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AVALIAÇÃO
OS MILITARES E AS ELEIÇÕES
Rio de Janeiro
Novembro/18
O cenário político atual vive, desde a redemocratização de 1985, o seu momento
mais sensível. Uma disputa que, historicamente, foi marcada pela rivalidade PT x PSDB
e por um embate acalorado e essencialmente praxeológico, nestas eleições abre portas
para os dois lados de um extremismo marcado por ataques pessoais e uma característica
ojeriza de um lado pelo outro. Os anseios da população por uma mudança radical, que
incluem no seu pacote-anti-tudo-que-está-aí a figura do “não político”, aliados à era da
informação onde a internet, de forma muito diferente e mais amadora, destila o ódio, a
intolerância e o medo em uma sequência irrefreada de disseminação de informações
distorcidas, ampliadas e – fenômeno este totalmente novo e ainda fora de controle – das
“fake news”, transforma uma massa eleitoral, antes alheia ao processo democrático e
tratando tudo como “farinha do mesmo saco”, em verdadeiras máquinas dispostas a
disseminar, sob a tutela das máquinas partidárias e dos mais escusos interesses, a
mensagem dos candidatos que, beatificados pela seletividade da informação
compartilhada, tornam-se portadores da única e irrefutável verdade.
Com esses dados, a segurança pública mostra-se como um problema nacional que
afeta diretamente à vida da população, sobretudo, negros pobres moradores de periferia.
As elites políticas, irresponsavelmente, passaram a conviver com esses dados como se
fosse algo natural, não criando políticas públicas que diminuíssem esses dados, todavia,
muitos argumentos irresponsáveis e contraditórios no Brasil afirmam que o país é um mar
de impunidade, sendo que a realidade se mostra contrária. Segundo dados levantados pelo
Departamento Penitenciário Nacional (Infopen), em 2016, o Brasil chegou a ter 726.712
mil pessoas encarceradas, colocando o Brasil como a 3ª maior população carcerária do
mundo. (CONJUR, 2017)
Neste cenário, a figura de Jair Messias Bolsonaro, antes tratado como detentor
de um discurso extremista inalcançável ou como simples piada – aos moldes, salvo
ressalvas, de Enéas Carneiro na década de 90 – consegue o feito inimaginável de estourar
a bolha eleitoral que o manteve como deputado federal por 7 mandatos consecutivos e
abarcar uma massa eleitoral invejável de 46,03% dos votos válidos nacionais no primeiro
turno das eleições presidenciais de 2018. Utilizando-se da bandeira da segurança pública
como carro chefe de sua campanha, abusa de discursos pró-militares e de uso da força e
da violência, numa tradução do anti-petismo, como meio para a solução das mazelas do
país. A violação de princípios como tolerância mútua ou aceitação da legitimidade do
oponente, aliado à existência do que o colunista Steven Levitsky do jornal Folha de São
Paulo cita como um “jogo duro constitucional” entre os dois lados da moeda do
extremismo ideológico, do fantasma comunista que ronda o Brasil desde a década de 30
e de um possível totalitarismo PTista aos moldes Chavistas, enfraquecem o jogo
democrático e colocam em cheque valores assegurados pela constituição de 88, jogando
no ar um clima de insegurança sobre o futuro da democracia. “A impaciência com
qualquer discurso em favor dos direitos humanos, a sensação de que o “politicamente
correto” é desculpa para a inatividade do Estado e o gosto pelo fuzilamento sumário
puderam se manifestar sem nenhuma autocensura. ” (COELHO, 2018)
Alguns reflexos deste cenário já começaram a ser sentidos antes mesmo do início
das eleições, com a homenagem explicita de Bolsonaro ao general Carlos Alberto
Brilhante Ustra, comandante do Destacamento de Operações de Informação - Centro de
Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) durante o regime militar de 64 e comprovado
pela comissão da verdade como comandante do ritual de torturas a centenas de possíveis
“subversivos” do sistema e pela morte de outras dezenas.
Outro movimento feito pelo candidato durante sua pré-candidatura foi defender
a ampliação do número de membros do Supremo Tribunal Federal (STF), considerado
estratégico na manutenção de um possível mandato com vieses autoritários. “...é a página
2 do manual do ditador. Chávez fez, a ditadura militar fez, todo ditador faz. Afinal, a
Constituição é o que o Supremo disser que é: se você encher o Supremo de puxa-sacos, a
Constituição passa a ser o que você quiser. Daí em diante, você é ditador”. (BARROS,
2018).
Em 2014, em uma reportagem especial feita por Bolsonaro para o portal UOL,
o candidato explicita sua exaltação ao que ele chama de “governo militar”, sob sua ótica
instaurado de forma legal e pautado pelo anseio popular.
O impacto direto das forças armadas na chapa de Bolsonaro também pode ser
sentida na declaração do general Eduardo Villas Bôas, comandante do exército, onde após
o ataque sofrido pelo presidenciável explicitou a possibilidade de questionar a própria
legitimidade do processo democrático a partir da sensação de insegurança produzida pelo
ato extremista promovido no comício do dia 08/09. “O atentado (facada) confirma que
estamos construindo dificuldades para que o novo governo tenha estabilidade, para a sua
governabilidade, e podendo até mesmo ter sua legitimidade questionada. ”.