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A falência do sistema penitenciário brasileiro

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Publicado por Rafaela de Oliveira Sousa


há 5 anos 2013
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Rafaela de Oliveira Sousa
Mathias Flores Neto
Luciana Renata Rondina Stefanoni
RESUMO
Os presídios brasileiros, de uma maneira geral, não conseguem promover aos detentos a
ressocialização esperada pela sociedade brasileira. O que tem-se observado é que a questão da
superlotação e as péssimas condições de vida e de higiene dos presos, dentre outros fatores,
contribuem para que as penitenciárias sejam ineficazes para atender ao que a Lei de Execução Penal
preceitua, qual seja, a recuperação daquele que está detido por ter cometido determinado crime,
transformando, assim, o que deveria ser um centro de ressocialização de criminosos em uma
"universidade do crime".
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por finalidade alertar a sociedade dos riscos de manter uma pessoa privada
de sua liberdade e não fornecer-lhe, enquanto preso, um tratamento correto, que vise a sua
reeducação e reinserção na sociedade com uma filosofia de vida diferente de quando cometeu o
crime.
É ineficaz o Estado subtrair da sociedade por algum tempo, indivíduos que infringem as normas e
reinseri-los, novamente, na sociedade com o mesmo pensamento imoral e antijurídico depois de
cumpridas suas penas.
Miguel Reale expõe em sua obra que: "Pune-se para prevenir novos crimes, ou para castigo do
delinquente? Tem a pena por fim recuperar o criminoso, para devolvê-lo ao convívio social, ou o
que deve prevalecer são os objetivos de prevenção social?"
A educação profissional e o trabalho penitenciário para um detento é um dos melhores métodos de
combate à reincidência. A maior parte dos detentos atualmente tem idade inferior a 30 anos,
portanto estão no ápice da força física para o trabalho e ainda tem a oportunidade, caso o Estado
ofereça, de aprenderem uma profissão e voltar a sociedade com um meio de obter renda de maneira
honesta.
Respeitar um preso, ajudando-lhe a reencontrar os preceitos morais, é um dever de todos, e,
principalmente do Estado. Todavia, a realidade brasileira está longe disso. Enquanto o sistema
penitenciário brasileiro não sofrer mudanças na forma com que trata o preso e que o reeduca, a
reincidência continuará sendo alta no Brasil e a sociedade continuará sofrendo com a alta da
criminalidade.
2 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO
O sistema penitenciário tem desde o início o objetivo de cumprimento de pena contra o malfeitor.
Como todo sistema, passou por evoluções, das quais dividem-se basicamente em três: o
pensilvânico, o auburniano e o progressivo.
2.1 SISTEMA PENITENCIÁRIO PENSILVÂNICO
O sistema penitenciário pensilvânico tinha como principais características a privação de liberdade
dos infratores, onde os mesmos eram mantidos em celas, sendo dado a ele o direito de permanecer
em silêncio e em oração (a religião era tida como um dos instrumentos que salvaria o preso). Era
privado de todo e qualquer tipo de bebida alcoólica.
Tal sistema impunha-se limitando a pena de morte ao criminoso; as penas de castigos físicos e de
mutilação foram substituídas por penas de privativa de liberdade e trabalhos forçados; mais tarde,
no ano de 1786, foram abolidos, e assim mantendo-se apenas o afastamento do convívio social.
2.2 SISTEMA AUBURNIANO
A partir da necessidade de superar limitações do sistema pensilvânico e da necessidade decorrente
do contexto histórico-político-econômico da época, surgiu o sistema auburniano, que ocorreu logo
após a construção de uma prisão de Auburn, localizada no Estado Americano de Nova Iorque.
Nesse sistema, os malfeitores eram divididos em três categorias: os mais velhos e reincidentes, o
isolamento era contínuo; aqueles que ofereciam menos perigo, o isolamento em cela somente se
dava em três vezes por semana e a permissão para trabalhar; e aqueles que possuíam maiores
chances de voltarem à sociedade sem cometer novos crimes, o isolamento era de apenas uma vez
por semana.
Nesse período, a importação de escravos se restringia. Assim esse mercado não conseguindo ser
suprido, o sistema auburniano adequou a mão de obra penitenciária, aproveitando-a como força
produtiva, tendo como critério principal de que o trabalho era um modo de reabilitar o preso.
A diferença entre o sistema auburniano e o pensilvânico era que em um os infratores se mantinham
separados todo o dia e no outro o isolamento se dava apenas à noite. O sistema pensilvânico era
baseado em orientações religiosas, já o auburniano em relação econômica.
2.3 SISTEMA PROGRESSIVO
O sistema progressivo consiste no incentivo à boa conduta, na reeducação para a volta do indivíduo
a vida em sociedade, tendo como parte importante à distribuição da condenação em períodos, para
que assim o detento possa desfrutar de alguns privilégios. Outro aspecto importante é o fato de
possibilitar a esses indivíduos a socialização antes do término de sua condenação, assim prevenindo
muitos reincidentes por exclusão social.
A situação do sistema carcerário brasileiro é preocupante, devido à superlotação, situações precárias
e tantas outra falhas existentes no sistema penitenciário. Mas isso tudo é reflexo não só do que
acontece dentro, mas também do lado de fora.
Muito importante seria o apoio de iniciativas privadas em parceria com o Estado para levar
qualquer tipo de conhecimento profissional para dentro das penitenciárias, para que assim os
detentos saíssem de lá com uma profissão. Há muito preconceito em relação a todos que vão presos,
por isso muitas vezes ao sair de uma penitenciária, eles recebem muitos nãos e não veem outra saída
se não voltar ao crime.
3 O PERFIL DO PRESO E DO SISTEMA
O sistema penitenciário brasileiro, segundo o Sistema Integrado de Informações Penitenciárias
(InfoPen) disponibiliza 298.275 vagas para 496.251 presos. Sendo assim encontra-se em média 1, 6
presos por vaga, caracterizando uma realidade inevitável da superlotação nas penitenciárias.
Atualmente, o exílio do preso em penitenciárias marca a marginalização deste, perante a ênfase da
responsabilização do crime que cometeu e também da irresponsabilidade do Estado em face do
descaso e falta de infraestrutura econômica e política. Malgrado existirem muitas penitenciárias
onde há o descaso, cumpre salientar que 471 destas com o regime fechado e 34 colônias agrícolas e
industriais, oferecem e incentivam aos presos formas de trabalho.
Na pesquisa feita pelo InfoPen, foi verificado o grau de instrução dos presos, e os resultados são
lastimáveis. Cerca de 6% dos detentos que responderam ao questionário são analfabetos, 13%
sabem apenas ler e escrever, 48% tem ensino fundamental incompleto, 12.5% possuem diploma do
ensino fundamental, e apenas 1% ingressou em uma universidade. Concluí-se que 67% dos presos
não possui nenhum diploma. (Ministério da Justiça, Execução Penal, Estatística InfoPen, dezembro
2010)
Com as informações retromencionadas, é evidente que a grande parte dos criminosos não possuem
condições tanto culturais, quanto econômicas para acompanhar o desenvolvimento das relações
sociais, quedando-se em situações de marginalização perante as novas condições e transformações.
O InfoPen aborda também a faixa etária dos detentos, constatando-se que 57% dos detentos são
menores de 30 anos de idade, conotando premissas onde o jovem, pobre, marginalizado e sem
amparo social, busca nas entranhas criminais um saciamento para tal condição; baseando-se por um
ponto positivo, são jovens que ainda tem a oportunidade de recomeçar, bastando ao Estado
proporcionar enquanto estão cumprindo a pena, uma educação moral e profissional que lhes
preparem para entrar no mercado de trabalho com uma nova filosofia de vida.
Também foi constatado que 4.343 presos são maiores de 60 anos de idade, sendo que 4.079
senhores e 264 senhoras que convivem algumas vezes com presos de alta periculosidade em uma
cela superlotada, com um tratamento fora dos parâmetros da dignidade da pessoa humana.
4 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Franesco Carnelutti em sua obra aduz que "basta tratar o delinquente como um ser humano, e não
como uma besta, para se descobrir nele a chama incerta do pavio fumegante que a pena, em vez de
extinguir, deve reavivar."
As penitenciárias tem o objetivo de reeducar o cidadão para que eles possam voltar ao convívio
social após o cumprimento de sua pena. Porém, isso não é o que de fato acontece. As condições do
sistema penitenciário brasileiro são péssimas, os presídios estão lotados, higiene precária, etc.. Fatos
esses que prejudicam a recuperação dos presos.
O grande número de presos, impossibilita a separação de criminosos, isso muitas vezes ao invés de
reeducar o infrator, mantém um convívio com outros malfeitores que muitas vezes tenham cometido
crimes piores, assim formando uma "escola de criminosos".
Tendo em vista as importantes ressalvas, Fernando Capez aborda com seriedade em sua obra, que
"o Estado Democrático de Direito não apenas pela proclamação formal da igualdade entre todos os
homens, mas pela imposição de metas e deveres quanto à construção de uma sociedade livre, justa e
solidaria". (CAPEZ, Fernando, 2010)
5 CONCLUSÃO
É importante ressaltar que os infratores da lei que estão afastados da sociedade, voltarão ao
convívio social, e foi para a sua reeducação que tal fato aconteceu.
Os presídios, cadeias públicas, fundação casa possuem por principal finalidade a reeducação, mas
devido não somente a falta de importância do governo, mas também ao preconceito que todos
possuem por esses cidadãos, não dando importância a vida digna de cada um deles, visando que
essas pessoas não tiveram educação adequada, são deixados de lado, tratados como "animais", não
fazendo jus ao art. 5º da CF que afirma:
"Art. 5º da Constituição Federal - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, (...)"

Devido a esses fatores e a falhas que o sistema penitenciário possui, os centros de reeducação dos
infratores da lei estão sendo utilizados como "centro de aprimoramento ao crime", devido a grande
lotação desses centros, onde todos, independente do crime que tenham cometido ficam juntos
"trocando experiências".
Portanto, a reeducação e a ressocialização dos presos é necessária devido a caracterização de uma
sociedade livre, democrática e justa com todos os preceitos constitucionais, da dignidade e da
igualdade entre cidadãos que compõem a sociedade. Todavia cumpre salientar que o Estado é
ineficaz quanto a estruturação de meios eficazes contra preconceitos existenciais.

ASSIS, Rafael Damaceno de. A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS REGIMES PRISIONAIS E DO


SISTEMA PENITENCIÁRIO. 2007. Disponível em http://jusvi.com/artigos/24894.
PINTO, Walter. POR QUE FALHAM OS PROJETOS DE RESSOCIALIZAÇÃO E
REEDUCAÇÃO DOS PRESOS. 2011.
Ministério da Justiça do Brasil. EXECUÇÃO PENAL: REINTEGRAÇÃO SOCIAL.
CAPEZ, Fernando. CURSO DE DIREITO PENAL, V. 1, parte geral: (art. 1º a 120) / Fernando
Capez. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
REALE, Miguel. LIÇÕES PRELIMINARES DE DIREITO, ajustada ao novo código civil. São
Paulo: Saraiva, 2002.
CARNELUTTI, Francesco. O PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA FRENTE AO SISTEMA
PRISIONAL. Disponível em www.jusnavegandi.com.br

https://sousarafaela.jusbrasil.com.br/artigos/112291037/a-falencia-do-sistema-penitenciario-
brasileiro

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