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>>> Segurança

“Q
uebra desconhecida” é o nome
atribuído às perdas ocorridas por
furto de clientes, empregados ou
fornecedores, ou devido a erros de
gestão. Essa é a denominação uma vez que o
seu valor é apurado quando as empresas elabo-
ram o inventário, algo que normalmente tem
lugar uma vez por ano, tornando assim im-
possível perceber quando e onde ocorreram
esses desaparecimentos. E em tempos de crise,
como afirmou João Fanha, da Gateway Portu-
gal, «novas formas de inovação em furto sur-
gem a cada dia que passa». Vejamos o panora-
ma nacional, procurando também encontrar
soluções para a resolução deste problema.
O primeiro passo para perceber o volume de
quebras desconhecidas é obter essa informa-
ção junto das insígnias, de forma a sabermos
os valores da quebra, se existe uma noção de
quando ocorrem, que sistemas de segurança
apresentam, enfim, tentar perceber a forma
como lidam com este problema. E as respostas
foram sempre as mesmas: não respondemos.
Seja pela escusa de não existirem dados com-
pilados, seja por, explicitamente, declararem
que não respondem a esse tipo de pergunta, o
que é um facto é que esses dados não são reve-
lados.
Já que junto das insígnias se torna difícil, ten-
temos junto da Associação Portuguesa de Em-
presas de Distribuição (APED). E aqui fomos
remetidos para um artigo do jornal “Público”,
de Junho de 2008, onde os valores apresenta-
dos são os que a APED valida como sendo os
correctos. Aí afirmava-se que, no total do co-
mércio, os roubos atingiram 359 milhões de
euros em 2007, sendo este um dos fenómenos

O peso das quebras


mais elevados desde a recessão de 2003. De
resto, a parcela correspondente aos supermer-
cados e hipermercados estava a aumentar des-
de 2004, com o valor a cifrar-se nos 66 mi-
lhões de euros, o que representava um aumen-
to de 12 milhões comparando com o ano de
O nome é “quebra desconhecida”, 2006.

mas as consequências são do Dois barómetros, duas visões


A juntar a estes dados existem outros patentes
conhecimento de todos. Furtos no “The Global Retail Theft Barometer
2008”, e que apresenta dados relativos a um
ou erros de gestão, o certo é que período de 12 meses que termina a Junho de
2008. Revela conclusões a nível mundial, eu-
determinados produtos desaparecem. ropeu, e também apresenta dados do território
nacional. Este estudo, realizado com o apoio
Quantos? Quanto valem? O que fazer da Checkpoint Systems, revela que em Portu-
gal a perda se cifrou, em 2008, em 1,26% das
para evitar isso? A estas e a outras vendas, valor que é nada mais que a média da
Europa Ocidental. E é também o resultado de
perguntas respondemos aqui. uma diminuição quando comparado com
2007, onde o valor de perda se situava nos
1,31%.
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Mas o ideal seria que existisse um barómetro soluções neste campo. Contactámos algumas
nacional, criado por portugueses, e com a ex- As perdas em 2007 de forma a sabermos quais os produtos que
clusividade da visão do mercado nacional. E têm ao dispor dos seus clientes, e também ten-
existe, da responsabilidade da Premivalor. tiveram a seguinte origem: tar perceber o que aí vem em termos de inova-
Apresentado em Novembro do ano passado, a ções de futuro. E como verdadeiras crentes no
primeira edição do Barómetro Nacional da clientes – 58%; seu produto, todas afirmam ter as melhores
Quebra Desconhecida no Retalho aponta al- empregados – 19%; soluções do mercado.
guns valores demonstrativos da realidade por- Existente desde 1968 a nível mundial, a Check­
tuguesa. Estudo realizado com o apoio da Ga- fornecedores – 5%; point Systems aplica, segundo palavras da em-
teway Portugal, propõe-se «contribuir para presa, «a tecnologia de radiofrequência para o
uma melhor compreensão do tema da quebra e erros internos – 18%. desenvolvimento de etiquetas integradas de
desconhecida no sector do retalho em Portu- protecção de artigo (EAS), as etiquetas de ter-
gal». Para isso foram enviados 60 questioná- casos houve em que apenas foi gasto 2% desse ceira geração (3G) e o desenvolvimento da
rios a empresas do sector, dos quais se obtive- valor, e noutros, empresas em que o investi- tecnologia RFID (identificação por radiofre-
ram 11 respostas. Para quem afirma que é mento ascendeu a cinco vezes mais o valor da quência).
ainda pouca a amostra, o estudo contrapõe quebra. Entre alguns dos seus diferentes produtos en-
com o facto desses questionários recolhidos Sendo o primeiro estudo do género, existem contram-se as antenas EAS, os consumíveis
corresponderem a um agregado de 310 estabe- sempre aspectos a melhorar. No entanto, este EAS, os desactivadores EAS, e os acessórios
lecimentos comerciais, ou seja, responderam documento promete lançar um pouco mais de EAS. É ainda de destacar, segundo a empresa,
alguns dos mais significativos players do mer- luz nesta temática em Portugal. De resto, essa a etiquetagem na origem (integração dos cir-
cado. foi uma das afirmações de Carlos Alves, da cuitos EAS nos produtos, durante o processo
Segundo o barómetro, as perdas em 2007 ti- Fnac Portugal, que revelava que não entende o de fabrico ou de embalagem).
veram a seguinte origem: clientes – 58%; em- porquê do secretismo, até porque, na sua opi- Segundo Paulo Borges, country manager Por-
pregados – 19%; fornecedores – 5%; e erros nião, a partilha de experiências iria ajudar a tugal da Checkpoint Systems, o sistema mais
internos – 18%. O barómetro revela também melhor diminuir a ocorrência de quebras des- recente e popular encontra-se na gama Evolve,
que em 2007 o volume de perdas correspon- conhecidas. E não ficou só pela palavra, reve- que «aumenta a visibilidade do inventário, ga-
deu, em média, a 1,04% do volume de ven- lando mesmo os valores de quebra da Fnac: rantindo a disponibilidade dos produtos no
das. Partindo do pressuposto que o sector do 0,35% do volume de vendas em 2008, o que linear, promovendo o crescimento das ven-
retalho teve um volume de negócios de 14.480 representa um ligeiro aumento em relação a das», ao que se acrescenta «um incremento de
milhões de euros, chega-se à conclusão que o 2007 – 0,33% – mas bastante melhor que os detecção em 25%». E apesar de não existir
valor da quebra – 1,04% – equivale a cerca de 0,52% registados em 2003. A explicação para uma sazonalidade neste negócio, o responsável
150 milhões de euros anuais. O que, diga-se, é tal valor encontra-se, aparentemente, no in- revela que «notamos que existe maior interesse
um valor considerável. Ainda assim, represen- vestimento em segurança, seja humano ou em proteger os artigos de maior risco quando
ta um decréscimo em relação ao ano de 2006 técnico, que é sensivelmente de 1% do valor há maior fluxo de clientes na loja».
(1,07%), e é ainda menor do que o registado total de vendas. Ou seja, quanto mais se inves- O country manager Portugal revelou-nos tam-
no ano de 2005 (1,46%). te, menos se perde. bém que «se destacarmos o projecto de protec-
No que diz respeito aos objectos que são os ção na origem, mais de 80% dos artigos prote-
principais alvos dos furtos, a categoria de CD/ Proteger 15 milhões gidos, à venda no nosso mercado, têm um
/DVD/Jogos são os que receberam mais indi- Para o valor da quebra desconhecida se encon- dispositivo da Checkpoint». De resto, «prati-
cações dos inquiridos como os mais prováveis trar cada vez mais diminuto, em muito contri- camente toda a moderna distribuição já aderiu
de serem furtados (30%). Em segundo lugar buem as empresas de segurança que fornecem a esta tecnologia, como atestam os mais de 15
encontramos o vestuário e o calçado (24%) e, milhões de artigos que protegemos anualmen-
a completar o pódio, os pequenos equipamen- te para o mercado nacional».
tos electrónicos (16%). Neste campo os hiper-
mercados e supermercados afirmam que, além 4500 instalações clientes
deste top, sofrem também grandes perdas as Falámos também com Carlos Mendes, direc-
pilhas, cosméticos e bebidas alcoólicas. tor de contas estratégicas de retalho da ADT
E para melhor proteger os produtos, as empre- Fire & Security, que nos revelou que «para ca-
sas investem cada vez mais em equipamentos da tipo de furto existem medidas específicas e
de segurança, seja através da aquisição ou do tecnologias a adoptar, mas é na integração de
aluguer. E esse investimento ronda, em média, sistemas e na inteligência de loja, com base na
por empresa, os 71 mil euros em sistemas an- recolha e análise de dados, que se consegue
ti‑furto, e 28 mil euros em sistemas de CCTV uma prevenção mais eficaz e eficiente, sendo
(videovigilância). Mas aqui cai-se sempre nas esta a grande tendência do mercado».
generalizações decorrentes das médias, com A ADT Fire & Security é, segundo o respon-
empresas a gastarem bastante mais, e outras sável, «neste momento a única empresa no
bastante menos. Essa irreal imagem é evidente mercado que desenvolve, fabrica, comerciali-
no facto do valor médio do investimento em za, instala e mantêm soluções globais e inte-
equipamento anti-furto feito em 2007 ter sido gradas de segurança electrónica e protecção
64% do valor de quebras desconhecidas. Ora, contra incêndios».
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Apesar do responsável revelar que não existe ao nosso país, «estimamos que a nossa quota Actualmente, a área de negócio que mais tem
uma sazonalidade neste negócio, afirma que de mercado global nos coloque entre os líderes crescido dentro da empresa é o conceito de
«a conjuntura económica e o recente (aparen- de mercado». merchandising seguro, área de negócio com-
te) aumento de criminalidade, que gera sem- Entre algumas das mais de 4500 instalações posta, entre outros, pelos POD Displays – so-
pre um maior receio e sentimento de insegu- clientes, encontram-se lojas da Sonae Distri- luções de protecção que permitem a exposição
rança, poderá vir a contribuir também para buição, do Grupo Inditex, do Grupo Auchan, livre dos artigos dentro da loja. Este conceito
um maior investimento por parte de alguns e da Jerónimo Martins, entre outros. oferece uma adaptabilidade e versatilidade, ca-
sectores de actividade» pazes de eficazmente proteger telemóveis, lei-
No que diz respeito à quota de mercado, Car- Merchandising seguro cresce tores de MP3, PDA, câmaras fotográficas e
los Mendes afirma que é difícil de quantificar, João Fanha, director de marketing da Gateway digitais, entre outros gadgets alvo de furto. «Os
«até porque não existem estudos de mercado, Portugal, afirma que a sua empresa «é a única POD inovam no rol de sistemas protectores e
nem entidades que o façam». No entanto, no mercado que actualmente desenvolve, fa- proporcionam a auto-alimentação dos artigos,
adianta que «a nível mundial a ADT Fire & brica e comercializa quatro tecnologias EAS oferecendo inclusive a possibilidade ao cliente
Security é responsável pela segurança de 90% diferentes – radiofrequência, acústico-magné- de experimentar os menus dos aparelhos».
das companhias da Fortune 500 e que 80% tica, electromagnética, e rádio-magnética», Como grande fenómeno de vendas que é,
dos 100 maiores retalhistas mundiais estão facto que torna possível uma adaptação a existe agora «uma procura mais intensa pelos
protegidos pelas nossas soluções». Em relação qualquer tipo de espaço ou artigo a proteger. sistemas acrílicos operantes nas tecnologias
acústico magnéticas e de radiofrequência»,
onde se destaca a antena EAS RF – modelo
Designergate – «que é sem duvida a que mais
se vende, exactamente por apresentar uma ba-
se tecnológica de alto nível, conciliada com o
factor design: ao ser em acrílico transparente,
não afecta o layout das lojas». Ou seja, tam-
bém o design ao serviço da protecção.
Recentemente a empresa lançou uma nova so- C

lução, apelidada de EAS Designergate People M

Counter. Um “2-em-1”, em que o mesmo mo- Y

delo de antena tem um sistema de contagem


de pessoas integrado, funcionando em conjun-
CM

to com um software de análise de dados. Se- MY

gundo o responsável, «sendo a contagem de CY

pessoas uma solução cada vez mais procurada CMY

pelo mercado, a procura deste novo produto já


excedeu as nossas expectativas iniciais».
K

A Gateway afirma ser líder de mercado na ver-


tente EAS, naquele que é considerado o seu
core business. E têm vindo a crescer, sendo que
em 2008 esta tendência manteve-se, com um
crescimento acima dos 30% face a 2007. «Em
2009 contamos continuar a crescer neste sen-
tido», em parte também devido à expansão da
Gateway Portugal para Espanha e Angola.
Entre os seus clientes encontram-se nomes co-
mo o grupo Sonae Distribuição, Jerónimo
Martins, E.Leclerc, Mosqueteiros, Fnac, Sta-
ples e Media Markt, entre outros.
Todas estas empresas oferecem soluções para
tornar o fenómeno da quebra desconhecida ca-
da vez mais irrisório. Mas não se pense que se
consegue “matar” de vez. Mesmo que se conse-
guisse eliminar o furto da natureza humana, a
quebra desconhecida iria sempre existir. Porque
todos temos a capacidade de errar, e sendo falí-
veis abrimos espaço aos tais erros de gestão, co-
mo a má realização de um inventário. Mas afi-
nal, num mundo cada vez mais tecnológico, é
isso que nos distingue das máquinas.

Ricardo Martins
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