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Pistola Mauser C96 (Rev. 1a)
É um desafio para qualquer autor escrever sobre essa arma, e não é para menos; ela pode ser
considerada parte de um universo de meia dúzia de pistolas militares antigas que pertencem a um
estreito círculo de características que compreende inovação, qualidade, durabilidade, confiabilidade e
sucesso, como ocorre com a Colt 1911, a Parabellum (Luger), a Browning 1935 e a Walther P‑38.
Além disso, devido a seus inúmeros contratos firmados ao redor do mundo e às suas variações em
grande número, a C96 encaixa‑se na categoria de armas que merecem e realmente possuem vários
livros e publicações, com muito maior abrangência do que um artigo do porte que pretendemos
publicar aqui, em Armas on‑Line.
DESENVOLVIMENTO
Os detalhes mecânicos, a qualidade do produto e dos materiais empregados sempre foram levados
na mais alta consideração pelos fabricantes desta pistola. Desde o protótipo de 1894 até as últimas
unidades produzidas na Waffenfabrik Mauser A.G. , em 1939, pequeníssimas porções foram
fabricadas, principalmente durante a I Grande Guerra, onde pode‑se perceber um pequeno e leve
declínio naqueles fatores.
Um dos enganos mais comuns que existem no imaginário popular é o
de que foi Peter Paul Mauser o projetista da pistola C96. Paul Mauser
tinha, sob sua responsabilidade, a Waffenfabrik Mauser, um complexo
fabril de alta tecnologia, herdado de seu pai, de onde saíram os mais
famosos e bem sucedidos fuzís militares de repetição de que se tem
notícia. Paul Mauser nasceu em Oberndorf, perto do rio Neckar,
Alemanha, em 27 de junho de 1838 e faleceu em maio de 1914. Em 1871,
ele se seu irmão Wilhelm desenharam um dos primeiros fuzís militares
com ação de ferrolho, 0 modelo 1871, de um só tiro, em calibre 11x60R,
com uso de pólvora negra.
Logo depois da produção do modelo 71, Wilhelm veio a falecer,
deixando a fábrica nas mãos de Paul Mauser. Posteriormente, em 1881,
esse fuzil 71 foi modificado para utilizar um carregador tubular, transformando o projeto original em
um fuzil de repetição, o modelo 1871/84 adotado em 1884 pelo Império Germânico. A história que se
segue na evolução desta arma será motivo para um outro artigo nosso, a ser publicado em breve,
sobre Os Fuzis Mauser.
Há indícios de que Paul Mauser (foto) nem tinha conhecimento do desenvolvimento da então
Há indícios de que Paul Mauser (foto) nem tinha conhecimento do desenvolvimento da então
chamada “Rucklauf‑Pistole” por uma equipe de engenheiros participantes de um grupo muito
especial dentro da Mauser, uma espécie de “workshop” de experimentos. Fidel Feederle foi, durante
anos, o superintendente deste centro experimental e manteve essa posição até 1930. Seus
colaboradores mais chegados eram seus irmãos Friederich e Josef Feederle. Todos eles
permaneceram na Mauser até a década de 30, onde foram substituídos por August Weiss, figura
lendária intimamente ligada às pistolas Mauser e também à Parabellum, visto, inclusive, ter tido
estreito contato com George Luger na Deustche Waffen und Munitionsfabrik, a D.W.M.
August Weiss trabalhou com Georg Luger na DWM, em Berlim. Depois, em 1930, foi para Oberndorf,
onde se tornou o chefe de operações da Mauser até 1948, quando colaborou para a liquidação da
empresa no período de ocupação aliada. Sob a gerência dele, de 1930 em diante, a Mauser produziu
quase um milhão de pistolas Parabellum. Weiss era conhecido como uma figura de homem discreto,
afável, de fala calma e de educação esmerada, o que conquistou a admiração de todos seus
funcionários e amigos.
Felizmente Weiss deixou um legado de registros históricos tanto da DWM como da Mauser, o que foi
de uma utilidade impressionante para historiadores levantarem seus dados sobre a pistola
Parabellum e a Mauser C96. Foi baseado em suas informações que a maioria dos autores de livros
sobre essas duas armas se alicerçaram, até mesmo com entrevistas pessoais.
August Weiss faleceu em 1980 e foi enterrado não muito longe da fábrica da Mauser, perto do rio
Neckar; viveu, portanto, até poder assistir ao renascimento da pistoila Parabellum em 1970.
Tristemente, 25 anos após sua morte, em 2005, seus restos mortais foram removidos do local de
origem pois não havia mais ninguém que pagasse as taxas devidas de seu túmulo. Deixo aqui com
grande prazer esse meu tributo à figura de August Weiss.
Nesta fotografia tirada em Berlim, junho de 1958, vemos o filho de Georg Luger, George Luger II, e sua filha
Nesta fotografia tirada em Berlim, junho de 1958, vemos o filho de Georg Luger, George Luger II, e sua filha
Elizabeth, ladeando Fred Datig, autor do livro The Luger Pistol. Na extrema direita, Herr August Weiss.
Retornando pois à nossa história, por volta de 1894, os irmãos Feederle já tinham um esboço da
pistola, a qual inicialmente usaria o cartucho 7,65 mm X 25 oriundo da pistola projetada um pouco
antes por Hugo Borchardt, em 1893 e cuja evolução, quando nas mãos de Georg Luger, iria levá‑la a
se tornar a famosíssima pistola Parabellum (Luger).
Revisão de 1897 sobre um dos primeiros esboços, apresentados na documentação da primeira patente requerida
em 1894
Alguns autores costumam relatar que ao tomar conhecimento dos primeiros desenhos e do projeto
em si, Paul Mauser havia torcido o nariz. Afinal, tratava‑se de algo inteiramente novo para ele e para
a Mauser; apesar do primeiro impacto negativo, ainda assim mandou que tocassem o projeto para a
frente. Em 11 de dezembro de 1895, depois de excelentes resultados obtidos em testes, Paul Mauser
registrou sua patente na Alemanha sob Nº 90430. Em seguida, ampliou os direitos de patente para
inúmeros países do mundo, inclusive no Brasil, onde registrou sob Nº 2088 em 28 de julho de 1896.
O primeiro protótipo da pistola Mauser construído, datado de 15 de março de 1895 (foto da coleção de Herr
August Weiss)
Depois de diversas modificações e de mais alguns protótipos testados, um modelo de transição foi
fabricado em dezembro de 1895. Em fevereiro de 1896, o grupo desenvolvedor convenceu Paul
Mauser de que a arma poderia ser lançada comercialmente e entrar em linha de produção. Tanto o
mercado civil como o militar de diversos países estavam na mira do pessoal da Mauser. Com o aval
de Mauser, a fábrica começou a fabricar a pistola em série, denominada oficialmente de C96
(“Construktion 96”). Neste primeiro instante, decidiu‑se pela fabricação de modelos com
carregadores fixos de 6, 10 e 20 cartuchos (Obs: todos os carregadores das C96 são fixos e bifilares
(cartuchos alinhados aos pares), exceto nas últimas versões) e estabelecer uma mudança fundamental
no cartucho empregado.
Optou‑se por manter as dimensões do cartucho 7,65 X 25 da pistola
Borchardt, mas como a C96 oferecia uma maior resistência mecânica
e uma trava de culatra muito reforçada, alterou‑se a carga de pólvora
então empregada e fez‑se modificações no peso do projétil, criando‑
se assim o cartucho 7,63mm Mauser.
Ao lado, o cartucho 7,63mmMauser fabricação DWM
Essa diferença na numeração (de 7,65 para 7,63) era algo de cunho meramente comercial, uma vez
que o projétil continuava tendo o mesmo diâmetro. Porém, com as modificações como vimos acima, o
novo cartucho se tornou o mais potente e o mais veloz de sua época, só sendo suplantado na década
de 30, pelo cartucho de revólver .357 Magnum.
Para alegria do pessoal da Mauser e infelizmente para a Ludwig Loewe, a então fabricante da pistola
de Hugo Borchardt, uma espécie de “rival” da C96, o produto deles não estava sendo muito bem
aceito, nem comercialmente, nem militarmente.
O custo da arma era muito alto, e seu desenho, apesar de revolucionário, com qualidade e uso de
materiais de primeira linha, não agradava muito por ser exageradamente grande e desequilibrada.
Esse fato, para a Mauser, foi mais do que benvindo pois, com o fracasso da rival, a C96 teria muito
mais chances de alavancar o mercado e a fama. Hugo Borchardt se recusava a alterar o projeto, o qual
julgava ser perfeito. Essa postura decretou o fim da pistola mas, por outro lado, acabou dando ao
julgava ser perfeito. Essa postura decretou o fim da pistola mas, por outro lado, acabou dando ao
mundo a famosa Parabellum, obra do alemão Georg Luger, na época trabalhando na D.W.M., que
modificou o projeto original de Borchardt. A Deutsche Waffen und Munitionfabrik havia, nesta
ocasião, incorporado as instalações da Ludwig Loewe.
A pistola Borchardt C93, no seu estojo original contendo carregadores adicionais, ferramentas de limpeza e
coronha de madeira com coldre de couro. Essas armas, desde que em estado totalmente original, nos estojos, são
comercializadas a preços altíssimos, como essa da foto, arrematada em recente leilão, nos USA, por US$
48.000,00.
A EVOLUÇÃO E DESCRIÇÃO DOS MODELOS BÁSICOS
Devido à grande variedade de versões feitas especificamente para cumprir contratos com diversos
países, inclusive modificações solicitadas pelos clientes, fica inviável expor todas as variações aqui,
em detalhes. Nossa intenção neste artigo é fornecer um panorama geral dos principais modelos mais
importantes, fornecendo ao leitor subsídios para uma identificação correta de uma peça que venha,
porventura, a avaliar.
O detalhe que mais chama a atenção nas C96, e que caracteriza melhor os tres “modelos” básicos, é o
cão, ou martelo da arma, que podem ser separados em tres tipos distintos: “cone‑hammer”, “large‑
ring hammer” e “small‑hammer”.
Mauser C96 “cone‑hammer” com carregador para seis cartuchos – nota‑se bem, nesta arma, as marcas de
usinagem (fresa) feitas nas áreas do rebaixo do painel lateral
Excetuando‑se os protótipos, como exibido logo no início, cujo tipo de martelo se denomina de “spur‑
hammer” (algo como “cão em formato de espora”), todos os modelos de produção em série da C96
utilizavam um dos tres tipos listados acima.
O segundo modelo se trata de um martelo com formato de um grande anel vazado e recartilhado na
sua parte superior. Esse cão encobre parcialmente a alça de mira, quando a mesma se encontra
regulada para a distância mínima. As “large‑ring” foram fabricadas entre 1900 e 1908,
aproximadamente. O sistema de trava de segurança é o mesmo empregado nas “cone‑hammer”, com
um curto movimento da alavanca, situada ao lado do cão, travando para baixo e destravando para
cima, ficando na posição horizontal, como se vê na foto acima e na da esquerda, abaixo.
A terceira variação de modelos de martelo, que é a mais comum e mais fabricada, é a que se
denomina “small‑hammer”, foto acima à direita. A produção deste tipo de cão começou a partir de
1908 e juntamente com essa mudança efetuaram‑se alterações na trava de segurança; nos modelos
anteriores, a alavanca na horizontal significava a arma destravada e movendo‑se para baixo, posição
travada; na nova versão houve uma inversão: para se travar a arma, a alavanca é levantada, e num
curto bem mais longo. Esse movimento, quando a arma se encontra desegatilhada, faz com que o
martelo se afaste um pouco de sua posição de descanso, encostado ao ferrolho, o que, juntamente
com o uso de um percussor inercial, aumentava a segurança contra disparos, principalmente em
quedas. Em todas as C96, a trava de segurança pode ser acionada tanto com a arma engatilhada ou
não.
As tres posições possíveis da trava de segurança a partir dos modelos “small‑hammer” – arma destravada, arma
travada com o cão baixado (note o pequeno recuo do martelo) e a posição travada com o cão armado
A trava de segurança, nos modelos a partir do uso do “small‑hammer”, quando acionada, também
impede que o ferrolho seja aberto, o que não acontece nos modelos anteriores. Em 1912, com os
números seriais arbitrariamente ajustados para 200.000 e que continuou até cerca de 700.000, a
Mauser criou uma pequena modificação na trava usada desde 1908, a qual denominou de “Neue
Sicherung”, que significa “nova segurança”. Para diferenciar da trava anterior, carimbou‑se as letras
NS intercaladas, na parte de trás do martelo. Antes dessa mudança, se a alavanca da trava não fosse
levada totalmente à sua posição máxima para cima, a arma poderia ser acidentalmente destravada,
sem que se percebesse.
À esquerda, a alça de mira até 500 metros, seguida pela mais antiga, graduada até 1000 metros
As miras utilizadas nas C96 eram, em muitos aspectos, bem similares às que a fábrica usava em seus
As miras utilizadas nas C96 eram, em muitos aspectos, bem similares às que a fábrica usava em seus
fuzís de repetição; uma alça graduada em forma de gangorra, envolvida por uma corrediça munida
de um botão que trava nas escalas de distância, em metros. Nos modelos iniciais, até a comercial de
1930, a alça geralmente é graduada até 1000 metros, algo muito otimista e sem sentido, uma vez que,
mesmo em fuzís, chega a ser inútil, pois mal se consegue visualizar qualquer alvo a essa distância.
Nos modelos de fim de produção, a partir de 1930, as graduações caem para 500 metros, o que ainda
não deixa de ser uma pretensão. Diversos modelos, inclusive as do tipo “Bolo” eram fornecidas sem a
alça de mira graduada. No lugar da mesma era simplesmente usinado um ressalto, com um V fixo
centralizado, posicionada na parte traseira da armação.
Adicionalmente ao detalhe dos formatos do martelo, há mais alguns outros que podem caracterizar
melhor os modelos da C96, como o formato do extrator, o tipo de montagem do gatilho e os painéis
usinados lateralmente na armação.
Acima, os dois tipos de extrator: o modelo longo, à esquerda, encontrado nas pistolas “cone‑hammer” e nas
“large‑ring hammer”; à direita, o extrator curto, fixado com duas abas laterais, utilizado nas pistolas com
“small‑hammer” até o final da produção da arma.
Os painéis laterais nas Mauser C96 merecem também um comentário detalhado. Acredita‑se que,
devido à grande área livre existente na armação dessas armas, optou‑se por criar esses painéis, que
são áreas rebaixadas em formatos retangulares ou quadradas e acompanhando a curvatura do
guarda‑mato, com a finalidade de aliviar peso.
Uma raríssima e interessante “Cone Hammer” cortada, a fim de exibir parte do mecanismo interno
Magnífico exemplar de uma C96 “large‑ring hammer” e armação sem as usinagens dos rebaixos, tipo “Slab‑
Side”
Particularmente o autor acredita mais na hipótese de razão puramente estética. Alguns estudiosos já
avaliaram quanto se reduzia no peso da arma com esses rebaixos e chegou‑se a valores tão ínfimos
que não justificariam operações de usinagem tão intensas. A figura abaixo demonstra resumidamente
os diversos padrões de usinagem que eram executados, e que foram mudando através dos anos.
Algumas variantes da pistola foram feitas com as laterais da armação planas, sem rebaixos,
denominadas de “Slab Side”.
Durante a I Grande Guerra, de 1914 a 1918, devido à maior demanda, o tempo de produção era mais
curto e o acabamento ficou um pouco comprometido, o que se pode verificar pelas marcas de fresa
bem aparentes no interior dos rebaixos. Mesmo em outras áreas da arma feita nesta época, estão
presentes marcas de ferramental pois deixava‑se detalhes de acabamento em segundo plano,
principalmente o polimento das peças.
No esquema acima, temos tres exemplos principais de padrões de painéis. De cima para baixo, Mauser “cone‑
hammer”, Mausers “large‑ring hammer” e finalmente as “small‑hammer”
Com relação à capacidade do carregador, a C96 foi oferecida em versões de 6, 10 e 20 cartuchos, todas
as opções utilizando‑se carregadores fixos, municiados por cima do ferrolho, através de um clipe
metálico similar ao utilizado nos fuzis Mauser, com a capacidade de 6 ou 10 cartuchos. Nas pistolas
de 20 cartuchos, utilizava‑se dois clipes consecutivos de 10 cartuchos.
Acima, caixa com 50 cartuchos, datada de 1918, da empresa alemã RWS. Abaixo, o clipe carregador da Mauser
Acima, caixa com 50 cartuchos, datada de 1918, da empresa alemã RWS. Abaixo, o clipe carregador da Mauser
C96 com 10 cartuchos calibre 7,63mm, fabricação da DWM
Uma versão da pistola que se sobressaía em relação às demais era a carabina, que foi produzida em
bem menor quantidade do que as pistolas e que já trazia a coronha de madeira com a empunhadura
integrada, embora ela pudesse ser destacada da armação para facilitar o armazenamento. A coronha
das carabinas, ao contrário das que acompanhavam as pistolas, não servia como alojamento para
guardar a arma.
Os canos eram fornecidos com 30 cm ou com 37 cm de comprimento, e foram fabricadas desde 1899
até 1920. O alcance efetivo dessas carabinas era muito maior do que o das pistolas, abrangendo cerca
de 100 a 200 metros.
Uma das versões da carabina, do modelo “small‑ring hammer”, devidamente decorada. As carabinas foram
feitas em poucas quantidades e são consideradas valiosas peças de coleção.
Uma pistola C96 do modelo “cone‑hammer”, com a sua coronha instalada
Outra variante interessante são as pistolas denominadas de “Bolo” Mausers. O Tratado de Versalhes,
Outra variante interessante são as pistolas denominadas de “Bolo” Mausers. O Tratado de Versalhes,
assinado em 1919 pelos países vencedores logo após a I Guerra, impôs à Alemanha uma série de
restrições, várias delas referentes ao fabrico de armas de fogo. Para se adequar à essas regras, a
Mauser desenvolveu um modelo menor da C96, com cano mais curto, algo em torno de 4″ e,
aproveitando a mudança, desenhou também uma empunhadura mais achatada. O Tratado limitava,
entre outras coisas, o comprimento do cano de armas curtas. Coincidentemente, o recém instalado
governo da União Soviética pós revolução de 1917, encomendou várias dessas pistolas. Apesar de
não aceita por alguns autores, acredita‑se que a alcunha de “Bolo” origina‑se da palavra
“bolchevique”.
Diversas pistolas pré Tratado de Versalhes foram transformadas para se adequarem às novas regras
impostas. As armas novas, entretanto, receberam a denominação de 1920 e grande parte delas
possuía essa data gravada na arma. As transformadas tiveram seus canos reduzidos para 4″ de
comprimento e a alça de mira eliminada em lugar de uma mira fixa. Predominantemente, a produção
neste período se absteve às comerciais e as do tipo Bolo. Nesta época dos números seriais atingiam a
casa de 500.000.
Acima, uma Mauser 9mm Parabellum datada de 1920, com cano reduzido para 4″ de comprimento e supressão
da alça de mira graduada – exigências do Tratado de Versalhes
Pistola C96 “Bolo” com cano de 4″, 10 cartuchos, modelo pré‑comercial de 1930
Uma C96, fabricação de 1911, com alguns cartuchos 7,63mm – ao fundo, o famoso Mauser “banner” (foto do
autor)
Acima, uma pistola C96 do tipo “small‑hammer”, fabricação de 1912 (foto do autor, coleção particular)
O PROBLEMA DOS NÚMEROS SERIAIS
Apenas como explicação adicional, convém abrirmos um parêntese aqui para falarmos um pouco
sobre a numeração serial das C96. Ao contrário do que se imagina, devido à tradicional rigidez
germânica normalmente empregada nos controles de manufatura, na Mauser C96, a numeração serial
sofreu uma série de alterações, de forma a se tornar uma referência extremamente confusa, que
dificulta um pouco a identificação correta das datas de fabricação.
A Mauser C96 parcialmente inserida dentro de sua caixa‑coronha (foto do autor)
Inversamente ao sucesso que ocorreu com os fuzis Mauser, as pistolas C96, guardadas certas
proporções, não foi uma arma muito popular. A fábrica possuía capacidade ociosa na linha das
pistolas e assim, podia produzir muito mais armas do que poderia vender; portanto havia um certo
“encalhe”, inclusive oriundo de contratos não finalizados. A Mauser, na sua linha de fuzis, sempre
teve como norma criar numeração serial exclusiva para seus grandes contratos, sequenciais e
inciando‑se no número 1.
Conjunto completo de uma C96 com coronha de madeira e coldre de couro com acessório de limpesa
Dependendo dos contratos das armas enviadas aos representantes que a Mauser mantinha fora da
Alemanha, os números de série poderiam ser interrompidos e reiniciados mais tarde, ocasionando
“buracos” na sequencia. Na época do Contrato Italiano em 1899, por exemplo, ao que se
antecedeu um similar com a Turquia, foram saltados 10.000 números que nunca mais foram repostos.
Por estas razões, não é muito fácil estabelecer datas exatas de fabricação de um detrminado modelo a
partir de seu número de série.
De acordo com uma informação do leitor Erich Tamberg,
o autor britânico Frederick Mya剑� afirma que as C‑96
produzidas até 1912 tinham canos com 4 raias, número
alterado para 6 raias a partir daquele ano, detalhe que pode ajudar na avaliação da data de
produção..
Durante a vigência do Tratado de Versalhes, principalmente na década de 20, a produção das “Bolo”
foi em maior quantidade, pois elas se enquadravam nas restrições do Tratado, com seus canos de 4″
de comprimento e calibre limitado em 7,63mm. As Bolo a partir do serial 650.000 começaram a ser
oferecidas com acabamento oxidado brilhante, feito pelo sistema de imersão à quente, em
contrapartida à oxidação “a boneca”, bem mais dispendiosa e artesanal.
Uma das últimas séries, fabricadas a partir de 1929, logo após a mudança da razão social da
Uma das últimas séries, fabricadas a partir de 1929, logo após a mudança da razão social da
Waffenfabrik Mauser A.G. para Mauser Werke A.G., traziam o conhecido Mauser “banner”
estampado do lado esquerdo e uma nova trava de segurança novamente redesenhada, onde haviam
gravadas a letras S (Safe) e (F (Fire) para melhor identificação da posição (foto ao lado). Esta trava foi
denominada de “Universal Safety” e permitia o desarme do martelo em perfeita segurança, sem o
mínimo risco de disparo acidental devido a um efetivo bloqueio mecânico de seu curso, em direção
ao percussor.
Detalhe da gravação das letras NS entrelaçadas indicando a utilização do novo sistema de trava de segurança
“Neue Sicherung” (foto do autor)
Pistola Mauser C96 de 1912 com seu carregador em posição
OS CONTRATOS MILITARES E REPRESENTANTES
COMERCIAIS
O primeiro grande contrato fechado com um país estrangeiro foi com a Turquia em 1897, que já havia
anteriormente fechado uma aquisição de grande lote de fuzis 71/84. O destino dessas armas, cerca de
1.000 unidades, seria para equipar o Regimento da Guarda do Real Palácio de Constantinopla.
Mauser C96 da variação “cone‑hammer” pertencente ao Contrato Turco de 1897 (coleção particular)
Em 1899 a Mauser fechou um acordo com o Governo Italiano, para equipar a Marinha daquele país.
Nesta oportunidade ocorreu uma das mudanças mais notadas nesta série, que é a produção dos
painéis lisos, as chamadas C96 “Slab Sides”. As pistolas deste contrato já usavam o martelo tipo
“large‑ring” e foram produzidas em modelos de 6 e 10 cartuchos de capacidade. Durante esse ano, a
Mauser enviou 5.039 pistolas à Itália. Após a finalização desse contrato, algumas peças remanescentes
foram vendidas comercialmente, estimadas em cerca de 250 a 300 peças. Em 1910 foi fechado um
contrato com a Pérsia de cerca de 1.000 pistolas, bem como para equipar a Polícia Francesa, em 1920,
também em número de 1.000 peças. Áustria e Finlândia também tiveram uma participação, embora
pequena, nos contratos fechados pela Mauser. A Noruega adquiriu, mas em 1930, algumas
comerciais para uso naquele país, bem como a Indonésia, nesta mesma época.
Detalhe de uma C96 “Large‑ring hammer” em calibre 7,63mm, capacidade de 6 cartuchos. (Foto de coleção
particular)
Detalhe da base do carregador da C96 “Bolo” com carregador de 6 cartuchos. (Foto de coleção particular)
Além desses contratos militares, a Mauser estabeleceu negócios principalmente na Inglaterra e nos
Além desses contratos militares, a Mauser estabeleceu negócios principalmente na Inglaterra e nos
Estados Unidos. Em 1897, fecharam um negócio com a importadora inglesa Westley Richards & Co,
Ltd. um acordo de representação no país. Essa “joint‑venture” foi uma das mais bem sucedidas
obtida pela Mauser, e a Westley Richards se tornou uma grande parceira na Europa. De 1897 a 1905
os registros da Mauser apontam 7.901 pistolas vendidas. Além dessa parceria, outras empresas
inglesas como Thomas Bland, Army and Navy Stores, James Braddell e Lang & Hussey adquiriram
boa quantidade de C96 para revenda no país. Quase todas essas revendas solicitavam à Mauser para
enviarem as armas com suas marcas estampadas na lateral direita do painel da armação.
Uma estupenda “large‑ring” Bolo de 1899, calibre 7,63mm, carregador de 6 cartuchos e sua respectiva
coronha (Foto de coleção particular)
Nos Estados Unidos, o representante principal era a Von Lengerke & Detmold, estabelecida na 5ª
Avenida, em Nova York. Até 1905, cerca de 1.900 armas foram enviadas à eles, devidamente gravadas
com o nome do representante. Apesar de que outras companhias como a Pacific Harware and Sales,
Hermann Tauscher e Abercrombie & Fitch também revendessem as pistolas Mauser nos USA,
nenhuma das armas comercializadas por elas foi encontrada contendo a gravação personalizada da
empresa.
Os modelos mais comuns enviados aos Estados Unidos eram os das Mausers “Bolo”, várias delas
enviadas também à União Soviética. Como já explicado, são variantes com 0 cano mais curto e a
empunhadura em um formato menos arredondado, com base mais achatada. Aliás, o formato padrão
arredondado da empunhadura das Mausers, devido à sua remota similaridade a um cabo de
vassoura, foi o que acabou “presenteando” a pistola com o pejorativo apelido de “Broom‑Handle”.
Uma Mauser “Bolo” modelo “large‑ring hammer”, enviada à Von Lengerke & Detmold, com capacidade de 6
cartuchos, sem a alça de mira regulável – note as talas e coronha ricamente ornamentadas.
Detalhe da gravação da empresa importadora, na mesma arma mostrada acima.
Outro modelo “Bolo” da C96, enviada à V.L. & D dos Estados Unidos, tipo “small‑hammer”, com carregador
para 10 cartuchos, alça de mira ajustável e placas de empunhadura engravadas
AS MAUSERS EM CAL. 9 MM EXPORT E 9MM PARABELLUM
No decorrer de sua existência, a Mauser C96 utilizou tres calibres, dentre outros de menor
importância: o original 7,63X25 (7,63mm Mauser), o 9mm Mauser Export e o 9mm Parabellum. O
cartucho 9mm Export, também denominado de 9mm Mauser (9×25) foi lançado pela Mauser em 1908
como alternativa ao 7,63, devido a uma tendência no cenário mundial, tanto civil como militar,
de adotar calibres mais altos e com maior poder de parada. O próprio Exército Alemão estava, nesta
época, adotando oficialmente a pistola Parabellum como arma regulamentar, em detrimento da
própria Mauser, mas em calibre 9mm Parabellum.
Como os cartuchos 9mm poderiam, até de certa forma, serem carregados inadvertidamente nas
7,63mm e vice‑versa, uma vez que não havia nenhuma mudança no carregador, a Mauser resolveu
identificar as pistolas em 9mm com um grande número 9 gravado à fogo nas placas da
empunhadura, e na maioria dos casos, pintado com tinta vermelha. Essas armas receberam
posteriormente, no mercado americano de colecionadores, a alcunha de “Red‑Nine”. Além disso a
alça de mira é graduada até 500 metros e não 1.000 metros. Cada arma era acompanhada de uma
coronha de madeira com um suportes feitos em couro, uma ferramenta de limpesa e uma mola de
carregador sobressalente. Algumas dessas “red‑nine” são encontradas com a marca da Águia
Prussiana gravada na frente do carregador.
Acima uma C96 “Red Nine” com seu clipe em posição de recarregamento, com 10 cartuchos 9mm Parabellum
Já as C96 produzidas em calibre 9mm Mauser Export estão geralmente situadas entre os números de
série 80.000 a 90.000 e após a serial 170.000. Vários modelos dessa versão foram fornecidos com as
talas confeccionadas em material plástico, similar ao ebonite, em cor preta e com entalhes
recartilhados, com o monograma em alto relevo da Mauser Waffenfabrik. Logo após o término da I
recartilhados, com o monograma em alto relevo da Mauser Waffenfabrik. Logo após o término da I
Guerra, e devido às restrições impostas pelo Tratado de Versalhes, terminou a produção de Mausers
neste calibre.
A M1930, M712 E A SCHNELLFEUER
Como já dito acima, a partir de 1930 a Mauser redesenhou alguns ítens sobre seu modelo anterior de
1912, principalmente na trava de segurança e um pequeno degrau no cano, localizado logo à frente
da câmara. Essas pistolas são conhecidas hoje como as Comerciais mod. 1930, e estampam na lateral
esquerda o Mauser Banner, logotipo adotado logo após a mudança de razão social da empresa em
1922. Na verdade a Modelo 1930 é a única variação da pistola Mauser que recebeu essa denominação
oficial da fábrica. Anotações encontradas na fábrica indicam que a numeração serial da 1930 iniciou‑
se por volta de 800.000.
A 1930 apresentava a oxidação à banho quente, de cor negra brilhante, ao invés da oxidação “à
boneca”. Além disso, introduzia‑se agora uma nova trava de segurança, que recebeu o nome de
“Universal Safety”, um sistema que permitia o desarme seguro do cão sem que o percussor fosse
atingido. Na época esse sistema gerou controvérsias e a maioria dos possuidores da arma relutavam
em arriscar fazer essa operação. O que é interessante lembrar que hoje, esse mesmo método é
bastante comum nas pistolas atuais que possuem cão externo, sistema que se denomina “decocker”.
Uma C96 Comercial 1930, com as talas de empunhadura em marfim – note o pequeno rebaixo no cano
A Luftwaffe adquiriu 7.800 pistolas para uso de seus aviadores. Porém, definitivamente, a C96 não
fazia muito sucesso em seu país de origem, mas por outro lado fazia, e muito, sucesso na China. De
olho neste mercado, os espanhóis, na época notáveis criadores de réplicas e cópias de várias armas de
sucesso, como os revólveres Colt e Smith & Wesson, resolveram também copiar a C96, assunto que
trataremos em mais detalhe logo abaixo.
Pior que somente copiar é criar algo novo e diferente, em cima de um projeto existente. E os
espanhóis fizeram da C96 uma pistola‑metralhadora, capaz de efetuar tiro seletivo, modos
automático e semi‑automático, e contando ainda com carregadores removíveis de 10, 20 e 30
cartuchos, detalhes que a Mauser ainda não oferecia. Apesar de que o mecanismo interno dessas
cópias não era exatamente igual às Mausers, tampouco o esmero na fabricação e qualidade de
cópias não era exatamente igual às Mausers, tampouco o esmero na fabricação e qualidade de
materias, ainda assim eram armas que funcionavam bem, detalhe que foi extensamente provado na
Guerra Civil espanhola.
Como troco desta “ousadia”, a Mauser resolve também fabricar um modelo baseado na Modelo 1930,
mas com a opção de tiro seletivo e carregador e destacável para 20 ou 30 cartuchos. Foi a pistola que
passou a ser denominada M712. A M711, lançada pouco
antes, seria a mesma pistola, mas sem a opção de tiro
automático, mas mantendo o carregador destacável com
capacidade de 10 cartuchos.
Ao lado, a patente de Westinger para a M712
A diretoria de manufatura da Mauser aceitou as duas variantes como funcionais, sendo que a
diferença entre os dois desenhos era muito pequena, basicamente na forma como operava a chave
lateral de mudança do tipo de disparo. O sistema de Westinger acabou sendo o mais utilizado na
totalidade das então chamadas “Schellfeuer” fabricadas. A palavra alemã “Schnellfeuer” significa, ao
pé da letra, Fogo‑Rápido.
Um modelo 712 “Schnellfeuer” com a opção derivada do projeto de Westinger, com sua coronha adaptável e
Um modelo 712 “Schnellfeuer” com a opção derivada do projeto de Westinger, com sua coronha adaptável e
carregador de 10 cartuchos, destacável.
Ao contrário do que ocorreu nas cópias espanholas, a Mauser não fez alterações no mecanismo
original da M1930. Os projetos desenvolvidos por Nickl e Westinger eram peças a serem adicionadas,
exigindo pouquíssima usinagem e alteração nas peças existentes. Isso facilitou enormemente o início
da produção das M712 em série. Com ela, a Mauser conseguiu ganhar mais alguns mercados ao
redor do mundo, sendo que o Brasil foi um de seus clientes, mediante uma encomenda de 500 peças
feita pela Polícia Militar do Distrito Federal (RJ) em 1930 e pela antiga Força Pública do Estado de São
Paulo.
A variante brasileira “PASAM”
Chamada aqui de PASAM (Pistola Automática Semi‑Automática Militar), tratava‑se de modificações
efetuadas pelo armeiro basco Jener Damau Arroyo, inicialmente sobre 101 pistolas modelo 712 da
Polícia Militar do DF; na época a capital federal era o Rio de Janeiro. Segundo o historiador Ronaldo
Olive, autor de um muito completo artigo sobre essas armas, as modificações compunham‑se de uma
peça de metal instalada sob o cano, com um punho pistola, bastante similar ao utilizado nas sub‑
metralhadoras Thompson modelo 1921. Nessa modificação, a empunhadura original foi mantida, e a
tradicional coldre‑coronha de madeira continuou a ser utilizada.
Em seguida, numa segunda versão, efetuada sobre outras 89 pistolas, as mudanças incluíram uma
coronha tubular de metal, que era fixada a uma empunhadura totalmente modificada em relação à
original da pistola. Nas duas versões o cano foi deixado livre, condição essencial para que arma
continuasse funcionando, pois o cano necessitava recuar.
Devido à cadência de tiro muito alta, o carregador de 10 cartuchos utilizado nessa arma se esvaziava
em menos de um segundo, pois a 800 disparos por minuto temos cerca de 13 disparos por segundo.
Essas modificações foram feitas visando um controle da arma bem mais efetivo, mantendo‑a na linha
de visada com maior facilidade. Se na ocasião tivessem projetado e produzido um carregador com
capacidade de pelo menos 30 cartuchos, teríamos quase uma autêntica sub‑metralhadora nas mãos.
Acima, o “modelo 2” da PASAM, com a coronha rebatível de metal e o punho pistola dianteiro – Foto de
Ronaldo Olive
Segundo Olive, 295 pistolas Mauser “Schnellfeuer” foram deixadas em suas condições originais de
Segundo Olive, 295 pistolas Mauser “Schnellfeuer” foram deixadas em suas condições originais de
fábrica. Acredita‑se que elas foram usadas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro até a década de 80,
como uma espécie de carabina no modo semi‑automático – o fogo automático era reservado somente
para ocasiões de emergência.
A história brasileira indica o uso da M712, bem como de outros modelos da C96 até pelos cangaceiros
no nordeste brasileiro. Sabe‑se que Lampião utilizava as pistolas Parabellum (Lugers) como suas
armas pessoais de defesa, mas as Mausers também tinham seu quinhão de fama por lá. Por essa
razão, muita gente no Brasil costuma confundir os nomes dessas duas armas e chamam as C96
equivocadamente de “Parabelo”.
Patente de Josef Nickl, de 1934, sobre o projeto de mecanismo de tiro seletivo da Mauser 712
Patente de Josef Nickl, de 1934, sobre o projeto de mecanismo de tiro seletivo da Mauser 712
Detalhe do seletor de tiro automático (R) e semi‑automático (N) da Mauser modelo 712 “Schnellfeuer”
Um dos maiores problemas da M712 era sua cadência de tiro excessivamente alta, que ocasionava
dois fatos desagradáveis: a rápida falta de munição e a tendência em subir demais a visada durante
as rajadas. Nessas versões que vieram para o Brasil haviam algumas marcas em portugues, como as
da chave de reversão do fogo seletivo, marcada com N (Normal) e R (Rápido ou Rajada). Hoje, esses
exemplares estão praticamente todos nas mãos de colecionadores e de museus da Polícia Militar.
Uma pistola M712 com carregador de 10 cartuchos; note o botão lateral para a retirada do carregador
Os dois lados da M712 “Schnellfeuer” com carregados de 20 cartuchos, coronha de madeira e bandoleira
Em 1936, mesmo depois de uma grande aquisição feita pela Wehrmacht das pistolas M712 e cerca de
8.000 armas para uso em algumas tropas de elite, como as SS e para a Luftwaffe, isso não evitou que
sua produção fosse interrompida, antes mesmo da eclosão da II Guerra Mundial. A produção total
das Schnellfeuer atingiu aproximadamente 100.000 armas.
CARACTERÍSTICAS GERAIS E MECÂNICAS
Uma das coisas mais fascinantes da pistola Mauser C96 é o seu intrincado mecanismo, digno da fama
da engenharia alemã no que tange à concepção, originalidade e engenhosidade. Por dentro de uma
aparente caixa oca de metal, esconde‑se um mecanismo que em muito se parece com as peças de um
quebra‑cabeça. Não há pinos usados como articulação, e em toda arma só existe um parafuso: o que
fixa as talas de madeira à empunhadura. Outra característica intrigante nessa arma é a sua tremenda
facilidade de se adaptar a alterações externas de grande monta. Diversas combinações de
comprimento de cano eram feitas sem problemas, bem como alterações em alças de mira, capacidade
de carregador, aparência da empunhadura, alterações no desenho do cão, etc. Nenhuma outra pistola
semi‑automática foi produzida até hoje que possua essa facilidade de mudanças.
Entretanto, duas principais características da arma podem ter sido decisivas para que a C96 não
obtivesse muito mais sucesso, principalmente na adoção militar em larga escala. Primeiramente, o
problema do cano incorporado à extensão, não podendo ser simplesmente trocado, seja por rosca ou
por encaixe, de forma bem conveniente. Numa época em que essa sarmas utilizavam projéteis
encamizados e espoleta altamente corrosiva, a corrosão interna das raias era frequente. Em segundo
encamizados e espoleta altamente corrosiva, a corrosão interna das raias era frequente. Em segundo
lugar, sua concepção de carregador não destacável, obrigando a sua alimentação através de clipes de
metal. Fora isso, existem as críticas, bastante comuns, quanto à sua aparência desajeitada e a falta de
uma empunhadura anatômica.
A Mauser C96 é uma pistola semi‑automática do sistema “locked‑breech”, acionada por curto recuo
do cano, ou seja, sua culatra permanece trancada na ocasião do disparo, sistema que possibilita o uso
de cartuchos mais potentes uma vez que o ferrolho só é liberado para abrir quando o projétil já saiu
do cano e, consequentemente, a pressão interna dos gases caiu a um nível seguro. Para detalhes
desses sistemas, veja nosso artigo aqui, neste site.
O peso médio da arma do modelo C96, porque ele depende das diversas variações, é de 1,130 Kg e o
comprimento é de 312mm com canos de 5,5″ e de 271mm com canos de 3,9″. Seu alcance efetivo gira
em torno de 150 a 200 metros, sendo que com a coronha instalada essa margem aumenta para tiros de
longa distância, cerca de 200 a 300 metros.
Os calibres são, basicamente, o 7,63mm Mauser, o 9mm Export, o 9mm Parabellum e o 7,65mm
Parabellum. A capacidade das C96 é de 6, 10 ou 20 cartuchos, mas há carregadores maiores para o
modelo M712, de 30 cartuchos. Os países que a utilizaram foram, resumidamente, Áustria,
Alemanha, Brasil, Finlândia, Itália, Império Otomano, China, União Soviética, França, Espanha e
Inglaterra.
DETALHES DO MECANISMO:
Nesta foto, mostra‑se uma C96 de 1912 totalmente desmontada. Esse nível de desmontagem não é recomendado
para pessoas não muito familiarizadas com os mecanismos de armas de fogo – (foto do autor)
Vista interna do lado esquerdo da C96, com o ferrolho aberto – nota‑se embaixo do ferrolho os dois encaixes onde
se engatam os dois dentes existentes na trava da culatra.
O QUE ACONTECE NA HORA DO DISPARO
Figura 1
Na figura 1, temos a pistola em posição de descanso, descarregada. O elevador dos cartuchos (21)
Na figura 1, temos a pistola em posição de descanso, descarregada. O elevador dos cartuchos (21)
dentro do carregador está na posição superior. O cão (10) está desarmado, bem como a sua mola de
pressão (16) está aliviada. O bloco de trancamento (2) está em sua posição normal, e vemos os seus
dois engates firmemente travados na base do ferrolho (8). Como o bloco (2) é solidário à armação (15),
o ferrolho está firmemente trancado em relação ao cano. Se segurarmos a arma pelo seu cano e
tentarmos introduzir uma vareta pela sua boca e pressionarmos contra a cabeça do ferrolho (7), não o
conseguiremos mover e abrir a culatra. É a mesma força que o cartucho aplica sobre o ferrolho na
hora do disparo.
Figura 2
Na figura 2, supomos que a arma tenha sido disparada. Devido à expansão dos gases na boca do
cano com à saída do projétil, todo o conjunto cano e ferrolho recuam alguns milímetros para trás. Isso
faz com que o bloco de trancamento (2) também recue junto, porém, esse movimento força‑o para
baixo, fazendo com que o seu apêndice (a) penetre no alojamento da armação (9). O bloco (2) também
é comprimido pela mesma mola do cão (15). Com essa queda do bloco (2), os seus dentes se soltam
da base do ferrolho (8). Os gases remanescentes da queima do propelente, bem como a própria
inércia do movimento inicial, permitem que o ferrolho seja arremessado para trás empurrando o cão
(10) para que se arme novamente. Neste mesmo movimento, o cartucho vazio, preso ao extrator na
cabeça do ferrolho (7), é ejetado para fora. Imediatamente, cessa‑se toda a pressão na arma e o
ferrolho, por ação de sua mola de retorno (6) volta a se fechar, levando um novo cartucho retirado do
levantador (21) e introduzindo‑o na câmara (1). O cão permanece armado, pressionando sua mola,
aguardando que o gatilho (25) seja pressionado novamente para que o mesmo se solte e percute o
novo cartucho batendo no percussor (5). O ferrolho se fechando totalmente, permite que o bloco de
trancamento (2) volte a sua posição normal, e engatando seus dois dentes na base do ferrolho.
Na foto superior vemos o ferrolho aberto, o cano levemente recuado, a trava de culatra (vermelha) inclinada para
baixo a fim de liberar o ferrolho. Na foto de baixo, a arma em descanso, ferrolho fechado e trancado pela trava
(vermelha), que agora tem os seus dois ressaltos encaixados nos rebaixos do ferrolho.
MANUSEIO:
O manuseio básico da arma consiste no seguinte: abre‑se o ferrolho, puxando‑o com certa força para
trás, de um golpe, agarrando em suas duas protuberâncias estriadas na parte traseira. Isso fará o
ferrolho correr para trás, engatilhar o cão e ficar travado na posição aberta, pois o levantador de
cartuchos dentro do carregador trava o ferrolho pela sua parte frontal.
Na foto da esquerda, a posição correta para se inserir os cartuchos na arma – à direita, todos os cartuchos
municiados e com o clipe ainda na posição, o que mantém o ferrolho aberto.
Insere‑se por cima, no rasgo existente na janela de ejeção, o clipe municiador com 10 cartuchos; com o
polegar empurra‑se os cartuchos para dentro do carregador, onde ficarão presos pelos lábios
superiores. Ao se retirar o clipe (lâmina) de seu encaixe, o ferrolho se fecha de um golpe, levando
para dentro da câmara o primeiro cartucho.
Com o ferrolho fechado e o cão já armado, a arma está destravada e pronta para disparar, ao se puxar
do gatilho. No caso das C96, por serem elas pistolas semi‑automáticas, a cada disparo o gatilho deve
ser pressionado e solto logo em seguida, para se poder efetuar o disparo seguinte. Ao terminar o
último dos 10 cartuchos, o levantador de cartuchos do carregador prende a parte frontal do ferrolho,
mantendo‑o aberto. Para remuniciar, basta inserir novo clipe com 10 cartuchos e repetir‑se o processo
descrito acima.
DESMONTAGEM PARCIAL:
Não se necessita de nenhuma ferramenta especial para a desmontagem parcial da C96, que é a
recomendada e suficiente para limpesa e lubrificação da arma.
Com o auxílio de um punção ou até mesmo a ponta de uma caneta
esferográfica, pressiona‑se o pino retém da tampa inferior do
carregador e puxa‑se a mesma para a frente até soltá‑la de seu engate.
Isso liberará a tampa bem como a mola do carregador e o levantador
de cartuchos.
Segurando a arma pela empunhadura, engatilha‑se o martelo e apoia‑
se a extremidade do cano sobre uma superfície macia, mas firme, para não machucá‑lo. Com o
polegar direito, levanta‑se a trava retém que está situada atrás da arma, bem abaixo do martelo.
Mantendo essa posição do retém, empurra‑se a empunhadura com bastante pressão para baixo,
fazendo com que a armação deslize nos trilhos da extensão do cano, saindo desta maneira, e
totalmente, pela parte frontal.
De cima para baixo: 1) liberando o retém da armação e empurrando‑a para baixo; 2) retirando o bloco mestre,
soltando‑a da trava de culatra; 3) retirando a trava de culatra de sua articulação.
O bloco mestre fica preso ao ferrolho através da trava de culatra. Basta puxá‑lo para baixo e o bloco se
desprende da trava. Retira‑se a trava de culatra de seu encaixe. O bloco mestre pode, agora, ser limpo
e lubrificado. No conjunto cano, extensão e ferrolho, tira‑se o percussor apertando‑o por trás, para
dentro, com uma chave de fenda e girando‑o 90º para qualquer lado. O percussor sai para fora com
dentro, com uma chave de fenda e girando‑o 90º para qualquer lado. O percussor sai para fora com
sua mola.
Para tirar o ferrolho, mantenha o orifício de saída do percussor bloqueado para evitar o salto da mola
recuperadora. Do lado direito do ferrolho, puxa‑se para trás o retém que segura a mola; ele se
desengata facilmente e pode ser retirado da extensão do cano. A mola recuperadora surge com
alguma pressão no orifício do percussor. Agora, o ferrolho pode ser retirado totalmente por trás.
Nesta altura, as peças que temos em mãos são as que se exibem na foto abaixo:
Aqui uma C96 após a desmontada, onde se vê de cima para baixo: ferrolho, percussor com mola e retém do
Aqui uma C96 após a desmontada, onde se vê de cima para baixo: ferrolho, percussor com mola e retém do
percussor; cano e extensão do cano, na verdade uma só peça; trava da culatra, bloco mestre onde se encontram o
martelo, sua mola, a trava de segurança e mecanismo disparador; mais em baixo, a armação contendo tão
somente a tecla do gatilho e as talas de madeira; ao lado, o levantador de cartuchos, mola do carregador e sua
tampa inferior.
Vista explodida da C96 na versão “cone‑hammer”
Vista explodida da C96 na versão “cone‑hammer”
AS CÓPIAS ESPANHOLAS
Armas On‑Line possui um capítulo destinado à essas interessantes réplicas, ou cópias feitas na
Espanha a partir do projeto das Mauser C96. Para conhecer melhor esses detalhes e saber mais sobre
essas curiosas armas, leia nosso artigo “Astra, Royal e Azul; rápidas espanholas.“
CONCLUSÃO
Não há dúvida nenhuma que, nos meios do colecionismo, a presença de uma pistola Mauser C96, em
qualquer uma de suas variações, é presença obrigatória em qualquer coleção de armas. Foi, sem
dúvida, um marco histórico e importantíssimo no desenvolvimento das pistolas semi‑automáticas,
onde ela foi uma das pioneiras e a única, de sua época, que não sucumbiu à grande variedade de
outros projetos e idéias, muitos deles até bem mais modernos e com soluções avançadas.
Combatentes das Waffen‑SS na II Guerra, um deles se defendendo com uma Mauser Schnellfeuer
Não foi oficialmente adotada em seu país de origem, o que pode ter sido uma das grandes frustrações
de seus fabricantes, mas fez sucesso em diversos países longínquos, como a China, sucesso que
acabou por ser copiada também naquele país. Participou de vários conflitos armados ao redor do
mundo e era admirada até por adversários históricos de seu país de origem, como a Inglaterra,
tanto que foi utilizada por um até então desconhecido oficial do Exército Imperial Britânico, o
tanto que foi utilizada por um até então desconhecido oficial do Exército Imperial Britânico, o
Tenente Winston Leonard Spencer Churchill, na segunda guerra dos Boeres, e que, em determinada
batalha que ele narra em suas memórias, teve sua vida salva por esta pistola.
Grande, pesada, desajeitada, com sua empunhadura em formato de um cabo de vassoura; e por aí
vão mais alguns de seus defeitos… mas nada disso tirou o brilho dessa arma exuberantemente
desenhada, mecânica fascinante e dotada de um calibre de alta velocidade e precisão. Enfim, uma
pistola clássica como poucas, digna de sua posição honrosa de ter ajudado a construir a história das
armas portáteis.
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Wri剑�en by Carlos F P Neto
14/07/2011 às 11:27