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A CONSTRUÇÃO DO HERÓI AMERICANO PÓS 11 DE SETEMBRO: UM OLHAR 1

SOBRE O (NOVO) HERÓI AMERICANO APRESENTADO POR HOLLYWOOD


THE CONSTRUCTION OF THE AMERICAN HERO AFTER SEPTEMBER 11: A
LOOK AT THE (NEW) AMERICAN HERO PRESENTED BY HOLLYWOOD

MOREIRA, Douglas Alves2


UNIMONTES

Resumo: Hollywood foi fundamental para representar os Estados Unidos e a


América Latina sobre os “inimigos do momento”, durante os principais conflitos do
século XX. Especialmente no decorrer da Primeira Guerra Mundial contra os
alemães e seus aliados, período esse onde o filme hollywoodiano atingiu todo o
mundo. Hollywood também foi importante na criação de símbolos que acalentaram o
cidadão americano em momentos de profunda falta de esperança, proporcionando
motivação para seguir em frente e enfrentar a crise econômica no pós-guerra em
1929, assim como defender a democracia e o estilo de vida americano durante a
Segunda Guerra Mundial e na Guerra Fria. Logo no início século XXI, um novo
“inimigo” se forma. A luta contra o terrorismo, encarnada no árabe ou mulçumano
está traduzida claramente nas telas dos cinemas. Nestes filmes, Hollywood usa dos
atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 como pano de fundo para alguma
de suas produções, tanto na forma ideológica, quanto na busca de uma rápida
aceitação financeira. A presente proposta tem com intuito analisar a construção dos
diferentes tipos heróis criada pelo cinema americano, no pós 11 de Setembro de
2001. Para tanto serão analisadas e debatidas duas produções cinematográficas.
Palavras Chave: Cinema; herói; terrorismo; Hollywood.
Abstract: Hollywood was instrumental in representing the United States and Latin
America on the "enemies of the moment" during the major conflicts of the twentieth
century. Especially in the course of World War I against the Germans and their allies,
a period where the Hollywood film hit the world. Hollywood was also instrumental in
creating symbols that nurtured the American citizen in times of deep hopelessness,
providing motivation to move forward and face the post-war economic crisis in 1929,
as well as champion democracy and the American way of life during World War II and
in the Cold War. Early in the 21st century, a new "enemy" forms. The fight against
terrorism, embodied in Arabic or Muslim, is clearly translated on the screens of the
theaters. In these films, Hollywood uses the terrorist attacks of September 11, 2001
as a backdrop for some of its productions, both ideologically and in pursuit of rapid
financial acceptance. The present proposal intends to analyze the construction of the
different types of heroes created by American cinema in the post September 11,
2001. For this purpose, two cinematographic productions will be analyzed and
debated.
Keywords: Cinema; hero; terrorism; Hollywood.
INTRODUÇÃO
1
Este trabalho foi parcialmente apresentado no VIII Congresso Internacional de História - XXII
Semana da História - Centenários 1917- 2017 de 09 a 11 de Outubro em Maringá - PR.
2
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Montes Claros
- PPGH UNIMONTES; Email: douglas1270@hotmail.com
O que estimula o uso do cinema como campo de estudo é que através dele é
possível abordar as mais variadas temáticas e problemáticas de caráter social,
político e cultural. O (novo) herói hollywoodiano parte da construção de um inimigo
pelo campo político e sendo assim, o cinema vai usar do mesmo inimigo como pano
de fundo para passar a sociedade elementos que vão não só justificar a sua defesa
perante o combate com o inimigo, mas também questionar se as atitudes tomadas
são as mais sensatas e as suas consequências para a sociedade em si.
Nas guerras passadas o cidadão ajudava a combater o inimigo como, por
exemplo, uso do bônus de guerra, que são títulos da divida pública do Estado para
cobrir os gastos com a guerra e evitar a inflação, como foi representado nos
desenhos da Walt Disney da época. Contudo, desta vez o cidadão é o alvo do
inimigo, já que os alvos dos terroristas são cidadãos em locais de grande
importância simbólica, tais como foram os alvos no atentado de 11 de setembro. É
possível observar que a partir do contexto desta nova guerra surge a necessidade
de um novo herói, não aquele do campo de batalha, mas aquele dentro da
sociedade. É claro que é possível observar muitos filmes anteriores ao atentado
terrorista de 11 de setembro de 2001, onde as atuações de membros da sociedade
vão exercer papeis de heróis ou mesmo filmes onde terroristas tentam infringir
algum mal a sociedade. O que procuramos discutir é como tais características
ganharam importância a partir do atentado terrorista orquestrado pela Al Qaeda em
2001.
Não é só o cinema que vai trazer essa abordagem relacionada ao terrorismo,
ao assistir series de TV, é possível observar que muitas das series também vão
abordar a visão de seus personagens sobre o fatídico 11 de setembro de 2001, seja
em séries policiais, médicas ou sobre o dia a dia dos bombeiros, etc. Dai saiu a ideia
para esse texto e uma oportunidade de discutir algo diferente. O choque do atentado
terrorista em Nova York afetou vários segmentos da sociedade americana desde sua
estrutura econômica, política e principalmente na segurança. A TV e o cinema
também sofreram fortes abalos, já que muitas de suas produções tanto da TV
quanto do cinema tiveram de serem revistas dali pra frente. A partir do atentado
terrorista, e com a entrada do país em uma nova guerra, as produções
cinematográficas abordaram a temática de forma constante.
O TERRORISMO: A Guerra do Século XXI

O atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 ocorre no primeiro ano do


século XXI, esse novo século não só herdou como também aperfeiçoou a
brutalidade das guerras ocorridas no século XX. A partir da Primeira Guerra Mundial,
com o avanço na tecnologia de armamentos ou na “tecnologia da morte” como
definido por Eric Hobsbawm em a Era dos Impérios, (2009) o que levou os civis
serem atingidos pela guerra. A grande guerra mostrou uma face da barbárie a que
muitos acharam que não veriam mais, contudo ao invés de diminuir ela se
intensificou durante os demais conflitos do século XX.

O terrorismo não é algo novo, mas abriu o século XXI tendo como alvo a
nação cujo território não estava acostumado a ser atacado. Além do mais, as
consequências do ataque e a forma com que foram feitos surpreenderam em muito
não só o governo e a população do país, mas o mundo. Quem atacava os Estados
Unidos naquele momento de relativa paz? Os Estados Unidos saíram vitoriosos de
quase todos os conflitos militares na qual entraram – com exceção a guerra do
Vietnã – nas duas Guerras Mundiais a nação foi decisiva para o fim de ambos os
conflitos, e na Guerra Fria venceu pelo cansaço a URSS, se tornando uma
superpotência militar, econômica e política do mundo. Após a Primeira Guerra
Mundial, já no início do século XX, os EUA tomam da Inglaterra o posto de potencia
mundial.
A palavra terrorismo remete ao termo terror onde a ideia mais clara seria a de
submeter alguém através do medo partiria de uma grande violência. Um grande
exemplo disso foi a Revolução Francesa e a sua fase do terror comandada por
Robespierre, que contribuiu em muito para a evolução do emprego do termo. Para
Fernando Reinares, o terrorismo pode ser definido através de três pontos, pelo meio
da violência com a intenção de provocar atos emocionais induzindo ansiedade,
pânico e medo, a utilização da violência de forma imprevisível e sistemática tendo
como alvos locais simbólicos e por fim a violência como portadora de uma
mensagem, sendo essa violência considerada como a transmissora de uma
mensagem. (ALCÂNTARA, 2012, p.10)
O terrorismo que abre o século XXI é definido conceitualmente por Alex
Schmid, uma referência no meio acadêmico e governamental. Segundo Schmid
apud Alcântara:
O terrorismo é um método de inspirar ansiedade de ação violenta repetida,
empregado por (semi-) indivíduo clandestino, grupo ou atores estaduais
estatais, por razões idiossincráticas, criminais ou políticas, em que - em
contraste com o assassinato - os alvos diretos da violência não são os
principais alvos. As vítimas humanas imediatas da violência são geralmente
escolhidas aleatoriamente (alvos de oportunidade) ou seletivamente (alvos
representativos ou simbólicos) de uma população-alvo, e servem como
geradores de mensagens. Processos de comunicação baseados em
ameaça e violência entre terrorista (organização), vítimas (em perigo), e os
alvos principais são usados para manipular o alvo principal (público(s)),
transformando-o em um alvo do terror, um alvo de exigências, ou uma meta
de atenção, dependendo do que é procurado principalmente, intimidação,
coerção ou propaganda. (ALCANTARA, 2012, p. 12)

Partindo dessa noção explicativa do termo terrorismo, torna-se possível


perceber os atentados terroristas de 11 de setembro como uma tentativa de passar
uma mensagem ao governo americano pelo grupo Al Qaeda. Para o grupo terrorista,
bem como para o seu mentor, o saudita Osama Bin Laden, seus atos contra os
Estados Unidos são justificados, devido à invasão ou a presença 3 dos EUA na Arábia
Saudita que detém grandes reservas de petróleo e é de grande importância para a
religião do islã, o apoio militar e diplomático a Israel e as sansões ao Iraque que
impediam o crescimento econômico do país e que arruinou a sociedade civil do país
(CHOMSKY 2002). Como forma de represália aos atentados terroristas, os Estados
Unidos iniciam uma Guerra ao Terror que levou a invasão do Afeganistão e mais
tarde do Iraque. Segundo Maria Helena Marinho do Monte Vilar:

O 11 de setembro marca o início de uma era orientada pelas guerras contra


o terror. Com este subterfúgio, governos ocidentais empreendem invasões e
intervenções militares para combater organizações terroristas e restabelecer
governos democráticos. Por óbvio, as intervenções não foram pacíficas,
tampouco destituídas de violência de ambos os lados. A cada avanço em
terras orientais, mais resistência se encontrava. A guerra que poria fim ao
“terror” acabou por impulsioná-lo. Hoje, 13 anos depois, as organizações
terroristas não só sobreviveram, como se desenvolveram, arrastam cada
vez mais jovens simpatizantes da causa, e por consequência, expandiram-
se por diversos países, inclusive em células compostas por cidadãos, em
suas maiorias jovens, nascidos no ocidente de origem fundamentalista
islâmica. (VILAR, 2015, p.13)

3
O termo invasão foi o termo usado pelo grupo terrorista e utilizado também pelo autor Chomsky na Palestra
feita pelo autor em 18 de outubro de 2001 no Fórum de Tecnologia e Cultura de Massachusetts (Institute of
Technology) (MIT), EUA. Já o termo presença eu observei ao pesquisar na internet a relação entre os EUA e a
Arábia Saudita. A Arábia Saudita tem relações próximas com os EUA desde 1933 quando foi reconhecida por
esta devido a sua reserva de petróleo. Para mais informações:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Relações_entre_Arábia_Saudita_e_Estados_Unidos
O CINEMA DE HOLLYWOOD: Uma arma americana

Apesar de ser uma superpotência militar, os Estados Unidos usam outra arma
contra seus inimigos, algo sutil para muitos espectadores e até imperceptível. Tal
arma, por ser tão presente no cotidiano das pessoas não é levada a sério: o cinema.
O cinema americano produzido pelos EUA pode ser observado também como uma
grande e poderosa indústria de entretenimento que perpassou suas fronteiras e se
espalhou pelo mundo. Hollywood, como é mundialmente conhecida o cinema norte
americano, se estabeleceu como uma grande geradora de imagens, inserida na
produção dos meios de comunicação de massa, se tornando um dos mais
importantes elementos produtores da subjetividade capitalista gerando assim uma
cultura com vocação universal cujo papel é de grande importância na construção de
forças coletivas no e controle social. (BUTCHER, 2004, p.16)
Quando o cinema passou a ser visto como uma narrativa ficcional e deixou de
ser visto apenas como registro, momento esse que o seu potencial como produto foi
percebido. A partir de então houve uma grande produção em massa no cinema
americano. Assim se formou uma grande estrutura para sua expansão e venda. Em
consequência a Primeira Guerra Mundial, a Europa que era grande exportadora de
filmes, entra em dificuldades devido a questões financeiras e aos percalços da
guerra. A produção americana ganha espaço e os EUA se estabelecem como
potência nesse campo. Desta forma, nasce Hollywood, a arma americana de fabricar
sonhos. Os seus produtos tinham como intenção os ideais universais, pois eles
foram idealizados com não só para o consumo nacional, mas para mundo.
Segundo Butcher:

Para conquistar uma presença de fato eficaz em mercados estrangeiros,


Hollywood precisa negociar elementos como condições locais, línguas e
preferências diversas, mobilizando-os em vantagem própria. É nesse
espaço que surge a possibilidade de agenciamentos, tornando a produção
hollywoodiana (e sua percepção) menos unívoca do que as aparências
podem fazer julgar. Hollywood se constitui a partir de uma diversidade de
gêneros, estilos e estratégias de produção e distribuição que formam um
conjunto de alta complexidade. (BUTCHER, 2004, p.16)

O que faz Hollywood conquistar tal presença é à coerência de estabelecer um


projeto de hegemonia, com domínio da técnica que vai se apresentar de forma
duradoura e inevitável. A partir disso, para muitos a ideia de cinema é um sinônimo
para cinema americano. Desta forma, o Hollywood como experiência coletiva e com
seus elementos que estimulam ou incomodam, se tornou uma das formas mais
fortes de expressões culturais dos EUA e o sucesso no interior da nação
proporcionou a exploração mundial do filme como produto. (BUTCHER, 2004, p.16)
A partir dos atentados terroristas de 2001 o Oriente Médio passou a ser
enquadrado no plano estratégico de segurança dos EUA, sendo o alvo principal da
Guerra ao Terror, pois o fundamentalismo muçulmano é um risco a segurança do
mundo. Após o plano político norte americano estabelecer o oriental como empecilho
para a paz, surge uma representação do mulçumano como uma ameaça e que
passaria a ser transmitida ao restante do mundo através de varias mídias, mas
principalmente pela indústria cinematográfica.
O cinema vai proporcionar a visão de um ponto de vista, reproduzindo os
modelos convencionais para ver e conhecer o mundo ou permitir que sejam
observadas coisas que não foram observadas ou sentidas. Os filmes são uma forma
de enquadrar o mundo, apresentando a ação e movimento além de fornecer visões
de tempo e do caminhar pela história. O cinema também pode passar uma visão
mais viva, critica e intensa sobre os seres humanos e suas relações sociais e os
processos históricos. (KELLNER apud AIRES, 2012, p.27-28)
Os filmes vão proporcionar uma explicação dos acontecimentos da
contemporaneidade e de contextos políticos, sociais, culturais e econômicos de uma
determinada época usando de imagens, cenas narrativas. Desta forma podem ser
considerados como indicadores sociais e que vão elucidar as realidades históricas
de uma época, caracterizando os contornos sociais em experiências
cinematográficas. O cinema de Hollywood pode ser visto como um debate de
representações que vão se espelhar em conflitos sociais e assim interpretar os
discursos políticos da época que são representados.
É possível perceber em muitos filmes de Hollywood, tanto em filmes principais
quanto secundários4, que muitos deles vão abordar temáticas com polêmicas que
vão além de conflitos econômicos, políticos e sociais do momento. Estes filmes vão
repercutir e principalmente, vão ser interpretados dentro da história das disputas
sociais e políticas e do contexto do período. Assim, os filmes vão ajudar a explicar a

4
Para deixar mais claro, os filmes principais são aqueles oriundos uma grande divulgação publicitária,
através de um alto investimento com autores conhecidos em Hollywood. Já o filme secundário ou
Filmes B são aqueles filmes com pouca ou quase nenhuma divulgação, baixo valor investido e com
atores pouco conhecidos.
história social e política de uma determinada época e essa contextualização dos
filmes em sua matriz de reprodução, distribuição e recepção ajudando a esclarecer
os contraditórios significados do filme. (KELLNER apud AIRES, 2012, p.28)
Os filmes vão mostrar ao espectador uma realidade social de uma
determinada época através de uma representação inserida de fenômenos e eventos.
Além disso, os filmes também podem fornecer uma representação alegórica, cuja
interpretação será comentada e interpretada de forma indireta, retratando ainda sim
os detalhes de uma determinada época. Essas duas representações mostram o
realismo da indústria cinematográfica e tal representação tenta passar
acontecimentos e personagens reais e na nas representações alegóricas, a inclusão
de gêneros de fantasia e terror. Os filmes podem ser vistos como interpretações,
análises críticas, tanto do contexto social, quanto da história, podendo apresentar
características impróprias ou ideológicas, já os filmes alegóricos vão passar uma
história que pode proporcionar uma reflexão sobre situações da contemporaneidade,
uma forma simbólica de representação o que vai ser transmitido de forma não literal.
(KELLNER apud AIRES, 2012, p.28-29)

O HERÓI DE HOLLYWOOD E O NOVO HERÓI HOLLYWOODIANO

Os filmes são de grande importância na cultura contemporânea, pois vão usar


como narrativas as dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais da
atualidade. As análises críticas dos filmes produzidos por Hollywood vão contribuir
para a compreensão da cultura da sociedade americana, pois vão inserir contextos
políticos, de Estado, corporativos, econômicos, crises econômicas, ambientais, as
guerras, o intenso militarismo, o racismo, o preconceito, terrorismo, as ameaças à
liberdade e a democracia. A contribuição dos filmes como indicadores sociais, mas
principalmente, como elucidativos de realidades históricas, onde grande soma de
recursos é destinada a pesquisa, marketing e produção do filme. Os idealizadores
do filme vão utilizar dos temores, alegrias e conflitos dando formato cinematográfico
para tais realidades. (KELLNER apud AIRES, 2012, p.29)
A partir da década de 2000, o cinema americano vai começar a abordar
temáticas mais relacionadas com o terrorismo, crise econômica e militarismo, devido
principalmente ao turbulento cenário político-econômico que o país vai enfrentar.
Após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, a produção fílmica vai
generalizar, caracterizando o mulçumano como ameaça internacional e os EUA
como vítima dos bárbaros atentados terrorista. Apesar de muitos desses filmes
vilanizarem o mulçumano e não questionarem as responsabilidades dos EUA sobre
a situação em que grande parte dos países de maioria mulçumana se encontra,
devido a muitas vezes a interferência dos EUA em sua política ou economia. Tal
momento pode ser comparado ao da Guerra Fria onde os filmes americanos vão
destacar os EUA como a nação certa em detrimento a URSS.
Os filmes de Hollywood muitas vezes vão apresentar ao espectador heróis já
preparados para enfrentar a situação que se apresenta. Em muitos dos conflitos
enfrentados pelos EUA e retratados no cinema grande parte esta relacionado ao
militar ou a questão da militarização. O herói americano é muitas vezes apresentado
como um soldado, agente ligado a algum órgão fechado, tais como CIA ou FBI, sem
uma ligação mais direta com a sociedade.
A franquia Rambo de 1982, vai abordar a guerra do Vietnã, tratando sobre um
soldado americano que consegue voltar para casa após fugir de inimigos que o
torturou. O filme mostra as consequências causadas pela guerra de forma
psicológica, física e emocional. O filme consegue passa a ideia de um supersoldado
que vai derrotar todos os inimigos que vierem em seu caminho. Não obstante,
alguns filmes apresentam contradições como, por exemplo, a franquia, Duro de
Matar de 1988, onde o herói da narrativa é um policial que vai combater um grupo
terrorista em um edifício sozinho, o policial, apesar de ter uma “preparação” ele está
bem próximo da sociedade. Mais uma franquia que pode ser citada como exemplo é
O Predador de 1987, onde soldados são enviados a selva da America Central para
resgatar reféns, mas encontram uma criatura de outro mundo altamente equipada e
treinada em combate e camuflagem. Contudo, nem uma criatura de outro mundo
seria capaz de vencer os soldados dos Unidos. Nas continuações dessas franquias
os inimigos mudavam, inseriam-se Estados outros personagens com o passar do
tempo, tais como em Duro de Matar, o Predador e Rambo.
O novo contexto trazido pela Guerra ao Terror possibilita o surgimento de um
novo herói em Hollywood, um herói mais próximo da sociedade, já que são os
cidadãos da americana, que são os alvos do terrorismo. Esse novo herói
hollywoodiano está inserido dentro da sociedade, e próximo de quem está em
perigo. As próprias medidas de segurança divulgadas pelos governos para a
população em caso de atentado ou mesmo de suspeita de atentados terroristas são
as únicas instruções.
Um exemplo nesse contexto é o filme Paranoia Americana de 2006 que vai
mostrar um cidadão americano após ser demitido é constantemente bombardeado
pela mídia devido às questões relacionadas ao terrorismo, devido aos atentados de
11 de setembro, surgiria na sociedade americana um medo constante de novos
atentados. As informações divulgadas na mídia fazem com que o cidadão americano
passe a desconfiar de seu vizinho islâmico, passando a investigar de forma
minuciosa o dia a dia de seu vizinho. O medo e as constantes informações
divulgadas pela mídia desencadeiam uma verdadeira paranoia, deixando o
personagem principal isolado e abandonado pela esposa e pelo FBI que não
acreditam em suas suspeitas. Após ser internado em um hospital psiquiátrico, o
personagem vê pela televisão que suas suspeitas estavam corretas, e que havia sim
algo de suspeito nas atitudes de seu vizinho, contudo ele não foi levado a sério e
outros cidadãos foram feridos. O pânico pós 11 de setembro foi tão intenso e trouxe
tanto medo à sociedade que essa paranoia pode ser compreendida. Essa é a
finalidade de um ato terrorista, causar pânico, medo em seus alvos. No decorrer da
década de 2000, outros ataques vão ocorrer na Europa o que contribui ainda mais
com o pânico da sociedade.
Outro filme que vai abordar um exemplo de novo herói hollywoodiano é em O
Dia do Atentado de 2016 neste filme, os personagens representaram as vítimas e
cidadãos envolvidos, tais como: policiais, agentes do governo e autoridades. O filme
retrata o atentado terrorista ocorrido em 2013, na maratona de Boston, no dia 19 de
abril, o chamado dia do Patriota. O filme vai lançar do uso de imagens reais do
fatídico dia como vídeos de câmera de segurança, celulares e de noticiários de TV
não só dos EUA, mas de vários países. O filme vai mostrar os acontecimentos que
se desenrolaram durante a procura pelos responsáveis pelo atentado terrorista na
maratona de Boston e da ênfase em um policial do departamento de homicídios. O
policial pode ser visto como o melhor exemplo de um novo herói Hollywoodiano, por
ser mais aberto em relação à sociedade e por está inserido nela. Assim como os
médicos e bombeiros, os policiais são parte integrante da sociedade, ou seja, pelo
fato de estarem bem mais próximos dos cidadãos do que soldados, ou agentes do
governo. Contudo, apesar dos soldados ou agentes do governo estar mais afastados
dos cidadãos que o policial, isso não os tornariam menos inserido na sociedade do
que um policial, já que eles também têm laços com essa sociedade tal como família,
amigos.
O Dia do Atentado vai trazer muitas referências à questão da liberdade, da
necessidade de defender seu lugar de origem, mostrando como os símbolos criados
há muito tempo e os criados há pouco tempo são respeitados igualmente, pois,
durante a investigação dos atentados, a população vai prestar homenagens às
vítimas e o slogan Boston Strong cresce profundamente não só na sociedade como
em redes sociais. Também é preciso lembrar que a história da cidade de Boston fala
por si, como por exemplo, no processo de independência das Treze Colônias com o
orgulhoso evento do Boston Tea Partry. O filme é uma homenagem às vitimas
diretas e indiretas do atentado, como deixa claro nos creditos finais e passa ao
espectador a sensação de medo e pavor sentido após um atentado terrorista.
A obra também destaca de forma indireta um problema interno sofrido pelos
EUA de maneira constante nos últimos anos. A organização da maratona de Boston
realiza uma homenagem às vítimas de um massacre ocorrido no dia 14 de
dezembro de 2012, onde um adolescente americano matou crianças e funcionários
em uma escola infantil. O jovem fortemente armado entrou em uma escola sem uma
justificativa que pudesse explicar o porquê do incidente. O fácil acesso a armas de
uso militar pela população civil é uma das críticas desses ataques. Contudo, o que
torna esses ataques de americanos um incidente domestico é que muitos não teriam
uma justificativa política ou religiosa, e principalmente não ter uma ligação com
grupos fundamentalistas, por isso não são classificados como terrorismo.

O longa-metragem da ênfase no detetive da polícia de Boston que durante a


maratona é obrigado por seus superiores a usar o uniforme e ajudar na segurança
da maratona. Após o atentado, o policial coordena um principio de socorro às vítimas
ate a chegada das autoridades superiores. Um detalhe que muito se destaca é a
reação ao atentado entre o policial e agente do FBI responsável pelas investigações.
O policial se mostra mais emotivo, se preocupando com as vítimas, e demonstrando
uma profunda raiva dos terroristas. Já o agente do FBI se mostra mais racional,
focado nas investigações, tenta ao máximo conseguir elementos que cheguem aos
acusados, o agente também se mostra cauteloso quanto à necessidade de ter um
suspeito errado sob os holofotes da mídia e da população, principalmente se fosse
um mulçumano.
Contudo o filme não vai focar somente no detetive/policial como o herói
principal da trama, mas vai destaca-lo como um ponto de vista central que vai se
relacionar e se encontrar com grande parte personagens ao longo da trama. A
relação da policia com a sociedade pode ser observada em varias momentos, o
mais emblemático no momento em que uma das vítimas fatais, uma criança de oito
anos é removida e os policiais batem continência ao jovem garoto, em sinal de
respeito aquela vida perdida.
O filme deixa evidente a todo instante, como o atentado afetou as pessoas
direta ou indiretamente, o policial é o primeiro a mostrar tais sinais do stress, medo e
sensação de insegurança, a todo instante o policial da ênfase na necessidade de
que a prisão dos terroristas é imprescindível. No decorrer do filme a sua posição
sobre o ocorrido fica mais claras em comparação ao inicio do filme. O longa-
metragem vai apresentar características expressivas também em outros
personagens.
Os terroristas que efetuaram o atentado a maratona de Boston são dois
irmãos chechenos que residiam nos Estados Unidos, ambos estudavam em
instituições de ensino e tinham contato e relações com americanos e com a sua
cultura. O filme deixa explicita que o irmão mais velho exercia um controle sobre o
irmão mais novo. No filme, o irmão mais velho passa a ideia de que ele sempre está
certo e que seus erros são devido a falhas dos outros. Já o irmão mais novo
apresenta a fascinação por bens de consumo comuns na sociedade americana, bem
como certas liberdades na qual a sua condição de mulçumano não permitiria, tal
como pornografia e uso de drogas. Após ser preso, o irmão mais novo revelou que o
ataque terrorista a maratona foi uma resposta à invasão americana ao Afeganistão e
ao Iraque, tais conflitos são resultado da guerra ao terror travada pelos EUA. (G1,
2013)
O jovem casal, vítimas do atentado terrorista, perderam a mesma perna em
consequência dos fragmentos propositalmente inseridos para lesionar os alvos. O
filme vai representar o casal como recém-casados, apaixonados, no auge da
felicidade. Em um momento de romance entre o jovem casal, as pernas deles
entrelaçadas chama atenção, essas imagens não foram projetadas pela câmera de
forma aleatória, mas uma forma de passar ao espectador o que o atentado terrorista
retirou casal.
O Jovem Chinês também apresenta características bem interessantes e que
se destacam ao longo do filme. O personagem é um jovem imigrante chinês que
consegue estruturar sua vida nos EUA e assim pode ajudar a família na China.
Quando os terroristas em fuga, o sequestra e rouba o seu carro e durante o
processo, o jovem assustado e com medo consegue fugir e conta aos policiais o
ocorrido. Em determinado momento, o jovem chinês encontra com o policial e após
contar todas as informações ele fala em tom de ordem para o policial “vá logo pegar
esses terroristas”. Mesmo não pertencendo àquela sociedade, o jovem chinês foi
atingido pelas consequências do atentado mesmo que indiretamente.
A obra cinematográfica vai destacar entre as outras obras do gênero, pela
forma em que chega ao público, transmitindo elementos que desperta no espectador
sensações de medo e raiva, mas principalmente de emoção e comoção, uma
característica marcante nos filmes hollywoodianos pela forma clara de passar uma
narrativa ao público. O Dia do atentado é uma obra que passa ao espectador a ideia
principal de um ataque terrorista, através da sensação de medo, insegurança,
desespero, e vai proporciona também sentimentos de revolta e a necessidade de
combater essa ameaça.
O filme vai abordar também em um dialogo do policial como um colega onde
o colega pergunta ao policial se seria possível esse atentado ter sido evitado. A
resposta do policial ao colega levanta questões que valem apena ser discutida
devido à abrangência do termo usado pelo policial. Segundo o policial, o atentado
terrorista seria uma luta entre o bem contra o mal, entre amor e ódio e quando o mal
atacasse, a melhor forma de combatê-lo seria através do amor, pois a mal não
poderia tocar no amor, já que não seria possível caçar ou matar todos os terroristas,
e por isso, ainda sim esse mal voltaria para atingir novamente, e sendo assim, seria
impossível de prevenir totalmente um ataque terrorista. O policial conclui ainda que é
preciso abraçar a quem amamos e deixar o amor falar mais alto, se alimentando
dele, assim nenhum mal conseguiria vencer.
A resposta do policial para o colega foi bem romântica e maniqueísta, pois o
seu discurso vai estabelecer que alguém está certo e que o outro esteja errado, sem
observar que as atitudes tomadas de ambos os lados, não vão chegar a um
consentimento. No discurso do policial é feita entre cenas que mostram afeto e
carinho entre as vítimas do atentado, ou seja, a cena assim como o discurso é
intencionalmente para causar uma comoção no espectador, pois fica mais fácil
estabelecer onde esta o amor e onde esta o ódio, onde estaria o bem e onde esta
mal.
Os atentados terroristas de 11 de setembro foram usados como motivo para
uma expansão do poderio militar americano pelo mundo, o que vai instigar aos EUA
os argumentos necessários para impor os seus desejos político-econômicos sobre
as demais nações, de forma que apenas um lado saia se beneficiado, para isso, vão
se valer do uso da força ou usando de aliados para atingir seus interesses. 5 Durante
o século XX, Oriente Médio esteve em constante conflito devido principalmente a
sua localização privilegiada que dá acesso a Europa e a Ásia, assim como a sua
riqueza natural em petróleo. São devido a esses fatores que o Oriente Médio sofreu
constantes intervenções de potencias estrangeiras 6.

Conclusão

O uso de imagens e narrativas espetacularmente elaboradas para convencer


o público não é uma novidade no século atual, pois essa técnica já foi amplamente
usada durante outros conflitos militares em que os EUA estiveram envolvidos.
Muitos filmes criados por Hollywood durante a crise econômica e os conflitos
militares do século XX foram usados como arma tendo como alvo o convencimento
do público sobre quem era o inimigo e necessidade de combatê-lo. Atualmente é
possível perceber que mais uma vez, o uso de imagens narrativas e principalmente
efeitos estão novamente a serviço da empreitada militar enfrentada pelos EUA: A
guerra ao terror.
A guerra ao terror é resultado de uma política externa agressiva dos EUA
contra o terrorismo internacional, após os atentados terroristas do 11 de setembro de
2001. Tal guerra também é vista como uma justificativa para os EUA imporem seus
desejos político-econômicos sobre as demais nações, já que haveria uma forma
mais correta perante a lei para solucionar tal conflito. A guerra contra o terrorismo
vai proporcionar a Hollywood um novo pano de fundo para suas narrativas
cinematográficas.

5
Segundo Noam Chomsky, seria possível que os EUA atuassem em conformidade com a lei e o
direito internacional ao invés de optar por uma resposta agressiva e militar de forma enérgica que
teve como resultado a invasão territorial do Afeganistão e mais tarde do Iraque.
6
Para mais informações sobre os acontecimentos no Oriente Médio favor ver obra de Peter Demant
O Mundo Muçulmano, 2004
A Guerra ao terror proporcionou o surgimento de um novo herói para
Hollywood, pois ao tornar o civil um alvo de seus ataques terroristas, os novos heróis
hollywoodianos devem, cada vez mais, estarem mais próximos da sociedade.
Devido a essa nova guerra do século XXI, o novo herói não precisa mais ser
necessariamente um soldado do exercito americano, mas qualquer um que possa
representar essa sociedade. Em outras palavras, o novo Herói de Hollywood passa
a ser mais humano, mais perto de sua realidade, já que seria essa a intenção do
filme ao representar essas realidades e experiências sociais.
REFERÊNCIAS

AIRES, Clara. O oriental enquanto ameaça uma análise da percepção dos Estados
Unidos sobre o Oriente Médio a partir de filmes selecionados. Fronteira, Belo
Horizonte, v. 11, n. 21, p. 23 - 42, 1o sem. 2012.
ALCÂNTARA, Priscila Drozdek de. TERRORISMO: UMA ABORDAGEM
CONCEITUAL. Disponível em:
<http://www.humanas.ufpr.br/portal/nepri/files/2012/04/Terrorismo_Uma-abordagem-
conceitual.pdf&gt;. Acesso em: 12 de setembro. 2017.
BUTCHER, Pedro. A reinvenção de Hollywood: cinema americano e produção de
subjetividade nas sociedades de controle. Contemporânea, Rio de Janeiro, v. 2, n.
2, p.15 – 26, 3º sem. 2004.
CHOMSKY, Noam. 11 de setembro. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios, 1875-1914. 13. Ed. São Paulo, SP: Paz e
Terra, 2009.
Suspeito cita guerras dos EUA como motivo de atentado de Boston: G1. Disponível
em http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/04/suspeito-cita-guerras-dos-eua-como-
motivo-de-atentado-de-boston.html Acesso em: Outubro 2017.

VILAR, Maria Helena Marinho do Monte. Guerra ao terror: Uma análise do


terrorismo global do 11 de setembro ao ataque a Paris (Paraíba), 2015. Trabalho
de Graduação de Curso (Graduação em Direito) – Universidade Estadual da
Paraíba, 2015.
Filmes
Duro de Matar. Direção: John McTiernan, Produção: Joel Silver. Los Angeles (DE): 20th
Century Fox, 1988, 1 DVD.
O Predador. Diretor: John McTiernan, Produção: Lawrence Gordon, Joel Silver, John
Davis Los Angeles (DE): 20th Century Fox, 1987, 1 DVD.
O Dia do Atentado. Diretor: Peter Berg, Produtor Scott Stuber, Los Angeles (DE)
Paris Filmes, 2017.
Rambo: Programado para Matar. Direção: Ted Kotcheff, Produção: Buzz
Feitshans. Los Angeles (DE): Orion Pictures, 1982, 1 DVD.
Paranoia Americana. Direção: Jeff Renfroe, EUA/ Canadá, 2006.

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