Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sim
O OVO DA SERPENTE
Assim, melhorou a condição feminina. Quem dos mais novos imagina que na
década de 1980 existia um "movimento machista mineiro", que defendia o direito do
"macho" a matar a mulher, ante a mera suspeita de que ela o traísse? Quem lembra que
foi preciso pichar paredes com o slogan "Quem ama não mata" para não só penalizar o
assassinato que era denominado "legítima defesa da honra", como também e sobretudo
para educar os homens a respeitar as mulheres? Em tudo isso, avançamos.
No entanto, nos últimos anos, com a tolerância e por vezes até algum estranho
prazer de secções da mídia, e o decidido engajamento de umas confissões religiosas,
tem havido uma reação a essas conquistas –que não são apenas das mulheres. Porque
toda repressão às chamadas minorias é na verdade uma forma do repressor recalcar, nele
mesmo, as condutas mais livres, liberais ou libertárias que ele inveja no grupo
minoritário.
Uma questão relevante, o direito ao aborto, foi praticamente excluída do
horizonte do viável, devido a uma manipulação propagandística nas últimas eleições
presidenciais. Pior, cresce a ideia de que certas mulheres são culpadas por excitarem
homens sexualmente, o que justificaria, pelo menos em parte, as agressões de que são
vítimas.
No Brasil, muitos acreditam que pode ser atacada uma mulher que se veste de
modo provocante, segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada). Na Arábia Saudita, país que crucifica e degola seus presos, a culpa é das
mulheres que se maquiam: 86,5% dos homens acham isso (sério, veja em
tinyurl.com/mjdwfql).
Deixando claro: há mulheres, sim, que têm prazer em excitar um desejo sexual e,
depois, têm novo prazer em não o satisfazer. Essa não é uma conduta elogiável –mas
não autoriza ninguém a estuprá-las ou sequer assediá-las. Podemos discutir o que leva
uma mulher a ser "allumeuse", aquela que acende o desejo só pelo gosto de acender.
Faz parte do debate sobre a dificuldade atual com os laços humanos. Mas entender o
narcisismo não é justificar a agressão. Se um homem se sente provocado, que se
controle.
Na verdade, o sinal de um recuo nos costumes não está ainda sendo dado no
campo das mulheres, mas no trato com os homossexuais. Só que políticos que pregam
contra os gays também condenam mulheres independentes. Crimes de ódio contra os
homossexuais crescem. Contam com a simpatia, às vezes travestida de compreensão, de
colunistas.
ALBA ZALUAR
05/04/2014 03h00
REAÇÃO CONSCIENTE
E já sabemos onde e com quem intensificar tais ações. As zonas onde há mais
coesão social por causa da homogeneidade étnica, religiosa e social, onde a moradia é
de longa data e os vizinhos desenvolveram relações de confiança e ajuda mútua, onde
há mais associações, essas zonas são as que apresentam taxas de criminalidade mais
baixas, escolas mais eficazes, bem como adultos mais responsáveis que socializam os
mais jovens segundo os valores e regras de convivência claros, aprovados socialmente
pelos locais, aí incluídos a proteção dos mais frágeis: mulheres, crianças e idosos.
Esse tipo de pesquisa que afirma respostas e pede para confirmar têm um viés.
Suscitam o espelhamento mais do que o julgamento dos entrevistados. Estes
manifestam a tendência em concordar com o que diz o pesquisador. Os números estão
provavelmente exagerados.