Desde a primeira plantação de cana de açúcar em terras
brasileiras, recém colônia de Portugal, se percebeu a adaptação enorme da planta ao solo e clima da região, primeiramente na capitania de Pernambuco e posteriormente ganharia as outras capitanias. Iniciando assim um ciclo econômico que ficou conhecido como “o ciclo açucareiro”.
A primeira mono cultura do Brasil ganhava enorme prestígio e
investimento pelo fato de que o valor dos produtos advindos da cana de açúcar era enorme, pela grande procura vinda de todos os grandes países da Europa. Portanto a atenção e estruturação formada em torno dessa produção se deu tanta atenção e se tornou tão complexo e material de estudo de diversos historiadores de todo o mundo.
As instalações dos engenhos no século XVI giravam em torno de
algumas características específicas. Existia o “engenho” a principal localidade dessas organizações, onde se fazia todo o manuseio da cana colhida. Lá se moía e faziam todos os derivados, de rapadura a cana. Era a área que mais recebia atenção e cuidado, era a única que não podia sofrer com revés, pois era o motor econômico da colônia. Existia também a “Casa Grande”, que era onde os Portugueses que geriam o cultivo e produção daquela região se estalavam. Apesar do nome, nem sempre eram enormes casas, pois a grande importância era voltada para a qualidade dos engenhos. E não menos importante, existia a “senzala”, local que servia como uma espécie de deposito de pessoas. Era onde os escravos eram presos e viviam todo o seu tempo em que não estavam manuseando os moinhos ou plantando/colhendo a cana sob o sol.
A relação com a mão de obra escrava sempre foi algo recorrente
nas fazendas açucareiras, mesmo em locais onde se existia o comércio e trabalhadores assalariados, a grande base desse motor econômico sempre foi a exploração do trabalho em sua maioria de origem africana. Isso se reflete em todas as relações sociais que eram estabelecidas nessa época por todas as regiões açucareiras. De racismo a valorização do trabalho, a relação desumana com essa produção sempre esteve e persiste viva.
A coexistência do modo de produção majoritariamente escravista e
a fé cristã instaurada como arma colonizadora e também como controle das capitanias com as capelas, demonstra o quão ingênuo é se ter fé em tais preceitos de “amor ao próximo”, “igualdade perante a deus”, “justiça” entre outros, pois, a legitimidade encontrada para a exploração e o tratamento desumano com os escravos de origem africana se encontrava na mesma fé que compactuo com massacres e assaltos, em nome de deus. A “supremacia” que os europeus pensavam ter sob os africanos era tamanha que, anos depois do inicio das organizações em prol da produção açucareira, a Casa Grande se aproximou estruturalmente da capela, para que assim pudessem transitar e assistir a missa sem ter contato com o povo que ali também se fazia presente. O próprio surgimento estrutural dos alpendres a frente da capela, era para que assim, os “não cristãos” pudessem assistir ao culto sem que adentrassem no ambiente, tornando um privilégio para poucos entrar em tal recinto.
A estrutura familiar que existia na casa grande, demonstrava muito
dos preceitos machistas tanto cristãos quanto patriarcais, pois se organizavam a partir da figura de um “pai” que por si só comandava todos os segmentos da organização do engenho, e que detinha a sua mulher como uma submissa de suas vontades e anseios. Ela por sua vez não tinha acesso nem se quer a uma alfabetização, pois o medo, por parte do pai, era de que ela escrevesse cartas para um possível namorado. O casamento das filhas era feito o mais cedo possível, eram arranjados e geralmente com parentes para que assim a riqueza permanecesse nas mãos dos mesmos. Tanto que a traição era menos julgada se não ocorresse a gravidez, pois manteria os bens nas mãos de poucos.
Os filhos tinham predeterminado os passos a seguirem. O
primogênito seguiria os passos do pai, se tornando o próximo “pai” que levaria adiante o engenho. O segundo se tornaria advogado, o terceiro padre, o quarto médico, e assim por diante. Dessa forma que se estruturava esta “Sacarocracia”, a aristocracia açucareira da época. Detinham eles o poder total sob escravos e terras, assim adquirindo um “horror” aos trabalhos braçais, pois tinham quem fizesse por eles, de abanar a cozinhar, tudo era feito pelos escravos.
Já em meados do século XVIII, escravos libertos começam a se
tornar moradores dos engenhos, pelo grande desprezo pela sua existência prezado pela aristocracia brasileira desde sua origem. São libertos mas para onde irão? Acabam por se instalar nos engenhos e se tornam novamente submissos as vontades do senhor igualmente. Pós república, empréstimos são feitos para grandes senhores conquistarem o tão sonhado “passo a frente” na produção açucareira, que é a mecanização das mesmas. Esse movimento transforma pequenos e médios senhores em apenas fornecedores da matéria prima, subsequentemente fechando inúmeros engenhos.
Essa nova faceta da produção açucareira, influenciada pela
revolução industrial que crescia em diversos países da europa, acaba por formar uma nova organização social. Esse “novo mundo” que as fábricas produzem, é o que fica conhecido como cidade. Diversas dessas cidades que coexistiram com o a existência de tais industrias, se tornam quase que uma unidade, e acabam se confundido entre cidade ou indústria. É também nessa época que surgem os edifícios e diversas outras características da civilização europeia que é trazida para o efervescente mercado que detinha o Brasil.
Diversas dessas industrias acabam por monopolizar totalmente as
regiões, fazendo com que em sua totalidade sejam exploradas única e exclusivamente para a plantação de cana de açúcar. Assim, “limpando” a região de sítios e de florestas. O que obviamente acarreta em uma erosão fortíssima no solo que antes recepcionava da melhor forma as lavouras, hoje sofre com o desmatamento oriundo das industrias e com a seca que isso proporcionou a região.
Grande força da colônia se deve a produção açucareira, fazendo
toda uma base historiográfica de estruturação e desenvolvimento em cima dos moldes da sociedade açucareira, e com sua origem e maior porte de produção tendo sido em Pernambuco, afirma-se que a história de Pernambuco se confunde com a história do açúcar, “Pernambuco é açúcar”.