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COPA DO MUNDO

Preconceito de Gênero

São Paulo
2014
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COPA DO MUNDO
Preconceito de Gênero

São Paulo
2014

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Sumário

Introdução 4

Japão 5

Itália 8

Argélia 10

Conclusão 14

Fontes Bibliográficas 15

Anexos 16

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Introdução

O trabalho a seguir refere-se ao preconceito de gêneros referente aos países


participantes da copa do mundo. Apresentaremos sobre o Japão, a Itália e a
Argélia. Mostrando as desigualdades, e preconceitos referente as mulheres em
cada um desses países, e apresentando como a mulher é vista em cada um
deles.

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Japão

Contra-ataque das gueixas


Anexo 1: Japonesas num impasse: com dinheiro para ir às compras, mas ainda
precisando de vagão exclusivo no metrô para evitar assédio

Anexo 2: A chanceler Makiko Tanaka: herdeira de um cacique político, ela foi


alvo de comentários debochados na televisão.

O Japão é a segunda economia do mundo e um dos países mais modernos do


planeta. Porém, quando o assunto são os direitos femininos, os japoneses
continuam vivendo no passado, com mulheres submissas e oprimidas por uma
sociedade na qual predominam os valores masculinos. Com algumas décadas
de atraso em relação aos demais países industrializados, essa situação
começa a mudar, a duras penas. É o caso do assédio sexual, um termo novo
no Japão. Dez anos atrás, ninguém sabia do que se tratava – ou não se
importava, pois era inconcebível que uma mulher se queixasse de avanços
sexuais indevidos. Até hoje o delito ainda não tem penas claras para os
acusados, que dificilmente são condenados. O bom sinal é que mais de 100
processos tramitaram na Justiça na última década. Há um caso exemplar,
relatado pelo jornal The New York Times, que ajuda a entender por que poucas
japonesas se arriscam a recorrer à Justiça.

Maeko Tanaka, pseudônimo escolhido por uma jovem de 21 anos que prefere
manter-se no anonimato, passou por uma sessão de terror dentro de um
automóvel, diante de vários colegas de trabalho. Durante trinta minutos, ela foi
apalpada pelo governador da província de Osaka, Knock Yokoyama, para
quem trabalhava como estagiária. Para levar o caso aos tribunais, ela precisou
enfrentar o preconceito dentro da própria casa. Por considerar a atitude indigna
de uma mulher, seu pai deixou de falar com ela, o namorado a abandonou,
assim como a maioria dos amigos. Em dezembro do ano passado, veio a
recompensa. Yokoyama renunciou ao cargo e foi condenado a pagar 100.000
dólares a Maeko. A primeira a conseguir a façanha de condenar um homem
num tribunal foi a jornalista Mayumi Hareno, que processou por difamação o
editor da revista em que trabalhava, há dez anos. "No Japão, a mulher é
sempre culpada", disse Hareno.

Os processos não chegaram a provocar uma revolução de costumes. Mas,


pelo menos, o assunto está deixando de ser tabu. O Parlamento finalmente
aprovou uma lei que proíbe a discriminação sexual, em 1999. No metrô de
Tóquio, cartazes divulgam uma campanha contra o assédio sexual e alertam
que os molestadores podem ser processados pelas vítimas. O hábito de bolinar
as passageiras era tão comum que, no início do ano, a direção do metrô
reservou alguns vagões exclusivamente para mulheres. O moderninho
primeiro-ministro Junichiro Koizumi, muito popular entre o público feminino e os
jovens em geral, colocou cinco mulheres – um recorde – em seu gabinete de
dezessete ministros. Mesmo que algumas delas tenham chegado pela força do
sobrenome – a chanceler Makiko Tanaka é filha de um primeiro-ministro que
governou o país nos anos 70 –, é um índice considerável em um país onde
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apenas 7% do Parlamento é constituído por mulheres, metade da
representatividade nos Estados Unidos, mas um pouco mais que os 5% do
Brasil.

As reações tradicionalistas às transformações são enormes. O prefeito de


Tóquio, Shintaro Ishihara, em um programa de TV, disse que o temperamento
explosivo da chanceler Makiko, descrita como "um cavalo indomável" pelo
próprio pai, "é conseqüência da menopausa". Em outro país causaria
constrangimento ao prefeito e uma gritaria geral das feministas. No Japão
desencadeou um debate debochado sobre a menopausa da chanceler.
Feminismo, aliás, é palavra pejorativa por lá. "No Japão há um conceito rígido
de que o homem deve sair para o trabalho enquanto a mulher cuida da casa e
dos filhos. Essa mentalidade é muito difícil de mudar", disse a VEJA Tamae
Onishi, que chefia a Secretaria de Igualdade de Gêneros, órgão criado pelo
governo há sete anos.

As japonesas só tiveram direito a voto depois da II Guerra, quando os


americanos impuseram valores democráticos ao país. Há coisas que nunca
mudaram. Por razões protocolares, a princesa Masako, mulher do príncipe
herdeiro, Naruhito, que estudou em Harvard, é uma das poucas que ainda
observam a antiga tradição de andar respeitosamente dois passos atrás do
marido. O velho costume só é observado em comunidades distantes. Os
japoneses esperam que as mulheres façam o trabalho doméstico, cuidem dos
filhos, cozinhem e, se for o caso, tomem conta dos sogros. Tentando escapar
desse destino, muitas jovens estão fugindo do altar. Uma pesquisa do
Ministério da Saúde, do Trabalho e do Bem-Estar mostrou que metade das
japonesas adia o casamento até os 29 anos. Tornou-se comum que o primeiro
filho nasça depois dos 35 anos, uma clara opção pela carreira profissional. Faz
parte da tradição japonesa que as esposas controlem o orçamento familiar,
cabendo ao homem apenas trabalhar para gerar renda. Nas grandes áreas
urbanas, além de fazerem de tudo em casa, as japonesas também estão
saindo para trabalhar. Com dinheiro e ótima disposição para o consumo, as
jovens japonesas estão cada vez mais distantes do perfil submisso de suas
mães e avós. De acordo com números oficiais, 40% do total da força de
trabalho já é feminino, número similar ao do Brasil. O senão: elas seguem
ocupando apenas 0,1% dos cargos de direção administrativa e, mesmo assim,
em empregos burocráticos.

A volta da segunda esposa


As concubinas eram um símbolo de riqueza e posição social na China imperial.
Vários filmes chineses que fizeram sucesso no exterior nos anos 90, como
Lanternas Vermelhas e Adeus Minha Concubina, buscaram inspiração nessas
personagens típicas. Os comunistas que tomaram o poder há mais de
cinqüenta anos decretaram que manter er nai (segundas esposas, em chinês)
constituía um vício burguês decadente – mas nunca chegaram a proibir. Mao
Tsé-tung, o comandante da revolução vermelha, vivia cercado de amantes.
Pois agora, após duas décadas de abertura e prosperidade econômica, o
concubinato está novamente em moda na China. Por enquanto, como os
gastos de manutenção de uma amante são pesados, só os caciques do partido
e os novos-ricos podem dar-se ao luxo de manter uma "segunda esposa". O
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sustento mensal de uma jovem, incluindo o aluguel do apartamento, pode
custar entre 700 e 1 000 dólares, um bom dinheiro para os padrões da China.
De acordo com a imprensa oficial, 95% dos homens acusados de crimes
econômicos em Guangdong – uma das províncias mais ricas da China –
tinham um caso extraconjugal. Um vice-governador foi condenado a dez anos
de cadeia por ter aceitado um suborno de 18 000 dólares para sustentar não
uma, mas quatro amantes. A volta do concubinato teve suas conseqüências.
Aos poucos, os chineses vão descobrindo que a figura da tradicional esposa
também está mudando. Hoje, o número de divórcios é quatro vezes maior do
que vinte anos atrás. Nas grandes cidades, o índice de casais divorciados
chega a 20%. A pressão das mulheres foi tanta que há três meses o governo
aprovou uma lei que proíbe ao mesmo tempo a bigamia e o concubinato. Sob a
nova lei, as esposas traídas têm direito a receber uma indenização e o marido
pode pegar até dois anos de cadeia.

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Itália

"A igualdade difícil: mulheres no mercado de trabalho em Itália e a questão não


resolvida da conciliação"

Anexo 3: Desigualdade social na Itália.

Numa sociedade em que as qualificações dos sujeitos tendem a assumir uma


preponderância cada vez mais decisiva na definição dos seus percursos
profissionais, a investigadora centra a sua análise num conjunto de dados
recolhidos em Itália que demonstram a existência de desigualdades de género
no acesso ao trabalho associadas à assunção de responsabilidades
domésticas e maternais. Em 2002, as mulheres italianas com idades
compreendidas entre 30 e os 39 anos apresentavam taxas de actividade
semelhantes aos homens (89,7%), mas esse valor diminui 11 pontos
percentuais no caso das casadas e sem filhos e 23 pontos na categoria das
mulheres casadas e com filhos. São também estas que apresentam maiores
taxas de desemprego (face aos homens e às mulheres sem filhos), o que
indicia a dificuldade de compatibilização do exercício da maternidade e das
responsabilidades familiares com a vida profissional. Esta ideia é secundada
por dados que confirmam o impacto da maternidade na relação da população
feminina activa com o mundo do trabalho: em 2003, 20% das mulheres que
estavam empregadas antes do nascimento de um filho deixaram de o estar
depois, 10% mudaram de emprego e 7% passaram a trabalhar a tempo parcial.

A vida familiar não é apenas relevante no acesso ao trabalho ou na alteração


das condições laborais. Ela implica o avolumar dos tempos de trabalho
feminino, se ao trabalho remunerado for adicionado o não remunerado.
Segundo um estudo realizado em 2000 pelo Banco de Itália, embora no âmbito
das actividades remuneradas os homens trabalhem em média mais do que as
mulheres (43,1 contra 35,5 horas semanais), juntando o tempo dispendido nas
actividades remuneradas e não remuneradas, as mulheres despendem mais
tempo a trabalhar do que os homens (64,8 contra 53,6 horas). Na verdade, o
trabalho familiar feminino encurta os tempos de repouso à disposição das
mulheres, o tempo que têm para o trabalho remunerado, o tipo de trabalhos
que podem aceitar (compatibilização do trabalho doméstico com os horários
laborais ou com as distâncias a percorrer até ao trabalho), aspectos que
influenciam a forma como são olhadas pelas entidades empregadoras.

A falta de creches públicas e privadas que se ocupem das crianças até aos 2
anos de idade é apontado como um factor que ajuda a explicar as taxas de
inactividade femininas, até porque os familiares mais velhos tendem a sair cada
vez mais tarde do mercado de trabalho. Não havendo alternativa, a
responsabilidade de cuidar dos filhos é atribuída de acordo com a distribuição
dos papéis sociais segundo o género. E quase sempre a escolha recai sobre a
mulher.

Embora os indicadores apresentados ilustrem desigualdades entre homens e


mulheres nas relações com o mercado de trabalho e na vida doméstica, a
investigadora apresenta alguns diplomas legais que, na sua opinião, podem
contribuir para o progressivo esbatimento das mesmas. A lei 53/2000 (que se
aplica principalmente aos trabalhadores por conta de outrem) atribui ao pai
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alguns direitos autónomas referentes à licença de paternidade; encoraja as
mulheres a não abandonarem o trabalho quando se confrontam com o
aumento das responsabilidades familiares, por exemplo, através de incentivos
às empresas que apliquem políticas de organização favoráveis à conciliação
dos tempos laborais e familiares (horários flexíveis, "bancos de tempo",
possibilidade de passagem temporária para o regime de trabalho parcial...);
intensifica e flexibiliza as formas de prestação de cuidados familiares.

Por seu lado, o decreto-lei 61/2000, substituído pelo 100/2001, prevê as


diferentes modalidades de trabalho a tempo parcial, estipula a igualdade na
remuneração e no tempo de férias por comparação com o trabalho a tempo
inteiro e a reversibilidade dessa escolha. Tendo em conta que 24,5% das mães
trabalhadoras, com filhos até aos 13 anos, têm este tipo de regime laboral, o
aprofundamento das garantias a ele associadas e das suas modalidades
podem ser benéficas para as mulheres, na conjugação entre o mundo do
trabalho e as responsabilidades domésticas. Porém, a investigadora refere que
o trabalho a tempo parcial pode ele próprio funcionar como um facto promotor
de desigualdades, pois há o risco de existir discriminação na oferta de
oportunidades laborais de acordo com esse critério.

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Argélia

No momento de mais forte violência na Argélia, no início dos anos 90, emerge
uma palavra-mulher, com uma incontestável autonomia. Uma expressão forte e
original, irredutível a qualquer outro discurso, impõe-se, com personagens que
se tornam emblemáticas, tais como Khalida Messaoudi (hoje Khalida Toumi,
tendo retomado seu nome de solteira), Zazi Sadou, Louisa Hanoun e Salima
Ghezali.

Que cada uma destas mulheres esteja ligada a um partido político, do qual é
membro, simpatizante ou líder, não desmerece o fato de que é, antes de tudo,
uma palavra-mulher que elas enunciam; esta última seria portadora de uma
reivindicação que pode integrar-se às dos partidos sem ser, todavia, jamais
idêntica, militando sempre por algo mais..

Escrevendo assim, parece interesse por apenas um pólo dos movimentos


feministas, o pólo dito democrático, carreado por uma reivindicação de
igualdade entre todos cidadãos, e que deixou na sombra o outro, o dito
islâmico, que propõe um programa enquadrado pelas leis religiosas,
postulando “o primado dos homens sobre as mulheres”. Este segundo pólo é
constituído por associações diretamente ligadas aos partidos e que tem uma
secção feminina, como, por exemplo, Al Islah oual Irchad, ligada ao partido de
Mahfoud Nahnah. Em suas atividades, estas associações mostram, muitas
vezes, uma eficácia notável na gestão dos problemas sociais, sobretudo
quando as autoridades estão ausentes.

Por outro lado, as associações femininas existiam antes desta época e esta
palavra-mulher, à qual me refiro, é herdeira, ainda que seja observadora ou
que pretenda se separar de movimentos antigos.

Pode-se encontrar traços dos primeiros ensaios de organização das mulheres


no tempo da colonização, com um desenvolvimento notável durante a guerra
de liberação.[1] Já havia, à época, uma clivagem em dois pólos; não são,
entretanto, os mesmos que os da segunda guerra da Argélia, e as mulheres
foram disputadas por dois projetos opostos de sociedade.

O pólo do lado europeu agrupava as associações que queriam “libertar as


irmãs muçulmanas”, “a mulher árabe”, e que criavam ateliês de trabalho e
cursos de alfabetização. Os objetivos políticos encontravam-se com projetos
mais desinteressados e lembramos, aqui, a encenação que aconteceu em maio
de 1958, na praça do Governo, em Alger: as mulheres muçulmanas foram
convidadas a arrancar solenemente seus véus. Sabe-se que foram as
empregadas domésticas, enviadas por suas patroas européias, que
participaram deste gesto teatral, que não obteve nenhuma repercussão.

O outro pólo, o da sociedade colonizada, visava à preservação das mulheres,


permitindo-lhes, porém, uma abertura para a modernidade, principalmente no
que se refere à instrução. As idéias progressistas, que começavam a se
desenvolver no mundo árabe, sobretudo no Egito e na Tunísia, haviam
despertado um eco no movimento nacionalista.

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Depois da independência do país, o partido único – o FLN, Front de Libération
Nationale, impôs-se com a exclusão de qualquer outro. Um só partido, assim, o
do povo argelino, e uma única representação da Mulher Argelina, entronizada
UNFA (União Nacional das Mulheres Argelinas), cuja secretária geral é, antes
de mais nada, militante do partido único. Não se trata, neste caso também, de
negar ou desconhecer o trabalho que foi feito para resolver questões materiais
de algumas mulheres, miseráveis.

Mas a UNFA não pode sair e não sai jamais do quadro fixado pelo partido. No
dia 4 de junho de 1984, o projeto do Código da Família seria votado pela
Assembléia Nacional Popular, fazendo das mullheres argelinas, no que
concerne à família, uma cidadã de segunda categoria. Este código, com força
de lei, apoiava os maridos que desejassem repudiar suas mulheres,
expulsando-as de casa, sem necessitar de justificativas.. Enquanto grassavam
as manifestações contra este projeto, A UFNA nada fazia. No fim do mês de
maio, esta organização recebia um grupo de mulheres universitárias de Alger,
que pedia uma ação contra este projeto de lei. Foram apaziguadas,
assegurando-lhes que nunca uma organização encarregada da defesa das
mulheres permitiria que uma tal lei fosse aprovada. Mas o Código foi votado e
aprovado.

Mas o debate sobre o lugar e o futuro das mulheres fora relançado e ganhava
as ruas. As antigas moudjahidates (antigas combatentes da guerra de
libertação) encabeçavam as marchas de protesto, eram presas e retidas por
algumas horas, participavam de todos os meetings..

Em 1985, os movimentos femininos começam a se organizar, quase na


clandestinidade, cines-club e, assim, uma primeira associação é implantada.
Quando a Constituição de 1989, em seguida às revoltas de 1988, instaura o
multipartidarismo, a primeira associação a solicitar sua ratificação era feminina.
Estas associações se multiplicarão e irão tecer uma rede que cobrirá todo o
país, densa nas cidades como Alger e sua região, mais diluída, porém
presente, no resto do país.

Quando observamos os nomes destas primeiras associações, verificamos que


suas denominações exprimem a temática pela qual serão identificadas e
reconhecidas: defesa dos direitos das mulheres. Isto implica a reivindicação de
um direito, reconhecido pela Constituição e pelas instâncias internacionais.

Assim, no preâmbulo do documento publicado pela AITDF (Associação


Independente pelo Triunfo dos Direitos das Mulheres), pode-se ler que
pretende ser “ um guia em países com leis injustas contra as mulheres, e estas
leis existem na Argélia, brutais como o Código da Família, ou sutis como a lei
eleitoral” (pg 1). O objetivo final deste combate: “o único meio de estabelecer a
justiça seria apagar estas leis injustas do legislativo argelino” (p.2). Nestes
trechos, podemos observar um engajamento total pela abolição do Código da
Família.

Outra característica que aparece nas denominações das associações


femininas do início dos anos 90 é a referência à vozes. Fazer-se escutar,
quebrar a obrigação do silêncio, criar uma fala original. Os adversários destes
movimentos fustigaram as mulheres neles engajadas, acusando-as de estar a
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serviço do imperialismo ocidental, de querer importar modelos de sociedades
que nada teriam a ver com o país e suas tradições, e tentaram ridiculariza-las
invertendo situações de poligamia, em que elas, no caso, aspirariam casar-se
com quatro homens, etc. Mas não conseguiram silencia-las. Uma palavra-
mulher, irreprimível , fora assim reconhecida.

É esta palavra-mulher que ocupa a cena política argelina. É a única a poder


impor-se face ao discurso islâmico, a tal ponto que se tornou o outro pólo deste
discurso político, retomado mesmo pelos homens, sobretudo nos anos 1992-
1994, quando o discurso democrático parecia estar em decadência.. Podemos
lembrar uma cena emblemática: um debate na televisão, por ocasião das
eleições.

Abassi Madani, fortalecido pela legitimidade que lhe era concedida, reitera sua
conformidade com a palavra divina e se coloca como sua referência. Todos os
outros se distribuem a sua. Uma só voz a ele se opõe , recusa as referências
nas quais este antigo membro da Frente de Libertação Nacional (FLN), agora
líder do FIS, encarcera seus interlocutores. Trata-se de Khalida Messaoudi.

Ela se opõe e coloca a questão de outra maneira: vocês dizem que sou filha de
Joana d´Arc, mas quem são vocês para decidir isto? Recusa-se a debater em
um terreno discursivo religioso. A rejeição deste discurso religioso, que
funciona como uma armadilha e não deixa nenhuma escapatória, aparece no
espaço visível da cidade, por ocasião da celebração do dia 8 de março de
1994. Sabe-se que este dia tornou-se “o dia das mulheres”. As argelinas
haviam, progressivamente, tomado este dia como o mote para ocuparem as
ruas em grupo: restaurantes, cabeleireiro, beleza visível, mas igualmente
marchas e reivindicações. Todas que viveram este período lembram-se da
gentileza das pessoas na rua, da amabilidade dos homens que lhes ofereciam
flores.

Mas a violência não tarda a tornar estas marchas muito arriscadas. As


associações de mulheres organizam, então, encontros nos quais se fazem
ouvir os testemunhos de jovens seqüestradas e violentadas pelos terroristas,
ocasião em que o tabu do silêncio sobre a agressão sexual cai por terra, e são
julgados simbolicamente não apenas aqueles que os cometem, mas também
os que tornam lícitos tais atos.

A reação porém, foi rápida. Uma Fatwa, uma decisão fundada na religião, é
declarada por um dos emires, que permite o assassinato destas mulheres. As
mulheres, porém, já viviam neste clima de violência. Em primeiro lugar,
consideradas presas de guerra, são vítimas de violência. Seus corpos, já
amarrados em uma trama de leis e de interdições, se tornam o lugar em que se
escreve e se inscreve o que está em jogo na sociedade, tomada da vertigem
da morte infligida e procurada.

Estes corpos de mulheres, que se pretendia invisíveis, se tornam manchete


dos jornais e da televisão, corpos nus, fragmentados, cortados, partidos. A
sociedade parece incapaz de ter uma visão de conjunto dos corpos de suas
mulheres. Corpos escondidos, corpos explodidos, mas voz única,
forte,irreprimível.

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As mulheres serão também atrizes ativas na violência. Elas resistem com
armas na mão contra grupos armados, ou neles atuarão, tomando parte na
violência contra outras mulheres, contra crianças.

Seria necessário refletir este encadeamento que leva à morte, em uma paródia
de lei dada por deus, morte dada e também buscada.

Mas voltemos a esta palavra-mulher que é, ao mesmo tempo, recusa e ato


positivo, que instala, sejam quais forem os obstáculos, a idéia de que a
sociedade argelina é feita de mulheres e de homens e que nada justifica a
preeminência destes últimos. São as associações, como SOS mulheres em
perigo, que tomaram para si a questão das mulheres seqüestradas, violentadas
e que retornam grávidas. Esta gravidez que ninguém quer ver é jogada à
sociedade como questão: o que fazer? Abrigar estas mulheres, esperar o parto.
E depois?

No fim dos anos 90, a questão do direito ao aborto após um estupro foi
levantada pela ministra da Solidariedade e da Família, tomando a bandeira das
associações femininas. Os homens políticos, mesmo abrigando-se sob o
discurso religioso e utilizando como artifício/escudo o discurso médico – como
foi o caso do HCI, o Alto Conselho Islâmico – foram obrigados a responder-
lhe. Sua recusa em tomar uma decisão é uma clara resposta; porém, ela não
desencorajará, de forma alguma, as mulheres que colocaram este problema .
Elas o retomarão.

Sem pretender, como querem alguns, que a solução virá das próprias
mulheres, é certo que elas fizeram emergir uma palavra-mulher que trabalha o
político e estabelece seu lugar. A sociedade argelina conheceu importantes
acontecimentos políticos, sem verdadeiramente integrar as transformações que
poderiam ter se implantado. A organização tribal, que não concede muito
espaço para as mulheres no campo das decisões, se vestia, até aquele
momento, com os véus da tradição para negar qualquer movimento. Hoje, toma
de empréstimo seu léxico e sua retórica aos religiosos para tentar, mais uma
vez, congelar a dinâmica da mudança. Nesta ótica, as forças perturbadoras,
que são as mulheres e as/os jovens, sofrem a violenta reação desta recusa.
Até quando?

[1] A Argélia foi uma colônia francesa e sua libertação foi obtida pela guerra,
nos anos 1950.

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Conclusão

É comum vermos as desigualdades de gêneros em qualquer país em que


estudarmos, e não é diferente com a Itália, Argélia e o Japão, mesmo tendo
como estudo um dos grandes países desenvolvidos. Apesar de grandes
diferenças, tanto econômicas quanto sociais, podemos perceber que o
preconceito e a desigualdade são basicamente os mesmo. Percebemos certas
diferenças, porém independente do país em que se encontra terá sua própria
batalha contra esses preconceitos.

14
Fontes Bibliográficas

(observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=
publications&id=33)

(http://veja.abril.com.br/010801/p_059.html)

(http://www.tanianavarroswain.com.br/labrys/labrys3/web/bras/zineb1.htm#_ftnr
ef1)

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Anexos

Anexo 1:

Anexo 2:

16
Anexo 3:

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