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KEOHANE

Robert Owen Keohane (nascido em 1941) é um cientista político, um acadêmico


de Relações Internacionais (RI) e um educador estadunidense. Formou-se pela
Universidade de Harvard e se destaca por ser um dos expoentes do Neoliberalismo
Institucionalista, apresentando essa teoria como uma das vertentes das RI, onde procura
enfatizar o uso das instituições internacionais para o estabelecimento de cooperações
entre os Estados. O autor tem a obra “After Hegemony: cooperation and discord in the
world political economy” como um de seus principais trabalhos.
Keohane se preocupa em como os padrões de coordenação política guiados por
regras emergem, se perpetuam e decaem na política internacional?
Para responder essa problemática Keohane utiliza a tese de que os conceitos de
regimes internacionais e de cooperação, que difere de harmonia e discórdia, são essenciais
para elucidar o problema.
Ao se sustentar ele discute que é necessário entender o que é harmonia,
cooperação e discórdia. A harmonia para o autor é quando as ações individuais o
beneficiam e ao mesmo tempo beneficia o próximo, facilitando o objetivo de forma
mútua dentro de um sistema. O exemplo utilizado pelo autor é a mão invisível do
mercado. A cooperação exige que as ações separadas entre indivíduos e organizações, em
que não existe uma harmonia, sejam trazidas dentro da conformidade por meio de
negociações, que frequentemente se referem a “ coordenação política”. Por fim a
discórdia é a ausência de harmonia natural, ou seja, as ações dos outros atores
internacionais interferem e impedem outros a atingirem seus objetivos pessoais, criando
assim conflitos. Keohane usa conceitos de microeconomia como falhas de mercado, em
que as interações geram resultados não ideais. Nesses casos a cooperação é necessária.
Para Keohane, a cooperação não é contrária a hegemonia; a hegemonia depende
de um tipo de cooperação assimétrica, que as hegemonias auxiliam e suportam. Entretanto
os regimes anteriormente construídos não necessitam da hegemonia para a sua
sobrevivência, ou seja, mesmo que o Estado criador do regime deixa de ser uma
hegemonia, os outros estados podem manter a hegemonia, porque, segundo o autor,
manter um regime é muito mais simples e exige muito menos do que a criação de um.
Quando os interesses são compartilhados, a cooperação pode emergir e os regimes podem
ser criados sem hegemonias.
A cooperação ocorre quando os atores ajustam seus comportamentos para as
preferências atuais ou antecipadas dos outros, dentro de um processo de “coordenação
política”. Em outras palavras, a cooperação interestatal ganha lugar quando a políticas
atuais seguidas por um Governo, são consideradas pelos seus parceiros, facilitando a
realização de seus próprios objetivos, como o resultado de um processo de “coordenação
política”.
O conceito de Regime Internacional é complexo, porque é definido nos termos de
quatro componentes distintos: princípios, normas, regras e processo de tomada de
decisões – eles caracterizam os regimes. Princípios são crenças do fato, causa e retidão.
Normas são padrões de comportamento definidos em termos de direitos e obrigações.
Regras são prescrições ou proscrições para a ação. “A tomada de decisão” de
procedimentos, é uma prática predominante para fazer e implementar a escolha coletiva.
Porém, cria-se uma grande dicotomia entre os princípios e regras (em uma mão) e
procedimentos (em outra mão). A coordenação política que conduz à cooperação, precisa
não se envolver em barganhas ou negociações como um todo. Para especificar mais cada
Governo persegue seus interesses próprios, mas olham para as barganhas que podem
beneficiar todos os lados no acordo, entretanto, não são necessariamente igualitários. Em
um Regime Internacional forte, as ligações entre princípios e regras estão provavelmente
amarradas. De fato, isso se refere precisamente as ligações entre princípios, normas e
regras que dão a legitimidade aos regimes. Desde que regras, normas e princípios estejam
fortemente entrelaçados, julgamentos sobre as mudanças nas regras constituem mudanças
de regimes ou apenas mudanças dentro dos regimes, necessariamente contém elementos
arbitrários.
Os regimes internacionais interferem sobre comportamento: eles prescrevem
certas ações e proscrevem outras. São essas injunções intermediárias, politicamente
consequentes, mas específicas o suficiente para que as violações e mudanças possam ser
identificadas. Áreas de problemas são definidas e redefinidas pelas mudanças dos padrões
de intervenção. Assim as injunções e determinações dos Regimes Internacionais
raramente afetam diretamente as transações econômicas: são os Estados, ao invés de
organizações internacionais, que impõem tarifas e cotas, intervêm no mercado cambial
estrangeiro, e manipulam os preços do petróleo por meio de taxas e subsídios.
Os Regimes Internacionais não deveriam ser interpretados como elementos de
uma nova ordem internacional “além do Estado-nação”. Eles deveriam ser
compreendidos principalmente como arranjos motivados pelo interesse próprio: como
componentes do sistema em que cada soberania permanece como um princípio.
Em conclusão o autor afirma que a cooperação é um processo pelo qual governos
facilitam a realização de seu próprio objetivo criando políticas entre si para o organizar e
simplificar suas ações de forma benéfica para todas as partes. Cooperação aparece com a
necessidade de apaziguar o conflito real ou potencial. A discórdia é o oposto da harmonia
e ela leva ou as diferentes partes a cooperarem ou a mais discórdia.
Regimes consistem em junções de princípios e normas até regras muito
específicas. Analisando essas estruturas na história pode-se enxergar um conceito de
regime internacional, que nos ajuda a investigar a continuidade ou mudanças das políticas
internacionais. Os regimes podem afetar o comportamento dos estados, mesmo que os
regimes não estejam compostos de ideias comuns, se forem usados por empresas e atores
internacionais

Krasner
Stephen Krasner (nascido em 1942) é um professor estadunidense de Relações
Internacionais pela Universidade de Stanford, além de ser ex-diretor de “Planejamento de
Políticas” no Departamento de Estado dos EUA. Ganhou o prêmio Dean’s Award em
1991, devido às suas contribuições acadêmicas como professor. Krasner escreveu
diversos livros e artigos, porém sua Magnum opus é “International Regimes”.
A problemática central abordada no texto de Krasner é a seguinte: qual é a relação entre
os regimes e os resultados e comportamentos análogos?
Krasner analisa três formas de responder a questão. A primeira vê os regimes
internacionais como algo inerente ao sistema internacional ( Hopkins, Puchala e Young).
A segunda, defende que os regimes internacionais são uma ilusão (Strange). Já a terceira
e mais prevalecente é que os regimes internacionais surgem quando a simples interação
entre as unidades não leva a um resultado ótimo (Stein, Keohane e Jervis).

Argumentos:
Definição de regime e mudança de regime
Regimes podem ser definidos como conjuntos de princípios implícitos ou
explícitos, normas, regras e procedimentos de tomada de decisão em torno dos quais as
expectativas dos atores convergem em uma determinada área das relações internacionais.
Princípios são crenças de fato, causalidade e retidão. Normas são padrões de
comportamento definidos em termos de direitos e obrigações. Regras são prescrições
específicas ou prescrições para ação. Os procedimentos de tomada de decisão são práticas
predominantes para a elaboração e implementação de escolhas coletivas.
Regimes devem ser entendidos como algo mais do que arranjos temporários que
mudam a cada mudança de poder ou interesses. Keohane observa que uma distinção
analítica básica deve ser feita entre regimes e acordos. Acordos são, geralmente "únicos".
O objetivo dos regimes é facilitar acordos. Da mesma forma, Jervis argumenta que o
conceito de regimes "implica não apenas normas e expectativas que facilitam a
cooperação, mas uma forma de cooperação que é mais do que o seguimento do interesse
próprio de curto prazo.
Uma distinção fundamental deve ser feita entre princípios e normas, por um lado,
e regras e procedimentos, por outro. Princípios e normas fornecem as características
básicas definidoras de um regime. Pode haver muitas regras e procedimentos de tomada
de decisão que sejam consistentes com os mesmos princípios e normas. Mudanças nas
regras e procedimentos de tomada de decisão são mudanças dentro dos regimes, desde
que os princípios e normas estejam inalterados.
Mudanças nos princípios e normas são mudanças do próprio regime. Quando as
normas e princípios são abandonados, há uma mudança para um novo regime ou um
desaparecimento de regimes de uma dada área-problema
Argumentos políticos fundamentais estão mais preocupados com normas e
princípios do que com regras e procedimentos.
Finalmente, é necessário distinguir o enfraquecimento de um regime das
mudanças dentro ou entre os regimes. Se os princípios, normas, regras e procedimentos
de tomada de decisão de um regime se tornam menos coerentes, ou se a prática atual é
cada vez mais inconsistente com princípios, normas, regras e procedimentos, então um
regime enfraqueceu.
Em suma, a mudança dentro de um regime envolve alterações de regras e
procedimentos de tomada de decisão, mas não de normas ou princípios; a mudança de um
regime envolve alteração de normas e princípios; e o enfraquecimento de um regime
envolve incoerência entre os componentes do regime ou inconsistência entre o regime e
o comportamento relacionado.

Regimes Importam?
Assumiu-se que os regimes poderiam ser concebidos como variáveis
intervenientes, situando-se entre variáveis causais básicas (mais proeminentemente,
poder e interesses) e resultados e comportamento. A primeira tentativa de analisar os
regimes assumiu, assim, o seguinte conjunto de relações causais (ver Figura 1).
Regimes não surgem espontaneamente. Eles não são considerados como fins em
si mesmos. Uma vez no local, eles afetam o comportamento e os resultados relacionados.
Eles não são meramente epifenômenos.
Susan Strange representa a primeira orientação. Ela tem graves reservas sobre o
valor da noção de regimes. Strange argumenta que o conceito é pernicioso porque ofusca
e obscurece os interesses e as relações de poder que são a causa imediata, não apenas a
última, do comportamento no sistema internacional. "Todos os arranjos internacionais
dignificados pelo regime de rótulo são facilmente perturbados quando o equilíbrio do
poder de barganha ou a percepção de interesse nacional (ou os dois juntos) mudam entre
os estados que os negociam." 9 Regimes, se podem ser ditos para existir, tem pouco ou
nenhum impacto. Eles são meramente epifenômenos. O esquema causal subjacente é
aquele que vê uma conexão direta entre mudanças nos fatores causais básicos
(econômicos ou políticos) e mudanças no comportamento e nos resultados. Os regimes
são completamente excluídos, ou seu impacto nos resultados e no comportamento
relacionado é considerado trivial.
A segunda orientação, que Krasner chama de estrutural modificada, é explicitada
nos trabalhos de Keohane e Stein. Esses dois autores partem de uma perspectiva realista
estrutural convencional, um mundo de Estados soberanos buscando maximizar seus
interesses e poder. Keohane afirma que os regimes internacionais provém de acordos
voluntários entre atores judicialmente iguais. Já Stein afirma que "conceptualização de
regimes desenvolvido aqui está enraizada na caracterização clássica da política
internacional como relações entre entidades soberanas dedicadas a auto-preservação,
ultimamente capazes de depender somente de si próprias, e preparadas a ."
The third approach to regimes, most clearly elaborated in the essays of Raymond
Hopkins and Donald Puchala, and Oran Young, reflects a fundamentally different view
of international relations than the two structural arguments just described. These two
essays are strongly informed by the Grotian tradition, which sees regimes as a pervasive
phenomenon of all political systems. Hopkins and Puchala conclude that "regimes exist
in all areas of international relations, even those, such as major power rivalry, that are
traditionally looked upon as clear-cut examples of anarchy. Statesmen nearly always
perceive themselves as constrained by principles, norms, and rules that prescribe and
proscribe varieties of behavior."' 7 The concept of regime, they argue, moves beyond a
realist perspective, which is "too limited for explaining an increasingly complex,
interdependent, and dangerous world."''8 Hopkins and Puchala apply their argument not
only to an issue- area where one might expect communalities of interest (food) but also
to one generally thought of as being much more unambiguously conflictual (colonialism)

Explicações para o desenvolvimento de regimes


A principal explicação para a existência de regimes internacionais é o interesse
egoísta, que é o desejo de maximizar a sua utilidade sem considerar a utilidade de outros
atores. O egoísta só se preocupa com o comportamento de outros atores nos casos em que
esses comportamentos podem afetar sua utilidade. Enquanto Stein adota uma perspectiva
baseada na teoria dos jogos, Keohane utiliza os conceitos de falha de mercado, da
microeconomia, para analisar os dilemas que assolam os interesses comuns.
A segunda variável causal mais usada para explicar o surgimento de regimes é o
poder político. A duas orientações sobre como o poder político influencia a criação de
regimes. Na primeira, poder é usado para promover a maximização conjunta, ou seja o
poder está a serviço do bem comum. Na segunda, poder é usado para promover os valores
de um ator específico no sistema, ou seja, o poder está a serviço de interesses particulares.
Além disso, normas and princípios que influenciam o regime em uma questão
particular mas não estão diretamente relacionadas àquela questão também podem ser
vistas como explicação para o surgimento, persistência, e a dissolução de regimes.
“Uso” se refere a padrões regulares de comportamento baseadas on na prática. Já
costumes, se refere a práticas que persistem a muito tempo. Comportamento padrão
acompanhado de expectativas compartilhadas provavelmente ganharão uma significância
normativa: ações baseadas simplesmente em cálculos instrumentais podem passar a serem
vistos como regra, ganhando legitimidade. Além disso, padrões de comportamento
inicialmente estabelecidos por coerção podem passar a serem vistos como legítimos por
aqueles sob os quais eles foram impostos.
Então, Krasner cita Ernst Haas, que definiu o conhecimento como "a soma de
informações técnicas e as teorias sobre essas informações que levem a consenso suficiente
em um dado momento entre atores interessados para servir como um guia para políticas
públicas desenhadas para alcançar um objetivo social”
Em conclusão, o autor trabalha com argumentos em como os regimes podem
interferir nos comportamentos estatais. O texto todo permeia por três visões básicas, a
primeira sendo uma visão grociana, a segunda sendo a visão do realismo estrutural
convencional e a terceira, Krasner chama de realismo estrutural modificado, mas é
também conhecido como neoliberalismo. Enquanto a primeira vê os regimes como
inerente a qualquer comportamento humano, disseminados em todos os sistemas políticos
impactando em todas as partes da vida, o segundo vê o mundo como os estados soberanos
procurando maximizar os seus poderes, sem a influência de regimes, enquanto no terceiro,
os regimes só são importantes quando a decisão leva a um resultado indesejado. É difícil
definir exatamente as ideias de Krasner por apenas esse texto, mas o grupo acredita que
ele defende e colabora para perpetuar os ideais de Keohane

Tanto Krasner como Keohane reafirmam ideias parecidas: o sistema mesmo sendo
anárquico, é interferido por regimes internacionais. As ideias de ambos se completam. Krasner
afirma que o sistema internacional pode ser resumido em “princípios, normas, regras e
procedimentos entorno das quais as expectativas dos atores convergem em uma determinada área
de concentração”. Esta definição está em completa conformidade com a visão estrutural de
keohane pois dela tiramos que a abordagem estrutural modificada aceita as premissas que os
estados são os principais atores da política mundial; que o sistema internacional é descentralizado;
e que o comportamento de auto-ajuda permanece entre os atores políticos. Isso está em
conformidade com os pressupostos de Waltz, mas não explica como e o porquê os regimes
existem. Para Keohane o mundo deve ser entendido tanto pela a anarquia quanto pela
institucionalização das mesmas.
Krasner é mais um professor, ele nos apresenta suas ideias de forma complementar às
ideias de Keohane. Sua explicação acerca dos regimes é mais sucinta e aplicável do que a de
Keohane. Krasner mostra como as variáveis causais básicas interferem nos comportamentos e
resultados, mas ao mesmo tempo, em alguns casos, as tomadas de decisões individuais não
atingem seu potencial, o que nos leva a entender a adoção de regimes por atores, que assim levará
a um comportamento correspondente.
Eles deixam de pertencer a “mainstream” quando continuam acreditando que existe uma
correlação entre mudanças causais básicas e os comportamentos, mas negam a necessidade do
conceito de regime. Por isso eles são criticados por Susan Strange (1982). Entretanto, as restrições
para-métricas básicas dessas análises são idênticas àquelas utilizadas pelos argumentos
estruturalistas mais convencionais. Os pressupostos analíticos básicos são os mesmos. As
abordagens que tratam os regimes como variáveis intervenientes e consideram os interesses e
poder do Estado como variáveis causais básicas encaixam-se sem ambiguidades no paradigma
realista estrutural. Uma abordagem mais séria do raciocínio
estruturalista ocorre quando os regimes são vistos como variáveis autônomas que afetam
independentemente não apenas os comportamentos e resultados correlatos, como também as
variáveis causais básicas que conduziram inicialmente à sua criação. Essa linha de raciocínio é
examinada na conclusão deste volume.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MUNRO, André. Robert O. Keohane: American political scientist e educator.
Britannica, Londres. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Robert-O-
Keohane>. Acesso em: 15 jun. 2018
STANFORD, University. Stephen D. Krasner: Senior Fellow. Hoover, Palo Alto.
Disponível em: <https://www.hoover.org/profiles/stephen-d-krasner>. Acesso em: 15
jun. 2018

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