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Cots 10/ A Sabedoria da Resisténcia “Resisténcia 6, e nZo 6.” noprogramadeteeinsmentoem Ges RESISTENCIA COMO AUTOPROTEGAO Tradicionalmente, a resisténcia tem sido vista de uma maneira unilateral —o. iconscientemente coloca barreirasno decorrer 4a terapia. E isso, ¢ muito mais. Toda a assim chamada resistencia é apenas uma manifestagzio de como essa pessoa sente-se vulnerdvel E um “comunicado” do medo de assumir riscos que nio tinham suporte na experiéncia anterior da pessoa. E uma forma essencial de autoprotegZo. A resisténcia é sempre um “muro” com dois lados. Do ponto de vista pessoa parece estar fechada; do ponte de vista subjetivo, é experienciada como mera evitagdode um softimen- 0. Atwood é Stolorow (1984) afirmam isso da seguinte “Terapeutas experientes sabem que, ao esclarecerem a natureza da resisténcia do paciente, nilohaverd resultado terapéu discernfvel a menos que o seja capaz de identificar corretamente 0 perigo subjetivo, ou 0 conflito emocional que faz. da resisténcia uma nec ntida’” (p. 63) Ares que encerra feridas antigas e muito sensiveis. E um muro, na melhor das hipéteses, semipermed delicada tarefa do terapeuta éajudaro cliente tornar esse muro mais permedvel, ajudar a pessoaa abrir-se para outras oportunidades mais, . Nao € um trabalho fécil. Referindo-se as oportunidades que nos sao oferecidas pelo clidlogo genuino como “sinais” enderegados ‘a nés, Buber (1965a) coloca a questio poeticamente: 6s € revestido por uma couraga, cuja tarefa & Os sinais nos chegam repetidamente, e viver significa sermos alvos deles; precisarfamos apenas nos apre- sentar e percebé-los. Mas 0 risco é perigoso demais; trovoes silenciosos parecem nos ameagar com aniquilagto e,de geragtio em geragio, aperfeigoamos o aparato defensive" (p. 10). A SABEDORIA DA RESISTENCIA Podemos dizer que existe uma “sabedoria'" na resistencia, se conceituarmos a resisténcia coma emergindo naquele ponto em que 0 individuo sente que ndo tem o suposte interno para lidar com a situagiio ameagadora, Nesse ponto, é extremamente sdbio proteger- 142 se —erigi um muro para afatar o que é experienciado como uma ameaga. E sébio juntar os proprios recursos para utilizé-los numa io posterior, O problema da resistencia € que ela é anaerOniea Jhamos no uso de nossos recursos atuais de uma m Caimos na inércia — 0 medo inibe o eres: que a pessoa precisa desesperacamente, ¢ essa é at cla conhece para cuidar de si mesma. E muito semel que em tenra idade aprende a dizer “ni”; esse iinta da dos pais. A resisténcia, em certo sentido & um internalizado, porém truncado. Ela se torna um substituto éprimariamente defensiva, em vez de a, De fato, 0 paradox: que o comportamento resistente impede a nutrigdo que poderia vi dos outros. Estamos ocupados em nos defender contra ameagas reais, paralelamente, impede a pessoa de crescer: ela corta o didlogo com ‘0 mundo. £ a isso que Buber poeticamente refere-se como “...as sete vendas de ferro em nosso coragao...", As raizes intrapsiquicas da resist@ncia sio interpessoais. Sua origem estd na abe jas dolorosas. Decorre da destruigdo da ilusio da perfeigaio da infaincia—a awareness surpreendente de que eu nfo sou sempre aceito, nem aceitével. Apenas “ser” ndo é suficiente: também tenho que “fazer”. O fazer sempre impde.o risco ¢ 0 medo de nao ser aceite e nem amado. Selevarmosa sério anecessidade de entrarno mundo experiencial FA. Baber (19653), p. 4 43 do cliente, sera essencial compreender as partes resistentes de sua docliente. Como afirmou Searles (1986): de resistencia do pi srpretagdes, por mais feliz em que ele se tornard mais colaborador na sua relagio comi go’ (p.11). $6 entdo pode uma relagio genuina ser construida. Polster & Polster (1973) fazem esta observagio: vez de procurar remover a resistencia, é melhor colocé-la em foco, assumindo a posigao de que, na melhor das hipSteses, ‘a pessoa cresce através da resistencia e, na pior, aresisténcia é ‘uma parte de sua identidade.... E incorrer em engano, rotular 0 comportamento original como mera resisténcia. Remover a resist Je forma aretornara pureza preexistente € um sonho Ftil, porque a pessoa que tem resistido é uma nova pessoa. nao hd como retornar.” (1973, p. 52) A resisténcia nao é um epifendmeno, essa é a forma de a pes- soa ser-no-mundo. De fato, € mais provavel que seja uma das partes dificadas” do self. Ou seja, 0 cliente esté muito acostuma- doa ser resistente de uma forma particular —acostumado a esperar que alguém o ataque ou 0 invada, Conseqiientemente, hé uma “ seguranga” na maneira de responder de forma previsfvel aos outros precéria— mas, ainda assim, uma seguranga. 1850 gico”, pode ser autodestrutivo, mas no devemos subestimar quanto € importante para nés sentir que, pelo menos, “conhecemos” aquela parte de nés mesmos. Freqiientemente “escolhemos” a patologia em vez deo desconhecido. A pr ida de “patolégica” € mais segura do que estar presente no que é. Em muitos casos, essa necessidade de prever é semelhante a restos de naufrégio no meio do oceano. Em um mundo experienciado como precério, ela nos da algo em que nos segurarmos. Inicialmente nos salva, mas no final ameaga-nos com afogamento, Em tais situagoes, uma defesa vital presente torna-se urn res{duo anacrOnico. A resistencia é, também, sempre uma resposta as necessidades 144 maltiplas. O que € visto como resisténcia em um nivel, pode, na verdade, estar satisfazendo necessidades em outro nivel. O poeta Walt Whitman expressou isso adequadamente quando escreveu: “Eu me contradigo? Muito bem, entdo eu me contradigo (Eu sou amplo, eu contenho mult idades.)” Esse €o cerne da ambivaléncia, Por exemplo, voce pode querer retornar & escola, em um nfvel; e, em outro, existirem necessidades de seguranca © demandas de sua familia que vocé também quer atender. Embora diga que quer retornar a escola, pode também trabathar contra isso. Nao & que vocé esteja simplesmente resistindo; existem, freqllentemente, necessidades opostas ou conflitantes — algumas das quais si0 mais importantes do que outras. ‘Quando o cliente vem para a terapia, ele ndo esté valorizando sua resistencia, E mais provavelqueele tenha ejeitado, freqientemente dissociado, aquela parte sua. Em conseqliéncia, o individuo esté sempre em guerra consigo mesmo. Um lado seu esta querendo corter riseos, ir para a frente e crescer; 0 lado oposto estéresistindo, sendo relutante ¢ protetor. Existe uma ambivaléncia acentuada da parte do iente em relagao & resisténcia. Inconscientemente ele esté res tindo, mas em algum nivel sente que esté trabalhando contra si mesmo. A ironia € que, se 0 terapeuta aceita com cuidado excessivo 0 desafiode "curar” alguém, atendéncia é fazer surgir mais resisténc Isso ocorre porque, psicologicamente, o cliente tem funcionado dessa forma por muitos anos. Embora algumas vezes o cliente possa ver aresisténcia como um grande obsticulo, ele é incapaz de desistir dela. “Curar” al guém impde um objetivo externo, em vezde encontrar a pessoa nesse ponto vulnerdvel. A tarefa inicial do terapeuta dial6gico € entendera sabedoria da resisténcia. Essa é uma mudanga de atitude em relagio a perspectiva tradicional, E um reconhecimento radical do “entre” da existéncia, Juntamente com essa compreensio, o terapeuta deve reconhecer, também, quio limitante a resisténcia pode ser. Isto € dbvio, e ainda assim precisa ser focalizado eficazmente mais tarde, no processo de terapia, Torné-lo predominante muito cedo é fazer da terapia um 145

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