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história
Breast milk substitutes and its long history
*Nutricionista. Mestranda em Engenharia e Ciência de
Alimentos
Universidade Federal do Rio Grande, FURG, Rio
Grande, RS Gisele Medianeira Barbieri
**Nutricionista. Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Moro*
Alimentos Marizete Oliveira de Mesquita**
Universidade Federal de Santa Maria, UFSM giselebarbieri_@hotmail.com
Docente do Curso de Nutrição, Área de Ciências da (Brasil)
Saúde
Centro Universitário Franciscano, Unifra, Santa Maria,
RS
Resumo
Mesmo que o leite materno apresente composição adaptada às condições fisiológicas do
lactente nos primeiros meses de vida há inúmeras situações em que a inclusão de algum
substituto deste se faz necessário. Este estudo teve como objetivo descrever e analisar os
substitutos do leite materno utilizado ao longo da história na alimentação infantil. Foi baseado
na pesquisa de textos publicados no período de 1981 até os dias atuais, que retratam a história
do leite materno e seus substitutos desde a época mitológica até o século XXI. Os problemas
relacionados à amamentação no contexto da alimentação infantil são muito antigos. Muitas
crianças recebiam leite animal, alimentos pré-mastigados ou papas pobres em nutrientes e
contaminadas. Com a Revolução Industrial, motivou-se a busca de alternativas para nutrir os
lactentes. As fórmulas infantis constituem-se na melhor alternativa láctea para a substituição do
leite materno na alimentação no primeiro ano de vida, em lactentes impossibilitados de serem
amamentados.
Unitermos: Alimentação do lactente. Leite de vaca. Fórmulas para lactentes.
Abstract
Even if the present composition of breast milk adapted to physiological conditions of infants
during their first months of life there are countless situations in which the inclusion of some
substitute that is necessary. This study aims to describe and analyze the breast-milk substitutes
used throughout history in infant feeding. Was based on research articles published from 1981
to the present day, depicting the history of milk and is substitutes from mythological times to the
twenty-first century. The problems related to breastfeeding in the context of infant feeding are
very old. Many children received animal milk, pre-chewed food or popes nutrient-poor and
contaminated. The Industrial Revolution led to the search for alternatives to nursing infants.
Infant formula is in the best milk alternative for the replacement of breast milk feeding in the first
year of life in infants unable to be breastfed.
Keywords: Infant feeding. Cow’s milk. Infant formulas.
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 153, Febrero de 2011.
http://www.efdeportes.com/
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Introdução
O leite materno representa a melhor fonte de nutrientes para o lactente por conter proporções
adequadas de carboidratos, lipídios e proteínas necessárias para o seu crescimento e
desenvolvimento, além disso, proporciona benefícios imunológicos e psicossociais (VITOLO,
2003). Apesar do reconhecimento de que o aleitamento materno, na nutrição do lactente, é
fator redutor da morbimortalidade infantil e uma questão de sobrevivência para a maioria das
crianças, principalmente nos países em desenvolvimento, o desmame precoce ainda é uma
realidade no Brasil (BRASIL, 2002).
Pesquisas populacionais mostraram que a duração mediana do aleitamento materno aumentou
de 2,5 para 5,5 meses entre os anos de 1975 e 1989 (VENÂNCIO; MONTEIRO, 1998). Em
1992, a duração mediana foi de 4,5 meses (LEÃO et al., 1992 apud SIMON et al., 2009) e em
1996 foi de 7 meses (VENÂNCIO et al., 2002).
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009) a prevalência do aleitamento materno
exclusivo em menores de 6 meses foi de 41% no conjunto das capitais brasileiras, sendo que a
região Norte apresentou maior prevalência (45,9%), seguida da Centro-Oeste (45,0%), Sul
(43,9%) e Sudeste (39,4%), com a região Nordeste apresentando a pior situação (37,0%).
O consumo precoce de alimentos complementares, principalmente do Leite de Vaca Integral
(LVI), tem provocado a interrupção do aleitamento materno (WEFFORT, 2006). Este leite não
supre as necessidades nutricionais do lactente que está com elevada velocidade de
crescimento e apresenta sistema digestório imaturo, tornando-o mais vulnerável tanto à
desnutrição quanto ao consumo excessivo de certos nutrientes. Contudo, o leite de vaca,
apesar de não ser a melhor escolha do ponto de vista nutricional, é a fonte mais utilizada para
crianças menores de um ano de idade como substituto do leite materno (VIEIRA; GURMINI,
200_).
A diferente composição do leite humano e do LVI e suas implicações nutricionais, além das
condições fisiológicas do lactente no primeiro ano de vida, têm estimulado o desenvolvimento
de fórmulas infantis visando um melhor ajuste na oferta de nutrientes em relação às
necessidades reais das crianças, assim como o estabelecimento de parâmetros de eficácia e
segurança nas suas composições e características, a fim de tornarem-se opções mais
adequadas e eficientes. Visto ocorrerem situações em que é necessária a complementação do
leite materno ou a substituição por outro tipo de leite, justifica-se a relevância do presente
estudo cujo objetivo foi descrever e analisar os substitutos do leite materno utilizado ao longo
da história na alimentação infantil, analisando suas principais características nutricionais.
Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica. A amostra constou de textos, publicados no
período de 1981 até os dias atuais, que retratam a história da amamentação desde a época
mitológica até o século XXI. A busca foi realizada em livros, artigos de revistas científicas,
dissertações e artigos extraídos via Internet, tendo como fonte as bases BIREME (Biblioteca
Virtual em Saúde) e SCIELO (Scientific Eletronic Library Online). Foram incluídos para análise,
textos que contivessem dados históricos, sociais e culturais relacionados ao leite materno e
seus substitutos.
História da alimentação do lactente
Evidências epidemiológicas têm reafirmado a importância do aleitamento materno para a saúde
infantil (PASSOS et al., 2000) na redução de morbimortalidade, doenças infecciosas e doenças
crônico-degenerativas na idade adulta (CARLETTI, 2003). O leite materno é o alimento
adequado para as crianças nos primeiros meses de vida (BRASIL, 2002), tanto do ponto de
vista nutritivo e imunológico quanto no aspecto psicológico, além de favorecer o vínculo mãe-
filho (VITOLO, 2003).
Os problemas relacionados à amamentação no contexto da alimentação infantil são muito
antigos. Tal fato se evidencia pelos registros de recipientes encontrados ao lado de corpos de
lactentes em escavações arqueológicas, durante os séculos V e VII, sugerindo que os gregos
recebiam alimentos de outras fontes além do leite materno, por meio de vasilhas de barro
encontradas em tumbas de recém-nascidos naquela época. Esses achados possibilitam
afirmar que a substituição do aleitamento materno por outras formas de alimentação constitui
uma prática muito antiga (BOSI; MACHADO, 2005).
Os primeiros textos romanos que descrevem os cuidados com crianças foram escritos por
Sorano e Galeno, médicos gregos que clinicaram em Roma no início era cristã (MAGNER,
2005). No quadro 1 têm-se as orientações alimentares para lactentes de acordo com Sorano e
Galeno.
Quadro 1. Prescrições alimentares para lactentes segundo Sorano e Galeno (MAGNER,
2005).
Sorano Galeno
Prescrição (aproximadamente (aproximadamente
70-130 d.C.) 130-200 d.C.)
1º alimento Mel + leite de vaca Mel
Início aleitamento 2º dia ama, 20º dia mãe
Aleitamento (mãe ou
Mãe, ama (só se necessário) Mãe
ama)
Técnica Desprezar colostro
Quantidade Frequente
Introdução de alimento A partir do 40º dia; preferencialmente após 6 meses Após 1º dente
Cereal, pão + leite ou vinho, mingau, ovo; pré-mascado Pão, vegetais, carne,
Alimento complementar
não leite
Vinho Diluído Contraindicado
Desmame 18-24 meses, gradual 3 anos
Fonte: Adaptado de Fildes (1986).
Com relação ao Brasil, pelo menos até o ano de 1500 o regime alimentar dos lactentes
indígenas resumia-se ao aleitamento direto ao seio durante a fase de colo. O desmame
precoce limitava-se a situações de morte materna ou doença grave da mãe. Com a chegada
dos portugueses, foi transmitido o hábito das mães ricas não amamentarem seus filhos. Surgiu
assim a necessidade das amas-de-leite, inicialmente as próprias índias e mais tarde
substituídas pelas escravas africanas (CARDOSO; LIPINSKI; SCHNEIDER, 2005).
De 1500 a 1700, as mulheres inglesas saudáveis não amamentavam seus filhos, pois
acreditavam que a amamentação espoliava seus corpos e tornavam-nas velhas antes do
tempo. Com isso, o desmame era iniciado precocemente, sendo utilizados em substituição leite
com mel ou cereais, alimentos pré-mascados (FILDES, 1986) ou massas oferecidas em colher
(LAWRENCE, 1994). A alimentação dos lactentes era, ainda, à base de leite de animais e de
um alimento chamado “panado”, feito à base de farinha e água. Além disso, as regras médicas
indiretamente também induziam ao desmame, pois a relação sexual era proibida durante o
período de amamentação, a partir do entendimento que isso tornaria o leite humano mais fraco.
Alguns profissionais da saúde consideravam que o colostro era um leite inadequado e que não
deveria ser oferecido à criança (BOSI; MACHADO, 2005).
Há registros que as receitas preparadas incluíam um ingrediente líquido (podendo ser leite,
cerveja, vinho, caldo de legumes ou carne, água), um cereal (arroz, farinha de trigo ou milho,
pão) e aditivos (açúcar, mel, temperos, ovos, carne). Até o século XVI, o valor nutritivo das
papas era razoável, sendo notável apenas a deficiência de vitamina C devida ao baixo
consumo de frutas e vegetais (FILDES, 1986).
A partir do século XVII, houve uma piora no teor nutricional dessas papas, com importante
impacto na saúde das crianças, pois o leite animal e o caldo de carne foram gradativamente
substituídos pela água. Ingredientes, como ovos, gemas, manteiga e gordura, fontes de
vitaminas A e D, proteínas, cálcio e ferro, também deixaram de fazer parte das receitas. Como
consequência, as crianças passaram a apresentar raquitismo, cálculos renais e escorbuto
(FILDES, 1986).
Durante o século XVIII, as crianças eram enviadas para as casas de amas-de-leite para serem
amamentadas. Ocorreu nesse período, um aumento da mortalidade infantil, associada às
doenças adquiridas por estas mulheres. Suas enfermidades contaminavam as crianças e
muitas dessas amas-de-leite, passaram a oferecer o leite de vaca em pequenos chifres
furados, antecessor às mamadeiras, pois se acreditava que sugando o leite, sugava-se
também o caráter de quem os amamentava. No entanto, esse procedimento passaria a
acarretar importantes riscos à saúde infantil, pois além de oferecer em um recipiente não
estéril, as mulheres desconheciam a quantidade exata de água que deveria ser misturada ao
leite, sem considerar o risco de contaminação da água (BADINTER, 1985). A contaminação
desses utensílios e alimentos, fez aumentar a incidência de tuberculose, brucelose e infecções
gastrintestinais (FILDES, 1986).
Entre os séculos XVII e XVIII, a sociedade brasileira admitia como fato comum a morte de
crianças, sendo que 20 a 30% morriam antes de completar o primeiro ano de vida (BOSI;
MACHADO, 2005; PRIORE, 2000). Os pais aceitavam a morte como a crença da
transformação de crianças em anjos, o que contribuía para que as famílias suportassem a dor
da perda e a considerassem como uma benção do céu (PRIORE, 1997).
A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, passou a influenciar a
alimentação infantil à medida que as mulheres do campo, que amamentavam seus filhos e os
filhos das classes mais privilegiadas, se transferiram para as cidades. Nesse período ainda não
se conhecia um método para a conservação do leite, e outros alimentos passaram a ser
introduzidos cada vez mais cedo e com maior frequência, contribuindo para o desmame
precoce. Os índices de mortalidade aumentaram e o Estado começou a investir em soluções
para diminuir as altas taxas de mortalidade infantil (FILDES, 1986).
O sistema de amas-de-leite prosperou até fins do século XIX. Depois disso, o aleitamento
artificial, sob forma de mamadeira com leite de vaca, possibilitado pelo processo de
esterilização, viria a substituir o modo de amamentação utilizada (PRIORE, 2000).
Na metade do século XIX, pesquisas orientadas por médicos buscavam um substituto para o
leite materno a ser utilizado durante o período de desmame. Dentre as alternativas estava leite
de vaca, adicionado de açúcar e água; e adição de creme e água limonada para alterar o pH,
favorecendo uma melhor digestão do leite pelo trato intestinal (LAWRENCE, 1994).
Com essas “descobertas” orientadas pelos interesses da indústria de alimentos, os substitutos
do leite materno foram supervalorizados, ressaltando-se a equivalência nutricional do produto,
a facilidade de uso, portanto os profissionais de saúde acreditavam estar proporcionando uma
melhor nutrição para as crianças, ocorrendo uma diminuição na prática do aleitamento
materno. Os médicos aderiram às novas alternativas, prescrevendo-as como benéficas para a
alimentação infantil. As recomendações para a utilização de fórmulas infantis na dieta da
criança foram associadas aos pediatras, que passaram a desempenhar um papel decisivo
como influenciadores de um novo movimento na sociedade: a “cultura da mamadeira”. A partir
de 1922 observa-se uma crescente veiculação de propagandas dessas fórmulas (BOSI;
MACHADO, 2005; LABBOK, 2007).
Na década de 70 surgiu o “desmame comercial”, em que os profissionais de saúde aderiram ao
marketing dos substitutos do leite materno, partindo da idéia de que o leite materno deveria ser
complementado com fórmulas industrializadas. Os médicos passaram a prescrevê-los
indiscriminadamente às mães, como uma forma prática e viável para seus filhos, pois
asseguravam como um produto confiável (CARDOSO; LIPINSKI; SCHNEIDER, 2005).
A preocupação em retomar a prática da amamentação ressurgiu apenas entre décadas de 70 e
90, frente à alta incidência de mortalidade infantil, à desnutrição e às baixas taxas de
aleitamento materno exclusivo (MONTEIRO, 2006). Desta forma, foram criados programas de
incentivo, promoção e proteção à amamentação (CARDOSO; LIPINSKI; SCHNEIDER, 2005).
Substitutos do leite materno
Em situações como alguns erros inatos do metabolismo, filhos de mães portadoras do Vírus da
Imunodeficiência Adquirida (HIV), mães usuárias de drogas, lactente menor de seis meses com
crescimento e desenvolvimento inadequado e mães que necessitam retornar precocemente ao
trabalho, é necessária a complementação do leite materno ou a substituição por outro tipo de
leite (WEFFORT, 2006).
Como as composições do leite humano, do leite de vaca integral e das fórmulas infantis
diferem bastante, a escolha do alimento a ser fornecido aos lactentes impossibilitados de
serem amamentados, gera impacto nutricional de grande importância e também uma análise
do melhor substituto do leite materno (WEFFORT, 200_).
O Quadro 2 mostra uma comparação entre as composições do leite humano, do leite de vaca e
das fórmulas infantis.
Quadro 2. Comparação entre as composições do leite humano, do leite de vaca e das fórmulas
infantis
Proteínas