programas de redução da pobreza. De forma simplificada, o arcabouço enxerga as pessoas
como agentes em um contexto de vulnerabilidade. Dentro deste contexto, elas têm acesso a
certos recursos ou fatores de redução da pobreza. É o ambiente organizacional, institucional e
social que determina o significado e o valor de tais recursos. Tal ambiente também influencia
as estratégias de meios de vida – as formas de combinar e utilizar os recursos –, das quais as
pessoas podem lançar mão para alcançar resultados positivos para o próprio sustento e para
atingir seus próprios objetivos.
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Figura 1. Arcabouço para a abordagem “meios de vida sustentáveis”
Recursos de meios
de vida
Humano
Processos e Resultados
Contexto de Estratégias de dos meios
vulnerabilidade Social Natural estruturas em meios de vida
transformação de vida
Físico Financeiro
O processo de consulta e cooperação tem sido muito produtivo. Este manual foi elaborado em
real parceria; ele tenta captar o pensamento além das fronteiras do DFID. No entanto, até o
momento, os parceiros do DFID nos países em desenvolvimento – os formuladores de
políticas, líderes e clientes – não foram adequadamente envolvidos e suas opiniões foram
obtidas somente de forma indireta. Este documento pode, portanto, ser considerado como um
ponto de partida para que o pessoal do DFID e outros comecem a explorar e a expandir as
novas idéias com as organizações parceiras.
Produtos e recursos
Outros produtos do processo de pesquisa abrangem:
• um livro contendo os trabalhos editados e apresentados na Conferência dos Consultores para
Recursos Naturais do DFID, em 1998: Meios de vida rurais sustentáveis: como podemos
contribuir? A publicação pode ser obtida com Marnie Durnford (m-durnford@dfid.gov.uk);
• o Centro de Recursos Virtuais em Meios de Vida Sustentáveis, criado para apoiar o DFID no
aprendizado e implementação da abordagem meios de vida sustentáveis. Este centro,
administrado na sede do DFID, reúne uma grande variedade de recursos de pesquisa que
auxiliam o DFID. O e-mail de contato é livelihoods@dfid.gov.uk;
• o Grupo Temático de Meios de Vida Sustentáveis, que consiste em uma equipe do DFID
encarregada de aumentar a eficácia do DFID na promoção dos meios de vida sustentáveis. O
Centro de Recursos Virtuais está conectado ao grupo temático via administração no DFID;
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• o estabelecimento de relações de trabalho produtivas com vários outros parceiros envolvidos
com atividades de desenvolvimento (dentre eles, várias ONGs, o Pnud e o Banco Mundial).
A idéia de meios de vida teve origem no trabalho de Robert Chambers, em meados dos anos
80, e evoluiu com Chambers, Conway e outros, no início da década de 90. Desde então, muitos
órgãos de desenvolvimento têm adotado os conceitos de meios de vida e procurado
implementá-los. Para o DFID, no entanto, a abordagem meios de vida sustentáveis representa
um novo enfoque político e prático.
e assim contribuir para a criação de condições sociais, físicas e institucionais que apóiem a
erradicação da pobreza.
Embora a abordagem meios de vida sustentáveis pareça centrar-se no objetivo (i), sua
interpretação subentende os outros objetivos. Ela reconhece explicitamente a importância do
bem-estar físico, da educação e da situação do meio ambiente natural, entre outros fatores,
para as populações carentes e a sustentabilidade dos meios de vida.
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de vida sustentáveis. A análise exigida nesta abordagem ajuda a melhorar o direcionamento
desse apoio e torna clara a conexão entre as diferentes atividades empreendidas pelo DFID e
parceria. O resultado é uma contribuição mais efetiva para a erradicação da pobreza.
Parcerias
O White Paper enfatiza a importância das parcerias em todos os níveis e seu significado, na
prática, está sendo discutido. Espera-se que o diálogo em torno do desenvolvimento e da
implementação da abordagem meios de vida sustentáveis proporcione uma base para
parcerias mais plenas e significativas em prol das atividades de desenvolvimento. Na realidade,
isto já está acontecendo com as relações entre o DFID e outros doadores. A discussão ainda
não se estendeu o suficiente às organizações parceiras nos países em desenvolvimento.
Agora, esta é uma prioridade: o DFID só pode atuar de forma efetiva com parceiros com os
quais compartilhe objetivos e abordagens que visem ao desenvolvimento.
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A adoção da abordagem meios de vida sustentáveis é uma forma de melhorar a identificação, o
acompanhamento, a implementação e a avaliação dos programas de desenvolvimento para que
se dirijam com mais eficácia às prioridades das populações carentes, tanto diretamente quanto
no âmbito das políticas. Assim, ela representa um instrumento para se alcançar o objetivo do
DFID de erradicação da pobreza.
Centrada na pessoa
A abordagem meios de vida sustentáveis coloca as pessoas no centro das atividades de
desenvolvimento. É importante que este foco nas pessoas se dê tanto no âmbito global (quando
se buscam objetivos como redução da pobreza, reforma econômica ou desenvolvimento
sustentável), quanto no âmbito mais específico da comunidade, onde já é uma realidade em
muitos casos.
As pessoas, e não os recursos que utilizam ou os governos que as servem, são a questão
central. A aceitação deste princípio pode manifestar-se, por exemplo, sob a forma de apoio à
gestão dos recursos ou ao bom governo. No entanto, a motivação básica de promover os
meios de vida das pessoas é o que deve determinar a forma do apoio e servir de base para a
avaliação do sucesso do programa.
Holística
A abordagem meios de vida procura identificar as principais limitações e oportunidades para as
pessoas, não importando a localização (isto é, em que setor, espaço ou nível geográfico, desde
o âmbito local até o internacional). Ela se desenvolve a partir das definições elaboradas pelas
próprias pessoas para essas limitações e oportunidades e, quando possível, ajuda as pessoas
a enfrentá-las ou a alcançá-las. O arcabouço da abordagem meios de vida ajuda a organizar os
vários fatores que limitam ou abrem oportunidades, além de definir a relação entre eles. Este
arcabouço não pretende ser um modelo perfeito de como é o mundo nem sugerir que os
próprios grupos de interesse devam, necessariamente, adotar uma abordagem sistêmica à
solução de problemas. Em vez disso, ele pretende oferecer um ponto de vista sobre os meios
de vida que sejam gerenciáveis e que ajudem a melhorar a eficácia das atividades de
desenvolvimento.
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• reconhece as múltiplas influências a que as pessoas estão sujeitas e procura compreender as
relações entre essas influências e o impacto que promovem, juntas, nos meios de vida;
• reconhece os múltiplos atores (do setor privado aos ministérios, das organizações
comunitárias aos órgãos governamentais descentralizados);
• reconhece as múltiplas estratégias de meios de vida que as pessoas adotam para garantir o
sustento;
• procura alcançar os múltiplos resultados dos meios de vida a serem negociados e
determinados pelas próprias pessoas.
Desta forma, ela busca obter uma compreensão realista dos aspectos que moldam os meios de
vida das pessoas e da forma como os diferentes fatores que os influenciam podem ser
ajustados para que, juntos, produzam os melhores resultados.
É provável que a unidade de análise da pesquisa dos meios de vida sustentáveis seja um
determinado grupo social. É importante não pressupor que as populações ou as próprias famílias
sejam homogêneas. As divisões sociais podem abranger aspectos como classe, casta, idade,
origem étnica, gênero, que só podem ser definidos e aceitos por um processo de repetidas
pesquisas participativas no âmbito da comunidade.
A palavra “múltiplo” é usada aqui porque ajuda a enfatizar não apenas que pessoas diferentes
adotam estratégias de meios de vida diferentes, mas também que elas têm objetivos diferentes
nas suas estratégias de meios de vida e podem, simultaneamente, empreender uma variedade
de atividades diferentes e ter metas diferentes. Alguns objetivos podem ser até mesmo
conflitantes e a maior parte deles muda com o tempo.
Dinâmica
Esta abordagem, assim como os meios de vida das pessoas e as instituições que os moldam, é
altamente dinâmica. Ela busca compreender e aprender a partir de mudanças, de modo a
apoiar os aspectos positivos das mudanças e ajudar a atenuar os negativos. Ela reconhece,
explicitamente, os efeitos dos impactos externos e das tendências sobre os meios de vida que,
apesar de previsíveis, não são necessariamente menos danosos. A busca pela compreensão e
concretização do dinamismo dos meios de vida aumenta significativamente a abrangência da
análise desses meios. Tal dinamismo exige uma pesquisa permanente e um empenho para
descobrir a natureza das complexas relações de causa e efeito, de mão dupla, além das
cadeias repetitivas de eventos.
O verdadeiro dinamismo dos meios de vida não pode ser adequadamente representado num
arcabouço bidimensional, mas pode refletir-se nos processos e nos métodos de análise. Esta é
uma área importante para monitoramento e aprendizado.
Sustentabilidade
Embora seja comum ouvir e usar o termo abreviado “abordagem meios de vida” (isto é,
omitindo-se “sustentáveis”), a idéia de sustentabilidade é fundamental para esta abordagem.
Ela não deve ser ignorada ou deixada de lado. Seus diferentes aspectos são discutidos em
detalhe a seguir (1.4).
O isolamento das áreas rurais tem levado freqüentemente à subestimação do impacto que as
políticas e os eventos ocorridos na capital ou no âmbito internacional exercem sobre as pessoas
do meio rural. O foco das atividades de desenvolvimento rural tem permanecido bastante
limitado geograficamente.
1.4. A SUSTENTABILIDADE DOS MEIOS DE VIDA
O que é sustentabilidade?
A sustentabilidade tem muitas dimensões, todas elas importantes para a abordagem meios de
vida sustentáveis.
Os meios de vida são sustentáveis quando:
• resistem a crises e impactos externos;
• não são dependentes de apoio externo ou, caso sejam, tal apoio é econômica e institucionalmente
sustentável;
• preserva a produtividade dos recursos naturais a longo prazo; e
• não prejudica nem compromete as opções de meios de vida de outras pessoas.
São raros os meios de vida que se enquadram como sustentáveis sob todos esses aspectos.
No entanto, a sustentabilidade é um objetivo essencial e sua busca deve estar presente em
todas as atividades de apoio do DFID. Dessa forma, os avanços na direção das metas de
sustentabilidade podem ser avaliados, ainda que a sustentabilidade “plena” jamais seja
alcançada.
Conflitos e escolhas
Para a abordagem meios de vida sustentáveis, é fundamental que se reconheçam as múltiplas
dimensões da sustentabilidade e os múltiplos objetivos dos meios de vida das pessoas. No
entanto, com a diversidade vêm os conflitos. São inevitáveis os conflitos dentre os resultados
dos meios de vida e entre as dimensões e os resultados da sustentabilidade. Seguem-se
alguns dos diferentes tipos de conflito que podem surgir:
• conflito entre a necessidade de maior segurança nos meios de vida, identificada na
comunidade, e as preocupações mais abrangentes com a sustentabilidade ambiental;
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• conflito entre maximizar a produção e a renda a curto prazo e prevenir-se contra a
vulnerabilidade a impactos externos a longo prazo; e
• conflito entre alcançar um objetivo individual, familiar ou comunitário, relativo aos meios de
vida e a necessidade de não comprometer os meios de vida de outras pessoas.
A abordagem meios de vida sustentáveis não oferece soluções simplistas a esses desafios. O
que ela realmente faz é oferecer ao conflito uma abordagem que inclui um arcabouço, para assim
facilitar uma discussão coerente e estruturada a partir de diferentes perspectivas. Ao estimular as
pessoas da comunidade a enxergar os resultados dos meios de vida com mais abrangência, os
conflitos potenciais podem ser discutidos de forma mais clara. Pela associação da análise dos
meios de vida a um processo mais amplo de avaliação social, pode-se trazer questões “externas”
e eqüitativas ao centro da discussão. Este aspecto, no entanto, necessita ser mais bem-estu-
dado.
O pentágono de recursos que se encontra no cerne da análise dos meios de vida (ver 2.3)
estimula os usuários a pensar na possibilidade de os diferentes tipos de capital substituírem
uns aos outros. Isto é particularmente útil se considerarmos a possibilidade de o declínio na
qualidade ou disponibilidade do capital natural ser compensado por um aumento dos outros
tipos de capital, como, por exemplo, social ou financeiro.
Para que se alcance a sustentabilidade institucional, é importante que haja: leis bem-definidas,
processos participativos de formulação política, além de organizações públicas e privadas
eficazes, que criem uma estrutura dentro da qual os meios de vida das populações carentes
possam ser continuamente melhorados.
Os principais aspectos do pensamento atual do DFID sobre a implementação das NSSDs são:
• as NSSDs devem basear-se no trabalho existente e não constituir documentos novos e
isolados;
• os objetivos da sustentabilidade ambiental e da redução da pobreza devem ser integrados à
política mais ampla de desenvolvimento e não constituir “adendos”;
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• deve-se pensar em sua implementação não só no âmbito nacional, mas também no estadual,
municipal, local, etc.;
• a consulta e a participação devem ser equilibradas por uma análise sólida;
• ao mesmo tempo em que os doadores podem ajudar a coordenar, os governos e outros
grupos de interesse nos países devem apropriar-se dos processos de NSSD;
• é de vital importância desenvolver capacitação para o planejamento e a implementação das
NSSDs no âmbito local; e
• os custos ambientais devem ser incorporados a partir de um desenvolvimento de políticas
adequadas e estruturas de incentivo.
Desenvolvimento participativo
A abordagem meios de vida só será eficaz se for dirigida de forma participativa, por pessoas
experientes em análise social e que tenham em comum o compromisso com a erradicação da
pobreza. A abordagem incorpora e se baseia em metodologias participativas já existentes (ver
Seção 4).
• Promove a realização dos objetivos das próprias pessoas com relação aos seus meios de
vida. Não estabelece, de antemão, quais são os objetivos; eles devem ser “determinados” com
base nas atividades participativas.
• Baseia-se nos pontos fortes das pessoas. Novamente, isto só é possível se forem usadas
metodologias participativas para se determinar quem tem acesso a determinado tipo de capital
e como tal acesso é afetado pelas circunstâncias institucionais, sociais e organizacionais.
• Busca compreender, a partir de uma análise participativa, os efeitos das políticas de âmbito
global sobre os meios de vida.
• Espera que os indicadores de impacto sejam negociados com a comunidade. Esta idéia de
“negociação” ultrapassa amplamente as idéias limitadas de participação como uma forma de
consulta.
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Há vínculos particularmente fortes entre a abordagem meios de vida sustentáveis e as
Avaliações Participativas da Pobreza (PPAs). Estas têm sido desenvolvidas como um
instrumento que inclui a perspectiva das populações carentes na análise da pobreza e na
formulação de estratégias para enfrentá-la. No início, as PPAs destinavam-se a contribuir para
a preparação de um documento mais amplo, como, por exemplo, a PPA do Banco Mundial. A
tendência tem sido, de forma crescente, incluir as PPAs nos processos de formulação política e
de monitoramento do bem-estar, além de usá-las como uma forma de expandir a apropriação e
novas relações entre os vários atores do processo de formulação política.
Da mesma forma que as análises dos meios de vida, as PPAs baseiam-se nas tradições da
pesquisa e ação participativas. Ambas têm muitos aspectos em comum, como a ênfase na
vulnerabilidade aos impactos e tendências e nos vários tipos de recursos. Por isso, espera-se
que se complementem. No entanto, uma vez que os contextos são diferentes, não se pode
afirmar de forma definitiva quais são as conexões entre elas numa dada situação.
Abordagens setoriais
As abordagens setoriais e as abordagens meios de vida são amplamente complementares e
cada uma delas se beneficia dos pontos fortes da outra. As análises dos meios de vida dão
ênfase à compreensão das estruturas e dos processos que condicionam o acesso das pessoas
aos recursos e estratégias de meios de vida. Quando a principal limitação for o fraco
desempenho das agências de governo no âmbito setorial, programas de apoio setorial serão os
mais apropriados. Isto se aplica principalmente aos setores dominados pelo governo, tais como
saúde e educação.
A qualidade das PPAs é irregular. As pessoas que elaboraram uma análise mais profunda, em
geral, envolveram pesquisadores sociais experientes, com grande conhecimento do país ou área
pesquisada.
É importante não tratar o trabalho de capacitação nas agências do setor público como um fim em
si. Seu objetivo último deve ser contribuir para a erradicação da pobreza, criando uma prestação
de serviços mais eficaz, melhor gestão dos recursos, etc.
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abrangente dos meios de vida existentes e por um planejamento de baixo para cima, de modo
que as atividades continuem administráveis. A abordagem meios de vida também leva em
consideração aspectos de âmbito global e fatores institucionais que constituem limitações
importantes. O IRD, por sua vez, era forçado a funcionar dentro de um contexto institucional e
macroeconômico hostil, dominado e freqüentemente distorcido pelo governo.
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O quadro 1 justapõe as duas abordagens e aponta algumas das principais diferenças.
QUADRO 1
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© DFID 1999
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