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ABSTRACT
The objective of this study is to demonstrate that the current penal legislation regarding
abortion does not fit the current situation of brazilian society, violating women's
fundamental rights and producing social problems that are greater than the advantages
of criminalization. The data collected demonstrate that the ability of the law to inhibit
such conduct is questionable, and that as a result of the ban many seek to practice it
illegally and insecurely in clandestine or self-employed clinics, putting their lives at risk.
In addition, the criminal law, while protecting the intrauterine life, which does not have
the same value as a person already born, violates several fundamental rights of
women, such as: sexual and reproductive rights, autonomy, equality, to physical,
psychological and moral integrity. By weighing these rights, in the light of
proportionality and reasonableness, it is possible to perceive a great injustice towards
those who wish to interrupt from pregnancy. Thus, it is proposed to legalize abortion
with the consent of the pregnant woman until the third month of gestation because in
this period the cerebral cortex of the product of conception, responsible for the
development of rationality and feelings, is not yet formed.
1. ABORTO
1.1 Conceito
A legislação penal vigente não traz o conceito de aborto, desse modo, coube à
doutrina e à jurisprudência elucidar esse termo. Ele é definido, segundo Guilherme de
Souza Nucci (2011, p.652), como:
Nesse sentido, Aníbal Bruno (1976, p.160 apud GRECO, 2015, p.232)
complementa:
1.2 Histórico
Embora consista uma conduta criminosa atualmente, o aborto foi, por muito
tempo, considerado uma prática comum desde que não prejudicasse à saúde ou fosse
a causa determinante da morte da gestante. Assim, Nélson Hungria (1979, p.269)
ensina:
1.4 Consequências
2. CRIME DE ABORTO
Se a vida, para fins de proteção pelo tipo penal que prevê o delito de
aborto, tem início a partir da nidação, o termo ad quem para essa específica
proteção se encerra com o início do parto. Portanto, o início do parto faz com
que seja encerrada a possibilidade de realização do aborto, passando a morte
do nascente a ser considerada homicídio ou infanticídio, dependendo do caso
concreto.
Dessa forma, infere-se que essa prática está expressamente vedada em face
da legislação penal, independentemente de haver o consentimento da grávida.
Na infração penal prevista pelo artigo 124 do CP, o sujeito ativo, ou seja, aquele
que pratica o núcleo do tipo, somente poderá ser a gestante, trata-se de um crime de
mão própria, que é aquele que só pode ser cometido pelo autor direto da ação. Já nos
dispositivos 125 e 126 do Código Penal, entende-se que qualquer pessoa poderá ser
o sujeito ativo, pois o tipo penal não exige qualidade especial alguma, sendo assim,
delito comum. Compartilha desse entendimento Rogério Greco (2015, p.238):
Assim, Cleber Masson (2011, p.84) conclui o assunto afirmando ser cabível o
aborto quando “provada a impossibilidade de natural vida extrauterina, por ser
inevitável a morte com o desligamento de aparelhos médicos ou com a libertação do
ventre matemo”.
Portanto, embora o aborto eugênico seja proibido pela legislação penal, é
consenso jurisprudencial e doutrinário que esse procedimento é permitido no
ordenamento jurídico pátrio em casos de feto anencéfalo, constituindo, dessa
maneira, uma causa de exclusão de ilicitude.
É inegável que, apesar de ser considerado crime na maioria dos casos, o aborto
é amplamente realizado em clínicas clandestinas. De acordo com a Organização
Mundial de Saúde estima-se que 47 mil mulheres morram todos os anos no mundo
em decorrência de complicações relacionadas a abortos clandestinos (PREVIDELLI,
2016).
No Brasil, o Ministério da Saúde registrou que, ano passado, esse número foi
de 4 mortes diárias (FORMENTI, 2016). São dados que preocupam e, por isso,
demonstram ser questionável a eficácia da atual legislação em inibir a prática da
conduta.
É mister ressaltar que a população mais carente acaba sendo a grande
prejudicada pela lei, pois, por não possuírem condições financeiras suficientes,
recorrem às clínicas clandestinas que muitas vezes não possuem infraestrutura
adequada nem profissionais devidamente preparados para o procedimento. Dessa
forma, identifica-se o aborto como um dos grandes problemas da saúde pública. Nesse
sentido, Eugênio Raul Zaffaroni (2001, p.35 apud SANTOS, 2017) assevera:
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Luiza Nagib Eluf (1993, p.3 apud
FREITAS; MESQUITA, 2016) assevera:
Esses direitos da mulher vão de encontro com o direito à vida do feto, o qual
não é possível atribuir o mesmo valor que se dá a vida de uma pessoa já nascida.
Comparando-se as penas atribuídas aos crimes de homicídio, seis a vinte anos de
reclusão (art. 121 do Código Penal), e aborto praticado pela gestante, um a três anos
de detenção (art.124, CP), é possível concluir que o próprio ordenamento jurídico
considera ser a vida de uma pessoa já nascida mais valiosa do que a vida intrauterina.
Compartilha desse entendimento Daniel Sarmento (2005, p.30):
As leis que proíbem o aborto, ou que o tornam mais difícil e caro para
as mulheres que desejam fazê-lo, privam as mulheres grávidas de uma
liberdade ou oportunidade que é crucial para muitas delas. Uma mulher
forçada a ter uma criança que não deseja porque não pode fazer um aborto
seguro pouco depois de ter engravidado não é dona de seu próprio corpo,
pois a lei lhe impõe uma espécie de escravidão. Além do mais, isso é só o
começo. Para muitas mulheres, ter filhos indesejados significa a destruição
de suas próprias vidas, porque elas próprias não deixaram ainda de ser
crianças, porque não mais poderão trabalhar, estudar ou viver de acordo com
o que consideram importante, ou porque não tem condições financeiras de
manter os filhos. A adoção, mesmo quando possível, não põe fim a esses
prejuízos, pois muitas mulheres passariam por um grande sofrimento
emocional durante muitos anos se entregassem um filho para que outras
pessoas o criassem e amassem. (Uma das mulheres entrevistadas por Carol
Gilligan no estudo sobre o aborto que descrevi no capítulo 2 deste livro - uma
enfermeira católica - já havia entregado um filho para adoção e não se sentia
em condições de voltar a fazê-lo, mesmo que a alternativa fosse o aborto.
"Psicologicamente", disse ela, "eu não poderia suportar outra adoção.
Precisei de quatro anos e meio para superar o trauma da primeira.
Simplesmente me recusaria a passar por isso de novo".).
Além disso, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Data Popular, existem
no Brasil, mais de vinte milhões de mães solteiras (MELLO, 2015) e, em vários casos,
a mulher acaba tendo que cuidar do bebê praticamente sozinha, sem nenhum tipo de
ajuda do pai da criança, sendo imposto a ela esse ônus porque a lei a privou do direito
de escolha, deixando de aproveitar oportunidades cruciais em sua vida.
Outro dado preocupante, de como uma gravidez indesejada pode ter um
grande impacto negativo, foi apontado pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) que constatou a grande evasão escolar de adolescentes com, pelo
menos, um filho. De acordo com a Pnad, em 2013, de 414.105 meninas entre quinze
a dezessete anos que já eram mães, somente 104.731 estudavam, ou seja,
aproximadamente 75% não frequentavam uma instituição de ensino (GONÇALVES;
MORENO, 2015)
Sabe-se que a Constituição Federal possui vários dispositivos que buscam
ajudar as mulheres que passam por essas situações, porém é indubitável que o
Estado não dispõe de condições suficientes para garantir uma vida com o mínimo de
dignidade tanto para a mãe quanto para o recém-nascido.
Então, apesar de se garantir o direito à vida do filho, pelo fato de já ter sido
indesejado muito antes de nascer, aumentam-se as chances de que ele não tenha
uma vida digna, não sendo tratado com o amor e carinho devidos, tendo
desrespeitados seus direitos à alimentação, saúde, liberdade, educação, convivência
familiar, entre outros. Nesse sentido, Maria Berenice Dias (2010, p.2-3) diz:
Destarte, verifica-se que a lei vigente não deveria ignorar as condições em que
a mulher vive, suas aspirações, desejos, respeitando, assim, sua decisão, pois é
inimaginável que ela colocaria a própria vida em risco por um motivo banal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 15ª ed. rev. ampl. atual.
São Paulo: Saraiva, 2015
______. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus 124.306 RJ. Relator Min. Marco
Aurélio, Data de Julgamento: 29/11/2016. Data de Publicação: 29/11/2016.
CAPEZ, Fernando. Direito penal: parte especial, volume 2, parte especial : dos
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CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao
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GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. 12.ed. Niterói: Impetus,
2015.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: volume 2: parte especial
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