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Ângela de Castro Gomes, crítica à noção de populismo e sua visão sobre este conceito:
O texto de Ângela de Castro Gomes “O populismo e as ciências sociais no Brasil: notas sobre
a trajetória de um conceito” tem como objetivo principal acompanhar a trajetória do conceito
populismo na produção acadêmica da história e das ciências sociais no Brasil e nos traz num
primeiro momento, a explicação e conceitualização do populismo, que ao mesmo tempo é
utilizado e criticado pela academia. As primeiras formulações a cerca do populismo foram feitas
em meados de 1950, pelo Grupo Itatiaia, que criam o IBESP e publicam os Cadernos do nosso
tempo. Um dentre os principais problemas estudados pelo grupo, é o surgimento do populismo
na política do Brasil. Segundo Ângela, o ensaio “Que é o Ademarismo?” publicado em 1954,
não aponta a conceituação do populismo, apesar de apresentar duas condições fundamentais
para a emergência/caracterização deste fenômeno. Vale ressaltar, que nesse período, as
formulações sobre o populismo estão ligadas ao desenvolvimento nacional, onde ele é visto
como uma manifestação resultante da transição da economia agro-exportadora para a
expansão industrial urbana, onde a existência das massas é característica. O populismo no
período dos anos 40 a 60 teria duas faces indissolúveis: a econômica e a política. A partir da
década de 60, o populismo passa a ser investigado para responder quais teriam sido as razões
do Golpe de 64. Após 1968 seria publicado um volume de título: “Brasil: Tempos Modernos”,
organizado por Celso Furtado. Já em 1974, Jaguaribe lança “Brasil: crise e alternativas”, obra
destinada na primeira parte à natureza e a crise do populismo no Brasil. Em 1978 Weffort
publica “O populismo e a política Brasileira”. A autora em suas palavras, diz que “Para Weffort
simplificando muito, pode se dizer que o populismo é o produto de um longo processo de
transformação da sociedade brasileira, instaurado a partir da revolução de 1930, e que se
manifesta de uma dupla forma: como estilo de governo e como política de massas.” (p. 32)
Ainda nesse contexto, ela diz que Weffort propõe um conceito de Estado de Compromisso,
onde o líder de classe dominante passa a se confundir com o próprio Estado, e a classe
popular é subordinada. O apelo às massas seria utilizado para encontrar suporte e legitimidade
numa crise de instabilidade política, e esta relação é a “manipulação populista”. Nesse sentido,
a manipulação pode ser tanto uma forma de controle do Estado, como forma de atendimento
de suas demandas. A autora diz ainda que Weffort sugere inclusive, a substituição de
“manipulação” por “aliança”, e ainda, o Estado seria forte e ativo e as classes populares seriam
fracas e passivas. Weffort possuía um pensamento de incompatibilidade entre transformações
econômicas e mobilização social x manutenção da democracia, o que culminaria no
esgotamento do regime populista. No fim do Estado Novo o enfrentamento entre as forças do
pacto populista torna-se mais forte, na medida em que o movimento popular cresce de forma
autônoma.
Ao citar R. C. Andrade, Ângela diz que este reafirma o controle das massas pelo Estado, mas
questiona a redução do populismo a um modelo resultante de conflitos entre elites. As
pressões populares não seriam espontâneas e sim ligadas à lideranças como o PC, sendo
portanto, uma “manipulação incompleta”. Andrade tenta flexibilizar a idéia de manipulação e
reforçar a ambigüidade existente no conceito.
Após todo um debate sobre a trajetória do conceito “populismo”, a autora passa a expor a sua
idéia sobre ele. Ela seria defensora do “trabalhismo” como forma de expressão que traria uma
interpretação histórica alternativa ao populismo. Em primeiro lugar ela repensa a Revolução de
30 como instauradora de 2 tempos para o movimento operário: um “heróico” e outro “alienado”.
Em seu artigo a autora recusa a atribuição aos trabalhadores como passivos em relação à
posição política. Desta forma, em seu estudo sobre as classes trabalhadoras seria inviabilisável
utilizar o conceito “populismo”. Ângela opta por rejeitar em seu trabalho este conceito, pois
acredita que ele – o conceito populismo – deve ser atualizado em cada caso de estudo
histórico específico. Isto seria importante para repensar por exemplo, as razões da participação
dos trabalhadores na implantação do modelo de socialismo corporativo.
A grande crítica que a autora faz, seria de que a “manipulação de massas” que tem sido uma
expressão continuamente utilizada pelos estudiosos do populismo, já não pode mais ser
determinante para explicar certos contextos históricos, principalmente no que diz respeito a
formação da classe trabalhadora.