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Revista Brasileira de Agroecologia

Rev. Bras. de Agroecologia, Porto Alegre, 5(1): 3-23 (2010)


ISSN: 1980-9735

Saber Ambiental Complexo: aportes cognitivos ao pensamento agroecológico

Complex enviromental knowledge: cognitive aproaches to agroecological thought

FLORIANI, Nicolas1 e FLORIANI, Dimas2

1Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) - Ponta Grossa/PR, Brasil, nicolas@uepg.br ;


2Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Curitiba/PR, Brasil, floriani@ufpr.br

RESUMO
Concebida como saber ambiental do campo da complexidade, a Agroecologia (AE) emerge do cenário
de crise da modernidade. Na definição de estratégias cognitivas que lhe possibilitem pensar a
inteligibilidade do seu universo de pesquisa - isto é, a realidade sócioespacial rural onde se insere o
agroecossistema – a AE requer uma abordagem que seja capaz de colocar em comunicação crescente
e duradoura as ciências naturais e sociais com os demais saberes culturalmente arraigados. A criação
deste corpo integrado de conhecimentos sobre o comportamento de sistemas socioambientais
complexos implica, portanto, a integração interdisciplinar e o diálogo de saberes. O paradigma
moraniano da complexidade apresenta-se como método para compreender os processos, as
articulações, as implicações, as interdependências entre os sistemas sociais e naturais. Adota, para
tanto, certos princípios lógicos articuladores entre si das dimensões física, biológica e antropossocial: o
dialógico, o autogerativo e o hologramático. Tais princípios permitem evidenciar as emergências do
enraizamento da esfera antropossocial na esfera biológica, e desta na matéria, expressando a
necessidade de unir o objeto ao sujeito e ao ambiente. Isto posto, pretendeu-se discutir o referencial
teórico-metodológico da AE à luz das reflexões de Enrique Leff sobre a configuração dos saberes
ambientais e do método de Edgard Morin, a fim de evidenciar acoplagens (interfaces) cognitivas entre as
propostas atuais da AE com o paradigma do pensamento complexo. Destacadamente, foi possível
verificar no corpo teórico-metodológico atual da AE os seguintes conceitos que estruturam sua matriz
cognitiva: i) sistema-organização-equilíbrio; ii) diálogo entre disciplinas e outros saberes iii) sistema de
práticas agrícolas - território -desenvolvimento rural e; iv) sócio-agro-biodiversidade e sustentablidade.
PALAVRAS-CHAVE: agroecologia, saber ambiental, pensamento complexo, interfaces cognitivas
ABSTRACT
Agroecology may be conceived as environmental knowledge in the field of complexity, requiring the
interdisciplinary approach as a methodology for the interpretation of the agrarian phenomenon and its
territories. This implies, first, the definition of analytical categories that enable it to consider the
intelligibility of its universe of research - the agroecosystem, in terms of cognitive integration of physical,
biological and antroposocial dimensions.These categories, complementary and interdependent, are
summarized in seven principles that guide the complex cognitivies processes and with which they seek to
discuss the theoretical and methodological reference of agroecology to show cognitive junctures between
the current proposals for this knowledge with the paradigm of complexity.
KEY WORDS: agroecology, complex thinking, cognitive interfaces.

Correspondências para: nicolas@uepg.br


Aceito para publicação em 17/12/2009
Floriani & Floriani

Introdução
condicionado das formas anteriores de interação
Estudos têm medido o impacto ambiental e da sociedade com a natureza. Segundo os
social da intensificação agroquímica nos autores, quase todos os grandes pensadores dos
ecossistemas da América Latina. Aponta-se para séculos XIX e início do XX mostravam-se muito
cifras que superam 10 bilhões de dólares por ano otimistas sobre a possibilidade do industrialismo
quantificando-se os custos ambientais da superar não somente as restrições naturais, mas
contaminação de águas e solos, danos á vida inclusive de resolver os riscos de colapso dos
silvestre e o envenenamento de pessoas; não sistemas social, econômico ou ecológico por meio
incluindo ainda os impactos ambientais da ciência moderna.
associados (contaminação de águas por nitrato, Para Enrique Leff (2003), o entendimento e a
eutrofização dos rios e lagos, etc) com o construção do mundo levado pelas idéias de
incremento do uso de fertilizantes nitrogenados totalidade, universalidade e objetividade do
nem tampouco os problemas de salinização conhecimento - que conduziu à coisificação do
ligados à irrigação em zonas não apropriadas mundo e a sua economização, por um lado; a
(ALTIERI, 2002). disjunção entre o ser e o ente, por outro - marcam
Tais impactos e danos ao meio ambiente o sintoma (no ser, no saber e na terra) de uma
produzidos pela industrialização da agricultura crise ambiental, reflexo do limite da racionalidade
colocam em questão o projeto modernizador capitalista e do projeto modernizador da
baseado na mercantilização e na dominação de sociedade de risco.
todas as esferas da vida por meio da Nesse sentido, após analisar o problema dos
racionalidade econômica e instrumental. riscos permanece a grande pergunta relativa às
Não obstante, a modernização equacionada estratégias de entendimento e explicação deste
com o crescimento econômico e a transformação fenômeno, isto é em termos cognitivos ou
tecnológica criam as condições para o seu próprio intelectuais: continuaremos adotando modelos
término, ou seja, a modernização desgasta a sua analíticos contaminados pelos parâmetros da
estrutura essencial e o princípio da modernidade. racionalidade instrumental, visando resultados de
Essa radicalização é definida, por Antony Giddens custo-benefício dos investimentos privados? Ou
como a ‘modernização reflexiva’, ou seja, como então, incluiremos elementos novos de análise -
uma autodestruição criativa de toda uma era, no derivados do campo das disputas simbólicas
caso, da sociedade industrial (BECK, 1995). sobre como entender a natureza, a sociedade e o
Ora, conforme Goldblatt (1998, p. 236), a interesse de outros agentes sociais - e não
ciência quando aplicada à tecnologia é uma causa apenas aqueles ligados aos interesses dos que
dos riscos modernos, isto é, do risco fabricado ou detêm a propriedade privada dos meios de
criado pelo impacto crescente da tecnociência produção e do capital financeiro?
sobre o mundo: a produção moderna de riscos Parte-se, portanto, da idéia de reforma desses
tem origem inevitavelmente no centro do próprio antigos sistemas de entendimento e explicação da
processo de produção de riquezas e, por isso, o realidade, aderidos a uma racionalidade
problema é de excesso de produção crônico. econômico-instrumental, postos à prova e
Bezerra e Veiga (2000, p. 12) afirmam, nesse questionados quando da incapacidade de
sentido, que o impacto crescente da tecnociência responderem aos complexos problemas de ordem
sobe o mundo reflete uma crença ilimitada na socioambiental derivados da radicalização dos
capacidade do industrialismo realizar a missão riscos da sociedade moderna industrial.
histórica de transcender o caráter limitado e

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Concebida como saber ambiental (LEFF, de Edgard Morin a fim de evidenciar acoplagens
2001), a Agroecologia emerge do cenário de crise (interfaces) cognitivas entre as propostas atuais
da modernidade. Constrói-se no âmbito de uma para este saber ambiental com o paradigma do
epistemologia ambiental que enseja estratégias pensamento complexo.
cognitivas alternativas diferenciadas do
conhecimento tecnocientífico que cria condições Algumas maneiras de interpretar a complexa
para a radicalização dos riscos da sociedade realidade socioespacial rural na perspectiva
moderna industrial. do conhecimento
Na definição de estratégias cognitivas que lhe Um sistema de entendimento e explicação da
possibilitem pensar a inteligibilidade do seu realidade, segundo Dimas Floriani (2003) ocorre e
universo de pesquisa - isto é, a realidade decorre de trocas e conflitos de significação de
sócioespacial agrária onde se insere o objetos materiais, crenças, valores, interesses
agroecossistema – a Agroecologia enquanto saber consubstanciados em sistemas sociais que
ambiental requer uma abordagem que seja capaz desenvolvem práticas materiais de produção,
de colocar em comunicação crescente e apropriação e reprodução das condições de
duradoura as ciências da sociedade e da natureza existência de uma determinada organização
com os demais saberes culturalmente produzidos. social.
A criação deste corpo integrado de De acordo com Foucault (2008), o
conhecimentos sobre os processos naturais e conhecimento articula os discursos com uma
sociais implica, portanto, a integração classe de objetos possíveis de serem conhecidos,
interdisciplinar e o diálogo de saberes para construídos por uma racionalidade (sistema de
explicar o comportamento de sistemas teorias e conceitos, de normas jurídicas e
socioambientais complexos. instrumentos técnicos, de significações e valores
Por sua vez, o paradigma da complexidade culturais) que identifica e classifica seus próprios
(MORIN, 1983) apresenta-se como método para objetos do conhecimento. A construção social do
compreender as articulações, as implicações, as saber apóia-se, portanto, sobre a construção
interdependências das realidades discursiva dos objetos de conhecimento segundo
socioambientais. Fundamenta-se na idéia de interesses sociais que necessitam tornar
sistema inserido na unidade no múltiplo, hegemônica sua visão de mundo, estabelecendo
sintetizada no conceito de auto-eco-organização. critérios e legitimando suas práticas materiais de
Adota, para tanto, certos princípios lógicos produção, e as suas representações de natureza.
articuladores entre si das dimensões física, Não obstante, as rupturas ocorridas no interior
biológica e antropossocial: o dialógico, o das metodologias e, conseqüentemente, nas
autogerativo e o hologramático. Tais princípios teorias do conhecimento científico resultam de
permitem evidenciar as emergências do solavancos, estranhamentos e incapacidades das
enraizamento da esfera antropossocial na esfera antigas narrativas para explicar a emergência de
biológica, e desta na matéria, expressando a novidades.
necessidade de unir o objeto ao sujeito e ao Jürgen Habermas, referindo-se a um suposto
ambiente. quadro transcendental de rompimento dos
Isto posto, pretende-se discutir o referencial conceitos de natureza vinculados cientificamente
teórico-metodológico da Agroecologia à luz da ao aparato técnico de produção e destruição,
reflexão de Enrique Leff acerca da emergência e aponta para a configuração de um caminho
configuração dos saberes ambientais e do método

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alternativo para ciência: Para Sousa Santos (2005), a possibilidade da


"(...) [nesse quadro transcendental de ruptura] a configuração de uma nova ordem científica
natureza se tornaria objeto de uma nova emergente deve ser catalisada a partir do esforço
experiência; não seria mais a esfera de funções do da síntese que há de se operar entre as ciências
agir instrumental, mas o ponto de vista de uma sociais e as ciências naturais. Na base da
possível manipulação técnica cederia o seu lugar a superação dos pressupostos teóricos e
um tratamento que, com zelo e carinho, liberasse os metodológicos que guiam o paradigma científico
potenciais da natureza (...). Além disso, uma nova moderno estão os seguintes pressupostos
ciência alternativa deveria incluir a definição de teóricos:
uma nova técnica" (HABERMAS, 1983, 307). "i) a superação da distinção entre ciências
naturais e ciências sociais; a recusa de todas as
Habermas refere-se à construção de uma nova formas de positivismo lógico ou empírico ou de
racionalidade que implica, segundo Enrique Leff mecanicismo materialista ou idealista por parte das
(2001), na reorientação do progresso científico e ciências sociais; 3) o desaparecimento da distinção
tecnológico por meio de uma nova perspectiva hierárquica entre conhecimento científico e vulgar"
epistemológica e de novos métodos que passam, (SOUSA SANTOS, 2005, p. 20).
então, a articular os processos sociais e naturais.
Para o autor, este pressuposto exige Para chegar à superação paradigmática do
"(...) a transformação dos paradigmas científicos sistema de pensamento, MORIN (1999) indica
tradicionais e a produção de novos conhecimentos, alguns caminhos. Há, primeiramente, aquele das
o diálogo, a hibridação e a integração de saberes, duas revoluções científicas: uma que estabelece a
assim como a colaboração de diferentes irrupção da desordem, do acaso, do incerto e, a
especialidades, propondo a organização outra que tenta, de alguma forma, constituir as
interdisciplinar do conhecimento para o ciências sistêmicas onde só haviam disciplinas
desenvolvimento sustentável. Isso gera novas fechadas. Tudo isso deve nos levar à chave do
perspectivas epistemológicas e métodos para a problema que é a reforma paradigmática da
produção de conhecimentos, assim como para a estrutura de pensamento, que controla e origina
integração prática de diversos saberes no todos os pensamentos (MORIN, 1999).
tratamento de um problema comum" (LEFF, 2001, Nesse sentido, MORIN (1983) nos alerta sobre
pg. 207). a necessidade histórica de
"(...) encontrar um método capaz de detectar, e
Entende-se a partir dessas duas colocações não de ocultar, as ligações, as articulações, as
que a produção de uma nova ciência nasce da solidariedades, as implicações, as imbricações, as
emergência de novos problemas, no caso interdependências e as complexidades" (MORIN,
problemas de ordem socioambiental produzidos 1983, p. 19).
no contexto atual da sociedade de risco. Isso vem
a corroborar com o que Max Weber pensa a No contexto revolucionário das ciências no
respeito das condições para o nascimento de uma início do século XX figuram a desordem e a
nova ciência quando afirma que “só quando se incerteza como protagonistas de um cenário vivo,
estuda um novo problema com o auxílio de um complexo e caótico. Conforme a teoria da
método novo, e se descobrem verdades que complexidade, a ordem e a desordem, isoladas,
abrem novas e importantes perspectivas, é que são duas calamidades. Por esse motivo Morin nos
nasce uma nova ciência” (WEBER, 2001, p. 121).

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alerta à necessidade de conceber o Universo a convencional, cartesiano e reducionista, no


partir daquilo que denominou por “tetragrama”: paradigma da simplificação (disjunção ou redução),
ordem/desordem/interações/organização. Esse pois, como ensina Morin, este não consegue
tetragrama não fornece a “chave do universo”, reconhecer a existência do problema da
mas permite compreender o seu jogo, ou seja, nos complexidade. E é disso que se trata, reconhecer
revela a sua complexidade (MORIN, 1996). que, nas relações do homem com outros homens e
No paradigma da complexidade da destes com o meio ambiente, estamos tratando de
organização física e da auto-eco-organização algo que requer um novo enfoque paradigmático,
biológica é possível encontrar, portanto, noções capaz de unir os conhecimentos de diferentes
de complexidade organizacionais que devem disciplinas científicas, com os saberes tradicionais"
constituir a infraestrutura de todos nossos (CAPORAL, 2008, p. 40).
pensamentos sobre a organização humana: uma
visão complexa do universo - físico, biológico e Em base a esse novo paradigma científico,
antropossocial, isto é Gomes (1993) sustenta que o pensamento
"(...) trata-se de articular os pontos de vista agroecológico deve abrir-se ao pluralismo
disjuntos do saber, num ciclo ativo, articulando as epistemológico para a produção do conhecimento
esferas disjuntas em base ao princípio organizador agrário, configurando, assim, seus pressupostos
capaz de gerar um conhecimento que articularia o teórico-metodológicos de forma a lhe permitir uma
disjunto e complexificaria o simplificado (...); por isso "(...) abertura aos conhecimentos e técnicas
o problema crucial é o do principio organizador do agrícolas tradicionais como fonte de conhecimentos
conhecimento, e que o que è vital não é apenas e práticas válidas; (...) e a combinação de técnicas
reaprender, mas sim reorganizar o nosso sistema de pesquisa variadas, quantitativas e qualitativas,
mental para reaprender a aprender" (MORIN, numa perspectiva interdisciplinar" (GOMES, 1993,
1983, p. 22-24). p.13)

Nesse contexto inscreve-se a Agroecologia Urge, portanto, a produção de novas


(AE) compreendida como um saber ambiental do metodologias capazes de abordar as complexas
campo da complexidade, isto é, fundamentado em relações entre sociedade e natureza, posto que os
um novo paradigma que exige a abordagem fundamentos teóricos da produção do
interdisciplinar e o diálogo de saberes: a criação conhecimento no campo socioambiental estão
deste corpo complexo e integrado de associados com metodologias alternativas como a
conhecimentos sobre os processos naturais e interdisciplinaridade, entendida por Dimas Floriani
sociais é denominado por Enrique Leff (2001) de (2003) como
‘saber ambiental’ que implica a construção de uma "A articulação de diferentes disciplinas para
nova racionalidade e a integração interdisciplinar melhor compreender e administrar situações de
do conhecimento para explicar o comportamento acomodação, tensão ou conflito explícito entre as
de sistemas socioambientais complexos. necessidades humanas, as práticas sociais e as
Caminha nessa mesma direção a escolha dinâmicas naturais" (FLORIANI, D., 2003).
epistemológica de Caporal (2008) para a AE,
quando a situa no contexto da emergência de um Ora, ao pensar as bases cognitivas para
novo paradigma para interpretar a realidade Agroecologia deve-se incluir novos princípios
complexa: teóricos e novos meios instrumentais para
A AE "(...) não se emarca no paradigma

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reorientar as formas de manipulação produtiva da


ideótipo agrícola, conforme Azevedo (2005) está
natureza. Cabe lembrar que esse novo sistema de
vinculado ao modelo idealizado de sistema
regras de pensamento e ações sociais está
agrícola, construído a partir da cosmologia (o
sustentado por valores (qualidade de vida,
sistema de crenças, a rede simbólica) de cada
identidades culturais, sentidos da existência) que
grupo social. Ou ainda, conforme Victor Toledo
não aspiram alcançar um status de cientificidade -
(2001) envolve as percepções de natureza que
posto que a estratégia cognitiva complexa se
uma coletividade constrói com sua rede de
realiza no diálogo entre os saberes acadêmicos e
crenças e conhecimentos, isto é, o kosmos (o
os saberes derivados de práticas sócioambientais
sistema de crenças ou cosmovisões), traduzido
culturalmente arraigados. Abre-se, dessa forma,
em um corpus (o sistema cognitivo) que legitima a
um diálogo entre ciência e saber, tradição e
práxis (o conjunto de práticas sociais). Estas
modernidade (LEFF, 2001).
categorias formam, segundo o mesmo autor, o
complexo ‘crenças-conhecimentos-práticas’ das
A Ressignificação do Universo de Pesquisa da
AE: a Complexa Realidade Sócioespacial Rural coletividades, capaz de evidenciar os processos
onde se Insere o Agroecossistema de apropriação humana da natureza.
Com relação ao conjunto de práticas sociais,
Segundo o filósofo português Sousa Santos Brandenburg (2002) destaca a existência de uma
(2005), o conhecimento do paradigma emergente práxis agrícola ecossocial, definindo-a como a
deve superar não somente a dicotomia ciências prática social da produção familiar de base
naturais/ciências sociais, mas revalorizar a pessoa ecológica que está alicerçada em sistemas de
enquanto ator e sujeito do mundo, colocando-o no conhecimentos constituídos por uma nova
centro do conhecimento e desfazendo a racionalidade (um novo sistema cognitivo). Tal
separação sujeito/objeto. Assim ressignificado, o práxis está integrada à subjetividade, ou seja, ao
conhecimento científico pode traduzir-se num pleno envolvimento do sujeito.
saber vernacular e prático com o qual, no Destacamos que a palavra envolvimento
cotidiano, são orientadas nossas ações e é dado remete ao significado mais amplo de lugar
sentido à nossa vida. (traduzido na palavra envolver), ou seja, o espaço
A ressignificação do conhecimento científico carregado de valores simbólicos e afetivos de
em saber vernacular prático (isto é, saber-fazer sujeitos reflexivos depositários de projetos
local, cotidiano, tradicional), configura uma nova alternativos de sociedade, o que vem a dar
estratégia cognitiva complexa para a consistência à formulação de Leff (2000) para o
Agroecologia. Devemos entender, nesse sentido, entendimento da organização cultural de uma
que existem diversas práticas sociais (materiais e formação sócio-econômica:
imaterias) de natureza, isto é, existem diversas "(...) pressupõe o conhecimento do tecido
agriCulturas, ou ideótipos agrícolas que refletem a de valores, das formações ideológicas, dos
diversidade cultural das diferentes formações sistemas de significação, das práticas
sócioterritoriais, posto que, de acordo com Milton produtivas e dos estilos de vida, num contexto
Santos (1996) a compreensão da realidade geográfico e num dado momento histórico"
espacial subsume o entendimento da articulação (Leff , 2000, p. 105).
do sistema de ações sociais com o sistema de
objetos que configuram a essência hibrida da Esse reencontro das dimensões materiais e
entidade espacial.
Vale lembrar também que o conceito de

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imateriais da natureza transformada pelo marcada por três vetores: pela globalização, cujo
pensamento em toda sua realidade – consciente e processo é alimentado tanto pelo mercado, pela
inconsciente, individual e coletiva – encontra institucionalização da questão ambiental, e pelas
ambiente fértil também nas explicações sobre a novas estratégias de organização que fazem
relação território-territorialidade, posto que “a irrupção nos quadros tradicionais da ação coletiva
natureza é realidade material e ao mesmo tempo no meio rural. De fato, presenciamos atualmente a
ideal; é natureza apropriada, humanizada, reunião do
transformada em sociedade, história inscrita na "(...) lugar com o território (o sucesso da noção
natureza” (GODELIER, 1984, p. 13). de terroir, a requalificação naturalista dos espaços),
O enfoque territorial tem um significado muito mas igualmente de instituir novos campos de
relevante nas diferentes perspectivas analíticas relação e de organização que perpassam os
que trabalham o tema do desenvolvimento rural. O quadros tradicionais da ação coletiva no meio rural.
território, nessa nova perspectiva, passou a figurar Vemos aparecer novos territórios de gestão que
como importante unidade de análise dos estão em descompasso com os modos de
problemas das ações políticas sobre o espaço, governabilidade habituais que organizam o espaço
levando-se em conta o esgotamento teórico e rural (...)" (BILLAUD, 2004, p. 116).
prático das ações de planejamento funcional do
espaço como referência para se pensar as ações Trata-se de interpretar a configuração de
e políticas públicas voltadas ao desenvolvimento territórios da agricultura familiar ecológica que se
rural. expressam como lugares alternativos aos grandes
Nesse sentido, esse rural contemporâneo é um espaços “vazios e estéreis” dos commodities
rural que começa a ser pensado como territórios valorizados sazonalmente pelo mercado e
do futuro, como resposta possível à crise do pensados de acordo com o projeto modernizador
emprego e da qualidade de vida gerada pela e homogeneizador para o espaço rural.
civilização urbano-industrial. Tais territórios Algumas categorias analíticas que surgem nos
apresentam-se opostos à posição teórica da últimos 40 anos como crítica à forma da
homogeneização do rural, surgindo como posição agronomia moderna interpretar e se relacionar
da reconstrução e ressignificação do mesmo. com as diversas realidades rurais e agrícolas são
Segundo esta visão, o rural aparece como um destacadas por Jalcione de Almeida (2000) como
espaço de vida e trabalho, uma rede de relações representantes de novas idéias e/ou iniciativas
sociais, uma paisagem ecológica e cultural e metodológicas capazes de abrirem caminho ao
representações específicas de pertencimento, de diálogo fértil com outras ciências. São elas:
desejo ou projetos de vida (FERREIRA, 2002). "i)a análise do perfil de cultivo dos solos de
O rural ressignificado exige a construção de Stephane Hénin que busca associar as avaliações
novas identidades (territorialidades), a partir da qualitativas ao enfoque sistêmico, não dissociando o
valorização de outras dimensões do território que solo das plantas e das práticas agrícolas;
não somente a econômica. Assim, é fundamental ii)a atenção à vocação dos solos, e aqui
destacar valores subjugados pela racionalidade também incluímos a noção de território da
econômico-instrumental implícita nos planos de agricultura, numa nova perspectiva que recuperaria
desenvolvimento do espaço rural: os saberes as interfaces disciplinares, na medida que distingue
produzidos localmente. as diferentes significações da expressão
Segundo Jean-Paul Billaud, a dinâmica atual “potencialidades dos solos” e;
da agricultura reflete uma reterritorialização iii)a construção de uma AE que se apóia no

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potencial da diversidade social e dos sistemas significação/ressignificação do universo de


agrícolas, no desenvolvimento local e pesquisa da AE - isto é, a realidade sócioespacial
descentralizado; rural onde se insere o agroecossistema - devem
iv)e a idéia de práticas agrícolas que possui ser colocados como questões centrais a uma AE
como princípio básico o fato de serem o produto ao que se apóia no quadro de uma nova
mesmo tempo de uma “cultura técnica” que é própria racionalidade produtiva, posto que esta nova
a uma sociedade, das relações que essa cultura racionalidade não está sendo construída somente
estabelece com o meio e de um “projeto” que resulta como uma proposta teórica, mas vem sendo
da ligação individual e singular que um agricultor mobilizada pela emergência de novos atores
estabelece com um sistema solo-planta-clima" sociais que reivindicam melhoria da qualidade do
(ALMEIDA, 2000, p.8) ambiente e da qualidade de vida, como também
de espaços de autonomia cultural e autogestão
Vale destacar o fato que Jalcione de Almeida produtiva, ressignificando o discurso da
chama atenção para o surgimento de uma AE sustentabilidade dentro dos valores e interesses
apoiada nas características acima definidas. A AE que orientam um processo de reapropriação
possui diferentes interpretações e funções. Pode social da natureza (LEFF, 2001).
ser analisada como um conjunto de práticas, como A AE enquanto saber ambiental excede
uma abordagem alternativa, como uma ciência as “ciências ambientais” para abri-se ao terreno
e/ou como uma ruptura paradigmática, segundo dos valores éticos dos conhecimentos práticos e
os contextos econômicos e políticos em diversos dos saberes tradicionais. Implica uma nova
momentos da história. racionalidade e um novo pensamento sobre a
Ora, como bem diz Morin (2003, p 75) “todo produção do mundo com base no conhecimento,
conhecimento é uma reconstrução/tradução por na ciência e na tecnologia. Esse novo saber
um espírito/inteligência em uma cultura e em um emerge como espaço onde se articulam a
tempo determinados”. A questão ambiental não natureza, a técnica e a cultura; um processo de
foge à regra; ela é objeto da produção social do reconstituição de identidades resultantes da
conhecimento e também deriva de um processo hibridação entre o material e o simbólico; se
coletivo controverso. O fenômeno de ecologização produz no entrecruzamento de saberes e se
da agricultura, por exemplo, implica a arraiga em novas identidades; emerge, portanto,
internalização de valores ambientais nos discursos como complexidade ambiental (LEFF, 2003, p.7-
e práticas institucionais, no mercado e nas ações 8).
dos movimentos sociais, marcando as dimensões Nesse sentido, devemos resgatar o que implica
e graus da sustentabilidade segundo campos de interpretar os fenômenos da realidade do espaço
disputa de significação da questão ambiental rural a partir do paradigma do pensamento
pelos atores sociais 1. complexo. Implica, primeiramente, na
Assim, a questão ambiental surge como um desconstrução do pensamento disciplinar,
campo de disputas simbólicas, isto é, a produção simplificador, unitário para, após, viabilizar as
da informação/conhecimento sobre a questão categorias que permitem pensar a inteligibilidade
ambiental pertence ao campo simbólico da do universo - físico, biológico e antropossocial -
produção-consumo e às disputas de em movimentos dialógicos entre a ordem, a
significação/ressignificação da realidade segundo desordem e a organização, por via de inúmeras
interesses sociais diversos (BOURDIEU, 1994). inter-retroações, reintroduzindo o conhecido em
Estes campos de disputas de

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todo o conhecimento. Conforme Edgard Morin fenômeno complexo; vii)princípio da


o
"(...) todo o conhecimento, toda a ciência deve reintrodução do conhecido em todo o
agora comportar dupla ou múltipla entrada (física, conhecimento" (MORIN, 2003, p. 72-75)
biológica, antropossociológica), duplo foco
(objeto/sujeito) e constituir anéis para a Não obstante, conforme Edgard Morin em ‘O
transformação do conhecimento" (MORIN, 1996, método III: o conhecimento do conhecimento’
p. 52). (MORIN, 2008), tais fundamentos acima
elencados podem ser agrupados em três
Essas categorias, complementares e princípios inter-relacionados: i) Princípio Dialógico;
interdependentes, são sintetizadas em sete ii) Princípio Autogerativo e; iii) Princípio
‘princípios’ que guiam os processos cognitivos do Hologramatico, e com os quais procuraremos
pensamento complexo (MORIN, 2003): discutir a seguir o referencial teórico-metodológico
"i) o princípio sistêmico ou organizacional que da Agroecologia.
une o conhecimento das partes com o conhecimento
do todo (...) [neste princípio], a idéia central é a de Auto-eco-organização: aplicando os princípios
que “o todo é mais do que a soma das partes (...) e
do pensamento complexo à AE
a organização do todo produz qualidades ou Nesse item ensaiaremos traçar o estudo da
propriedades em relação às partes isoladamente: as arte da AE, buscando evidenciar em base a
emergências; ii) o princípio hologramático que põe trabalhos acadêmicos de autores conhecidos
em evidência esse aparente paradoxo dos sistemas princípios agroecológicos que permitam identificar
complexos nos quais a parte não somente está no uma aproximação cognitiva aos princípios do
todo, como todo está inscrito em toda parte; iii) o método moraniano para a compreensão da
princípio do ciclo retroativo (...) permite o complexa realidade do universo de pesquisa da
conhecimento dos processos auto-reguladores; (...) AE – os agroecossistemas que estão inseridos em
esse mecanismo de regulação [homeostática] formações sócioterritoriais rurais.
permite a autonomia de um sistema; iv) o princípio Para desenvolver a nossa proposta
do ciclo recorrente supera a noção de regulação aplicaremos neste texto três ‘princípios-guias’ do
pela auto-produção e auto-organização, a partir da pensamento complexo de Edgard Morin (o
qual os produtos e as conseqüências são eles Dialógico; o Autogerativo e; o Hologramatico) para
próprios produtores e originadores daquilo que evidenciar acoplagens entre a proposta atual da
produzem; v) o princípio da auto-eco-organização Agroecologia com o pensamento complexo.
(autonomia/dependência): os seres vivos são seres Destacamos que a idéia de ‘acoplagem’ é uma
auto-organizados, se auto-produzem sem cessar e referência à noção de acoplamento estrutural
por isto gastam a energia para salvaguardar sua derivada da teoria do conhecimento, desde o
autonomia; vi) o princípio dialógico: devemos ponto de vista da biologia evolutiva. De acordo
conceber uma dialógica aos seus proponentes – Humberto Maturana e
ordem/desordem/organização desde o surgimento Francisco Varela (2000) - a idéia de acoplamento
do universo (...) a dialógica entre a ordem, a estrutural é o resultado do processo adaptativo,
desordem e a organização, por via de inúmeras reflexo das interações; é uma coerência estrutural,
inter-retroações, está constantemente em ação nos significando que a estrutura do sistema pode ser
mundos físico, biológico e humano. A dialógica nos descrita como detentora de uma correspondência
permite aceitar racionalmente a associação de mútua que se manifesta de forma dinâmica. O
noções contraditórias para conceber um mesmo

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Floriani & Floriani

meio seleciona a mudança estrutural do interdisciplinar, buscamos o aporte de


organismo, e o organismo, através de sua NOORGARD (1989) sobre os diferentes campos
atividade, seleciona a mudança estrutural do meio. de conhecimento que constituem o referencial
Dessa lógica resulta uma das definições de teórico-metodológico da AE:
aprendizado, que segundo os autores "A AE compartilha sua base epistemológica com
corresponde a uma contínua mudança estrutural a subdisciplina antropológica da ecologia cultural,
de tal maneira que se mantenha agindo onde a evolução da cultura é explicada como
adequadamente em seu meio, embora o próprio referência ao meio ambiente e a evolução da cultura
meio esteja mudando. é explicada como referência à cultura (...) os
Considerando o conceito de acoplagem, sociobiólogos também exploram a base
arriscamos estabelecer metaforicamente uma epistemológica dos povos como parte de natureza
analogia entre o conceito de aprendizado de um (...). Os geógrafos estão descrevendo (...) sistemas
organismo com o desenvolvimento do corpo agrícolas tradicionais e criticando a modernização
teórico-metodológico da AE: seria um processo de agrícola em estruturas agroecológicas (...)
aprendizagem adaptativa deste saber frente aos economistas, filósofos, estudiosos em sistemas e
problemas socioambientais, repercutindo nas muitos outros (...)" (NOORGARD, 1989, p. 46).
dimensões técnica, cultural e ecológica as formas
de interpretar (relacionar-se com) o seu universo O enfoque interdisciplinar agroecológico busca,
de pesquisa, configurando novas emergências portanto, o aporte teórico-metodológico de
(caminhos para solucionar os problemas). diversas disciplinas convergindo em um ponto
A parte dessa divagação, a sistematização do comum de pesquisa: o agroecossistema. Nesse
referencial intelectual agroecológico em função sentido Francisco Caporal (2008) corrobora com
dos três princípios sintéticos de inteligibilidade da Noorgard quando afirma que a AE envolve a
complexidade (dialógico, autogerativo e aplicação de conceitos e princípios da Ecologia,
hologramático) não busca uma clara divisão da Agronomia, da Sociologia, da Antropologia, da
(separação) das suas noções, experiências e ciência da Comunicação, da Economia Ecológica
concepções. Contrariamente, o que se presencia e de tantas outras áreas do conhecimento, no
são conexões, sobreposições e recorrências, redesenho e no manejo de agroecossistemas.
demonstrando que o método para o pensamento Pensamos que a relação fundamental em
complexo deve indicar direção a uma nova ciência está no caráter
"(...) ao menos num certo nível de complexidade dialógico a ser viabilizado entre as ciências e,
organizacional, e podemos tomá-los em conjunto para sobretudo entre a ciência e outros saberes que
considerar a máquina cerebral, cujo funcionamento não almejam status de cientificidade, posto que a
resulta de dialógicas, recursões, implicações, dialógica “nos permite aceitar racionalmente a
sobreposições; como se todo momento ou elemento do associação de noções contraditórias para
processo implicasse de certo modo todos os outros e conceber um mesmo fenômeno complexo”
como se tudo acontecesse e fosse construído nas (MORIN, 2008).
interferências entre todos os momentos ou elementos Ora, a construção de uma nova ciência exige a
do processo" (MORIN, 2008, p. 117). transformação de paradigmas científicos
tradicionais e a produção de novos
Interdisciplinaridade e Diálogo de Saberes: uma conhecimentos, ou seja, exige o diálogo, a
Agroecologia Dialógica e Multidimensional hibridação e integração de saberes, das
No que tange à estratégia cognitiva

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Saber ambiental complexo: aportes

subjetividades e a organização interdisciplinar do coletivamente definidos (CARTIER, 2004, p. 37).


conhecimento, posto que a noção de meio Ora, o conhecimento do agricultor sobre os
ambiente tende a ser, ocorrendo na fronteira dos ecossistemas geralmente resulta em estratégias
conhecimentos disciplinares e permitindo juntar produtivas multidimensionais de uso da terra
diferentes domínios da realidade e separar as desenvolvidos em função de aspectos peculiares
especificidades da mesma (FLORIANI, D., 2003; a essas comunidades rurais tradicionais. Esses
LEFF, 2001). aspectos peculiares são geradores de uma prática
Com isso, abre-se outra perspectiva do agrícola que possui como características a
paradigma emergente: ele constitui-se em redor capacidade de tolerar riscos, a eficiência produtiva
de temas que, em dado momento, são adotados de misturas simbióticas de cultivos, a reciclagem
por grupos sociais concretos com problemas de materiais, a utilização dos recursos e
locais, devendo assumir uma postura tradutora, ou germoplasmas locais e a habilidade de explorar
seja, incentiva os conceitos e as teorias toda uma gama de micro-ambientes (ALTIERI,
desenvolvidos localmente a emigrarem para 2004, p. 21).
outros lugares cognitivos, de modo a poderem ser Nessa relação de interdependência com a
utilizados fora do seu contexto de origem. natureza, o território da agricultura tradicional e
Quando NOORGARD (1989, p. 46) afirma que ecológica, segundo Nicolas Floriani (2007), é
a AE “pode ser parte de uma grande virada do objeto de um savoir-faire particular: os agricultores
pensamento ocidental”, ele o faz por estar ciente tradicionais e agroecológicos tiram das técnicas e
da necessidade da superação da antiga muralha das práticas um conhecimento fino da
entre conhecimento científico e outros saberes geobiocenose; eles se aderem ao Terroir, isto é,
acerca das práticas produtivas no espaço rural. ao espaço vivido; apóiam-se antes sobre um
Para tanto, o autor parte da idéia central de savoir-faire2 que sobre um discurso técnico,
‘coevolução’ entre sistemas sociais e biológicos incutindo na produção a idéia de “limiar”, de uma
que, por desenvolverem-se mutuamente, possuem lei do meio que não se pode transgredir. Trata-se
potencial agrícola que pode ser mais bem da percepção coletiva da fragilidade e da
compreendido estudando-se como as culturas potencialidade das paisagens físicas que inclui
tradicionais captaram esse potencial sinérgico. concepções ressubjetivadas de fertilidade,
Portanto, a idéia é a de simbiose localizada e guiando muitas das práticas agrícolas frente aos
histórica entre os elementos naturais e a cultura eventuais processos degradantes da atividade
própria a uma população que identifica as produtiva intensiva. Tratam dessa questão
vocações dos elementos naturais, ou seja, remete inúmeros autores, segundo diversas abordagens
à idéia de evolução técnica que corresponde a econômicas, antropológicas, sociológicas e
uma adaptação renovada segundo as variações ecológicas. Entre eles podemos citar Miguel
naturais, a evolução das normas sociais, Altieri, Victor Toledo, Scot Hoefle; Jean-Paul
econômicas e culturais. Essa dimensão integrativa Billaud; Chantal Blanc-Pamard, Paul Claval,
do território agrícola - singularidade nascida das Michel Sebillotte, Jan Van der Ploeg, entre outros.
interações naturais, técnicas e culturais – Na caracterização do sistema cognitivo local, o
sintetiza-se na capacidade técnica de adaptação processo dialógico entre os saberes científicos e
do trabalho às limitações produtivas naturais por vernaculares por meio das representações
uma população guiada por lógicas de gestão espaciais permite a identificação das práticas
compartilhada dos recursos pela comunidade em produtivas e dos atos cognitivos, a partir dos quais
seu território, tendo em vista os usos

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Floriani & Floriani

é possível desvendar as particularidades dos


Sistema-Organização e Princípio Hologramático:
territórios agroecológicos: aparecem como
estabelecendo inter-relações entre os sistemas de
imprescindíveis à avaliação da paisagem agrícola práticas agrícolas, os agroecossistemas e os
o conhecimento aderido às vivências coletivas (o sistemas sócioterritoriais.
fenômeno social do interconhecimento) no
processo de potencialização das qualidades Ligado ao princípio hologramático está a idéia
produtivas das terras, estando este dentro de um de Sistema-Organização. Trata-se de um princípio
conjunto maior de processos simbióticos próprios fortemente estruturante do paradigma
à agricultura familiar de base ecológica, agroecológico. Segundo Gliessman (2001), na
sintetizados na relação ‘terra-lugar-família’ década de 1950 a consolidação do conceito de
(FLORIANI, N., 2007). ecossistema renovou o interesse pela ecologia de
Nesse contexto, Victor Toledo propõe um cultivos. Com esse conceito, foi possível pela
modelo teórico que permita a interpretação do primeira vez estruturar uma metodologia básica
ideótipo agrícola vernacular, a partir dos conceitos geral para examinar a agricultura desde uma
de kosmos, corpus e práxis. A etnoecologia de perspectiva ecológica.
Toledo presume a abordagem interdisciplinar que "A visão ecológica dos campos cultivados é
explora as maneiras como a natureza é concebida como ecossistemas, nos quais os
visualizada pelos diferentes grupos humanos processos ecológicos encontrados nas outras
(culturas), através de um conjunto de crenças e formações de vegetações – como os ciclos de
conhecimentos, e como em termos dessas nutrientes, interações predador/presa, competição,
imagens, tais grupos utilizam e/ou manejam os comensalismo e sucessões ecológicas – também
recursos naturais (TOLEDO, 2003). ocorrem" (HECHT, 1989, p. 28).
Nesse sentido, Jalcione Almeida entende que o
diálogo interdisciplinar entre a agronomia e as Outra abordagem dos ecossistemas cultivados
ciências sociais é um caminho para interpretação é interpretação energética (termodinâmica). De
das práticas produtivas das comunidades: acordo com Jean-Paul DÉLÉAGE (1993, p. 107-
"(...) entender as estreitas relações da 108),
agronomia com a economia (o processo decisório na "(...) é por extensão desses raciocínios
unidade de produção agrícola), com a etnologia (uso termodinâmicos a um sistema constituído por um
da tecnologia associado à cultura), com a sociologia campo de milho, que Edgar N. Transeau estabelece,
(dimensões sociais da tecnologia, as práticas em 1926, a primeira análise eco-energética da
agrícolas e as relações com o meio ambiente)" história da ecologia (...) [e] com Lindeman, o
(ALMEIDA, 2000, p. 08). conceito de energia permite introduzir novas noções
em ecologia, tais como produtividade, rendimento e
Esse reencontro produz ambiente fértil nas nível trófico” DÉLÉAGE (1993, p. 107-108).
explicações etno-agronômicas cujas bases
interpretativas do sistema de produção tem foco Percebe-se, assim, o estabelecimento de
primordial na terra e no comportamento das interesses comuns entre as disciplinas da
plantas, que por sua vez é entendido por Agronomia e da Ecologia que ocorre já a partir da
parâmetros biológicos e sociais do homem. Esse é década de 20 quando os ecólogos passaram a ver
o ponto de interface, segundo HOEFLE et al os sistemas agrícolas como áreas legítimas de
(2002), entre a etnologia e a agronomia e que estudo. Mas é a partir da década de 70 que as
deve ser incorporada ao referencial agroecológico.

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Saber ambiental complexo: aportes

abordagens sistêmicas são rapidamente átomo”, interroga-se sobre a especificidade dos


mobilizadas para tornar inteligíveis a diversidade e sistemas em ecologia, concluindo que “são uma
complexidade dos fatos da agricultura, com a criação mental (um modelo) que permite isolar os
ajuda de novos conceitos: sistema de cultura, de dados brutos da natureza, imaginando uma
criação, de produção, sistema agrário, etc fronteira entre eles o resto do universo”.
(CARON, 2005, p.147). Acrescentamos à constatação de Tansley o fato
Tratando-se de um conceito quase obrigatório de que seu método, além de isolar os
na pesquisa agronômica, o conceito de sistema de componentes, exclui o ser humano do modelo.
culturas por muito tempo concentrou-se nos Ora, por mais que tenhamos evoluído nas
estudos agronômicos unicamente sobre a disciplinas científicas ligadas à ecologia da
elaboração do rendimento das populações produção agrícola, ainda não conseguimos
vegetais cultivadas e sobre a evolução das avançar na compreensão da complexidade do
características do meio, à medida que esses sistema agrícola ou agrário, porque temos incutido
últimos afetam os fatores e as condições de no nosso sistema de valores a concepção de uma
crescimento e desenvolvimento das populações suposta Natureza separada do Homem (LEFF,
vegetais. Os critérios de julgamento eram restritos 2003).
à produção e a preservação da aptidão da Não obstante, a categoria totalidade que
produção (BENOÎT et PAPY, 2000, p. 85). influenciou o conceito de ecossistema estava
Não obstante, diferentemente da agronomia presente nas interpretações do fenômeno
moderna, a AE não busca a maximização da Paisagem, cuja vertente científica desse
produção de uma atividade particular, mas sim a conhecimento remonta aos princípios da
otimização do equilíbrio do agroecossistema como biogeografia e que mais tarde se divide, segundo
um todo, o que significa a necessidade de maior Rodriguez (2007), em duas perspectivas: a
ênfase no conhecimento, na análise e na Biofísica, a partir estudos de Humboldt e
interpretação das complexas relações existentes Dokuchaev que fundamentam as escolas alemã e
entre as pessoas, os cultivos, o solo, a água e os russo-soviética, concebendo a paisagem como
animais (CAPORAL e COSTABEBER, 2002, p. complexo territorial natural e; a Sociocultural, na
14). qual a paisagem é concebida como espaço social
O agroecossistema, nesse sentido, envolve (entidade perceptiva), fundando as escolas
vários níveis de inter-relação entre os elementos francesa, anglo-saxônica e ocidental-européia.
geossistêmicos organizados hierarquicamente, Vemos, portanto, que analisada desde a
presumindo os enfoques multiescalar e escala da paisagem, a perspectiva ecossistêmica
multidimensional para evidenciar tais conexões, começa a evidenciadar com maior nitidez a
ou seja, a integração dos processos. Trata-se, intervenção social, quando esta modifica
contudo, de múltiplas representações da diretamente as dinâmicas processuais do quadro
realidade, isto é, vários modelos sobrepostos, mas natural, ou seja, evidencia-se a construção social
dificilmente conectados pela lógica científica da natureza.
disciplinar. A ecologia da paisagem ganha, com isso, o
De acordo com Déléage (1993), Arthur Tansley aporte da teoria geral dos sistemas, fazendo com
após ter lembrado que seu método – o método que na década de 1960 autores russos e
clássico científico - isola mentalmente os sistemas franceses incluam na fórmula de Arthur Tansley o
devido às necessidades da investigação, “quer elemento sociedade, construindo o conceito de
trate do sistema solar, de uma planta ou de um

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Floriani & Floriani

geossistema: modelo de síntese resultante das influenciou tanto a agronomia como outras
inter-relações existentes entre o potencial disciplinas, dá a possibilidade de interpretar os
ecológico (geomorfologia + clima + hidrologia), os fatos agrícolas em sua totalidade, tornando
componentes biológicos (vegetação + solo + possível num primeiro momento de sua aplicação
fauna) e a tecnologia. Para os autores, esse o reconhecimento e caracterização da diversidade
conceito exige uma mudança de escalas – tanto biofísica e social das paisagens agrícolas.
no sentido horizontal como vertical - que Vemos com isso, que a teoria de sistemas
sobrepassa e agrupa ecossistemas. possibilita a interpretação holística da realidade,
Por outro lado, a noção de agroecossistema segundo diferentes abordagens científicas do
também pressupõe a entidade espacial e exige, espaço rural. Contudo, tais abordagens não
portanto, a complexidade sócio-antropológica podem por isso serem consideradas complexas
como componente de sua estrutura e organização: em suas formas de interpretar a realidade, pois o
recorte do sistema pode ser dado em qualquer
"(...) Nestas unidades geográficas e escala, segundo os objetivos do pesquisador -
socioculturais [os agroecossistemas], os ciclos geossistema/ecossistema/sistema de
minerais, as transformações energéticas, os cultivos/sistema planta-solo-animais/sistema
processos biológicos e as relações fisiológico - sem fazer a volta obrigatória da
sócioeconômicas, constituem o locus onde se pode (re)união das partes, onde é possível perceber a
buscar uma análise sistêmica e holística do conjunto organização do todo e, a partir da qual, há a
destas relações e transformações" (CAPORAL e produção de qualidades ou propriedades
COSTABEBER, 2002, p. 14). emergentes.
Percebe-se assim que quando a teoria geral de
Destarte, fala-se também de região agrícola sistemas tende para um enfoque positivista
como entidades espaciais resultantes de desprende-se de suas bases ontológicas (a
condições ecossistêmicas e socioculturais totalidade organizacional), mostrando-se como
específicas. A diferenciação dessas áreas leva em obstáculo epistemológico na construção de novas
conta a identificação dos sistemas de práticas ordens ontológicas (a simbólica, cultural, histórica
produtivas que por sua vez resultam de variações e social) capazes de apreender a especificidade
locais no clima, solo, relações e estruturas sociais dos diferentes processos que emergem com a
ao longo do tempo, e a similaridade entre esses evolução da natureza: desde a matéria física até a
sistemas podem configurar uma determinada ordem simbólica, desde a organização biológica
região agrícola (ALTIERI, 1989, p. 49). até a autoconsciência dos sujeitos (LEFF, 2003, p.
Para tentar dominar esse jogo de escala 26-28).
essencial à compreensão do espaço agrícola e Ora, a compreensão do mundo como
rural - a complexidade espacial e temporal do “totalidade” propõe o problema de integrar os
território – a AE deve dispensar as idéias de diferentes níveis de materialidade que constituem
parcela e aptidões produtivas do meio aderidas à o ambiente como sistema complexo, e a
noção moderna de fertilidade das terras. Para articulação do conhecimento dessas ordens
tanto, mais que nunca, é necessário apreender a diferenciadas do conhecimento do real, para dar
estrutura e o funcionamento dos sistemas conta desses processos (LEFF, 2003, p. 27).
territoriais em todas as escalas de espaço e de Conecta-se, então, o princípio hologramático
tempo (BERTRAND, 2005, p.30). ao princípio de sistema-organização, que segundo
Como destacado, o pensamento sistêmico que

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Saber ambiental complexo: aportes

Edgard Morin diz respeito à complexidade da (FLORIANI, D., 2004).


organização viva, à complexidade da organização Busca-se, portanto, a comunicação entre a
cerebral, à complexidade da organização esfera dos objetos e a dos sujeitos que concebem
socioantropológica na complexidade esses objetos; procura a articulação entre as
organizacional do todo. Este por sua vez necessita ciências da physis e as ciências da cultura, a fim
da complexidade das partes, a qual necessita de superar a racionalidade dominante que procura
retroativamente da complexidade organizacional captar apenas a ordem na natureza, mas que não
do todo. Nesse sentido, o cosmos (a totalidade) permite avançar rumo a uma nova organização
estaria presente hologramaticamente na (complexa) do pensamento e da ação (MORIN,
organização cognitiva complexa (MORIN, 2008, p. 2008b, p. 275).
114; p. 230). Nesse contexto da complexidade
Trata-se, portanto, de estabelecer a relação organizacional, o pensamento agroecológico
entre as ciências naturais e as ciências humanas. fundamentado no paradigma sistêmico estabelece
É a concentração na direção do saber total, e ao inter-relações entre o sistema de práticas sociais
mesmo tempo, é a consciência antagonista, posto de agricultura (econômicas, simbólicas e
que a totalidade é ao mesmo tempo verdade e políticas), o sistema cognitivo (os esquemas
não-verdade, e a complexidade é isso: a junção representacionais de natureza) e o sistema de
de conceitos que lutam entre si. Temos, portanto, objetos (as geobiocenoses) para compreender o
o estabelecimento de diálogos entre nossas agroecossistema inserido hologramaticamente em
mentes e suas produções reificadas em idéias e uma formação sócioterritorial, cuja expressão
sistemas de idéias como indispensável para dar sensível e, portanto, subjetiva materializa-se na
um grande salto na direção do pensamento da paisagem.
complexidade (MORIN, 2008b, p. 192). Bertrand e Bertrand (2002, p. 277-278)
Para viabilizar esse diálogo entre dois afirmam que a paisagem não é um conceito
conceitos historicamente colocados em lados científico, não pertence a nenhuma disciplina em
opostos, Morin (2008b) concebe a junção particular. Ela pertence ao mundo das
complexa do sistema com duas entradas: representações, da estética e do simbólico.
physis↔psyché, cuja inter-relação: Objetiva ou subjetiva, real ou imaginária, sonhada
"Resulta da indissociabilidade do caráter ou virtual, tantas dimensões interativas que
psicofísico do sistema a indissociabilidade da devem entrar em uma problemática renovada e
relação sujeito observado/objeto observado, donde que implicam em metodologias adaptadas. A
a necessidade de incluir e não de excluir o paisagem aparece ao mesmo tempo como objeto
observador na observação" (MORIN, 2008b, p. e sujeito: ela é objeto-território na sua
269). materialidade; ela é sujeito, nascida no olhar
carregado sobre o território com sua carga
Nesse contexto dialógico entre as concepções emocional e toda sua profundidade humana.
das dimensões física e psíquica, tempo e espaço Sendo assim, a paisagem é global e múltipla.
são ressignificados, a partir da exigência de uma O complexo território-paisagem é de alguma
nova representação, isto é, para expandir o forma o ambiente no olhar dos homens, um
entendimento sobre esse mundo que se constitui ambiente com o rosto humano. Um mesmo
e se destitui de sentidos: sistemas de práticas, território não se torna paisagem senão através do
sistemas cognitivos e sistemas de objetos cruzamento de múltiplos olhares, a partir de
reassumem também novas configurações

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Floriani & Floriani

fenômenos sensoriais e cognitivos partilhados e, ecossistema possui estrutura - as partes físicas


portanto, o postulado que funda a análise da em relação – e função, ou seja, a estrutura em
paisagem não pode ser senão social: é o sistema processos dinâmicos. Os componentes estruturais
de produção no largo sentido, quer dizer, são os fatores bióticos (comunidade, população,
produzindo bens materiais e culturais, que, no organismo) e fatores abióticos (componentes
interior de um grupo social definido e em um dado químicos e físicos). Estes componentes estão
espaço, desenha o conteúdo material e cultural de hierarquicamente combinados, portanto, o sistema
uma paisagem (BERTRAND e BERTRAND, 2002, possui organização na combinação de suas
p. 176). partes, indo do simples ao complexo: do
Com isso, é possível aplicar o princípio organismo à população, da comunidade ao
hologramático e sistêmico ao pensamento ecossistema, do agroecossistema ao
agroecológico para entender realidade complexa geossistema. As comunicações entre as partes
do seu universo de pesquisa a partir de pelo presumem a existência de uma teia de interações,
menos quatro ângulos de leitura da realidade bio- a partir da qual propriedades (qualidades)
físico-antropossocial: i) pelo sistema de práticas estruturais condicionam a dinâmica e a
agrícolas (econômicas, tecnológicas e ecológicas); estabilidade do sistema em questão, isto é o seu
ii) pelo sistema de poder e de rede da organização funcionamento, que pode ser interpretado em
sócioterritorial; iii) pelo geossistema, tratando do termos de energia, matéria e informações que
sistema de objetos e dos processos biofísicos; iv) circulam pela referida teia (GLEISMANN, 2000, p.
pela sistema de práticas simbólicas, apreendendo 61-66).
a dimensão sensível da paisagem por meio das Para o autor, as propriedades organizacionais,
representações sociais (FLORIANI, D., 2004; ou propriedades emergentes, dos ecossistemas
BERTRAND, 2005). dependem de: i) diversidade das espécies
(número de espécies por comunidade); ii)
O princípio Autogerativo: As Propriedades dominância e abundância relativa (espécies
Organizacionais Emergentes dos dominantes); iii) estrutura vegetativa
Agroecossistemas
(componentes vertical e horizontal, isto é,
Do jogo dialético entre camadas-estratos e agrupamentos-associações,
Ordem/Desordem/Organização/Interação, Edgar respectivamente); iv) estrutura trófica (teia e nível
Morin concebe a complexidade da auto-eco- tróficos) e nicho ecológico; v) estabilidade
organização como a base para o pensamento de (resiliência e resistência às perturbações, ruídos)
uma nova ecologia. Com esses princípios torna-se (GLIESMANN, 2000, p. 66).
possível: Conforme Antonio Christofoletti (1999), os
"(...) enunciar a idéia segundo a qual a sistemas ambientais – que são abertos e
complexidade, a irreversibilidade, a desordem e a complexos em sua essência – tem como
auto-eco-organização constituem as categorias de finalidade atingir certo estado de equilíbrio ou
um novo paradigma na ecologia, [sendo preciso] estabilidade e organização. Tais sistemas
captar a relação possuem em sua essência uma desordem
Vida→Natureza→Homem→Sociedade (...) isto é, estrutural intrínseca, assincrônia e aleatória-
admitir que a biosfera e o sistema social têm uma características das interações – que resultam em
confluência" (PENA-VEGA, 2003, p. 42-43). comportamento caótico dos processos. Tal
característica faz com que seja possível aos
De acordo com Gliessman (2000), um

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Saber ambiental complexo: aportes

sistemas adaptar sua estrutura interna frente aos sistema de práticas materiais e imateriais e o
distúrbios externos (perturbação, ruído). sistema geobiocenótico a discussão da
Não obstante, a estabilidade do sistema estabilidade dos ecossistemas remete aos graus
ecológico nunca é absoluta, isto porque os de artificialização dos processos naturais. Na
sistemas vivos não podem ser absolutamente agricultura convencional, por exemplo, essa
constantes. Eles oscilam em torno de um ponto artificialização é extremamente simplificadora,
central. Estando ora mais longe, ora mais perto do pois tende a diminuir a organização estrutural do
ponto de equilíbrio. A este fenômeno podemos dar sistema, substituindo a diversidade de
o nome de Equilíbrio Dinâmico ou componentes. Como resultado, esse sistema
Metaestabilidade (FORMAN e GODRON, 1986). exige para a sua estabilidade a constante
Para a compreensão das mudanças e intervenção humana, caso contrário esse sistema
dinâmica evolutiva, Christofolletti (1999) sugere a se transforma, perdendo os atributos originais e
aplicação de algumas noções fundamentais, tais adquirindo outra funcionalidade.
como: resiliência, incluindo as dos distúrbios e Em particular, os agroecossistemas que
tempo de reação, que se completam com a perseguem a intensificação da produção (a
análise da sensibilidade; a teoria das catástrofes; industrialização da agricultura) não têm a
e a da criticalidade auto-organizada. habilidade, de acordo com Altieri (1989) de
Segundo Atlan (1992), a auto-organização reciclar os nutrientes, conservar o solo e equilibrar
pode ser entendida como o surgimento de uma as populações de pragas e doenças. O
organização estrutural que ocorre dentro de funcionamento do sistema, portanto, depende de
sistemas dinâmicos dissipativos não-lineares. Ela uma contínua intervenção humana. Entretanto,
carrega consigo o princípio da complexidade a existe uma grande variabilidade no grau de
partir do ruído, defendendo que o processo auto- diversidade, estabilidade, controle pelo ser
organizador cria o radicalmente novo, ampliando a humano, eficiência energética e produtividade
capacidade de o sistema interagir com os eventos entre os diferentes tipos de agroecossistemas.
que o perturbam, assimilando-os e modificando De acordo com o agroecólogo chileno, os
sua estrutura. ecossistemas naturais reinvestem uma grande
Buscando uma explicação em Morin (1983, parte de sua produtividade para manter a
p.262), temos a prerrogativa de que a vida em estrutura física e biológica necessária para
todas as suas dimensões é um feixe de sustentar a fertilidade do solo e a estabilidade
qualidades emergentes resultantes do processo biótica (...) [acredita-se], portanto, "que a
de interações e de organização entre as partes e o diversidade biótica e a complexidade estrutural
todo. Esse feixe emergente retroage sobre as promovem ecossistemas maduros e com certa
partes, interações, processos parciais e globais estabilidade em flutuações ambientais (...)"
que o produziram. Deriva dessa assertiva um (ALTIERI, 1989, p. 57).
macroconceito: a ‘complexidade da relação’, que Complexidade estrutural e diversidade
comporta incertezas, antagonismos e biológica são traduções de habitat (estrutura) e
contradições, isto é, a organização do sistema nicho (função) ecológicos. Tais propriedades
produz ao mesmo tempo a sua entropia emergentes são responsáveis pela capacidade do
(degeneração) e a neguentropia (a regeneração) sistema continuar com sua organização, frente às
do sistema. perturbações naturais e antrópicas. Assim,
Tomando-se em conta que os sistemas conforme ALTIERI (1989):
agrícolas são resultados de uma interação entre o

Rev. Bras. de Agroecologia, Porto Alegre, 5(1): 3-23 (2010) 19


Floriani & Floriani

"o sistema pode ajustar-se e continuar estratégias possíveis para criar condições
funcionando após algumas perturbações (...) sustentáveis de vida, vai permitir a emergência de
similarmente, os controles bióticos internos [os liberdades que poderão institucionalizar-se e
mecanismo de regulação homeostática que começar a constituir um dos elementos da auto-
permitem a autonomia de um sistema, o organização das sociedades humanas.
terceiro princípio-guia da complexidade] (tais Adaptação, criatividade, liberdade são
como predador/presa) previnem oscilações emergências dos sistemas complexos auto-
destrutivas nas populações nas populações de organizados que favorecem e tomam caráter com
pragas, promovendo, assim, a estabilidade o aparecimento do Homo sapiens e o
geral do ecossistema." desenvolvimento das sociedades humanas
(MORIN, 2008b, p. 304-305).
Ora, quando a biodiversidade é restituída aos Em se tratando, portanto, do aumento da
agroecossistemas, numerosas e complexas complexidade dos agroecossistemas por meio do
interações passam a estabelecer-se entre o solo, aumento da diversidade e da interação dos
as plantas e os animais. Nesse sentido, na AE a elementos - os valores culturais, entremeados nas
preservação e ampliação da biodiversidade dos formações ideológicas, nos sistemas de saberes e
agroecossistemas é um dos seus fundamentos conhecimentos, e na organização social e
utilizado para produzir auto-regulação e produtiva dos agricultores ecológicos familiares,
sustentabilidade (ALTIERI, 2004). em suma, a diversidade cultural das práticas de
Acrescentamos à formulação de Miguel Altieri uso múltiplo dos recursos naturais - são
a noção de sociobiodiversidade como propriedade responsáveis pela produção de emergências -
emergente dos sistemas complexos. Da mesma reafirmando identidades (criativas, adaptativas e
maneira que nos sistemas naturais, os sistemas libertárias emprestando os termos de Morin) e
culturais aumentam sua complexidade sistêmica enraizando uma racionalidade ambiental em
com o aumento do número e da diversidade dos territórios culturais para o desenvolvimento
elementos e, também com o caráter cada vez sustentável (LEFF et al, 2002, p. 501).
mais flexível das inter-relações - interações,
retroações, interferências (MORIN, 2008b, p. 292), Considerações finais
apontando para a emergência de estabilidades Partiu-se do pressuposto que a Agroecologia é
dinâmicas (graus de sustentabilidade) dos um saber ambiental complexo, isto é,
sistemas complexos. fundamentada em um novo paradigma que exige
Quanto mais complexos forem os a abordagem inter e transdisciplinar. Como
comportamentos, mais os sistemas manifestarão a método, tal abordagem integrada, permite à
flexibilidade adaptativa em relação ao ambiente; a agroecologia interpretar os fenômenos da
flexibilidade adaptativa do comportamento vai realidade agrária e seus territórios, implicando,
exprimir-se no desenvolvimento de estratégias primeiramente, na definição das categorias que
heurísticas, inventivas, variáveis, que substituirão lhe possibilitem pensar a inteligibilidade de tal
os comportamentos programados de forma rígida; universo, do ponto de vista da integração das
o desenvolvimento das estratégias supõe o dimensões física, biológica e antropossocial.
desenvolvimento interno dos dispositivos auto- Tais categorias, complementares e
organizacionais ( MORIN, 2008b, p. 304). interdependentes, são sintetizadas em três
Ora, o desenvolvimento de estratégias princípios que guiam os processos cognitivos do
heurísticas tornadas aptas para encarar várias

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