Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Elaboração e atualização:
Cb PM André Abreu de Oliveira
Baseada na Ementa de abril de 2018
2018
APRESENTAÇÃO
1
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL, Claudio Amin. Elementos de direito penal militar: Parte Geral. 2. ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 1.
2
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 51.
5
Assim, com base nos dispositivos supramencionados, surgiu o vigente Código Penal
Militar, estruturado em duas partes, assim como o Código Penal comum: Parte Geral e Parte
Especial. A primeira Parte, que vai do art. 1º ao 135, composta de um Livro Único, traz a
chamada Teoria Geral do Direito Penal Militar; enquanto que a segunda Parte, que vai do art.
136 ao 408, descreve os crimes militares em espécie. Essa última Parte Especial é subdividida
nos Livros I e II, que contêm, respectivamente, os crimes militares em tempo de paz e os
crimes militares em tempo de guerra. O art. 409 desse Código revogou expressamente o
anterior Código Penal Militar de 1944, ao passo que o seu art. 410 estabeleceu que a nova lei
penal militar entraria em vigor no dia 1º de janeiro de 1970. Ressalte-se ainda que, apesar de o
Código Penal Militar de 1969 ter sido proveniente de um decreto-lei, espécie legislativa
oriunda do Poder Executivo e não mais existente na atualidade, ele foi recepcionado com
status de lei ordinária. Desse modo, qualquer alteração que se pretenda em seu texto só poderá
ser realizada atualmente por meio de lei de competência privativa da União (art. 22, I, CF/88).
Constitucional n.º 18/98, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.8
Logo, como militares que são, estão sujeitos ao Código Penal Militar (CPM) e podem
cometer, nessa qualidade, os crimes militares ali previstos.
Assim, atualmente, para fins de aplicação da lei penal militar, são considerados
militares tanto os integrantes das Forças Armadas, independentemente de sua forma de
ingresso na corporação, quanto os membros das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros
Militares. Deve-se lembrar ainda que os alunos dos cursos de formação militar, a exemplo do
Aluno do Curso de Formação de Soldados PM, também são considerados militares, havendo
plena incidência dos dispositivos do CPM aos integrantes que se encontram nessa condição.
Esse é o entendimento já consolidado no Supremo Tribunal Federal, conforme se constata em
decisões proferidas por essa Corte (v. STF, RHC 80.122-6-SP, 2ª Turma, Rel. Min. Celso de
Mello, j. 06/06/2000, DJ 04/02/2000).
Assemelhado
Conceito de superior
Art. 24. O militar que, em virtude da função, exerce autoridade sobre outro
de igual posto ou graduação, considera-se superior, para efeito da
aplicação da lei penal militar.
8
OLIVEIRA, André Abreu de. Qualquer crime cometido por PM de serviço é crime militar? Jus Navigandi,
Teresina, ano 16, n. 2944, 24 jul. 2011. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/19608>. Acesso em: 10 maio
2014.
9
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 110.
8
Equiparação a comandante
O Código Penal Militar, em seu artigo 12, equiparou o militar na inatividade, quando
empregado na administração militar, ao militar da ativa, para fins de aplicação da lei penal
militar. Esse militar inativo, por sua vez, pode estar na condição de militar da reserva
remunerada ou de militar reformado, sendo que em ambas as situações deverá ser considerado
como se militar da ativa fosse, sempre que estiver empregado na administração militar, nas
hipóteses de caracterização de crime militar. Ressalte-se ainda que essa equiparação valerá
tanto nos casos em que ele seja sujeito ativo de um delito militar quanto nas situações em que
se encontre como sujeito passivo. Isto porque, como será examinado em momento oportuno,
existem diversas circunstâncias em que o crime militar dependerá da existência de pelo menos
um militar da ativa envolvido (como sujeito ativo ou passivo) para sua ocorrência. O
dispositivo ora analisado terá aplicação, por exemplo, na hipótese do artigo 18 do Estatuto dos
Policiais Militares do Estado da Bahia, que prevê a convocação de militar da reserva
remunerada, em caráter transitório e mediante aceitação voluntária, para emprego na
administração militar. Nesse caso, esse militar da reserva remunerada será equiparado a
militar da ativa para efeito de aplicação do Código Penal Militar.
ilustrar o assunto em tela, Lobão 10 cita o seguinte trecho de decisão proferida pelo Superior
Tribunal Militar (STM): “Militar que agride, com um tapa, superior que lhe dirigia palavras
de baixo calão, não comete o crime de violência previsto no art. 157 do CPM. A qualidade de
superior deixa de ser elemento constitutivo do crime, quando a ação do inferior é praticada em
repulsa a agressão. Inteligência do inc. II do art. 47 do CPM. A agressão referida compreende
a física e a moral. Nesse caso, o inferior foi ofendido moralmente pelo superior”.
Constituição Federal
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de
transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; (grifo
nosso).
10
LOBÃO, Célio. Comentários ao Código Penal Militar: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2011, v. 1, p.
177.
11
segundo o qual, pelo seu aspecto da reserva legal, somente a lei em sentido estrito, oriunda do
Poder Legislativo, é que poderá definir condutas como crimes.
Dessa maneira, a existência do crime militar dependerá do preenchimento de
determinados requisitos legais estabelecidos na lei penal militar, que atualmente consiste no
Código Penal Militar. Anteriormente, para se analisar se certa conduta era crime militar,
dever-se-ia verificar, antes de mais nada, se ela constava tipificada na Parte Especial do
Código Penal Militar. A denominada Parte Especial é aquela que traz o rol dos crimes em
espécie. Assim, caso a conduta examinada não tivesse previsão na Parte Especial do CPM,
descartada estava a hipótese de ocorrência de crime militar. Isso, entretanto, mudou a partir da
Lei n.º 13.491, de 13 de outubro de 2017, que alterou o CPM. Agora, a ocorrência do crime
militar não mais se restringe àqueles comportamentos definidos na Parte Especial do Código
Penal Militar. Desde a edição da Lei n.º 13.491/2017, é possível a caracterização de crime
militar a partir da prática de condutas tipificadas nas diversas leis penais comuns, tais como o
próprio Código Penal comum e de leis penais especiais comuns, ainda que não haja previsão
desses comportamentos no Código Penal Militar. Mas, para isso, deverá haver incidência de
alguma das hipóteses do artigo 9º, incisos II e III, da Parte Geral do CPM, dispositivos que
serão estudados adiante, realizando-se o chamado juízo de tipicidade indireta. Essa
complementação pela Parte Geral do CPM será necessária porque é nela que se encontrará as
circunstâncias gerais de ofensa aos bens jurídicos das instituições militares. E não se pode
esquecer que o direito penal militar só terá incidência quando restar caracterizada essa
afetação às instituições militares de alguma forma. Preenchido, portanto, esse requisito,
poderá haver crime militar mesmo que a conduta praticada somente esteja prevista em uma lei
penal comum.
Assim, poderá ocorrer, por exemplo, com o crime de porte ilegal de arma de fogo,
conduta que não tem previsão legal na Parte Especial do Código Penal Militar. Caso o policial
militar seja flagrado portando uma arma de fogo com a numeração adulterada (art. 16,
parágrafo único, IV, do Estatuto do Desarmamento), estando de serviço (hipótese prevista no
inciso II do art. 9º do CPM), responderá atualmente por crime militar. Igualmente haverá
crime militar nas situações em que o militar de serviço praticar as condutas tipificadas como
crime na Lei n.º 9.455/97 (Lei dos Crimes de Tortura) e na Lei n.º 4.898/65 (Lei dos Crimes
de Abuso de Autoridade), as quais não têm previsão no CPM. Por conta disso, após a Lei n.º
13.491/2017, não tem mais aplicação a Súmula n.º 172 do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
que tem a seguinte redação: “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime
de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”.
exemplo do delito de embriaguez em serviço (art. 202 do CPM), e, tempos depois, pratica um
crime comum, será ainda considerado réu primário.
Como se vê, a par dessas implicações práticas, faz-se necessário estabelecer uma
conceito de crime propriamente militar, uma vez que nem a Constituição Federal nem o
Código Penal comum trazem essa definição, apesar de se referirem expressamente a ele. Da
mesma maneira, o Código Penal Militar, mesmo sendo a legislação específica sobre direito
penal militar, também não conceitua crime própria ou impropriamente militar.
Diante disso, esse conceito acaba sendo extraído da doutrina e da jurisprudência
especializadas, como este idealizado por Lobão11: “Como crime propriamente militar entende-
se a infração penal, prevista no Código Penal Militar, específica e funcional do ocupante do
cargo militar, que lesiona bens ou interesses das instituições militares, no aspecto particular da
disciplina, da hierarquia, do serviço e do dever militar”. Ex.: abandono de posto (art. 195 do
CPM).
Dessa definição de crime propriamente militar, que é bastante aceita pelos estudiosos
do tema, pode-se inferir duas consequências lógicas. A primeira delas é que, sendo o crime
propriamente militar aquele específico e funcional do ocupante do cargo militar, somente
poderá ser praticado por sujeito militar. A segunda, pelo mesmo motivo, é que o crime
propriamente militar deverá necessariamente estar previsto na lei penal militar.
Por outro lado, o crime impropriamente militar é aquele que, estando previsto na lei
penal militar mas não sendo inerente à condição de militar ou estando previsto na legislação
penal comum, ofende de alguma forma as instituições militares. Dessa maneira, tanto pode ser
praticado por militar como por civil. Exemplo dessa espécie de crime militar é o furto (art.
240 do CPM) de armamento militar por civil em quartel das Forças Armadas. Perceba-se que
o furto não é um delito essencialmente militar, porém, nessa situação hipotética narrada,
acaba atingindo bens jurídicos de instituição militar, o que justifica o seu tratamento como
crime militar.
Como já dito anteriormente, determinada conduta somente será definida como crime
militar quando ela ofender de alguma forma os bens e valores jurídicos das instituições
militares. Mas como se constata essa ofensa no caso concreto? Essa é a função primordial do
artigo 9º do Código Penal Militar (CPM), dispositivo que elenca as circunstâncias genéricas
de ofensa aos bens jurídicos das instituições militares. Desse modo, para caracterização de
determinada conduta como delito militar, deverá haver a ocorrência de uma das situações
elencadas no artigo 9º do CPM, perfazendo-se o denominado juízo de tipicidade indireta.
Quanto a esse procedimento, Mirabete explica12: “Nem sempre a adequação do fato típico
penal se opera de forma direta, sendo necessário à tipicidade que se complete o tipo penal
com outras normas contidas na parte geral dos códigos. É o que se chama de tipicidade
indireta […]”. Por conseguinte, além da adequação da conduta a um fato típico previsto na lei
penal militar, ou mesmo na legislação penal comum, esse comportamento também deverá
amoldar-se a uma das hipóteses do artigo 9º do Código Penal Militar. Assim sendo, faz-se
imprescindível o estudo desse dispositivo da Parte Geral do CPM, que será analisado neste
tópico.
11
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006, p. 84.
12
MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral. 26. ed. São Paulo:
Atlas, 2010, v. 1, p. 101.
13
O inciso I traz dois casos distintos de crimes militares em tempo de paz: os delitos
tipificados no Código Penal Militar e também na lei penal comum, porém definidos
diferentemente nesta última legislação, e aqueles outros tipificados com exclusividade no
Código Penal Militar. Como exemplo dos primeiros pode ser citado o crime de incêndio
(CPM, art. 268), que igualmente é previsto na legislação penal comum (CP, art. 250), porém
de forma diversa; ao passo que, dos segundos, o crime de deserção (CPM, art. 187), que só
existe na legislação penal militar.
Em regra, nos crimes militares deste inciso I, qualquer pessoa, militar ou civil, poderá
ser sujeito ativo. Contudo, se a lei dispuser de outra forma, só haverá o crime militar para
determinado sujeito. Por exemplo, no crime militar de deserção o sujeito ativo deverá ser
necessariamente o militar, pois assim a lei exige. Já no crime militar de insubmissão (art. 183
do CPM) o sujeito ativo só poderá ser o civil, já que a lei assim também estabelece. Vale
ressaltar que, no âmbito da Justiça Militar estadual, por restrição expressamente prevista na
Constituição Federal, o civil não cometerá crime militar, restringindo a aplicação desse
dispositivo aos militares dos Estados. Essa restrição não existe na Justiça Militar da União, já
que civis podem cometer crimes militares perante as instituições militares federais.
Na definição do crime militar, o inciso II diz respeito tanto aos crimes previstos na
Parte Especial do Código Penal Militar (CPM) quanto aos delitos dispostos na legislação
14
penal comum, a exemplo do Código Penal comum ou de qualquer lei penal especial nesse
último caso. Em sua redação original, o inciso II do artigo 9º considerava como crime militar
tão somente aquelas condutas previstas na Parte Especial do CPM, ainda que esses
comportamentos tivessem idêntica definição na lei penal comum. Enquadrava-se nessa
hipótese, por exemplo, o homicídio, previsto no Código Penal Militar (art. 205) e também no
Código Penal (CP) comum (art. 121), ambos os delitos com redação idêntica. No entanto, esse
panorama mudou a partir da Lei n.º 13.491, de 13 de outubro de 2017, visto que essa lei
incluiu os crimes previstos na legislação penal comum no rol dos crimes militares. Desse
modo, para caracterização do crime militar, além das condutas tipificadas no Código Penal
comum com idêntica previsão na Parte Especial do CPM, passaram a ser considerados
também os delitos do CP comum sem correspondência no CPM e os previstos na legislação
comum especial. Exemplos destes últimos são os crimes relacionados na Lei n.º 9.455/97 (Lei
dos Crimes de Tortura), na Lei n.º 4.898/65 (Lei de Abuso de Autoridade) e na Lei n.º
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento). Em todos esses casos referidos, o que vai
caracterizar a infração como delito militar é a incidência de uma das situações das cinco
alíneas do inciso II do artigo 9º do CPM. Perceba-se que em todas as hipóteses desse inciso
ora analisado o sujeito ativo será sempre o militar da ativa, incluindo-se aqui o militar da
reserva remunerada ou reformado quando empregado na administração militar, que equipara-
se, por isso, ao militar em situação de atividade ativa (art. 12 do CPM).
Pela alínea “a”, vai ocorrer crime militar sempre que o delito, previsto na legislação
penal militar ou comum, seja praticado por um militar da ativa contra outro militar também da
ativa, ainda que isso ocorra fora de serviço. Ex.: homicídio (art. 205 do CPM) praticado por
militar da ativa contra outro militar da ativa. Saliente-se que, conforme posicionamento do
Superior Tribunal Militar (STM) e de grande parte da doutrina especializada (nesse sentido,
entre outros, Célio Lobão, Ione Cruz e Claudio Miguel e Ricardo Giuliani), haverá crime
militar ainda que os sujeitos envolvidos não saibam da condição de militar um do outro no
momento da prática do delito.
Na alínea “b”, existe a previsão de crime militar quando a conduta delituosa, tipificada
na legislação penal militar ou comum, ocorrer em local sujeito à administração militar e
contra militar da reserva, contra militar reformado ou contra civil. São exemplos de lugares
sujeito à administração militar: quartéis, hospitais e colégios militares, bases comunitárias de
segurança (BCS), unidades e postos policiais-militares, ainda que instalados em edificações
particulares locadas pela instituição militar. Nesse ponto, vale lembrar que a casa não será
considerada lugar sujeito à administração militar, mesmo que ela se encontre dentro de vila
militar, isto em decorrência da inviolabilidade domiciliar prevista na Constituição da
República (art. 5º, inciso XI).
Já pelo disposto na alínea “c”, haverá crime militar nas quatro hipóteses a seguir:
quando o delito for praticado por militar de serviço, ou que estiver atuando em razão da
função, ou em comissão de natureza militar ou em formatura. No primeiro caso, comete crime
militar o policial militar que, realizando policiamento ostensivo, pratica alguma conduta
prevista na Parte Especial do CPM ou na legislação penal comum. Já a segunda situação
relaciona-se ao dever legal de agir do policial militar. Exemplo dessa última hipótese é o do
policial militar que, estando fora de serviço, intervém em um roubo contra terceiro,
lesionando o infrator, configurando-se, em tese, crime militar. Por outro lado, a jurisprudência
tem entendido que não haverá crime militar quando a investida se dá contra o próprio PM,
agindo este em autodefesa. Por exemplo, quando o PM é a própria vítima do roubo e reage,
lesionando o bandido, situação na qual haverá, em tese, crime comum. Claro que nessas
situações hipotéticas o militar estará provavelmente acobertado por alguma excludente de
ilicitude. Todavia, ainda assim, é necessário que se saiba — em tese — se há crime militar ou
crime comum, até mesmo para definição da investigação a ser realizada. Se, em tese, houve
15
crime militar, deverá ser instaurado inquérito policial-militar (IPM); mas, caso seja hipótese
de crime comum, deverá ser promovido inquérito policial comum. Ainda conforme a alínea
“c”, ocorrerá crime militar quando a infração penal for praticada por militar da ativa em
comissão de natureza militar ou em formatura, ou seja, situações em que, em última análise,
também estará de serviço. Em todos esses casos, mesmo fora de lugar sujeito à administração
militar, o delito militar estará caracterizado. O sujeito passivo, por sua vez, será o militar da
reserva, o militar reformado ou o civil.
A alínea “d” prescreve que haverá crime militar quando o delito for praticado por
militar da ativa, durante o período de manobras ou exercício militar, contra militar da reserva,
militar reformado ou civil. Nessa hipótese, incluir-se-á, por exemplo, o crime praticado por
policial militar contra um civil durante a realização de uma corrida com a tropa pelas ruas da
cidade com vistas ao adestramento físico dos militares.
Segundo o descrito na alínea “e”, vai haver crime militar quando o militar da ativa
praticar a conduta delituosa contra o patrimônio sob a administração militar ou contra a ordem
administrativa militar. Ressalte-se que o patrimônio não precisa necessariamente pertencer à
administração militar, mas basta que esteja sob sua administração. Quanto à ordem
administrativa militar, lecionam Cruz e Miguel13: “A ordem administrativa militar diz respeito
às infrações que atingem a organização, existência e finalidade das Forças Armadas [e
igualmente das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares], bem como o prestígio
moral da administração militar.”
O inciso III do artigo 9º do Código Penal Militar elenca as hipóteses em que o sujeito
ativo do crime militar contra as instituições militares será o militar da reserva, ou o militar
reformado ou o civil. O dispositivo em análise dispõe que serão considerados crimes contra as
13
CRUZ; MIGUEL, 2008, p. 47.
16
Já em relação ao civil, cabe lembrar que, por disposição constitucional que será
analisada mais adiante, ele não cometerá crime militar perante às instituições militares
estaduais (Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares). Reforça esse entendimento a
Súmula de n.º 53 do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que dispõe: “Compete à Justiça
Comum Estadual processar e julgar civil acusado de prática de crime contra instituições
militares estaduais”. Assim, quando se fizer referência aqui ao civil como sujeito ativo do
crime militar, estar-se-á referindo ao cometimento de delito no âmbito das Forças Armadas,
nunca em relação às instituições militares estaduais.
A alínea “a” do inciso III traz a hipótese de crime militar quando a infração penal for
praticada por militar da reserva, por militar reformado ou por civil contra o patrimônio sob a
administração militar ou contra a ordem administrativa militar. Por exemplo, quando um civil
danifica propositadamente uma viatura do Exército. Ressalte-se, novamente, que não é
necessário que o patrimônio em questão pertença à instituição militar, bastando que ele esteja
sob administração desta. Por outro lado, se um civil danificar uma viatura da Polícia Militar,
será responsabilizado pelo cometimento de crime comum, pelos motivos já expostos
anteriormente.
Já pelo disposto na alínea “b”, haverá crime militar quando o militar da reserva, o
militar reformado ou o civil, em local sujeito à administração militar, praticar o delito contra
militar da ativa ou contra funcionário de Comando Militar (da Marinha, do Exército e ou da
Aeronáutica) ou da Justiça Militar, todos no exercício de função inerente ao seu cargo.
Na alínea “c”, há previsão de ocorrência de crime militar quando o delito for cometido
por militar da reserva, por militar reformado ou por civil contra militar em formatura, ou
durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento,
acantonamento ou manobras. Dessa maneira, existirá crime militar, por exemplo, se um
militar reformado agredir um militar da ativa em formatura, prestes a participar de desfile
militar.
A alínea “d” prevê a caracterização de crime militar quando a conduta delituosa for
praticada, mesmo que fora de local sujeito à administração militar, por militar da reserva,
militar reformado ou civil contra militar em função de natureza militar, ou desempenhando
serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária,
quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal
superior. Quando se tratar de militares das Forças Armadas, estes deverão estar
17
desempenhando suas funções típicas, pois a jurisprudência não tem considerado crime militar,
por exemplo, o delito cometido por civil contra militar do Exército, de serviço, mas atuando
no trânsito. Já no caso dos policiais militares, são consideradas atividades típicas dos militares
estaduais o policiamento ostensivo e o policiamento ostensivo de trânsito. Porém, como já
dito, os civis não cometem crime militar no âmbito das instituições militares estaduais.
ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil [...] (grifo nosso)”. Dessa
maneira, quando se tratar de crime doloso contra a vida de civil praticado por policial militar,
mesmo que o fato se dê naquelas circunstâncias previstas no artigo 9º do CPM, a competência
será da justiça comum, mais especificamente do Tribunal do Júri.
Por outro lado, o novo parágrafo segundo trouxe algumas exceções para a regra
supramencionada, mas somente com incidência em relação aos militares das instituições
militares federais. Para esses integrantes das Forças Armadas, a regra continua sendo a
competência da justiça comum quando se tratar de crimes dolosos contra a vida de civis,
porém, excepcionalmente, a competência será da Justiça Militar da União quando a ação
ocorrer em determinados contextos relacionados às funções desses militares. São exemplos
dessas exceções trazidas pela Lei n.º 13.491/2017: o crime doloso contra a vida de civil
praticado por militar federal no contexto de operações de garantia da lei e da ordem (GLO) ou
praticado por militar federal no contexto de atividade de natureza militar, entre outras
elencadas nos incisos I a III do novo § 2º do art. 9º do CPM.
Por fim, cabe ressaltar que, mesmo naquelas situações referidas de crimes dolosos
contra a vida de civis nas hipóteses do art. 9º do CPM, no âmbito da investigação policial,
esta deverá ser realizada pela autoridade de polícia judiciária militar. Com essa finalidade,
deverá ser instaurado inquérito policial-militar (IPM), que posteriormente será remetido à
Justiça Militar, sendo que esta terá a incumbência de reencaminhá-lo, se for o caso, para a
justiça comum. Isto porque, desde a alteração também promovida pela já mencionada Lei n.º
9.299/96, o Código de Processo Penal Militar, passou a dispor em seu novo § 2º do artigo 82:
“Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os
autos do inquérito policial militar à justiça comum”.
Art. 39. Não é igualmente culpado quem, para proteger direito próprio ou
de pessoa a quem está ligado por estreitas relações de parentesco ou
afeição, contra perigo certo e atual, que não provocou, nem podia de outro
modo evitar, sacrifica direito alheio, ainda quando superior ao direito
protegido, desde que não lhe era razoavelmente exigível conduta diversa.
O direito penal militar, assim como o direito penal comum, prevê as denominadas
causas excludentes de ilicitude, dentre estas o estado de necessidade. Ocorre que o direito
penal militar trata o estado de necessidade de forma diferenciada, pois nem sempre ele
excluirá a ilicitude da conduta. Da análise dos dispositivos legais acima destacados, observa-
se que o Código Penal Militar, em relação ao estado de necessidade, adotou teoria diversa
daquela utilizada no Código Penal comum. A teoria aqui acolhida foi a chamada teoria
diferenciadora, segundo a qual o estado de necessidade ora vai excluir a culpabilidade (art. 39
do CPM), ora vai excluir a ilicitude (art. 43 do CPM). Na primeira hipótese, de excludente de
19
culpabilidade (ou exculpante), o agente, para proteger direito seu ou de quem esteja ligado por
estreitas relações de parentesco ou afeição, sacrifica direito alheio de igual ou maior valor que
o direito protegido. Nesse caso, contanto que não lhe seja razoavelmente exigível outro
comportamento que não aquele nas circunstâncias concretas. Já na segunda hipótese, de
excludente de ilicitude (ou justificante), o agente, para salvaguardar direito seu ou de outrem,
sacrifica direito alheio de valor consideravelmente menor que o direito protegido. Por outro
lado, o Código Penal comum acolheu a chamada teoria unitária, segundo a qual o estado de
necessidade sempre será excludente de ilicitude.
Menores
Equiparação a maiores
Art. 51. Equiparam-se aos maiores de dezoito anos, ainda que não tenham
atingido essa idade:
a) os militares;
b) os convocados, os que se apresentam à incorporação e os que,
dispensados temporariamente desta, deixam de se apresentar, decorrido o
prazo de licenciamento;
c) os alunos de colégios ou outros estabelecimentos de ensino, sob direção
e disciplina militares, que já tenham completado dezessete anos.
De acordo com os dispositivos acima, constata-se que o Código Penal Militar de 1969
estabelecia regras diferenciadas para a inimputabilidade penal dos menores de dezoito anos,
equiparando-os, em diversas hipóteses, aos maiores de dezoito anos. Todavia, essas regras
não foram recepcionadas pela atual Constituição Federal de 1988, que dispõe, em seu artigo
228, de forma taxativa: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às
normas da legislação especial.” Logo, no direito penal militar atual, os menores de dezoito
anos, em todo e qualquer caso, são penalmente inimputáveis, tendo havido revogação tácita
daquelas disposições no CPM.
Assim, por exemplo, se um aluno do Colégio Naval, que é militar na condição de
praça especial, menor de dezoito anos, incorrer em alguma conduta tipificada como crime
militar, responderá por ato infracional. Isto porque, de acordo com o artigo 103 do Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime
ou contravenção penal”. Nesse caso, sendo apreendido em flagrante, deverá ser encaminhado
à delegacia especializada para lavratura do Auto de Apreensão em Flagrante por Ato
Infracional, nos termos do artigo 172 do ECA, estando sujeito às medidas previstas nessa
legislação específica.
20
Penas principais
As espécies de pena previstas no Código Penal Militar, que vêm elencadas em seu
artigo 55, trazem algumas particularidades em relação àquelas do Código Penal comum.
A primeira delas, a pena de morte, a mais gravosa das penas da lei penal militar, só
tem previsão em tempo de guerra e é executada por fuzilamento, conforme disposto no artigo
56 do CPM. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea “a”,
reafirmou a existência dessa espécie de pena, mantendo a excepcionalidade do caso de guerra
declarada.
Entre as penas de reclusão e de detenção, praticamente não há diferença no direito
penal militar, a não ser o fato de a primeira ser destinada aos crimes mais graves, enquanto
que a segunda é prevista para os delitos de menor gravidade. Além desse, outro ponto de
diferenciação vem no artigo 58 do CPM, segundo o qual: “O mínimo da pena de reclusão é de
1 (um) ano e o máximo de 30 (trinta) anos; o mínimo da pena de detenção é 30 (trinta) dias e
o máximo de 10 (dez) anos”. Faz-se necessário estabelecer esses valores porque,
diferentemente do Código Penal comum, o CPM nem sempre estabelece um mínimo de pena
aplicável a alguns delitos. No crime militar de furto simples (art. 240 do CPM), por exemplo,
a pena estabelecida é a de reclusão de até seis anos, sem definição de uma pena mínima no
dispositivo legal. Nesse caso, com base no disposto no supracitado artigo 58, o juiz deverá
aplicar uma pena de no mínimo um ano.
Já em relação à pena de prisão, a diferença está no rigor de seu cumprimento, que é
mais brando do que o da pena de reclusão ou detenção. É o que se conclui da redação do
artigo 59 do Código Penal Militar, que prevê:
De outro lado, a pena privativa de liberdade, quando superior a dois anos, deverá ser
cumprida em penitenciária militar e, na falta dessa, como é o caso do Estado da Bahia, em
estabelecimento prisional civil, conforme a regra do artigo 61 do CPM. Nessa última hipótese,
o recluso ou detento ficará sujeito ao regime da Lei de Execuções Penais, fazendo jus aos
benefícios e concessões previstos nessa legislação. De qualquer forma, enquanto o policial
militar conservar essa condição de militar estadual, não poderá permanecer preso em
21
Constituição Federal
primeira instância da Justiça Militar estadual podem acontecer de duas maneiras: pelo juiz de
direito do juízo militar, antigo juiz-auditor militar, de forma isolada, ou pelo Conselho de
Justiça, sob a presidência do juiz de direito do juízo militar. De qualquer forma, a Justiça
Militar estadual só é competente para julgar os militares dos estados, nunca civis.
Em relação ao Conselho de Justiça, este é composto pelo juiz de direito do juízo
militar, que agora o preside, e por quatro juízes militares, que são sorteados dentre os oficiais
das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Cada um dos cinco membros do
Conselho tem direito a um voto, não havendo prevalência entre o voto do juiz de direito e dos
demais. O juiz de direito será o primeiro a votar e em seguida os juízes militares, por ordem
inversa de hierarquia. Desse modo, se o Conselho for composto por um tenente-coronel, um
major, um capitão e um tenente, a ordem de votação será a seguinte: primeiro votará o
tenente, depois o capitão, a seguir o major e, por fim, o tenente-coronel.
Esses Conselhos de Justiça podem ser de duas espécies: Conselho Permanente de
Justiça e Conselho Especial de Justiça. O primeiro é competente para processar e julgar as
praças pelo cometimento de crime militar. Ele será composto por quatro oficiais sorteados,
que nele funcionarão como juízes militares pelo período de três meses consecutivos. Já o
segundo é competente para processar e julgar os oficiais pelo cometimento de crime militar.
Também será composto por quatro oficiais, porém estes serão sorteados para atuarem como
juízes militares em cada processo específico. Nesse caso, deverá ser observada a precedência
hierárquica dos juízes militares sobre o acusado. Ambos os conselhos de justiça serão
presididos pelo juiz de direito do juízo militar.
Por sua vez, o juiz de direito do juízo militar será competente para julgar e processar
singularmente os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos
disciplinares militares. Nessas situações, atuará sozinho, sendo que, nos demais casos, incidirá
a regra do processo e julgamento pelo Conselho de Justiça. Acerca da competência para
processar e julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares no âmbito da Justiça
Militar estadual, isto consiste em outra novidade trazida pela Emenda Constitucional n.º
45/2004. Antes disso, a Justiça Militar Estadual somente detinha competência criminal, isto é,
para processo e julgamento de delitos militares, assim como ainda acontece na Justiça Militar
da União. Desse modo, houve uma ampliação da competência na Justiça Militar Estadual, que
passou a julgar ações cíveis, como a do mandado de segurança relativo a atos disciplinares
militares. Nos demais casos, será competente para processo e julgamento o Conselho de
Justiça.
Além disso, como visto anteriormente, o novo texto constitucional trazido pela
referida EC n.º 45/2004 dispôs que os crimes dolosos contra a vida de civis serão de
competência da justiça comum, mais especificamente do Tribunal do Júri. Na verdade,
conforme também já mencionado, essa regra veio ratificar aquilo que havia sido estabelecido
no parágrafo único do artigo 9º do Código Penal Militar, inserido pela Lei n.º 9.299/96,
definindo-se a competência da justiça comum nos crimes dolosos contra a vida e cometidos
contra civil, mesmo quando a conduta se amoldasse às hipóteses de crime militar.
Por fim, a Justiça Militar estadual será constituída, em segundo grau, pelo próprio
Tribunal de Justiça ou pelo Tribunal de Justiça Militar, nos Estados que instituírem este
último. Para isso, é necessário que o efetivo de militares estaduais seja superior a vinte mil
integrantes. Atualmente, apesar de existirem Estados com efetivo superior a esse número,
como é o caso do estado da Bahia, somente três deles criaram Tribunal de Justiça Militar:
Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo. Por outro lado, como já dito, para os estados
que não instituírem o Tribunal de Justiça Militar, o Tribunal de Justiça será a segunda
instância da Justiça Militar estadual, que é o que ocorre em quase todos os estados atualmente,
inclusive na Bahia.
23
Com o advento da Lei n.º 9.099, de 26 de setembro de 1995, que instituiu os Juizados
Especiais Criminais, muito se discutiu acerca de sua aplicabilidade na Justiça Militar. O
Supremo Tribunal Federal entendia que se aplicava, por exemplo, o instituto da suspensão
condicional do processo penal, previsto no artigo 89 da Lei n.º 9.099/95, mesmo na Justiça
Militar.
Entretanto, foi promulgada a Lei n.º 9.839, de 27 de setembro de 1999, a qual
acrescentou o artigo 90-A à Lei n.º 9.099/95, com a seguinte redação: “As disposições desta
Lei não se aplicam no âmbito da Justiça Militar”. Assim sendo, atualmente, a Lei n.º 9.099/95
não se aplica à Justiça Militar, por expressa disposição legal em seu texto.
Formas qualificadas
Na lição de Loureiro Neto14, “violência em Direito Penal Militar quer dizer a violência
física (vis corporalis), consistente em tapas, empurrões, rasgar roupas, puxão de orelha,
pontapés e socos, que podem ou não provocar lesões. Há necessidade de contatos físicos
diretos ou através de instrumentos, também físicos”. No entanto, se essa violência for
praticada com emprego de arma, que pode ser uma arma própria, como um revólver, ou uma
denominada arma imprópria, a exemplo de um pedaço de pau, incidirá uma causa de aumento
de pena correspondente a um terço (art. 157, § 2º, do CPM).
A violência exigida para configuração do delito de violência contra superior, como se
vê, não implica necessariamente em lesão corporal. Logo, nem sempre será exigido o exame
pericial para prova da ação violenta praticada contra o superior, mas tão somente naqueles
casos em que, dessa violência, resultar algum tipo de lesão. Nessa última hipótese, nos termos
do § 3º do artigo 157 do CPM, a pena relativa à lesão (por exemplo, a pena do crime militar
de lesão leve, de detenção, de três meses a um ano) será somada à pena do crime de violência
contra superior. Por outro lado, se da violência resultar a morte do superior hierárquico
agredido, a pena será de reclusão, de doze a trinta anos, em uma forma qualificada do crime
em análise, conforme estabelecido no § 4º do artigo 157.
Ainda, se o crime de violência contra superior ocorrer em serviço, consoante dispõe o
§ 5º do artigo 157 do CPM, haverá aplicação de uma causa de aumento de pena de um sexto.
Sobre essa majorante, Neves e Streifinger15explicam: “Para o tipo penal, tanto faz estarem em
serviço o autor, o ofendido ou ambos, pois o fato em questão prejudicará o serviço em
qualquer dessas hipóteses, sem contar a eventual presença de outros militares, o que faria a
repercussão do evento ser maior, promovendo danos mais sensíveis à disciplina e à
autoridade". Agora, se o superior agredido for um oficial de serviço, o crime será outro, no
caso o delito de violência contra militar de serviço, previsto no artigo 158 do Código Penal
Militar, que é mais específico e possui uma pena mais gravosa. De outra parte, caso a
violência seja praticada contra superior que exerça o comando da unidade a que pertence o
agressor, incidirá uma forma qualificada do delito, com pena própria de três a nove anos de
reclusão. Essa qualificadora tem previsão no § 1º do artigo 157 do Código Penal Militar.
Por fim, consoante regra do artigo 88, inciso II, alínea a, do Código Penal Militar
(CPM), e do artigo 617, inciso II, alínea a, do Código de Processo Penal Militar (CPPM), não
haverá concessão do benefício da suspensão condicional da pena no crime de violência contra
superior. Além disso, conforme dispõe o artigo 270, parágrafo único, alínea b, parte final, do
CPPM, o indiciado ou acusado por essa infração penal militar não fará jus à liberdade
provisória. Ainda, de acordo com o artigo 97 do CPM e com o artigo 642, parágrafo único, do
CPPM, o livramento condicional somente será concedido depois de cumpridos dois terços da
pena, enquanto que, para os delitos em geral, seria necessário o cumprimento de metade da
pena pelo condenado primário.
14
LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1992, pp. 125-126.
15
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcelo. Manual de direito penal militar. 2. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 772.
25
Desrespeito a superior
16
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Direito penal e processo penal militar. Rio de Janeiro: Forense, 1986,
p. 177.
17
LOUREIRO NETO, 1992, p. 128.
26
Recusa de obediência
18
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 52.
19
NEVES; STREIFINGER, 2012, p. 1.327.
27
questão aquele que se recusa obedecer a ordem de superior, logo é delito que só pode ser
cometido por um subordinado em relação a um superior hierárquico. Todavia, convém
lembrar a regra do artigo 24 do CPM, segundo a qual poderá ser considerado superior, para
fins de aplicação da lei penal militar, aquele que, em virtude de determinada função, exerce
autoridade sobre outro militar de mesmo posto ou graduação, por exemplo, um sargento na
função de sargento-de-dia. Nessa hipótese, ainda que a ordem parta de um militar de mesmo
grau hierárquico daquele que a recebe, mas que esteja no exercício de função de comando,
poderá restar configurada a infração penal em comento. Em todo caso, o militar deverá
conhecer a condição de superior de quem emite a ordem.
Por sua vez, a ordem emanada deve consistir em assunto ou matéria de serviço, ou,
ainda, ser relativa a dever imposto em lei, regulamento ou instrução. Acerca da ordem relativa
a assunto ou matéria de serviço, conforme Loureiro Neto, “significa que ela deva ter relação
com as atribuições funcionais do militar, visando, portanto, o interesse da corporação a que
pertence e não interesses particulares. Assim, não pode ser considerado assunto ou matéria de
serviço a ordem dada por um oficial a seu subordinado no sentido de que este limpe seu
veículo”20. Também a ordem dada deve ser legal, pois, de outro modo, sendo o
descumprimento relativo a uma ordem ilegal, não haverá crime de recusa de obediência. No
entanto, se a ilegalidade da ordem não for manifesta, executando-a o subordinado, não
responderá este, mas, sim, o superior que a ordenou, isto segundo a regra do artigo 38 do
CPM. Ainda, conforme leciona o autor supracitado, a ordem deve ser pessoal, o que “significa
que deve ser dirigida a um ou mais inferiores determinados; as de caráter geral não são ordens
desta natureza e seu não cumprimento constitui transgressão disciplinar” 21.
O crime de recusa de obediência, de acordo com o disposto no artigo 88, II, alínea a,
do CPM, e no artigo 617, II, alínea a, do CPPM, impede a concessão do benefício da
suspensão condicional da pena. Do mesmo modo, pelo artigo 270, parágrafo único, alínea b,
parte final, do CPPM, o indiciado ou acusado por esse delito não terá direito à liberdade
provisória.
Por fim, vale lembrar que só haverá o delito de recusa de obediência caso o fato não
constitua outra infração penal de maior gravidade. Por exemplo, se a recusa for realizada por
dois ou mais militares reunidos, não existirá o crime em questão, mas o de motim ou, se os
militares estiverem armados, o de revolta, infrações penais estas mais graves em relação ao
delito de recusa de obediência.
Deserção
O crime de deserção é crime propriamente militar, uma vez que somente pode ser
praticado por quem detém a qualidade de militar, abrangendo os militares estaduais, no caso
policiais militares e bombeiros militares. Além disso, conforme sustentam Cruz e Miguel22,
também é crime tipicamente militar, pois, como todo delito propriamente militar, só possui
20
LOUREIRO NETO, 1992, p. 131.
21
LOUREIRO NETO, 1992, p. 131.
22
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL, Claudio Amin. Elementos de direito penal militar: Parte Geral. 2. ed. Rio
de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 24.
28
previsão legal no Código Penal Militar. O crime militar de deserção inclui-se naquelas
infrações penais militares que atentam contra o serviço militar e o dever militar, sendo estes
os bens jurídicos que se almeja tutelar com a criminalização da conduta em questão.
Conforme expõe Teixeira23, “desertar é abandonar definitivamente esse serviço
enquanto está ainda obrigado, ou fugir ao cumprimento dele por prazo que a lei presume o
abandono, ou ainda não se apresentar para prestá-lo dentro de tal prazo, ou finalmente agir
fraudulentamente para se isentar do cumprimento dos deveres decorrentes do mesmo
serviço”. Esse prazo legal em que se presume o abandono é aquele superior a oito dias, nos
termos do artigo 187 do Código Penal Militar. Dessa maneira, se o militar ausenta-se, sem
licença, da unidade em que serve, ou do lugar em que deve permanecer, por um período de até
oito dias, não comete o delito de deserção. Esse lapso de oito dias, quando ainda não há
consumação do crime de deserção, é chamado de prazo de graça. Como explica Assis24,
“prazo de graça, portanto, é o período de oito dias da ausência do militar. Antes desse prazo
não haverá desertor e sim, o ausente, a quem são aplicadas as sanções disciplinares”. Logo, se
o militar ausente apresentar-se ainda nesse período de graça, somente será responsabilizado
no âmbito administrativo disciplinar militar.
Saliente-se que, consoante dispõe o § 1º do artigo 451 do Código de Processo Penal
Militar (CPPM), a contagem dos dias de ausência do militar será iniciada a zero hora do dia
seguinte ao que for verificada a sua falta injustificada. Ao realizarem interpretação dessa regra
do CPPM, Miguel e Cruz25 explicam: “O prazo para consumação inicia-se no dia seguinte à
ausência, e não no primeiro dia útil, e completa-se no primeiro instante do nono dia, ou seja,
basta somar nove para se chegar ao momento consumativo”.
Ademais, discute-se ainda sobre a natureza do delito de deserção em relação a uma das
classificações dos crimes em geral, isto é, se seria um crime permanente ou um crime
instantâneo de efeitos permanentes. Acerca dessa classificação, Hungria26 ensina: “Não é de
confundir-se o crime permanente com o crime instantâneo de efeitos permanentes (homicídio,
furto, bigamia), pois se, no primeiro, a permanência depende da continuidade da ação ou
omissão, já o mesmo não acontece no último”.
Aceitando, pois, que a deserção é crime permanente, aplica-se a regra do artigo 244,
parágrafo único, do CPPM, segundo a qual: “nas infrações permanentes, considera-se o
agente em flagrante delito enquanto não cessar a permanência”. Sob esse ponto de vista,
enquanto perdurar a ausência do militar em tempo superior a oitos dias, estará ele em estado
de flagrância, o que autorizará a sua prisão mesmo no interior do domicílio, já que o flagrante
delito inclui-se nas exceções à inviolabilidade domiciliar (art. 5º, inciso XI, da CF/88).
De outro modo, entendendo-se que se trata de um crime instantâneo de efeitos
permanentes, passado o momento consumativo, não restará estado de flagrância. Desse modo,
não será permitida a prisão do desertor no interior de domicílio, a não ser mediante
autorização judicial e somente durante o dia. No entanto, fora do domicílio, poderá ser
empreendida a captura do desertor a qualquer momento, conforme estabelecido no artigo 452
do CPPM. Esse dispositivo legal menciona que “o termo de deserção tem o caráter de
instrução provisória e destina-se a fornecer os elementos necessários à propositura da ação
penal, sujeitando, desde logo, o desertor à prisão” (grifo nosso). O referido termo de
deserção é o documento lavrado pelo comandante da unidade, ou autoridade correspondente,
23
TEIXEIRA, Silvio Martins. Novo Código Penal Militar do Brasil: Código penal militar explicado. Rio de
Janeiro: Freitas Bastos, 1946, p. 313.
24
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar. 6. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2008, p.
380.
25
MIGUEL, Claudio Amin; CRUZ, Ione de Souza. Elementos de direito penal militar: Parte Especial. São
Paulo: Método, 2013, p.120.
26
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978, v. I, t. II, p. 44.
29
Abandono de posto
Art. 195. Abandonar, sem ordem superior, o posto ou lugar de serviço que
lhe tenha sido designado, ou o serviço que lhe cumpria, antes de terminá-
lo:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
O artigo 195 do CPM incrimina o abandono de posto, crime propriamente militar, que
se perfaz quando o militar, sem ordem superior, deixa o posto ou lugar de serviço para o qual
havia sido designado ou o serviço que lhe competia, antes de terminá-lo. Na lição de Neves e
de Streifinger27, “[…] no abandono de posto ou de lugar de serviço, há sempre uma área
geográfica delimitada, com menor (posto) ou maior (lugar de serviço) amplitude. Pode
ocorrer, todavia, que a atividade desempenhada pelo militar não tenha uma delimitação
espacial ou, se o tiver, essa delimitação não é tão importante para o desempenho da função
confiada ao militar”. Por exemplo, quando o PM é escalado na guarda do quartel, esta
consiste em um posto; já quando é designado para o policiamento ostensivo a pé em uma
determinada rua, esta constitui o seu lugar de serviço; por seu turno, quando assume a função
de rondante, esta missão compõe o serviço. Assim sendo, três são as situações em que existirá
o crime de abandono de posto: quando o militar deixar o posto, o lugar de serviço ou o
serviço propriamente dito.
Vale lembrar que, em relação ao serviço para o qual o militar tinha sido designado,
conforme ensina Chaves Júnior28, “entende-se por serviço qualquer um que se enquadre nas
atribuições do agente, não só as peculiares da profissão de militar, como também as de outra
natureza, indispensáveis ou necessárias à tropa, tais como preparo de alimentação, serviço de
limpeza, burocrático etc.”. Ressalte-se ainda que, por ser um crime de perigo abstrato, o delito
de abandono de posto não exige a ocorrência de qualquer risco concreto de dano ocasionado
pelo abandono, havendo na própria conduta uma presunção desse perigo.
De outro lado, não há necessidade de um grande lapso temporal fora do posto, lugar
ou serviço para se configurar o delito em comento. É o que ensina Badaró 29: “Na
caracterização do crime de abandono de posto basta a ausência momentânea, não autorizada
27
NEVES, Cícero Robson Coimbra; STREIFINGER, Marcelo. Apontamentos de direito penal militar: parte
especial. São Paulo: Saraiva, 2008, v. 2, p. 305.
28
CHAVES JÚNIOR, 1986, p. 21.
29
BADARÓ, Ramagem. Comentários ao Código Penal Militar de 1969. São Paulo: Juriscredi, 1972, v. 2, p. 64.
30
ou não justificada do militar em lugar ou ocasião em que deveria estar presente, por dever
militar e em razão de ordem de serviço” (grifo do autor).
Embriaguez em serviço
Dormir em serviço
30
NEVES; STREIFINGER, 2008, v. 2, p. 333.
31
Modalidades culposas
Art. 266. Se o crime dos arts. 262, 263, 264 e 265 é culposo, a pena é de
detenção de seis meses a dois anos; ou, se o agente é oficial, suspensão do
exercício do posto de um a três anos, ou reforma; se resulta lesão corporal
ou morte, aplica-se também a pena cominada ao crime culposo contra a
pessoa, podendo ainda, se o agente é oficial, ser imposta a pena de
reforma.
Infelizmente, tem sido cada vez mais comum a perda ou extravio de arma de fogo
pertencente à Corporação por parte de policiais militares. A grande maioria dessas ocorrências
deve-se a situações de caso fortuito ou força maior, nas quais o PM não tem culpa alguma, ou
31
NEVES; STREIFINGER, p. 337.
32
NEVES; STREIFINGER, loc. cit.
32
a circunstâncias em que o policial militar atuou com culpa, ou seja, com imprudência,
negligência ou imperícia. Acontece que, nessa última hipótese, em que restar comprovada a
culpa do PM, ele responderá pelo crime de desaparecimento, consunção ou extravio, em sua
modalidade culposa (art. 265 c/c art. 266, ambos do CPM). Nesse sentido, é o teor decisão
judicial citada por Assis33 a seguir:
Peculato
Peculato culposo
33
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar. 6. ed. Curitiba: Juruá, 2008, p. 596.
33
O crime de peculato está previsto tanto no Código Penal comum quanto no Código
Penal Militar, sendo este último um crime impropriamente militar. Tendo previsão em ambas
as legislações, o que irá determinar a sua caracterização como delito militar são as regras do
artigo 9º do CPM, já estudadas anteriormente. Desse modo, o policial militar que, estando de
serviço, incorrer nas condutas descritas no crime de peculato, que serão vistas a seguir,
cometerá crime militar do artigo 303 do CPM, e não o crime do artigo 312 do CP, isto com
base no artigo 9º, inciso II, alínea c, do CPM. Predomina, nesse caso, a especialidade do
direito penal militar, afastando a incidência da norma penal de conduta idêntica do Código
Penal comum.
Vale dizer que o delito em questão tem como sujeito ativo tanto o militar quanto o
funcionário civil da Administração Militar, porém, como o civil não comete crime militar na
esfera militar estadual, só será feita referência ao militar.
O caput do artigo 303 traz duas espécies de peculato: o peculato apropriação e o
peculato desvio. O primeiro, consiste na apropriação de dinheiro, valor ou qualquer outro bem
móvel, público ou particular, de que o militar tenha a posse ou detenção por conta do cargo
que exerce, em proveito próprio ou alheio. Ex.: um policial militar, servindo na sala de meios
da unidade policial-militar, se apropria de alguns cartuchos de que tem a posse em razão dessa
função.
Nessa hipótese, comete o crime de peculato apropriação. Já no segundo caso, o militar,
nas mesmas condições da modalidade anterior, ao invés de apropriar-se, desvia o dinheiro,
valor ou qualquer outro bem móvel. Em qualquer uma das modalidades, a pena é de três a
quinze anos de reclusão. Além disso, caso o valor do objeto apropriado ou desviado
indevidamente seja superior a vinte salários mínimos, incidirá uma causa de aumento de pena
de um terço, conforme disposição expressa no § 1º do artigo 303 do CPM.
Como exposto acima, o bem apropriado ou desviado pode ser público ou particular,
desde que esteja na posse do militar em razão do cargo. É a situação descrita na seguinte
decisão judicial, trazida por Assis 34: “Ementa: Peculato. Configuração. Comete o crime de
peculato policial militar que se apropria de arma apreendida em virtude de detenção de civis
que praticavam roubo contra transeuntes. Caracterizado, na situação, infidelidade contra a
Administração Militar. Unânime. (TJM/SP — Ap. Crim. 4.271/96 — Rel. Juiz Lourival da
Costa Ramos — J. em 10.02.1998 — Ementário de Jurisprudência 1994-1997)”.
Agora, se o militar, não tendo a posse ou detenção do dinheiro, valor ou bem, o
subtrai, ou coopera para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, utilizando-se da
facilidade proporcionada por sua qualidade de militar, comete o crime de peculato furto,
previsto no § 2º do artigo 303 do CPM. De igual modo, a pena será de três a quinze anos de
reclusão. Exemplo dessa conduta é a do policial militar que, aproveitando-se do livre acesso à
seções da unidade policial-militar em que serve, subtrai algum objeto ali utilizado.
Por outro lado, se o policial militar contribuir culposamente, por exemplo, por
negligência, esquecendo a porta da seção que trabalha aberta, permitindo, assim, que alguém
subtraia ou desvie o dinheiro, valor ou bem, ou dele se aproprie, cometerá o delito de peculato
culposo. Essa infração penal está elencada no § 3º do artigo 303 e tem pena prevista de três
meses a um ano de detenção.
34
ASSIS, 2008, p. 663.
34
Concussão
Corrupção passiva
Aumento de pena
Diminuição de pena
35
ASSIS, 2008, p. 675.
35
qualquer manifestação do PM, oferecer a este uma quantia, para que não seja autuado por ele,
caso o PM receba essa vantagem, incorrerá no delito de corrupção passiva. Agora, se o
policial militar solicitar a vantagem indevida, não cometerá o crime do artigo 308 do CPM,
mas, sim, o crime de corrupção passiva prevista no artigo 317 do Código Penal comum. Isto
porque, diferentemente desse delito correspondente na lei penal comum, a descrição típica do
crime militar de corrupção passiva não traz a conduta de solicitar, mas tão somente a de
receber e a de aceitar promessa de vantagem indevida. De qualquer forma, se o militar
praticar essa conduta do artigo 317 do Código Penal comum durante o serviço policial-militar,
também haverá caracterização de crime militar pela nova regra do inciso II do artigo do CPM,
após alteração pela Lei n.º 13.491/2017.
Além disso, na corrupção passiva, existe a previsão de uma causa de aumento de pena
em um terço no caso de o agente retardar ou deixar de praticar qualquer ato de ofício ou
praticá-lo infringindo dever funcional, por conta da vantagem ou da promessa de seu
recebimento. Essa majorante encontra-se prevista no § 1º do artigo 308 do Código Penal
Militar. Já o § 2º do artigo 308 do CPM traz a denominada corrupção passiva privilegiada.
Nesta, o militar pratica, deixa de praticar ou retarda o ato de ofício com infração de dever
funcional, cedendo a pedido ou influência de outra pessoa, e não em consequência da
vantagem ou promessa. Esse será o caso, por exemplo, do policial militar que, atendendo a
pedido de um colega seu, libera um condutor de veículo que não tinha habilitação para dirigir
e havia sido flagrado por ele em uma operação PM.
Prevaricação
36
ASSIS, 2008, p. 704.
36
37
COSTA, Alexandre Henriques da. Manual prático dos atos de polícia judiciária militar. São Paulo:
Suprema Cultura, 2004, p. 38.
37
Infração permanente
Os dois primeiros casos, daquele que está cometendo o delito e daquele que acabou de
cometê-lo, são chamados pelos autores de flagrante próprio ou propriamente dito. Na primeira
situação, o agente é surpreendido ainda na execução do crime, por exemplo, efetuando
disparos contra a vítima. Já na segunda, o delito acabou de ser consumado, como na hipótese
em que o sujeito descarregou completamente sua arma, atirando contra a vítima.
A terceira situação, quando alguém é perseguido logo após o fato delituoso em
situação que faça acreditar ser ele o seu autor, é denominada de flagrante impróprio ou quase
flagrante. Aqui, conforme lecionam Távora e Alencar38, “a crença popular de que é de 24
horas o prazo entre a prática do crime e a prisão em flagrante não tem o menor sentido, eis
que, não existe um limite temporal para o encerramento da perseguição”.
A última hipótese, daquele que é encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos,
material ou papéis que façam presumir a sua participação no fato delituoso, é conhecida como
flagrante presumido ou ficto. É o caso, por exemplo, do indivíduo que é achado, logo depois
de um homicídio, nas proximidades deste, tentando esconder uma faca e bastante sujo de
sangue.
Por fim, o parágrafo único do artigo 244 do Código de Processo Penal Militar trata da
prisão em flagrante nos chamados crimes permanentes. Nestes, consoante o dispositivo, o
estado de flagrância prolonga-se enquanto não for cessada a permanência do delito, sendo
autorizada a prisão em todo esse período. São crimes permanentes, por exemplo, o sequestro e
cárcere privado, a posse ilegal de arma de fogo, algumas condutas do tráfico de drogas, entre
outros.
Lavratura do auto
Designação de escrivão
Quando o auto for presidido por autoridade militar, ou seja, nos casos de prisão em
flagrante por crime militar, já que nos crimes comuns a autoridade competente será o
delegado de polícia, aquela autoridade militar designará um escrivão. Segundo as regras do §
4º do artigo 245 do CPPM, no caso específico da PMBA, se o indiciado for oficial, deverá ser
designado, para exercer as funções de escrivão no APFD, um capitão PM ou um 1º tenente
PM. Por outro lado, sendo o indiciado praça ou praça especial, a designação recairá em um
subtenente PM ou em um sargento PM.
Como expõe Saraiva39, o “escrivão é o responsável pela confecção do auto de prisão
em flagrante, exercendo, por conseguinte, destacada função em serviço da persecutio
criminis”. Assim, o subtenente PM ou o sargento PM, quando no exercício das funções de
escrivão na lavratura do auto de prisão em flagrante, deverá elaborar as peças que o
compõem, seguindo as orientações do presidente do APFD.
Finalidade do inquérito
Art. 9º. O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos
termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de
instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos
necessários à propositura da ação penal.
39
SARAIVA, Alexandre José de Barros Leal. Inquérito policial e auto de prisão em flagrante nos crimes
militares. São Paulo: Atlas, 1999, p. 74.
40
Ibid., p. 14.
39
um crime militar, a fim de que o Ministério Público Militar possa exercer a ação penal”.
Observa-se, pois, que o destinatário final do inquérito policial-militar será o promotor de
justiça que atua na Justiça Militar, o qual se valerá do que ali foi apurado para intentar a ação
penal militar, ainda que, para propositura desta, não seja indispensável o IPM.
Nos termos do artigo 20 do CPPM, o prazo para conclusão do inquérito policial-
militar será de 40 dias (contados da data se sua instauração pela autoridade de polícia
judiciária militar), prorrogáveis por mais 20 dias, caso o indiciado esteja solto. Por outro lado,
se o indiciado estiver preso, o prazo do IPM será de 20 dias, contados da efetivação da prisão,
não havendo prorrogação nessa última hipótese.
Vale ainda ressaltar que, como o inquérito policial militar tem caráter de instrução
provisória, ou seja, “seu conteúdo não é suficiente para a condenação do indiciado” 41, não há
que se falar em réu ou acusado nesta fase de sua instauração, havendo, sim, investigado ou
indiciado.
O artigo 10 do CPPM elenca, em suas alíneas, as situações em que se iniciará o
inquérito policial-militar, sendo que, em todas elas, a instauração propriamente dita ocorrerá a
partir de Portaria do Comandante. Uma dessas hipóteses, a da alínea f, prevê a instauração de
IPM quando, de sindicância feita em âmbito de jurisdição militar, resultar indício da
existência de infração penal militar. Em conformidade com esse dispositivo, o artigo 60,
inciso IV, da Lei n.º 7.990/2001 (Estatuto dos Policiais Militares do Estado da Bahia), dispõe
que da sindicância poderá resultar instauração de inquérito policial-militar.
Acerca desse assunto, Saraiva 42 chama a atenção para o fato de que “não é incomum a
abertura de sindicâncias em situações em que ab initio está demonstrada a ocorrência de
crime militar. […] Destarte, cabe ao Ministério Público coibir referida ilegalidade,
promovendo a responsabilidade penal da autoridade que se absteve de praticar o ato de ofício
que lhe era exigido: instaurar o IPM”. Assim, uma coisa é a instauração de sindicância quando
somente havia indícios de transgressão disciplinar e, no decorrer desta investigação, surgirem
vestígios de cometimento de crime militar, instaurando-se, após a sua conclusão, o devido
IPM; outra situação é, já existindo indícios suficientes da ocorrência de crime militar,
instaurar-se sindicância, ao invés do adequado IPM, o que constitui ilegalidade perante o
Código de Processo Penal Militar.
41
VIOLA, João Carlos Balbino. Manual de investigação criminal militar. Belo Horizonte: Líder, 2005, p. 51.
42
SARAIVA, 1999, p. 26.
40
posteriormente será remetido à Justiça Militar, ao passo que esta terá a incumbência de
reencaminhá-lo, se for o caso, para a justiça comum. Isto porque, desde a alteração promovida
pela Lei n.º 9.299/96, o Código de Processo Penal Militar (CPPM), passou a dispor em seu
novo § 2º do artigo 82: “Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça
Militar encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum”.
Esse § 2º do artigo 82 do CPPM já teve sua constitucionalidade questionada algumas
vezes perante o Supremo Tribunal Federal. Porém, em todas elas, o STF reafirmou a
constitucionalidade desse dispositivo, legitimando, assim, a investigação dos crimes dolosos
contra a vida de civis por meio do inquérito policial-militar. No julgamento de medida liminar
na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n.º 1.494-3, por exemplo, o Supremo Tribunal
Federal assim se manifestou: “O Pleno do Supremo Tribunal Federal – vencidos os Ministros
Celso de Mello (Relator), Maurício Corrêa, Ilmar Galvão e Sepúlveda Pertence – entendeu
que a norma inscrita no art. 82, § 2º, do CPPM, na redação dada pela Lei n.º 9299/96, reveste-
se de aparente validade constitucional.” Em outra decisão, ao julgar o Recurso Extraordinário
n.º 260.404-6, assim deliberou o STF: “O Tribunal, por unanimidade, não conheceu do
Recurso Extraordinário e declarou a constitucionalidade do parágrafo único do artigo 9º do
Código Penal Militar, introduzido pela Lei n.º 9.299, de 7 de agosto de 1996.”
Assim, mesmo em casos de crimes dolosos contra a vida de civis praticados por
militares, a investigação se dará por meio de inquérito policial-militar (IPM), que, depois de
concluído, será encaminhado para a Justiça Militar Estadual. Essa Justiça especializada, por
sua vez, é que decidirá, por primeiro, se o delito contra a vida investigado é doloso ou não;
remetendo os autos do IPM para a Justiça comum se entender que se trata de crime doloso
(nesse sentido, STF, RE n.º 804.269).
REFERÊNCIAS
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar. 6. ed. rev. e atual. Curitiba:
Juruá, 2008.
______. Código de Processo Penal Militar anotado: artigos 1º ao 169. 2. ed. 3. tir. Curitiba:
Juruá, 2008. v. 1
______. Direito militar: aspectos penais, processuais penais e administrativos. 2. ed. rev. e
atual. Curitiba: Juruá, 2007.
BRASIL. Código Penal Militar, Código de Processo Penal Militar, Constituição Federal
e legislação. Organizador Ricardo Vergueiro Figueiredo. 8. ed. São Paulo: Rideel, 2010.
(Coleção de Leis Rideel).
CHAVES JÚNIOR, Edgard de Brito. Direito penal e processo penal militar. Rio de Janeiro:
Forense, 1986.
COSTA, Alexandre Henriques da. Manual prático dos atos de polícia judiciária militar.
São Paulo: Suprema Cultura, 2004.
41
COSTA, Álvaro Mayrink da. Crime militar. 2. ed. reescr. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen
Juris, 2005.
CRUZ, Ione de Souza; MIGUEL, Claudio Amin. Elementos de direito penal militar: parte
geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008.
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 20. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
HUNGRIA, Nelson. Comentários ao Código Penal. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1978. v.
I, t. II.
LOBÃO, Célio. Direito penal militar. 3. ed. atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006.
______. Comentários ao Código Penal Militar: Parte Geral. Rio de Janeiro: Forense, 2011.
v. 1
LOUREIRO NETO, José da Silva. Direito penal militar. São Paulo: Atlas, 1992.
MIRABETE, Julio Fabbrini; FABBRINI, Renato N. Manual de direito penal: parte geral.
26. ed. São Paulo: Atlas, 2010. v. 1.
OLIVEIRA, André Abreu de. Qualquer crime cometido por PM de serviço é crime militar?
Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 16, n. 2944, 24 jul. 2011. Disponível em:
<http://jus.com.br/artigos/19608>. Acesso em: 10 maio 2014.
TEIXEIRA, Silvio Martins. Novo Código Penal Militar do Brasil: Código penal militar
explicado. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1946.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5. ed. São Paulo:
Saraiva, 1994.
VIOLA, João Carlos Balbino. Manual de investigação criminal militar. Belo Horizonte:
Líder, 2005.