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1. Introdução
Os terminais especializados na movimentação de contêiner têm demonstrado bons resultados
mundialmente no que se refere a rapidez que ele oferece na movimentação de cargas
unitizadas (GOODCHILD e DAGANZO, 2006). Grande parte desta logística multimodal
eficaz que cerca as operações portuárias está relacionada à alta tecnologia em equipamentos
desenvolvida com o passar dos anos promovendo soluções para movimentação de
contêineres. Em paralelo a este desenvolvimento, as áreas que cuidam da manutenção desta
tecnologia empregada nos terminais de contêiner precisam se adequar a esta realidade, pois a
falta de gestão em manutenção pode acarretar no aumento do custo operacional, levando em
consideração o peso deste custo no orçamento total (SALONEN e DELERYD, 2011;
TSANG, 1998).
Cada vez mais procura-se focar na otimização das operações realizadas nos terminais de
contêiner (SACONE e SIRI, 2009). Os esforços realizados para se manter uma taxa de
produtividade alta no atendimento aos navios atracados no porto refletem diretamente ao
cliente (o armador, dono do navio), pois quanto maior o tempo gasto em operação, maior é o
custo do frete da embarcação. Em contrapartida, conforme citado por Naini et al. (2009) a
priorização da manutenção está ligada ao aumento do custo, prática utilizada em atividades
onde a ocorrência de falhas pode acarretar consequências desastrosas em sistemas como
nucleares, militares, aviões e usinas. Para um terminal de contêiner, o aumento do custo
operacional está relacionado à disponibilização de recursos com mão-de-obra, equipamentos
em operação simultânea, materiais, e manutenção, que podem ser balanceados com a
produtividade através de estratégias suportadas pelo sistema de gestão.
A manutenção envolvida nas operações portuárias requerem um planejamento que não venha
a prejudicar o andamento das operações. Desta forma a contribuição da implantação do
modelo de gestão de manutenção baseado em benchmarking pode trazer benefícios como
maior competitividade, maximização do lucro, qualidade e satisfação do consumidor (YAM et
al., 2000). Assim, o objetivo principal desse estudo é identificar/analisar o impacto da adoção
de um modelo de gestão de manutenção para melhoria da produtividade e da gestão financeira
de ativos da empresa. Para isto, foi utilizado o método de estudo de caso, sendo que o objeto
de pesquisa está instalado em uma empresa operadora portuária brasileira especializada na
movimentação de contêineres que por motivos de segurança e de sigilo profissional optou-se
pela não divulgação da sua identidade.
2. Gestão em manutenção
A busca pela melhor produtividade em um terminal portuário envolve diversos fatores e um
deles é a gestão de manutenção. A gestão dos ativos da empresa não somente melhoram a
produtividade, mas também a confiabilidade e conseqüentemente a redução de custos.
Segundo Márquez e León (2009) a efetividade dos processos demonstra o quanto a empresa
ou um determinado departamento atinge suas metas no que diz respeito à qualidade dos
serviços prestados na perspectiva do cliente. E quando se fala em manutenção neste mesmo
contexto, a efetividade representa uma boa condição de seus ativos, ou na redução de custos
da companhia.
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XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
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O estudo realizado por Wireman (2003) deu origem a um questionário que permite a empresa
fazer uma auto-avaliação do sistema de gestão de manutenção implantado. O resultado obtido
é um diagnóstico que demonstra em quais seções da manutenção a empresa pode ainda
melhorar. A Tabela 1 apresenta a relação entre o WCMM e a pirâmide do sistema de
Manutenção.
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ESTÁGIO DA
QUESTIONÁRIO WCMM BLOCO DA PIRÂMIDE
PIRÂMIDE
Seção 01 - Departamentos de
Organização da manutenção 1 - Manutenção Planejada
Manutenção
Seção 02 - Treinamento em Desenvolvimento das Habilidades
2 - Manutenção Proativa
Manutenção Técnicas
Seção 03 - Ordens de Serviço da
Gerenciamento das Informações 1 - Manutenção Planejada
manutenção
Seção 04 - Planejamento e
Planejamento 1 - Manutenção Planejada
Programação da manutenção
Seção 05 - Manutenção Preventiva Manutenção Preventiva 1 - Manutenção Planejada
Análise de Confiabilidade
Seção 12 - Práticas Gerais
2 - Manutenção Proativa
Desenvolvimento das Habilidades
Técnicas
Integração Operação / Manutenção 3 - Integração no Negócio
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ao resultado da média das organizações norte americanas abordadas em seu estudo. O gráfico
radar representado pela Figura 2 ilustra bem a situação do TC1 em comparação com a média
das empresas norte americanas.
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As ações definidas no plano tiveram inicío em novembro de 2004, sendo sua última ação
planejada para Agosto de 2005, num prazo total de 305 dias. De acordo com os blocos da
pirâmide e questionário do WCMM, foi dado foco nas seguintes vertentes de cada seção:
Seção 02 – Treinamento em Manutenção - as ações tiveram foco no treinamento da equipe de
manutenção afim de aprimorar a habilidade técnicas dos executates das atividades. Pode ser
observado maior capacidade de análise individual dos processos e desenvolvimento de
melhores práticas pelos empregados, contribuindo com o desenvolvimento do sistem ade
gestão.
Seção 03 - Ordens de Serviço da manutenção – em conjunto com a área de tecnologia da
informação, buscou-se a evolução do software de manutenção possibilitando a extração de
relatórios para anáise mais aprofundada das ordens de servi;cos abertas pela áreas usuárias
dos ativos da empresa. A criação destes relatórios possibilitaram desenvolver um mapeamento
de priorização das OS’s de acordo com o grau de urgência.
Seção 07 - Automação da Manutenção – As ações desta seção buscaram integrar os sistemas
de manutenção com os demais sistemas corporativos, aumentando o nível de gerenciamento
das informações tanto geranciais quanto operacionais. Além disto, visa a eliminação de
controles paralelos, oferecendo maior confiabilidade das informações extraídas.
Seção 08 - Envolvimento com a Operação – as ações nesta etapa visam maior integração com
a operação, priorizando o retorno das informações e maior acompanhamento pelos usuários
dos ativos quanto aos resultados das manutenções realizadas nos equipamentos. Com esta
rotina implantada, os operadores tornam-se parte desta etapa, auxiliando no diagnóstico de
falhas.
Seção 09 - Relatórios de Manutenção – A criação de relatórios teve como objetivo principal
detalhar os custos da área de manuntenção, possibilitando identificar gastos desnecessários,
buscando otimizá-los. Oferecendo relatórios mais detalhados, a área de manutenção pode
reduzir seu orçamento anual, contribuindo para a melhoria do custo operacional,
principalmente relacionado ao principal negócio da empresa TC1, que vem a ser o serviço de
embarque e descarga de contêineres.
Seção 11 - Engenharia de Confiabilidade – as ações criadas para esta seção contribuem
diretamente para o desenvolvimento dos esforços na confiabilidade das manutenções
preventivas e preditivas, otimizando os programas de manutenção. A aplicação das técnicas
de manutenção centrada na confiabilidade (RCM) tem como objetivo buscar sempre a opção
mais econômica para as manutenções (SHARMA e YADAVA, 2011).
Seção 16 - Administração de documentos – A principal ação planejada para esta seção busca
integrar o sistema de documentos com o sistema de engenharia de manutenção. Para que seja
possível todos os documentos gerados devem estar em meio eletronico. Caso não estiverem,
devem ser digitalizados (como por exemplo os desenhos técnicos). Esta ação facilita a busca
de documentos e maior tempo de armazenamento.
4. Resultados alcançados
Na medida em que as ações foram sendo executadas pelos membros da equipe em conjunto
com as áreas envolvidas, foi possível notar a melhoria nos principais indicadores da área de
manutenção para o TC1. O período analisado na elaboração dos demonstrativos gráficos a
seguir, compreende o período entre 2004 e 2007, considerando que a implantação do sistema
de gestão de manutenção pelo TC1 deu-se em novembro de 2004. Vale ressaltar que não
significa que todos os demonstrativos gráficos possuem esta abrangência, podendo ser
utilizados períodos menores, mas não anteriores à 2004 ou posteriores à 2007.
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Observou-se também uma melhora muito significativa nos principais indicadores que medem
o desempenho da manutenção tais como: custo por contêiner movimentado – R$ 19,88;
percentual de Ccnfiabilidade – 97,60%; pontução no diagnóstico do WCMM de Wireman
(2003) – 413; IEM (Indicador de Excelência em Manutenção) – 59,20% e ranking do IEM na
organização (entre 56 unidades) – 4a colocação.
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5. Conclusões
Os resultados obtidos evidenciam o impacto positivo da implantação do sistema de gestão em
manutenção na empresa estudada e também a melhoria expressiva nos níveis de gestão em
todos os estágios do sistema. O medelo World Class Maitenance Management permite que a
empresa realize uma análise geral de todas as atividades da manutenção de forma a expor os
pontos de melhoria, desde a base da rotina de matutenção até a gestão financeira de ativos,
contribuindo para a redução de um dos custos de maior peso da organização, conforme
Salonen e Deleryd (2011).
Dentre as diversas ações implementadas pela unidade TC1, foi dado maior foco naquelas
seções do WCMM ou estágios da pirâmide de manutenção que estavam abaixo da média
demonstrada no gráfico de radar. Desta forma, para melhoria contínua do sistema de gestão
puderam ser notados os esforços na criação de relatórios para melhor identificação dos custos
de manutenção por equipamento e equipe. Estas ações contribuiram para a otimização do
custo por unidade de contêiner movimentado no terminal. Foram identificados também a
priorização nas ações referente a seção que trata das ordens de serviço (OS), onde buscou-se
automatizar este processo além de aprimorar os controles das OS’s por níveis de importância,
consolidando assim o bloco “gerenciamento das informações” da pirâmide de gestão. Não
menos importante, a unidade buscou desenvolver ações para melhoria da confiabilidade,
reduzindo o número de reincidência das falhas nos equipamentos. Com isto, a empresa
demonstrou melhoria considerável a partir de novembro de 2004 quando começaram a ser
colocadas em prática as ações planejadas, tendo os indicadores a seguinte evolução: custo por
contêiner movimentado passou de R$ 21,58 para R$ 19,88; o percentual de confiabilidade de
92,8% para 97,60%; a pontução no diagnóstico do WCMM de Wireman (2003) de 361 para
413; o IEM (Indicador de Excelência em Manutenção) de 32% para 59,20% e ranking do
IEM na organização (entre 56 unidades) da 50a para a 4ª colocação.
Referências
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