Você está na página 1de 1

Faculdade Alfredo Nasser

Curso: Letras (1º Período)


Disciplina: Leitura e Produção de Texto
Prof.ª Sandra Regina
Aluno: Miquéias Jacinto de Deus

O sorriso de Mona

Foi no verão de 1965 que Muhammad Mereb (conhecido por “Turco”), casou-se com a
bela goiana, Helena Abdon (que desde então herdou o sobrenome Mereb). Muhammad era
libanês (apesar do apelido) e vivia em terras tupiniquins há 15 anos. Era proprietário de um
armazém o qual lhe concedeu certa prosperidade. Estava perto de completar meio século de vida
quando conheceu Helena e não levou seis meses para que se casassem. Helena era a mais
sublime das mulheres brasileiras que qualquer um jamais viu. Jovem, de pele fina e lisa, morena,
com cabelos negros e olhos como de um raro diamante de cor preta. Tinha a metade da idade do
marido, e estava apaixonada pelo “príncipe das arábias” (era como carinhosamente o chamava).
Pouco depois de completarem 1 ano de casados, Helena deu à luz uma graciosa menina:
Monalisa Aisha Mereb.
Mona (como chamavam a menina) era como uma cópia da mãe (com exceção do nariz,
que certamente puxara do pai). Cresceu gozando da boa reputação (e riqueza) do pai, frequentou
os melhores colégios (nunca os católicos), aprendeu desde cedo o francês e o libanês (línguas
paternas), e fora religiosamente educada segundo a fé islâmica. Quando alcançou seus 18 anos
optou pelo uso do hidjab (uma roupa de uso generalizado no mundo mulçumano que encobre os
cabelos e o colo com um véu, mas que não esconde o rosto), o que lhe rendeu alegres abraços do
pai, e olhos curiosos dos vizinhos.
Dentre os mais curiosos havia um, o qual Mona verdadeiramente se importava com a
opinião: Lídia Teixeira. A garota completara 18 anos pouco antes de Mona, não era muito alta,
tinha pele morena e olhos esverdeados, como aqueles que hipnotizam qualquer menino, e que,
sem entender muito porque, conquistaram o coração, e domaram a mente de Monalisa Mereb. As
vizinhas eram grandes amigas, brincavam juntas desde que eram recém-nascidas, mas fora no
colegial que um sentimento novo germinou entre elas. Estavam apaixonadas.
O destino quis que Mona e Lídia fizessem faculdade juntas. Tornaram-se excelentes
enfermeiras, e resolveram que trabalhariam no mesmo hospital. O relacionamento mais íntimo
era escondido do mundo, de forma que todos que as olhavam se admiravam do que pensavam se
tratar, simplesmente, de uma amizade exemplar. Não poderia ser assim para sempre. E não foi.
No aniversário de 26 anos de Mona, o velho Muhammad (agora com 75 anos) aproveitou
a ocasião para dar uma “boa notícia” a sua querida filha: - “Mona, eu já estou velho e não sei por
quanto tempo mais Ala, nosso único Deus, me quererá ainda nesta terra. Não quero partir sem ter
a certeza de que você ficará bem. Mas o bom Deus se agradou de nós e enviou-lhe o cuidado que
você merece. Malik Rassi aceitou se casar com você”.
Malik era um jovem e promissor médico em Goiânia; era bonito e alto, tinha ascendência
libanesa e seguia fielmente os princípios de fé do Corão. Mona gostava de Malik como a um
amigo, mas casar-se com ele!? Seu coração pertencia a outro (no caso a outra). Ela olhou a todos
os que estavam em sua festividade, Helena sua mãe, Malik e seus familiares, Lídia, os vizinhos,
e o velho pai, que devotara uma vida toda ao bem estar de sua família, que amara sua filha acima
de qualquer pessoa, e que sofria por ver um enfisema pulmonar abreviar sua notória tradição
familiar. Mona entendia a situação, e como se o tempo parasse por alguns instantes, tudo o que
fez foi sorrir... Um sorriso, que respondia e aquecia agradavelmente ao coração de Mereb-pai,
que instigava a sábia e apreensiva mãe-Helena, que prazenteiramente fez brilhar os olhos
marejados de Malik, e que tremulou os lábios rosados de Lídia no que parecia um leve riso
complacente.

Você também pode gostar