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BANCO DE DADOS DE SONDAGENS PARA A DESCRIÇÃO DE SOLOS –

MUNICÍPIO DE GOIÂNIA-GO: ENSAIO SOBRE AS POSSIBILIDADES DE


ANÁLISE E CORRELAÇÃO ENTRE FATORES/ELEMENTOS
FISIOGRÁFICOS
Robson Martins de Oliveira; Patrícia de Araújo Romão;
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
robson10@geografia.grad.ufg.br; patricia1@iesa.ufg.br

EIXO TEMÁTICO: RECURSOS NATURAIS, SUSTENTABILIDADE E APROPRIAÇÃO DO


ESPAÇO.

Introdução

As definições do que vem a ser o solo são muito amplas, por este ser objeto de análise sob
diferentes perspectivas (agricultura, engenharia, etc.). Para a EMBRAPA - Empresa Brasileira de
Pesquisas Agropecuárias (1999), o solo é uma coleção de corpos naturais, constituídos por partes
sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais, dinâmicos, formados por materiais minerais e orgânicos,
que ocupam a maior parte do manto superficial das extensões continentais do nosso planeta, contém
matéria viva e podem ser vegetados na natureza, onde ocorrem. Nessa mesma linha, Bertoni &
Lombardi Neto (1999), definem o solo como a coleção de corpos naturais ocorrendo na superfície da
terra, contendo matéria viva e suportando ou sendo capaz de suportar plantas.
Para Larach & Palmieri (1996), o solo é um conjunto de corpos naturais tridimensionais,
resultantes da ação integrada do clima e organismos sobre o material de origem, condicionados pelo
relevo em diferentes períodos de tempo, o qual apresenta características que constituem a expressão
dos processos e dos mecanismos dominantes na sua formação.
No contexto urbano, o comportamento do solo, frente às modificações que lhe foram
impostas pelas grandes obras, pela retirada da cobertura vegetal, que tiveram como resultado
principalmente as erosões, fez com que o mesmo se tornasse objeto de estudos de um número cada vez
maior de pesquisadores. O estudo do solo, no contexto urbano, cresce no Brasil a partir das décadas de
1970, 1980, quanto o país passa ser predominantemente urbano. A população, que até então estava
localizada no campo, migra para as cidades, num processo que ficou conhecido como “êxodo rural”.
Assim surgiram as primeiras grandes cidades brasileiras, a maioria delas sem nenhum planejamento
que minimizasse os impactos desse crescimento acelerado.
Diante da crescente impermeabilização do solo pelo processo de urbanização das grandes
cidades, faltam exposições naturais dos perfis de solo, dificultando seu conhecimento e sua
caracterização. Guerra & Cunha (1998), ressaltam que os crescentes e rápidos processos de
urbanização nas grandes cidades tornam urgente um aumento na quantidade e na qualidade dos estudos
realizados, visando um melhor entendimento do solo urbano e sua dinâmica.
A cidade de Goiânia - GO foi criada para ser a nova capital do estado, tendo sido previamente
planejada, a partir de 1933, primeiro pelo arquiteto Atílio Correia Lima e em seguida pelo engenheiro
Armando Augusto de Godóy. Em 1950, a população do município já contava com 50.000 mil
habitantes. Em 1980, o número de habitantes já atinge 717.519 habitantes. Chega em 2008, a uma
população de 1.265.394 habitantes (IBGE, 2009).
O crescimento acelerado da cidade acarretou a impermeabilização de grandes áreas localizadas
na parte mais central da capital e setores adjacentes. Surgem também processos erosivos, poluição dos
mananciais hídricos, ocupação de áreas de risco, entre outros problemas típicos das grandes cidades
brasileiras.
Partindo desses pressupostos, objetivou-se com o presente trabalho atualizar o banco de dados
de sondagens geotécnicas relativas aos solos do município de Goiânia-GO, iniciado por Romão
(2006), principalmente no que se refere aos atributos macroscópicos do mesmo, como textura, cor e
consistência. A elaboração de um banco de dados, onde os atributos do solo sejam armazenados, após
o seu georreferenciamento, pode contribuir para o entendimento desse recurso natural e também de
problemas urbanos como as erosões.

Materiais e Métodos
O presente trabalho iniciou-se com o georreferenciamento das amostras (boletins de
sondagens), realizadas no município. Foram georreferenciados 60(sessenta) boletins de sondagens à
percussão (ensaio de penetração padronizado – SPT). Empresas de engenharia da região
disponibilizaram informações para o trabalho iniciado por ROMÂO (2006).
Os furos foram georreferenciados utilizando-se o aplicativo SIGGO v2/COMDATA (1999).
Utilizou-se a base cartográfica digital, também disponibilizada pela COMDATA, o MUBDG, v.21.
Após o georreferenciamento dos furos, fez-se a disposição dos dados contidos nesses boletins em um
programa de banco de dados. O programa utilizado foi o Access 2003, da Microsoft. Esse programa foi
utilizado por ser de fácil manuseio, permitindo a realização de consultas aos dados coletados e
inseridos, permitindo a busca de informações de maneira simplificada. Para facilitar a inserção dos
dados no programa, foi utilizado um formulário (figura 1), elaborado por Romão (2006), idealizado a
partir de Talamini Neto & Celestino (2001). A vantagem de se utilizar esse formulário é a agilidade
para a entrada de dados. Neste formulário, foram inseridos os dados relativos à localização geográfica
de cada furo, a data da sondagem, a profundidade do nível d’água, o limite da sondagem, atributos de
cada camada de solo naquele local, como a cor, a consistência, a textura, entre outros.
Figura 1: Formulário utilizado para a entrada dos dados no banco de dados de sondagens SPT, relativo
às descrições do solo, contidas nos boletins de sondagens (Elaborado por Romão, 2006).

Resultados e Discussões
Prevaleceram nas amostras coletas as texturas argilosas e argilo-siltosa, sendo comuns a
presença de micas em profundidades maiores que 7(sete)metros, evidenciando as rochas xistosas do
substrato, que provavelmente deram origem a esses tipos de solos. . A predominância da fração argila
evidencia o avançado intemperismo dos latossolos. Embora a camada superficial se destaque pela
preponderância da fração argila, que é caracterizada por sua força de coesão e adesão, a idade e o
intemperismo avançado dos latossolos alteram essas propriedades da argila, que para muitos autores
passam a se comportar como silte e até mesmo como areia fina. Quando desprovidos de cobertura
vegetal, esses solos mesmo com elevados teores de argila, são facilmente erodíveis.
Predominaram nas amostras as colorações vermelha e marrom na primeira camada de solo
(entre 1 (um) e 3(três) metros de profundidade), aproximadamente. Em pedologia, a cor é dos
principais fatores utilizados para a distinção dos horizontes de um perfil de solo e depende de vários
fatores, como o material de origem, o teor de matéria orgânica e ferro, as condições de drenagem, entre
outros. Notou-se pelas amostras dos boletins de sondagens, a influência da variação do regime
hidrológico na coloração dos horizontes. As colorações avermelhadas ou marrons são típicas de solos
bem drenados, bem desenvolvidos (caso dos latossolos). As amostras localizadas sobre relevos com
baixas declividades (entre 0 e 5%), apresentaram horizontes superficiais vermelhos e também descritos
como marrons. Solos de coloração vermelha podem indicar a presença de grandes quantidades de
óxidos de ferro (hematita).
A consistência do solo variou de mole a muito mole. Nas amostras coletadas entre os meses de
chuvosos, as consistências apresentaram-se média, mole, e até mesmo muito mole, mesmo em
profundidades mais consideráveis (até 7 metros). Essa mudança se deve a variação no nível d’água.

Considerações Finais
O entendimento do solo e de seus atributos se torna indispensável para o planejamento urbano,
principalmente quando são cada vez mais freqüentes problemas como as erosões, ocupação de áreas de
risco ambiental, alagamentos, entre outros. A disposição dos atributos do solo de forma detalhada, num
banco de dados georreferenciados, onde se torna possível a sua espacialização em programas de SIG`s,
pode auxiliar os diversos profissionais que lidam com o estudo do solo, no entendimento da dinâmica
do mesmo.
Por todas as possibilidades de análises que os atributos do solo oferecem, o estudo e
estruturação dos mesmos em um banco de dados adquirem uma capital importância para o
entendimento do mesmo e dos processos a eles relacionados. Assim, Espera-se que esse banco de
dados possa contribuir para a abordagem de problemas urbanos, principalmente os processos erosivos
Como sugestões para futuros trabalhos têm-se a continuidade na atualização do banco de dados,
pois quanto maior o banco de dados, mais confiável será. Quanto mais próximas as amostras
analisadas, melhor representadas serão as variações espaciais que os atributos do solo apresentam.
Sugere-se também a utilização do banco de dados, com o objetivo de correlacionar os atributos
do solo armazenados no mesmo e os processos erosivos que se apresentam na região. Buscar essa
correlação poderia auxiliar no entendimento dos processos erosivos ativos no município de Goiânia.

Referências Bibliográficas
BERTONI, J. ; FRANCISCO, L. N.: Conservação do Solo. – São Paulo: Ícone, 1999- 4ª edição.

COMDATA. Companhia Municipal de Geoprocessamento. Mapa Urbano Digital de Goiânia, v.21.


2006.
EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de classificação de solos.
Brasília: Embrapa Produção de Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 1999. 412 p.il.
GUERRA, A.J. T; CUNHA, S.B. - Geomorfologia e meio ambiente. 2. ed.- Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 1998.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. www.ibge.gov.br. Acesso em 20 de janeiro de

2009.

LARACH, J.O. I; PALMIERI, F: Pedologia e Geomorfologia. In Geomorfologia e Meio Ambiente.

MICROSOFT CORPORATION: Banco de dados. Access 2003®, Redmond, Wa, Microsoft


Corporation. CD-ROM.

ROMÃO, P. A: Modelagem de terreno com base na morfometria e em sondagens geotécnicas-


região de Goiânia- GO. Tese de Doutorado, Publicação G.TD-034/06. Departamento de Engenharia
Civil e ambiental, Universidade de Brasília, DF, 2006.166p.

TALAMINI Neto, E. & CELESTINO, T. B. Utilização de SIG e geoestatística no mapeamento


geotécnico do subsolo de Curitiba: aplicação ao planejamento de uso do espaço subterrâneo.
INFOGEO 2001: Simpósio Brasileiro de Aplicações de Informática em Geotecnia, ABMS/UFPR,
Curitiba, PR, Anais em CD, 2001.

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