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03/08/2018 Pesquisa de Juriprudência :: STF

DECISÃO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. AMBIENTAL.
POSSE DE ANIMAL SILVESTRE. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA
RAZOABILIDADE. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO: SÚMULA N.
282 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. DECISÃO FUNDAMENTADA NA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E NO CONJUNTO FÁTICO­
PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA N. 279 DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. AGRAVO AO QUAL SE NEGA SEGUIMENTO. Relatório 1. Agravo
nos autos principais contra decisão de inadmissão de recurso extraordinário
interposto com base no art. 102, inc. III, al. a, da Constituição da República contra
julgado da Segunda Vara do Tribunal Regional Federal da Quinta Região:
“ADMINISTRATIVO. IBAMA. POSSE DE ANIMAL (PAPAGAIO) SEM
PERMISSÃO. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA. 1. A posse de animal silvestre sem autorização ou permissão da
autoridade competente, constitui infração ambiental, nos termos do art. 29 da Lei
9.605/98, passível, portanto, de apreensão. 2. A posse de papagaio, por mais de 10
anos, por uma senhora que contava à época da apreensão com 76 anos de idade, sem
que houvesse indicação de qualquer ocorrência de maus tratos, não pode ser
interpretada como facilitadora da caça predatória ou do tráfico ilícito de animais
silvestres. 3. Aplicação do princípio da razoabilidade para determinar a entrega do
animal à impetrante. Precedente deste Regional: AC­473474­PB, 3ª T., rel. Des.
Federal Paulo Roberto de Oliveira Lima, julg. em 23/07/2009 e publ. no DJ de
25/08/2009. 4. Direito de a impetrante efetivar troca do papagaio entregue
erroneamente pelo IBAMA. 5. Apelação e remessa oficial improvidas”. Os
embargos de declaração opostos pelo Agravante foram rejeitados. 2. O Agravante
alega ter o Tribunal a quo contrariado os arts. 2º, 5º, inc. II, LIV e 93, inc. IX, e 97
da Constituição da República. Aduz que, além da deficiência na fundamentação do
acórdão recorrido, o Tribunal a quo ofendeu o artigo 97 da Constituição da
República. Argumenta que “o lugar dos animais silvestres é na natureza, onde
possuem, todos eles, um papel a cumprir para o equilíbrio do meio ambiente. Não
na residência de particulares, suprindo carências afetivas. O animal objeto deste
processo está impedido de reproduzir­se e de conviver com outros de sua espécie,
bem como de cumprir seu papel na natureza”. Requer “seja dado provimento ao
presente recurso, para o fim de que se reforme em o acórdão ora recorrido, e para
que se ordene a entrega definitiva do animal em questão ao IBAMA. O princípio da
separação dos poderes e da reserva legal exige que os Tribunal apliquem o direito
vigente e que não criem nem inventem regras que não foram postas pelo Congresso
nacional”. 3. O recurso extraordinário foi inadmitido pelo Tribunal de origem ao
fundamento de ausência de ofensa direta à Constituição da República. 4. O art. 544
do Código de Processo Civil, com as alterações da Lei n. 12.322/2010, estabeleceu
que o agravo contra decisão que inadmitiu recurso extraordinário processa­se nos
autos do processo, ou seja, sem a necessidade de formação de instrumento, sendo
este o caso. Analisam­se, portanto, os argumentos postos no agravo, de cuja decisão
se terá, então, na sequência, se for o caso, exame do recurso extraordinário. 5. A
alegação de contrariedade ao art. 2º, 5º, incs. II e LIV, da Constituição da República,
não foi objeto de debate e decisão prévios pelo Tribunal de origem, tampouco os
embargos de declaração opostos o foram com a finalidade de se comprovar ter
havido, no momento processual próprio, o prequestionamento. Incidem na espécie
vertente as Súmulas n. 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal: “A jurisprudência
deste Supremo Tribunal firmou­se no sentido de que os embargos declaratórios só
suprem a falta de prequestionamento quando a decisão embargada tenha sido
efetivamente omissa a respeito da questão antes suscitada. Precedentes” (AI
580.465­AgR, de minha relatoria, Primeira Turma, DJ 19.9.2008). 6. Quanto a
alegação de nulidade do acórdão por contrariedade ao art. 93, inc. IX, da
Constituição da República, tem­se não poder ela prosperar. Embora em sentido
contrário à pretensão do Agravante, o acórdão recorrido apresentou suficiente
fundamentação. Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, “o que a
Constituição exige, no art. 93, IX, é que a decisão judicial seja fundamentada; não,
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que a fundamentação seja correta, na solução das questões de fato ou de direito da
lide: declinadas no julgado as premissas, corretamente assentadas ou não, mas
coerentes com o dispositivo do acórdão, está satisfeita a exigência constitucional”
(RE 140.370, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, RTJ 150/269). 7. O Tribunal a quo não
declarou inconstitucional a Lei n. 9.605/1998. Com base no conjunto fático
probatório e na interpretação e aplicação da norma aplicável ao caso concluiu que,
na específica situação cuidada, aplicável o princípio da razoabilidade, do que
decorreu a determinação de entrega do animal à impetrante: “RESERVA DE
PLENÁRIO. Descabe confundir reserva de Plenário – artigo 97 da Constituição
Federal – com interpretação de normas legais. RECURSO EXTRAORDINÁRIO –
MATÉRIA FÁTICA E LEGAL. O recurso extraordinário não é meio próprio ao
revolvimento da prova, também não servindo à interpretação de normas estritamente
legais”. (RE 773577­AgR, Relator o Ministro Marco Aurélio, Primeira Turma, DJe
19.3.2014 ) A pretensão do Agravante exigiria a análise do conjunto probatório
constante dos autos, procedimento incabível em recurso extraordinário (Súmula n.
279 do Supremo Tribunal Federal). A apreciação do pleito recursal exigiria, ainda, a
interpretação da legislação infraconstitucional aplicável à espécie (Lei n.
9.605/1998). A alegada contrariedade à Constituição da República, se tivesse
ocorrido, seria indireta, a inviabilizar o processamento do recurso extraordinário: “I.
RE: DESCABIMENTO: OFENSA REFLEXA A CONSTITUIÇÃO POR
VIOLAÇÃO DA NORMA INTERPOSTA. O RE NÃO E VIA ADEQUADA A
APURAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE REFLEXA: SE A
CONSTITUIÇÃO, EXPLÍCITA OU IMPLICITAMENTE, REMETE O TRATO DE
DETERMINADA MATÉRIA A LEI ORDINARIA, NÃO CABE O RECURSO
EXTRAORDINÁRIO POR CONTRARIEDADE A LEI FUNDAMENTAL, SE A
AFERIÇÃO DESTA PRESSUPOE A REVISÃO DA INTELIGENCIA E DA
APLICAÇÃO DADAS A NORMA SUB­CONSTITUCIONAL INTERPOSTA:
ANALISE DA JURISPRUDÊNCIA.” (RE 147.684, Relator o Ministro Sepúlveda
Pertence, Plenário, DJe 2.4.1993). “Responsabilidade civil. Responsabilidade
objetiva do Estado. Art. 37, § 6º. Elementos e exclusão. Aplicação da súmula 279.
Agravo regimental improvido. Não se admite, em recurso extraordinário, alegação
de ofensa que, irradiando­se de má interpretação, aplicação, ou, até, de
inobservância de normas infraconstitucionais, seria apenas indireta à Constituição
da República, nem tampouco de violação que dependeria de reexame prévio de
provas. 2. RECURSO. Extraordinário. Inadmissibilidade. Jurisprudência assentada.
Ausência de razões consistentes. Decisão mantida. Agravo regimental improvido.
Nega­se provimento a agravo regimental tendente a impugnar, sem razões
consistentes, decisão fundada em jurisprudência assente na Corte” (RE 606.250­
AgR, Relator o Ministro Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe 5.6.2012). Nada há a
prover quanto as alegações do Agravante. 8. Pelo exposto, nego seguimento ao
agravo (art. 544, § 4º, inc. II, alínea a, do Código de Processo Civil e art. 21, § 1º,
do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal). Publique­se. Brasília, 6 de
abril de 2015. Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora
 
(ARE 875986, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, julgado em 06/04/2015,
publicado em PROCESSO ELETRÔNICO DJe­066 DIVULG 08/04/2015 PUBLIC
09/04/2015)
Este texto não substitui a publicação oficial.
 
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