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Resumo

Os efeitos do treinamento de
força sobre os fatores de risco da Introdução: Medidas não-farmacológicas,
como a atividade física, vêm sendo reco-
síndrome metabólica mendadas para prevenção e tratamento de
doenças crônicas não transmissíveis. Ob-
jetivo: Realizar revisão da literatura para
verificar os mecanismos por meio dos
Effects of resistance training over quais o treinamento de força provoca al-

metabolic syndrome risk factors terações metabólicas e celulares, agindo


positivamente sobre os fatores de risco da
síndrome metabólica. Metododologia:
Foram utilizadas as bases de dados
Medline, Scielo, Science Direct e Capes. A
busca foi restrita aos últimos 10 anos. Os
termos utilizados para pesquisa foram:
obesity, dislipidemy,hypertension, diabe-
tes mellitus, metabolic syndrome,
resistance training, weight lifting, exercise.
Resultados: O treinamento de força atua
sobre parâmetros metabólicos e celulares
promovendo efeitos positivos no controle
e na prevenção dos fatores de risco relaci-
onados à síndrome metabólica, tais como
diminuição do peso corporal, aumento da
sensibilidade à insulina, aumento da tole-
rância à glicose, diminuição dos níveis
pressóricos de repouso e melhoria do per-
fil lipídico. Conclusão: A revisão dos arti-
gos científicos apresentados fornece dados
que permitem concluir que o treinamento
de força pode contribuir de forma efetiva
na diminuição dos fatores de risco relaci-
onados à síndrome metabólica.

Palavras-chave
Palavras-chave: Exercício físico. Síndrome
metabólica. Obesidade. Fatores de risco.

Ana Paula Muniz Guttierres1


João Carlos Bouzas Marins2
1
Departamento de Nutrição e Saúde do Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Viçosa
2
Departamento de Educação Física do Centro de Ciências Biológicas da
Universidade Federal de Viçosa

Correspondência: Ana Paula Muniz Gutierres, Av. Antônio Guimarães Peralva, no 26,
Barbosa Lage, Juiz de Fora, MG CEP 36.085-170. E-mail: paulagutti@yahoo.com.br

Rev Bras Epidemiol


147 2008; 11(1): 147-58
Abstract Introdução

Introduction: Non-pharmacological mea- A obesidade, segundo a Organização


sures, such as practicing physical activity, Mundial de Saúde (OMS)1, é considerada
have been recommended for prevention um problema de saúde pública que leva a
and treatment of non-transmissible chronic sérias conseqüências sociais, psicológicas
diseases. Objective: To review the mecha- e físicas, sendo associada ao maior risco
nisms by which resistance training results morbimortalidade por enfermidades crô-
in metabolic and cellular alterations that act nicas não-transmissíveis. A ocorrência de
positively on metabolic syndrome risk fac- três ou mais morbidades é conceituada
tors. Method: The search was limited to the como síndrome metabólica, que é carac-
past 10 years, using the Medline, Scielo, terizada pelo grupamento de fatores de ris-
Science direct and Capes databases. The co cardiovascular, como hipertensão arte-
terms used in the search were: obesity, rial, resistência insulínica, hiperinsu-
dyslipidemia, hypertension, diabetes mel- linemia, intolerância à glicose ou diabetes
litus, metabolic syndrome, resistance train- mellitus tipo 2, obesidade central e disli-
ing, weight lifting, and exercise. Results: pidemia 2. O grupamento da obesidade
Resistance training affects metabolic and tóroco-lombar, tolerância à glicose dimi-
cellular parameters. It may have positive nuída, hipertrigliceridemia e hipertensão
effects on the control and prevention of tem sido denominado por certos autores
metabolic syndrome risk factors, such as deo “Quarteto Mortal”, que condiciona a
reduction of body weight, increase in insu- síndrome plurimetabólica a elevado risco
lin sensitivity, increase in glucose tolerance, cardiovascular 3. A síndrome metabólica
reduction of blood pressure levels at rest tem sido descrita como síndrome de resis-
and improvement of blood lipid profile. tência à insulina e está evidente que se tra-
Conclusion: The review gives evidence that ta do componente-chave da síndrome me-
resistance training may contribute to re- tabólica4.
duce metabolic syndrome risk factors. A obesidade gera resistência insulínica
em nível pós-receptor. Isto provoca hiper-
Key Words: Exercise. Metabolic syndrome. insulinemia compensadora, com sobre-
Obesity. Risk factors. estímulo nas células beta do pâncreas, po-
dendo provocar até mesmo falência destas
e também insensibilidade dos receptores
periféricos. Isto resulta, primeiramente, em
tolerância à glicose diminuída, podendo
progredir para o diabetes mellitus . A
indisponibilidade das células em utilizar a
glicose faz com que aumente a liberação de
ácidos graxos do tecido adiposo, o que esti-
mula a gliconeogênese hepática, dificultan-
do ainda mais a homeostase da glicose
sangüínea. A hiperinsulinemia resultante
também reduz a excreção de sódio pelo or-
ganismo, o que provoca expansão do volu-
me extracelular, aumentando o trabalho do
coração e do sistema cardiovascular peri-
férico. A insulina aumenta a atividade do
sistema nervoso simpático, acarretando
vasoconstrição, o que aumenta o risco
cardiovascular3.

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Medidas não-farmacológicas, como a avançados de 4-5 vezes semanais com um
atividade física, vêm sendo aplicadas aos dia de descanso no meio da semana.
pacientes com síndrome metabólica, visto Os benefícios do TF e a forma de monta-
que o sedentarismo e o baixo nível de ativi- gem do programa de treinamento para indi-
dade física têm sido considerados fatores víduos com síndrome metabólica estão lar-
de risco para a mortalidade prematura tão gamente divulgados, porém a análise das
expressivos quanto o fumo e a hipertensão modificações metabólicas e celulares
arterial3. O treinamento de força (TF), ou induzidas pelo treinamento contra-resistên-
treinamento contra resistência, vem sendo cia que provocam tais benefícios é pouco dis-
reconhecido como importante componen- cutida na literatura. Os dados disponíveis in-
te do programa de condicionamento físico dicam uma associação inversa entre a ativi-
para adultos devido à promoção de diver- dade aeróbica e o condicionamento cardio-
sos benefícios à saúde5. Há fortes indícios respiratório, com a prevalência de síndrome
de que altos níveis de força muscular po- metabólica4. Contudo, pouco se sabe sobre a
dem estar associados à diminuição da relação entre força muscular e síndrome me-
prevalência de síndrome metabólica4. tabólica. Assim, o objetivo desta revisão de li-
O Colégio Americano de Medicina do teratura foi verificar os mecanismos por meio
Esporte-ACSM6 (1998) preconiza o treina- dos quais o treinamento de força provoca al-
mento de força (TF) ou contra-resistência, terações metabólicas e celulares que podem
ou treinamento resistivo com certas res- agir positivamente sobre os fatores de risco
trições, para pessoas com hipertensão ar- da síndrome metabólica.
terial, doença vascular periférica, diabetes
mellitus, obesidade ou outras condições Metodologia
comórbidas. No caso da obesidade, defen-
de que o TF é um coadjuvante valioso no Foram revisados periódicos da base de
treinamento aeróbico. O TF promove au- dados Medline e Science Direct. A busca foi
mento da força e resistência muscular lo- restrita aos últimos 10 anos (1995-2005). A
calizada, podendo, com isso, melhorar a inclusão de alguns artigos mais antigos foi
execução das tarefas da vida diária7,8. necessária devido à relevância científica de-
Em outro posicionamento, o ACSM monstrada para a compreensão do tema.
(2002)7 preconiza o treinamento de força Para a realização da busca, utilizaram-se os
para adultos jovens a partir de uma progres- descritores “obesity”, “dislipidemy”,
são gradual. A qualidade do programa de “hypertension”, “metabolic syndrome”,
treinamento de força deve ser otimizada, “exercise”, “resistance training” e “weight
seqüenciando a execução de exercícios lifting”. Foram encontrados 6.311 artigos.
multiarticulares antes de monoarticulares, Foram selecionados, principalmente, arti-
de alta intensidade antes daqueles de me- gos com experimentos randomizados, con-
nor intensidade. Para indivíduos iniciantes, trolados e que apresentaram suas respecti-
as cargas de treinamento devem corres- vas análises estáticas adequadas à explica-
ponder a uma intensidade de 8-12 repeti- ção dos objetivos propostos por cada arti-
ções máximas (RM). Para indivíduos inter- go. Foram excluídos os artigos que apresen-
mediários e avançados a variação de repe- taram falhas metodológicas que limitavam
tições é maior de 1-12 RM de forma a interpretação os dados.
periodizada, sendo enfatizadas 1-6 RM, com
descanso médio de 3 minutos com veloci- Resultados e Discussão
dades moderadas de contração (1-2 segun-
dos na fase concêntrica e 1-2 segundos na Associação entre força muscular e
fase excêntrica da contração muscular). A síndrome metabólica
freqüência de treinamento para iniciantes
e intermediários deve ser de 2-3 vezes e para Jurca et al. (2004)4 realizaram um estu-

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do no qual um dos objetivos principais era adiposidade intra-abdominal, lipase lipo-
examinar a associação entre a força mus- protéica e sobre a imunidade de indivídu-
cular e a prevalência de síndrome meta- os obesos.
bólica. Participaram do estudo 8.570 ho-
mens, com idade de 20-75 anos. Concluiu- Treinamento de Força e Gasto Energético
se que a força muscular é independente- Total
mente associada à prevalência de síndro- O gasto energético total (GET) é com-
me metabólica. Os homens com maiores posto de três componentes: metabolismo
níveis de força tiveram uma probabilida- de repouso (MR), termogênese induzida
de 67% menor de ter síndrome metabóli- pela dieta (TID) e atividade física (AF). O
ca, comparados aos homens com meno- MR é afetado pelo sexo, idade, estado
res níveis de força. nutricional e endócrino, e pela composi-
Considerando a colocação acima, é ção corporal. A atividade física é o compo-
possível sugerir que o desenvolvimento da nente mais variável do GET, podendo ser
força muscular deve ser incluído nas re- aumentada em dez vezes em relação à taxa
comendações de atividades físicas para a metabólica de repouso10.
prevenção dos grupos de fatores de risco O TF é capaz de promover modifica-
que caracterizam a síndrome metabólica. ções agudas e crônicas no GET. As modifi-
A seguir, será feita uma análise dos efeitos cações agudas são aquelas do próprio cus-
do treinamento de força sobre cada fator to energético para a realização de ativida-
que caracteriza a síndrome de resistência de e na fase de recuperação. Os efeitos crô-
insulínica. nicos são proporcionados por alterações
na taxa metabólica de repouso (TMR). O
Treinamento de força e obesidade fator altamente responsável pela modifi-
cação da TMR é o ganho de massa magra
A obesidade tem sido classificada pri- (MM). Para mensurar o GET durante o TF,
mariamente como uma desordem conse- a maior dificuldade se encontra na padro-
qüente de uma alta ingestão calórica2. Ela nização dos estudos em relação à intensi-
é proveniente de um desequilíbrio entre a dade e ao volume utilizado. Além disso, é
alta ingestão e baixo gasto energético, re- desconsiderado o momento pós-exercício,
sultando em um balanço energético posi- dificultando posterior comparação de da-
tivo 2. A obesidade pode ser classificada dos11.
como Índice de Massa Corporal (IMC) ³ 30 Segundo Thornton et al. (2002)12, du-
Kg/m 2, sendo definida funcionalmente rante este tipo de exercício gasta-se de 64
como o percentual de gordura corporal no a 534 Kcal, e parece que o volume do pro-
qual aumenta o risco de doenças9. O exer- grama de treinamento é a variável mais
cício faz aumentar o dispêndio calórico e determinante desse processo. No período
torna mais lento o ritmo de perda de mas- de recuperação, a intensidade é fator de
sa magra que ocorre quando alguém per- maior importância. De acordo com Binzen
de peso por acentuada restrição calórica9. et al. (2001)13 e Thornton et al. (2002)12, no
Os mecanismos através dos quais a força exercício contra-resistência o gasto ener-
muscular contribui para a diminuição da gético representado pelo EPOC ( excess
obesidade e de seus fatores de risco inclu- post exercise oxygen consumption) varia
em a redução na gordura abdominal, de 6 a 114 Kcal, durando de 1 a 15 horas
melhoria da concentração de triglicérides após o término da atividade.
no plasma, aumento do HDL-C (high Segundo Melby et al. (1998)14, a ativi-
density lipoprotein- colesterol) e controle dade contra-resistência pode causar mai-
glicêmico4. A partir disso, será feita uma or impacto sobre o EPOC durante o perío-
relação entre os efeitos do treinamento de do de recuperação devido a um compo-
força sobre o gasto energético total, nente curto relacionado com a restaura-

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ção dos estoques de ATP e fosfocreatina magra e a energia gasta pela própria exe-
muscular, ao restabelecimento do estoque cução da atividade, contribui para aumen-
de oxigênio sangüíneo e muscular, aos tar o GET, otimizando a perda de peso cor-
danos teciduais, ao aumento da FC e tem- poral.
peratura, à remoção de lactato e à alta ati-
vidade do sistema nervoso simpático. O Treinamento de Força e Adiposidade Intra
componente longo está relacionado à -abdominal
magnitude de ativação do metabolismo O acúmulo de gordura corporal pode
anaeróbico durante o exercício e à libera- ser o fator mais importante para predizer
ção de hormônio do crescimento e corti- o estado de saúde do indivíduo do que pro-
sona. Burleson et al.15, realizaram um es- priamente a gordura total18. Está bem es-
tudo para verificar por quanto tempo o tabelecido que o acúmulo de gordura no
EPOC se prolongava após uma atividade tronco, e especialmente no tecido adiposo
aeróbica e outra anaeróbica (TF) a 44% do intra-abdominal (TAIA), está correlacio-
VO 2 por 27 minutos. Após a atividade nado com o desenvolvimento de diabetes
aeróbica, o EPOC durou cerca de 30 minu- mellitus e doenças cardiovasculares, bem
tos e, após a atividade anaeróbica, em tor- como com a mortalidade19.
no de 90 minutos. Hunter et al. (2004) 1, em um estudo
O mecanismo de ação do TF, por meio com idosos acima de 60 anos, com dura-
do EPOC, na perda de peso corporal, en- ção de 25 semanas, verificou que o TF (10
contra-se no princípio da atividade de alta exercícios e duas séries de 10 repetições a
intensidade, na qual há maior ativação do 65-80% de 1 RM) foi capaz de promover
sistema nervoso simpático, aumentando, uma perda de peso corporal correspon-
assim, o metabolismo lipídico de repou- dente a 1,7 kg nas mulheres e 1,8 kg nos
so, mudando o substrato energético, que homens. Além disso, as mulheres foram
durante o exercício é glicogênio12. capazes de ganhar 1 kg de massa magra e
Para o controle da obesidade, a variável os homens, 2,8 kg. O TAIA das mulheres
mais importante a ser considerada é a in- diminuiu 16 cm2 e o dos homens aumen-
tensidade, visto sua importância na oxida- tou 9 cm2, e o subcutâneo feminino dimi-
ção lipídica em repouso, o que resultará em nuiu 15 cm2 e o masculino não teve altera-
melhor composição corporal, através de ção. Os resultados sugerem que há diferen-
uma melhor relação entre a massa magra e ça entre os gêneros para a perda de TAIA
a massa adiposa 14,16. Paradoxalmente, o induzido pelo TF.
ACMS6 preconiza que seja aplicado maior Treuth et al. (1998)20 realizaram um es-
volume de treinamento. Para isso é neces- tudo para determinar os efeitos do TF no
sário maior número de pesquisas para es- acúmulo de gordura corporal em garotas
tabelecer qual variável do treinamento deve pré-púberes obesas (N = 20). Iniciou-se o
ser prioritariamente enfatizada. programa de treinamento com uma carga
O TF também exerce efeito sobre a TID de 50% de 1RM, progredindo até uma exe-
como mostra o estudo de Denzer & Young cução confortável. A adiposidade abdomi-
(2003)17, no qual uma única sessão de TF nal subcutânea aumentou no grupo exer-
(2 séries de 10 repetições de 10 exercícios citado (192 para 208 cm 2), contudo a
com 40 segundos de intervalo entre as sé- adiposidade intra-abdominal não mostrou
ries) foi capaz de aumentar a TID em 73% diferenças significativas. Conclui-se que,
no grupo exercitado, em relação ao con- para garotas em fase de crescimento, o TF,
trole. Embora seja pequena a contribuição com a metodologia apresentada neste es-
da TID (33 Kj/ h) para o GET, esta deve ser tudo, não surtiu efeitos positivos para a
considerada no controle ponderal, pois, diminuição da gordura intra–abdominal e
quando combinada com os outros benefí- subcutânea.
cios do TF, como o aumento da massa

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Treinamento de Força e os níveis de sistema imunológico contra neoplasmas e
Leptina Circulante células de infecção viral. Connie et al.
A leptina é uma proteína secretada pe- (1998)23 realizaram um estudo que preten-
los adipócitos com papel regulador em deu avaliar o efeito de oito semanas de um
vários sistemas do organismo, como siste- programa de treinamento de força combi-
ma imune, respiratório e reprodutivo, bem nado com treinamento aeróbico destina-
como no balanço energético via ação do à perda de peso sobre a atividade das
hipotalâmica. Sua ação primária ocorre no células NK em mulheres obesas (N= 25),
núcleo hipotalâmico arqueado, no qual divididas em dois grupos: 12 participaram
inicia uma cascata de eventos para inibi- de um tratamento que consistia somente
ção da ingestão energética e aumento do de dieta (D) e 10 de outro grupo que con-
gasto energético. As concentrações de sistia de dieta e exercício (D+E). O exercí-
leptina são influenciadas pela adiposidade, cio aeróbico consistia na realização de 12
fatores hormonais e nutricionais 21. Sua minutos de caminhada em esteira a 40% e
concentração é diretamente proporcional mais oito minutos a 50% do VO2 máximo.
à da massa adiposa, e mudanças nesta pro- O TF era composto de uma série de 12 re-
venientes da perda de peso estão associa- petições a 40% de 1 RM, progredindo para
das ao correspondente declínio da leptina 2 séries de 12 repetições a 60% do 1 RM.
sistêmica22. Os resultados evidenciam diminuição de
Nindl et al. (2002)22 realizaram um es- 50% da NK (CD56+) no grupo D, mas sem
tudo com o objetivo de verificar se a con- alteração no grupo D+E e até aumento em
centração de leptina circulante diminuía 7 indivíduos deste grupo. Essa diferencia-
após a sessão de TF. O estudo foi realizado ção na atividade das células NK nos dois
com 10 homens com idade média de 21 ± grupos sugere que o exercício moderado
1 anos e percentual de gordura de 11%. O foi efetivo para limitar a supressão da fun-
protocolo de exercícios consistia em 50 ção das células NK provocada pela perda
séries (agachamento, supino, leg press e de peso por meio da dieta.
puxador) com 10 e 5 RM alternadas e in-
tensidade de 70 a 85% de 1RM, respectiva- Treinamento de força e diabetes
mente. O intervalo entre as séries era de melittus
90 segundos, tendo o programa de treina-
mento duração média de 123 minutos. Os O diabetes mellitus é um grupo de do-
resultados mostraram que, na primeira enças metabólicas caracterizadas por
hora após o término da atividade, a leptina hiperglicemia, que resulta em deficiência
encontrava-se com 2,22 vs 2,67 ng.ml e na secreção de insulina, na ação da insuli-
após 13 horas, 2,19 vs 265 ng.ml, exercício na ou ambas. A dieta é o ponto central no
e controle, respectivamente. Diante dos controle de peso e no diabetes mellitus
dados apresentados, conclui-se que as cé- tipo 224. Contudo, muitas vezes a diminui-
lulas gordurosas são produtoras de hormô- ção do peso pela dieta se deve à diminui-
nio e sofrem influência do TF. Parece que ção da massa magra, o que pode conse-
a energia gasta durante a atividade e no qüentemente reduzir a taxa de metabolis-
EPOC prolonga os benefícios do TF, o que mo basal24, 25.
induz uma quebra de homeostase energé- Uma estratégia relativamente nova
tica, provocando a diminuição da leptina para o combate da resistência insulínica é
circulante22. o Treinamento de Força Progressivo (TFP),
que é definido como um aumento progres-
Treinamento de Força e a Atividade das sivo da força exercida contra uma resistên-
Células Natural Killer cia, preferido quando o paciente diabéti-
A Célula Natural Killer (NK) é um tipo co sofre de ulcerações nos pés25. Fraqueza
de linfócito que tem importante papel no muscular, diminuição da massa magra,

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diminuição da atividade da enzima glico- Treinamento de Força, Sensibilidade a
gênio sintetase e mudanças no tipo de fi- Insulina e Homeostase da Glicose
bra do tipo 2 para tipo1 são relatadas pre- Sanguínea
ceder a resistência insulínica, intolerância A perda da sensibilidade à insulina, que
a glicose e DM226. O TF pode agir sobre ocorre com a idade, se deve à diminuição
essas variáveis, amenizando os sintomas da atividade física e ao aumento da obesi-
negativos provocados pela DM2. dade central. Os exercícios físicos resul-
O ACSM 24 recomenda o TFP duas ve- tam, preferencialmente, em perda de gor-
zes por semana, 8-10 exercícios envolven- dura dessa região central, e parece que a
do grupamentos musculares grandes, de perda de gordura visceral está intimamen-
no mínimo uma série de 10-15 repetições te correlacionada com o aumento da sen-
perto da fadiga. A ADA26 preconiza que se- sibilidade à insulina31.
jam utilizadas cargas leves e alto número Ibanez et al. (2005)32 avaliaram a influ-
de repetições para o aumento da força em ência do TFP na gordura abdominal e na
todos os pacientes com DM2. O TF com sensibilidade à insulina de nove homens
intensidade entre 60 e 100% de 1 RM soli- com DM2, com idade média de 66 ± 3 anos.
cita mudanças estruturais funcionais e O programa de treinamento foi realizado
metabólicas nos músculos, e maiores in- duas vezes por semana, durante 16 sema-
tensidades provocam maiores adapta- nas, em uma intensidade que variou de 50
ções31. TFP tem mostrado melhorar a taxa a 80% de 1 RM, sem uma dieta para perda
de eliminação de glicose, aumentar a ca- de peso. Após o tratamento, a gordura
pacidade de estoque de glicogênio, au- visceral e a subcutânea tiveram diminui-
mentar receptores GLUT 4 no músculo, ção significativa: de 10,3 e 11,2%, respecti-
aumentar a sensibilidade à insulina e nor- vamente. O TFP aumentou a sensibilida-
malizar a tolerância à glicose28 . de à insulina em 46,3%, a glicose de jejum
diminuiu 7,1%. Com isso, concluiu-se que
Treinamento de Força e Complicações do duas sessões de treino duas vezes por se-
Diabetes Mellitus mana, sem uma dieta para a perda de peso
Para diabéticos com complicações simultaneamente, podem ser efetivas para
vasculares periféricas e nefropatia, o TFP melhorar a sensibilidade à insulina e a
apresenta grandes vantagens, pois a vari- glicemia de jejum e diminuir a gordura
edade de máquinas permite variação do abdominal em homens idosos com DM2.
trabalho muscular. Isto diminui o risco de O potencial mecanismo que explica
lesões nos pés por movimentos repetitivos como o TFP pode aumentar a sensibilida-
como ocorre durante a caminhada e ou- de à insulina não tem sido bem documen-
tras atividades aeróbicas29. tado. Contudo, existem evidências de que
O aumento da pressão sanguínea com o próprio exercício promove mudanças no
o TFP implica cuidados com os pacientes peso ou na composição corporal, o que é
com nefropatia, mas não há evidência de capaz de aumentar a sensibilidade à insu-
que mudança na pressão sangüínea indu- lina significantemente ou melhorar a
zida pelo exercício aumente a progressão homeostase da glicose30.
da doença25. Contudo, é aconselhável que Dunstan et al. (2002) 33 verificaram os
se evite atividades que excedam 200 mmHg efeitos do TFP de alta intensidade, combi-
da pressão arterial sistólica, visto que uma nado com moderada perda de peso no con-
elevação acima deste valor pode piorar a trole glicêmico e na composição corporal
progressão da doença 25 . Deve-se evitar por seis meses, em 36 homens sedentários
manobra de valsalva e contrações isomé- com idade entre 60 e 80 anos. O programa
tricas, para não aumentar a pressão intra- de treinamento era realizado três vezes por
ocular30. semana, durante 45 minutos. Era compos-
to por nove exercícios, sendo executadas 3

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séries de 8-10 repetições, com intervalo de Treinamento de força e hipertensão
90 a 120 segundos entre elas. Verificou-se, arterial
ao fim do tratamento, que os indivíduos
treinados apresentaram diminuição de 1,2 Restrição de sal, consumo moderado
± 1% na hemoglobina glicosilada, 1,4 ± 2,7 de álcool, redução de peso e aumento da
mmol/l na glicose plasmática de jejum,e atividade física são recomendações para o
aumento de 10,5 ± 46,3 pmol/l nos níveis controle e tratamento da hipertensão ar-
de insulina de jejum. A partir das evidênci- terial (HA) 38. O objetivo da prevenção e
as científicas apresentadas, é possível afir- controle da hipertensão arterial consiste
mar a efetividade do TF sobre os parâ- em reduzir a morbidez e a mortalidade
metros metabólicos, podendo ser um im- pelo meio menos invasivo possível. Isso é
portante componente no controle e na possível, mantendo–se uma pressão arte-
prevenção do DM tipo 2. rial sistólica menor que 140 mmHg e
diastólica menor 90 mmHg; para isso, são
Treinamento de força e dislipidemia necessárias modificações no estilo de
vida6.
A dislipidemia é caracterizada por um As V Diretrizes Brasileiras de Hiperten-
distúrbio no metabolismo lipídico com re- são (2006)39 recomendam a prática regular
percussão nos níveis de lipoproteínas na de exercícios físicos para todos os hiper-
circulação sangüínea, bem como nas con- tensos, inclusive para aqueles sob trata-
centrações de seus componentes34. Níveis mento medicamentoso, porque reduz a
anormais de colesterol total, HDL-C pressão arterial sistólica/diastólica em 6,9/
triglicérides, lipoproteína (a) plasmática 4,9 mmHg. Estabelece que esse grupo deva
estão diretamente associados à gênese e treinar de 3-5 vezes por semana por pelo
evolução da aterosclerose34. Na dislipide- menos 30 minutos e, com o objetivo de
mia, o LDL-C (low density lipoprotein- emagrecimento, por 60 minutos. Preconi-
colesterol) geralmente não se eleva signifi- za que, além do treinamento aeróbico, os
cantemente, porém aumenta o número de hipertensos devem praticar exercícios
partículas menores e densas denominadas resistivos. A intensidade do treino deve ser
quilomícrons35. de 50-60% de 1RM e o exercício deve ser
Probhakaran et al. (1999)36 realizaram interrompido quando a velocidade de
um estudo com mulheres na pré-meno- movimento diminuir (antes da fadiga con-
pausa (N = 24), durante 14 semanas, em cêntrica).
sessão de treinamento com 45-50 minutos O Colégio Americano de Medicina do
de duração a 85% de 1 repetição máxima Esporte9 recomenda que o TF deve ser exe-
(1 RM). Os resultados constataram dimi- cutado com baixa resistência e alto núme-
nuição de 14% do LDL-C, melhorando a ro de repetições. Uma das recomendações
relação LDL-C / HDL-C. Não houve ne- mais importantes que o ACSM faz é de que
nhuma mudança no perfil lipoprotéico do a Manobra de Valsalva (MV) deve ser evita-
grupo controle. da, em razão de potencial risco de acidente
Elliot et al. (2002)37 estudaram os efei- vascular cerebral devido ao aumento da
tos de 8 semanas de TF de baixa intensi- pressão arterial. Contudo, Haykowsky et al.
dade no perfil lipídico de 15 mulheres se- (2003)40 examinaram os efeitos agudos do
dentárias na pós-menopausa. O programa treinamento de força realizado sem MV e a
de treinamento consistia de três séries, realização da MV sozinha sobre a pressão
com oito repetições com intensidade equi- sistólica (PS), a pressão intracraniana (PI) e
valente a 80% de 10 RM. Os resultados a pressão transmural cérebro vascular (PT
mostraram que não houve mudanças sig- = PS – PI), sendo esta responsável pelos
nificativas no perfil lipídico após o TF. aneurismas, e puderam verificar que duran-
te o exercício a PT é maior, porém a PI tam-

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Tabela 1 - Efeito do Treinamento de força sobre os fatores de risco da síndrome metabólica.
Table 1 – Effects of resistance training on metabolic syndrome risk factors

Denzer & Young Efeito do TF sobre a TID. Única sessão de treinamento Após TF a TID aumentou TF é importante para o
(2003)15 (n=9; ambos os sexos; Séries: 2 73% em relação ao controle ponderal.
idade = 22 ± 1 anos) Repetições: 10 grupo controle
N0exercícios: 10Intervalo
entre as séries: 40 segundos

Hunter et al. Efeito do TF sobre TAIA. Duração: 25 semanas Com o TF, o TAIA das Provável diferença
(2004) 16 (n = 30; ambos os sexo; Séries: 2 mulheres diminuiu (de entre os gêneros para a
idade = 65 ± 9 anos) Repetições: 10 131 para 116 cm2) e dos perda de TAIA induzida
N0exercícios: 10 homens aumentou (de por TF.
Intensidade: 65-80% de 1 RM 143 para 152 cm2)

Treuth et al. Efeito do TF no acúmulo de Duração: 5 meses T AS aumentou no grupo O TF, com a
(1998) 18 gordura corporal. Freqüência semanal: 3 exercitado (192 para 208 metodologia
(n = 20; garotas de 7 – 10 Duração da sessão: 20 minutos cm 2), contudo a TAIA apresentada, não surtiu
anos). Séries: 2 não mostrou diferenças efeitos positivos para a
Repetições: 12 (MS) e 15 (MS) significativas. diminuição de TAS e
N0exercícios: 7 TAIA.
Intensidade: 50 % de 1 RM

Connie et al. Avaliar o efeito de TF + TA Duração do estudo: 8 semanas Diminuição de 50% da Exercício moderado foi
(1998) 24 sobre a atividade das células Grupo D e Grupo D+E NK (CD56+) no grupo D, efetivo para limitar a
NK.(n = 25 mulheres obesas; Série: 1 mas sem alteração no supressão da função
idade = 37 ± 6 anos) Repetições: 12 grupo D+E. das células NK
Intensidade: Inicialmente 40% aumentando, assim, a
de 1 RM, progredindo para 2 função imune.
séries de 12 repetições a 60%
do 1 RM

Ibanez et al. Influência do TFP na gordura Duração do estudo: 16 semanas GV e GS tiveram TF sem uma dieta para
(2005)29 abdominal e na sensibilidade Freqüência semanal: 2 diminuição significativa: a perda de peso
à insulina. Primeiras 8 semanas: de 10,3 e 11,2%, simultaneamente, pode
(n =9 homens com DM 2; Intensidade: 50 a 80% (nas respectivamente. O TFP ser benéfico para
idade = 66 ±3 anos) oito primeiras semanas, aumentou a homens idosos com
intensidade de 50 a 70% e 3 a sensibilidade à insulina DM2.
4 séries de 10-15 repetições; e em 46,3%.
nas últimas oito semanas,
intensidade de 70 a 80% e 3 a
5 séries de 5-6 repetições de
1 RM)

Dunstan et al. Efeitos do TFP de alta Freqüência semanal: 3 Diminuição: Hb glic 1,2 ± TF pode ser um
(2002) 31 intensidade + moderada Duração sessão: 45 minutos 1% e 1,4 ± 2,7 mmol/l na importante
perda de peso no controle N0 de exercícios: 9 GPJ. Aumento de 10,5 ± componente no
glicêmico e na composição Séries: 3 46,3 pmol/l nos níveis de controle e na
corporal. Repetições: 8-10 insulina de jejum. prevenção do DM2.
(n = 36 homens sedentários; Intervalo de 90 a 120
idade = 60-80 anos) segundos

Elliot et al. Efeito do TF no perfil lipídico. Duração do estudo: 8 semanas Não houve mudanças O TF não foi efetivo
(2002) 34 (n = 15 mulheres sedentárias; Séries: 3 significativas no perfil para uma melhoria do
idade = 49 a 62 anos). Repetições: 8 lipídico após o TF. perfil lipídico desta
Intensidade: 80% de 10 RM população especifica.

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bém tem maior elevação quando se com- traram que a Act e NP, doadores de NO,
param os valores de MV executada sozinha aumentaram em 50% o fator de crescimen-
(31 ± 14 e 16 ± 7 mmHg, respectivamente), to vascular endotelial (FCVE), e que PGI2
o que acarreta menor pressão transmural diminuiu em 40% FCVE; PGE1 , PGE2 e AD
cerebrovascular (132 ± 14 mmHg em exer- não alteraram a concentração de FCVE.
cício sem MV e 106 ± 22 mmHg, somente Com o avanço da idade, o fluxo sangüí-
MV). Segundo esses autores, a Manobra de neo mediado pela vasodilatação é preju-
Valsalva poderia diminuir o estresse cere- dicado, principalmente nas arteríolas dos
bral em 11%, podendo ser um elemento músculos em que predominam fibras de
protetor para o sistema cérebro-vascular. contração rápida42. O TF, executado com
Contudo, a aplicação de MV para hiper- cargas de média a alta intensidade, excita,
tensos não é recomendada, pois faltam evi- prioritariamente, as fibras de contração
dências cientificas que garantam a seguran- rápida, podendo ser um componente vali-
ça e a eficácia da execução de MV durante a oso para a formação de microcirculação
realização de exercícios resistivos. nesta musculatura. Concluiu-se que os
principais reguladores da expressão gênica
O TF e a Liberação de Vasodilatadores do FCVE são o NO, que aumenta a expres-
Durante o Exercício são, e o PGI2, que atua negativamente.
Uma variedade de substâncias vasodila-
tadoras parecem ser liberadas na micro- Comentários finais
vascularização durante o exercício físico,
como a prostaciclina (PGI2), a adenosina Esta revisão de literatura propõe que o
(AD), sendo o óxido nítrico (NO) o mais sig- aumento da força muscular parece ter efei-
nificativo. Além de sua função vasodila- to protetor na prevalência da síndrome
tadora está relacionado com a expressão e metabólica. Desta forma, a prática de exer-
regulação do gene que produz fator de cres- cícios resistidos parece agir positivamente
cimento angiogênico no endotélio vascular. sobre o controle dos fatores de risco dessa
A hipótese para a secreção de NO após o enfermidade. O TF age na perda de peso
exercício vigoroso baseia-se no fato de que corporal pelo fato de aumentar o gasto
o estresse provocado estimula o endotélio energético total e o EPOC, aumenta a
microvascularizado a secretar substâncias termogênese induzida pelo alimento e a
como um sinal da necessidade de aumen- atividade da leptina, contribui para o gan-
tar a vascularização, a fim de melhorar a ho de massa corporal magra e diminui o
capacidade das células em estar executan- tecido adiposo visceral (o maior determi-
do exercícios vigorosos41. nante da síndrome). Além disso, o TF é res-
Benoit et al. (1999)41 realizaram um es- ponsável por suprimir a função das células
tudo que pretendia verificar se substâncias NK, aumentando, assim, a função imune,
vasodilatadoras aplicadas localmente por sendo importante fator no processo de
infusão tinham capacidade de potencializar angiogênese. Alguns estudos alegam con-
a expressão do gene de fator de crescimen- tribuir para a melhoria da homeostase da
to angiogênico no músculo em repouso. A glicose sangüínea, aumentando a sensibi-
amostra era constituída de 7 grupos (gru- lidade dos receptores celulares à insulina
po-controle com infusão salina no múscu- podendo dessa forma exercer um papel fun-
lo gastrocnêmio e grupos-teste com as se- damental no controle do diabetes mellitus.
guintes infusões: Nitroprusside (NP), O TF parece agir positivamente sobre o per-
Acetilcolina (Act), Prostaglandinas (PGE1 e fil lipídico, uma vez que alguns estudos
PGE 2), Prostaciclina (PGI 2) e Adenosina mostram uma diminuição do LDL-C, me-
(AD), com 5 a 7 ratos Wistars em cada. NO, lhorando a relação LDL-C/HDL-C. O TF
AD e PGI2 foram liberadas durante a práti- também é responsável por reduzir a pres-
ca de atividade física. Os resultados mos- são arterial sistólica/diastólica, promover a

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secreção de substancias vasodilatoras e, elaborado, que objetive a prevenção de um
além disso, parece ser um componente va- estado saudável, ou mesmo a reversão ou
lioso para a formação de microcirculação otimização dos fatores de risco já instala-
na musculatura exercitada. dos nos pacientes com síndrome metabó-
Considerando os estudos apresenta- lica. O resumo dos estudos apresentados
dos, o treinamento de força pode ser na presente revisão de literatura estão ex-
considerado um componente indispensá- postos na Tabela 1.
vel em um programa de aptidão física bem

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