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A intervenção no grupo de mães se configurou na especificidade da abordagem

psicossocial de Pichon Rivière de grupo operativo com foco na tarefa1. Para Rivière
(2009), “o grupo operativo é um instrumento de trabalho, um método de investigação e
cumpre, além disso, uma função terapêutica”. Nesse sentido, Fiscmann (1997) aponta que
“todo grupo operativo é terapêutico, mas nem todo grupo terapêutico é operativo
(FISCMANN, 1997, p. 95). Isto significa que o referido grupo de mães é considerado
um grupo operativo e, por conseguinte um grupo terapêutico2. Fiscmann (1997)
acrescenta ainda:
Todo grupo que tiver uma tarefa a realizar e que puder, através desse trabalho
operativo, esclarecer suas dificuldades individuais, romper com os estereótipos
e possibilitar a identificação dos obstáculos que impedem o desenvolvimento
do indivíduo e que, além disso, o auxilie a encontrar suas próprias condições
de resolver ou se enfrentar com seus problemas é terapêutico” (FISCMANN,
1997, p.95).

A partir da experiência concreta com a tarefa explícita (dispositivos como


músicas, vídeos e outros), as participantes chegam a analisar, com auxílio das
intervenções da moderadora, a tarefa implícita, ou seja, enfrentam os medos básicos de
perda e de ataque e questionam estereótipos e modos naturalizados de funcionamento
psicológico tanto no âmbito pessoal (a citar a percepção da sexualidade dos filhos
deficientes), como interpessoal e societal. Ou seja, para que as integrantes exponham suas
concepções sobre diversos assuntos (incluindo a sexualidade dos filhos) são apresentados
dispositivos pela moderadora, que orienta a discussão, possibilitando que as crenças e
estereótipos emerjam, fazendo com que se interroguem sobre as mesmas, pensando em
conjunto, facilitando a comunicação.
Segundo Fiscmann (1997), “é na tarefa que se consegue abordar o objeto de
conhecimento de forma a romper com as pautas estereotipadas que estancam a mudança
e bloqueiam a comunicação” (FISCMANN, 1997, p. 98). Assim, para que o grupo avance
na resolução da tarefa é de extrema importância conhecer as fantasias universais para que
uma mudança processual e efetiva ocorra. Acredita-se que o grupo é um agente de cura,
sendo a tarefa um organizador dos processos de comunicação, pensamento e ação que
ocorrem entre os membros do grupo. Fiscmann (2010) aponta que a cura pode ser
entendida como a mudança nos estereótipos de funcionamento e a integração do pensar,
sentir e agir. Para Afonso (2010), os grupos operativos devem estimular a comunicação
entre os pares, a criatividade e a autonomia das participantes, “exigindo a mudança não
apenas de mentalidades, mas também das práticas e das relações que os participantes
desenvolvem em seu cotidiano” (AFONSO, 2010, p.63). Dessa maneira, buscou-se
compreender os sentimentos e as experiências dessas mães, bem como conhecer quais
eram as suas percepções acerca da sexualidade dos filhos deficientes, tema recorrente
durante os encontros.

1
Segundo Pichon Rivière (2009) “a tarefa corretora consistirá na reconstrução das redes de comunicação
tão profundamente perturbadas, na reconstrução dos vínculos, com uma reestruturação do inter-jogo de
papéis” (RIVIÈRE, 2009, p.80).
2
Acredita-se que caso o grupo seja terapêutico, a tarefa será a cura da enfermidade. Entretanto, a cura pode
ser entendida como uma mudança de crenças e estereótipos
Em suma, “um grupo operativo que persiste em seu trabalho em comum pode,
com o tempo, reivindicar tornar-se um grupo de terapia, uma associação, ou... algum
grupo com vínculos duradouros” (AFONSO, 2010, p.64), demonstrando que as fronteiras
entre os grupos não são rígidas. Os grupos se relacionam, mantêm um diálogo, o que
permite afirmar que um grupo operativo é também um grupo terapêutico, um grupo de
cura através de mudanças nas crenças e práticas de seus membros. O grupo operativo,
possibilitou a partir das tarefas explícitas o acesso às crenças das participantes. Através
da observação do discurso das mães, foram feitas reflexões a fim de que elas possam
reavaliar concepções, por vezes, naturalizadas e estigmatizadas em relação ao fenômeno
da deficiência, e da sexualidade de seus filhos, construindo outros possíveis ao contexto
social e familiar tanto das mães quanto dos filhos.

REFERÊNCIAS
AFONSO, M. L. M. Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. Casa do
Psicólogo, 2010.
FISCMANN, J. B. Como agem os grupos terapêuticos? In: ZIMERMAN, David E.,
OSÓRIO, Luiz Carlos, et. al. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1997, p.95-100.
PICHON RIVIÈRE, H. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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