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PROJETO E CONSTRUÇÃO DE UM TORNO MECÂNICO INSPIRADO EM

UM DESENHO DE LEONARDO DA VINCI

Felipe C. da S. Miranda, felipe_costa@id.uff.br1


Luiza S. Yassuda, luizayassuda@id.uff.br1
Daniel M. de Almeida, daniel_almeida@id.uff.br1
Marcelle E. Ferreira, marcelle@id.uff.br1
Yuri Sande Renni, yuri_renni@id.uff.br1
Fabiana R. Leta, fabianaleta@id.uff.br1
1
Universidade Federal Fluminense, Rua Passo da Pátria 156 – Niterói – Rio de Janeiro – Brasil.

Resumo: Este trabalho apresenta o desenvolvimento do projeto e processo de construção de um torno mecânico,
baseado em um desenho de Leonardo da Vinci. São tratados desde os aspectos históricos da idealização desta
máquina ferramenta, incluindo suas funcionalidades, até o desenvolvimento de um projeto mecânico, considerando
dimensionamento e materiais, compatível com o esboçado por Leonardo da Vinci e com a disponibilidade atual de
materiais. O projeto faz parte de uma pesquisa mais ampla que visa estudar Máquinas Antigas, sob o olhar da
história, da ciência e da tecnologia. O torno mecânico foi escolhido por representar uma importante máquina
ferramenta dentro da Engenharia Mecânica, visto que até os dias de hoje muitos objetos e peças necessitam de uma
máquina ferramenta deste tipo para serem fabricados. Considerando a qualidade do desenho disponível sobre o torno
em pauta, o processo de Engenharia Reversa adotado para o projeto e construção do torno foi desafiador,
particularmente em função da pouca informação apresentada no desenho e nas bibliografias sobre as obras de
Leonardo da Vinci. Assim, como resultado do projeto, tem-se um torno baseado em um desenho histórico, que permite
a usinagem de objetos macios com força motora humana, através do acionamento de um pedal, que permite o ensino
de conceitos de transmissão, inércia, processo de manufatura e ainda o estímulo ao estudo da história da ciência e da
tecnologia. Neste contexto, o artigo apresenta a metodologia adotada para a realização do torno, considerando o
projeto completo, com os desenhos e especificações de materiais, de modo a permitir sua reprodução por outros
grupos interessados no tema.

Palavras-chave: torno mecânico, Leonardo da Vinci, tecnologia, ensino de engenharia, fabricação mecânica.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo apresentar o detalhamento da construção de um torno mecânico inspirado na
máquina feita por Leonardo da Vinci, bem como os resultados obtidos e futuras correções. A motivação para esta
atividade teve como base o interesse no estudo de máquinas antigas, que foram de algumas formas inovadoras quando
apresentadas à sociedade, e são utilizadas até os dias de hoje, de maneira mais modernizada. Tais máquinas representam
grandes invenções do homem, que proporcionaram vasto desenvolvimento na área da Engenharia.
Além do aprendizado proveniente do estudo de máquinas antigas, outra motivação foi a possibilidade de se utilizar
a máquina, no caso um torno mecânico, para atividades de ensino e extensão, de forma a compartilhar com alunos de
graduação em Engenharia Mecânica, ensino médio e fundamental, conceitos físicos envolvidos e o conhecimento
adquirido de forma lúdica. Tem-se ainda o intuito de despertar o interesse em Engenharia, nos alunos que ainda não
escolheram qual carreira seguir.
O ponto de partida do projeto foi o estudo sobre a vida de Leonardo da Vinci, que foi um grande estudioso, sendo
referência na arte e na ciência, destacando-se, dentre muitas de suas contribuições, os seus engenhosos inventos (Moon,
2007). Ao analisar as invenções de da Vinci, o torno mecânico se enquadrou no objetivo desejado, por ser uma máquina
que teve significativa evolução e aplicação nos processos de fabricação em função de sua versatilidade e fácil manuseio.
Sendo uma máquina ferramenta fundamental para a Engenharia Mecânica, e, portanto amplamente utilizada atualmente.

A metodologia utilizada durante o projeto e construção teve como base a engenharia reversa que consiste em
observar projetos prontos ou desenhos, descobrir o funcionamento e tentar reproduzir e melhorar o mesmo, e o “hands-
on”, que significa mão na massa e aprender fazendo (Boesing e Rosa, 2008).
VIII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, 10 a 15 de agosto de 2014, Uberlândia - Minas Gerais

Este artigo representa a continuidade dos trabalhos apresentados em Oliveira et al (2012) e Ferreira et al (2013),
destacando-se aqui o projeto de detalhamento dimensional e de montagem do torno mecânico esboçado por Leonardo
da Vinci e seu uso.

2. Projeto

O projeto do torno mecânico de Leonardo Da Vinci foi idealizado a partir de alguns esboços do próprio inventor e
de vídeos e fotos de projetos semelhantes realizados por outros grupos ou pesquisadores como o Stuart King
(http://www.stuartking.co.uk/index.php/how-i-built-leonardo-da-vincis-lathe/).
Para projetar e dimensionar o torno, foi utilizado como parâmetro uma pessoa de estatura mediana nos dias de hoje,
permitindo que pessoas de diferentes estaturas utilizassem o torno confortavelmente. Os desenhos do torno e suas partes
foram feitos no software Solidworks® (http://www.solidworks.com/).
Para a fabricação, utilizou-se madeira e metal, materiais disponíveis à época de da Vinci, e que são
economicamente baratos. Foi utilizada uma madeira leve, barata e resistente para o corpo do torno e uma madeira
resistente e mais densa para o disco de inércia e outras partes que precisavam de maior resistência mecânica. As
madeiras encontradas que atendiam aos requisitos estipulados foram a "pinus" para o corpo e "maçaranduba" para o
disco de inércia.
Durante a fase de construção do torno, alguns problemas relativos à fabricação e à montagem surgiram,
particularmente relacionados ao material utilizado (madeira), tais como tolerâncias dimensionais inadequadamente
definidas e o próprio processo de manufatura. A madeira, por ser anisotrópica, rachava com facilidade quando
submetida a esforços em determinadas direções, assim algumas tolerâncias geométricas previamente definidas tiveram
que ser adequadas ao processo de fabricação e montagem.
O torno pode ser dividido em três partes: disco, partes móveis com exceção do disco (castanha, virabrequim,
corrente e pedal) e a estrutura que é a parte onde todas as outras serão montadas.
O disco é a peça que atuará como um elemento de inércia durante o funcionamento do torno. O funcionamento é
análogo ao volante de motor, um elemento de inércia presente em motores de combustão interna, onde o pistão desce
devido à força da combustão e em seguida sobe com a energia acumulada pelo volante do motor. No torno o pedal
desce devido à aplicação de uma força pelo operador e sobe com a energia acumulada pelo disco (Costa, 2001). Ou seja,
o disco de inércia impede que, devido às dissipações de energia como elevação do pedal, atrito das partes móveis e à
força de corte durante a usinagem, a velocidade angular das partes móveis sofra grandes oscilações. Quanto maior for a
inércia rotacional do disco menor será a variação da velocidade angular ao longo do processo de usinagem. Entretanto,
quanto maior for a inércia do disco maior será a força (a ser aplicada pelo operador) necessária para manter o disco
girando. Na Figura 1 apresenta-se o esboço de Leonardo da Vinci e o primeiro modelo idealizado por Oliveira (2012).
Na Figura 2 apresenta-se a evolução do desenho de conjunto do torno projetado.

Figura 1. Desenho do torno mecânico de Leonardo da Vinci e primeiro esboço do projeto.


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Figura 2. Projeto do torno.

Considerando-se a massa do pedal, as outras perdas de energia cinética, e a força a ser aplicada pelo operador
determinou- se que o momento de inércia do disco dever ser igual a 1,36 kg.m². O momento de inércia do disco é
calculado através da Eq.(1) (na qual M é a massa do disco em quilogramas e R o raio em metros). Onde percebe-se que
para modificar o momento de inércia, as alterações no raio são muito mais relevantes que alterações na massa (Norton,
2000).

2
M R
J = (1)
2

2.1. Escolha do material

O material escolhido para a construção da estrutura do torno foi a madeira pinus porque a mesma apresenta uma
boa resistência mecânica e uma densidade baixa. Construir a estrutura com um material com densidade alta aumentaria
muito a massa total do torno dificultando o transporte do mesmo. Uma boa resistência mecânica se faz necessária, pois
a estrutura irá suportar os esforços gerados pela rotação do disco que apresenta uma massa aproximada de 17,8 kg. Na
Tabela 1 são mostradas as propriedades mecânicas da madeira pinus utilizada na construção da estrutura do torno.
Módulo de ruptura (MOR), Módulo de elasticidade (MOE)

Tabela 1. Propriedades mecânicas da madeira pinus elliottii.

Pinus elliottii
Densidade 400 Kg/m³
Cisalhamento paralelo às fibras 12 MPa
MOR 70 MPa
Flexão estática
MOE 10632 MPa
Resistência 40 MPa
Compressão paralela às fibras
MOE 11183 MPa
Resistência 65 MPa
Tração paralela às fibras
MOE 13117MPa
Tração normal às fibras Resistência 3,0 MPa

Fontes: Bortoletto Junior (2008) e http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinus_elliottii)


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Foram utilizadas tábuas de 100x20x2 cm3 da madeira pinus para a construção do torno. Durante a montagem,
percebeu-se a necessidade de melhorar a resistência e o equilíbrio da estrutura, pois a mesma sustentaria peças mais
pesadas como disco e a placa de castanhas. Logo, para melhorar as características citadas, foram introduzidos no projeto
partes triangulares que foram fixados na base da estrutura.
A madeira utilizada na construção do disco foi a Massaranduba por apresentar uma densidade de 1071 kg/m³
(determinada empiricamente), superior à madeira pinus. A escolha de uma madeira com densidade alta foi feita para
aumentar a massa do disco, aumentando assim o seu momento de inércia. A placa de castanhas do torno também foi
construída com madeira Massaranduba, aumentando o momento de inércia total das partes móveis (disco, virabrequim e
placa de castanha).
Em Ferreira et al (2013) tem-se a lista completa dos materiais utilizados na construção do torno.

2.2. Dimensionamento, Fabricação e Montagem

As partes principais do torno projetado são destacadas na Fig. 3.

1 Placas triangulares de sustentação


2 Suporte lateral direito
3 Virabrequim
4 Disco
5 Suporte lateral central
6 Suporte lateral esquerdo
7 Placa de castanhas
8 Suporte de sustentação da mesa
9 Mesa
10 Suporte da mesa
11 Base da mesa
12 Pedal

Figura 3. Partes principais - vista lateral do torno.

2.2.1. Disco

Para construir o disco foi necessário unir três tábuas de 20 cm usando barras chatas e parafusos para tal. Estas
tábuas foram usinadas dando origem à forma circular final. Na Figura 4 apresenta-se o desenho do projeto do disco com
as barras chatas.

Figura 4. Montagem do disco de inércia.

2.2.2. Partes móveis

Consideram-se as partes móveis do projeto, todas que sofrerão movimento, a exceção do disco (item 2.2.1).
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Na Figura 5 tem-se o desenho da montagem da placa de castanhas utilizada para a fixação das peças no torno
mecânico.

Figura 5. Placa de castanhas.

O virabrequim é a peça que transmite o movimento angular do pedal para o disco e a placa de castanha. Essa peça
sofre a ação de várias forças, dentre elas uma força intermitente vertical para baixo, que atua durante o movimento de
descida do pedal, aplicada pela corrente, que transmite a força exercida pelo operador no pedal, no virabrequim. Além
disto, têm-se o peso do pedal, o peso do disco, o peso da placa de castanha e as reações dos mancais. Como o
virabrequim está em rotação e sofrendo ao mesmo tempo a ação dessas forças verticais está sujeito a sofrer também
fadiga por flexão rotativa. O material do virabrequim também precisa suportar os torques aos quais é submetido, torques
devidos principalmente à alta inércia do disco. O virabrequim foi construído em aço carbono 1020 (barra chata) e aço
A36 (barra redonda) para suportar os esforços ao quais é submetido.
(http://www.damec.ct.utfpr.edu.br/motores/downloads/elementos%20do%20motor.pdf)
Para a montagem do virabrequim foram realizadas soldagens para unir a barra redonda à barra chata e com a placa
de suporte da placa de castanhas. Os furos na manivela foram realizados com a furadeira de bancada. Os furos na barra
chata permitem alterar o comprimento da manivela, modificando o tamanho do curso do pedal e o torque aplicado ao
disco. A seguir, na Fig. 6 está representada a montagem do virabrequim, com detalhe para os furos na manivela.

Figura 6. Detalhamento do virabrequim.

2.2.3. Estrutura

O desenho do torno, observada na representação da Fig. 3, é composta de um conjunto de estruturas de madeira que
foram cortadas utilizando-se uma serra circular de bancada. Os furos foram obtidos utilizando-se uma furadeira de
bancada, e os rasgos na mesa foram feitos em uma fresadora. A Figura 7 mostra os rasgos na madeira sendo feitos na
fresadora.
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Figura 7. Rasgo da madeira sendo feito em uma fresadora.

Nas Figuras 8 e 9 estão representados o pedal e as estruturas de sustentação do torno.

Figura 8. Montagem do pedal.

O pedal é ligado ao virabrequim através de uma corrente que fica ligada na barra roscada na extremidade direita do
pedal no desenho. As partes da estrutura estão dimensionadas com os furos para a montagem dos triângulos que
aumentam a rigidez da estrutura conforme citado anteriormente. Todas as ligações foram realizadas com parafusos de
madeira de rosca métrica com diâmetro de 8 mm. Os furos maiores nas estruturas representadas a seguir (Fig. 9),
sustentam um rolamento para o virabrequim.
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Figura 9. Estrutura do torno – suportes laterais direito, central e esquerdo.

A montagem final exposta em um evento pode ser observada na Fig. 10.

Figura 10. Torno mecânico montado em exposição.

2.3. Principais Dificuldades

A primeira dificuldade encontrada no projeto surgiu no momento de estabelecer os elementos componentes do


torno e estimar seu dimensionamento. O esboço de Leonardo da Vinci apresenta apenas uma indicação de algumas
partes mecânicas essenciais para o funcionamento da máquina, que não são suficientes para sua reprodução real.
As cotas inicialmente definidas foram ao longo do desenvolvimento do projeto alteradas, adequando-se às
necessidades de fabricação e montagem.
Foram considerados como parâmetros relevantes o diâmetro do disco e a altura média de uma pessoa. Deste modo
as dimensões máximas do torno correspondem a 1,1 m de comprimento, 1,4 m de altura e 0,8 m de largura.
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Outra dificuldade encontrada referiu-se ao fato da madeira ser anisotrópica. Ou seja, suas propriedades mecânicas
variam com a direção. Pode-se observar na tabela 1 que a resistência à tração paralela as fibras é muito superior que a
resistência à tração normal as fibras. Por isso foi feita uma análise para determinar a posição das fibras em relação às
forças as quais a estrutura está submetida. E optou-se por utilizar as madeiras com as fibras orientadas na vertical (no
caso das madeiras que estariam na vertical e suportariam os maiores esforços). Entretanto surgiu um problema ao
prender os rolamentos na madeira.
Foram feitos furos com serra-copo na madeira pinus nos locais onde seriam encaixados os rolamentos com ajuste
por interferência. A madeira foi utilizada como mancal para os rolamentos. Porém no momento em que se encaixaram
os rolamentos na madeira, a mesma rachou na direção paralela às fibras. Isto se deve ao fato que, quando encaixado na
madeira, o rolamento aplica forças radiais apontando para todas as direções na madeira, fazendo com que esta acabe por
rachar na direção em que possui menor resistência à tração. A solução encontrada para solucionar esse problema foi
reduzir a interferência entre o rolamento e a madeira.

3. CONSIDERAÇÕES GERAIS

Visando seguir a metodologia de hands-on, todas as peças projetadas foram fabricadas pelo grupo envolvido no
projeto, com exceção apenas dos parafusos, das porcas e dos rolamentos. Em função da escolha do material utilizado
procurar ser a mais próxima possível do esboço original de Leonardo da Vinci, não foi possível obter peças com
tolerâncias dimensionais e geométricas muito baixas, o que gerou erros na fase de construção do projeto, demandando
ajustes e adaptações.
Os erros ocorridos durante a fabricação fizeram com que a perpendicularidade entre as barras redondas e as barras
chatas estivessem fora da tolerância especificada. O que fez com que o batimento da placa de castanhas também ficasse
acima do tolerado pelo projeto. O batimento acima do tolerado faz com que a placa de castanha, tal qual a peça a ser
usinada, gire excentricamente gerando problemas na usinagem. A solução proposta é refazer o virabrequim e adicionar
um novo mancal entre o munhão do virabrequim e a placa de castanha, o que adequará o batimento da placa de castanha
à tolerância.
Assim, após a finalização da fabricação das peças e montagem do torno, fez-se uma análise crítica do projeto, e
observou-se que algumas alterações podem resultar no melhor desempenho do torno. As alterações referem-se
fundamentalmente à escolha dos materiais e dimensionamento de alguns elementos do torno.
A troca dos rolamentos por mancais de madeira, por exemplo, tornaria o projeto mais fiel aos materiais disponíveis
na época de idealização do projeto. Além disso, evitaria a necessidade de adaptação do eixo utilizado à face interna do
rolamento, devido à diferença de diâmetros.
Outra alteração possível consiste na troca do eixo atual (barra de diâmetro ½ pol) , por uma barra de aço de maior
diâmetro. A barra de maior diâmetro resistiria melhor à carga exercida pelo disco de madeira. Além disso, possibilitaria
uma melhor perpendicularidade na soldagem e fixação tanto à placa de castanha como ao disco de madeira. Caso esta
alteração não fosse possível, outra solução seria a adição de um mancal para o eixo próximo à placa de castanha.
O virabrequim móvel, com diferentes possibilidades de montagem, apesar de ser bom para fins didáticos apresentou
problemas na transmissão de movimento ao eixo. Não foi possível uma fixação eficiente do virabrequim neste modelo.
Apesar de se perder parte da teoria envolvida nesta peça para ensino, acredita-se que um virabrequim soldado, fixo, seja
indispensável ao bom funcionamento da máquina.
Além destas alterações principais, outras alterações mais simples são propostas. Para deixar a placa de castanha
mais leve, é possível diminuir o comprimento dos dentes da placa de castanha. Da mesma forma, o pedal poderia ficar
mais leve realizando-se um rasgo no centro da peça ou pela simples troca de material. Isso facilitaria a rotação do
virabrequim, especialmente no momento em que o virabrequim exige que o pedal suba. Notou-se que aumentar a massa
do pedal não melhora o desempenho das rotações do disco. Contudo, aumentar a placa metálica de fixação do eixo no
disco de madeira não seria prejudicial ao seu propósito, acumular inércia, e facilitaria ainda esta fixação.
Finalmente, para que as placas verticais que suportam o disco de madeira, o virabrequim e a placa de castanha não se
desloquem de sua posição ideal, propõe-se a adição de apoios de madeira entre estas na altura mais afastada do solo
possível.

4. CONCLUSÕES

Encontrar erros ao final da construção era esperado, devido: à metodologia de engenharia reversa e hands-on
adotada, ao fato do projeto ter sido desenvolvido a partir de esboços sem dimensões, e, às limitações de usinagem dos
materiais utilizados.
Propõe-se como possibilidade de trabalhos futuros, inicialmente, a realização dos reparos necessários, citados no
item 3, para melhor funcionamento do torno mecânico construído. Mais a diante, dando sequência ao estudo de
Máquinas Antigas, poderão ser projetadas e fabricadas outras máquinas antigas idealizadas por Leonardo Da Vinci ou
outros inventores da antiguidade. A proposta é usar tais máquinas como ferramenta de ensino de conceitos de Física e
Engenharia junto a alunos de graduação e de ensino médio e fundamental.
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5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao MEC-SESu e à CAPES pelo apoio financeiro.

6. REFERÊNCIAS

Boesing, I. J., André da Rosa, J., Jung, C. F., & Sporket, F., 2008, Desenvolvimento de competências na formação do
engenheiro de produção: uma contribuição a partir do ensino de física. GEPROS. Gestão da Produção, Operações e
Sistemas-ISSN 1984-2430, 4(4), 89.
Bortoletto Júnior, G., 2008, “Estudo de algumas propriedades físicas e mecânicas da madeira de Pinus merkusii”, Sci.
For., Piracicaba, v. 36, n. 79, p. 237-243, set. 2008.
Costa, P.G., “A Bíblia do Carro”, 2001-2002, disponível em
http://www.rastrum.com.br/dir_smb/manuais/automotivos/Mecanica%20Automotiva.PDF. Acessado em 10 de
janeiro de 2014.
Ferreira, M., Brandão, P. V., Miranda, F.C. DA S., Almeida, D. M. de, Yassuda, L. S., Souza, C. P. de, Renne, Y.,
Leta. F. R. Aplicando as Metodologias de Ensino Hands-On e Engenharia Reversa no Projeto de Fabricação do
Torno Mecânico de Leonardo da Vinci como Ferramenta de Ensino. I Congresso Fluminense de Engenharia,
Tecnologia e Meio Ambiente – UFF, Niterói, 2013.
Solidworks, disponível em: http://www.solidworks.com/. Acessado em 4 de outubro de 2013.
Pinus Elliottii, Wikipedia, 27 março 2013, disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pinus_elliottii Acessado em 3 de
fevereiro de 2014.
King, S., How I built Leonardo Da Vinci's lathe, disponível em: http://www.stuartking.co.uk/index.php/how-i-built-
leonardo-da-vincis-lathe/. Acessado em 10 de novembro de 2013.
Moon, F. C., 2007, The Machines of Leonardo Da Vinci and Franz Reuleaux: kinematics of machines from the
Renaissance to the 20th Century (Vol. 2). Springer.
Norton, R. L., 2000, Projeto de Máquinas: Uma Abordagem. Ed. Artmed.
Oliveira, S. S.; Ferreira, M. E. ; Júnior, D. P. de S. ; Demolinari, H. C. ; Leta, F. R., 2012, Aprendendo Projeto
Mecânico e História da Ciência a partir de Máquinas Antigas. In: XL Congresso Brasileiro de Educação em
Engenharia, 2012, Belém. Anais do XL Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia.
Vlassov, D., Dimensionamento de Elementos do Motor, disponível em:
http://www.damec.ct.utfpr.edu.br/motores/downloads/elementos%20do%20motor.pdf. Acessado em 1 de novembro
de 2013 .

7. RESPONSABILIDADE AUTORAL

Os autores são os únicos responsáveis pelo conteúdo deste trabalho.

DESIGN AND CONSTRUCTION OF A LATHE INSPIRED IN LEONARDO


DA VINCI’S DRAWING

Felipe C. da S. Miranda, felipe_costa@id.uff.br1


Luiza S. Yassuda, luizayassuda@id.uff.br1
Daniel M. de Almeida, daniel_almeida@id.uff.br1
Marcelle E. Ferreira, marcelle@id.uff.br1
Yuri Sande Renni, yuri_renni@id.uff.br1
Fabiana R. Leta, fabianaleta@id.uff.br1r
1
Universidade Federal Fluminense, R. Passo da Pátria, 156– Niterói – Rio de Janeiro – Brazil.
VIII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica, 10 a 15 de agosto de 2014, Uberlândia - Minas Gerais

Abstract. This paper discusses the design and manufacturing process of a lathe, based on a Leonardo da Vinci’s
drawing. It presents some historical aspects of the idealization of this machine tool, including its functionalities. The
machine project considered the dimension and materials choice, compatible with the Leonardo da Vinci´s available
sketch. The manufactured lathe is part of a wider research that aims at studying Ancient Machines, considering
historical, scientific and technological aspects. The lathe was chosen because it represents an important machine tool
in the Mechanical Engineering field, even nowadays when many objects and pieces require this type of machine tool to
be manufactured. Considering the quality of the available drawing, it was great challenge to make a reverse
engineering process, especially due to the existing information in the drawing and bibliography of Leonardo da Vinci’s
works. As a result of this work, a lathe based on a historical drawing was developed and manufactured. The lathe
allows the machining of soft objects using human driving force, by operating a pedal that allows teaching
transmission, inertia and manufacturing process concepts and also stimulates the study of Science and Technology’s
history. In this context, the paper presents the methodology adopted for building the lathe, considering the entire
project, its drawings and material specifications, in order to enable its reproduction by other groups interested in the
subject.

Keywords: lathe, Leonardo da Vinci, engineering teaching, technology, manufacturing.

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