Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RELATÓRIO
Contrarrazões apresentadas.
É o relatório.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO
GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO
VOTO
Passo ao mérito.
AC510192-RN
V2
“No exame do tema, observo que a tese deduzida pela autora não merece
ser acatada. Com efeito, tenho o entendimento de que a cláusula do saldo
residual é nula, pois estabelece obrigação que coloca o mutuário em
desvantagem exagerada, excessivamente onerosa, violando os preceitos
contidos no art. 51, inciso IV e § 1º, inciso III, da Lei nº 8.078/90. No caso
em estudo, a leitura dos números já revela, no meu modesto sentir, essa
realidade, pois após o pagamento regular das 180 prestações do mútuo, de
30.11.1987 a 30.10.2002 (cf. fls. 30 a 45), o imóvel foi avaliado pela própria
Caixa Econômica Federal em R$ 170.365,50 (fl. 92), na data de 26.11.2002,
subsistindo uma dívida de R$ 269.230,40, em 30.11.2002, com a primeira
parcela a ser paga no montante de R$ 6.007,26 (cf. fl. 95). Na verdade, o
critério de atualização monetária utilizado pela CEF para reajustar o saldo
devedor, qual seja, a Taxa Referencial (TR), acarreta tais disparidades, em
razão da contradição ocasionada pelo galope incessante do saldo devedor
da operação financeira, em detrimento do resguardo da capacidade de
adimplemento dos mutuários, dada a aplicação de índices muito maiores do
que os repassados às prestações mensais previstos no contrato original, que
findam sem albergar, sequer, a quitação dos juros incidentes sobre o capital
despendido no empréstimo.
AC510192-RN
V3
Não é aceitável a imputação ao mutuário de todos os riscos que envolvem o
negócio jurídico firmado, enquanto a instituição financeira fica
salvaguardada de contínuas oscilações da economia e dos índices
financeiros. (...) Tais asseverações repercutem na cláusula que impõe, ao
termo do prazo de amortização, pagamento de resíduo. (...) A cláusula de
resíduo, da forma como atualmente evolui o saldo devedor, transforma
mesmo o contrato de mútuo/compra e venda em contrato de aluguel
perpétuo, haja vista que, não tendo o mutuário como saldar o débito
residual, perderá o imóvel que acreditava estar adquirindo a cada prestação
adimplida. Considerando a finalidade do contrato de mútuo, que consiste na
transferência da propriedade do bem imóvel ao mutuário, restaria, o
referido tipo contratual, descaracterizado diante da insolvabilidade
crescente imputada ao prestamista, insolvência que implicará na não
transferência da propriedade da coisa fungível. (...) Acredito, em verdade,
que a cláusula de resíduo não evita a exacerbação das prestações, mas
apenas transfere a exacerbação - não autorizada pela regra da equivalência
salarial - ao saldo devedor, sem que o mutuário tenha compreensão desse
deslocamento. Realce-se que, diante da função social atribuída ao Sistema
Financeiro de Habitação, escudada mesmo no direito à moradia e no fato de
não se buscar, pela via do sistema, lucro imobiliário, não seria razoável
exigir-se do mutuário preço de mercado. Se devesse valer a regra de
mercado, concernente à iniciativa privada, o sistema financeiro de
habitação não encontraria justificativa de existir.
AC510192-RN
V4
4- Obviamente haverá descompasso entre o reajuste do saldo devedor e o das
prestações, se não forem utilizados os mesmos índices de correção para um e
outro, por essa razão é que havia previsão de cobertura do FVCS para que
este pudesse arcar com o saldo residual decorrente desse descompasso ao
final do contrato. 5- Assim, é possível a intervenção do Judiciário para,
considerando a onerosidade excessiva do contrato, decorrente da errônea
sistemática de amortização de juros e saldo devedor de que se vale a
instituição financeira, bem como considerando a irrealizabilidade da
quitação do débito residual, promover a revisão contratual e considerar
quitado o contrato, sem necessidade de pagamento de débito residual,
quando restar demonstrado no caso concreto que o mutuário cumpriu com
todas as suas obrigações contratuais e, a despeito disso, restou saldo residual
irrealizável. 6- Apelação dos demandantes provida; Apelação da EMGEA
prejudicada. (TRF-5ª R. - AC 2007.83.00.006856-7 - (445514/PE) - 2ª T. -
Rel. Des. Fed. Manoel de Oliveira Erhardt - DJU 03.09.2008 - p. 502)
É como voto.
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO
GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO
EMENTA
AC510192-RN
A2
ACÓRDÃO
Vistos, etc.