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de Deus e a
Relutância
Humana
Sherman Isbell
SUMÁRIO
1) A BENEVOLÊNCIA DE DEUS...................................... 3
O Caráter de Deus............................................................ 5
2) A MISERICÓRDIA DE DEUS....................................... 8
John Howe.......................................................................... 9
Jonathan Edwards............................................................. 9
Robert Murray M’Cheyne.............................................. 10
John Murray..................................................................... 10
O réprobo......................................................................... 11
Amar nossos inimigos.................................................... 12
Davi................................................................................... 12
Um exemplo Puritano.................................................... 14
A Bondade de Deus e
a Relutância Humana
Mateus 23:33-39
Lucas 19:41-44
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedre-
jas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reu-
nir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos
debaixo das asas, e vós não o quisestes!” (Mt 23:27).
1) A BENEVOLÊNCIA DE DEUS
A primeira coisa que queremos destacar nestes textos das Es-
crituras é a benevolência de nosso Deus. Eles se referem a Jesus
no período final de seu ministério. O Senhor olha para a cidade
de Jerusalém e chora sobre ela. Muito semelhantemente às la-
mentações de Jeremias, Jesus está lamentando pela cidade. Da
mesma forma que Jeremias lamentou por causa da apostasia de
Jerusalém em sua época, Jesus também lamenta a apostasia des-
ta cidade em Sua época aqui na terra. Jesus demonstra grande
compaixão para com a cidade através de suas lágrimas derra-
madas por ela. Jesus lamenta que o povo tenha se desviado do
caminho. Ele afirma que queria reunir a todos, mas eles não
quiseram e com isso eles estão manifestando o mesmo espírito
já de há muito conhecido naquela cidade.
O caráter de Deus
Quando Jesus está demonstrando compaixão para com a ci-
dade de Jerusalém Ele a expressa com emoções humanas. Por
isso muitas pessoas dizem que isso nada diz do caráter de Deus,
porque as emoções humanas não se acham em Deus. Dizem
que as emoções humanas envolvem sentimentos que por vezes
oscilam para cima e para baixo demonstrando vulnerabilidade;
vemos o que os outros fazem conosco e reagimos com amar-
gura, tristeza ou com alegria. Mas Deus não é vulnerável desta
forma, dizem; não oscila para ter momentos que ora estão em
cima e ora estão em baixo; nossos sentimentos têm muito a ver
com nossos corpos e nossa condição física e por isso existe cer-
ta falta de estabilidade que acompanha nossas emoções; nada
disso existe em Deus. Então, dizem que quando Jesus estava se
lamentando e chorando pela cidade de Jerusalém, isso tudo ti-
nha a ver apenas com sua natureza humana e nada com sua
natureza divina.
John Howe diz que, por esta razão, Deus tem paciência até
para com pecadores que estão zombando dele e o tratando de
forma leviana. Deus está dando uma evidência graciosa de que
tem uma natureza reconciliadora que mostra graça, compaixão
e misericórdia até para com o pior pecador que existe.
2) A MISERICÓRDIA DE DEUS
A segunda coisa que podemos ver nestes textos citados no iní-
cio é que Deus se deleita em mostrar misericórdia. O Senhor
está mostrando muita paciência para com pecadores; Jesus está
lidando diretamente com seus inimigos e nessa condição Ele
se revela como o Messias. O que está sendo manifesto em tudo
isso é o caráter de Deus. Nas palavras dos textos de Mateus e
Lucas, Jesus mostra a vontade revelada de Deus. Jesus não está
salvando todas estas pessoas; não é Seu propósito eterno sal-
var todas as pessoas, mas mesmo assim, em suas palavras e por
meio de suas ações, Jesus mostra que há uma revelação que en-
volve o caráter de Deus. Deus está manifestando Sua disposição
e deleite em demonstrar misericórdia, que em si mesmo é uma
coisa agradável e que é algo que Ele gosta de fazer.
John Howe
O puritano inglês, John Howe, disse: “Deus mostra Sua gene-
rosidade quando revela Sua vontade de que pecadores venham
e O recebam com fé verdadeira. Ao mesmo tempo Ele não apli-
ca Sua vontade decidindo dar-lhes a fé necessária para crerem
de uma forma eficaz vindo até Cristo. Em lugar disso Deus não
concede a fé salvadora e passa por cima de algumas pessoas
deixando-as na condenação”. Então, Howe faz a pergunta: “Será
então, à luz disso, que Deus sinceramente não se apraz em ver
homens se convertendo e crendo? Percebemos que tanto o fato
de Deus se deleitar em ver pessoas se convertendo e crendo
nEle ao ouvir o Evangelho, quanto o Seu propósito eterno de
justiça e santidade, todos são aspectos do caráter de Deus e da
Sua natureza. Deus manifesta estes diferentes aspectos da Sua
natureza para várias pessoas, em diversos contextos, tempo e
formas, conforme Sua vontade soberana”.
Jonathan Edwards
Jonathan Edwards fala algo semelhante quando comenta de
algo na disposição da natureza de Deus. Ele diz que Deus se
apraz em que homens vis possam achar santidade e felicidade.
Ele diz que “o pré-conhecimento de Deus para com estas coisas
e sua sábia pré-determinação em que homens não sejam salvos,
não impedem que Deus, mediante os convites do Evangelho,
mostre-lhes disposição em salvá-los”.
Vamos falar de uma forma mais simples. Deus tem um ca-
ráter de demonstrar generosidade às criaturas, mas é uma ge-
nerosidade estabelecida conforme sua vontade soberana. Deus
concede aos homens várias dádivas nesta vida, mas é possível
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A Bondade de Deus e a Relutância Humana
que para alguns Ele não conceda a dádiva da vida eterna. Deus
é amor. Necessariamente e eternamente Ele é amor. Se Ele não
fosse amor não seria Deus. Ele tiraria de Si mesmo a perfeição
que tem. Mas este amor se manifesta e se expressa conforme a
Sua soberana vontade e determinação e também é do Seu agra-
do manifestar Sua eterna justiça trazendo ira e destruição sobre
o homem perverso.
John Murray
Faz uns cinqüenta anos que o Prof. John Murray do Semi-
nário de Westminster escreveu sobre estes assuntos. Na época
muitos ficavam preocupados com a linguagem que ele usava
quando dizia: “Deus deseja a salvação daqueles que ouvem o
evangelho”. Ele falou estas palavras quando fazia parte de uma
comissão da Assembléia Geral da sua Igreja nos Estados Uni-
dos (OPC). Um outro membro da comissão me contou de uma
conversa que teve com o Prof. Murray. Naquela conversa Prof.
Murray explicou o que ele queria dizer com esta expressão. Ele
disse que usava esta expressão no mesmo sentido que o Puri-
tano inglês John Howe usou, quando disse que Deus tem uma
vontade complacente. O que significa isso? Hoje usamos esta
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Sherman Isbell
O réprobo
Tomemos o exemplo do homem réprobo e perverso. Quando
Deus criou este homem Ele demonstrou sua sabedoria e poder
divinos. Os atributos de Deus foram demonstrados na criação
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A Bondade de Deus e a Relutância Humana
Davi
Em 2 Samuel, capítulo10, há um registro de Davi como rei de
Israel. Davi mandou mensageiros para consolarem a Hanum, fi-
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lho do rei de Amon que havia morrido. Aqui vemos uma nação
que era inimiga do povo de Deus e que estava fora da aliança.
Davi teve um espírito compassivo, misericordioso e benevolen-
te para com estas pessoas. Ele demonstra isso ao mandar seus
mensageiros para consolar um filho que perdera seu pai, mas
os inimigos amonitas não conseguiram entender este espírito
de misericórdia e benevolência. Não entenderam o que Davi
desejava fazer e por isso disseram que os mensageiros haviam
chegado para espiar a cidade, pois desejavam fazer alguma coi-
sa contra eles. Por isso os amonitas rejeitaram os mensageiros,
“rapou-lhes metade da barba, cortou-lhes metade dos vestidos”
e mandou-os embora humilhados. O que estava acontecendo?
Deus é misericordioso e compassivo. Davi é um homem segun-
do o coração de Deus e por isso vive com esta mesma compai-
xão, misericórdia e benevolência. Cristo é a luz do mundo e o
povo de Deus é a luz do mundo; é a luz e a graça da benignidade
de Deus. O povo de Deus tem a mesma generosidade e miseri-
córdia de Deus, mesmo nas coisas temporais. Estes atributos de
Deus estão brilhando nos atos e ações de Davi para com seus
inimigos. Isso acontece também com a oferta do evangelho.
Um exemplo Puritano
Finalmente vejamos um exemplo de como um puritano iria
descrever esta disposição de Cristo em receber pecadores que
vêm a Ele em verdadeira fé. É uma pregação puritana do século
XVII do puritano escocês James Durham (1622-1658). Ele foi
um dos maiores pregadores da Escócia naquele século. Ele foi
um dos autores de um documento que muitas vezes é publica-
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Sherman Isbell
“Saiba qual a comissão que tenho para com vocês hoje; minha missão é
declarar-lhes que o rei está organizando um casamento para seu filho e
já preparou todas as coisas para reconciliar você com Ele. O rei prepa-
rou o casamento e também o modo de cumprir seu propósito. Ele está
falando com você por meio de Sua Palavra pregada pelos seus servos;
fala para vocês através de nós pregadores; estamos falando para você em
nome dele; declaramos a você que o abençoado Senhor Jesus Cristo está
lhe cortejando; nós estamos falando, publicando e proclamamos: ‘vejam
isso! Nosso Senhor Jesus Cristo não está longe para ser alcançado, Ele
está aqui querendo fechar-se nas bodas com você; o Pai está disposto e
preparado, já deu o consentimento para o casamento; o noivo está pre-
parado, Ele fez muitas coisas e está esperando o seu consentimento; a
festa está preparada, o vestido nupcial está preparado, falta apenas pegar
esta roupa e vesti-la. Faça isso da seguinte forma: deposite fé no Senhor.
O contrato de casamento está preparado, nada precisa ser mudado; ele
está pronto e disposto a aceitar você se estiver disposto a aceitá-Lo; nosso
abençoado Senhor Jesus Cristo diz que se agrada em casar com você; só
falta você pegar a caneta e assinar seu nome embaixo do contrato”.
Amém.
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Relutância Humana
Palestra proferida pelo Pr. Sherman Isbell no Simpósio Os
Puritanos em Maragogi - julho/2007. Pr. Sherman é pastor
presbiteriano [Free Church of Scotland (Continuing)] em
Washington DC e editor da revista “The Master’s Trumpet”.