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“Esta situación es tragica. Una comedia en un cementerio. Dos pueblos pobres se liqui-
dan en una guerra estúpida (...)”
Eusébio Ayala, Presidente do Paraguai (1932-1936)1
1 – ORIGENS DA GUERRA
4
- Idem. O fracasso da primeira cooperação entre Brasil e Argentina in Revista Múltipla. Brasília : Facul-
dades Integradas UPIS, IV: 6, p. 32-34.
5
- Enrique BORDENAVE para Rogélio IBARRA, Personal-Reservadíssima, Asunción, 4.1.1927. Archivo
Rogélio Ibarra - Arquivo Particular de Manuel Peña Villamil [doravante:APMPV] - Asunción.
6
- Ministério das Relações Exteriores para Legação Brasileira em Assunção, telegrama cifrado nº. 17, Rio
de Janeiro, 7.3.1927. Arquivo Histórico do Itamaraty [doravante: AHI], Missões Diplomáticas Brasileiras –
Assunção - Telegramas, 202-1-15.
7
- José Tomás Nabuco de GOUVÊA para Ministério das Relações Exteriores, telegrama cifrado nº. 31, “Ur-
gente”, Assunção, 8.3.1927. Idem, ibidem.
Informes diplomáticos brasileiros posteriores, oriundos de Assunção, mantiveram o Itamaraty informado,
detalhadamente, sobre o apoio argentino às compras de armas pelo Paraguai.
O suporte militar argentino ao Paraguai, antes e durante a Guerra do Chaco, está documentado na corres-
pondência de Vicente Rivarola, representante diplomático paraguaio em Buenos Aires nessa época, e publi-
3
cada no citado livro Cartas Diplomaticas. Veja-se também: PEÑA VILLAMIL, Manuel. Las relaciones
paraguayo-argentinas durante el conflicto del Chaco, 1925-1935 in Historia Paraguaya; Anuario de
la Academia Paraguaya de la Historia. Asunción, v. XXXIII, 1994, p. 167-200.
8
- Retransmissão do Ministério de Relações Exteriores para a Legação Brasileira em Assunção, telegrama ci-
frado nº 21, Rio de Janeiro, 11.3.1927. AHI, Missões Diplomáticas Brasileiras – Assunção - Telegramas,
202-1-15
9
- PEÑA VILLAMIL, Manuel. Eusebio Ayala y su tiempo. Asunción: Graphis SRL, 1993, p. 244 -245.
10
- GOUVÊA para Chanceler Octávio MANGABEIRA, ofício confidencial nº. 252, Assunção, 2.12.1927.
AHI, Missões Diplomáticas Brasileiras – Assunção – Ofícios Enviados, 201-3-15.
DUNHAM para MANGABEIRA, ofício reservado nº. 46, Assunção, 9.3.1928. Idem, ibidem, 201-4-1.
Eusebio AYALA para Eligio AYALA, “Muy Confidencial”, Paris, 1.12.1927. Archivo Eligio Ayala-
Archivo Dr. Carlos Pastore, APMPV.
11
- Rubens DUNHAM para MANGABEIRA, Ofício Confidencial 252, Assunção, 2.12.1927. AHI, Missões
Diplomáticas Brasileiras – Assunção – Ofícios Enviados, 201-3-15.
4
A presença argentina no Paraguai era esmagadora, por motivos político, pois desde
1904 o Partido Liberal estava no poder, após derrubar o Partido Colorado, que era próximo
do Brasil, e econômico. Quanto a este aspecto, Buenos Aires era a única saída para o
comércio exterior do Paraguai, pois o país não tinha ligação terrestre com o Brasil, e, ainda,
havia grandes capitais argentinos investidos na economia guarani. A venda de terras
públicas paraguaias durante a década de 1880, convertera os capitalistas argentinos nos
maiores proprietários do país. Comerciantes dessa nacionalidade tinham forte presença em
Assunção e a única ferrovia comercial paraguaia – a Ferrocarril Central – era controlada
por capitais argentinos, unindo essa capital à fronteira argentina, a leste, em Encarnación.
O Paraguai, escreveu o representante brasileiro em Assunção, “é uma província argentina”
pois estava “atado política, financeira e economicamente” a seu vizinho do sul.13
2 – A INFLUÊNCIA DO PETRÓLEO
12
- Relatório do Ministério das Relações Exteriores, 1929, p. 21.
13
- GIRBAL-BLACHA, Noemí. Explotación florestal, riesgo empresario y diversificación económica: las
inversiones argentinas en el Gran Chaco (1905-1930) in Revista de Historia de America. Mexico: Ins-
tituto Panamericano de Geografia e Historia, n. 116, jul/dic. 1993, p. 48-55.
Lucillo BUENO, Ministro Plenipotenciário brasileiro, para Chanceler Afrânio de MELLO FRANCO, ofí-
cio 123, Assunção, 02.12.1932. Arquivo da Embaixada do Brasil em Assunção – Correspondência En-
viada [doravante: AEBACE]
5
Alfredo M. Seiferheld, por sua vez, afirma, no sólido trabalho Economia y Petróleo
durante la Guerra del Chaco, que, embora o litígio chaquenho fosse anterior, a descoberta
de petróleo na região acrescentou-lhe um elemento altamente perturbador. Essa descoberta,
pela Standard Oil, na Bolívia, demandava um meio de transportar o petróleo aos centros de
consumo, sendo a melhor alternativa a via fluvial, utilizando-se um porto sobre o rio
Paraguai. Pelo Tratado de Petrópolis, de 1903, o Brasil, para ficar com o Acre, entre outras
medidas, transferiu à Bolívia território à margem daquele rio, na altura do forte Coimbra.
Esse território, descobriu-se posteriormente, não oferecia condições para a construção de
um porto, por ser baixo e alagadiço. Explica-se, assim, a insistência boliviana junto ao país
guarani para obtenção de um porto às margens do rio Paraguai. À Shell, por sua vez, não
interessava, antes e durante a Guerra do Chaco, buscar petróleo em território paraguaio,
mas, sim, impedir a concorrência da Standard Oil no mercado platino.15
Argumenta Seiferheld que seria simplismo concluir que o conflito do Chaco foi uma
guerra entre duas poderosas companhias petrolíferas. Há indícios, sim, de que na guerra de
1932-1935 a Standard Oil tenha-se inclinado em favor da Bolívia, enquanto a Shell
aparecia alheia ao conflito, embora partidária do Paraguai, seguindo a postura da Argentina,
onde mantinha sua base de operações. Lembra, porém, Seiferheld que a Standard Oil
sempre evitou afirmar ser o Chaco boliviano, tratando-o como território litigioso. Durante a
guerra essa companhia também manteve atitude ambígua, adotando a lucrativa atitude de
declarar-se neutra para vender combustível às duas partes em luta. No caso do Paraguai, a
Standard Oil enviava o petróleo pela Argentina, sendo parte desse combustível extraído na
própria Bolívia.16
3 - A GUERRA
17
- Alfredo M. SEIFERHELD, idem, p. 462.
Herbert S. KLEIN, idem, p. 194.
18
- BANDEIRA, Luiz A. Moniz. A Guerra do Chaco in Revista Brasileira de Política Internacional.
Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, XL : 1, 1998, p. 175; 181.
19
- SILVEIRA, Helder Gordim da. ArgentinaxBrasil: a questão do Chaco Boreal. Porto Alegre: EDIPUCRS,
1997, p. 51-52.
20
- SCENNA, Miguel Ángel. Argentina-Brasil: cuatro siglos de rivalidad. Buenos Aires: La Bastilla, 1975,
p. 310-311.
7
repúblicas latino-americanas; “este sentir era tan viejo como la misma prosperidad
argentina”.21 Para Washington, liderar o processo de conciliação quanto ao Chaco,
significava confirmar sua liderança no continente, afastando, simultaneamente, a ingerência
da Liga das Nações, organização em que predominavam os interesses europeus.22
A administração Roosevelt estava convencida de que não teria amigos na América Latina enquanto manti-
tivesse a orientação anterior, intervencionista, em relação ao continente.
HULL, Cordell. The memoirs of Cordell Hull.New York: The MacMillan Company, 1948, v. I, p. 310.
21
- ESCUDÉ, Carlos. Gran Bretaña, Estados Unidos y la declinación argentina, 1942-1949. Buenos Aires:
Editorial Belgrano, 1996, p. 40.
22
- BIBER, León. A Guerra do Chaco e as relações brasileiro-bolivianas no período 1930-45. mimeo
(Universidade de Brasília), s.d., p. 6.
23
- CERVO, Amado Luiz; BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. São Paulo: Ática,
1992, p. 214.
24
- DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. En busca del equilibrio. La política exterior del Paraguay
entre 1920 y 1925 in Historia Paraguaya; Anuario de la Academia Paraguaya de la Historia. Asun-
ción, v. XXXVI, 1996, p. 223-252.
25
- BANDEIRA, Luiz A. Moniz. O eixo Argentina-Brasil; o processo de integração da América Latina.
Brasília: Editora da UnB, 1987
26
- BUENO para MELLO FRANCO, ofício 102, Assunção, 19.10.1932. AEBACE, 1932.
27
- Lafayette CARVALHO SILVA, Encarregado de Negócios brasileiro, para SAAVEDRA LAMAS, ofício
60, Buenos Aires, 27.9.1932. Archivo del Ministerio de Relaciones Exteriores y Culto, Caja 3168/69,
8
com o Brasil) e ao interior do Chaco boliviano.31 Para o Itamaraty essa ferrovia poderia
causar um choque de interesses do Brasil com a Argentina na bacia amazônica, o que levou
a diplomacia brasileira a agir e, assim, “evitou” sua construção.32 O Ministro da Marinha
argentina, Pedro S. Casal, estava convencido de que, em caso de guerra entre seu país e o
Brasil, este contaria com o apoio boliviano.33 Do lado brasileiro, por sua vez, acreditava-se
que, em caso de guerra entre Argentina e Brasil, o Paraguai ficaria do lado argentino,
tornando-se corredor de passagem para as tropas invasoras de Mato Grosso e Paraná.34
31
- OSTRIA GUTIÉRREZ, Alberto. Una obra y un destino; la política internacional de Bolívia después de la
Guerra del Chaco. 2a. ed. Buenos Aires: s. ed., 1953, p. 211; 264.
32
- BUENO para Chanceler interino Mario Pimentel BRANDÃO, ofício 116, confidencial, Assunção,
12.11.1937. AEBA, “Correspondencia Confidencial Expedida (1935-1938)”.
33
- in ROUT, Leslie Brennan. The Chaco War: a study in Inter - American Diplomacy. University of
Minnesota (USA), PhD: 1966, p. 81-82.
34
- “Relatório apresentado pela Legação do Brasil no Paraguay sobre os trabalhos effectuados em 1931 e
reflexões sobre a sua actividade diplomática – Parte Reservada”. Anexo ao ofício 23, Assunção, 4.3.1932.
AEBACE, 1932.
35
- CARDOZO, Efraím. El Paraguay independiente. Asunción: El Lector, 1996, p. 383.
36
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 1.9.1932 in Vicente RIVAROLA COELLO, op. cit., p. 92.
37
- Idem, Asunción, 22.9; 22.10.1932 in ibidem, p. 99; 109.
10
38
- León BIBER, op. cit., p. 9.
39
- MELLO FRANCO, Afrânio de. Episódios de História Internacional. Rio de Janeiro: s.ed., 1941, p. 89.
40
- Ao preparar o Tratado de Comércio, afirmava-se na Memoria (1934/35) do Ministerio de Relaciones Ex-
Exteriores y Culto argentino: “Ambas delegaciones estiman que ha llegado el momento de iniciar gestio-
nes destinadas a realizar una unión aduanera de países del continente americano [que] debe comenzarse
por la celebración de un tratado entre Argentina Chile (...)”
in PARADISO, José. Debates y trayectoria de la política exterior argentina. Buenos Aires: Grupo Editor
Latinoamericano, 1993, p. 84.
41
- Leslie Brennan ROUT, op. cit., p. 86-88.
BARCLAY, Glen. Struggle for a Continent; The Diplomatic History of South America, 1917-1945.
London: Sidgwick & Jackson, 1971, p. 12
42
- Alberto OSTRIA GUTIÉRREZ, op. cit., p. 115.
O Tratado de Natal era um desdobramento da incorporação do Acre ao Brasil, em decorrência do Tratado
de Petrópolis, de 1903.
11
O Comitê Especial da Liga das Nações não conseguiu por fim à luta no Chaco,
permitindo a Saavedra Lamas assumir o comando das negociações de paz, pois já anulara
os EUA no processo de paz .48 Contudo, o Chanceler chileno Cruchaga Tocornal tentou
antecipar-se a seu colega argentino e contatou os Governos boliviano e paraguaio na busca
de uma fórmula para o cessar fogo, encontrando receptividade positiva. Saavedra Lamas,
porém, reagiu e Tocornal concordou em cooperar com a diplomacia argentina na
elaboração de nova proposta de paz, assinando, ambos, em 25 fevereiro de 1933, a Ata de
43
- RIVAROLA para AYALA, Buenos Aires, 18.10.1932 in Vicente RIVAROLA COELLO, op. cit., p. 106.
44
- Idem, Buenos Aires, 23.1.1933. Ibidem, p. 150.
45
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 11.3; 17.12.1933 (confidencial). Ibid., p. 161; 137.
46
- MERCADO MOREIRA, Miguel. Historia Diplomatica de la Guerra del Chaco. La Paz: Talleres Gráfi-
cos Liviano, 1966, p. 154.
47
- RIVAROLA para AYALA, Buenos Aires, 14.12.1933; 20.10.1933 e 18.10.1935 in Vicente RIVAROLA
COELLO, op. cit, p. 136; 206; 321. Ver, também, carta de 12.1.1933 com queixas de Rivarola sobre a
postura de Saavedra Lamas ( p. 146).
Leslie Brennan ROUT, op. cit., p. 82.
48
- GARNER, William Robin. The subjective prestige factor in the diplomatic milieu of the Chaco War; a
case study in systems analyses. Tulane University (USA): PhD, 1963, p. 207.
12
49
- Efraím CARDOZO, op. cit., p. 393.
A conferência econômica deveria analisar: a) a situação dos dois países mediterrâneos, para se criar uma
norma de trânsito terrestre e fluvial que favorecesse o intercâmbio entre esses Estados e deles com o mar;
b) o estudo de possíveis acordos sobre comunicações ferroviárias e rodoviárias; c) a assinatura de um
convênio entre Estados ribeirinhos dos rios internacionais da região, para melhorar suas condições de
navegação.
RUIZ MORENO, Isidoro. Historia de las relaciones exteriores argentinas (1810-1955). Buenos Aires:
Perrot, 1961, p. 255-256.
50
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 11.3; 27.5.1933 in Vicente RIVAROLA COELLO, op. cit.,
p. 164; 177.
51
- Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 111-112.
52
- BUENO para MELLO FRANCO, ofícios 85 e 90, confidenciais, Assunção, 24.7 e 22.8.1933, respectiva-
13
A essa altura, a Comissão da Liga das Nações continuava em suas atividades mas
sem produzir resultados concretos. A Comissão era classificada pelo Presidente Ayala
como pouco séria, dela não participando potência européia e sendo utilizada, por países
58
- MADRID, Eduardo. Argentina y Brasil: economía y comercio en los años treinta in CICLOS en la his-
toria, la economia y la sociedad. Instituto de Investigaciones de Historia Económica y Social de la Facul-
tad de Ciencias Económicas – Universidad de Buenos Aires, VI: VI, n. 11, 1996, p. 146.
Miguel Ángel SCENNA, op. cit., p. 312.
59
- Luis G. BENÍTEZ, op. cit., p. 409-410.
60
- Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 117-118
61
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 13.11.1935 in Vicente Rivarola COELLO, op. cit., p. 330.
15
Em fins de 1934 o Paraguai não aceitou a recomendação da Liga das Nações para
cessar o fogo e submeter todo o Chaco à arbitragem. Raciocinava Eusebio Ayala que o
cessar fogo, sem garantia de paz, implicava em manter o Exército inativo por longo tempo,
o que representaria ameaça em potencial à ordem política interna paraguaia. A arbitragem
poderia redundar em concessões à Bolívia, com o que não concordaria o Exército
paraguaio. A Chancelaria argentina, porém, insistiu para que o Paraguai aceitasse a
arbitragem nas condições propostas.64 Era tarde, pois em janeiro de 1935 as forças
paraguaias haviam alcançado o rio Parapití, desalojando os soldados bolivianos do Chaco.
Era impraticável politicamente para o Governo paraguaio aceitar a arbitragem sobre
62
- Idem, Asunción, 30.10.1934 in ibem, p. 276-277.
63
- Getúlio VARGAS para Osvaldo ARANHA, Rio de Janeiro, 24.12.1934 apud. Luiz A. Moniz
BANDEIRA, Estado Nacional..., p. 29
64
- AYALA para RIVAROLA, carta confidencial, Asunción, 22.11.1934 in Vicente Rivarola COELLO, op.
cit., p. 283.
RIVAROLA para AYALA, Buenos Aires, 15.12.1934. Idem, ibid., p. 285.
16
território do qual suas tropas tinham levado dois anos e meio para expulsar os bolivianos.
Ademais, o Presidente Ayala raciocinava que a proposta de paz da Liga das Nações custaria
o controle, por parte do Paraguai, de território em que estava convencido haver jazidas de
petróleo, que “nos servirá (...) para recuperar nuestras pérdidas y levantar el país de la
postración que habrá de quedar”.65
65
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 23.2.1935. Id., p. 293.
66
- RIVAROLA para AYALA, Buenos Aires, 22.2.1935. Ibid., p. 288-289.
67
- Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 131, 137.
68
- Leslie Brennan ROUT, op. cit., p. 86-87.
17
Para José Maria Cantilo, Chanceler da Argentina a partir de 1938, o comportamento de seu
antecessor na questão chaquenha foi “oportunista”. Cantilo acreditava que o objetivo de
Saavedra Lamas, tinha sido o de conquistar os méritos pessoais da pacificação, visando
obter que lhe concedessem o Prêmio Nobel da Paz, visto como instrumento para realizar
seu projeto de ascender à Presidência argentina.69
73
- León BIBER, op. cit., p. 2.
74
- apud. Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 97-98
75
- Idem, ibidem, p. 136-137.
76
- Relatório do Ministério das Relações Exteriores, 1935, p. 4-5.
19
Chanceler Macedo Soares. Este logo iniciou consultas independentes na capital argentina,
encontrando-se separadamente com os Chanceleres boliviano, Tomás Manuel Elío, e
paraguaio, Luis A. Riart, e solicitando que encaminhassem a seus governos a proposta
brasileira de se estabelecer “uma trégua, simples trégua, mantidas todas as posições
militares anteriores”, enquanto estivessem negociando a paz. A Riart, prometeu Macedo
Soares que o Brasil estava disposto a auxiliar o Paraguai após a guerra, concedendo-lhe
porto franco, técnicos agrícolas, sementes “e tudo o que estiver ao seu alcance para pôr em
prática o vivo empenho de colaborar fraternalmente com esse paiz”.77
77
- MACEDO SOARES para CARVALHO SILVA, Buenos Aires, 28.5.1935. AEBA, Telegramas, 7-9-34/
01-6-36.
78
- apud. León BIBER, p. 10.
79
- BARROS, Jayme de. Chão de vida; memórias. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1985, P. 180.
80
- Getúlio VARGAS, op. cit., v. I, p. 393 e v. II, p. 127.
Aranha escreveu para Vargas, em 18/6/1935, que “o favorável desenrolar da questão do Chaco devemos
todos a ti (...) e a tua decisão na hora que, conseguida a mediação junto a nós, continuou o Itamaraty a
fazer tolices.” in Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 145.
20
5 – A PAZ
81
- CARVALHO SILVA para Antonio de SÃO CLEMENTE, Cônsul do Brasil em Assunção, ofício 9,
13.6.1935. AEBA, “Correspondência para Consulados brasileiros no Paraguay”.
MACEDO SOARES para CARVALHO SILVA , Buenos Aires, 1.6.1935. Idem, Telegramas, 7-9-34/
01-6-36.
BARROS, Jayme de. A política exterior do Brasil (1930-1942). 2a. ed. Rio de Janeiro: Zeilio Valverde,
s.d., p. 25.
82
- Helder Gordim da SILVEIRA, op. cit., p. 154-155.
AYALA para RIVAROLA, Asunción, 28.9.1935 in Vicente Rivarola COELLO, op. cit., p. 321.
83
- AYALA para RIVAROLA, Asunción, 13.11 e 7.12.1935. Idem, ibidem, p. 337.
21
A Bolívia, por sua vez, reorientou a política externa, buscando romper seu
isolamento internacional e obter dos países vizinhos a cooperação para construir novas vias
de comunicação e transporte. Poderia, desse modo, obter dupla saída para o oceano
Atlântico, através de Buenos Aires e de Santos, no litoral paulista. Os novos governantes
bolivianos interpretavam que a vinculação econômica do Paraguai à Argentina fora
elemento decisivo na guerra e La Paz buscou estreitar suas relações com esse vizinho, com
o objetivo de melhorar as condições para a Bolívia no tratado de paz que viesse a ser
assinado. O Chanceler boliviano Enrique Finot assinou com seu colega Saavedra Lamas,
84
- CARVALHO SILVA para BRANDÃO, ofício 9, confidencial, Assunção, 5.3.1937. AEBA, “Correspon-
dência Confidencial Expedida (1935-1938)”.
CARVALHO SILVA para MACEDO SOARES, ofício 102, Assunção, 17.8.1935. AEBACE, 1935.
No final do Governo Ayala, negociava-se convênios para facilitar a navegação fluvial entre o Mato Gro-
sso e o Paraguai e estabelecer ligação telegráfica. Também estudava-se a construção de ferrovia unindo
os dois países.
85
- Relatório do Ministério das Relações Exteriores, 1936, p. 8.
86
- FIGALLO, Beatriz. Militares, poder y política exterior. El Paraguay y la Argentina entre la paz del Chaco
y la Segunda Guerra Mundial in RES GESTA. Instituto de Historia – Facultad de Derecho y Ciencias
Sociales del Rosario de la Pontifica Universidad Catolica Argentina, v. 35, en./dic. 1996, p. 47.
87
- LAFAYETTE SILVA para MACEDO SOARES, ofício 40, confidencial, Assunção, 27.3.1936. AEBA,
“Correspondência Confidencial Expedida – 1935-1938”
22
em 26.12.1936, convênio para a criação de comissão mista para estreitar as relações entre
os dois países e, em 17 de setembro de 1937, firmou-se uma convenção preliminar para o
estudo do traçado da ferrovia ligando a Argentina à Bolívia.88 A reorientação da política
externa boliviana logo produziu seus frutos. Assim, quando Juan Isidro Ramírez, delegado
paraguaio na Conferência de Paz, se queixou de que os demais delegados estavam sendo
duros com seu país, Saavedra Lamas respondeu que o Paraguai poderia facilitar a situação
se adotasse postura mais conciliatória.89
No Paraguai, Rafael Franco foi deposto por militares liberais que designaram, em
agosto de 1937, o experiente político liberal Félix Paiva como Presidente Provisório (1937-
1939). O novo Ministro das Relações Exteriores, Cecílio Báez, classificou de
“exibicionista” a política externa da Argentina, responsabilizando o “egoísmo” desse país
88
- Alberto OSTRIA GUTIÉRREZ, op. cit., p. 269; 274
ESCOBARI CUSICANQUI, Jorge. Historia Diplomatica de Bolivia. La Paz: Consejo Nacional de Edu-
cación Superior, tomo 2º, 1978, p. 226-227.
89
- ROUT, Leslie B. Politics of the Chaco Peace Conference 1935-1939. Austin: University of Texas Press,
1970, p. 186.
90
- Alberto OSTRIA GUTIÉRREZ, op. cit., p. 117;165.
91
- Id., ibid., p. 124;160.
TEIXEIRA SOARES, História da Formação das Fronteiras do Brasil. Rio de Janeiro: Conselho Federal
de Cultura, 1972, p. 248-249.
23
92
- CARVALHO SILVA para PIMENTEL BRANDÃO, ofício 92, reservado, Assunção, 11.9.1937. AEBA,
“Correspondência Confidencial Expedida (1935-1938)”.
93
- Idem, of. 152, confidencial, Assunção, 24.12.1937. Ibidem.
94
- Ministério das Relações Exteriores, Telegrama circular 1139, Rio de Janeiro, 15.8.1937. AEBA, “Livro de
Registro – Telegramas 2-6-36/30.12.38”, v. 7.
95
- Cordell HULL, Memoirs, p. 497.
Oswaldo ARANHA escreveu a Getúlio VARGAS, em 16.12.1936, que teve fortes atritos com Saavedra
Lamas, a quem classificou de “desequilibrado perigoso, que precisa de camisa-de-força, pois é capaz de
arrastar seu país às maiores loucuras.” in Stanley HILTON, op. cit., p. 246.
Macedo Soares deixou o Itamaraty em novembro de 1936, para candidatar-se ao governo de São Paulo. O
novo Chanceler foi o experiente Mario Pimentel Brandão, que ocupou o cargo até março de 1938.
96
- DORATIOTO, Francisco Fernando Monteoliva. Mediterraneidade e política externa: o caso paraguaio
in ALMEIDA, Jaime de (org.). Caminhos da História da América no Brasil; tendências e contornos
de um campo historiográfico. Brasília: ANPHLAC/UnB, 1998, p. 480-482.
24
97
- León BIBER, op. cit., p. 26-27.
98
- Higino ARBO para Félix PAIVA, “particular – confidencial”, Buenos Aires, 2.10.1937 in PAIVA
ALCORTA, Félix. PAZ DEL CHACO. Asunción: El Lector, 1996, p. 45.
Félix PAIVA para Higino ARBO, “particular – confidencial”, Asunción, 8.10.1937 in idem, ibidem, p. 47.
99
- Getúlio VARGAS, op. cit., v II, p. 108.
Antes de retirar-se, Saavedra Lamas queria que fosse realizada um sessão especial da Conferência para
homenageá-lo, o que não ocorreu devido à oposição dos delegados brasileiro e norte-americano.
Gerónimo ZUBIZARRETA, Presidente da Delegação paraguaia na Conferência, para Félix PAIVA,
“particular y confidencial”, Buenos Aires, 15.2.1938 in Félix PAIVA ALCORTA, op. cit., p. 137.
100
- Leslie B. ROUT, Politics..., p. 176.
101
- Geronimo ZUBIZARRETA para Félix PAIVA, “particular”, Buenos Aires, 10.3.1938 in Félix PAIVA
ALCORTA, op. cit., p. 140.
25
parte, a crise financeira do país havia levado o Governo Félix Paiva a solicitar empréstimo
aos Estados Unidos. No Brasil, em março desse ano, Oswaldo Aranha foi nomeado
Ministro das Relações Exteriores e, no mês seguinte, recebeu o Chanceler argentino José
Maria Cantilo, igualmente recém empossado e que fazia sua primeira visita oficial ao
exterior. Ela foi um sucesso, facilitando a cooperação entre os dois países na busca da paz
no Chaco.102 Félix Paiva nomeara o General Estigarribia Embaixador em Washington e o
Departamento de Estado fez gestões junto a ele para que o Paraguai fosse mais flexível na
Conferência de Paz, de modo a concluí-la com sucesso. A diplomacia norte-americana
tinha um pedido paraguaio de empréstimo junto ao Export-Import Bank como poderoso
instrumento para obter essa flexibilidade e, ainda, aumentar sua influência sobre o
Paraguai, às custas da Argentina. Não é mera coincidência que a concessão desse
empréstimo, no valor de US$ 3,5 milhões, tenha sido quase simultânea à assinatura do
Tratado de Paz entre a Bolívia e o Paraguai.103
102
- Oswaldo Aranha escreveu para Vargas que Cantilo “não é um agitado e menos um agitador como o ex-
chanceler [Saavedra Lamas].” in Helder de Silveira GORDIM, op. cit., p. 171.
A distensão nas relações argentino-brasileiras levou o General Góes Monteiro, chefe do Estado Maior
do Exército brasileiro, à transmissão do cargo de Justo para Ortiz e, ainda, a visita de Missão Militar
argentina ao Rio de Janeiro. Persistiu, porém, a preocupação do Governo brasileiro com vantajosa
situação econômica e militar da Argentina em relação ao Brasil.
SVARTMAN, Eduardo Munhoz. Diplomatas, políticos e militares; as visões do Brasil sobre a Argen-
tina durante o Estado Novo. Passo Fundo: EDIUPF, 1999, p. 122-123; 205.
103
- Leslie B. ROUT, Politics...., p. 214-217.
104
- CARVALHO E SILVA para PIMENTEL BRANDÃO, ofício 6, confidencial, Assunção, 7.1.1938.
AEBA, “Correspondência confidencial expedida (1935-1938)
105
- Higino ARBO para Félix PAIVA, “particular - reservada”, Buenos Aires, 2.6.1938 in Felix PAIVA
ALCORTA, op. cit., p. 183-185.
106
- Leslie B. ROUT, Politics..., p. 196.
107
- CARVALHO SILVA para ARANHA. ofício 69, confidencial, Assunção, 22.4.1938. AEBA, “Corres-
pondência Confidencial Expedida – 1935-1938”.
26
108
- Efraím CARDOZO, op. cit., p. 461.
109
- Efraím CARDOZO, op. cit., p. 462.
110
- Leslie B. ROUT, Politics..., p. 202; 215.
111
- Idem, ibidem, p. 204; 207.
27
*****
Paralelamente à ação militar no Chaco, houve disputa geopolítica pela liderança das
negociações em busca da paz. O objetivo da Argentina era exercer essa liderança, para
moldar o processo de paz de forma a preservar seus interesses no coração da América do
Sul. Eles consistiam em manter sua hegemonia no Paraguai, existente desde 1904, e
estendê-la ao Oriente boliviano, que se integraria à economia argentina de tal modo que as
supostas grandes reservas de petróleo dessa região não concorressem com a nascente
indústria petrolífera argentina. Não interessava à Argentina que a Bolívia vencesse a guerra,
obtendo um porto às margens do rio Paraguai, por onde escoaria a eventual produção
petrolífera boliviana para o mercado platino e, mesmo, para outros. Daí o apoio político e
militar argentino, secreto, ao Paraguai durante toda a guerra.
Para liderar o processo de paz, a Argentina teve de enfrentar idêntica aspiração por
parte dos Estados Unidos. O Chanceler Saavedra Lamas conseguiu, em persistente
atividade, evitar que o Departamento de Estado conduzisse as negociações de paz ,
manobrando para que ficassem sob tutela argentina. Essas manobras contribuiram para o
prolongamento da guerra, ao impedirem a viabilização de diferentes propostas de paz,
inclusive do Chanceler brasileiro Afrânio de Mello Franco, em 1933.
112
- O mesmo ocorreu nos anos 1865-1870; no início do século XX e, ainda, com o ABC. Nesses momentos
de aproximação, seus defensores foram sobrepujados por lideranças que, ao voltarem seus olhos para
a relação bilateral passada, centraram suas atenções exclusivamente no aspecto da rivalidade, apontando-
a como padrão inevitável nas relações futuras; tornaram, assim, realidade a própria profecia.