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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA


DISCIPLINA ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO
2ª Avaliação
ALUNO MATRÍCULA
DATA DA
DISCIPLINA ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO PROVA
TIPO DE
PROFESSOR DOROTÉA ALBUQUERQUE DE CRISTO PROVA
CÓDIGO
TURMA 8NMA/NMB/NTA/NNA DA TURMA NOTA

Caso para análise


Caso Larissa (nome fictício) / Idade: 11 anos/ Estudante do 5ª ano do ensino fundamental. Caso
acompanhado pela clínica escola da UFPA no ano de 2002.
Queixa: agressividade com os familiares, falta de atenção e concentração na escola e recusa em
realizar as atividades da escola e em casa.
Quem procurou ajuda foi o pai adotivo (tio da criança), que veio sozinho para a entrevista
inicial. Na entrevista, disse que ele e sua esposa já são casados há mais de 15 anos, porém não
tiveram filhos biológicos, aconteceu um problema com sua esposa e ela não pôde gerar filhos.
Sua cunhada, que não é casada, teve dois filhos, porém, sozinha e com comportamento mais
liberal, não assumiu os filhos. – Ela sai muito à noite e bebe muito. - Estava desempregada,
dependia de sua mãe e sua irmã e não tinha tempo para sua própria vida. Acabou entregando os
filhos ainda pequenos (a cliente ainda bebê) para a irmã criar e foi morar em outro município.
Retornou anos depois.
-Agora parece que está trabalhando numa loja aí e vive com um companheiro numa
outra casa.
Quando o menino, hoje com treze anos, tinha nove anos, apresentou um quadro grave de
doença (Leucemia), obrigando os tios a largar tudo para buscar ajuda em São Paulo.
– O Pedrinho ficou em tratamento durante três anos em São Paulo, e nos revezamos, eu
e minha esposa, para cuidar dele
Os tios têm boa situação financeira e ambos trabalham numa grande empresa. A irmã
mais nova ficou com a avó. Nesse período, o tio disse que deram pouca atenção à Larissa, já que
o menino precisava mais deles. Parece bastante tenso e ansioso ao comentar:
-Percebemos mudanças na nossa filha quando retornamos de São Paulo
Acredita que a menina, apesar de demonstrar afeto pelo irmão, sente ciúme do mesmo e
fala muito mal dele para os tios e avó.
-Ela vive provocando o irmão -quando este se aborrece, o tio diz que ele reage, reclama
e ela diz que ele também é agressivo, não só ela.
-Certa vez disse que o irmão tem inveja da saúde dela, isso magoou o Pedrinho e fez com
que ele batesse nela, o que raramente acontece.
O tio diz que nunca deram preferência a nenhuma das crianças.
-Amamos os dois, amo demais minha filha, mas sabemos que o fato de Pedrinho ainda
inspirar cuidados, faz com que ela tenha ciúme.
Ele relatou que sua cunhada sempre foi irresponsável.
-Nunca teria condições de criar os filhos, por isso resolvemos adotar as crianças
definitivamente, excluindo o nome dela do registro de nascimento deles, já que precisamos cuidar
adequadamente enquanto pais. Isso acabou provocando problemas entre as duas irmãs. Só agora
ela vem dizer que nunca quis deixar de ser a mãe das crianças -como assim?? -Diz que apenas
pediu ajuda à irmã e que minha esposa está se aproveitando de sua situação financeira para
roubar seus filhos.
A menina, o tio acredita que, por ciúme do irmão, manifesta o desejo de ficar com a mãe
biológica. Parece expressar culpa pelo sofrimento da filha e ao mesmo tempo, raiva da cunhada.
Porém, o que mais preocupa os tios é um fato bem recente:
- Havia dado aos meus filhos um gatinho de presente, mas essa semana cheguei do
trabalho e soube que o gatinho estava morto e a Larissa confessou que foi ela. Diz que foi por
excesso de agrado, não foi por maldade, mas eu duvido, sinto que minha filha está muito
revoltada. Outro dia fui pegá-la na escola e ela já havia saído. Ela havia ligado para a mãe
biológica ir pegá-la, pois não estava se sentindo bem. Foi para a casa da mãe e não queria mais
voltar pra nossa casa. Passou alguns dias lá, depois ligou e pediu que eu fosse buscá-la, pois não
estava gostando do companheiro da mãe, disse que a mãe quase não lhe deu atenção, então ela
não queria mais ficar com ela.
Na primeira sessão com a criança, a mesma chegou acompanhada da mãe adotiva (tia),
demonstrando muito carinho por esta, a abraçando muito e beijando. A tia, sem corresponder aos
afagos da menina, comentou que a sobrinha está engordando muito.
- Ela está comendo de forma exagerada, principalmente doce. Também vem mentindo em
relação às tarefas da aula de reforço. A professora já reclamou que ela rasgou um dever do
caderno para não ter que fazer. - A menina negou, dizendo que não fez isso, mas também não
sabe dizer quem o teria feito.
Ao ficar só comigo, terapeuta, a criança diz estar sentindo falta da mãe biológica.
- Quase não visito minha mãe, porque ela trabalha durante a semana e nos fins de semana
eu faço aula de catecismo e vou à missa, quase não tenho tempo também! O que eu queria mesmo
era passar bastante tempo com a mamãe, eu só não moro com ela porque não gosto do Márcio
(companheiro dela). A minha mãe me ama muito e somos muito parecidas. - Diz que as pessoas
não entendem sua mãe: -Eles dizem que ela é errada, irresponsável, mas ela é boa- Diz que a
mãe não a entregou para adoção - Foi apenas um período difícil que ela estava passando, agora
ela vai ter que ir para a justiça para provar que nos quer de volta. Meus tios querem nos adotar,
mas eles podem ficar com o Pedro, eu quero ficar com a mamãe.
Relatou que a tia tem mais dinheiro: - Ela é toda certinha e todo mundo gosta dela, e da
mamãe?? Quem gosta da mamãe??
Defende sua mãe e diz que os tios só gostam do irmão e acham que só eles podem cuidar
dele, que precisa de tratamento, mas ela não precisa desses cuidados.
- A mamãe pode cuidar de mim. O Pedro se faz de coitadinho e meus tios sempre
defendem ele, mas eu sei que ele é falso. Eu sou sempre errada, assim como a minha mãe. Somos
incompreendidas- Expressa mágoa e depois sorri.
Resolvi mostrar vários brinquedos e outros materiais que poderiam facilitar a expressões
de Larissa, a mesma pegou um papel e perguntou se podia desenhar e pintar, eu disse que sim.
Desenhou uma casa, bem no canto da página, com portas fechadas, maçaneta em forma de coração
e janelas abertas. Pegou o lápis de cor e pintou a casa. Após isso pegou a tinta, escolheu a cor
mais escura, misturou e pintou o resto da folha inteira. Perguntei o que significava o desenho, ela
explicou:
-Na casa mora sozinha uma menina órfã, os seus pais morreram num acidente de carro.
A menina só tem 12 anos e mora num lugar bem distante, sem vizinhos, sua única companhia é
um cachorro- Falou isso com um misto de prazer e tristeza.
Depois pegou a cola colorida e pintou outro desenho de casa, (colorida, mas com cores
escuras) e um desenho de uma pessoa fora da casa, que tinha porta e janela fechada. Ao significar
o desenho, disse que era uma casa escura, ao ser questionada sobre quem era a pessoa, disse que
não sabia, perguntei se era a mesma menina do outro desenho, ela disse que não. Eu disse que
parecia uma bruxa, então ela disse:
-É isso! Pode ser, é a casa da bruxa, então! -Sorriu.
Na sessão seguinte chegou acompanhada da tia e do irmão; mais velho que ela, porém
mais baixo. Ela perguntou se se eles podiam entrar, a terapeuta disse que sim. Ela então pareceu
satisfeita; entraram e Larissa sentou num lado da mesa e a tia com o irmão do outro lado (o menino
no colo da mãe). Ambos chamavam a tia de mãe (na ausência dela, Larissa a chama de tia), porém
a mesma expressou muito mais afeto pelo filho, o chamando de “Pedrinho”, quase ignorando
Larissa. Larissa pareceu afetuosa com o irmão e mostrou os jogos para o irmão, que jogou dominó
junto com ela. Nesse encontro ficou bem claro o quanto a criança parecia satisfeita em mostrar ao
irmão a sala, dizendo que o tempo era dela e ela podia escolher o que fazer ali. Ele parecia muito
bem, a mãe disse que estava curado e que era seu “companheirinho”. Na saída, o pai chegou para
pegá-los e Larissa expressou alegria com todos ali. Ao sair, me deu um abraço apertado.
Nas duas sessões seguintes expressou estar gostando da atenção que todos estavam dando
a ela.
-Minha mãe está com muita raiva, disse que a titia sempre teve inveja dela, agora acha
que é mãe só porque o Pedrinho está curado. Ela também ajudou, só não podia pagar viagem
para São Paulo, você não acha? -Eu disse: -Você parece gostar muito da sua mãe, ter pena dela-
ela respondeu: -Claro! Titia me disse que sou igualzinha a mamãe! -Sorri. -Papai é legal, mas
minha tia me bate.
Pegou o papel e desenhou uma casa na praia, com uma mulher fora e uma menina na
janela. A mulher tinha um vestido comprido e um chapéu semelhante ao de uma bruxa, como no
desenho anterior (porém com cores claras, azul e rosa), portava uma varinha na mão, semelhante
ao de uma fada. Como nos contos de fada, a menina disse: -A menina foi presa no castelo pela
bruxa, ela não pode sair do castelo, senão morre! -Porém, notei que a menina do desenho estava
na janela, sorrindo.
Após quatro sessões, o pai foi até a clínica com a tia, disseram que a filha está bem mais
afetuosa e não tem brigado mais com o irmão. O casal resolveu pedir à empresa em que trabalham
transferência para a sede no Rio de Janeiro. Acreditam que lá, longe da influência da mãe
biológica, a criança poderá ficar mais próxima deles. Acreditam que a mãe biológica não quer os
filhos, já que nunca se responsabilizou por eles, está apenas chateada por ter seu nome retirado
do registro. Iam mudar assim que recebessem os documentos da transferência da escola e a
matrícula na escola no Rio de Janeiro. O processo da adoção ia continuar correndo. A mãe adotiva
relatou que sua relação com a irmã não estava nada boa, piorou muito e as crianças estavam
sofrendo consequências. Sempre tiveram problemas de relacionamento desde a infância. A mãe
as criou sozinha, sendo ela a mais velha e sempre a mais responsável.
-Minha mãe sempre superprotegeu minha irmã e ela sempre foi uma irresponsável. Não
terminou os estudos e só queria diversão, até os filhos dela eu e minha mãe criamos. Enquanto
ela esteve no interior nos deu um tempo de paz, depois do adoecimento do Pedrinho, ela quis dar
uma de mãe. Até pediu doações para o tratamento dele na rádio. Ridículo!! Doações que só
serviram para ela mesma, Pedrinho não precisou de nada disso, é mais nosso que dela.
Esperam que com a mudança de cidade, com a distância física, possam acabar de vez com
esses conflitos, que fazem muito mal às crianças, principalmente à Larissa.
Vários fenômenos me atravessam enquanto terapeuta nesse caso, como Larissa vai ficar?
Ela parece ter ficado bem após essas poucas sessões, mas sinto que a mãe adotiva parece não
senti-la como filha, seu afeto e preferência pelo menino são evidentes. O pai parece não fazer
realmente diferença entre os filhos. Gostaria de ter mais tempo para acompanhar a resolução do
caso. Fico satisfeita em perceber que consegui ajudar até onde deu, mas poderia fazer mais. Mudar
de cidade foi, pra eles, uma forma de resolver tudo, mas sinto que isso foi mais uma fuga de tudo,
adiando a solução do problema.

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