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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES – CCTA


CURSO DE CINEMA E AUDIOVISUAL

Disciplina: Direção de Cinema e Audiovisual – 2303194


Discente: Anderson Soares e Silva Cândido – 11507407
Docente: Carlos Federico Buonfiglio Dowling

Primeiro corte, cena de abertura do filme Cidadão Kane, do Orson Welles

“Chapter” N° 01; 00:00 – 03:10

Analisar esse fragmento inicial da obra prima de Orson Welles é uma tarefa
bastante complexa, por ser um filme marcante e primordial para a história do cinema,
consequentemente foi analisado e dissecado por diversos especialistas ao longo dos anos.
De qualquer forma, vou me atrever a analisar os recursos técnicos; princípios, conceitos
e fundamentos de direção cinematográfica utilizadas nos três primeiros minutos do longa-
metragem.

A primeira cena é um indicativo perceptível de uma introdução não usual para


época, introduzido de forma cirúrgica os eventos que posteriormente serão narrados,
percebe-se a utilização excessiva do “close-up” com extrema perspicácia, a música de
Bernard Hermann bem colocada no início traz consigo um ar de suspense acompanhado
com o conjunto de diferentes cenas justapostas formando uma sequência enigmática, um
bom trabalho de desmonte das estruturas para introdução da obra dando a função de
estarmos adentando a mansão, é exibido logo no início uma placa que indicava "no
trespassing”, seguindo por um movimento ascendente (para cima) mostrando as grades
da mansão, três imagens se sobrepõem realçando a ideia de inserção aos portões (um
“travelling” faz a câmera "ultrapassar" a grade), uma por uma esmaece de forma gradativa
sobressaindo a anteriormente cobrindo-a ou pressionando-a. Enxergamos visivelmente o
portão de entrada da mansão com o a letra “K” e duas imagens na parte posterior (situado
atrás), uma da mansão mais distante e outra de um coqueiro um pouco mais próxima do
portão, mostrando uma visão ampla do ambiente ao telespectador, transmitindo
profundidade de campo.
Uma movimentação de câmera “intrometida” querendo mostrar o que se passa
além desses portões. A utilização desenfreada de cenas sobrepostas mostrando diferentes
ângulos e posicionamentos da propriedade, recurso utilizado para enaltecer a mansão,
concedendo dimensão, tamanho e profundidade, logo, a grandiosidade.

Diversos pontos de vistas são utilizados, mostrando jaulas com animais, o reflexo
da mansão na água com barcos, mas, com ênfase maior a janela iluminada, a mesma será
revelada adiante, a iluminação da janela elevada no canto superior, aparecendo sempre
no mesmo ponto da tela sobressaindo os demais elementos em cena. Temos, então
uma apresentação rasa da mansão, utilizando de artifícios repetitivos e exaustivos de
sobreposição de fotografias umas combinações da pintura em matte com sets parciais,
modelos e miniaturas, através de cortes e fusões, percebemos a aproximação gradativa
em direção ao foco de luminosidade, revelando ser a janela de um quarto, a centralização
da janela e o enquadramento proximamente, a luz que antes estava acesa é apagada e
acesa novamente de forma apressada, ágil.

A utilização da neve para a transição de cena, visualizamos uma casinha que com
um movimento brusco de afastamento de câmera (um procedimento que liga os dois
planos, do protagonista e da ambiência) revelando ser um globo de neve que o
protagonista deixará espatifar no chão, após a famosa cena que o magnata Charles Foster
Kane murmura a palavra "Rosebud", a utilização do jogo de lentes encontra-se ressaltado
com a imagem distorcida da enfermeira, ao entrar no quarto de Kane. Orson Welles criar
um efeito surreal, como se a câmera olhasse através dos cacos de vidro do globo.
Gregg Toland diretor de fotografia utilizou uma lente de redução do qual assemelha o
efeito de um binóculo do lado avesso de frente para uma grande-angular, distorcendo a
imagem, o efeito é conhecido como lente de olho-de-peixe, que se tornou comum na
cinematografia.

Por último temos a utilização da rebobinagem, quando temos a aproximação do quarto,


pelo lado de fora da janela, vemos sua silhueta. A luz diminui e, de repente, sem nenhum
corte, estamos no quarto. Esse processo normalmente é dividido em duas partes: o fundo
é escurecido e o primeiro plano é iluminado e filmado, em seguida o filme é rebobinado,
é feito a inversão do escurecimento, quem foi iluminado agora é escurecido e quem foi
escurecido é iluminado. A finalização são duas cenas no mesmo fragmento de filme.

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