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7 Texto Sobre Gestão para Revista Lucia Helena Falta Resumo e Abstrat PDF
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Resumo
O texto faz um balanço dos estudos realizados pelo grupo de Pesquisa da Faculdade
de Educação/NESCE/UFJF sobre a temática da gestão escolar, nos últimos dez anos, na
tentativa de orientar os trabalhos futuros. Retomando as propostas desenvolvidadas por tês
projetos de pesquisa levados a efeito no período e tecendo considerações sobre os resultados
obtidos em cada um deles, explicita as concepções que orientaram a condução desses
trabalhos na busca de alargar a compreensão da gestão democrática como princípio teórico e
como prática. Nesse intento reflete sobre o processo de democratização da escola, o processo
de seleção de diretores e as tendências da gestão escolar.
Resume
A gestão democrática da escola pública tem constituído o mote principal dos estudos
do “Grupo de Gestão Escolar” do Núcleo de Estudos Sociais do Conhecimento e da
Educação, NESCE2. Interessado em conhecer a organização e o funcionamento de
estabelecimentos públicos de educação básica, o grupo vem conduzindo nos últimos anos,
projetos de pesquisa que focalizaram, consecutivamente, aspectos desse complexo tema, no
sentido de aprofundar seus conhecimentos a respeito. Este texto se apresenta como a
oportunidade de realizar um balanço desses estudos, na tentativa de orientar os trabalhos
futuros.
Assim, o texto é composto de quatro partes, tratando, as três primeiras, dos trabalhos
desenvolvidos e a última, de considerações de caráter avaliativo.
1
- Doutora em Educação pela UNICAMP a professora é membro do Departamento de Administração Escolar do
Departamento da Faculdade de Educação da UFJF e vice-coordenadora do NESCE.
2
- Esse interesse antecedeu a criação em 1996 do próprio NESCE e encaminhou a constituição do grupo com o
projeto iniciado em 1993.
3
educação formal no Brasil a escola pública, que lhes foi destinada, se caracterizou por manter
elevados índices de evasão e repetência, além de um crescimento aquém da demanda.
A despeito do fato de ter o País, nas últimas décadas, empreendido um grande
esforço para incorporar ao sistema educacional a grande maioria de sua população em idade
escolar, atingindo índices de universalização do ensino fundamental, persistiram os índices de
evasão e repetência, que denotam as deficiências do modelo adotado.
A evolução científica e tecnológica ocorrida nas últimas décadas tornou obsoleto
nosso modelo de desenvolvimento industrial e passou a exigir o aumento da base de
conhecimentos necessários para produzir uma mão-de-obra mais flexível e mais capaz de se
adaptar às constantes inovações. Isso passou a requerer, não apenas a universalização da
educação, mas, principalmente, a garantia de um ensino de qualidade para todos. No plano
político, a luta pela redemocratização do país na década de 80 propiciou a reorganização
crescente de setores da sociedade civil e a participação popular em questões de interesse
nacional, criando espaços e condições para as reivindicações. No setor da educação, isso
representou um aumento da pressão popular por mais e melhor educação para todos. As
experiências de reformas de ensino levadas a efeito a partir de então por administrações
estaduais e municipais, em diferentes regiões do país, colocaram em prática instrumentos que
visavam reorganizar a escola em moldes mais democráticos.
Particularmente no que diz respeito ao Estado de Minas Gerais, a realização do
Congresso Mineiro de Educação deve ser vista como marco nessa discussão. Promovido pelo
governo do Estado, no período de agosto a outubro de 1983, o Congresso teve grande
significação em termos de participação popular no debate dos problemas educacionais
daquela época (LEROY, 1987, p. 147).
As bases para uma gestão democrática da escola pública encontram-se firmadas no
artigo 206, inciso VI da Constituição Federal de 1988 - posteriormente reafirmadas pelas
constituições estaduais e leis orgânicas dos municípios. Encontra-se nesse preceito a
indicação da escolha por um regime normativo e político que é plural e descentralizado, que
amplia o número de sujeitos políticos capazes de tomar decisão, requer a participação e supõe
a abertura na escola de novas arenas públicas de deliberação e de decisão (CURY, 2002, p.
170).
Que reflexos dos preceitos consagrados na Constituição Federal de 1988 podiam ser
percebidos na organização da escola pública brasileira, nos primeiros anos da década de 90?
Que mudanças foram efetivadas nas escolas até então?
4
3
- Intitulado “ A democratização da administração em escolas públicas de Juiz de Fora”, o projeto coordenado
Por TEIXEIRA (1995)contou com apoio da FAPEMIG e a participação de três bolsista de Iniciação Científica.
5
ou impedia sua utilização como instrumento capaz de definir a organização e orientar seu
funcionamento de modo democrático e eficiente;
9) os processos de planejamento empregados em duas escolas pareciam ter contado com
alguma forma de participação do seu pessoal em sua elaboração e denotavam ser um
instrumento que vinha orientando o trabalho coletivo e a avaliação do mesmo;
10) a ocorrência desses elementos não era suficiente para reverter as taxas de reprovação das
escolas, que em uma delas atingiu, no ano de 1992, 49,19% dos alunos matriculados
(TEIXEIRA, 1995,p29-30).
Esses resultados evidenciavam a existência, nas escolas estudadas, de um processo de
democratização em curso. Embora insuficiente para redundar em melhoria do ensino
ministrado, os dados indicavam mudanças na organização Das escolas no sentido de torná-las
espaços de participação dos atores nelas envolvidos. Esses dados suscitavam também
questões em torno da figura do diretor e dos processos de sua seleção a serem contemplados
em novos projetos de pesquisa.
4
- Denominado “ A Eleição de diretores como mecanismo de democratização da gestão da escola”, o projeto,
coordenado pelo Prof. Dr. Paulo Roberto Curvelo Lopes, foi desenvolvido no NESCE/ Faculdade de Educação/
UFJF, contando com a participação dos professores: Dra. Lucia Helena G. Teixeira, Rubens Luiz Rodrigues ,
bolsistas de especialização, de Iniciação Científica, além de três mestrandas.
7
Seis escolas públicas situadas na zona urbana de Juiz de Fora, Minas Gerais,
constituíram o universo dessa pesquisa, quatro delas da rede municipal e duas estaduais5. Em
conformidade com os critérios estabelecidos, três dessas escolas se caracterizavam pela
grande rotatividade na ocupação do cargo de diretor, pela localização no centro urbano da
cidade e pelo seu maior contingente de matrículas, enquanto as outras três escolas escolhidas
apresentavam menor rotatividade no cargo de direção, localizavam-se em bairros periféricos e
eram consideradas de menor porte.
as opiniões mais gerais acerca do processo eleitoral, mas que confirmassem ou negassem
determinadas interpretações desenvolvidas através da observação sistemática. Com a
participação de 40 estudantes, especialmente treinados para isso, a consulta logrou atingir
1.318 “eleitores” alunos (LOPES, 2000, p. 71)7.
3-a pesquisa evidenciou a perpetuação no interior das escolas estudadas de uma ótica
“privatista”, com a atuação de atores sociais “patrimonialistas”, na linguagem de O’ Donnell (
1993, p. 129). O próprio desenvolvimento das eleições realçou procedimentos meramente
formais e técnicos, que inibia o aprofundamento dos debates entre professores, pais, alunos e
funcionários;
7-não havia discussão sobre as prioridades das escolas e, conseqüentemente, sobre seu
processo de tomada de decisões. A concentração de poderes nas mãos dos diretores evitava a
efetiva participação dos grupos, enquanto os espaços de debate coletivo continuavam
extremamente burocratizados, sem vínculo com uma proposta pedagógica que atendesse os
que estavam envolvidos no dia-a-dia das escolas;
8-no quadro delineado, as mudanças no interior das escolas se caracterizavam por acentuada
morosidade, redundando igualmente numa lenta transformação promovida pelas eleições. A
viabilização de alternativas que estimulassem a participação de todos, alicerçada numa
atuação ativa de grupos organizados e, comprometidos com um projeto-pedagógico para a
escola, constituía, por isso mesmo, num desafio;
9-a observação sistemática das escolas e a realização do survey indicaram que, na percepção
dos eleitores, o fazer pedagógico constitui-se como elemento central, tanto no processo de
escolha do diretor, quanto em todo o período de mandato dos eleitos. Assim, é esse fazer
pedagógico o elemento privilegiado para contribuir no sentido da consolidação de dois
movimentos distintos e complementares. De um lado, aquele que busca superar as
desigualdades vigentes na sociedade capitalista e que atravessa a escola. De outro, o que
reconhece no pluralismo de idéias e de interesses a base de construção de uma vontade
política majoritária. Ele abre espaço para os sujeitos assumirem-se como protagonistas do ato
de pensar e fazer uma nova escola para uma nova sociedade. Ultrapassando os muros da
escola ele se relaciona com os movimentos sociais adotando uma perspectiva favorável à
hegemonia das classes subalternizadas.
Fica a percepção de que a escola pode vir a ser um espaço democrático a partir do
momento que viabiliza a luta de todos, em seu interior, contra as desigualdades, expressa no
fazer pedagógico. O campo pedagógico, peculiar à instituição escolar, se constitui como
aquele que é capaz de articular o técnico e o político, o público e o privado, o particular e o
coletivo.
Aspectos da gestão democrática da escola pública não abrangidos por esse estudo,
mas vislumbrados no decorrer da pesquisa indicaram para o grupo a necessidade de
continuidade e aprofundamento da pesquisa nessa área. Questões como a do financiamento do
ensino, dos modelos ou tendências da gestão escolar, do perfil de diretores eleitos e do
planejamento na construção da proposta pedagógica da unidade escolar, despontaram como
alvos de interesses suscitados pelo desenvolvimento desse projeto.
Além dos resultados apurados nos estudos anteriores do grupo, pesquisas realizadas
por outros estudiosos sobre o assunto têm constatado, nos últimos anos, o surgimento de
novos desafios à democratização da gestão escolar em decorrência da realização de
experiências com a eleição de seus diretores10. Constata-se que tais eleições, embora
necessárias, não se configuram como suficientes para garantir a democratização da prática
escolar. Novas responsabilidades, como a de articulação, planejamento, monitoramento e
avaliação da ação na escola ultrapassam os limites do processo eleitoral.
Por outro lado, a homologação da Lei n° 9.394, em 23 de dezembro de 1996,
significou o incremento de propostas de mudanças na organização escolar, colocando na
ordem do dia o princípio da gestão democrática da escola pública (Artigo 3°, inciso VIII) e o
exercício da autonomia da escola (Artigo 15). O diretor, que pela eleição deixa de ser um
representante do político influente da região, com a autonomia da unidade escolar, tem diante
de si novas exigências, tanto dos organismos do Estado, como da comunidade escolar e
responde a elas imprimindo feições novas à prática de gestão escolar, podendo ampliar as
possibilidades de separação das marcas da tradição e do autoritarismo.
As mudanças no papel da escola no Brasil e as alterações no modelo de sua
organização interna refletem o movimento de reorganização do sistema capitalista, com a
redefinição do próprio papel do Estado e de seu modelo de desenvolvimento. O Estado
conservador, centralizador e autoritário que patrocinou o desenvolvimento dos anos 30 a 80
(ARAÚJO, 2000), passou a adotar, a partir da década de 90, uma política inversa, pautada na
diminuição do Estado, no estímulo à competitividade e na ênfase sobre a responsabilidade
individual, apostando na modernização para se inserir no processo da globalização.
As conseqüências dessa política para a educação no país e para a organização e o
funcionamento de escolas públicas de educação básica não podem ser desprezadas quando se
trata de compreender a gestão dessas escolas.
escolas da rede estadual e municipal de ensino de Juiz de Fora. Em decorrência das dimensões do projeto
desenvolvido em Convênio com o governo estadual, optou-se por tratar neste texto apenas de seus resultados.
10
- A esse respeito destacam-se os trabalhos de PARO ( 1989),DOURADO (1990) e DOURADO (1998).
14
Na sua leitura sobre os três temas focalizados pelo autor, Lopes (2003, .p. 12-14)
ressalta a sua crítica ao Estado contemporâneo, que prioriza as leis de mercado sobre as leis
da polis e coloca em risco a democracia liberal, ao gerar uma nação em duas camadas: a dos
que tudo podem e dos que nada têm. Segundo Lopes (Ibid., p. 13), defendendo um programa
de renda mínima, o autor considera a questão da ruptura com esse processo a partir da
recuperação da república. Percebe a república como a tentativa de conciliar felicidade
universal e liberdades individuais, supõe cidadãos críticos que se reconhecem como
participantes de um país e buscam responder a todos e decidir coletivamente sobre o bem
público.
As dificuldades de viabilização desse Estado são admitidas pelo autor, que leva em
conta as decisões globalizadas, o controle e a influência local dos cidadãos, a ausência de
instituições republicanas, que implica na negação da cidadania e gera incerteza e instabilidade
(LOPES, 2003, p. 13). A ruptura desse processo supõe, para o autor a recuperação da
república. “Nada menos é necessário do que uma instituição republicana em escala
proporcional à escala de operação dos poderes transnacionais” (BAUMAN, 2000, p. 194).
Contrapondo-se à tendência do “comunitarismo”, o autor defende a possibilidade de um
universalismo que, ao invés de negar a diferença, supõe a capacidade de diferentes indivíduos
se comunicarem e se entenderem buscando prosseguir a vida, mesmo que por caminhos
diferentes. Essa seria na sua percepção, a única alternativa para a república opor-se à
globalização.
Considerou-se ainda que a escola pública não pode ser vista e analisada sem que se
discuta a questão do Estado.
11
- Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá – UNIVERSITAS; Universidade Federal de Uberlândia – UFU;
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/BH; Universidade Estadual de Montes Claros –
UNIMONTES; Fundação Educacional de Caratinga – FUNEC.
12
- Esta Coordenação contou com a consultoria do professor Dr. Erasto Fortes Mendonça, da Faculdade de
Educação da Universidade de Brasília, UnB, nas reflexões, sobre a gestão escolar. Na organização e
apresentação do banco de dados, teve a colaboração da professora Jacqueline Furtado Vital, do Departamento de
Estatística desta universidade. Contou ainda com a consultoria do professor Dr. Tufi Machado Soares, que
acompanhou a elaboração do questionário, a definição dos programas e testes estatísticos empregados na analise
dos dados, acabando por incorporar-se ao grupo de pesquisa.
16
(...) não basta o Estado definir um percentual para a aplicação de recursos e zelar para
que esses sejam aplicados de forma eficiente. A formulação de projetos que serão
construídos na relação com a sociedade torna-se fundamental. Qual o papel da escola
na construção da sociedade que se deseja? Esse é o debate que, partindo da sociedade,
terá que invadir a escola.
Essas idéias orientaram a construção das duas versões de um questionário, principal
instrumentos para atingir diretores, especialistas de ensino e professores das escolas
selecionadas (estes últimos denominados na pesquisa como profissionais de ensino). Também
levaram em conta: o modelo burocrático que se encontra vigente na maioria de nossas escolas
e que a tem colocado a serviço da produção capitalista; a racionalidade imposta pelo sistema
produtivo que atinge a escola e penetra no próprio processo pedagógico na busca de
resultados eficientes; a especificidade da prática pedagógica que exige para a escola uma
forma própria de organização e de gestão; a preocupação com a preservação da posição de
professores e alunos, agentes primordiais do processo pedagógico; e o discurso da
democratização e da qualidade de que estão impregnados os projetos de reforma de ensino em
desenvolvimento.
Na organização desses modelos também foram levadas em conta as mudanças
propostas pelas políticas públicas implantadas na rede de escolas estaduais a partir da década
de 80 e, mais especificamente as ações derivadas dos Projetos ProQualidade (1993-1998) e
Escola Sagarana (2000- 2002) que tiveram reflexos na forma de organização dessas escolas.
Foram 379 o total de escolas13 abrangidas pelo estudo, sendo que 325 diretores e
4.940 profissionais de ensino responderam os questionários propostos.
13
- Ficou assim configurada a distribuição das escolas por região: Belo Horizonte 39; Mata 79; Norte 74; Sul
63; Triângulo 39 e Vale do Aço 85.
14
- Os resultados dessa análise que podem ser verificados no Relatório Final da pesquisa (TEIXEIRA, 2003)
deixam de ser aqui apresentados dadas as limitações e os objetivos deste texto.
15
-Na construção desse modelo tornou-se necessário proceder a aproximação de variáveis com níveis diferentes
de mensuração, o que foi feito buscando-se garantir a confiabilidade dos resultados das análises.
18
16
- O cálculo dos valores das médias das dimensões nos grupos classificados e os valores médios e modais das questões importantes em
cada dimensão serviram para confirmar e validar as classificações realizadas.
19
10
% 17
%
predominantemente
gerencial
predominantemente
conservador
13 amplamente
% democrático
democrático dúbio
não classificados
50 10
% %
4. O papel da Secretaria de Estado da Educação precisa ser pensado neste quadro traçado
pela pesquisa. Os diretores se localizam entre o seu grupo e as exigências de seu cotidiano,
ao mesmo tempo em que devem responder às exigências da SEE, sem saberem fazer uma
articulação entre essas duas demandas. E, se não conseguem fazer articulações, mantendo
duas paralelas, a tendência é trabalhar a de maior interesse e cumprir, apenas no âmbito
formal, aquela para a qual não percebem sentido. Nesse caso, muitas
orientações/exigências da SEE, quando não explicitamente combatidas nas escolas,
tenderão a se tornar inócuas.
5. Chama a atenção a pouca participação dos pais nas escolas. Não se trata de discutir a
importância dessa participação, pois toda a comunidade escolar a reconhece. A questão é a
de aproximar esse grupo daquilo que a escola está fazendo. A escola é do diretor e dos
21
professores. Eles comandam as ações e os pais pouco contribuem, porque o espaço exige
um domínio que eles não têm. Pode-se chamá-los, pode-se mostrar a importância deles,
mas a dinâmica criada, na verdade, os afasta.
7. Por fim, a auto-avaliação dos diretores frente aos compromissos assumidos por ocasião
da investidura no cargo revelou a ausência de uma postura crítica dos dirigentes escolares,
que se atribuíram elevados valores em todos os itens, indistintamente. A preocupação com
uma avaliação institucional parece pouco presente entre eles” (TEIXEIRA, 2003, p 113-
116).
Diante dos resultados apurados neste estudo, o grupo de pesquisa concorda com
Vitor Paro (1997, p.9), e considera que a gestão democrática da escola constitui uma utopia,
algo que embora não exista, se apresenta como valor desejável, como alternativa para
solucionar a problemática da unidade escolar. A utopia da democratização da escola é
entendida aí como resultado de um processo que supõe transformar o sistema de autoridade e
a distribuição do trabalho no interior da escola. Isso requer, sem dúvida, levar em conta no
processo de escolha de diretores escolares a necessidade sua competência técnica e política
para realizar a adequada administração dos recursos da escola e responder às demandas da
comunidade. Mas não se pode minimizar o fato de que o problema da escola pública no país
continua sendo a escassez de recursos, um problema político, que não pode ser resolvido com
o emprego de estratégias gerenciais, que perseguem a eficácia e a produtividade, em
detrimento da qualidade social da educação.
A revisão das pesquisas desenvolvidas nos últimos dez anos pelo grupo da UFJF que
tomou a gestão democrática da escola pública como objeto de seus estudos permitiu chegar-se
22
a algumas constatações importantes para continuidade dos trabalhos desse grupo e para os
interessados nessa temática.
Os três estudos se caracterizaram também por irem além das estruturas formais da
instituição escolar, examinando-a numa perspectiva que a coloca como uma organização
social e busca conhecer as relações que se dão entre seus atores, num processo permanente
de construção e reconstrução.
Essa perspectiva, permitiu constatar que há, sem dúvida, um processo de mudanças
no modelo de organização das escolas, que favorece o surgimento de múltiplas e variadas
formas de viabilização dos processos de gestão escolar, onde convivem procedimentos
característicos das tendências conservadora, gerencial e democrática, respaldados por um
23
Cabe ainda assinalar que, numa época de ruptura com as abordagens quantitativas
dos estudos em educação, o grupo ousou propor a utilização de estratégias quantitativas de
coleta e processamento de dados, e, mais ainda, ousou valer-se simultaneamente das duas
abordagens, de modo a ampliar as informações sobre o campo estudado, expandindo as
possibilidades de análises qualitativas do mesmo. As técnicas quantitativas possibilitaram, no
caso do processo de seleção dos diretores, conhecer a opinião de um número maior de
“eleitores” no momento de realização do pleito, confirmando e ampliando a compreensão dos
dados colhidos no universo mais restrito das escolas observadas. No que diz respeito às
tendências da gestão escolar, os procedimentos quantitativos, viabilizaram a abrangência de
um número representativo de escolas estaduais, com um volume de informações que tornou
possível a utilização de procedimentos estatísticos avançados e favoreceu a construção de um
modelo próprio para a classificação dos diretores estudados, a partir da análise e a
interpretação qualitativa dos dados.
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Anexo
Questões Carga**