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ROTEIRO DE AULA
Terminologia
Há tempos ocorrem tentativas de nomear as possibilidades nosológicas que não
se enquadram entre os neuróticos e os psicóticos.
O borderline também é considerado como: (limítrofes, fronteiriços, casos-limite,
estados limites).
É importante ficar claro que não há consenso entre os diferentes autores sobre o
que é o paciente borderline. Nessa aula serão trabalhados alguns aspectos que o
professor considera serem os mais significativos sobre o paciente borderline.
A rigor, borderline é utilizado para descrever os casos que estão situados na
fronteira, no limite entre a neurose e a psicose.
Esse tipo de paciente é cada vez mais frequente em nossa clinica da atualidade.
A cultura contemporânea esfacela as tradições e diminui a importância dos
vínculos. É a cultura do ter e não do ser.
A quebra dos valores tradicionais, ruptura da família, o aumento da
competitividade, do individualismo; As relações se tornaram mais instáveis, a
angústia aumenta.
A solidez do casamento, da religião, da honra, da honestidade diminui e a
sensação de desproteção aumenta.
O ponto central das patologias atuais não é a angústia de castração e os desejos
reprimidos, mas a angústia de separação. A consequência é a perda de sentido,
medo de abandono, crise de identidade. A própria existência parece não estar
assegurada.
E isso tudo é mais intenso para o paciente borderline.
O border se inscreve dentro da pós- modernidade.
A sociedade moderna tenta preencher o vazio da ausência de vínculos pelo
consumismo: roupa da moda, carros, celulares.
Mas o vazio não pode ser preenchido pelo que vem de fora.
Existem mães que conseguem se preocupar com o tamanho da sua barriga logo
após o nascimento do seu filho.
O que vai ser dessa criança?
No mundo de hoje o individuo esta só.
Angustia de separação.
Devido a esta angústia, o borderline faz grandes esforços para evitar o abandono.
Pode se considerar que a preocupação materna primaria falhou com o paciente
borderline.
A mente humane é construída a partir da mente do outro, de inicio a mãe. A
falha nesta construção gera desconfiança e medo dos objetos, e forte angústia de
separação; pois a primeira separação não foi vivenciada como um
desenvolvimento, mas como abandono.
O borderline sofreu uma ruptura antes da constituição do self. Ela foi traumática
e o deixou incompleto. Com uma sensação de incompletude, que será buscada
no outro.
Este paciente se sente traído e desvalorizado por muito pouco.
Um atraso do analista pode ser vivido como abandono. Pode sentir-se muito
ofendido se perceber que o analista está cansado por exemplo.
Identidade.
O paciente borderline não conseguiu constituir sua subjetividade, pois não teve
possibilidade de experimentar o holding.
Por isso que o borderline não consegue ficar sozinho, ele se sente inteiro apenas
a partir do contato com o outro.
Nisto se confunde com o outro e tem dificuldade de saber o que pertence a si e o
que pertence ao outro.
Relaciona-se com figuras idealizadas e cobra-se também de forma ideal, tendo
dificuldade de se apropriar de suas verdadeiras qualidades.
Baixa autoestima.
Para compensar o sentimento de vazio intenso, o borderline quer ser reconhecido
e famoso. Como não obtém isso imediatamente, tende a abandonar as atividades.
Como sua subjetividade não foi constituída, a tendência é não ver sentido em
sua vida, ter dificuldade em traçar objetivos. Daí sentir um vazio constante.
Este paciente não sabe o que quer. Não reconhece seus próprios desejos.
Este paciente tem dificuldade de lidar com as frustrações. Seu objetivo já é
frágil, e quando se soma a dificuldade de lidar com frustrações, fica muito fácil
para eles desistirem dos seus objetivos, abandonando atividades quase sempre
pela metade.
A clivagem
Agressividade.
O borderline e a Psicose
A clínica do Borderline.
A questão central é a construção de um self que não foi ainda constituído, e não
o alivio de repressões. Reconstrução do mundo interno.
Este paciente precisa de apoio, devido a sua angustia de separação. Precisa
começar “tudo de novo”.
Deve-se sustentar o paciente. O analista não resiste, consente. Não da origem a
muito atrito. Interpreta pouco, mais tolera e compreende.
Ser mais tolerante com faltas, atrasos, solicitações para atender em horários
alternativos.
Permitir um espaço de regressão.
Não se deve interpretar conflitos e tomar muito cuidado para não apontar de
forma muito intensa um problema ou defeito do paciente.
O analista tem que ter grande capacidade de ser contrariado.
Tem receio de ser invadido pelas ideias do analista.
Qualquer falha pode ser reconhecida como ataque.
Em geral são necessários muitos anos de analise.
Não suporta a angústia no plano psíquico, daí a impulsividade. As atuações
dentro e fora do consultório são frequentes.
Querer curar o paciente as pressas fará com que se senta invadido.
É um momento sutil de holding onde limites e interpretação, são colocados
muito lentamente. Ou seja, o apoio excessivo é invasivo, sentido como controle.
O border é pretensioso e inseguro. Precisa alcançar o ápice logo no inicio da
tarefa, devido as suas enormes exigências e sentimento de inferioridade.
É comum o analista ser idealizado por longo tempo.
Sente-se diminuído e por isso é difícil escutar o outro. A humildade do analista e
a paciência são fundamentais.
O trabalho tende a se confundir com um luto, trabalho de separação-
individuação. No setting prevalece o holding e não a rigidez.
A agressividade do border não é contra o outro ou com o intuito de prejudicar; é
uma necessidade de defesa obrigatória para a sobrevivência, que repousa numa
enorme angústia e ameaça de abandono e humilhação.
O analista deve entender que sua agressividade vem do medo e do desamparo, e
sobreviver a ela.
Isso vai fazendo com que o border construa uma capacidade de integrar o bem e
o mal.
Para lidar bem com o paciente borderline, o terapeuta tem que ter uma grande
capacidade de ser contrariado.
Ele precisa tanto ser escutado e amado, que cansa as pessoas á sua volta. Acaba
afastando as pessoas por sua necessidade exclusiva de amor.
Esses pacientes exigem muito do analista.
É difícil realizar um trabalho com estes pacientes respeitando as regras clássicas
de um enquadre psicanalítico.
É quase impossível utilizar o divã.
Deve-se avaliar a necessidade de medicação.
É difícil obter resultados com apenas uma consulta semanal.
Demanda muito do outro e se acha especial.
A medicação tem efeitos inconsistentes com esses pacientes.
O prognostico é sombrio e o índice de desistência é altíssimo, dentro do
primeiro ano de tratamento.
O border não consegue estar só.
O tratamento do paciente borderline vai girar em torno da angustia de separação.
De início o terapeuta tem que estar apenas presente, sem grandes interpretações.
Em estreita relação com a angustia de separação temos o medo da dependência.
Acompanha de perto, também, o medo de ser invadido.