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Santa Maria, RS
2016
Érica Rodrigues Dutra
Santa Maria, RS
2016
Érica Rodrigues Dutra
_____________________________________
Larissa Nunes Cavalheiro, Ma. (UFSM)
(Presidente/Orientadora)
_____________________________________
Ulysses Fonseca Louzada, Me. (UFSM)
_____________________________________
Fernando Hoffmam, Me. (URI)
Santa Maria, RS
2016
AGRADECIMENTOS
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 RESSOCIALIZAÇÃO NO CONTEXTO DO DIREITO PENAL ............................... 11
1.1 BREVE HISTÓRICO PENAL ....................................................................... 11
1.2 PRINCÍPIOS E GARANTIAS PENAIS NA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA . 17
1.2.1 Individualização da Pena .................................................................... 17
1.2.2 Vedação de penas cruéis .................................................................... 20
1.2.3 Estabelecimentos Prisionais Adequados .......................................... 21
1.2.4 Integridade Física e Moral ................................................................... 22
1.2.5 Progressão de Regime ........................................................................ 25
1.3 DIREITOS DOS PRESOS ............................................................................ 26
2 A CRISE CARCERÁRIA NO RIO GRANDE DO SUL ........................................... 31
2.1 LIMITES E POSSIBILIDADES PARA A RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO32
2.2 JURISPRUDÊNCIA ENQUANTO INDICATIVO DA CRISE PRISIONAL ......... 41
2.2.1 Superlotação e progressão de regime .................................................. 41
2.2.2 Integridade Física e Moral ...................................................................... 43
2.2.3 Individualização da Pena ........................................................................ 45
2.2.4 Penas cruéis ............................................................................................ 47
2.2.5 Assistência à Saúde................................................................................ 49
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 53
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
8
INTRODUÇÃO
Faz-se presente, também, uma análise acerca da maneira com que o Tribunal
de Justiça do Estado interpreta a análise da conduta dentro dos estabelecimentos
prisionais, se compatíveis ou não com a finalidade de reinserção do detento na
sociedade pós sanção.
Assim, importante ressaltar que o presente trabalho serve para possíveis
discussões sobre que medidas devam ser tomadas para o desenlace deste problema
tão presente no Estado do Rio Grande do Sul, a crise carcerária. Questiona-se se
políticas públicas referentes à reinserção dos presos na sociedade, pós cumprida sua
sanção, possam fazer com que a execução penal seja devidamente cumprida.
11
A estrutura carcerária brasileira passa por notória crise em relação à sua parca
tentativa de reabilitar ou ressocializar os detentos que cumprem suas penas nos
estabelecimentos prisionais. A necessidade de se construir presídios cada vez
maiores para abrigar um número crescente de criminosos denota o aumento da
criminalidade perante à sociedade.
Nesse contexto, observa-se um alto nível de reincidência entre estes
indivíduos, o que por si só demonstra que a volta ao crime é algo frequente, já que
programas de ressocialização do preso praticamente não existem. Apesar da
legislação penal vigente tratar como direito do preso sua volta à sociedade reabilitado,
não é o que a realidade demonstra.
Atualmente, a pena é vista pelos operadores do Direito como recuperadora e
educativa, embora se saiba que nas condições reais do sistema prisional nacional,
tais funções não passam de falácias.
Cumpre salientar que a Lei nº 7.210/84, que institui a Execução Penal (LEP),
considerada como uma das mais avançadas do mundo, reconhece e prevê a
ressocialização do preso como um de seus direitos. A questão está em verificar onde
este sistema falha para que esta reinserção possa ser efetivada por completo.
Para tanto, o primeiro momento deste trabalho delineia uma breve retrospectiva
histórica da pena e a emergência de sua função ressocializadora, enquanto finalidade
norteada por princípios garantidores desta finalidade. Neste sentido, delineia-se não
a história do nascimento e extinção da prisão, e sim de sua reestruturação, e a busca
para torna-la cada vez mais humanitária, podendo assim servir de instrumento
ressocializador. Tal contexto aponta para o não atendimento de importantes princípios
constitucionais penais, quais sejam: a individualização da pena; a vedação de penas
cruéis; os estabelecimentos prisionais adequados; a integridade física e moral do
apenado e a progressão de regime. Assim, destacam-se tais princípios em sua
substancialidade jurídica de garantia da ressocialização do apenado. Além deste
contexto, destacam-se os direitos dos presos elencados na legislação penal, uma vez
que atendidos reforçam a pretensão ressocializadora do sistema prisional.
1
FOCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42ª ed. Petrópolis: Vozes, 2014, p.21.
2 JESUS, Damásio de. Direito penal, volume 1: parte geral, 35ª edição. Saraiva, 12/2013. VitalSource
Bookshelf Online, p.66.
3 Projeto Alternativo Alemão, de 1966.
4 BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 4.
13
5
NETO GOMES, Pedro Rates. A prisão e o sistema penitenciário: uma visão histórica. Canoas:
Ulbra, 2000. P. 23.
6 NETTO FIORINI, Santos. Direito Penal Parte Geral. Pará de Minas: VirtualBooks, 2013. P. 29.
7
RÖHNELT, Ladislau Fernando. Apontamentos de Direito Penal. Porto Alegre: Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul, 2011, p.173.
14
10 BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p.43.
11 RÖHNELT, Ladislau Fernando. Apontamentos de Direito Penal. Porto Alegre: Tribunal de Justiça
do Estado do Rio Grande do Sul, 2011, p.181.
12 Idem, p. 181.
16
que se pode afirmar, sem exagero, que a prisão está em crise. Essa crise
abrange também o objetivo ressocializador da pena privativa de liberdade,
visto que grande parte das críticas e questionamentos que se faz à prisão
refere-se à impossibilidade – absoluta ou relativa – de obter algum efeito
positivo sobre o apenado.13
Desta maneira, o autor afirma que o tratamento dos condenados a uma pena
privativa de liberdade deve incentivar o indivíduo a buscar seu senso de
responsabilidade e os incentivar a desenvolver respeito por si mesmos. Participar
construtivamente da comunhão social pressupõe se reinserir no meio do qual vieram,
possibilitando a construção de uma vida melhor com o produto do seu trabalho.
A referida Lei, ao declarar em seu artigo 10 que “a assistência ao preso e ao
internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à
convivência em sociedade”, demonstra que o sistema não se compromete com a
recuperação social do infrator, pois na medida em que o indivíduo volta a delinquir e
retorna ao cárcere, o sistema não cumpriu seu papel ressocializador. Somente é
13
BITENCOURT, Cezar Roberto. Falência da Pena de Prisão: causas e alternativas. São Paulo:
Saraiva, 2004, p. 154.
14 BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em: <
p. 28.
17
se existentes. Assim, permite-se que cada réu receba a justa punição pela infração
cometida.
Ocorre que este processo depende da discricionariedade judicial, embora
devidamente fundamentada, não significando somente a escolha do quantum a ser
aplicado. Inclui-se ainda a escolha do regime da pena23, a eventual substituição das
penas privativas de liberdade por restritivas de direito24 ou multas25, ou até mesmo a
suspensão condicional da pena26.
Segundo Nucci, há quatro formas de individualizar a pena corretamente:
Essencial para o devido retorno do apenado à sociedade que este princípio seja
devidamente seguido. Individualizar sua pena permitirá, não só que cumpra sanção
devidamente proporcional ao crime que cometeu, como fará com que o indivíduo sinta
que não foi padronizado pelo Estado, que possui suas próprias características,
interesses e necessidades particulares.
A individualização da pena divide-se em três etapas: legislativa, judiciária e
executória. Na primeira etapa, é função do legislador, ao elaborar o tipo penal,
estabelecer as penas necessárias para a reprovação e prevenção do crime. Na fase
judiciária, após a prática da infração penal, cabe ao juiz individualizar o quantum desta
pena caberá ao caso concreto do condenado. Por fim, na etapa executória, determina-
23 Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de
detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
24 Art. 43. As penas restritivas de direitos são: I - prestação pecuniária; II - perda de bens e valores; III
Bookshelf Online.
20
28 JESUS, Damásio de. Direito penal, volume 1: parte geral, 35ª edição.. Saraiva, 12/2013.
VitalSource Bookshelf Online. P. 53.
21
Isto posto, nota-se a total discrepância entre o que preceitua a lei, e sua
aplicação, resultando em diversas violações aos direitos dos presos. Não só nos
presídios, mas nos locais de cumprimento de medidas socioeducativas ou de
segurança esta realidade também se perpetua.
Não se pode esperar que com esta realidade o apenado volte ao convívio social
totalmente reestruturado e ressocializado. Não cabe ao Estado modificar internamente
alguém, devendo sua intervenção ser a menos violadora possível, adotando o
princípio da vedação das penas cruéis não como uma sanção agradável e tranquila,
mas sim racional.
artigo 88, estabelece que o cumprimento da pena se dê em cela individual com área
mínima de seis metros quadrados. Prevê também, no artigo 85, que deva haver
compatibilidade entre a estrutura física do presídio e sua capacidade de lotação.
Ocorre que isto não é visto no cenário brasileiro, uma vez que a maioria dos institutos
se encontra superlotado, violando normas e princípios constitucionais, contexto que
será destacado no segundo momento deste trabalho, enquanto um dos óbices para a
ressocialização do apenado.
Torna-se extremamente difícil abordar a reinserção dos presos ao convívio da
coletividade, quando nem ao menos o sistema oferece condições para que seja
cumprido o estabelecido na legislação penal: “Art. 83. O estabelecimento penal,
conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com áreas e serviços
destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática esportiva”30.
Há também previsão de assistência médica, higiene e alimentação adequadas
ao apenado31. Assim, o preso ou internado deverá ter instalações higiênicas,
atendimento médico, farmacêutico e odontológico dentro do presídio. Entretanto, há
elevado número de indivíduos enfermos, muitas vezes devido à falta de higiene do
local, ou pela proliferação de doenças em razão da falta de atendimento médico.
Evidente que o tratamento dos presos influencia na sua ressocialização,
necessitando que seus direitos, tanto previstos na Constituição, quanto na Lei de
Execuções Penais, sejam mantidos e assegurados. Cabe ao Estado reconstituir o
sistema prisional, para que o local de cumprimento da pena seja adequado a todos
que ali estejam.
30 BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm> Acesso em: 05 out. 2016.
31 Artigos 12 e 14 da Lei de Execuções Penais.
32 Ministério da Justiça e Cidadania Governo Federal. População carcerária brasileira chega a mais
população carcerária do mundo, contando com mais de 622 mil pessoas, atrás apenas
de Estados Unidos, China e Rússia.
Ocorre que a construção de novos complexos penitenciários não acompanhou
a crescente demanda. O Estado possui o dever de proteger seus tutelados em órgãos
públicos, principalmente de seus agentes. Conforme Rogério Greco:
A pena é um mal necessário. Mas o Estado, quando faz valer o seu ius
puniendi, deve preservar as condições mínimas de dignidade da pessoa
humana. O erro cometido pelo cidadão ao praticar um delito não permite que
o Estado cometa outro, muito mais grave, de tratá-lo como um animal33
O fato é que a sujeição dos presos às condições até aqui descritas mostra,
com clareza meridiana, que o Estado os está sujeitando a uma pena que
ultrapassa a mera privação da liberdade prevista na sentença, porquanto
acresce a ela um sofrimento físico, psicológico e moral, o qual, além de
atentar contra toda a noção que se possa ter de respeito à dignidade humana,
retira da sanção qualquer potencial de ressocialização.
33 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Impetus, 2005. p 577
34 Art. 5º, XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.
35 Art. 38 - O preso conserva todos os direitos não atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a
Assim, nota-se que mais uma vez é tentando estabelecer princípios e regras
de uma boa organização penitenciária e da prática relativa ao tratamento dos
detentos. Espera-se que tenham aplicação imparcial, sem discriminações, para que
sejam observados os direitos humanos fundamentais de tais indivíduos.
reincidência criminal. Prevista pelo artigo 112 da LEP e artigo 33, §2º do Código Penal,
consiste na transferência do detento de um regime mais gravoso para um de menor
severidade.
Autorizado apenas pelo juiz da Vara de Execuções Criminais, se dará quando
o preso tiver cumprido ao menos um sexto da pena em regime anterior e ostentar bom
comportamento, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. A decisão
deverá ser motivada e precedida de manifestação do defensor do indivíduo, e de
membro do Ministério Público.
Para os crimes hediondos, previstos na Lei 8.072/90, art. 1º, a progressão se
dá após o cumprimento de dois quintos da pena, se o condenado é primário, e três
quintos se é reincidente. Além disso, nos crimes contra a administração pública faz-
se necessário reparar o dano, salvo impossibilidade realiza-lo.
Assim, o detento que inicia seu cumprimento de pena em regime fechado,
passando o dia todo na unidade prisional, pode progredir para o regime semiaberto,
com autorização para o trabalho externo durante o dia, e o dever de passar a noite na
prisão. É prevista também a possibilidade do apenado do regime semiaberto progredir
para o aberto, com os mesmos requisitos temporais e comportamentais, podendo o
indivíduo ficar na casa do albergado ou em sua residência à noite.
Portanto, a progressão de regime representou um avanço na humanização das
práticas punitivas, apresentando aos condenados um senso de autodisciplina e
responsabilidade para sua consequente ressocialização.
40 BRASIL. Lei 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm> Acesso em: 19 out. 2016
28
41MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal: comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-1984. 11ª ed. São
Paulo: Atlas, 2004 p.122
29
todos; social, contando com pelo menos uma assistente social no local para atender
as exigências; e religiosa, oportunizando a cada um a liberdade de culto, local
apropriado para cerimônias religiosas e posse de livros da mesma natureza.
Quanto ao excessivo sensacionalismo que marca a atividade dos meios de
comunicação, principalmente em relação ao sistema prisional decadente do Brasil, o
detento também deve ser protegido. Não poderá ele ser constrangido a atos de
divulgação nas mídias, pois produz efeitos nocivos, e retira seu anonimato,
dificultando sua reinserção social posterior42.
Como fundamento também na Constituição Federal (artigo 5º, inciso LV), a
ampla defesa é prevista no inciso em que deverá o preso ter direito a entrevista
pessoal e reservada com seu advogado. Dessa forma, mesmo sem procuração,
poderá o advogado conversar com seu cliente recolhido, ainda que incomunicável.
Está reservado também o direito de receber visitas de cônjuges, companheiros
(as), parentes e amigos (as) em dias determinados, submetidos a revista pessoal para
não adentrarem ao estabelecimento com objetos não permitidos. Em 18/04/2016, foi
aprovada a Lei 13.271/2016, que consiste em proibir a revista íntima em mulheres
dentro de empresas públicas ou privadas, incluindo presídios, para que seja
preservada a dignidade e intimidade pessoal.
Proibida a forma de tratamento ao detento que não seja nominal, como
alcunhas e números, pois deve ser tratado como uma pessoa com direitos, e não
como coisas. Assim como a igualdade de tratamento, não podendo haver
discriminações raciais, políticas, de opinião, sociais ou religiosas, vedando-se
qualquer limitação.
Conforme Mirabete, igualmente “deve ser permitido que o preso entre em
contato direto com o diretor da prisão em qualquer dia da semana para qualquer
reclamação ou comunicação, afastando o abuso de poder dos guardas carcerários”43.
Pode o preso acessar autoridades judiciárias ou outras competentes para o
encaminhamento de pretensões, assim como certidões, e reclamações, de acordo
com a via prevista legalmente.
Como todo indivíduo, o detento, da mesma forma, possui direito à liberdade de
informação e expressão, estando informado dos acontecimentos exteriores. Esta
42Idem. p. 123.
43MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal: comentários à Lei nº 7.210, de 11-7-1984. 11ª ed. São
Paulo: Atlas, 2004. p. 127
30
poderá ser feita por meio de correspondência, televisão, rádios, jornais, notícias
trazidas por familiares e visitantes.
Destarte, apesar de todos esses direitos garantidos pela Lei de Execuções
Penais, percebe-se que enquanto a maioria dos direitos dos presos é insuscetível de
exclusão, restrição ou suspensão, possibilita a lei que sejam suspensos ou
restringidos, mediante ato motivado do diretor do estabelecimento, aqueles previstos
nos incisos V, X e XV do artigo 41 da Lei de Execuções Penais. Assim, em decorrência
dos fatos ligados à boa ordem, segurança e disciplina no estabelecimento, permite-se
a suspensão ou redução da jornada de trabalho, de recreação, das visitas e dos
contatos com o mundo exterior.
31
44 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 24.
45 SUSEPE: Superintendência dos Serviços Penitenciários. Mapa Prisional. Disponível em:
<http://www.susepe.rs.gov.br/capa.php> Acesso em: 31 out. 2016
46 SUSEPE: Superintendência dos Serviços Penitenciários. Relatório Mensal Presídio Central Porto
47 Fantástico ouve especialistas e vítimas sobre progressão de pena. S.i.: Rede Globo, 2015. Son.,
color. Disponível em: <http://g1.globo.com/fantastico/edicoes/2015/12/06.html#!v/4657915>. Acesso
em: 07 nov. 2016.
48 Idem
34
49 FARIA, Ana Paula. APAC: Um Modelo de Humanização do Sistema Penitenciário. Âmbito Jurídico,
Rio Grande, XIV, n. 87, abr 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=9296>. Acesso em: 07 nov.
2016.
50 FERRAZ, Mateus. Cadeia gerida por presos deve ser inaugurada no RS apenas em 2017. Rádio
Cada setor possui uma liderança, não podendo o apenado cumprir sua pena
em local distinto, sob pena de agressões físicas. A polícia admite a existência de sete
facções dentro do estabelecimento, dialogando com os líderes de cada pavilhão.
O Rio Grande do Sul é o único Estado do país em que Policiais Militares
administram os presídios. A administração foi assumida por PMs após uma rebelião
no ano de 1994, em que foram mortas cinco pessoas, tendo o diretor do presídio
levado um tiro e ficado paraplégico.
Ocorre que, na maioria dos pavilhões faltam vagas, enquanto em alguns
sobram. Isto se dá devido ao filiamento a certa facção, ou por opção sexual, sendo
que no terceiro andar do pavilhão H só podem residir detentos travestis ou maridos
destes. Assim, necessitam de autorização da direção para a troca de ala.
O alojamento dos presos que trabalham na cozinha também se encontra
separado, sendo cinco por celas, todos com acomodações adequadas. Porém, as
refeições feitas são extremamente pobres e distribuídas de maneira desigual à
população carcerária, na maioria das vezes em virtude do preconceito ou
discriminação. Alguns estabelecimentos, como o Presídio Central, permitem que se
envie pacotes de alimentos aos presos, para que consumam entre as refeições
disponibilizadas, porém são ínfimos, conforme o vídeo supracitado.
Uma das inovações trazida pela reportagem foi o scanner corporal no lugar das
revistas íntimas femininas, a qual considerava-se séria violação da dignidade, gerando
muitas vezes transtornos psicológicos. Assim, mulheres e crianças passam pela
máquina sem precisarem se despir, necessitando apenas a troca de fraldas de
crianças menores, as quais não podem passar pelo scanner.
As revistas aos presos são divididas por pavilhões, a cada quinta-feira um é
escolhido para que os detentos sejam minuciosamente analisados, assim como suas
celas. Outra séria violação da privacidade e dignidade dos apenados, pois suas
roupas são revistadas e deixadas no chão, paredes são quebradas, colchões abertos,
tênis desmanchados, com o intuito de achar drogas ou armas.
A visita do repórter às galerias mostra a degradação em que se encontra o
estabelecimento prisional. As celas são minúsculas, há comida estragada por toda
parte, sujeira pelo chão e paredes, incluindo o vaso sanitário, fiação elétrica toda
exposta, havendo perigo de eletrocussão, inúmeras goteiras.
Dessa forma, evidente o descaso com a integridade física e moral dos
ocupantes, bem como a violação ao princípio da vedação de penas cruéis. O próprio
36
local já se torna uma crueldade com o respectivo indivíduo, não oferecendo a mínima
condição para a sobrevivência adequada aos que ali estão.
Ademais, exerce controle dentro do presídio um tipo de “Estado Paralelo” das
facções que ali existem. A Brigada Militar não tem domínio sobre o fato, aceitando
tudo oficialmente. Os detentos vivem soltos nas galerias, sem portas nas celas e se
auto organizam, com hierarquia, sob o domínio do chamado ‘prefeito’. Isto acaba
implicando mais autoridade dessas facções sobre a massa carcerária do que a própria
polícia52.
O domínio das facções criminosas no PCPA chega a ser institucionalizado,
havendo em cada galeria placas indicando a localização das celas dos ‘prefeitos’.
Esses líderes usufruem de várias regalias, como a preferência para receber visitas
íntimas. As mulheres dos líderes de facções, para adentrar no Presídio, têm prioridade
e entrada facilitada.
Por conseguinte, acaba que, por uma questão de segurança do próprio preso,
somente serão transferidos de galerias para outras da mesma facção. O Estado, que
deveria assegurar a integridade física do apenado, não está presente, e quem faz o
papel de assegurá-la são os próprios parceiros de crime.
Grande exemplo deste “Estado Paralelo” foi reportagem veiculada pelo site G1,
relatando o caso de um júri suspenso após uma das facções impedir o réu de sair do
PCPA, em setembro deste ano53. Segundo a SUSEPE, os detentos queriam a
transferência de presos que também integram a facção e estavam cumprindo pena na
Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Da mesma forma, líderes da facção “Bala na Cara” impediram detento de sair
para audiência judicial, que foi cancelada54. Dessa vez, a reivindicação seria a
realocação de presos em galerias que estariam sobrando vagas, devido à
superlotação do PCPA.
52 ARAUJO, Ingrid Rossana Santos de. A formação das facções criminosas e o seu papel no sistema
carcerário. Conteúdo Jurídico, Brasília-DF: 10 jul. 2013. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.44326&seo=1>. Acesso em: 08 nov. 2016.
53 G1 RS. Júri é suspenso após facção impedir saída de réu do Presídio Central. Porto Alegre, 06
Não será preciso ir muito longe para verificar tais situações de crise estadual
presidiária. De acordo com Relatório da Superintendência dos Serviços Penitenciários
do Rio Grande do Sul (SUSEPE/RS)55 do mês de março de 2016, a PESM contava
com quinhentos e noventa e cinco presos, entre os regimes fechado, semiaberto,
aberto, provisório e medidas de segurança/internação. Ocorre que, ao final do
documento, verifica-se que todas as setecentas e sessenta e seis vagas destinadas
aos presos, são de regime fechado.
Assim, já se convalida notório abuso do previsto no artigo 33, §1º do Código
Penal Brasileiro, o qual preceitua os estabelecimentos em que devem ser cumpridas
cada pena de acordo com sua dimensionalidade. Apesar de não atingir a lotação
máxima, constata-se que presos condenados provisoriamente dividirão celas com
condenados em definitivo, inclusive o pátio de sol, sejam do regime que for. Sobre
esse assunto, Carlo Roberto Mariath refere56:
sistema penal simbólico. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 15, n. 2602, 16 ago. 2010. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/17184>. Acesso em: 15 jun. 2016.
38
57 VARELLA, Drauzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia Das Letras, 1999, p. 141.
58 Maiores informações, acessar:
<http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1457642238_Penit%20Est%20de%20Santa%20Maria.pdf>
59 CURCINO, Naiôn. Justiça proíbe que mais presos da Região Metropolitana venham para Santa
Maria. Diário de Santa Maria, Santa Maria, 06 jun. 2016. Disponível em:
<http://diariodesantamaria.clicrbs.com.br/rs/geral-policia/noticia/2016/06/justica-proibe-que-mais-
presos-da-regiao-metropolitana-venham-para-santa-maria-5862635.html> Acesso em: 16 jun. 2016.
39
Figura 2 – Perfil das Pessoas Presas no Brasil de acordo com faixa etária e cor
da pele/etnia
61Ibidem
62 BRASIL. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Levantamento Nacional de
Informações Penitenciárias: INFOPEN. Dezembro de 2014. Disponível em:
<https://www.justica.gov.br/noticias/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-feira/relatorio-
depen-versao-web.pdf>. Acesso em: 09 nov. 2016.
41
%E7a&versao;=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70070291885&
num_processo=70070291885&codEmenta=7039310&temIntTeor=true>. Acesso em: 09 nov. 2016.
64 Id.
43
65 BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo de Execução Penal nº 70070232533.
Relator: Desembargador José Conrado Kurtz de Souza. Diário de Justiça Eletrônico. Porto Alegre,
2016. Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi
%E7a&versao;=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70070232533&
num_processo=70070232533&codEmenta=6999330&temIntTeor=true>. Acesso em: 09 nov. 2016.
66 DORNELLES, Renato. Por falta de vagas em prisões, viaturas viram celas para presos em Porto
67BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo de Instrumento nº 70069345171. Relator:
Desembargadora Lúcia de Fátima Cerveira. Diário de Justiça Eletrônico. Porto Alegre, 2016.
Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi
%E7a&versao;=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70069345171&
num_processo=70069345171&codEmenta=6975054&temIntTeor=true>. Acesso em: 09 nov. 2016.
46
69MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal: comentários à lei 7210/84. 11 ed. São Paulo: Atlas,
2008. p. 511
48
Mas, as sanções foram além: perda dos dias remidos, regressão de regime,
alteração da data-base e revogação das saídas temporárias. Tudo isso em
razão da fuga. Certo, essas sanções estão previstas na LEP. Porém, a
Constituição Federal prega a dignidade da pessoa humana como sendo um
dos fundamentos da República (art. 1º, III, CF) e a mesma Carta Federal veda
penas cruéis e perpétuas (art. 5º, XLVII, CF). A crueldade vem plasmada
pela incidência avassaladora das punições pelo cometimento de uma falta.
Por uma falta, várias punições.
70BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Agravo nº 70029262334. Relator: Desembargador
Nereu José Giacomolli. Diário de Justiça Eletrônico. Porto Alegre, 2009. Disponível em:
<http://www1.tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php?nome_comarca=Tribunal+de+Justi
%E7a&versao;=&versao_fonetica=1&tipo=1&id_comarca=700&num_processo_mask=70029262334&
num_processo=70029262334&codEmenta=2876994&temIntTeor=true>. Acesso em: 09 nov. 2016.
49
a) Assistência Médica
A Assistência Médica prestada aos presos compreende a realização de
triagens objetivando melhor entendimento das condições clínicas
momentâneas; desenvolvimento de trabalho de acompanhamento clínico
buscando atender às necessidades inerentes às alterações clínicas que o
ambiente prisional proporciona; promoção à saúde física visando à redução
de tensões e à manutenção de um clima favorável à harmonia; atendimento
e prescrição de medicamentos quando necessários e de acordo com o
diagnóstico de cada paciente; encaminhamento para outros profissionais
quando verificadas necessidades de intervenção por outros profissionais ou
setores; procedimentos incluindo análises de radiografias, tratamento e
acompanhamento dos pacientes..
b) Assistência em Enfermagem
A Assistência em enfermagem prestada aos presos compreende, com o
apoio dos demais profissionais do serviço de saúde; o planejamento de
políticas de prevenção e controle da promoção à saúde, no âmbito de sua
c) Assistência Social
A Assistência Social prestada aos presos compreende a execução da política
de assistência social, do Sistema Penitenciário Federal – SPF nas
Penitenciárias Federais; a prestação de atendimento à família do preso, no
que for pertinente à execução penal; o auxílio ao preso na obtenção de
documentos, de benefícios sociais e outros que lhes forem de direito; o
registro, no prontuário do preso, dos dados relativos a sua área de atuação;
bem como, a promoção de atividades socioeducativas, recreativas e
desportivas.
d) Assistência Odontológica
A Assistência Odontológica prestada aos presos compreende planejamento
e execução de políticas de assistência odontológica, no tocante à prevenção,
ao tratamento e à reabilitação; realização de tratamento bucal, inclusive
radiografias e pequenas cirurgias, no âmbito da atenção básica; prestação de
primeiros socorros nas urgências e emergências odontológicas; prescrição
de medicamentos dentro da sua área de atuação; realização de profilaxias,
exodontias, restaurações, tratamento endodôntico, bem como,
procedimentos para próteses parciais e totais removíveis.
e) Assistência Psicológica
A Assistência psicológica prestada aos presos compreende o planejamento
e execução de políticas de atendimento psicológico, no tocante à prevenção,
ao tratamento e à reabilitação; realização de atendimentos e tratamentos de
natureza psicológica; participação de outras atividades na sua área de
atuação, no interesse da população carcerária.
O acompanhamento psicológico proporciona a redução do nível de ansiedade
e estresse dos presos, auxiliando no comportamento e bom cumprimento da
pena, além de diagnosticar transtornos e/ou desordens psíquicas para
estabelecer o tratamento necessário.
f) Assistência Farmacêutica
A Assistência Farmacêutica prestada aos presos compreende a orientação
sobre o modo de utilização de medicamentos e seus possíveis efeitos
colaterais; supervisão do recebimento, registro, guarda, entrada e saída de
medicamentos, inclusive, daqueles sujeitos a controle especial; implantação
de rotinas e procedimentos relacionados ao fornecimento de medicamentos;
organização e fornecimento das prescrições de enfermagem, médica e
odontológica; manutenção dos medicamentos em bom estado de
conservação, garantindo e controlando sua qualidade e validade.
h) Assistência Pedagógica
A Assistência pedagógica prestada aos presos compreende a execução da
política de educação no Sistema Penitenciário Federal – SPF na Unidade; a
atuação na promoção e na gestão de projetos e sistemas educativos
direcionados aos presos e suas famílias; participação em outras atividades
na sua área de atuação, no interesse da população carcerária.
CONCLUSÃO
.
56
REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
&num_processo_mask=70029262334&num_processo=70029262334&codEment
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58
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