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Resumao de Melaine Klein
Resumao de Melaine Klein
Melanie Klein
Em resumo
Klein (1935/1991, 1946/1990) descreveu dois estágios no desenvolvimento
emocional durante o primeiro ano de vida: a posição esquizo-paranóide e a posição
depressiva.
Inicialmente, os impulsos destrutivos têm maior predominância na mente da
criança e, consequentemente, a criança percebe o mundo externo também como
destrutivo e persecutório. Na posição esquizo-paranóide os impulsos destrutivos e a
ansiedade persecutória estão no seu auge e o conflito se dá em função da sobrevivência
do ego.
Com o passar do tempo, e sob a influência dos impulsos amorosos dirigidos para
o mundo externo, um relacionamento mais positivo com a mãe se desenvolve e a criança
se torna consciente de sua própria ambivalência. A ansiedade da criança nesta fase está
relacionada ao medo de que seus próprios impulsos destrutivos possam destruir sua mãe
amada. A percepção de sua própria ambivalência leva a criança a intensos sentimentos de
responsabilidade, desespero, ansiedade e culpa. Neste sentido, a posição depressiva
inaugura um modo mais maduro de relacionamento com o outro, o qual possibilita uma
nova forma de moralidade.
Se na posição esquizo-paranóide a criança está preocupada apenas com o bem-
estar do ego, na posição depressiva ela está preocupada também com o bem-estar do
outro. Desde que na posição depressiva o ego se torna mais identificado com o outro, a
preservação do outro é sentida como garantia da preservação do próprio ego. Além disso,
na posição depressiva existe a possibilidade de uma preocupação real com o bem-estar
do outro, independentemente do ego.
Na teoria de Klein, a ansiedade depressiva é a fonte da verdadeira capacidade de
amar, a qual é inicialmente expressa através de ansiedade pela destruição do outro, culpa,
remorso, desejo de reparar o dano feito, responsabilidade em preservar o outro e tristeza
relacionada com a possibilidade de perdê-lo. O amor resulta, portanto, da capacidade de
identificação com o outro na posição depressiva. Gradualmente a criança se torna capaz
de encontrar outros objetos de interesse e o seu amor é dirigido também para outras
pessoas e coisas.
A culpa pode envolver elementos da posição esquizo-paranóide e/ou da posição
depressiva. Segundo Hinshelwood (1989 apud Leitão 1999), Klein descreveu dois tipos de
culpa: a culpa persecutória, associada com a preocupação esquizo-paranóide com o
bem-estar do self; e a culpa depressiva, associada com a preocupação depressiva com o
bem-estar do outro. Na posição esquizo-paranóide a culpa é persecutória, retaliativa e
punitiva. A posição depressiva faz surgir um sentimento de culpa propriamente dito, no
qual predomina o medo pelo outro amado e pelo relacionamento com ele. Na teoria
Kleiniana, portanto, a culpa é considerada num contexto interpessoal.
São processos e não entidades estáticas, por isso, não é possível dizer de uma
entrada na posição tal, talvez seja possível dizer que se alcance uma predominância de
um modo depressivo de operar, incluindo sempre uma possibilidade de que para alguns
aspectos da vida se opere de um modo SZN.
As Posições:
· São dinâmicas psíquicas que, alternando-se ao longo da vida, geram maneiras
de ser e de experienciar o mundo. É desta alternância das posições que resultaria a
estruturação do sujeito.
· São duas formas básicas de organização das ansiedades, defesas e modos
de estabelecer relações com os objetos.
· Rompe com a idéia de tempo cronológico e desenvolvimento linear, pois
busca privilegiar duas grandes possibilidades de experienciar a si mesmo e ao mundo;
· Trata-se de uma espécie de óptica que norteia a percepção de si mesmo e
das experiências;
· Trata-se de um certo modo de organizar-se frente às vivências que faz com
que estas adquiram sentidos diferentes dependendo da óptica usada.
O modo de ver o mundo é determinado por um conjunto de ansiedade, defesas,
fantasias e formas de se relacionar que propiciam um modo de perceber e compreender a
realidade.
Conceber o desenvolvimento como operando com duas posições básicas, é pesá-
lo como duas atitudes mentais diferentes a partir das quais as experiências podem ser
vividas. As posições são, assim, conceituações sobre as organizações psíquicas que
geram formas de ser e experienciar o mundo.
Para Klein, existe uma flutuação entre as duas posições, dependendo sempre da
capacidade do ego de suportar as angústias decorrentes dos aspectos ambivalentes da
experiência.
- estas formas de organização psíquica não são nunca superadas ou deixadas
para trás; o que é possível, com maior ou menor sucesso, é manter uma relação dialética
entre elas, uma relação na qual cada estado cria, preserva ou nega o outro.
POSIÇÃO ESQUIZOPARANÓIDE
POSIÇÃO DEPRESSIVA
Freud:
Freud preconiza a situação edípica como uma das problemáticas fundamentais à
teoria psicanalítica, visto que este é o momento no qual se dará a constituição do sujeito.
Nesse sentido, como aponta Moreira (2004), a importância da passagem pelo Édipo e sua
condição estruturante nos remete a pensar a constituição do sujeito a partir da
incontestável presença do outro. Ora, se a triangulação edípica não prescinde da exis -
tência de um casal de pais, seja real ou simbólico, torna-se imperativo a inscrição do outro
na estruturação do sujeito.
O sujeito, por conseqüência do que é vivenciado no Édipo, sai com determinadas
identificações. É a partir destas identificações que será possível a constituição do
superego.
“O superego resulta de um processo identificatório com a lei, da qual o pai é o
representante.” (Moreira, 2004, p. 224).
A dissolução do Complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estru-
turação da personalidade e na orientação do desejo humano, além de ser a principal
temática de referência no que diz respeito às psicopatologias.
Freud concedeu ao complexo de castração o eixo central para a compreensão do
Complexo de Édipo. Diferentemente, Melanie Klein descreveu a situação edípica com foco
nas fantasias primárias.
Klein:
A hipótese do superego arcaico já havia obrigado Melanie Klein a antecipar o
início do complexo de Édipo para o começo do segundo ano de vida. Mais tarde, ela
desvincularia o surgimento do superego arcaico da questão edípica e acabaria por
antecipar o próprio complexo de Édipo em sua dimensão mais arcaica para os seis meses
de idade, quando surge a primeira "posição depressiva".
Segundo Klein (1945/1996), o Complexo de Édipo começa paralelamente com
início da “posição depressiva”, uma vez que é nesta fase que os sentimentos amorosos
passam a ocupar cada vez mais espaço, no lugar dos sentimentos persecutórios e des-
truidores, característicos da “posição esquizoparanóide”. E seu declínio coincidirá
exatamente com a prevalência dos sentimentos característicos da “posição depressiva”, o
amor da criança pelos pais, o desejo de preservá-los e não mais de destruí-los. Isto torna
visível como é central a questão edipiana no desenvolvimento da criança, já que a
transição da “posição esquizoparanóide” para a “posição depressiva” se dá neste contexto
e é favorecida por ele. Os impulsos sexuais são direcionados para uma forma de reparar
efeitos da agressividade, o que induz ao nascimento de fantasias reparadoras, de extrema
importância para a sexualidade adulta.
Klein (1925/1996) ainda afirma que os sentimentos de culpa têm origem nos de-
sejos sádico-orais, e não são conseqüências do Édipo, mas sim um dos fatores que
acompanham o desenvolvimento edipiano.
Já a origem do Superego, como afirma Marta Rezende (2002), se localiza já nos
primeiros estágios do conflito edípico. Sua formação se inicia desde muito cedo, “e o que
faz com que ele apareça é o advento do Complexo de Édipo” (Cardoso, 2002, pág. 55.).
Melanie (1945/1996) revela que a criança introjeta objetos em cada fase de sua
organização libidinal, e o superego é construído a partir destes elementos introjetados. “O
superego se desenvolve a partir dessas figuras introjetadas – as identificações da criança
– influenciando, por sua vez, a relação com os pais e todo o desenvolvimento sexual.”
(Klein, 1945/1996, págs 463-4).
Como Melanie Klein descreveu a situação edípica com foco nas fantasias primá-
rias, pode-se dizer que, ao conseguir distinguir objetos totais, a existência dos pais como
pessoas que possuem seus próprios desejos e que se voltam para outros campos que não
a criança, essa começa a direcionar seus impulsos e fantasias a estes, o que instala o
cenário para o início do Complexo de Édipo.
Assim, é possível verificar a relação intrínseca entre o desenvolvimento edipiano e
a formação do superego, e entre estes fatores e a passagem da “posição esquizopa -
ranóide” para a “posição depressiva”, fatores esses que incidirão diretamente da estrutu -
ração da personalidade do sujeito.
De acordo com Figueiredo e Cintra (2008), é a partir do atravessamento da
posição depressiva e a solução do complexo edipiano que o sujeito amplia a capacidade
de experimentar relações complexas e ambivalentes com objetos integrais, admitindo a
relativa autonomia destes objetos e suas ligações com os outros e com eles próprios.
Há uma alternância entre objetos internos e externos ao se perceber a realidade,
por parte do bebê, o que interliga intrinsecamente o complexo de Édipo à formação do
superego.
A partir da análise de crianças pequenas (3 a 6 anos), Klein pôde constatar que as
tendências edipianas são despertadas pelo desmame (entre o primeiro e o segundo ano
de vida). Esta frustração oral é reforçada pelas subseqüentes frustrações anais e também
pelas diferenças anatômicas que existem entre os sexos, o que faz necessário explicar o
desenvolvimento do menino e da menina separadamente.
CE meninos:
em sua posição feminina ou homossexual, há uma equivalência inicial do pênis do
pai ao seio da mãe, passando ser, este último, objeto de desejo, de ser sugado, engolido e
incorporado oralmente e também por seu ânus e seu pênis, “o menino deseja penetrar
com seu próprio pênis no corpo do pai pela boca, ânus e órgão genital. Na última parte do
primeiro ano, o desejo de receber um filho do pai desempenha importante papel” (Hei-
mann, 1986, pág. 55). Sendo assim, nesta posição a mãe torna-se uma rival para o me-
nino. Instauram-se neste período fantasias sobre a vagina materna, e desejos e atacá-la e
destruí-la. No entanto, os desejos de reparação anteriormente citados característicos da
posição depressiva fazem surgir impulsos de compensar a mãe, pelo fato do bebê ter
medo de perdê-la. Assim, passa a desejar dar-lhe prazer e filhos, o que restabelece a
genitalidade heterossexual no menino, fazendo com que sinta agora ódio contra o pai e
medo de retaliação por parte deste último, o medo da castração. Posteriormente o menino
fantasia a relação sexual dos pais, sendo esta o mesmo motivo pelo qual a criança passa
a desejar um dos pais e a querer destruir um deles, como um rival, o que lhe causa grande
ansiedade. De acordo com Heimann (1996), mais tarde, a observação de seu próprio
pênis somados à sua função criadora e reparadora que a criança possui
inconscientemente, às fantasias de relação sexual com a mãe e ao prazer da masturba-
ção, possibilitam ao menino possuir um desprezo pelo órgão genital feminino, mas seu
temor em relação à castração ainda persiste.
Existe um sentimento de culpa associado às fixações pré-genitais, que decorrem
das tendências edipianas. Isto ocorre, pois o despertar das tendências edipianas em um
momento precoce são acompanhadas da introjeção dos objetos amorosos, dos quais
decorre o sentimento de culpa. Estas identificações infantis são contraditórias,
comportando características boas e muito severas ao mesmo tempo. Isto pode ser
explicado pelas fantasias da criança de 01 ano, que deseja devorar e destruir seus
objetos. Entretanto, após introjetá-los, surge a culpa e o medo de perseguição,
proporcional a agressividade que foi inicialmente direcionada a estes objetos.
Assim, é importante ressaltar que a formação do superego ocorre durante um
momento de predominância de impulsos sádicos (pois o superego é formado pela
introjeção inicial dos objetos amorosos edipianos). Entretanto, a presença de um superego
sádico, em ação contra um ego ainda incipiente, leva o ego a recorrer a mecanismos de
repressão intensos contra este superego sádico.
Existe um desejo de ter filhos, destruir futuros irmãos e o próprio pai. O menino
vivencia o desejo de possuir um órgão especial, ligado a fecundação, como o seio
provedor de leite, a vagina, ou outros órgãos que ele liga a capacidade de ter bebês. O
menino teme ser punido por seus desejos de destruição do corpo materno. Assim, sofre
uma ansiedade que seu corpo seja mutilado. Neste momento, a mãe, ao manipular as
fezes da criança, se transforma em um castrador.
O menino tem um pavor de ser castrado pelo pai e um desejo de destruir o pênis
do pai, que se dirige ao útero, onde o pênis do pai estaria. Em contrapartida, o menino
experimenta um superego mutilador e devorador. Enfim, o menino se sente em
desvantagem, devido à incapacidade de ter filhos.
Ocorre, neste momento, uma fusão entre o desejo de ter filhos e o impulso
epistemofílico. Deste movimento decorre um deslocamento, no menino, deste desejo de
ter filhos para o plano intelectual. O menino também demonstra uma tendência à
agressividade, que visa ocultar a ansiedade e ignorância que experimenta durante esta
fase de indefinição. A agressividade também é um protesto contra o papel feminino. Assim,
a disputa entre homens tende a ter um caráter mais próximo do genital, enquanto que o
conflito com as mulheres é pré-genital, com fixações sádicas.
O menino começa a experimentar uma luta entre os impulsos pré-genitais e
genitais. A repulsa a feminilidade o empurra para a identificação com o pai. O medo de ser
castrado o faz retornar às fixações sádico-anais. A influência da genitalidade constitucional
se faz sentir neste momento. Esta luta pode permanecer indefinida, levando a distúrbios
de potência.
O menino também possui, durante a fase da feminilidade, a influência de um
superego materno, com identificações cruéis e bondosas. Depois, entretanto, ele retorna a
identificação com o pai. No menino, é o superego paterno que exerce a derradeira
influência. O pai é um personagem sublime, mas alcançável, pois o menino é feito a sua
imagem. A menina padece de um pavor de ter sua feminilidade danificada. Ela acaba
dando valor excessivo para o pênis, o que o torna uma fonte de ansiedade mais óbvia,
mascarando a ansiedade em relação à própria feminilidade.
CE meninas:
Esta possui sensações vaginais intensas neste período, e que estas estimulam
fortemente o desejo que a menina possui de receber o pênis do pai, e afastando-a da mãe,
como já citado anteriormente. Klein (1945/1996), afirma que o bebê do sexo feminino
possui uma idéia inconsciente de que seu corpo contém o que a autora denomina de
“bebês em potencial”, e o pênis do pai torna-se ainda mais um objeto de desejo por ter a
capacidade de criar crianças. Além de adquirir o pênis paterno, a menina deseja também
receber um filho do pai.
À medida que estes desejos são frustrados, a menina deseja possuir um pênis e
se volta para o corpo materno, na tentativa de atacar, mutilar, aniquilar este corpo e roubar
dele o pênis do pai e os bebês da mãe que, em suas fantasias, se encontram no interior do
corpo materno. No entanto, ao desejar destruir o corpo da mãe, esses ataques se voltam
para a própria menina, e ela fantasia que seu órgão genital será destruído, havendo,
portanto temor de uma mãe retaliadora. Ela sente também que lhe falta um pênis. No
entanto, a frustração de seus desejos femininos faz com que a menina sinta raiva e temor
pelo pai, direcionando-a novamente para a mãe.
Posteriormente, a menina fantasia a existência de um pênis interior, e almeja que
este se desenvolva. Neste período ocorre uma supervalorização do falo em detrimento da
valorização de sua vagina, que passa então a ser repudiada. Porém, o não
desenvolvimento de um órgão masculino causa novo desapontamento, fazendo com que
essa sinta ressentimentos contra a mãe, que se torna responsável pela incompletude da
menina. Neste momento, então, há um predomínio da faceta heterossexual.
A menina, ao passar pelo desmame, se afasta da mãe. O desenvolvimento da
menina se completa com o deslocamento da libido oral para a genital, mantendo o objetivo
receptivo, que condiz com a genitalidade feminina. Aí se encontra uma influência na
escolha do pai como objeto amoroso. A menina possui uma noção inconsciente de vagina,
despertada pelas tendências edipianas. A masturbação, no caso feminino, não leva a uma
satisfação tão adequada quanto para o menino, o que gera uma gratificação acumulada.
Portanto, o ódio e inveja da menina em relação à mãe a empurra para o pai. A
ansiedade de castração que o menino experimenta está ausente na menina. O impulso
epistemofílico da menina é despertado pelo complexo de Édipo, pela descoberta de não
possuir um pênis. A falta do pênis é um motivo adicional para odiar a mãe e se sentir
punida por esta ao mesmo tempo. É a privação do seio, portanto, que leva a escolha do
pai como objeto amoroso, e não a ausência do pênis, como dizia Freud.
O ódio e a rivalidade que a menina sente em relação à mãe fazem com que sua
identificação com o pai seja abandonada, transformando-o em um objeto para amar e ser
amada por ele. Um forte motivo para possuir o pai é o ódio e a inveja sentida em relação à
mãe. Se no desenvolvimento da menina, as fixações sádicas permanecerem, estas
interferirão na relação homem – mulher. Por outro lado, se a relação com a mãe for
calcada em uma posição genital, a mulher estará menos presa a um sentimento de culpa
com relação aos filhos. O marido poderá ser sentido como um bebê adorado levando a
mulher a assumir a postura de uma mãe provedora.
Com relação à sexualidade, quando a menina alcança a satisfação total de seus
impulsos amorosos (o que lhe parecia impossível), através do coito, ela sente uma
admiração e uma gratidão pelo fim da privação acumulada, que remete a época do
onanismo. Esta gratidão explica a grande capacidade feminina para se entregar de forma
total e duradoura a um objeto amoroso, como o primeiro amor.
Algo que prejudica o desenvolvimento da menina é que ela sofre o desejo
insaciado de ser mãe. O menino, por sua vez, encontra um apoio no fato de possuir um
pênis. A menina, vivendo esta incerteza com relação à possibilidade do desejo de ser mãe,
acaba sendo prejudicada por sentimentos de ansiedade e culpa que decorrem das
tendências destrutivas que ela dirigiu contra a mãe. Isto ajuda a explicar a preocupação
feminina com a beleza, pois esta poderá ser destruída pela mãe, que foi anteriormente
atacada.
Este medo de destruição interna que a menina vivencia explica a tendência
feminina para a histeria de conversão e certos distúrbios orgânicos. A menina, ao não
encontrar o apoio da posse do pênis, acaba por depreciar sua capacidade de maternidade,
antes altamente valorizada. A grande ansiedade feminina está em torno da feminilidade,
enquanto o menino o sente em relação ao pênis, pois de fato possui um. O menino
experimenta uma ansiedade aguda, enquanto o processo da menina é crônico.
A mulher possui uma grande capacidade para o altruísmo, pois na menina o
superego é formado pela imago materna, que é mais ameaçadora que a paterna. Se a
identificação genital da menina se estabiliza, surge um ideal de bondade, derivado do ideal
da mãe boa. Portanto, esta capacidade depende da resolução dos conflitos pré-genitais e
genitais. Quando a mulher se dedica a uma ação social, esta depende de um ideal de ego
paterno. A menina sente uma admiração pela atividade genital do pai, o que a leva a metas
difíceis de atingir. A própria impossibilidade de atingi-las, associada à capacidade de auto-
sacríficio derivada do superego materno, pode levar a mulheres com uma capacidade para
realizações excepcionais no plano intuitivo.
Com relação a certas experiências iniciais da infância, algumas considerações são
importantes. Quando a observação do coito ocorre em uma época posterior, pode se
configurar um trauma. Se a observação é precoce, pode gerar fixações no
desenvolvimento sexual, atrapalhando a formação do superego, devido à predominância
de identificações sádicas. Quando ocorrem atos sexuais entre crianças, como felação, se
tocar e outros, o ato assume a característica de um Édipo realizado, pois a outra criança é
percebida como a mãe, o pai, ou ambos. Deste fato surge uma grande culpa, associada a
uma necessidade de punição, associada à compulsão a repetição, que pode levar a
repetição de traumas sexuais.
Concluindo, as idéias do texto são consideradas por Klein como um
desenvolvimento das de Freud. O texto aponta o surgimento de um complexo de Édipo
precoce, derivado do desmame, dominado pelas fases pré-genitais. Estes fatos
influenciam a formação precoce do superego, com aspectos sádicos. Tais conclusões,
retiradas da análise de crianças, possuem validade teórica, comprovada também na
análise de adultos.
«O ciúme teme perder o que possui; a inveja sofre ao ver o outro possuir o que
quer para si. O invejoso não suporta a visão da fruição. Sente-se à vontade apenas com o
infortúnio dos outros. Assim, todos os esforços para satisfazer um invejoso são infrutíferos.
O ciúme é uma paixão nobre ou ignóbil, em função do objecto. No primeiro caso, é
emulação aguçada pelo medo. No segundo caso, é voracidade estimulada pelo medo. A
inveja é sempre uma paixão vil, arrastando consigo as piores paixões». (Crabb)
Os portugueses conhecem bem esta paixão vil que é a inveja e que, na
linguagem popular, é denominada "mal de inveja". Teixeira de Pascoaes viu nela um dos
maiores defeitos da "alma pátria": "Somos fantasmas querendo iludir a sua oca e triste
condição. Por isso, o valor alheio nos tortura, revelando, com mais clareza, a nossa própria
nulidade". Porém, na sua ingenuidade, não soube elaborar uma psicopatologia
portuguesa e, deste modo, descobrir o mal radical que habita plenamente a alma
portuguesa. A inveja é destrutiva e, se ela é "um esqueleto de hiena visionando um
cemitério", como diz Pascoaes, então Portugal é esse mesmo cemitério, do qual a
esperança foi sempre-já expulsa. A História de Portugal está ferida de morte desde o
seu começo: o matricídio cometido por Afonso Henriques foi introjectado e,
posteriormente, projectado por todos os portugueses nutridos no e pelo mau seio e, desse
modo, incapazes de retomar o bom seio, o da gratidão. Pascoaes não compreendeu que
a inveja é, como diz Klein, "o sentimento raivoso de que outra pessoa possui e desfruta
algo desejável, sendo o impulso invejoso o de tirar este algo ou de estragá-lo". A inveja
pressupõe a relação do indivíduo com uma só pessoa e esta relação origina-se na relação
primordial e arcaica com a mãe. Embora esteja fundado na inveja, o ciúme envolve uma
relação com duas pessoas, no mínimo, e diz respeito "ao amor que o indivíduo sente como
lhe sendo devido e que lhe foi roubado, ou está em perigo de sê-lo, pelo seu rival".
Melanie Klein (1882-1960) concedeu à inveja uma posição de importância central,
tanto na compreensão da psicopatologia como no processo de tratamento, na sua
concepção do conflito que está na origem do desenvolvimento. Aparentemente distante de
Freud, mas talvez mais próxima de Rank ou de Ferenczi, Klein interessa-se
pelos momentos pré-edipianos deste desenvolvimento e coloca em jogo a complexidade
das relações que se estabelecem entre a mãe e a criança antes da intervenção do pai que
provocará a violência do complexo de Édipo. Deste modo, Klein é levada a mostrar que a
figura da mãe é ambivalente. A mãe pode tanto recompensar como frustrar a criança e, por
isso, aparece sucessivamente como "bom" e "mau" objecto: quer dizer que o
mesmo objecto é, para a criança, bom e mau, que amá-lo é também querer destruí-lo e
que a figura da mãe reúne e evoca todos os sentimentos da criança, até mesmo os mais
contraditórios. A presença da contradição no sujeito tende a apagar-se em proveito do
nascimento de um conflito no interior dos laços privilegiados que ligam a mãe e o filho. A
mãe é, portanto, o próprio modelo de toda a ambivalência.
As origens da inveja derivam da agressão constitucional e a inveja precoce
representa uma forma particularmente maligna e desastrosa de agressão inata. Todas as
outras formas de ódio da criança são dirigidas para maus objectos que são sentidos
como perseguidores e maus. Por isso, a criança odeia-os e fantasia com a sua tortura e
destruição. A inveja é, pelo contrário, ódio dirigido contra bons objectos. A criança sente a
bondade e os cuidados que a mãe lhe oferece, mas sente-os como insuficientes e
ressente-se com o controle onipotente da mãe, capaz de a alimentar, de a libertar dos
impulsos destrutivos e da ansiedade persecutória e de a proteger de toda a dor e males
provenientes de fontes internas e externas. Ora, o primeiro objecto a ser invejado é o "seio
nutridor": o bebé sente que o seio possui tudo o que deseja e que é dotado de um fluxo
ilimitado de leite e de amor que guarda para a sua própria gratificação. Porém, oseio
materno fornece o leite em quantidade limitada e depois pára. Na fantasia da criança, no
seu mundo interior povoado de fantasmas, o seio é sentido como guardando
avaramente o leite para os seus próprios objectivos. O ressentimento e o ódio associam-
se a esta fantasia do seio inexaurível e o resultado é uma relação perturbada com a
mãe. A inveja primária do seio materno desencadeia ataques sádicos ao seio materno,
determinados pelos impulsos destrutivos, que visam estragar o objecto: o seio é odiado e
invejado pelo facto do bebé sentir que é um seio mesquinho e malévolo. Nas suas formas
subsequentes, a inveja deixa de estar focalizada no seio e é deslocada para a mãe que
recebe o pénis do pai, que possui bebés dentro dela, que dá à luz esses bebés e que é
capaz de amamentá-los, e, nos estágios iniciais do complexo de Édipo (quarto e sexto
mês de vida), para o pai, visto como um intruso hostil e acusado de ter raptado o seio
nutritivo e a própria mãe, dando início ao desenvolvimento do ciúme.
Klein distingue a inveja da voracidade, na qual o bebé quer ter todos os
conteúdos do bom seio somente para si, sem se importar com as consequências para o
seio, que imagina sugar até o secar. Para o bebé voraz, a destruição não é o motivo, mas
a consequência da ganância. Na inveja, a criança quer destruir o seio e estragá-lo, não
porque seja mau, mas porque é bom. Como a riqueza do seio está fora do seu controle,
a criança não pode tolerar a sua bondade e, por isso, deseja estragá-lo. O dano causado
por esta inveja resulta da corrosão da primeira cisão entre seio bom e seio mau: as
cisões e dispersões de objectos em bons e maus, internos e externos, precipitam e
correspondem a cisões dentro do próprio self. No ódio não-invejoso, a destruição é
dirigida contra os objectos maus: os objectos bons são protegidos pela cisão e, por
conseguinte, o bebé pode sentir-se, pelo menos uma vez ou outra, protegido e seguro.
Porém, em virtude da inveja, a criança destrói os bons objectos, a cisão é desfeita e ocorre
um aumento da ansiedade persecutória e do terror. A inveja destrói a possibilidade
de esperança. Se o objectivo da voracidade é a introjecção destrutiva, isto é, escavar
completamente, sugar até deixar seco e devorar o seio, a inveja "procura não apenas
despojar dessa maneira, mas também depositar maldade, primordialmente excrementos
maus e partes más do self, dentro da mãe, acima de tudo dentro do seu seio, a fim de
estragá-la e destruí-la". Isto significa que a inveja visa "destruir a criatividade da mãe".
Este processo que deriva de impulsos sádico-uretrais e sádico-anais constitui um aspecto
destrutivo da identificação projectiva, conceito usado por Klein para descrever as
extensões de cisão nas quais partes ou segmentos reais do ego são separadas do resto
do self e projectadas nos objectos. Klein traça a linha divisória entre inveja e voracidade,
dizendo que "a voracidade está ligada principalmente à introjecçãoe a inveja
à projecção". A pessoa invejosa é insaciável, destrutiva, ladra, maldosa e fraca.
A inveja intensa do seio nutridor interfere com a capacidade de satisfação e, por
conseguinte, solapa o desenvolvimento da gratidão: a voracidade, a inveja e a ansiedade
persecutória estão interligadas e intensificam-se reciprocamente. A inveja estraga
oobjecto bom originário e alimenta os ataques sádicos ao seio, que, em face disso,
perde o seu valor e torna-se mau por ter sido mordido e envenenado pela urina e pelas
fezes. Com a capacidade de fruição arruinada, a inveja torna-se persistente e a gratidão
não se desenvolve para mitigar os impulsos destrutivos. Devido à inveja persistente, a
criança torna-se incapaz de construir seguramente um objecto bom interno. Pelo
contrário, a criança com uma forte capacidade de amor tem "uma relação profundamente
enraizada com um objecto bom e pode suportar, sem ficar profundamente danificada,
estados temporários de inveja, ódio e ressentimento que surgem mesmo em crianças que
são amadas e recebem bons cuidados maternos". Mas, como estes estados negativos são
transitórios, a criança pode recuperar facilmente o objecto bom, sem prejudicar o
estabelecimento das bases da estabilidade emocional e cognitiva e de um self forte.
Esta relação positiva com o seio materno constitui, no decurso do desenvolvimento, a base
sólida para a dedicação e a vinculação a pessoas, valores e causas, que absorvem, em
certa medida, uma parte do amor que era inicialmente sentido pelo objecto originário.
O sentimento de gratidão deriva da capacidade de amar e, conforme observa
Klein, é fundamental para "a construção da relação com o objecto bom" e para avaliar e
apreciar o que há de bom nos outros e em si mesmo. A pessoa invejosa não pode
realizar esta tarefa de reparar o objecto bom, por ser demasiado influenciável e, portanto,
incapaz de confiar no seu próprio julgamento. De modo diferente de Freud, Klein considera
que aansiedade primordial derivada do trauma do nascimento (Rank) constitui a
ameaça de aniquilamento pela pulsão de morte interna: o ego que "existe desde o início
da vida pós-natal", e cuja primeira e principal função "é lidar com a ansiedade", está ao
serviço da pulsão de vida e, nesta luta primordial entre as pulsões de vida e de morte,
compete-lhe deflectir essa ameaça para fora, de modo a preservar a sua identidade e a
sentir que possui uma "bondade" própria. Enquanto a capacidade de amar promove as
tendências integradoras e o sucesso da cisão primordial entre o seio bom e o seio mau,
protegendo o self das identificações indiscriminadas com uma variedade de objectos e
dando-lhe uma sensação de que possui bondade própria, a inveja excessiva interfere na
cisão fundamental e no sucesso da estruturação de um objecto bom, donde resultam
oenfraquecimento do self e a perturbação das relações de objecto. Assim, as crianças
com capacidade de amar forte sentem menos necessidade de idealizar do que as crianças
dominadas por impulsos destrutivos e pela ansiedade persecutória: "a idealização é,
portanto, um corolário da ansiedade persecutória e o seio ideal é a contrapartida do seio
devorador". Com a danificação da capacidade de selecção e de discriminação, o self
fraco do indivíduo invejoso é levado a trocar constantemente de objecto amado, porque
nenhum objecto pode preencher integralmente as expectativas: o objecto idealizado
anterior é sempre sentido como um perseguidor e nele é projectada a atitude invejosa e
crítica do sujeito. "Tudo isto leva, como diz Klein, à instabilidade dos relacionamentos".
Além disso, a inveja excessiva interfere na gratificação oral adequada,
estimulando a intensificação dos desejos e tendências genitais. Este início prematuro da
genitalidade é frequentemente "causa da masturbação compulsiva e da promiscuidade
sexual" e, em virtude da inveja excessiva do seio nutritivo e do sentimento de ter
estragado a sua bondade através de ataques sádicos invejosos, pode estar ligado à
ocorrência precoce daculpa. Segundo Klein, a atitude invejosa e destrutiva em relação
ao seio nutritivo está na base da crítica destrutiva, descrita como "mordaz" e "perniciosa",
dirigida contra acriatividade, cuja contrapartida benéfica e saudável é a crítica
construtiva que visa ajudar a outra pessoa a aperfeiçoar o seu trabalho. Enfim, para não
prolongar muito mais este post, diremos que a inveja está ao serviço da pulsão da morte e,
nessa missão, constitui uma força destrutiva da vida e da criatividade: proíbe o sonhar
acordado e paralisa o movimento de ir para a frente, como se verifica facilmente ao longo
da História de Portugal, cujo objecto idealizado é a ideologia sebastianista que
culmina no antiprojecto do Quinto Império de Fernando Pessoa e que se manifesta
regressivamente no reino da imitação invejosa e maldosa: o luso-reino "simiesco"
(Pascoaes) em que o espírito de iniciativa e as forças criadoras cedem o seu lugar
ao espírito imitativo e aopensamento de rebanho, porque, "sempre que o homem hesita
na sua humanidade, aparece o macaco" (Pascoaes), ou melhor, o homem
metabolicamente reduzido. As forças criativas nacionais estão condenadas à morte em
vida ou ao êxodo, porque a inveja portuguesa corrompe Portugal e fecha
sistematicamente as portas ao advento de um futuro inteiramente novo.
Posição esquizo-paranóide
que constitui o indivíduo. O que refletirá, sem dúvida, em situações futuras. Traçando
um paralelo com a prática, porque a psicanálise exige de nós uma capacidade de
abstração que, reconheço, é difícil alcançar limitando-nos à teoria, falarei do filme "Uma
Mente Brilhante", que ilustra muito bem a teoria de Melanie Klein acerca do tema em
questão.
O filme trata da vida de John Nash, que é um matemático americano genial.
Ele se encontra na posição esquizo-paranóide. Nash era esquizofrênico e apresentava
alucinações visuais. Ele tinha idéias delirantes, que consistiam em falsas crenças, não
corrigidas pela confrontação com a realidade, que tendiam a se difundir e ir tomando conta
da mente. No caso tratado, Nash via, principalmente, três pessoas (Charles, sua sobrinha
e Parker), mas seu delírio mais preocupante era o de perseguição. Havia, no seu
entendimento, uma conspiração e ele estava empenhado em descobri-la. O interessante é
que somos colocados dentro da mente de Nash. O filme trata a esquizofrenia do ponto de
vista do esquizofrênico. Todas as visões que ele tem nos parecem reais também. O
espectador acredita nas visões de Nash.
Quando está no auge de seu problema psiquiátrico, Nash acredita estar
trabalhando para o serviço de inteligência americano, contra os russos. Assim, nada mais
parece ter importância, nem a família, nem a continuidade de sua vida acadêmica. Tudo o
que ele quer é descobrir uma bomba que vai explodir em qualquer lugar dos EUA. Nash
acredita que, com sua inteligência, só ele poderia decifrar códigos publicados em revistas.
O que nos dá mais uma pista da posição esquizo-paranóide em que ele se encontra, o
delírio de grandeza, sua fantasia onipotente, sua megalomania.
Os três personagens que Nash vê podem ser entendidos como sua
personalidade dividida, cada um representando um aspecto. Charles, tudo o que Nash
gostaria de ser, seu ideal de ego. A menina, um superego infantilizado. E Parker, seu Id,
dando vazão a sua megalomania, o fazendo acreditar que era o único que detinha o poder
de decifrar os códigos para o governo. O que gera, mais à frente, seu delírio de
perseguição.
Em meio a tudo isso, existe Alícia, sua esposa, que é quem procura mostrar a ele
tudo o que é real. É seu objeto bom, gratificador. E em determinado momento do filme, ela
lhe dá um lenço, que é a representação simbólica do objeto bom introjetado. E é com a
ajuda dela que ele consegue aprender a separar o que é real da fantasia. Por fim, ele não
deixa de ter as alucinações, mas aprende a lidar com elas de forma que não o perturbem
mais. Alicia nos confirma a idéia da importância da gratificação para um ego extremamente
fragilizado e fragmentado. É seu objeto de amor que o ajuda a, de alguma forma, vencer a
patologia.
Posição Depressiva
O fenômeno esquizóide
“Não são só as partes más do self a serem expelidas. Partes boas também.
Logo, excrementos podem significar presentes, e as partes do ego projetadas para outra
pessoa representam as partes boas, amorosas do self”.(Inveja e Gratidão – Melanie Klein
– Identificação Projetiva -pg 27)
“A identificação projetiva da origem a medos de ser controlado pelo objeto;
Uma vez na fantasia o bebê projetando parte de seu self para dentro do objeto com o
objetivo de possuir e controlar, começa a ter medo da retaliação – ser controlado. Ser
perseguido dentro de seu próprio corpo pelo objeto introjetado e reintrojetado
violentamente. O objeto reintrojetado é sentido como contendo os aspectos perigosos do
self”. (Inveja e Gratidão – Melanie Klein – Identificação Projetiva -pg 30)
O medo de ser aprisionado e perseguido dentro do corpo da mãe (resultado
da identificação projetiva) estão na base da paranóia.
“As relações esquizóides são de natureza narcísica. Eu projeto meu ideal do
ego em outra pessoa. Passo a amar e admirar essa pessoa porque na verdade estou
amando eu mesmo. Essa outra pessoa passa a ter as partes boas do meu self”. (Inveja e
Gratidão – Melanie Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 32)
Controlar o outro, é controlar seu próprio self projetado no objeto. Quando
este objeto é perdido, é sentido como se o próprio self tivesse sido perdido. Surge o
sentimento de solidão e o medo de separar-se do objeto.
“O medo da frustração da separação, desperta a agressividade. Uma vez
controlando com agressividade as partes boas do self projetadas dentro do sujeito, o
objeto interno é sentido como correndo o mesmo perigo de destruição que o objeto
externo, resultando num enfraquecimento do ego. Solidão”. (Inveja e Gratidão – Melanie
Klein – Relações de objetos Esquizóides -pg 33)
Ainda sobre a identificação projetiva, Hanna Segal a define como: (processo
através do qual uma parte do ego é excindida e projetada para dentro de um objeto, com
conseqüente perda desta parte para o ego, bem como alteração na percepção do objeto.)
(Melanie Klein hoje; Vol I; Depressão no Esquizofrênico; Hanna Segal).
Através da identificação projetiva, o psicótico projeta suas ansiedades
sentidas como algo insuportável.
Herbert Rosenfeld escreve em seu artigo “Conflito com o superego num paciente
esquizofrênico”, a importância em se interpretar as transferências positivas e negativas,
salientando que o êxito na análise depende da compreensão do analista das
manifestações psicóticas na situação transferêncial.
Rosenfeld ainda em seu artigo desenvolve a idéia de que o objeto bom
internalizado aumenta a severidade do superego, e devido a exigências rigorosas, é
sentido como um objeto persecutório.
“Na análise de pacientes esquizofrênicos – Podemos muitas vezes observar
apenas os objetos persecutórios funcionando como superego. Isso pode ser devido às
exigências extremas dos objetos idealizados. (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld
– Conflito com o superego num paciente esquizofrênico)”.
O psicótico toma muitas vezes tudo o que o analista diz como algo concreto.
Se interpretarmos uma phantasia de castração, ele tomará a própria interpretação como
uma castração. Trata muitas vezes a fantasia como realidade, e realidade como fantasia.
Quando projetado suas ansiedades para dentro de um objeto externo, via
identificação projetiva, tal objeto passa a ser percebido como persecutório. Entretanto,
ocorrerá uma introjeção deste objeto, sentido como uma reentrada violenta. Muitas vezes,
o psicótico tentará romper a ligação com o mundo externo, temendo esta reentrada. No
entanto, a introjeção deste objeto implica na existência deste tanto interno quanto externo.
O objeto persecutório passa a existir na fantasia e na realidade.
“Todo paciente esquizo projeta seu superego e a si mesmo para dentro do
analista; mas o analista interpreta esta situação e os problemas ligados a ela até que,
gradativamente, o paciente seja capaz de aceitar tanto seu amor e seu ódio quanto o seu
superego como coisas que lhe pertencem.” (Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld –
Conflito com o superego num paciente esquizofrênico)
Freud aponta a psicose como o ego a serviço do id, que se retira em parte da
realidade. Sobre este tópico, Bion escreve: “O ego não fica completamente fora da
realidade. Seu contato com a realidade é mascarado pelo predomínio, na mente e no
comportamento do paciente, de uma fantasia onipotente cujo propósito é o de destruir não
só a realidade mas a percepção dela, e assim atingir um estado que não é vida nem
morte”.(Melanie Klein hoje Vol I – Herbert Rosenfeld – Diferenciação entre a personalidade
psicótica e a não psicótica)
Segundo Bion, pacientes psicóticos possuem uma parte não psicótica da
personalidade, que fica assim obscurecida por sua parte psicótica.
O afastamento da realidade é uma ilusão decorrente do uso da identificação
projetiva contra o principio da realidade. Porém, esta fantasia torna-se um fato para o
psicótico. A realidade odiada é fragmentada e projetada para fora. Estes objetos expelidos
são sentidos como se tivesse vida própria, estando então o psicótico cercado por objetos
bizarros.
A cisão e a identificação projetiva visa o afastamento da própria realidade. As
palavras são tomadas como coisas reais, pois o psicótico não simboliza.
Hanna Segal escreve em seu artigo “Depressão no esquizofrênico – Melanie
Klein hoje vol.1” sobre o processo pelo qual o esquizofrênico alcança a posição
depressiva, vivenciando as ansiedades despertas durante este processo. No entanto, os
sentimentos de culpa, sofrimento, são sentidos como intoleráveis. Assim, tais ansiedades
depressivas serão projetadas para fora, ou seja, grande parte do seu ego será projetada
para dentro de outro objeto através da identificação projetiva. Assim, o avanço para a
posição depressiva no paciente esquizofrênico é sentido como uma ameaça. É preciso
retomar o percurso contrário da sanidade, pois esta é acompanhada por sentimentos
insuportáveis.
É comum o paciente psicótico projetar a parte deprimida do ego para dentro
do analista, provocando sentimentos depressivos no analista. A parte sadia do ego é
perdida, e neste caso, o analista torna-se objeto persecutório.
Hanna Segal aponta para a importância de colocar o paciente esquizofrênico
em contato com seus sentimentos depressivos, e com o desejo de reparação que dele
originam. É de suma importância que o analista descubra onde e em quais circunstâncias
a parte depressiva do ego foi projetada, interpretando para seu paciente.
A identificação projetiva por um lado, constitui uma reação terapêutica
negativa (RTN), cabendo ao analista acompanhar cuidadosamente durante a
transferência, a emergência da posição depressiva e sua projeção, permitindo assim ao
paciente fortalecer a parte sadia da personalidade. Por outro lado, a identificação projetiva
é uma defesa contra a depressão.
Posição paranoide
Melanie Klein criou esta expressão para caracterizar uma das fases do desenvolvim
ento infantil, juntamente com aposição depressiva.
Estas fases são mais tarde, ao longo da vida do adulto, reavivadas por diversas situações,
em que se revivem asmesmas sensações e emoções.
Segundo Melanie Klein, a posição paranoide é uma modalidade das relações de objeto es
pecífica dos quatro primeirosmeses da existência do bebé, mas que pode ser encontrada p
osteriormente no decorrer da infância e, no adulto,particularmente nos estados paranoico e
esquizofrénico. Caracteriza-
se pelos seguintes aspetos: as pulsões agressivas coexistem desde o início com as pulsõe
s libidinais e sãoparticularmente fortes; o objeto, isto é, a mãe ou a prestadora de cuidados
maternais, é parcial (principalmente o seiomaterno) e clivado em dois, o "bom" e o "mau" o
bjeto.
Os processos psíquicos predominantes e que são usados contra a angústia paranoide são
a introjeção e a projeção.Esta angústia, intensa, é de natureza persecutória (destruição do
"mau" objeto). E só termina quando esta posição dálugar à posição depressiva.
M.K. diz que a transferência opera ao longo de toda a vida e influencia todas as
relações humanas, mas está preocupada apenas com as manifestações da transferência
na psicanálise. E que o trabalho psicanalítico vai abrindo caminho dentro do inconsciente
do paciente, seu passado vai sendo gradualmente revivido, quanto mais profundamente se
consegue penetrar dentro do inconsciente e quanto mais longe no passado for levada a
análise, maior será a compreensão da transferência e para isto é necessário tomar
conhecimento dos estágios mais iniciais do desenvolvimento humano.
A primeira forma de ansiedade é de natureza persecutória. O trabalho
interno da pulsão de morte, segundo Freud, é dirigido contra o organismo, dando origem
ao medo de aniquilamento, sendo essa a causa primordial da ansiedade persecutória. O
bebê dirige seus sentimentos de gratificação e amor para o seio “bom” e seus impulsos
destrutivos e sentimentos de perseguição para aquilo que sente como frustrador, o seio
“mau”. Nesse estágio, os processos de cisão, negação, onipotência e idealização, são
predominantes durante os 3 ou 4 meses de vida – “posição esquizo-paranóide”, 1946. A
ansiedade persecutória e seu contrário, a idealização, influenciam as relações de objeto
(relação entre 2 pessoas, não entrando nenhum outro objeto).
É próprio da vida emocional do bebê que haja rápidas flutuações entre
amor e ódio; entre situações externas e internas; entre a percepção da realidade e
fantasias sobre ela; um interjogo entre a ansiedade persecutória e a idealização, sendo o
objeto idealizado um corolário do jogo do objeto persecutório, extremamente mau. O
núcleo do superego é o seio da mãe, tanto o bom quanto o mau.
A crescente capacidade do ego de integração e síntese dá origem à
segunda forma de ansiedade, a depressiva. Entre o quarto e o sexto mês a ansiedade
depressiva é intensificada, pois o bebê sente que destruiu ou está destruindo um objeto
inteiro com sua voracidade e agressão incontroláveis e que estes impulsos são dirigidos
contra uma pessoa amada; cuja essência é a ansiedade e a culpa relativa à destruição e
perda dos objetos amados internos e externos.
É nesse estágio que se instala o complexo de Édipo. A ansiedade e a
culpa acrescentam um impulso em direção ao início do complexo de Édipo, aumentando a
necessidade de externalização (projetar) figuras más e internalizar (introjetar) figuras boas;
de encontrar representantes de figuras internas no mundo externo.
O impulsionamento da libido, a crescente integração do ego, das
habilidades físicas e mentais e a adaptação progressiva ao mundo externo, vão levando o
bebê em direção aos novos alvos, dos desejos orais em direção aos desejos genitais.
Para M.K., o auto-erotismo e o narcisismo incluem o amor pelo objeto bom
internalizado e a relação com o mesmo, o qual, na fantasia, constitui parte do corpo e do
self amados. As relações de objeto estão no centro da vida emocional.
Sustenta que a transferência origina-se dos mesmos processos que, nos
estágios iniciais, determinam as relações de objeto. Na análise temos de voltar
repetidamente às flutuações entre objetos amados e odiados, externos e internos, que
dominam o início da infância. A análise da transferência negativa constitui uma
precondição para analisar as camadas mais profundas da mente. A análise tanto da
transferência negativa quanto da positiva é um tratamento indispensável para o tratamento
de todos os tipos de pacientes, crianças e adultos igualmente. Devido às pulsões de vida e
de morte (amor e ódio) estarem na mais estreita interação, a transferência positiva e a
negativa encontram-se basicamente interligadas.
O analista pode representar uma parte do self, do superego, ou qualquer
uma de uma ampla gama de figuras internalizadas. Também supor que o analista
representa o pai ou a mãe real não o levará muito longe, a menos que compreenda qual
aspecto dos pais está sendo revivido. O que é revivido ou torna-se manifesto na
transferência é a mistura, na fantasia do paciente, dos pais como uma única figura “a
figura dos pais combinados”. Estes pais estão combinados numa permanente gratificação
mútua de natureza oral, anal e genital, sendo o protótipo de situações tanto de inveja
quanto de ciúme.
Falar da situação de transferência é falar de situações totais transferidas
do passado para o presente, bem como em termos de emoções, defesas e relações de
objeto.
A concepção de transferência para M.K. é algo enraizado nos estágios
mais iniciais do desenvolvimento e nas camadas profundas do inconsciente, envolvendo
uma técnica através da qual os elementos inconscientes da transferência são deduzidos a
partir da totalidade do material apresentado. O paciente se afasta do analista como tentou
afastar-se de seus objetos primários; tenta cindir a relação com ele, mantendo-o ou como
uma figura boa, ou como uma figura má, deflete alguns sentimentos e atitudes vividos em
relação ao analista para outras pessoas em sua vida cotidiana, e isto faz parte da atuação.
Para ela, M.K., é impossível encontrar acesso às emoções e relações de
objeto mais antigas a menos que se examinem suas vicissitudes à luz de
desenvolvimentos posteriores. Somente através da ligação contínua das experiências mais
recentes com as anteriores e vice-versa, somente explorando consistentemente a
interação dessas experiências é que o presente e o passado podem se aproximar da
mente do paciente. Quando a ansiedade e a culpa diminuem e o amor e ódio podem ser
melhor sintetizados, os processos de cisão, bem como as repressões, atenuam-se,
enquanto o ego ganha força e coesão.
Um dos fatores que levam à compulsão à repetição é a pressão exercida
pelas primeiras situações de ansiedade. Quando as ansiedades persecutórias,
depressivas e a culpa diminuem, há menos premência a repetir continuamente.
Esta pesquisa está centrada nas reflexões da psicanalista Melanie Klein, cuja
teoria, segundo Joanna Wilheim, gravita em torno da noção da parelha-parental-em-coito-
sádico-unida, em função de cuja existência se estruturam todas as psicopatologias, isto é,
modificações do modo de vida, do comportamento e da personalidade de um indivíduo,
que se desviam da norma e/ou ocasionam sofrimento e são tidas como expressão de
doenças mentais.
O fato indiscutível é que, como explica Joanna Wilheim em seus
escritos, qualquer experiência ocorrida no feto, desde a formação de cada uma de suas
células, fica retida em uma matriz básica inconsciente na memória celular. Assim, desde
os primórdios da vida intra-uterina, o feto já pode perceber o som, engolir, sonhar,
reconhecer a voz da mãe, e, em conseqüência, expressar estados emocionais de agrado e
desagrado.
Portanto, da mesma forma que devemos ter o máximo cuidado com nossas
atitudes e com o que dizemos perto de uma pessoa falecida, que de morta não tem nada,
precisamos estar absolutamente atentos com o nosso comportamento durante a gestação.
O que for gravado na memória do feto produzirá conseqüências em toda a sua vida futura.
Reflexões Kleinianas
Esquizofrenia = divisão.
Notas:
1. Segundo Sigmund Freud (1856 – 1939), o Complexo de Édipo verifica-se
quando a criança atinge o período sexual fálico na segunda infância, quando se dá, então,
conta da diferença de sexos, tendendo a fixar a sua atenção libidinosa nas pessoas do
sexo oposto no ambiente familiar. O conceito foi descrito por Freud e recebeu a
designação de complexo por Carl Jung (1875 – 1961), que desenvolveu semelhantemente
o conceito de Complexo de Electra (atitude que implica uma identificação tão completa
com a mãe que a filha deseja, inconscientemente, eliminá-la e possuir o pai).
Interpretação e transferência
Psicanalisar Crianças
O “Jogo”
Expressões do Jogo
Relação Edipiana
Klein demonstra que a relação edipiana é muito precoce. A formação do complexo
de Édipo e do superego -concomitante- o acontecimento que produz o trauma do
desmame conduz simultaneamente ao desencadeamento de pulsões de destruição
dirigidas contra o seio materno e ao aparecimento de um sentimento de culpabilidade,
resultante da interiorização do objeto frustrante que fundamenta o desenvolvimento ulterior
do superego. Se estabelece assim desde os primeiros anos de vida,a ambivalência afetiva
da relação com o objeto que, é a essência do conflito edipiano .
Em relação ao comportamento agressivo destrutivo da criança,o incentivo ao
conhecimento desenvolve-se mesmo antes do surgimento da linguagem a curiosidade
manifesta ou latente do quarto ano de vida marca o seu limiar e não o seu nascimento. Em
ambos os sexos se opera muito cedo uma identificação com a mãe,que está na origem da
fase de feminilidade. No menino manifesta-se muito cedo e até o período de latência um
“complexo de feminilidade” que corresponde segundo Klein ao complexo de castração. Em
outras palavras significa,à consciência da falta do pênis na menina; sucede assim que o
medo da mãe – a qual a criança quis furtar o conteúdo do seu corpo e contra o qual exerce
tendências destrutivas – não e menos forte que o medo do pai.
Após esta fase o menino se identifica com o pai e passa a rivalizar-se com ele
associando ainda de maneira intima, no desejo de possuí-la, tendências destrutivas e
tendências reparadoras. Na menina segundo Klein o desejo de receber o pênis,fonte
ilimitada de satisfação,seguindo este desejo à frustração constituída pelo desmame. Como
resultado desta frustração,o seio se torna objeto de tendências destrutivas e o pênis o bom
objeto da satisfação do qual a mãe se apropriou do pênis a priva.
Assim se observar que na menina,paralelamente a um desenvolvimento
psicossexual mais precoce a presença de um superego,quer dizer;de princípios
morais,particularmente rigoroso e sádico. No adulto o acesso à organização genital da
libido é mais problemático e mais diretamente submetido às exigências do superego na
mulher do que no homem. Mélanie no tratamento analítico das neuroses infantis, portanto
insistiu em afirmar que na precocidade das tendências destrutivas, e também pôs em
evidência a mesma precocidade do mecanismo de interiorização que está na base do
desenvolvimento do superego. Portanto o significado do complexo de Édipo a partir do
sexto mês sofreu uma profunda modificação.
Conclui-se logo que as primeiras relações objetivas que se adquirem logo ao
nascimento determinam essencialmente o desenvolvimento ulterior do psiquismo. Assim a
partir do nascimento a criança tem no seio materno o objeto de suas tendências
fisiológicas à “pulsão sexual. Do mesmo modo a partir do nascimento a criança,se exerce
as pulsões de vida e as pulsões de destruição,e é a partir dos primeiros meses de vida que
este fenômeno tem mais força. Assim a partir deste ponto, o fenômeno construtivo da vida
psíquica;são o caráter inato das tendências destrutivas ou “sádicas” e o seu investimento
imediato no objetivo da frustração.
Posição Paranoide
O único e mesmo objeto que gratifica e que frustra se divide num bom objeto e
num mau objeto, representações das pulsões de vida e de frustrações. Os primeiros
quatro meses de vida são aqueles em que as angustias infantis exprimem o medo da
destruição pelo mau objeto. Mélanie dar a esta forma de organização da vida psíquica no
seu primeiro estádio o nome de “posição paranoide”.Aqui o superego,neste período,
provavelmente ele é mais cruel. O) medo de ser destruído pelo mau objeto interiorizado
produz na criança o medo de perder objeto gratificante como punição pelos maus tratos
exercida contra ele .Cada saída da mãe,cada ausência reproduz esta situação de angústia
e produz mecanismos de defesa que definem a “posição depressiva”Este mecanismo de
defesa fazem da posição depressiva uma forma de organização da vida psíquica
inteiramente semelhante à que apresenta o quadro clinico das psicoses (maníacas
depressivas) atualmente conhecidas com transtornos bipolar. A posição depressiva
decresce progressivamente no decurso do primeiro ano de vida,quando se forma o
complexo de Édipo que modifica a relação da criança com a mãe .Klein utilizou o termo
“posição” para designar as duas formas mais antigas da vida psíquica ressalta o caráter
repetitivo destes modos de relação de objetos em cada estádio do desenvolvimento
ulterior .Em 1934 em artigo atribuído à formação dos estados maníaco-depressivos
(bipolar) ,com algumas modificações feitas em 1952 em uma artigo sobre a vida emocional
do recém-nascido,em que o termo “posição paranoide – esquizoide” é adaptado,esta teoria
do primeiro desenvolvimento psíquico da criança. nunca foi posta em profundidade por
Mélanie Klein. Ela passou a insistir sempre no caráter gratuito do sadismo infantil e na
realidade fantasmática da “má mãe”
Comentário
reparação (psicologia)
Teoria
A criança, ao nascer, vem como um ser frágil, como um ser familiar, inédito. Dessa
forma, há a necessidade da reorganização do tempo, do espaço, dos sentimentos e das
expectativas. Então, de acordo com a hospitalidade recebida e com a relação
desenvolvida entre o novo sujeito, a mãe e o pai (ou quem assuma a função dos
cuidadores) estruturarão o psiquismo do sujeito.
Nos primeiros meses após o nascimento, a mãe (ou quem exerça a função
materna), possui a função de ego auxiliar da criança. Dessa forma, o narcisismo deve ser
alimentado pela mãe em relação ao bebê, pois tal investimento é fundamental para a
construção de uma auto-imagem positiva. Além disso, é fundamental que a mãe e os
demais cuidadores alimentem a questão narcísica não só através do amor, carinho e
atenção destinadas à criança, mas também através da estimulação adequada e
necessária para o desenvolvimento físico e psicossocial desse sujeito. Entretanto, para a
estruturação do psiquismo neurótico, é imprescindível a frustração da questão narcísica no
sentido de mostrar para a criança limites e o entendimento de que no mundo não deve
imperar somente o seu desejo. Portanto, é através das frustrações que o sujeito irá
aprender a canalizar os seus desejos, e assim, poderá desenvolver e vivenciar a ética em
relação aos seus desejos e ao outro.
As brincadeiras oferecem uma maneira de entrar no universo infantil. Através do
brincar, a criança acelera seu desenvolvimento. Através dessa atividade, ela aprende a
fazer, a conviver e, sobretudo, aprende a ser. Além de instigar curiosidade, a autoconfiança
e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da
concentração e da atenção.
É importante esclarecer que brinquedo, brincadeira e jogo são termos que podem
se confundir de acordo com o idioma utilizado. Em Português, brincar refere-se a uma
atividade lúdica não estruturada. Segundo Vygotsky (1991), a brincadeira é uma situação
imaginária criada pela criança e onde ela pode, no mundo da fantasia, satisfazer desejos
até então impossíveis para a sua realidade. A brincadeira é simbólica, livre, não
estruturada e tem um fim em si mesma, pois trata-se da brincadeira pelo prazer de brincar.
Entretanto, todo tipo de brincadeira pode estar embutido de regras, pois a criança
experimenta e assume as regras pré-estabelecidas e comportamentos baseados nas suas
vivências. Dessa forma, o brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, pois os processos
de simbolização e representação levam ao pensamento abstrato.
O ato de brincar, além de proporcionar um melhor desenvolvimento, pode também
incorporar valores morais e culturais, e assim, a criança será preparada para enfrentar o
meio social.
É através das brincadeiras espontâneas que o ocorre o desenvolvimento da
inteligência e das emoções, e assim, as crianças desenvolvem a sua individualidade,
sociabilidade e vontades. A brincadeira é importante para incentivar não só imaginação e
afeto nas crianças durante o seu desenvolvimento, mas também para auxiliar no
desenvolvimento de competências cognitivas e sociais.
A participação nas brincadeiras em grupo também representa uma conquista
cognitiva, emocional, moral e social para a criança e um estímulo para o desenvolvimento
de seu raciocínio lógico. “A criança que brinca investiga e precisa ter uma experiência total
que deve ser respeitada. Seu mundo é rico e está em contínua mudança, incluindo-se nele
um intercâmbio permanente entre fantasia e realidade” (ABERASTURY, 1992. p. 55).
Através das brincadeiras em grupo, a criança aprende a conviver em grupo,
desenvolve sentimentos de afetos, respeito. Segundo Melanie Klein (1997), ao brincar, a
criança pode representar simbolicamente suas ansiedades e fantasias e expressar seus
conflitos inconscientes procurando superar experiências desagradáveis.
Os pais ou as pessoas que cuidam da criança têm fundamental influência no
desenvolvimento dela, pois é durante muito tempo, o espelho da criança para que ela
construa os seus recursos psíquicos para o enfrentamento da vida. Além disso, os
cuidadores são os responsáveis por proporcionar a criança meios que estimulem o
desenvolvimento da criança como um todo. Através do equilíbrio entre as relações de
apego desenvolvidas com os pais e a resolução do Édipo a criança começa a construir a
sua personalidade, que também sofre influência da cultura, da forma como a família e a
sociedade tratam de forma diferenciada os sexos, os papéis sociais atribuídos.
Além dos fatores influenciadores já apresentados, é interessante explicitar que os
irmãos e a convivência com outras crianças também influenciam no desenvolvimento
psicossocial. A convivência com os irmãos pode influenciar de maneia positiva ou negativa,
dependendo da postura dos pais diante dessa situação, principalmente no que diz respeito
a “dividir o que têm” e ao ciúme. A convivência com outras crianças também se desenvolve
nesse mesmo viés e também faz parte do mundo social da criança, até porque as crianças
demonstram, principalmente após um ano de vida, interesse por pessoas que não são de
dentro de casa, especialmente as do mesmo tamanho que elas.
O paciente traz para a sessão elementos de experiências oriundas da realidade
socialmente sustentada e os usa como elementos de enriquecimento e transformação no
campo transicional, com efeitos no mundo interno. A sessão sem que haja alucinação vira
um espaço de passagem entre o mundo interno e o mundo externo, com duplo sentido,
com potencial de criar ou recriar a transicionalidade infantil. Há interpretação dos fatos
externos e internos e até uma manipulação deles a partir da experiência criada na sessão.
Em O brincar e a realidade, Winnicott fala de um paradoxo quanto trata de
fenômenos transicionais e espaços potenciais. Ele apela contra o intelectualismo: “Minha
contribuição é solicitar que o paradoxo seja aceito, tolerado e respeitado, e não que seja
resolvido. Pela fuga para o funcionamento em nível puramente intelectual, é possível
solucioná-lo, mas o preço disso é a perda do valor do próprio paradoxo. (WINNICOTT,
1975, p.10). Temos, portanto que “o brincar é essencial porque é através dele que se
manifesta a criatividade” (Op. cit., p.80).
Em Lacan, o brincar é entendido como um ato, surgido como efeito da
estruturação significante do Sujeito. O que importa é o brincar e não propriamente o
brinquedo, pois o brincar faz a criança querer conhecer o outro.
Teve muitas perdas em sua vida. Perdeu o irmão aos 4 anos de idade, aos 18
perdeu o pai e aos 21 o irmão. Conhece a psicanálise aos 35 anos apenas. Se casa com
um engenheiro químico e muda-se para Budapeste. Conhece a obra de Freud e inicia
terapia com Ferenczi por um ano e meio. Até então, tinha crises depressivas, relações
conturbadas e sumiços. Ferenczi sugere que ela atenda crianças. Seu primeiro paciente é
o próprio filho a quem ela se refere como Fritz (seu nome era de fato Erik). Ele tinha 7
anos e dificuldades de aprendizado por razões emocionais. Muda para Berlim e passa a
fazer análise com Karl Abraham, que morre em seguida. Klein se isola e cria uma inimiga,
Helgh Hellmuth.
É convidada a permanecer em Londres depois de uma palestra em que tratou de Fritz.
Com a vinda de Freud para Londres, cria-se dois grupos: o de Klein, onde a criança pode
ser analisada desde muito cedo, no mesmo modo dos adultos (transferência, inconsciente,
etc) e o grupo de Anna Freud que afirmava não haver transferência antes da resolução
Edipiana.
Klein usava brincadeiras para acessar o inconsciente infantil. Associação livre a partir dos
2,5 anos.
A teoria de Anna Freud dá origem à Teoria do Ego (Americana) que visa a adaptação.
A teoria de Klein diz respeito a duas pulsões: de vida (gratidão) e de morte (inveja).
Enquanto Freud falava de fases de desenvolvimento da libido, Klein falava das posições
de desenvolvimento da libido.
O ego já está presente no início da vida, para Klein. É um ego primitivo, arcaico. O
mecanismo de defesa da criança nessa fase é (uma idéia de) onipotência, introjeção,
idealização, negação, cisão e projeção.
Posição Depressiva
- ego integrado
- objeto total (que ama e também odeia)
- culpa (é preciso reparar o estrago)
- surgimento da ambivalência
- se intera que é um ser separado da mãe
- defesa: mania, impotência, melancolia
- aqui se dá o início do Complexo de Édipo quando a criança se dá conta que é excluída
p. 282 – o objeto bom passa a fazer parte do bebê. O bebê tem uma consciência inata da
existência da mãe.
p. 284 – a introjeção traz tudo para dentro de si (da criança)
p. 288 – a voracidade ligada à introjeção. A inveja também ligada a introjeção (“mamãe
não me dá o peito porque ela não quer).
Obs – Klein organizou primeiro a posição depressiva depois a esquizo-paranóide
A mãe traz todo o universo do bebê: ela é o pênis do bebê. Na posição depressiva porém,
o pai e a mãe se juntam contra o bebê: pais combinados. Qualquer desconforto, o bebê se
sente ameaçado e contra-ataca com suas armas, fezes e flatulência (vulgo pum, peido,
gases...que na classe tem muito).
Durante nossas vidas, sempre buscamos voltar àquela UNIDADE iniciada no útero e
prolongada pela fase esquizo-paranóide até os 6 meses. Nesta primeira fase, esta unidade
tem momentos de cisão, até que na depressiva este rompimento é definitivo e causa um
sentimento de culpa no bebê.
As meninas invejam o pênis do pai. Os meninos invejam o útero materno (por gerar vida).
Meninas e meninos: primeiro objeto de amor é a mãe. Meninas se dão conta que a mãe
não tem o pênis e se vira ao pai que também as rejeitam. Volta de novo à mãe.
Luto
Objetos internos: construímos pelas experiências de fora, nosso mundo interno. Isto se dá
por meios de fantasias permeadas (e inconscientes). Ao internaliza-las se tornam
inacessíveis conscientemente pela criança.
Ao surgir a posição depressiva, o ego cria instrumentos para lidar com o desejo pelo objeto
externo. Mecanismos maníacos. Ansiedade depressiva: medo do ego ser destruído.
O bebê idealiza um seio superpoderoso. Esta idealização também esta ligada à negação.
A negação de que este seio não é seu.
Objeto transacional
Brinquedos, objetos que a criança leva para todo lugar. É um objeto que ela escolhe e que
representa a transição de dependência absoluta para a relativa e depois total. A criança
quando acha outras fontes de amor, vai deixando este objeto de lado. É uma ponte do
mundo interno para o externo.
Algumas pessoas são impedidas de entrar em contato com seu SELF verdadeiro,
desenvolvendo assim um falso. A pessoa não entra em contato com seu potencial inato
(filme ZELIG, Woody Allen)
O analista para Winnicott deve funcionar como a mãe suficientemente boa.
Escolhemos nossos objetos de 2 maneiras: