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BIOGÁS

UMA POTENCIAL FONTE DE ENERGIA RENOVÁVEL

RITA DE CÁSSIA SANTOS LIMA

RESUMO

Entre o final da década de 1970 até os dias atuais aumentaram grandemente os debates sobre
as questões socioambientais e de sustentabilidade do planeta, concomitante a isso surgiram
inúmeros experimentos em busca da utilização de fontes alternativas de energia com a
utilização do biogás obtido a partir de processos anaeróbios em biodigestores. Este trabalho
pretende evidenciar a importância da utilização do biogás como fonte alternativa de energia,
para isso será feita uma abordagem acerca dos biodigestores, equipamento utilizado como
gerador de energia a partir da reutilização de materiais descartados no meio ambiente, os
chamados resíduos sólidos. Tem sido crescente a preocupação com as questões ambientais
principalmente com os problemas provocados pela ação antrópica em suas atividades
econômicas. Essa preocupação se justifica pelo excesso de poluentes lançados no ar, no solo e
nas águas e este tem sido o grande desafio, dar um destino adequado aos dejetos que
provocam tais poluentes e buscar técnicas de reaproveitamento para gerar uma fonte de
energia limpa e renovável, a bioenergia. A demanda por energia aumenta consideravelmente
assim como a quantidade de material particulado lançado na atmosfera principalmente pelo
uso dos combustíveis fósseis. Os aglomerados urbanos e as áreas rurais podem contribuir de
modo significativo com o fornecimento de grandes quantidades de resíduos e de restos de
culturas, matéria-prima para a biodigestão. Diante desse panorama as fontes de energia
renováveis representam uma realidade a ser cada vez mais difundida e utilizada, não para
mitigar impactos ambientais, mas como matriz energética prioritária e sobretudo viável
economicamente.

Palavras-chave: Biogás; sustentabilidade, urbanização, impact

Geógrafa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, especialista em Gestão do Meio Ambiente e
Engenharia Ambiental (Endereço de email: rythalima22@gmail.com)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá campus Macaé – RJ, como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista em Engenharia Ambiental e Saneamento Básico, sob a orientação
do Prof. M. Sc. José Mauro da Costa Martins. Macaé, 2016.
ABSTRACT

Between the late 1970 to the present day have increased greatly the debates about
environmental and sustainability issues of the planet, concomitant to that appeared numerous
experiments in search of alternative sources of energy with the use of biogas from anaerobic
processes in bio-digesters. This paper aims to highlight the importance of the use of biogas as
an alternative source of energy, for it will be made an approach about the bio-digesters,
equipment used as energy generator from reusing discarded materials in the environment, the
so-called solid waste. Has been growing concern with environmental issues mainly with the
problems caused by human action in their economic activities. This concern is justified by the
excess of pollutants released into the air, soil and waters and this has been the great challenge,
give a destination suited to waste products that cause such pollutants and reuse techniques to
generate a source of clean, renewable energy, bioenergy. The demand for power greatly
increases as well as the amount of particulate matter released into the atmosphere primarily
through the use of fossil fuels. The urban centers and the inland area can contribute
significantly to the provision of large amounts of waste and leftover crops, raw materials for
the biodigestion. In this panorama renewable energy sources represent a reality to be
increasingly widespread and used, not to mitigate environmental impacts, but as a priority
energy matrix and particularly viable.

Keywords: Biogas; sustainability; urbanization; impact.


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1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas tem sido crescente a preocupação com as questões ambientais
sobretudo com os problemas provocados pela ação antrópica em suas atividades econômicas.
Dentre as inúmeras e complexas inquietações surge a necessidade de buscar fontes de energia
alternativas uma vez que os combustíveis fósseis têm em sua composição altos níveis de
poluentes que são incessantemente lançados na atmosfera.
Segundo relatório divulgado recentemente pela Organização Mundial de Saúde1, a
poluição atmosférica atingiu um nível extremo e reporta que 92% da população mundial se
encontram expostas. Este será, sem dúvida, o grande desafio no meio urbano. O relatório
sugere medidas inovadoras que instrumentalize condições técnicas, operacionais e políticas
para investir na chamada bioenergia.
De acordo com o IBGE (2010), o último censo apontou que 84% da população
brasileira vive em aglomerados urbanos, e a previsão é que em 2050 este número alcance
pouco mais de 93%2, um agravante em virtude da geração excessiva de resíduos sólidos de
toda natureza e classes.
Diante desses fatores é cada vez maior o número de grupos formados por
pesquisadores, empresas e profissionais multidisciplinares que discutem e fomentam questões
com a pretensão de desenvolver técnicas para a geração de um combustível limpo e
renovável. Dessa forma partindo do pressuposto que existe a necessidade de mudança de
hábitos urgente, surgem ações que causam uma verdadeira revolução e são acessíveis a
grande parte da população, a geração do biogás a partir do aproveitamento dos resíduos
sólidos.
O artigo em evidência, está dividido em quatro sessões. Inicialmente, a abordagem
apresenta o tema e a sua relevância frente aos desafios de se buscar novas fontes energéticas
com menor grau de poluentes e que sejam sustentáveis. A sessão dois, descreve acerca dos
biodigestores e a sua evolução ao longo da história, são exemplificados os principais modelos,
os clássicos chinês e indiano, para demonstrar que se trata de um equipamento que tem sido
mais difundido e utilizado nas últimas décadas como gerador de fonte de energia alternativa.

1 A Organização Mundial da Saúde divulga anualmente relatórios completos sobre a saúde do ar por continente
destacando as cidades onde esse índice ultrapassa os limites permitidos - Relatório Global divulgado em 27 de
setembro de 2016. https://nacoesunidas.org/maior-parte-da-populacao-mundial-vive-com-poluicao-do-ar-
excessiva-diz-onu/ acesso em setembro de 2016.
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Este índice é uma estimativa que o IBGE, em conjunto com organismos internacionais, faz para projetar o
cenário futuro.
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A terceira sessão contempla o biogás e o adubo orgânico também denominado de


biofertilizante ambos são o resultado ou o subproduto gerado da biodigestão. Na sequência, a
abordagem faz um direcinamento ao saneamento básico legitimado pela legislação ambiental.
Verificou-se ainda em que medida a utilização do biogás pode ser uma alternativa viável para
ser utilizada em média e grande escala e sobretudo investigar as vantagens e desvantagens
dessa fonte de energia no Brasil.
Nas considerações finais o enfoque se pauta em apresentar os desafios da
aplicabilidade dessa técnica com expectativas do respaldo do poder público e da legislação
ambiental vigente a fim de minimizar os danos causados ao meio resultantes do uso dos
combustíveis fósseis. Outro ponto abordado e igualmente importante refere-se ao
desenvolvimento sustentável, manter práticas sustentáveis é o único caminho para a
manutenção desse delicado equilíbrio que sustenta o processo interativo homem/meio
ambiente.
O presente artigo está fundamentado em pesquisas bibliográficas, anais de congressos
e estudos de caso. Pôde-se constatar que existe um número considerável de artigos e
dissertações que muito se assemelham nas orientações que remetem ao tema, esse fato, de
certo modo, dificulta a seleção das fontes bibliográficas.
Este trabalho tem o objetivo de analisar a prática e a operacionalidade da utilização do
biogás como fonte alternativa de energia devido ao seu potencial renovável e econômico e
verificar em que medida a utilização do biogás pode ser uma factível alternativa a ser utilizada
em grande escala. O tema foi escolhido pela sua relevância no contexto da sustentabilidade
energética.

2. BIODIGESTOR: HISTÓRICO

2.1 Biodigestor: descobertas e perspectivas.

O biodigestor é composto basicamente de uma câmara fechada composta de biomassa


que transforma os compostos orgânicos (resíduos agrícolas, dejetos de suínos, bovinos,
caprinos, aves e excrementos humanos) em metano e dióxido de carbono. Trata-se de um
reservatório coberto com lona plástica, suas paredes são revestidas de concreto e o tamanho e
a profundidade variam de acordo com o lugar e o volume dos dejetos de cada criação, o ciclo
dura em média trinta dias, período onde o processo acontece. Sua função não é produzir
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biogás e sim fornecer as condições ideais para que um grupo de bactérias (metano gênicas)
degradem o material orgânico, como consequência desse processo de fermentação anaeróbica
será produzido o biogás e o biofertilizante.
Seria um equívoco afirmar que a discussão acerca da bioenergia é recente. No século
XIX na Inglaterra e na Índia já havia o conhecimento para separar dejetos e aproveita-los para
a geração de bioenergia a partir de métodos e instrumentos que posteriormente se chamaria de
biodigestor.
Com o advento da Revolução Industrial, dos ideais iluministas e das necessidades
iminentes, alguns cientistas investiram em estudos e técnicas que culminaram na descoberta
do gás combustível produzido a partir de materiais orgânicos, utilizados para diversos fins.
Na Inglaterra, essa fonte de energia passou a ser utilizada para iluminação pública
produzida a partir de fossas sépticas projetadas por Donald Cameron. Antes disso, Bombaim
na Índia já produzia biogás a partir da construção da primeira instalação operacional a qual
era destinado a atender um hospital de hansenianos. (Apud GASPAR, 2003)
A propósito Bombaim é considerada como a cidade vanguardista do biodigestor,
embora o biogás tenha sido descoberto em 1776, pelo pesquisador italiano Alessandro Volta
responsável pela descoberta do chamado "gás dos pântanos", principal subproduto
proveniente da decomposição de restos vegetais nestes ambientes confinados. (Apud
GASPAR, 2003)
No século XX mais uma vez Bombaim preconiza a primeira biodigestão a batelada
com funcionamento regular. O processo por bateladas ocorre porque o tanque ou dispositivo,
ao finalizar um processo é recarregado tantas vezes seja necessário para atender uma demanda
de pequena a média produtividade.
No século das guerras, a geopolítica dos conflitos mundiais impôs aos alemães e
italianos prejuízos irreparáveis no setor econômico que movidos pela necessidade passaram a
desenvolver técnicas para obtenção de biogás, uma vez que foram os povos mais atingidos
durante e depois da segunda guerra mundial.
No Brasil não tem consenso sobre o início do uso de biodigestores, as datas divergem
entre a década de 70 e 80, sabe-se, porém, que um dos principais motivos para a utilização
dos biodigestores foi a crise do petróleo. As pesquisas para utilização do biogás a partir da
biodigestão anaeróbia, ou seja, ausência de oxigênio, eram realizadas principalmente na
região Sul devido à grande concentração de criadores de suínos, aves e bovinos.
No nordeste do Brasil, por mais que as condições climáticas fossem as mais favoráveis
se comparada com as de outros países, não havia incentivos para este tipo de atividade, o
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interesse por essa tecnologia limpa se deu pela necessidade de alternativas energéticas e
exemplos bem-sucedidos da Índia e China, porém, com a produção do etanol da cana de
açúcar, os projetos relacionados com a biodigestão foram sendo esquecidos a ponto de não
haver registros destes empreendimentos por um bom tempo.

2.2 A biodigestão como meta da sustentabilidade

Pesquisas envolvendo fontes sustentáveis e alternativas de energia renováveis e de


baixo custo tem se intensificado em todo o planeta, a busca por medidas mitigadoras a fim de
diminuir a poluição ambiental, utilizando-se de fontes poluidoras têm se tornado um guia para
pesquisas com intuito de proteger o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida.
O uso de biodigestores entra como solução viável nesse processo, pois têm a
capacidade de transformar materiais descartáveis e incômodos como dejetos animais e
resíduos orgânicos provenientes das atividades humanas, em fonte de energia renovável e
limpa, uma oposição a energia gerada pelos combustíveis fósseis altamente poluidora e não
renovável.
A demanda por energia aumenta consideravelmente assim como a quantidade de
material particulado lançado na atmosfera conforme supracitado na introdução deste trabalho.
Os aglomerados urbanos assim como as áreas rurais podem contribuir de modo significativo
com o fornecimento de grandes quantidades de resíduos e de restos de culturas propiciados
pela modernização agrícola.
Neste sentido, a biodigestão torna-se um instrumento estratégico para nortear a política
urbana, pois atende a grande demanda de dejetos gerados a partir dos resíduos agrícolas,
dejetos de suínos, aves e excrementos humanos, que são altamente poluidores e nocivos ao
meio ambiente, não obstante vão ser gerado energia elétrica minimizando custos públicos e
ofertando melhor qualidade de vida para a população e o meio ambiente local.

2.3 Tipos de biodigestores

O mercado oferece uma série de modelos de biodigestores com as suas respectivas


operacionalidades que pode ser em batelada e contínuo. O primeiro funciona de forma
descontínua, ou seja, a carga de matéria orgânica é colocada e o processo de fermentação
anaeróbia acontece. Somente após um determinado período, em o gás já foi produzido, é
permitido uma nova carga.
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No modelo contínuo coloca-se a carga de matéria orgânica diariamente, por essa razão
requer um pouco mais de observação quanto ao processo de diluição que ocorre de forma
hidráulica.
A oferta de peças e equipamentos para a fabricação de biodigestores é encontrada nos
grandes centros e a sua funcionalidade depende de orientações técnicas.
Trata-se, portanto de uma tecnologia que pode ser utilizada por pequenos e médios
produtores e tem se mostrado uma alternativa viável que ajuda no controle de fontes
poluidoras do meio ambiente.
O biodigestor além de funcionar com dejetos animais pode ser abastecido com outras
fontes de matéria orgânica como palhas e sobras de cultivo, esgotos domésticos e sobras das
indústrias de alimentos. Deve-se considerar, no entanto a matéria orgânica que confere um
maior poder calorífico.
Como todo processo tem vantagens e desvantagens, essa última pode ser superada pela
diminuição dos GEE que potencializam o aquecimento global e pela geração de emprego e
renda, pois agrega significativo valor econômico e qualidade de vida aos pequenos e médios
produtores.
O mercado oferece, atualmente, diversos tipos de modelos de biodigestores os quais
variam de acordo com o local e o volume de dejetos a recepcionar. Os biodigestores mais
utilizados são o canadense, indiano e o chinês, sendo os dois últimos mais utilizados no Brasil
devido a facilidade de manuseio e os custos operacionais.

2.3.1 Principais Modelos de biodigestores

A marinha brasileira desenvolveu um modelo de biodigestor que também é conhecido


como biodigestor canadense, trata-se de um modelo tubular conforme observado nas fig. 1 e 2
e caracteriza-se pela sua horizontalidade, largura maior que a profundidade, caixa de carga em
alvenaria, essas características possibilitam maior exposição ao sol, evitam o entupimento,
consequentemente gera maior produção de biogás. A cúpula feita com material plástico
maleável (PVC) possui a capacidade de inflar durante a produção, podendo ser retirada,
possibilitando a limpeza.
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FIGURA 1 - Biodigestor Modelo FIGURA 2 - Biodigestor Modelo


Canadense ou da marinha brasileira Canadense ou da marinha brasileira
Fonte: EMBRAPA – 2016 Fonte: EMBRAPA – 2016

Esse tipo de biodigestor requer técnicos qualificados para uma manutenção contínua
além disso, o maior obstáculo para esse equipamento é o alto custo da cúpula
Entre os diversos modelos de biodigestores, o modelo indiano, destaca-se dos demais,
por ser perfeitamente adaptável aos diferentes tipos de solos. (Fig.3 e 4)

FIGURA 3 - Biodigestor modelo indiano FIGURA 4 – Modelo finalizado


Fonte: SEIXAS, 1980

A cúpula do biodigestor modelo indiano é geralmente feita de ferro ou fibra, o


processo de digestão acontece mais rápido, pois há maior proveito da temperatura do solo,
favorecendo a atividade das bactérias, o espaço ocupado é ainda menor dispensando o uso de
reforços como cintas de concreto, pois a construção é subterrânea.
Este tipo de biodigestor é muito apropriado para materiais homogêneos como o
esterco, ao utilizar outros tipos de matéria orgânica deve-se triturar para que não ocorra
imprevistos durante o processo. (SEIXAS et al., 1981, p. 17)
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O biodigestor modelo chinês, observado nas figuras de número 5 e 6, foi desenvolvido


para pequenas propriedades rurais, e se assemelha ao modelo canadense por ser construído em
alvenaria.
Se comparado com os demais tem um custo relativamente baixo, um dos pontos fortes
pois representa maior acessibilidade financeira entre a clientela de menor poder aquisitivo.

FIGURA 5 - Biodigestor Modelo Chinês FIGURA 6 – Modelo finalizado


Fonte: SEIXAS, 1980
FIGURA 3 - Biodigestor modelo chinês 1

Quanto ao dimensionamento, este modelo ocupa menos espaço, pois é enterrado no


chão como peça única e tem grande durabilidade, uma vez que não tem metal na sua estrutura.
O que deve ser mencionado sobre o biodigestor modelo chinês é que este libera uma
parte considerável do seu gás na atmosfera com o objetivo de diminuir a pressão interna da
câmara ou cúpula, o que depende de um manejo mais qualificado. Esses pontos são
considerados negativos e podem inviabilizar sua utilização em grande escala. (BONTURI e
VAN DIJK, 2012).
Por fim tem-se o biodigestor doméstico ou caseiro com capacidade de transformar e
reduzir o lixo orgânico doméstico ou de culturas, além de contribuir para fertilização do solo a
partir do resultado obtido.
Não obstante, esse modelo de biodigestor auxilia no tratamento dos resíduos sólidos o
que promove um ganho considerável para o meio ambiente pois retira materiais poluentes e
consequentemente aumenta a vida útil dos aterros sanitários. Os modelos apresentados abaixo
nas figuras 7 e 8 dão uma indicação da simplicidade para a obtenção desse biodigestor.
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FIGURA 8 - Biodigestor Modelo Doméstico


FIGURA 7 - Biodigestor Modelo Doméstico
finalizado
Fonte: Arruda et al, 2002
Fonte: EMBRAPA – 2016

O gás obtido, nesse tipo de biodigestor, é utilizado no preparo de alimentos,


favorecendo a eliminação do uso do gás butano, do carvão e consequente diminui-se o
desmatamento. Na agricultura com o aproveitamento e coleta do esterco para a produção,
esse processo acaba por minimizar a atividade de pragas nos animais como carrapatos,
moscas entre outros.
Normalmente esses tipos de biodigestores são feitos de materiais descartáveis
industrialmente, como tambores de metais e plástico duráveis e de baixo custo, seu
aproveitamento contribui na redução da poluição, uma vez que são retirados de depósitos,
diminuindo a toxidade do solo nestes locais e aumentando a vida útil dos aterros sanitários
que passam a receber menor quantidade de dejetos.

3. BIOGÁS

O biogás como resultado final do processo de biodigestão é composto por


aproximadamente 60% a 75% de CH4 (metano), 25% a 40% de CO2 (dióxido de carbono) e
traços de H2S, N2, H2. O metano presente no biogás é o terceiro gás do efeito estufa depois
do CO2 e vapor d´agua, comparado com o CO2 apresenta menor tempo de residência na
atmosfera, porém, possui maior potencial de aquecimento com relação ao CO2, pois
absorvem maior fração de radiação infravermelha, além do grande poder de absorção gera
outros gases do efeito estufa, como CO2 e O3 troposférico e vapor d´agua estratosférico.
O biogás é um subproduto da biodigestão e atinge de 4% a 7% da matéria orgânica
que foi utilizada inicialmente, é o resultado da digestão anaeróbia (OLIVEIRA, 2009).
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A utilização da biodigestão anaeróbica contribui para a não emissão antropogênica de


grandes quantidades de metano, principal subproduto oriundo da digestão da celulose em
alimentos de animais ruminantes, e resultantes de resíduos orgânicos, tanto presente no lixo
residencial, quanto industrial, sua eficiência além de produzir biogás a partir de dejetos,
contribui para o saneamento rural, conservação do meio ambiente, devido utilização de
compostos orgânicos como adubo e benefício ao agricultor, tanto na geração de energia
elétrica, quanto na produção de gás para consumo, melhorando assim a qualidade de vida dos
produtores.

3.1 Processo para a produção do biogás

A conversão da biomassa em combustível é o resultado da decomposição bacteriana


de matéria orgânica presente em dejetos animais, resíduos vegetais, lixos orgânicos
residenciais, efluentes ou lixo industrial como vinhaças, restos de abatedouro e frigoríficos,
curtumes, fábricas de alimentos e lodo de esgotos sob condições anaeróbicas, ou seja, a
ausência de oxigênio. (OLIVEIRA,2009). Para que esse processo ocorra são necessárias três
fases: fase de hidrólise; fase ácida e fase mutagênica.
Na fase de hidrólise as bactérias liberam no meio as chamadas enzimas extracelulares,
as quais irão promover a hidrólise das partículas e transformar as moléculas maiores em
moléculas menores e solúveis ao meio. (SMEJA, 2011)
Na fase ácida as bactérias produtoras de ácidos transformam moléculas de proteínas,
gorduras e carboidratos em ácidos orgânicos (ácido láctico, ácido butílico), etanol, amônia,
hidrogênio e dióxido de carbono e outros. (SMEJA, 2011)
Na última fase denominada metanogênica as bactérias atuam sobre o hidrogênio e o
dióxido de carbono, transformando-os em metanol (CH4). Esta fase limita a velocidade da
cadeia de reações devido principalmente à formação de microbolhas de metano e dióxido de
carbono em torno da bactéria metanogênica, isolando-a do contato direto com a mistura em
digestão. Razão pela qual a agitação no digestor é prática sempre recomendável, através de
movimentos giratórios do gasômetro. (SMEJA, 2011)
OLIVEIRA (2009) relata que o percentual de gases que constituem o biogás pode
variar dependendo do material utilizado na decomposição e da eficiência do biodigestor
conforme observado na tabela abaixo:
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Tipos de gases Quantidades (%)

Metano 40% a 80%


Dióxido 20% a 60%
Nitrogênio 0,5 a 3%
Hidrogênio 1% a 10%
Monóxido de Carbono 0,10%
Gás sulfídrico Pequenos traços
Oxigênio 1%

Tabela 1 - Tipos de gases que participam no processo para a produção do biogás


Fonte: Dados da Pesquisa, 2015.

Todos esses gases que estão diretamente envolvidos na produção do biogás


apresentam características distintas e em todos os casos podem representar maior ou menor
gasto no processo da fabricação do gás (OLIVEIRA, 2009).
O processo de biodigestão é obtido quando são combinados excrementos de animais e
restos de alimentos com água para que as bactérias comecem a agir anaerobicamente, dessa
forma ocorre a decomposição do lixo transformando-o em gás metano e adubo. Este gás por
sua vez, pode ser canalizado para alimentar um gerador ou um aquecedor e por fim, dado o
seu grau de reaproveitamento, os restos ou sobras podem ser usadas como fertilizante.

3.2 Biofertilizante

O biofertilizante é uma substância rica em nutrientes proveniente do processo de


fermentação anaeróbica (sem a presença de ar) de resíduos da lavoura ou dejetos de animais
na produção de biogás.
Sob forma líquida, o biofertilizante contém uma complexa composição de nutrientes
essenciais às plantas (principalmente nitrogênio e fósforo), atuando como fertilizante e
também como defensivo agrícola, erradicando pragas, doenças e insetos.
Além de não propagar mau cheiro e não ser poluente, a obtenção do biofertilizante não
apresenta custo, quando comparado aos fertilizantes químicos. A aplicação do biofertilizante
nas plantações favorece a multiplicação de micro-organismos, proporcionando saúde e vida
ao solo. Além disso, os biofertilizantes deixam a terra mais porosa, permitindo maior
penetração do ar nas camadas mais fundas até as raízes. (EMBRAPA, 2016)
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3.3 O biogás e os créditos de carbono

Durante a convenção para o clima realizada em 1997, foi estabelecido um tratado


reconhecido internacionalmente como Protocolo de Quioto o qual estabelece a redução para
as emissões de gases do efeito estufa (GEE) dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido
nitroso (N2O), hexafluoreto de enxofre (SF6), hidrofluorcarbonos (HFCs) e perfluorcarbonos
(PFCs), em um prazo pré-determinado. Aos países signatários e aqueles responsáveis pelas
maiores emissões de GEE cabe a responsabilidade de baixar seus índices de poluição
atmosférico a partir de medidas mitigadoras.
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Nesse protocolo definiu-se que os países poluidores fariam parte do anexo e aí se
destacam os países mais industrializados consequentemente os mais ricos e os países em
desenvolvimento seriam os chamados não anexos os quais não teriam metas a baixar, porém
podem e devem estabelecer mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) que aliem o
crescimento econômico com o desenvolvimento sustentável.
A partir do uso dos MDLs esses países poderiam estabelecer créditos de carbono e
comercializa-los em bolsas de valores. As práticas que envolvem os MDLs são aceitas a partir
de projetos viáveis, apresentados a comissões específicas e sujeitas a aprovação da ONU.
Dentre as práticas que minimizam a emissão dos GEE, principalmente do dióxido de
carbono e sugeridas pelo protocolo de Quioto (1997)4 podem ser destacadas:

Aumento no uso de fontes de energias limpas (biocombustíveis, energia


eólica, biomassa e solar);
Proteção de florestas e outras áreas verdes;
Otimização de sistemas de energia e transporte, visando o consumo racional
Diminuição das emissões de metano, presentes em sistemas de depósito de lixo
orgânico.

Embora seja uma solução mitigadora a ser alcançada a longo prazo, não existe
consenso em relação a sua efetividade e as divergências não cessam, grupos apoiam e outros
contestam afirmando que os créditos de carbono é uma permissão para poluir o fato é que a
partir do uso dos biodigestores, algumas propriedades já estão comercializando créditos de

³ O Anexo I reúne países industrializados membros da Convenção do Clima da ONU que se comprometeram em
reduzir as emissões de gases causadores de efeito estufa, aos níveis de 1990. Disponível em:
http://www.ecodesenvolvimento.org/glossario-de-termos/a/anexo-i-e-nao-anexo-i#ixzz4Lb4jy695 Acesso em 03
de agosto de 2016.
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Durante o primeiro período de compromisso, entre 2008-2012, 37 países industrializados e a Comunidade
Europeia comprometeram-se em reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) para uma média de 5% em
relação aos níveis de 1990
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carbono por produzirem o biogás que é considerado uma energia limpa e com isso deixam de
lançar na atmosfera os poluentes gases do efeito estufa (GEE).
Os créditos de carbono representam uma realidade principalmente nas regiões do sul
do país onde tem um maior investimento na gestão dos recursos advindos da diminuição
desses gases poluentes e onde a utilização da bioenergia tem se tornado uma realidade
lucrativa e ecologicamente correta.
O valor arrecadado tem sido utilizado para pagamentos dos investimentos e dos
financiamentos feitos pelas cooperativas de pequenos e médios produtores, o restante é
dividido proporcionalmente entre os integrantes cooperados de acordo com a redução em cada
propriedade.

3.4 A gestão dos resíduos sólidos e a legislação ambiental

A quantidade de resíduos sólidos tem sido um grande desafio de todos os gestores na


atualidade, os impactos ambientais associados ao manejo inadequado desses resíduos vêm
gerando problemas de saúde pública e requer uma maior percepção sobre os impactos
decorrentes dessa má gestão.
Não obstante, as questões climáticas ganham ênfase frente a quantidade de emissão
dos gases do efeito estufa.
O Brasil dispõe de uma das mais eficientes legislações ambientais do mundo, no
entanto a falta de fiscalização e a pouca efetividade torna a lei ineficiente. Pode-se afirmar
categoricamente que não existe um único município no Brasil que não sofra com problemas
ambientais decorrentes da geração de resíduos, aliado a isso a falta de conscientização e
educação ambiental da população corrobora para maximizar esses problemas.
A deposição inadequada dos resíduos sólidos acarreta a poluição do ar, do solo e
principalmente das águas e a natureza não tem a capacidade de absorver tamanho impacto.
Em 2010 é regulamentada a Política Nacional dos Resíduos Sólidos sob a Lei
12.305/2010

... que se destina às pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado,


responsáveis direta ou indiretamente pela geração de resíduos sólidos e as que
desenvolvem ações relacionadas `a gestão integrada ou ao gerenciamento de
resíduos sólidos (§ 1º do art. 1º da lei 12.305/2010).
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Uma das mais eficazes medidas dessa lei refere-se ao princípio da responsabilidade
compartilhada, ou seja, as pessoas sejam elas físicas ou jurídicas respondem em conjunto por
danos causados ao ambiente numa cadeia que vai desde a origem do problema até seu ponto
de impacto.
Os resíduos sólidos têm uma significativa influência em todas as alterações dos
ecossistemas, a necessidade desse suporte legal vem como um mecanismo de contenção para
diminuir de fato a emissão de poluentes através de compromissos firmados, entre pessoas
físicas ou jurídicas e para isso deverão ser adotadas medidas mitigadoras a partir da avaliação
dos riscos que a atividade urbana ou rural pode ocasionar ao ambiente.
Algumas ações servem como mitigação para determinadas atividades econômicas.
São práticas como o uso de biodigestores que tendem a minimizar os danos causados pela
geração de resíduos sólidos., até porque existe os resíduos urbanos produzidos pela sociedade
de consumo alimentada pela indústria e seus produtos com “obsolescência programada” e
existe os resíduos ou dejetos produzidos pelas atividades agrícolas com igual ou maior
potencial poluidor, o fato é que se faz necessário e urgente a reciclagem, e os biodigestores
demonstram ser o instrumento viável que se qualificam para produzir energia limpa e
renovável que pode diminuir o uso de combustíveis fósseis.
Segundo VELÁZQUEZ (et al 2006), o aproveitamento do biogás como produto do
tratamento de esgoto, para a geração de energia elétrica ocasiona uma redução no potencial de
poluição do meio ambiente.
O biogás é uma alternativa possível porque o Brasil é um país que tem sua economia
voltada principalmente para as atividades agrícolas e a grande quantidade de dejetos gerados a
partir da agropecuária deverá, obrigatoriamente, ter uma destinação adequada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fontes de energia renováveis como o biogás representam uma realidade ou


simplesmente serão utilizadas como medidas mitigadoras? Em detrimento aos padrões de
desenvolvimento econômico atual esse é um questionamento difícil de ser respondido
prontamente pois envolve a geopolítica energética global.
A temática aqui abordada carece de uma série de medidas práticas para de fato se
tornar uma realidade difusa em todas as regiões do país. Os trabalhos de pesquisa que versam
sobre as fontes de energia limpa trazem estudos de caso muito pontuais e isso demonstra que
a escala de abrangência se concentra na região centro sul do Brasil.
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O estabelecimento de estratégias de remediação e desenvolvimento sustentável


envolvendo a preservação ambiental e o uso racional dos recursos naturais é hoje a solução
para mitigar os impactos no meio ambiente e não deveria ser restrita a uma porção do
território.
A massificação do uso dos combustíveis fósseis ao longo de centenas de anos tem
dado mostra de que se faz necessário o uso de fontes alternativas de energia menos poluentes
e com grande capacidade de renovação.
O desenvolvimentismo fez dos países industrializados verdadeiros soberanos sobre o
uso das fontes de energias derivadas dos combustíveis fósseis como se estas fossem uma
panaceia. Um ledo engano visto que a sua extração depende cada vez mais de tecnologias
caras e o nível de poluentes resultantes dessas fontes, traz enormes prejuízos ao meio
ambiente.
Nas últimas décadas, no entanto, diante das mudanças no quadro socioambiental
houve um significativo avanço da legislação que define as políticas voltadas à proteção do
meio ambiente. Temas de grande relevância têm sido discutidos em fóruns mundiais e metas
vêm sendo estabelecidas, uma delas diz respeito a adoção do uso de energias alternativas que
emitam menor quantidade de gases do efeito estufa. O biogás é sim um princípio para
sustentabilidade, para a qualidade de vida e um aliado do meio ambiente, mas enfrenta
desafios como a falta de investimento econômico e escassez de fatores técnicos e humanos.
Diante desse panorama as fontes de energia renováveis representam uma realidade a
ser cada vez mais difundida e utilizada, não para mitigar impactos ambientais, mas como
matriz energética prioritária e uma alternativa viável a qual se opõe ao modelo de crescimento
predatório adotado pela sociedade moderna.

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