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U
e
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O alvo da críticade RaymondWilliams(1921-1988)nesteim-
portanteensaioé o modeloexplicatìvoda teoria culturalmarxista,

assentado entreasforçasprodutivas
na relaçãodeterminante e a esfera

das idéias,instituições, o quantoa


culturae arte. Sem desconsiderar

explicaçãomais simplistae mecânicadessarelaçãojá fora superada


não só pelas noçõesmais refinadasde mediaçãoe de homologia
Teròindlcodopo'o publlucoçõo
pelospÍogÍomosde PcsÍoduoçõo
estrutural,mas sobretudopelâ dêfiniçãolukacsianade totalidade, êíi UleÍoluÍo gÍoslelÍo,IeoÍìo
e lileÍolúÍo
LiieÍóÍio CÕmpoÍodo
elê acreditaque o empregocorreto desta última só se dá quando dofFLCH USP

devidamentecombinadacom o conceitogramscianode hegemonia,


EdÌçóoo'igino
: Ro/nondWilllonìs,
no qual encontraa ferramentamais valiosapara explicaras forças "BoseondSupersÍucluíê
ÌnMaulsl
CulurolÌlreory",in Prcblens
rn
dominantesem uma cultura.Paraevitar oue resulteno mesmo uso lÁoteoltsn andCuhne,Lanún,
Verso,1997.

estáticoe unìformeque marcoua acepçãovulgar


regressivamente

de superestrutura,o mentor do materialismoculturalinglêsenfati- Aémdo vollosorevisõo do proF


MorioÊlhoCevosco, o quem
ogÍodeço,eslolroduçõo lombém
za aqui a complexidadedinâmicade sua concepçãode hegemonia, conro!como e tuÍoêossugeslÕes
dosprú. VognerComiloeJooquim
compreendidano sentidode um conjuntode significadose valores Alvesde&u oÍ,o quemosÍodeço
o olençõoe o opoiolN.Ìì.
vividocomo práticaconcreta,e pautadopor tensões,transformações
entre a culturadominantee o que ele denominade
e acomodações

formas residuaise emergentes.


quechegaria,
semdúvida,deensâiobastantepolêmico,
Trata-se,

inclusive,a ser contestadopor aquelequefoi seumaisbrilhantêaluno,


'Base
TerryEagleton(*), paraquem o mestreteria se precipitadoao alìjara CÍ Ì. Eoqleron, and
Supe,shú;luÍe ln Roymond
WillÌomí,nÌ. Eosêronlêd.),
referidarelaçãoem favordo conceitode hegemonia,poisno capìtalìs- Raynond Wilkns;Aitì.alPer
Oíord, PolrePres,
spiciires,
mo o modode produçãofaz da superestrutura para
uma necessidade ì989,pp.ìó5 25.

Apesarda
regulare ratÌficaruma baseconstruídasobrea exploração.
o próprioEagletonchegaa reconhecerque o presente
discordância,

ensaio,ao se desviarde certa ortodoxiabastantecomprometedora


para a teoria marxista, acabou. paradoxalmente,por recuperare

revitalizaro que há, nela,de realvalor.Daío interesseem publicá-lo

nestaseção,mesmotrinta anosdepoisde sua primeiraaparição,nas


páginasda prestigiadaNew Left Review(nov.-dez./1973).
terirninismo, vem de explicações idealistas també
e especialmente teológicas do mundo e do "Supe
homem. É significativo o fato de que Marx, receb
em uma de suas costumeiÌas inveÌsões e depoi.t
contradições de conceitos estabelecidos, cipal r
utilize a palavra que se torna, na tradução as atir
p^ra o inglès, deterrnines (a pala\Ía aJemã nam s
usuaÌ mas não invaÍi âvel é be stimnen). Ele coÌÍes
está se opondo à ideologiâ que elrfatiza o muito
poder de certas forças exteriores ao homem, qüenÌl
ou, na versão seculaÌ. de uma consciência caÍáE
abstrata determinante. A proposição de perest
Marx rejeita explicitamente tais idéias, e estava
coloca a origem da determinação nas pró- a corÌìl
prias aúvidades humanas. Mesmo assim, a ou dis
ualquer abordagem moder- história paÍicular e a permanência do termo suPeft
na de uma teoria da cultur:a servem para relembrar-nos que existem, do ref
marxista tem de principiar no uso corrente - e isto também se dá na modo
levando em conta o problema maioria das principais línguas européias basen
da base determinante e da -, sentidos e implicações muito diferentês positir
supêrestrutura determinada. para o termo "deteiminação". Há, de um supoí
Mas de um ponto de vista teó- Iado - o da herança teológica -, a noçào relaçã
rico mais esúito este não é, de uma causa êxterna que prefigura e pre- cultuÌl
de fato, o ponto que se pode vê tudo. e de fato controla toda atividâde encon
escolher para começar. Seria futuÌa. Mas há também, da experiência da maten
em muitos aspectos prefeível prática social. uma noçào de delerminação duzidÍ
se pudéssemos partiÌ de uÍn como algo que estabelece Ìimites e exerce defasa
problema que originalmente é pressões ( 1). cas; e
tão cenÍÍal quanto o primeiro, e Certamente há muita diferença entre o assim.
igualmente autêntico: isto é, a processo de estabelecer linites e de exercer cultr[ì
pÌoposição de que a existência pressões, quer seja por alguma força exter:na raln sa
social determina a consciência. Não é que os ou pelas leis internas de um acontecimento, das ati
dois problemas necessariamente se excluan e aquele outÍo processo no qual um conteúdo foiap
mutuármente ou estejam em contradição. subseqüente é essencialmente prefigurado, supelÉ
Mas a questão da base e superestnrtura, com previsto e controlado por uma foÍça extema cionâl
seu elêmento f,gurativo, com sua sugestão preexistente. No entanto, pode-se dizer, primei
de urna relação espacial fixa e definida, cons- observando viár:ias aplicações em aná.lises opÌoo
titui, ao menos em cerlos casos. uma versào culturais marxistas, que é no segundo sen- mais s
muito especializada e, às vezes, inâceitável tido, na noção de prefiguragão, previsão ou suÍgiu
do outro problema. No entanto, no trânsito controle, que tal idéia tem sido explícita ou na qut
de Marx ao marxismo, e na evolução do imDlicitamente utilizada. ou rq,
mainstreanl maxxìsta, o problema da base diferer
determinante e da estÍutuÌa deteÌïninada tem dução
sido geralmente considerado a "chave" dos décâd4
estudos culturais marxistas. SUPERESTRUTURA:
RESTRI(0ES
E -esml
É imporlarle. ao tentarmos anal isaressa haver
questão, estarmos cientes de que o terÌno REPAROS perE€'l
I P o Í ou m od i s c u s s òÍ roo i s de relação que está sendo usado, a palavra seÍ &
oprolundodo do ohonce dos
slgnillcoçóes de dêleminer, "determinação", é de gÌande complexida- O termo de relação é então a primeiÌa enüeo
\q domesmo aulor:Kqrìrods,
New YoÍk,OxfoÍdUniveniry
de lingüística e teórica. A ünguagem da coisa que devemos exaÍninar neste proble- da baÊ
PÍess, ì985,pp.9B'102. deter:minação, e principalmente a do de- ma, mas temos de fazer isto exaÍrinaÌrdo qssetÍ

114 REV
STAUSP, n.65, p. 21ú224, narço/noio2005
SõoPoulo,
:ambém os próprios termos reÌacionados. coberta por meio de ânálise. Essa não é a
-'Superestrutura" (Überbau)
é o que tem mesma noção do termo "mediação", mas é
recebido mâis atenção. No uso comumJ o mesmo üpo de reparo na medida em que
depois de Marx, adquiriu o sentido prin- a reÌação enlre a base e a superestrutura nâo
cipal de uma "áÌea" unitária na qual todas é considerada direta, nem submetidâ, de
as atividades culturais e ideológicas pode- maneira simples e funcional, a defasagens,
riam ser situadas. Mas já em Marx, e nas dificuldades e interferências, pois por suâ
correspondências tardias de Engels e eÌÌr própria natureza essa relação não inclui a
muitos pontos da tradição maÌxista subse- reprodução direta.
qüente,foramfeitas restrições arespeito do Essas restrições ereparos são importan-
câÌáter específico de certas atividades su tes. Mas me paÌece que o que não tem sido
perestruturais. O primeiro tipo de restrição visto com igua.l cuidado é â noção estabeleci-
estava relacionado â diferenças temporais, da de "base" (Basis , Grundlage). CorTsideto
a compÌicações e a certas relações indiretas que abaseé o conceito mais impofiante a ser
ou distanciadâs. A noção mais simples de observado se quisermos entender as realida-
supefeslrutura. que ainda eslá em uso. é a des do processo cultural. Por uma questão
do reflexo, da imitação ou reprodução, de de hábito verbal, nas váÌias formulações
modo mais ou menos direto, dareaÌidade da do problema da base e da superestrutura,
bâse nâ superestrutura. E claro quecritéÌios "a base" foi considerada quase como um
positivistas de Ìeflexo e rêprodução davam objeto ou, eIn casos menos explícitos, vista
suporte a essa noção. Mas visto que essa de maneiras essencialmente unifoÌmes e,
relação não estádada em müitas âtividades no mâis das vezes, estáticas. "A base" é a
culturais reais, ou pelo menos não pode ser existência sociaÌ real do homem. A "bâse"
encontrada sem forçar ou mesmo violar o são as relações de produção reais que cor-
material ou prática em estudo, foram inÍo- respondem a fases do desenvolvimento das
d u zidas as d iferenças Ìemporais. a \ faJnosas forças produtivas materiais. "Abâse" é um
defasagens; as várias complicações técni- modo de produção num estágio particulaÌ
cas; e também os modos indiretos. Sendo de seu desenvolvimento. Nós elaboramos
assim, certos tipos de atividade dâ esfeÌa e repetimos proposições desse tipo, mas na
culturâl - a filosofia, por exemplo - pude- prática elas são muito diferentes da ênfase
ram ser colocados a uma grande distância que Marx dedica às atividades produtivas,
das atividâdes econôÌnicas primárias. Esta em paÍiculaÌ nas relaçòes estrulurais. que
foi a primeira fase de restrições à noção de constituemo fundamento de todas as outras
superestÌutura: de fato, umarestrição opera- atividades. Porque, se umestágio particulaÌ
ciona.l. A segunda fase tempaÌentescocoma de desenvolvimento dâ produção pode ser
primeira mas é mais fundamental, poi s nela descobeÌ1o e especificado pela análise, ele
o pÌocesso dâ própria relação foi examinado nunca é, na prática, uniforme ou estático.
mais substancialmente. Dessa abordagem Esta é, de fato, uma das proposições cen-
surgiu a noção modema de "mediação", trais do sentido da História paÌa MzìÌx: a
nâ qual â1go mais do que simples reflexo de que existem contradições profundas nas
ou reprodução - de fato algo radicalmente relações de produção e nas conseqüentes
diferente tanto de reflexo quanto de repro- relações sociais. Há por isso a possibiÌida-
dução ocorre de forma ativa. Nas últimas de contínua da variação dinâmica de tais
décadas do sécuÌo XX temos a noção de forças. Além disso, quando essas forças
"estruturas homólogâs", nas quais pode não são considerâdas, como MarÌx sempÍe as
haver semelhanças diretas ou facilmente considera. como atir idades e relaçòes es-
perceptíveis, e certamente nada que possa pecíficas de homens reais, eÌas significam
ser descito coÍno reflexo ou reprodução, â1go muito mais ativo, mâis complicado e
entre o processo superestrLrturâl e ârealidade mais contraditório do que a noção metafo-
da base, mas nas quais há uma homologia ricaÍnente desenvolvida de "base" poderiâ
essencial de estÍuturas, que pode ser des- nos permitir compreender

PE/
-^ D SooDo lo o- p A'2A. o.o moo 00 213
distribú o piano tambén é um trabalhador Ì(
ABASE
EASFORilS
PRODUTIVAS
pÍodutivo; mas provavelmente o é, uma p
vez que contribui para a realizagão d,a sl
Então temos de dizer q ue ao falarÍÌÌos dâ mais-valia. No entanto, quanto ao homem
"base" estaÍnos falando ãe um processo e que toca o piano, seja para ele mesmo ou
não de um estado. E não podemos atÍibuiÌ para outÍos, não há dúvida: ele não é de p
a esse proçesso certas propriedades fixas forma alguma um trabalhador produtivo. E
para transposição subseqüente aos proces- Então o construtor de piânos é base, mâs o p
sos variáveis da superestrutura. Muitos dos pianista é superestrutwa. Como um modo a
que procuraÌaÍn tÌansformar a proposiçào de considerar a atividade cultural, e mais d,
usual em algo mais râzoável se dedicaram especificármente a economia da atividade b
a refinar a noção de supelestrutura. Mas eu cultuÍal modeÍna, isto é sem dúvida um d
diria que cada termo da questão deve ser beco sem saída. Mas para qualquer escla- p
reavaliado em uma diÌeção específica. Nós recimento teórico é crucial reconhecer que d
temos que reavaliar "determinagão" como Marx estava fazendo a anáIise de um tipo
o estabeìecimento de limites e o exercício particúar de produção, que é a produção s
de pressóes, e não como a fixação de um capitalista de mercadorias. Em sua aniílise p
conteúdo previsto, i?refigurado e controlado. desse sistema, ele teve de dar à noção de d
Nós temos que reavaÌiar "superestrutura" "trabalho produtivo" e "forças produtivas" d
em relação a um determinado escopo de um sentido específico de lÍabalho primário s(
práticas culturais relacionadas, e não como sobre materiais de forma a pÌoduziÌ merca-
um conteúdo refletido, reproduzido ou espe- dorias. Mas essa acepção é muito restrita s
cifl camente dependente. E, principalmente, e, para efeito de análise cultural, bastante o
nós temos de reavaliar "base" não como danosa. pois se alaslou da sua noção mais
uma abstração econômica ou tecnológica ce';tÍal de fol'ças produtivas, na qua1, paÍa
fixa, mas como as atividades específicas de
homens em relações sociais e econômicas
ieais. que contêm contradiçòes e variaçòes
fundamentais, e por isso estão sempre em
estado de processo dinâmico. p
Vale a pena observar mais uma im- s
plicação que está por trás das definições rl
costumeiras. A "base" passou a incluir, I

especialmente em algumas proposições do t(


século XX, uma acepção forte e limitada de D

indústria de base. A ênfase na indústÍia pe- o


sada chegou até a exerceÌ um papel culturaÌ. d
E isso levanta um pÍoblema mais geÍal, pois e
nos obriga a reconsideraÍ a noção vulgâr c
de "forças produtivas". E claro que o que p
se observa na base são forças produtivas
primárias. No entanto algumas distinções
cruciais têm de ser feitas aqui. É verdade a
que na sua aÌìálise da produção capitalista u
Marx considerou "tabalho produtivo" em É
um sentido muito particular e específico s
correspondente a esse modo de p(odução. p
Há uma passagem difícil do Grundrisse d
na qual e1e aJgumenta que, enquanto o u
homem que faz um piano é um trabaÌhador u
produtivo, resta dúvida se o homem que p

214 USBsõo Pouo, n.65, p. 21G224,noço/r,oia 20Os


REVISÌA
relembrar bÌevemente, a coisâ mais im- adicionândo somente o fato de que elas
portante que um trabalhador produz é a i n t e r a g e m . r e l a c i o n a m - s ee c o m b i n a m - \ e
si mesmo, no sentido de alguém fazer um de modos muito complicados, nós estamos
determinado tipo de trabalho ou, numa num nível falando sobre a totaÌidade de
ênfase histórica mais ampla, os homens maneira muito óbvia, mas eÌÌÌ outro nível
produzindo a si mesmos, a si e à suahistória. e\taremos e\ilando o falo de que exista
Então, quândo faÌamos da base, e das forças quâlquer processo de determinação. E isso
produtivas primiiÌias. importa muito saber eu, por minha parte, teÌiâ muita reÌutância
a que estamos nos reÍèrindo (pois a forma em fazer. Assim, a questão chave a ser co-
degenerada desta proposição se tornou ha- locâda sobre qualquer noção de totâlidade
bitual): se à produção primária. nos termos na teoÍia cultural é: essa noção de totalidade
das relaçoes económicas capiralisras- ou a incÌui a noção de intenção?
produção primária da própria sociedade e Se atotalidade é simplesmente concreta,
dos homens. â produ,Jáoe Íeproduçào ma- se é simplesmente o reconhecimento de umâ
terial da vida real. Se compreendermos o grande variedade de prática. contemporá-
sentido aÌnplo de forças produli\ as- olhamos neas, então é uma noção essencialmente
para todo o problema da base de manerra esvaziada de qualquer conteúdo que pode-
diferente, e então somos menos lentados a riamos chamaÍ marxista. Jntençào. a noçào
desprezat como superesÌnìlutais. e nesse de intenção, recolocao problema-chave, ou
sentido como meramenÌe secundiÌic5. cer- antes a ênfase chave. Porque, enquânto é
l a \ f o r ç a s s o c i a i se p r o d u r i r a : \ i t a i s . q u e verdadeiro que qualquer sociedade é um
são, no sentido mais abÍânsente e desde sua todo complexo de tais práticas, é também
oÌigem, de base. verdade que toda sociedade teln uma orga-
nização e umâ estrutura específicas, e que
os princípios de suaorganização eestruturâ
podem servistos como diretamente Íelacio-
USOS
DATOTALIDADE nados a ceÍas intenções sociais, intenções
pelas quais nós definimos a sociedade,
No entanto. porcaìrsadas dif,cuÌdades da i n l e n ç o e çq u e e m t o d a a n o s s ae \ p e r i è n c i a
pÌoposição vulgaÌde base e superestrutun. têm sido do domínio de uma determinada
s u r g i u u m a p r o p o \ i c à o a l r c m a Ì i v ae m u i t o classe. IJma das conseqüências inesperadas
relevante. a ênfase em uma "rotaÌìdade" do modelo grosseiro bâse/superesúutura
sociaÌ. geraÌmenÌe associada â Lukács. A tem sìdo a aceìtação fácil de modelos apa
totalidade das práricas sociais era oposta à rentemente merìos grosseiros modelos de
noção estáticade base e uma superestrutura totalidade ou de uIn todo complexo - que
conseqüente. Esse conceiÌo de uma Ìotali- excÌuem os dados de intenção sociâl, o câr:á-
dade de práticas é comparár'el à nocão cla ter c1âssista de uma determinada sociedade
existência social dercrminando a conscién. e daí em dianÍe. E isso nos faz lembÌaÌ do
cia, mas não interpreta necessatiâmente esse quanto perdemos se abandonâmos totaÌ-
processo em terÌnos de base e superesÍrutura. mente a ênfase nâ superestrutura. Assim,
Agora o linguajar da totalidade se tornou sinto grande dificuìdade em ver processos
comum. eédefatoede viírias maneiÌas Ì]ìais de arte e pensamento como superestruturais
aceitável do que a noção de base e superes- no sentido em que a fórmula é vulgarmente
i t1'Lltuta.Mas com umâ ressaÌva importante. utilizada. Mas em muitas áreas do pensa

II É muito fáciÌ que a noção de totalidade


seja esvaziadâ do conteúdo essencial da
proposição marxista original. Porque, se
nlento social e político
teorias ratificadoras, certas espécies de leis
ceÍtos tipos de

e d e i n s t i t u i ç á o .q u e n a s f o r m u l â ç ò e so r i g i -
l^ a, dissermos que a sociedade é composta de nais de Marx eram essencialmente par'tes
um grande número de práticas que formam da superestrutura -, em todo esse conjunto
umtodo social concreto, e se dermos acada do apâÌato social, e numa área decisiva da
práticâ urn certo reconhecimento específi co, atividade e da construção políticae ideoló
-
I

REVSÌA
U S BS õ oP o u l oa, 6 5 , p 2 1 G 2 2 A ,n o r ç o / n Õ i a2 A O 5 215
gica, se deixarmos de consideraro elemento e culturais fossem tão-somente o resultado
superestrutural, não podemos reconlìecer de manipulaçào especifica. de uma espécie
loda a realidade. Essas leis. constituiçóes. de lÌejnarnenlopúblico que pudessesersim-
teorias, ideologias, que são constantemen- plesmente elirninâdo ou reprimido, então
te consideradas naturais, ou de validade e seria muito mais fácil do quejamais foi ou
significadouniveÌsais, simplesmentedevem é, na prática, modificar ou transfomar a
servistas como aexpressão e ratificação da sociedade. Essa noção de hegemonracomo
dominação de uma determinada classe. De algo no qual a consciência de determinada
fato, a dificuldâde de revisar a fórrnula de sociedade está profundamente imersa me
base e superestrutura tem muito a ver com parece fundamental- E a hegemonia 1evâ
â percepção de muitos militântes que vântagem sobre noções genéricas de totaÌi-
l é m d e c o m b a l e r l a i s i n s t i l u i ç ó e se n o ç ò e s dade, pois ao mesmo tempo enfatiza o fato
além das batalhas econômicas - de que se da dominação.
nào enfatizarmos que essas inslituiçòes e Contudo, há momentos em que ouço de-
suas ideologias têm esse caráter depen- baÍes sobre hegemoniae sinto que ela, taÍn-
dente e ratificador, e se não combatermos bém, como conceito, está Ìegredindo para
e rejeitâÌmos suâs pretensões de validade e umanoção reÌativzìmente simples, uniforme
legitimação universais, a caracteística de e estática do mesmo modo que ocorreu com
clâsse da sociedade não poderá mâÌs ser o uso vulgar de "superestrutura". De Íato
reconhecida. E esse tem sido o efeito de penso que devemos dar uma expÌicação
algumas ve6ões dâ totalidade como des- bastante completa do que é hegemonra ao
crição do processo cultural- Assim, penso nos referirÌnos a qualquer formação social
que podemos usaÌ coÌÌetamente anoção de real. Acima de tudo, temos de fomecer uma
totalidade somente quando a combinamos explicação que leve em conta os elementos
comaquele ouüo conceito marxista cnrciaÌ, de mudança reais e constarÌÌtes. Temos de
o de "hegemonia". deixar claro que a hegemonia não é algo
unívoco; que, de fato, suas próprias estru-
turas intemas são altamente complexas, e
têm de ser renovadâs, recriadas e defendidas
ACOMPLEXIDADE
DA continuamente; e que do mesmo modo elas
podem ser continuâmente desafiadas e em
HEGEMONIA cerros aspecÌos modincadas. É por isso
que ao invés de falaÌ simplesmente de "a
Uma das grandes contribuições de hegemonia", ou em "uma hegemoniâ", eu
Gramsci é que ele enfatiza a questão da proporia um modelo que permitisse a va-
hegemonia, e a compreende numa profun- riação e acontradição, comseu conjunto de
didade que considero rara. Pois hegemonia altemativas e processos de mudanga.
supõe a existênciade algo veÌdadeiramente Pois é bastante evidente em alguns dos
total, que não é meramente seçundário ou melhores estudos marxistas o fâto de que
,:
como na 7rlepçãofracade
superestrutural, eles se sentem muito mais àvontade no que
ideologia, mas que é vivido numa tal profun- podemos chamar de questões de época do
didade e satura a sociedade de tâl maneüa que em questões que podeíamos definir
que, comoGrâmsci coloca, constitui asubs- Quer dizer, geralmente
corno histórícas.
tância e o limite do senso comum pâÌa muitas são muito melhores ao dislinguirem as
pessoas sob sua influência e corresponde à caÌacteÌísticas gerais de diferentes épocâs
realidade da experiência social muito mais da sociedade, como entre o feudalismo e a
claÌamente do que quaisquer noções deri- eraburguesa, do que quando distinguem as
vadas da fórmula de base e superestrutura. diferentes fases da sociedade burguesa, eos
Pois se a ideologia fosse meramente um momentos diferenciados no interior dessas
conjunto imposto e abslralo de noções. se fases: aquele processo histórico reaÌ que
nossas idéias, suposições e hábitos políticos exige uma precisão e delicâdeza de aná1ise

216 S Ì A U S BS ô oP a u l on, . 6 5 ,p . 2 1 G 2 2 4 , m o Í ç o / m o l o2 0 0 5
REV
muito maior do que ajá conhecida análise de signif,cados e valores que, vividos como
épocas, preocupada com as carracteísticas práticas, parecem se confirmar uns aos
gerais e deÌineamentos abraiÌgentes. ouúos. constituindo assim o que a maioria
O modelo teórico com o qual tenho das pessoas na sociedade considera ser o
tentado trabalhar é o seguinteì dìria. em sentido da realidade, uma realidade abso-
primeiÌo lugar, que em qualquer sociedâde luta porque vivida, e é muito difícil, para a
e em qualquer período há um sistema cen- maioria das pessoas, iÍ além dessa realidade
fal de práticas, significâdos e valores, que em muitos setores de suas vidas. Mas este
podemos definir propÌiâmente como doIni- não é (a não ser no caso de um momento
nantes e efeúvos. Isso não implica nenhum de análise absÍata) em nenhum sentido
juízo de vâlor sobre tal sistema. Tudo o que um sistema estático. Pelo contriirio. nós só
queÍo dizer é que ele é centrâl. De fato, eu podemos entender uma cultura dominante
o def,niria como um sistema corporativo, o e efeúvâ se entendermos o processo social
que poderia causar confusão, pois Grarnsci do qual ela depende: o processo de rncor-
usa "corporação" para definiÌ aquilo que é poração. Os modos de incorporação têm
subordinado em oposição aos elementos grande significado social. As instituições
genér:icos e dominantês da hegemonia. De educacionais são geralmente os agentes
qualquer modo, o que tenho eln mente é o principais na tÌansmissão de uma cultura
sistema de significados e valores centÌal, efetiva e dominaÌte, e esta é, em nossos
efetivo e dominante, que não é meramente dias, uma atividade de grande importância,
abstrato, mas oÌganizado e vivido. É por isso tanto econômica quânto cultuÍal; de fato,
que a hegemonia não deve ser entendida no é as duas coisas ao mesmo tempo. Além
nível da mera opinião ou manipulação. Ela disso, num nível filosófico, no verdadeiÌo
é um corpo completo de práticas e expecta- nível da teoria e no nível da história das
tivas; implica nossas demandas de energia, viárias práticas, há um processo que chamo
nosso entendimento comum da natuleza do de tradíção seletivat aq]dilo que, no inte-
homem e de seu mundo. É um coniunto de rior dos temos de uma cultura dominante
e efetiva, é sempre transmitido como "a
tradição", "o passado importante". Mas o
principal é sempre a seleção, o modo pelo
qual, de um vasto campo de possibilidades
do passado e do presentê, certos significados
epráticas são enfatizados e outros negligen-
ciados e excluídos. Ainda mais importante,
alguns desses significados e prálicas sào
reinterpretados, diluídos, ou colocados
em formas que apóiam ou ao menos não
contradizem outÌos elementos intrínsecos
à cultura dominânte e efetiva. Os processos
educacionais; os processos mais amplos
de treinâÌnento no interior de instituições
como a fâÍru'lia; as definições práÌicas e a
organização do trabalho; a tradição seleúva
no nível intelectual e teórico: todas essas
forças estáo envol!idas na elaboraçào e re-
elaboração contínuas da cultuÍa dominante
efetiva, e sua realidade, como experiência,
como algo construído em nossa vivência,
depende de1as. Se o que aprendemos fosse
meramente ideologia imposta, ou tÌatasse
apenas dos significados e práticas isoláveis

USBSoo Poulo,n.ó5, p.21Cr224, noÍço/r'aio 2OO5


REVISTA 217
da classe dominante, ou de um setor da Mas, ao dizermos isso, temos quepensaÌ
cÌasse dominante que se iÌnpõe aos outros, no\ âmenle sobre as origens do que náo é
ocupando somente a superfície de nossas corporaúvo: aquelas prálicas. experièncias.
mentes, seria - e isso seria ótimo - algo signiflcados, valores que não são parte dâ
muito mais fácil de ser derÌubâdo. cultura dominânte efetiva. Podemos colocar
Não se trata somente do fato de que isso dedoismodos. Há claramente aÌgo que
esse processo alcance as camadas mais chamamos de altemativa à culturâ domi-
profundas, selecionando, organizando e nante efetiva, e há algo mais, que podemos
interpretando nossa experiência. Trata-se definir como oposição, num sentido verda-
também do fâto de que ele está em coní deiÌo. O grau de existência dessâs forÍìas
nua atividade e ajuste; ele não é somente aÌternativas e de oposição é, e1emesmo, uma
o passado, aquelas camadas de ideoÌogia questão de variação históricaconstante, em
uìlrapassada que podemos descaÍaÌ mais ciÌcunstâncias reais. Em certas sociedades é
facilmente. E isso só poderá acontecer, possível encontraÌ iíreas de vida social nas
numa sociedade colnplexâ, se o processo quais altemativas reais são toleradas. (Se
for algo mais substancial e flexível do que elas estão disponíveis, é clâro, são taÍnbém
qualquer ideologia imposta ou abstrata. parte da orgânização corporativa.) A exis-
Assim. nós temos de reconhecer os signi- tência da possibilidade de oposiçáo. sua
ficados e ! aloÌes alternativos. as opiniòes e articulação, seu gÌau de abeltura e todo o
atitudes altemativas, e até mesmo algumas resto dependem de forças sociais e políticas
visões de mundo alternâtivâs, que podem ser muito precisas. Temos então que considerar
acomodadas e toleradas no interior de uma que a existência, no intedor de uma cultura
determinada cuÌtura efetiva e dominante. dominante e efetiva, de formas de vida
Isso tem sido muito pouco enfatizado em social e cultura altemativa e de oposiçào
nossas noções de superestnrtura, e mesmo está submetida à variação histói:ica, e suas
emâlgumas noções dehegemonia. E a falta origens são muito significativas como um
de ênfase abre o caminho do recuo para uma fato da própria cultura dominante.
complexidade indiferente. Na prática políti-
ca, por: exemplo, há certas modalidades que
são de fato incorporadas mas que apesar de
tudo, em termos da cultura dominante, são (UtTURAS
RESIDUAIS
E
percebidas e combatidas como oposiçôes
reais. Sua qualidade de incorporadas pode EMERGENTES
ser reconhecida .pely'falo
'/ de que. seja qual
for o grau de conlito ou variação intemos, O próximo passo é introduzlr uma
na prática não vão além dos limites das distinção entre formas residuais e emer-
definições centrais, efetivas e dominantes. gentes, tanto da cultura altemativa como
Isso pode ser comprovado, por exemplo, na da de oposição- PoÌ "residual" quero dizeÍ
prática da política parlamentar, emborâ suas que algumas experiências, significâdos e
oposições intemas sejam r:eais. Também valoÍes, que não podem ser verificados ou
se aplica a um grande câÌnpo de práticas e expressos no s terrnos da cultura dominante,
argumentos, em qualquer sociedade real, são, apesaÍ de tudo, vividos e praticados
que não podem, de forma alguma, ser re- sobre a base de um resíduo - tanto cultural
duzidos a uma mera cobertura ideológica quanto social de alguma formação social
rnarspodem, apesarde tudo, ser considerados prévia. Háum exemplo real disso ern certos
como corporativos, no sentido em que eu vâloÌes religiosos, por contraste com a 1n-
estou empregarÌdo o termo, se constataÌ- corporação muito evidente da maioria dos
mos que. seja qual for o grau de variação significados e valores religiosos no sistema
ou controvérsia intemâ, não excedem, no dominante. O mesmo se dá numa cultura
fim das contas. os limites das definições como â britânica. na quaÌ certas noções
corporaüvas centrals. derivadas de um passado rural têm uma po-

218 REVISTA SõoPoulo,


USP, n.65,p. 21Cr224,
naíça/n.ato2005
pularidade muito significativa. Umacultura tolerância se expressasse poruma negligên-
Ìesidual está normalmente a certa distância cia nefasta. Mas tenho certeza de que, na
da cultura dominante efetiva, Ìnas temos sociedade que emergiu depois da Segunda
de reconhecer que, em atividâdes culturais Gueira Mundial, esse esforço se ampliou
reais, ela pode ser incorporada. Isso porque e que progressivamente, por câusa de mu-
uma parte ou versão dela - especialmente danças em aspectos sociais do trabalho,
se o resíduo for de alguma área importante das comunicações e da decisão, expande-se
do passado terá de ser, em muitos casos, muito mais amplarnente do que em qualquer
incorporadâ se â cultura dominante efetiva momento antedor da sociedâde capitalista
quiser.ter significado nessas áÍeas, pois em pâÌâ certas áÍeas da experiência, da prática
certas áreas a cultura dominante não pode e dos significados. Desse modo, decidir se
permitir muilas dessas práÌicas e experi- uma prática é altemaü\a ou de oposição-
ências anteriores a ela sem pôr em nsco é algo que muitâs vezes se faz em âmbito
seu doÌÌü'nio. Assim- as pressòes são reais- muito mais restrito. Há uma distinção teórica
mas alguns significados e práticas genuinos sirnpÌesenLÌeaÌtemal ivo e de oposição. quer
e residuais sobrevivem em alguns casos dizer, entre alguém que encontÌa um modo
significativos. de vida diferente e não quer ser pefiurbado,
Por "emergente" enlendo- primeiÍo. ou alguém que encontra um modo de vida
que novos significados e vaìores, novas diferente e quer mudaÌ a sociedade a partir
práúcas. novas significações e experiências. de sua experiência. Essâ é normâlmente a
são criadas continuamente. Mas â tentativâ diferença entre soluções individuais e de
de incorporá-las é imediata. só porque são pequenos grupos à crise social e aquelâs
parte - e ainda assim nem mesmo uma parte soluções que mais propriaÌnente pertencem
definida - da prática contemporânea efetiva. à prática política e revolucionáriâ. Mas,
De fato, é significativo como essa tentativa na realidade, a linha entÌe alternativo e de
é rápida eln nosso tempo, e como a cultura oposição é gerâlmente muito tênue. Um sig-
dominante está aÌer:ta, agora, a qualquer nificado ou prática pode ser tolelado como
coisa que possa ser tida como emergente. um desvio, e ainda assim servisto somente
Temos de pensar, em primeiro lugar, como como mais um modo de vida diferenciado.
se existisse uma relação tempoÌal entre uma Mas. na medida em que a iírea necessáriaà
cultura dominante de um lado, do outro uma dominância efetiva se amplia, os mesmos
residual, e de mais um outro uma cultura significados e práticas podem ser vistos
emergente. Mas só podemos entender tal pela cultura dominante não somente corno
fato se pudermos fazer distinções, que ge-l algo que â despreza ou é indiferente a eÌa,
ralmente requerem análises muito precisïJ, rnas como uma alneaç4.
entre o residuâl-incorporado e o residual Então é crucial que qualquer teoria da
não incorporado e entÌe o emergente-in- cultura marxistapossa dar uma explicâção
corporâdo e o emergente não incorporado. âdequada da origem dessas púticas e signifi-
Esse esforço de abrangeÍ um vasto campo câdos- Nós podemos compreender, padindo
de práticas e experiências humaìasemseus de uma abordagem ÌÌistórica corriqueira, âo
pÌocessos deìncorpoÌação é um fato impor- menos âlgumas das origens dos significados
tante a respeito de qualquer sociedade. Pode e das pÌáticâs residuais. Elas são resultado
ser verdade que em algumas fases primi- de formaçòes soc iai s precedentes. nas quajs
tivâs da sociedade burguesa, por exemplo, ceÍos significados e valores forarn gerados.
existiam algumas áreas da experiência que Se em um momento subseqüente há uma
poderiam ser deixâdas forâ desse processo, falha específica de uma culturâ dorninânte,
que a sociedade estivesse preparada pâra dá-se então umÌgtomo àqueles significados
considerá-las como a esfera da vida privada que foram cÍiados em sociedades reais do
ou a.rtísticâ, e não como assunto da sociedade pâssado, e que continuam a ter algum sentido
ou doEstado.Isso veiojunto com umacerta por representrìÌem iíreas da experiência, das
tolerâÌcia política, ainda que de fato essa aspiÌações e das conquistas humanas que a

REVSÌA USP,Sõo Poulo,n 65, p.214224, morço/molo2005 219


culturâ dominante subestimâ ou combâte, e conseqüentemente excluam grande paite
ou mesmo nem sequer reconhece. Mas a de1as. As dificuldades das práticas que se
nossa tâÌefa mais difícil, teoricamente, é encontmrn fora ou conha o modo dominarÌte
achaÍ uma explicação da prática cultural são, é claro, reais, e dependem muito se
emergente que não sej a nem metafíslca nem ocorIem em uma área na qual a classe e a
subjetiva. E paite de nossa resposta a essa cultura dominantes têrn intercsses ou na qual
questão reside no processo da persistência investeÍn. Se ointeÍesseeo investimento são
das práticas residuais. e\plícitos- muitas das novas práticas seÌão
identifi cadas e possivelmente incorporadas,
ou, se isso nãoforpossível, extirpa.lâs com
vigor extraordinário. Mas eÍn certas áÍeas
CLASSE I|UMANA
EPRATICA e em certos períodos existirão práticâs e
significados que não serão identificados.

Nós temos, de fato, umâexplicaçãopara Há áÌeas de prática e significado que' quase


a origem de práticas emergentes no corpo que por defin:ição de seu próp'io caráter
central dateoriamaÍxista. Temos aformação ou de sua deformação profunda, a cultura

de uma nova classe, a tomada de consciên- dominante será incapaz de reconhecer em


cia de uma nova classe. Isso continua, sem terÍnos reais_ Isso nos dá um ponto de vista
dúvida, bastante importante. Claro, visto pzlra observaÍmos a diferença nítida entre'
em si mesmo, esse pÍocesso de formâção por exemplo, as práticas de um Estâdo ca-
complicaquaÌqueresquemâsimpÌificado de pitâlista e as de um Estado como a ljnião
base e superestruturâ. Também torna mais Soviética contemporânea (2) em reÌação
complexas algumas das versões comuns aos escntores' Ijmâvez que para atradição

de hegemonia, embora toda a proposta de maÍxista a litelatura eÍâ vlstâ como umâ

Gramsci fosse a de ver e criaÌ, por meio atividade importante, até mesmo cÌucial'
da orgânização, uma hegemonia PÌoletiífia o Estado soviético é muito mais arguto na
que sena capaz de aÍrreaçaÍ a hegemonia investigação de áreas nas quais versões

burguesa- Temos então uma explicação da diferentes de prática, significados e valores


origem de práticas novas na emergência sãoexpeÌimentados e expressos Naprática
de uma novâ classe. Mas temos também capitalista, se algo não dá lucro' ou não

de recoÌüecer outros tipos de odgem, e na circula satisfatoÌiamenle' então pode ser

prática cultural algumas delas são muìt\ ignoÌado por algum tempo' com a condição
que nos é dado reco- \, depermanecer altemativo Quando setorna
importantes- Eu diria
nhecê-las baseando-nos nesta proposição: explicitamente de oposição' com ceÍeza e
nenlÌum modo de produção,logo, nenhuma abordado ou atacado'
sociedade ou ordem social, e, portanto' Estou dizendo então que, em relâção ao
nenhuma cultura dominante, na realidade âmbito total dapráticahumanaemqualquer
exaure o ârnbito total da prática, energia época, o modo dominante é uma seleção e
e intenção humanas (este âmbito não é organização conscientes_ Ao menos em sua
o inventáJio de umâ "natureza humana" forma acabada, é consciente Mas existem
original mas, pelo contrário, refere-se ao sempre fontes de práticas humanas rears
extraoÌdinário campo de variações, na prá- que são negligenciadas ou excluídas' Eelas
tica e na imaginâção, que os seres humânos podem ser diferentes em essência dos inte-
têm e já demonstraram ter capacidade de resses articulados e emdesenvolvimento de
fazer). De fato me Parece que essa ênfase umâ classe ascendente Podem incÌuir' por
não é meramente uma proposição negativa' exemplo' uma foÍma diferente de perceber
que nos permite daÌ conta de ceÍas coisas os outros, em relacionamentos pessoais
que acontecem fora do modo dominante imediâtos' ou novas percepções de materiais
- pelo contriírio, é inerente aos modos de e de meios' na arte e na ciênciâ' e dentro
2 O píesenle
enso d
o é onreÍloí dominação que eles façam uma seleção de certos limites essâs novâs percepções
do Unioo
d sso!Çôo Sovéíco
(N.
r) entre as práticas humanâs reais e possíveis podem ser praticadas' As relações entre os

220 2005
morçolmoÌo
USBSôoPo!o, n 65,P.21A'224,
REVISTA
específicas como práticas, mas não podem
ser sepaÌadas do processo social geral. De
fato, um modo de demonstrar isso é dizer
e i n s i s t i r n o f a t o d e q u e a l i t e r a t u r an à o s e
limita a operar em nenhum dos setoÌes que
tenho buscado descreverneste modelo. Se-
ria fácil dizer, e no fim das contas trata se de
umaÌetóricausual, que a literatura opera no
setor cultural emergente, que representa os
novos sentimentos, significados e vâlores.
Podemos nos convencer dis so teoricaÌnente,
por aÌgumentação abstÌatâ, mas quando
lemos bastanteliteratura, edemodoextensi-
vo, semo comodismo de chamaÌLiteraturâ
somente aquilo que já seÌecionamos e que
incorpora certos significados
e valores numa
determinada escala de intensidade, somos
obrigados a reconhecer que o ato de escre-
ver, as práticas do discurso nâ escrita e na
faÌa, a composição de romances e poemas
e peças e teorias, toda essa atividade tem
lugar ern todas as áÌeas da cultura.
A liteÍatura não surge, de modo algum,
dois tipos de fonte - ã clasa€ emergenÌe. as somente no setor emetgente, e tal fato é, na
práticas excluíd.as peta cultura dominante ou verdade, muito raÌo. Grande parte do que é
as no\ âs práücas mais genéricas não são escrito é residual, e isso é profundânente
necessemamente contraditóúâs. AÌgumas verdadeiro pârâ muito da literatura inglesa
vezes podeú sermuiÌopóKimas-e a prática da última metade do século XX. Alguns de
política dep€nde muiro dãs relações entre seus significados e valores fundamentais
elas. Mas culturaìmente e como problema pertenceram às conquistas cultuÌais de es-
teórico essas iíreâs podem ser vistas como tágios sociais de umpassado distante. Esse
distintas. fato, e os hábitos mentais que ele suslenta,
Agora- se voltarmos à questão cultural é tão difundido que, pâÌamuitos, os terÌnos
em sua forma mais usual - quais sào as "literatura"e "o passado" possuem ceÍa
relações ent e aÍte e sociedade. literâtura e identidade, o que os leva a dizer que hoje
sociedade? - à luz da quesrão precedente, em dia não há literatura: todâ a glória do
lemos de dizer. em primeúo lugaÌ. que náo passado se foi- No entanto gÍande pârte do
existem Íeìacões entre arÌe e sociedâde num que é escdto, em qualq uer período, incÌuin-
nível absüato-A literaruracomo prática está do o nosso, é uma forma de contribuição à
presente desde a origem da sociedade. De cultura dominante efetiva- De fato, muitas
fato, até que ela e todas zrsoutras práticas das qualidades específicas da literatura
esteJarÌrpresentes- uma sociedãde não pode sua capacidade de incorporaÌ, encenzìÌ e
ser considemda completarnente formada. desempenìar cetos significados e valores,
Ijrna sociedade não pode ser totalmente ou de criaÌ de maneira única e singular o
ânalisada sem que se incl ua cada uma de suas que seÌiam em outÌos casos simplesmente
práticas. Mas se ênfatizarmos esse aspecto, verdâdes gerais contribuem para que ela
teremos de enfatizar ouúo coÌÌespondente: preencha essa função efetiva com graìnde
não podemos separar literatura e aÌte de poder À literatuta, é claro, devemos adicio-
outros tipos de p.ática social. de modo a naÌ as artes visuais e a música, e eÌn nossa
submetê-las a leis disrintas e especiajs. própria sociedade as artes poderosas do
Elas devem possuia cerÌas caracteísticas filrrre e da difusão televisiva e radiofônica.

RFV
SïAUS| SooPoulo,
n.65,p.21Cr224,
'ÌìoÍço/moto
2005 221
Mas o ponto teórico geral deve ficaÌ claro.
Se estamos investigando as ÌeÌações entre
literatura e sociedade, não podemos sepa-
rar essa prática de um conjunto arÌtertor de
ouftas práticas, e tampouco podemos, ao
identificarmos uma determinada prática,
relacioná-la de forma uniforme, estática
e não-histórica a alguma formação social
abstrata. As artes da escrita, da cr:iação e âs
artes performaúvas, no seu vasto âmbito,
são partes do processo cultural em todas as
formas e nos diferentes setores que estou
procuaando descrever. Elâs contribuem à
cultura dominante efetiva e são uma artl_
culação central da mesma. Absorvem sig-
nificados e va.lores residuais. os quais nem
todos são incorporados, apesaÍ de muitos o
serem. Elas também expressam de mÉrneira
significatiwa algumas práticas e significâdos
erneÍgentes- ainda que alguns deles sejam
eventualmente incorporâdos, âo atingiÌ as
pessoas e emocioná-las. Isso foi muito evi-
dente na década de 60, em algumas das artes
performativas emeÍgentes, que a cultuÍa
dominaÌìte identificou e buscou transfoÍmaÍ.
Nesse processo, é claro, a própria cultura
dominante se modifica- não n a sua form ação
central, mas em muitas das suas caÍacte- quase todas as fomas contemporâneas
rísticas aÍticuladas. Mas, numa sociedade de teoria crítica são teorias do consumo.
moderna que de fato quer continuar a ser Quer dizeÌ, elas estão preocupadas com o
dominante e ser efetivaÍnente reconhecida entendimento de um objeto de modo que
como central em Ìodas as nossas principaìs ele possa ser consumido coreta e lucrati-
atividades e interesses, as mudanças sempre vamente. O estágio primitivo da teoria de
ocorrem dessa maneirâ. consumo foi a teoria do "gosto", na qual a
ligação entre teoria e prática estava explí-
cita na metiífora- Do gosto surgiu a noção
mais elevada de "sensibilidade", na qual o
TE()RIA
CRITICA (ONSUMO
COM() consumo pela sensibilidade de trabalhos
elevados ou inspirados era considelâdo

Quais são, então, as implicações dessa como a atividade essencial da leitura, e a


análise geral para o estudo de determinadas crítica era conseqüentemente vrsta como
obras de aÍte? Essa é a questão paÍa a qual â uma funçào dessa sensibilidade- Srrgiram
maioria das discussões sobre teoria cultural mais elaboradas, na década
então teorias
paÍece estar direcionada: a descobeÍa de de 1920, com I. A. Richards e, mais tarde,
um método, tilvez aÍé mesmo uma me- com o new criticisrn, no qual os efeitos do
todologia, por meio da qual determinadas consumo foreìrn estudados diÌetamente. A

obras de arte possam ser compreendidas e linguagem da obra de arte como objeto se
descritas. Eu não acho que essa deva ser â tornou então mais explícita. "Que efeito
principal utilidade da teoria cultural, mas esta obra (o poema como era comumente
vaÌnos nos âter a isso por um momento. definido) produz em mim?" Ou, como se
O que me paÌece muito evidente é que dilia futuramente numa área muito Ínais

222 RFVISTA n.ó5,p.210224, noÍça/noio2oO5


5õoPoulo,
USP,
ampla de estudos da comunicação, "que
impacto produz em mim?_ . Naturalmente, OUI]OS
EPRATIGS
a noção da obra de alte como objeto, como
texto, como um artefato isolado. torncìu-se Acho que a crise real da teoria culturâl,
essencial em todas essas leorias tardias de no nosso tempo, ocore entÌe essa visão da
consumo. Com isso nào só se deìxavam de obra de aÍe como objeto e a visão altemativa
lado as práticas da produção: também se dâ obra de afie como prática. É claro que há
reforçava a noção de que a liteÌatura mars o argumento imediato de que â obra de afte
impofiante. de quâìquer modo. pertencia áumobjeto: que várias obÌas sobrevtvetam
ao passado. As condições sociais reais de ao passado, determinadas esculturas, pin-
produção foram emÌodos os casos negligen- turas, obÌas arquitetônicas, todas objetos.
ciadasporque erarnrìdas como aÌ-so.name Isso com ceÍeza é verdade, Inas o mesmo
lhordas hipóteses. secundário- -\ r'erdadeira p e n s â m e n t oé a p l i c a d o a l r a b a l h o sq u e n à o
relâção se estabelecia sen]prê entÍe o gosto. têmtaì existência singuÌar. Não existeãdm
a sensibilidade ou o lreinaÍnento dô leitor e let, Os lrmAos Karam.izorí, O Morro dos
u m l r a b a Ì h oi ' o l a d o . o o b j e Ì o - c m s i . c o m o Uentos Uiydntes, no sentido de que existe
reaÌmenÌe é"- cômo muitos deiìniram. Mas uma determinâda grande pintura. Não há a
a noção de obra de arte como objeto teve Quinta Sinfonia, não há trabalho em toda
em seguida um efeiÌo reórico ainda mais a âreâ da música. dança e aluaçào. que
ampÌo. Se fizermos perguntas sobre uma seja um objeto comparável àquelas obÌas
obra de arte \'ìsta como objeto. elas terão das artes visuais que sobreviveÌam. Ainda
de incluir perguntas sobre os componentes assim, o hábito de tratar todas as obras
de súaprodução, EnÌão. ãconleceu que uma desse tipo como objeto persistiu porque é
forma de empreear a tõ.muÌa da bâse e da uma pÌessuposição prática e teórica funda
superestrurura foi precisaJnen!ê alinhada mentaÌ. Mas na literatura (principalmente
a esse uso- Os componenles de uma obra no drama), na música e numa áÌea mulro
de arte eram as ati\ ìdades Íeais de base. e ampÌa das arÍes cênicas, o que nós vemos
poderíamos estudar oobjero para descobrir permanentemente não são objetoç e sim
essescomponenÌes. ,is r ezes até esrudam- notaçl)es- Essas notações têm então de ser
se os componenÌes e então plojeta se o interpretadâs de modo ativo, de acordo
objeto. Mas. de qualquer modo- o que se com convenções específicas. Mas de fato
buscava eta uma relacào enúe um objeto o mesmo se dá em um campo ainda mais
e seus componenles- \Ias isso não era só amplo. Arelação entre a feitura de uma obra
verdadeiro no quc di./ re.peito a\ nocoes e sua recepção é sempre ativa, e submetida
marxistas de base a :uperestrutura. Era a convenções que sãoj eìas mesmas, for-
válido tâÍnbém para \'ános ripos de reo.ia mas de organização e Ìelações sociais (eln
psicológica. seja na t-orma de ãrquéaipos. nas constante mudança), e isso é radicâlmente
imagens do inconscienrè coÌetivo. ou nos diferente da produção e do consumo de um
mitos e símbolos que eran vistos como os objeto. Trata-se de fato de uma atividade
compotleties de dererminadas obras de aÌte. e de uma prática, e suas formas somente
Ou, numa \ ariação disso. havi6 Lrms 61(]- são acessíveis por meio da percepção e da
grafia. psicobiograÍìa ou aÌso semelhante, intelpretação ativas, embota algumas artes
em que tais componen!es esra\'âm na vida possam ter a caÌacterística de um objeto
do homem e a obra de arre era um objeto no singular. Ìsso fa-l com que âs noÍaçóes. em
qual essescomponenres eram descobertos. aÌÌes como o drama. a literat ura e a música,
Mesmo em aÌsuma! t-ormas mais rigorosas sejam apenas um exempÌo específico de
do nelr criricisrl e da cútica estruturalista, uma verdade muito mais abÌangente. O que
persistiu esse procedimenÌo essencial cle isso demonstra é que devemos, na prática
considerâÌ a obra de arte como um objeto da análise, romper com o procedimento
que tem de serreduzido aseus componentes, habitual de isolaro objeto e então descobrir
para mais tarde ser reconstituído- seus componentes. Pelo contrário, temos

DvrÀJSD ooDoo,o p. A - 2 2 2^ o . o oo,00- 223


que descobrir a natureza de uma prática e Não é esse o modo de pÍocedimento
então suas condições. postúado aqui. O reconhecimento da re-
Comfreqüência esses dois procedimen- lação de um sistema coletivo e um projeto
tos podem, em certos pontos, referir-se mu- individual - e estas são as únicas categorias
tuaunente" Ínars em muitos ouÍlos casos eles que podemos presumir inicialmente - é
são de naturezas radicalmente diferentes, e um recoÌÌhecimento de práticas relacio-
gostaria de concluir com uma observação nadas. Quer dizer, os projetos individuais
sobre o modo pelo qual essa distinção iÌÌflete, irredutíveis que deteÍminadas obrâs são
na tradição marxista, arelação enfte práticas devem surgir em experiência e análise que
econômicas e sociais primáÍias e práticas demonstrem semelhanças que nos permi-
cultÌrÍais. Se supuserÌnos que naprática cul- taln agrupá-los em sistemas coletivos, que
tural é produzida umâ série de objetos, ire- não são de forma alguma sempre gêneros.
mos, como na maioria das formas atuais de Podem aparecer como semelhrúrças entre
procedimento sociocrítico, nos direcionar à e aÍavés dos gêneros. Podem ser â prática
descoberta de seus componenles. No interior de um grupo num peíodo, e não a pÍática
de uma visão marxista esses componentes de uma fase de um gênero. Mas à medida
serão parte do que é habitualmente denomi- que descobrimos a natureza de uma prática
nado base. Isolamos então ceÍos aspectos determinada, e a natureza da relação entre
que podemos, digamos, recoDlìecer como um projeto individual e uma modalidade
componentes, ou perguntamos por quals coletiva, vemos que estamos analisando,
processos de traÌrsformação ou mediação como duas formas do mesmo processo, tanto
esses componentes passaram antes de atingiÌ sua composição ativa quanto as condições
essa foÍna que Percebemos. dessa composição, e em ambas as diÌeções
Mas estou dizendo que não devemos trata-se de um complexo de relações exten-
olhar para os componentes de um produto, sivas e auvas. lsso significa. é claro. que não
e sim pâra as condições de uma prática. temos nenhwn pÌocedimento preestat eleci-
Quando observamos determinada obra ou do, como quaÌÌdo pensamos em termos do
grupo de obras, muitas vezes imaginando, caríteÌ fixo de um objeto. Temos os princí-
como fazemos. sua comunidade essencial pios das relaçóes entre práticas, no interior
bem como suâ individualidade irredudvel, de uma organização de inienções a serem
deveíamos primeiÌo prestar atenção à sua descobertâs, e temos a hipótese disponíve1do
prática e às condições da prática quando foi dominante, residual e emergente. Mas o que
exercida. E paÍindo disso, penso que elabo- ativamente buscamos é a verdadeiÌa pútica
Írmos questões essencialmente diferentes. que foi reificada em uma noção de objeto, e
Podemos exaÌninar, por exemplo, o modo as condições verdadeiras da prál,ica sejam
pelo qual um objeto - "um texto" - está re- elas convenções literárias ou relaçòes sociais
lacionado a um gênero, na crítica ortodoxa. - que foram reificadas na categoria de com-

Nós o identificamos por certas quafidades ponente ou simples panos-de-fundo.


preponderantes, e então o atribuímos â Em termos de uma proposição geral,
uma categoria mais ampla, o gênero, para o que se apresentou aqui é somente uma
daí chegar às caÍacteísticas do gênero em ênfase, IÌlas me paÍece sugerrr ao mesmo
uma determinada história social (embora tempo um ponto de Íompimento e umponto
em algumas variantes da crílica nem isso de paltida, no tÌabalho prático e teórico, no
sequer seja feito, e o gênero é tido como interior de uma tradição cuÌtuÌaÌ marxista
uma categoria mental permanente). ativa e em constante renovação.

224 USP,Sôo PoLio,n.ó5, p.21Ct224, noço/noio 2Cfr5


REVISÌA

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