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Poder Judiciário da União
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão : 3ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20130110900055APC
(0023231-33.2013.8.07.0001)
Apelante(s) : BANCO DO BRASIL S/A
Apelado(s) : RODOPAX TRANSPORTES E TURISMO
LTDA
Relator : Desembargador SILVA LEMOS
Revisor : Desembargador GILBERTO PEREIRA DE
OLIVEIRA
Acórdão N. : 837878

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. PRELIMINAR
DE FALTA DE INTERESSE DE AGIR. REJEITADA. PROVA
DIABÓLICA. RECONHECIMENTO DA OBRIGAÇÃO DO
BANCO EM GUARDAR OS REGISTROS DE SEUS
CORRENTISTAS. PRETENSÃO RESISTIDA PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
CABIMENTO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
1. Não comprovada a disponibilização dos documentos por
parte da instituição financeira, resta evidenciado o interesse de
agir da autora para o ajuizamento da ação cautelar de exibição.
2. Não há que se falar em ausência de interesse de agir
quando é manifesto o interesse-utilidade no uso de ação
judicial e, em face da teoria da asserção, segundo a qual, no
exame das condições da ação, devem ser as alegações da
parte autora consideradas, em tese, verídicas.
3. No mérito, os bancos têm obrigação de exibir aos seus
clientes os documentos comuns necessários a apurar
informações que possibilitem eventual ingresso em juízo.
4. A resistência em apresentar os documentos requeridos na
inicial gera a sucumbência e o dever de arcar com os ônus
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desta, de maneira condizente com o trabalho desempenhado


no curso do processo.
5. Apelo conhecido e desprovido.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 3ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, SILVA LEMOS - Relator,
GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - Revisor, ALFEU MACHADO - 1º Vogal, sob
a presidência da Senhora Desembargadora FÁTIMA RAFAEL, em proferir a
seguinte decisão: CONHECER. NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO.
UNÂNIME. , de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 19 de Novembro de 2014.

Documento Assinado Eletronicamente


SILVA LEMOS
Relator

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RELATÓRIO

Trata-se de apelação interposta por BANCO DO BRASIL S/A


contra a r. sentença, proferida pelo juízo da 11ª Vara Cível de Brasília, que julgou
procedente o pedido contido na inicial, ante o reconhecimento jurídico do pedido,
nos autos da Ação de Exibição de Documento nº 2013.01.1.090005-5, proposta por
RODOPAX TRANSPORTES E TURISMO LTDA.
Argui o apelante, em preliminar, ausência de interesse processual,
tendo em vista que a providência pretendida – exibição de documento – pela
apelada pode ser atingida juntamente com a própria ação principal, desde que
demonstre ter havido recusa por parte da instituição financeira, consoante art. 355
do Código de Processo Civil.
Sustenta que o banco não deve ser condenado ao pagamento das
verbas sucumbenciais, tendo em vista que não deu causa à propositura da ação,
diante da ausência de negativa em entregar os documentos.
Requer, ao final, o conhecimento e provimento da apelação para se
acolher a preliminar de ausência de interesse processual, julgando-se o processo
extinto sem resolução do mérito, condenando-se o autor a pagar as verbas
sucumbenciais; ou a reforma da sentença, julgando-se improcedentes os pedidos da
inicial; a condenação da apelada aos ônus da sucumbência; ou ainda que lhe seja
concedido prazo suplementar, não inferior a noventa dias para apresentação de
documentos eventualmente localizados.
Preparo à fl. 121.
Em contrarrazões de fls. 127/140, o apelado pede o desprovimento
do recurso.
É o relatório.

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VOTOS

O Senhor Desembargador SILVA LEMOS - Relator


Conheço do recurso de apelação, presentes os pressupostos que
autorizam a sua admissibilidade.
Em que pese os judiciosos argumentos do apelante, no caso em
espeque razão não lhe assiste.

I - DA PRELIMINAR DE AUSÊNCIA DE INTERESSE

A despeito da argüição de ausência de interesse processual do


autor, esclareço que o interesse processual reside na necessidade e na utilidade de
uma prestação jurisdicional para ver satisfeito direito que entende devido, sendo a
via judicial o único meio idôneo para tanto, tendo em vista que o banco recorrente
quedou-se inerte quando o apelado requereu a exibição dos documentos
extrajudicialmente, consoante se constata na contra notificação extrajudicial, fls. 22.
Além do mais, é pacífico na jurisprudência desta Corte, que não se
faz necessária a negativa de fornecimento do documento na via administrativa para
propositura da ação em testilha, porquanto a providência jurisdicional buscada pela
autora, ora apelada, se mostra necessária e útil para a satisfação do seu interesse.
A ação cautelar de exibição possui natureza preparatória, cuja
finalidade é a exibição em juízo de determinada coisa ou documento que se
encontra em poder de outrem (art. 844, I e II, CPC). A presente cautelar foi ajuizada
para possibilitar a exibição de documentos (contrato de financiamento/empréstimo e
os extratos de pagamento e saldo devedor, com alíquotas de juros e correções
aplicadas) que estavam em poder da instituição bancária, a fim de viabilizar o
ajuizamento de futura ação revisional.
Nesse sentido:

"PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CARTÃO DE CRÉDITO.


MEDIDA CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS PREPARATÓRIA
DE AÇÕES REVISIONAIS DE DÉBITOS. INTERESSE DE AGIR.
A exibição de documentos como medida cautelar tem por escopo

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evitar o risco de uma ação principal mal proposta ou deficientemente


instruída.
O que caracteriza o interesse processual ou interesse de agir é o
binômio necessidade-adequação; necessidade concreta da atividade
jurisdicional e adequação de provimento e procedimento desejados.
Tem interesse de agir para requerer medida cautelar de exibição de
documentos aquele que pretende questionar, em ação principal a ser
ajuizada, as relações jurídicas decorrentes de tais documentos.
Recurso especial provido." (STJ, REsp 659139/RS, Relatora Ministra
Nancy Andrighi, Terceira Turma, data do Julgamento 15/12/05, DJ 01/2/06,
p. 537)(Grifei)

Ademais, como se sabe, em se tratando do exame das condições da


ação, deve o julgador ater-se à denominada teoria da asserção, admitindo, por
hipótese, que as afirmações feitas pelo autor sejam verídicas, consistindo o exame
aprofundado da negativa em fornecer documentos matéria de mérito propriamente
dita. Nesse sentido, cito Fredie1:

Deve o juiz raciocinar admitindo, provisoriamente, e por hipótese, que


todas as afirmações do autor são verdadeiras, para que se possa
verificar se estão presentes as condições da ação. O que importa é a
afirmação do autor, e não a correspondência entre a afirmação e a
realidade, que já seria problema de mérito.

Além disso, é cediço que a falta da negativa/recusa por parte da


instituição financeira em exibi-lo não é óbice para a propositura da ação, nem
caracteriza falta de interesse processual do apelado de obter um provimento judicial.
O apelante defende que deveria o autor fazer prova de sua negativa

1
Didier (DIDIER, Fredie Jr. Curso de Direito Processual Civil. Teoria Geral do processo e processo de
conhecimento. Editora Juspodvm. Salvador: 2007. p. 162).

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em fornecer-lhe o documento indicado na inicial. Ocorre que a imputação de


semelhante prova ao autor equivale a impor-lhe o ônus de fazer prova de fato cuja
materialidade não lhe é alcançável, também denominado pela doutrina de "prova
diabólica". Em tais situações, a doutrina entende que cabe à parte melhor
aparelhada documentalmente produzi-la (teoria da distribuição dinâmica do ônus da
prova) ou, quando for inviável a produção por ambas as partes, seu suprimento por
outros meios probatórios. Para melhor ilustrar o tema, cito lição de Fredie Didier
(DIDIER JR, Fredie. BRAGA, Paula Sarno. OLIVEIRA, Rafael. Curso de Direito
Processual Civil. Teoria da prova, direito probatório, teoria do precedente, decisão
judicial, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela. Salvador. 2011 6° ed:
Juspodivm, ps. 92/93):

A prova diabólica é aquela que é impossível, senão muito difícil de ser


produzida "(...) é expressão que se encontra na doutrina para fazer
referência àqueles casos em que a prova da veracidade da alegação a
respeito de um fato é extremamente difícil, nenhum meio de prova
sendo capaz de permitir tal demonstração" (...) Quando se está diante
de uma prova diabólica deste viés, insusceptível de ser produzida por
aquele que deveria fazê-lo, de acordo com a lei, mas apta a ser
realizada pelo outro, o ônus probatório deverá ser distribuído
dinamicamente, caso a caso, na fase de saneamento ou instrutória -
em tempo do onerado dele desimcumbir-se - , como ser verá no item a
seguir

Sabe-se também que é fato notório (art. 334, II do CPC), que não
depende de prova, a dificuldade para consumidores em geral obterem quaisquer
documentos de fornecedores, os quais agem sistematicamente deste modo de forma
a impedir, ou ao menos dificultar, possíveis demandas judiciais.
Assim, afasto a preliminar suscitada.
No mérito, destaco que a ação cautelar de exibição de documentos,
nos termos do artigo 844, inciso II, do CPC, tem lugar quando a parte, pretendendo
ajuizar uma ação principal, necessita instruir o pedido com documentos a que não
tem acesso, e desse procedimento preparatório se vale, a fim de obter dados de que
precisa para, assim, "armar-se contra o futuro e eventual adversário judicial que

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tiver" (Nery Jr., Nelson. Código de processo civil comentado).


De fato, os bancos têm obrigação de exibir aos seus clientes os
documentos comuns necessários a apurar informações que possibilitem eventual
ingresso em juízo.
Neste sentido, são os precedentes desta Corte de Justiça, in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL NA APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL.


AÇÃO CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. EXTRATOS BANCÁRIOS. FALTA DE INTERESSE DE
AGIR. PRELIMINAR REJEITADA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE.
OBRIGAÇÃO DE FAZER A CARGO DO BANCO.
A cautelar de exibição de documentos, nos termos do artigo 844, inciso II,
do CPC, tem lugar quando a parte, pretendendo ajuizar uma ação principal,
necessita instruir o pedido com documentos a que não tem acesso, e desse
procedimento preparatório se vale, a fim de obter dados de que precisa
para, assim, "armar-se contra o futuro e eventual adversário judicial que
tiver" (Nery Jr., Nelson. Código de processo civil comentado. 9ª edição. São
Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2006. p. 959). A simples ausência de
comprovação de recusa administrativa no fornecimento dos documentos
objeto da exibitória não é suficiente para determinar a inexistência de
interesse de agir por parte do requerente dos documentos.
Os bancos têm obrigação de exibir aos seus clientes os documentos
comuns necessários a apurar informações que possibilitem eventual
ingresso em juízo.
Mera alegação, sem qualquer suporte probatório, de impossibilidade de
exibição dos documentos solicitados não exime o banco da obrigação de
exibir os extratos bancários, porquanto "o banco tem a obrigação de exibir
em juízo a documentação que deve guardar, relacionada com o
desempenho de sua atividade." (REsp 473.122/MG, Rel. Ministro RUY
ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 15.05.2003, DJ
15.12.2003 p. 315).
Em sede de obrigação de fazer, considerando a mescla de preceitos de
natureza mandamental e executiva lato sensu na parte dispositiva da
sentença, os honorários devem ser fixados com fundamento na apreciação
equitativa do juiz, a teor do que dispõe o artigo 20, § 4º, do CPC.
Apelação conhecida e não provida.(Acórdão n. 483950,

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20100110222798APC, Relator ANA MARIA DUARTE AMARANTE BRITO,


6ª Turma Cível, julgado em 23/02/2011, DJ 03/03/2011 p. 194)

AÇÃO CAUTELAR. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. EXTRATOS


BANCÁRIOS. INTERESSE DE AGIR. COMPROVAÇÃO. RECUSA
ADMINISTRATIVA. DESNECESSIDADE. APLICAÇÃO DE MULTA.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Restou demonstrado o interesse de agir dos autores/apelados, tendo em
vista que os extratos bancários requeridos são indispensáveis para o
ajuizamento futuro da ação principal de prestação de contas ou de
reparação de danos.
2. Não se exige do autor da ação de exibição de documentos a prova da
recusa administrativa por parte da instituição financeira em fornecer os
documentos.
3. É incabível a imposição de multa na ação cautelar de exibição de
documentos.
4. Apelação parcialmente provida.(Acórdão n. 375911,
20070111368354APC, Relator ROBERTO SANTOS, 6ª Turma Cível,
julgado em 18/02/2009, DJ 16/09/2009 p. 52)

"CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS.


EXTRATOS BANCÁRIOS. DOCUMENTO RELATIVO À ATIVIDADE
BANCÁRIA. OBRIGAÇÃO DA ENTIDADE FINANCEIRA. PRECEDENTES
DO STJ. SENTENÇA MANTIDA.
1 - Extratos bancários de conta de poupança são documentos produzidos
pela própria atividade exercida pelo banco e contratada pelo correntista,
sendo, portanto, documento a que ambos podem ter acesso, mas que
somente pode ser produzido a partir dos dados lançados pela entidade
financeira no sistema de movimentação financeira. Por esta razão, a Ação
de Exibição de Documento, uma vez negado o fornecimento por quem

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detém o dever de exibi-lo, é via judicial adequada para impor a produção e


exibição coercitivas dos extratos pretendidos. "O banco tem a obrigação de
exibir em juízo a documentação que deve guardar, relacionada com o
desempenho de sua atividade." (REsp 473.122/MG, Rel. Ministro RUY
ROSADO DE AGUIAR, QUARTA TURMA, julgado em 15.05.2003, DJ
15.12.2003 p. 315).
3 - Comprovada a existência da conta de poupança, ainda que não tenha
havido movimentação financeira no período pretendido pelo correntista, ou
que a entidade financeira tenha sido sucedida por outra, é possível a
produção de extrato bancário.
Apelação Cível desprovida. (20070110618108APC, Relator ANGELO
PASSARELI, 2ª Turma Cível, julgado em 20/02/2008, DJ 28/02/2008 p.
1818);

Ressalto que a mera alegação, sem qualquer suporte probatório, de


impossibilidade de exibição dos documentos solicitados, não exime o banco da
obrigação de exibir os extratos de conta poupança, porquanto deve mantê-los em
seus arquivos, uma vez que relacionados ao desempenho de sua atividade.
Neste sentido, é o precedente do Colendo Superior Tribunal de
Justiça:

"EXIBIÇÃO DE DOCUMENTOS. BANCO. OBRIGAÇÃO. MULTA.


O banco tem a obrigação de exibir em juízo a documentação que deve
guardar, relacionada com o desempenho de sua atividade.
Optando o Tribunal pela expedição de ordem de apresentação dos
documentos, não cabia desde logo ter por verdadeiros os fatos a que eles
se referem.
Recurso do Banco conhecido em parte, para excluir a multa, e não
conhecido o da autora." (REsp 473122/MG; Quarta Turma; Relator Ministro
Ruy Rosado de Aguiar; DJ 15/12/2003, p. 315).

Quanto ao ônus da sucumbência, inicialmente, convém deixar


registrado que, até recentemente, vinha me posicionando no sentido de que o

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simples ajuizamento da ação exibitória de documento comum a ambas as partes


geraria, somente em razão da procedência do pedido, ainda que com a exibição
voluntária da documentação pleiteada, a obrigação de o requerido arcar com as
custas processuais e os honorários advocatícios, pois, em tese, se a postulação
tivesse sido atendida administrativamente, a parte autora não necessitaria se valer
da via judicial.
Entretanto, após melhor refletir sobre o tema, concluo ser mais
consentâneo e razoável o entendimento consolidado pelo colendo Superior Tribunal
de Justiça, segundo o qual incumbe ao autor da ação de exibição de documentos o
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios quando, aliada à
ausência de prova de prévio requerimento administrativo à propositura da ação, o
réu não oferecer resistência à pretensão deduzida em Juízo, apresentando os
documentos solicitados pela parte requerente. Tal entendimento tem por alicerce o
princípio da causalidade, pelo qual aquele que dá causa à propositura da lide ou
instauração de incidente processual deve responder pelas despesas decorrentes.
In casu, apesar de a Instituição financeira ter exibido cópia do
contrato nº 347502910 junto com os extratos bancários, fls. 80/101, em sede de
contestação, entendo que houve resistência da apelante, porquanto não apresentou
os documentos solicitados quando requeridos administrativamente, consoante contra
notificação extrajudicial, fls. 22.
Por essa razão entendo que a sentença não merece reparos e que o
pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios devem ser
efetuados pela apelante, em razão do princípio da causalidade.
A propósito da matéria, colhem-se inúmeros precedentes da Corte
Superior de Justiça, in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXIBIÇÃO


DE DOCUMENTOS. RESISTÊNCIA COMPROVADA. CONDENAÇÃO EM
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. POSSIBILIDADE. SÚMULA N. 83/STJ.
1. Havendo resistência da instituição bancária em fornecer a documentação
pleiteada, é legítima sua condenação em honorários advocatícios.
2. Quando a parte, no agravo regimental, não apresenta argumentos aptos
a modificar a decisão agravada, mantém-se o julgado por seus próprios
fundamentos.
3. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no AREsp 470.879/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,

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TERCEIRA TURMA, julgado em 27/03/2014, DJe 03/04/2014)


SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/03/2013, DJe
02/08/2013);

"PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. TELEFONIA. EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO.
FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS. CABIMENTO.
CARACTERIZAÇÃO DE PRETENSÃO RESISTIDA. REVISÃO DO VALOR
DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS ARBITRADOS. IMPOSSIBILIDADE.
REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ.
1. A jurisprudência desta Corte tem decidido que, em ações cautelares de
exibição de documentos, em razão dos princípios da sucumbência e da
causalidade, haverá a condenação a honorários advocatícios quando estiver
caracterizada, como no presente caso, a resistência à exibição dos
documentos pleiteados. Precedentes: AgRg no REsp 934260/RS, Quarta
Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 13/04/2012; AgRg no AREsp
127592/SC, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, DJe 20/03/2012; REsp
889.422-RS, Rel. Min. Denise Arruda, DJe de 06/11/2008).
2. Não se admite a revisão dos honorários advocatícios em sede de recurso
especial ante o óbice contido na Súmula 7/STJ, exceto se a situação
ensejar o reconhecimento de que o valor fixado é exorbitante ou irrisório,
situações não observadas na presente hipótese.
3. Agravo regimental não provido." (AgRg no Ag 1422970/SC, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em 02/10/2012, DJe
08/10/2012).

O TJDFT comunga desse entendimento, senão vejamos:

"PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE


DOCUMENTOS. APRESENTAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA NO
PRAZO DE RESPOSTA. AUSÊNCIA DE PROVA DE REQUERIMENTO NA

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VIA EXTRAJUDICIAL. ÔNUS DA SUCUMBÊNCIA. CONDENAÇÃO DA


PARTE AUTORA. PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE.
1. Tratando-se de Ação Cautelar de Exibição de Documentos, somente é
cabível a condenação da parte ré em honorários, quando houver
demonstração de formulação de requerimento na via administrativa, ou
quando a documentação não for apresentada no prazo para oferecimento
de contestação.
2. Não tendo sido oferecida resistência ao acolhimento da pretensão de
exibição de documentos e não tendo sido apresentado comprovante de
requerimento administrativo, deve a parte autora responder pelo pagamento
das custas processuais e dos honorários advocatícios, por força do princípio
da causalidade.
3. Apelação Cível conhecida e provida." (Acórdão n.795494,
20120111035214APC, Relator: NÍDIA CORRÊA LIMA, Revisor: SILVA
LEMOS, 3ª Turma Cível, Data de Julgamento: 04/06/2014, Publicado no
DJE: 12/06/2014. Pág.: 122);

Quanto ao pedido subsidiário de dilação do prazo para exibição do


contrato em questão, entendo que esse não merece prosperar, tendo em vista que já
decorreu um grande lapso temporal após a distribuição desta ação para o
documento ser exibido.
É como voto.

O Senhor Desembargador GILBERTO PEREIRA DE OLIVEIRA - Revisor


Com o relator

O Senhor Desembargador ALFEU MACHADO - Vogal


Com o relator

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DECISÃO

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