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Quarta, 10 de Agosto de 2016

Banco do Brasil usa verbas de alvarás judiciais para


fazer investimentos, diz ouvidor do CNJ
Cláudia Cardozo

Luiz Allemand, ouvidor do CNJ, e Luiz Viana


Foto: Angelino de Jesus/ OAB-BA

O uso dos depósitos judiciais do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA)


para fazer spread bancário - diferença entre os juros que o banco cobra ao
emprestar e a taxa que ele mesmo paga ao captar dinheiro-, pode ser a
resposta na demora de pagamentos de alvarás a advogados e partes pelo
Banco do Brasil.

O assunto foi abordado em uma audiência pública realizada pela Ordem


dos Advogados do Brasil – Seção Bahia (OAB-BA) realizada na manhã desta
terça-feira (8), para discutir a situação do Judiciário baiano com a presença do
ouvidor do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conselheiro Luiz Cláudio
Allemand.

A demora no pagamento dos alvarás é uma queixa recorrente dos


advogados baianos a ponto de a Ordem ingressar com uma ação civil pública
contra o Banco do Brasil na Justiça Federal (clique aqui e saiba mais).

Em sua fala, o conselheiro do CNJ afirmou que o órgão tem dois pedidos
de providências para julgar se bancos podem fazer uso de depósitos judiciais
para obter rendimentos.

Allemand afirmou que o assunto lhe interessa pois, quando advogava,


levava até quatro meses para ter acesso a um alvará e que, posteriormente,
ficou “surpreso” ao saber que todos os tribunais têm um Fundo de
Investimento.

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“Isso significa dizer o que o banco onde foi feito o depósito, até fazer a
expedição do alvará, pode emprestar esse valor, que é do cidadão no
mercado", explica.

Segundo o ouvidor do CNJ, o banco empresta o recurso e cobra


aproximadamente 400% de juros ao ano, e quando paga o cidadão, paga em
Taxa Referencial, que é utilizada na poupança.

“Não importa quanto tempo durou, vai pagar em poupança. Essa


diferença, que é o spread, o tribunal, qualquer um deles, fica com 5%.

O Poder Judiciário não é instituição financeira, mas esse valor, hoje, faz
parte do cálculo dos recursos que o tribunal recebe, além daqueles dos
cartórios e tudo mais”, assevera o ouvidor que complementa que, quanto mais
tempo demorar de se pagar o alvará, mais o tribunal pode receber.

O presidente da Comissão de Prerrogativas da OAB-BA, Adriano Batista,


afirmou que é um “absurdo o banco estar ganhando dinheiro em cima disso”, e
que talvez, a possibilidade de usar o recurso para aumentar rendimentos,
“responda ao tempo que o dinheiro fica lá e não querem repassar para o
advogado”.

“Quanto mais rápido eles pagam, menos o banco ganha, menos o


dinheiro rende”, avalia. Na audiência, Adriano pediu que o TJ-BA, que firmou
convênio com o Banco do Brasil exija uma prestação de serviço digna.

O presidente da OAB-BA, Luiz Viana, afirmou que não tinha


conhecimento sobre este fato e que não tem juízo sobre a legalidade do
assunto, mas que, de imediato, sabe que “o alvará significa uma ordem de
pagamento imediata do juiz e não pode ficar submetido a essa conveniência do
banco, ou do tribunal, para fazer spread”. “Eu acho que, independentemente de
ser legal ou ilegal, isso demostra que é preciso fazer o pagamento imediato.

Não pode ficar esperando a boa vontade do Banco do Brasil em pagar


em 48h, cinco dias, sete dias, 15 dias”.

Nesta segunda-feira, em outra audiência, Luiz Viana ameaçou cancelar


a conta da OAB-BA com o Banco do Brasil caso a situação não se resolva
(clique aqui e saiba mais).

Em 2014, a OAB fechou as contas com R$ 10 milhões de superávit.

https://www.bahianoticias.com.br/justica/noticia/54860-banco-do-brasil-usa-verbas-de-
alvaras-judiciais-para-fazer-investimentos-diz-ouvidor-do-cnj.html

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