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7 – Engenharia de reactores catalíticos heterogéneos.

Neste capítulo irão ser abordados um conjunto de questões que estão


associadas com a realização prática de reacções catalíticas
heterogéneas, isto é, os aspectos relacionados com o
funcionamento de reactores catalíticos heterogéneos

O estudo da cinética intrínseca das reacções, isto é, aquela que é


determinada apenas por passos de natureza química, é a base da
engenharia de reactores catalíticos.
Outro aspecto intimamente relacionado, consiste na interacção entre
fenómenos de transporte e reacção química. Estas interacções podem
ter efeitos pronunciados nas velocidades reaccionais e nas
selectividades obtidas em reactores, pelo que devem ser levadas em
linha de conta quando se efectua o seu dimensionamento. Este aspecto
é particularmente importante quando se pretende efectuar o “scale up”
de reactores industriais (ou mesmo à escala piloto) com base em dados
obtidos em reactores laboratoriais possuindo pequenas dimensões.

7.1 – Reactores Industriais

Em qualquer processo industrial (e os processos industriais de


natureza química não constituem excepção), pretende-se produzir, com
o máximo de rentabilidade (tendo em conta os investimentos
efectuados e os custos de produção), um dado produto (ou uma gama
de produtos), a partir de um dado conjunto de matérias-primas.

Idealmente, o objectivo consistirá na máxima produção de um dado


produto (em quantidades estabelecidas pela análise de mercado), de
forma segura, ao mais baixo custo de produção possível e com um
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rendimento de 100% (100% conversão e de selectividade), com o menor
consumo de energia possível e sem qualquer impacto ambiental
negativo.

Irão ser apresentados os diversos tipos de reactores mais utilizados


industrialmente, sendo de seguida estabelecidas as equações de
dimensionamento (balanços mássico e entálpico) para reactores ideais.

7.1.1 – Tipos de reactores quanto ao tipo de operação

Podem classificar-se os reactores químicos, quanto ao tipo de


operação, do seguinte modo:

a) reactores descontínuos (reactores descontínuos com agitação


- “batch”)

Este tipo de reactores é utilizado quer em sistemas reaccionais


homogéneos (existência de uma única fase reaccional) ou
heterogéneos – reagentes constituindo uma fase e um catalisador
sólido (com algumas adaptações).

É normalmente empregue na produção de compostos com elevado


valor acrescentado, com pequenas produções (volumes da ordem dos 5
a 10 m3). Possuem um sistema de agitação de elevada eficiência, que
deve garantir a homogeneidade em todo o volume do reactor.

Trocas de calor com o exterior são asseguradas pela existência de uma


camisa externa, na qual pode circular vapor de água, água de
arrefecimento ou um fluido térmico, e cujo funcionamento pode ser
complementado com serpentina(s) internas.
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(ii) reactores contínuos

São normalmente empregues em processos que exijam elevadas


produções. São compatíveis quer com processos homogéneos quer
com processos heterogéneos.

a) Processos homogéneos

Existem diversos tipos de reactores contínuos utilizados em processos


homogéneos:

- reactor contínuo com agitação, “Continuos Stirred Tank Reactor",


CSTR;

- reactor tubular, (com escoamento tipo pistão" – "plug flow


reactor”;

- reactores tipo “buble-column” ou “spray-column”

Os reactores CSTR são normalmente utilizados em processos em fase


líquida ou em reacções gás-líquido, em que as trocas de calor com o
exterior não são muito importantes (razão Sext/Vol é baixa).
São utilizados em processos tais como hidrogenações, carbonilações,
oxidações e polimerizações.

Os reactores tubulares são normalmente utilizados em reacções em


que as trocas de calor podem ser importantes (razão S ext/Vol é elevada)
sendo principalmente utilizados em reacções em fase gasosa, que
podem ocorrer a pressão elevada.

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Reactores tipo “buble-column” ou “spray-column” são reactores
aplicados em processos gás-líquido, em que se pretenda um aumento
do coeficiente de transferência de massa do componente gasoso para o
reagente líquido. Os reactores em “spray column” são particularmente
adaptados a processos em que existam elevados caudais de gás
(absorção de CO2 ou de H2S – torres de lavagem) ou em que a fase
líquida apresente elevada viscosidade.

b) Processos heterogéneos

A maior parte dos sistemas reaccionais usados em processos


homogéneos pode ser utilizado (por vezes com algumas adaptações),
em processos heterogéneos.

Dada a sua especificidade apresentam-se os seguintes tipos de


reactores utilizados em processos heterogéneos:

Reacções em fase gasosa:

- reactor de leito fixo (reactor mais frequente; adaptado a


processos com desactivação muito lenta; no caso de processos
em que as trocas de calor são importantes, podem configurar-se
em sistemas multitubos colocados no seio de fluidos térmicos)
- reactor de leito móvel (adaptado a processos de desactivação
relativamente lenta)
- reactor de leito fluidizado/”entrained flow”(adaptado a processos
em que os fenómenos térmicos atingem grande dimensão e/ou
em que a desactivação é extremamente rápida – FCC)
- monolitos (catálise ambiental)

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Reacções em fase líquida:

- reactores “slurry” (algumas variantes consistem, por exemplo,


na colocação das partículas de catalisador no interior das pás do
sistema de agitação ou colocação do catalisador em leito fixo,
sendo a mistura reaccional forçada a passar através dele, pelo
sistema de agitação - reactor Berty).

7.2 – Reactores ideais. Balanços mássicos e entálpicos

Para cada um dos tipos de reactores ideais (descontínuo, CSTR e


tubular/pistão) é possível definir equações de dimensionamento,
envolvendo equações de balanço mássico (ou molar) a uma dada
espécie e equações de balanço entálpico.

7.2.1 – Balanços mássicos

7.2.1.1 - Definições (A + B  C)

velocidade da reacção – variação do número de moles dum reagente


(ou produto) por unidade de tempo e de volume

1 dn A
(-rA) = - . velocidade de desaparecimento do
V dt
reagente A
1 dn C
rC = . velocidade de formação do produto C
V dt

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efeito de concentração (lei de acção de massas) (-rA) = kr CA CB
 ,  - ordens parciais em relação a A e a B
kr – constante de velocidade

efeito da temperatura (lei de Arrhenius) k = A.exp(-Ea/RT)

A – factor pré-exponencial
Ea – energia de activação

conversão – fracção de moles de reagente que se transformam

 nA  0 -  nA  número total de moles de A transformados


XA = 
 nA  0 número inicial de moles de A

selectividade - (A  B)
 C

número de moles de A transformados em B


sB - número total de moles de A transformados

rendimento

número de moles de A transformados em B


yB - número inicial de moles de A

yB = s B . x A

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7.2.1.2 – Expressão geral da lei de conservação de massa

{moles de A que entram/tempo} - {moles de A que saem/tempo} 


{moles de A que reagem/tempo} - {moles de A acumulados/tempo}

- em estado estacionário, o termo de acumulação é nulo


- para os reactores descontínuos (ou fechados) os termos
correspondentes à entrada e à saída são nulos

7.2.1.3 – Aplicação do balanço mássico aos reactores descontínuo com


agitação, contínuo com agitação e tubular/escoamento tipo pistão

i) reactor descontínuo com agitação (“batch”)

moles de A que reagem/ molesde A acumulados/


 =-  
 /tempo   /tempo 
dnA
(-rA) V = - dt
dX A nA
(-rA) V = nA0 e (XA = 1- n )
dt A0
XA
dX A
t = na0 
0
(rA ) V

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ii) reactores contínuos

{moles de A que entram/tempo} - {moles de A que saem/tempo} 


{moles de A que reagem/tempo}

Definição – Fluxo Molar (ou caudal molar): FA = QV . CA

Reactor CSTR

FA0 - FA = (-rA) V FA0 XA = (-rA) V

FA 0 X A
V=
rA

Reactor Tubular com escoamento Pistão


XA XA+dXA

FA|V) FA|V+V)

V V+V

FA(V) - FA (V+V) = (-rA) . V

FA (V) - FA (V  ΔV)
 (-rA )
ΔV

 F (V  Δ V)  FA (V)  dF
lim  - A  - A
ΔV  0  ΔV  dV

dFA dX A
- = (-rA ) FA 0 = (-rA )
dV dV
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XA
dX A
V = FA 0  (-rA )
0

Reactor heterogéneo com escoamento tipo pistão (reactor de leito fixo)

 velocidade da reacção vem expressa por unidade de massa de


catalisador e por unidade de tempo

dFA dX A
- = (-rA ) FA 0 = (-rA )
dW dW

XA
dX A
W = FA 0 (-rA )
0

7.2.2 – Balanços de energia (balanços entálpicos)

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7.2.2.1 – Expressão geral da lei de conservação de entalpia

{entalpia que entra/temp o} - {entalpia que sai/tempo}  {entalpia transferida/tempo} 


 {entalpia acumulada/tempo}

7.2.2.2 – Aplicação do balanço entálpico aos reactores descontínuo com


agitação, CSTR e tubular/pistão

i) reactor descontínuo com agitação (“batch”)

{entalpia transferida/tempo}  {entalpia acumulada/tempo}

U A (Tex - T) = Hr (r V) + m cp dT/dt (supõe-se cp médio)

U A (Tex - T) = Hr (V0 CA0) dXA/dt + m cp dT/dt

Se o reactor é adiabático, o termo de energia transferida é nulo

m cp dT = - Hr (V0 CA0) dXA

T = T0 - Hr (V0 CA0) XA

ii) reactores contínuos

{entalpia que entra/temp o} - {entalpia que sai/tempo}  - {entalpia transferida/tempo}


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CSTR

Ft cp (Ts - Te) + Hr (rA V) = U A (Text - T)

Ft cp (Ts - Te) + FA Hr XA = U A (Text - T)

reactor adiabático

Ft cp(Ts - Te) + FA0 Hr XA = 0

Ts = Te + FA0 Hr XA/ Ft cp

Reactor tubular com escoamento tipo pistão

Ft cp dT + Hr (rA dV) = U (Text - T) dA

Ft cp dT + Hr FA0 dXA = U (Text - T) dA

reactor adiabático

Ft cp dT + Hr FA0 dXA = 0 et V = 0, T = Te, XA = 0

T = Te + Hr (FA0/Ft) dXA


7.3 - Determinação experimental de parâmetros cinéticos

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O desenvolvimento de qualquer processo catalítico visa, em última
análise, a maximização da velocidade da reacção que conduz á
formação do produto desejado

Se a primeira abordagem a uma tal questão implica um estudo prévio


de um conjunto de sistemas catalíticos que apresentem alguma(s)
característica(s) que os indiciem como potencialmente interessantes
(muitas vezes trata-se de uma pré-selecção por tentativa-erro ou,
nalguns casos mais recentes, aplicando técnicas de catálise
combinatorial), a fase seguinte consiste na avaliação detalhada
daqueles catalisadores que se revelaram mais interessantes.

A este tipo de abordagem segue-se, normalmente, a necessidade de


efectuar um "scale-up" com vista à posterior aplicação industrial destes
catalisadores. Para isso torna-se necessário conhecer com detalhe os
parâmetros cinéticos do sistema reaccional, para o que têm de ser
utilizados meios adequados para a obtenção das velocidades de
reacção para gamas alargadas de temperatura, pressões parciais (ou
concentrações) de reagentes, tempos de contacto.

7.3.1 - Tipos de reactores usados em estudos cinéticos

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A escolha de um reactor com vista à obtenção de dados cinéticos deve
ter em linha de conta os seguintes aspectos principais:
 os valores experimentais das velocidades reaccionais devem ser
obtidos em condições tais que os fenómenos de transporte
sejam desprezáveis;
 devem-se escolher reactores em que seja assegurado um
funcionamento ideal, cuja modelização é mais simples: reactores
perfeitamente agitados (descontínuos ou contínuos) ou reactores
tubulares com escoamento tipo pistão - "plug-flow";
 devem funcionar em condições isotérmicas e isobáricas; se tal
não for possível, deverão ser estabelecidos perfis de temperatura
e pressão no reactor;
 dever-se-à optar por reactores contínuos sempre que se
pretendam estudar eventuais fenómenos de desactivação

7.3.2 - Reactor tubular com escoamento tipo pistão - reactor de leito fixo

Constitui o tipo de reactor mais utilizado em estudos cinéticos com


catalisadores heterogéneos.
Utilizam-se, à escala laboratorial, reactores constituídos por tubos em
"pyrex" ou em quartzo (para temperaturas superiores a 530ºC) ou ainda
em aço inox 316 SS (ou superior), com diâmetros internos entre 1 a 2
cm e possuindo uma cânula para medição da temperatura junto ao leito
catalítico.

O catalisador (partículas com dp<1 mm) é colocado sobre um


sinterizado, de forma a não ocorrer a passagem de fluxo através de
caminhos preferenciais.

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A alimentação ao reactor deve ser feita em condições tais que a pureza
dos reagentes (ex: contaminações com H 2O) e a constância do seu
caudal estejam assegurados.

A saída do reactor deverá estar ligada ao equipamento de análise "on


line"(tipicamente um GC ou GC/MS); a tubagem de transferência deverá
estar aquecida de forma a evitar a ocorrência de eventuais
condensações.

Os estudos cinéticos ocorrerão a diferentes temperaturas, pressões


parciais de reagentes e velocidades espaciais.

FA0 dXA = (-rA) dW

Se o reactor funcionar a conversões do reagente limitante inferiores a


10%, considera-se que a velocidade da reacção é independente da
conversão (não ocorrem variações significativas das pressões parciais
de reagentes, importância de reacções secundárias é minimizada) -
reactor diferencial:

W = FA0 XA / (-rA)

7.3.3 - Aspectos a ter em linha de conta nos ensaios catalíticos


realizados com vista à obtenção de dados cinéticos
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Alguns aspectos deverão ser salientados, no funcionamento de
reactores de leito fixo, com vista à obtenção de dados cinéticos:

- a utilização de caudais muito baixos poderá levar à ocorrência


de limitações difusionais externas (L.D.E.) à transferência de
massa e de calor;
- com a utilização de partículas de catalisador de maior dimensão
podem ocorrer L.D.E. e, principalmente, limitações difusionais
internas (L.D.I.) à transferência de massa e de calor;
- podem ocorrer (no caso de reacções envolvendo importantes
trocas de calor) elevados gradientes térmicos ao longo de leitos
catalíticos de maiores dimensões;

Neste último caso, a isotermicidade do reactor pode ser aumentada


quer diluindo o catalisador num inerte com elevada condutividade
térmica, quer utilizando reactores metálicos colocados em fornos com
circulação forçada de um fluido térmico.

Dado que o que se mede, experimentalmente, são as concentrações à


entrada e à saída do reactor, a velocidade da reacção é calculada pela
aplicação de um modelo (p.e., reactor "plug flow"). Neste caso é
necessário confirmar que este modelo é respeitado:

NRe(leitos porosos) > 10:


dtubo/dpartícula > 10; Lleito/dpartícula > 50

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