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JOSÉ LEITE LOPES:

idéias e paixões

Organizado e editado por Francisco Caruso

Em comemoração aos 80 anos de José Leite Lopes

Baseado em uma série de entrevistas realizadas


entre 27 de março e 10 de setembro de 1998.

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF


Rio de Janeiro
1999
 Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Responsável: Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia

José Leite Lopes : idéias e paixões / organizado e editado por


Francisco Caruso.
– Rio de Janeiro : Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas –
CBPF, 1999.
xiii, 142 p. ; 15,5  21 cm.

Em comemoração aos 80 anos de José Leite Lopes.


Baseado em uma série de entrevistas realizadas entre
27 de março e 10 de setembro de 1998.
ISBN 85-85752-06-8

1. Literatura Brasileira - ensaios. 2. Ciência. 3.


Humanismo. I. Francisco
Caruso. I. Título: Idéias e paixões.

ii
iii
iv
PREFÁCIO

LEITE LOPES: O RETRATO DE


UM HOMEM FELIZ
Flashes, fragmentos de memória, retratos, imagens
arrancadas do tempo… A fala de Leite Lopes reconstrói
espaços e figuras, quase ao acaso, a partir de palavras-
chave, provocações sugeridas por Francisco Caruso: amor,
academia, mulher, Richard Feynman, quark, partícula Z,
Física, Einstein, política... Cruzam-se ruas de Recife, a
Faculdade de Filosofia, Luiz Freire, Princeton, Estrasburgo,
os corredores do CBPF, o laboratório de física de partículas
de Estrasburgo, as noites de insônia dedicadas à pintura, a
música em Nova York… mas, acima de tudo, como um
traço de união, um fio condutor desses quase-ensaios, a
paixão pela Ciência e pela Vida e a integridade de um
homem que não hesita em vergastar os poderosos em
defesa da Cultura.
O ensaio, como é sabido, é criação de Montaigne.
Suas raízes, entretanto, remontam, como quase tudo, à
Antigüidade Clássica: Cícero, sobre a amizade e a velhice;
Sêneca e a providência, a ira, a felicidade, o ócio, a
tranqüilidade da alma e a brevidade da vida, para não falar
nos diálogos de Platão  o Banquete (Symposium), por
exemplo  nos quais as intervenções dos participantes
chegam a constituir verdadeiros ensaios autônomos.
Entretanto, o que se nota, e a tradição confirma, é
que, se esses textos abordam questões de profundo
interesse humano, raramente tocam a Ciência: o ensaio
não atrai cientistas. Há, é certo, quase exceções a
confirmar a regra; no século XVIII, d’Alembert e os

v
enciclopedistas. Mais recentemente, Einstein nos legou,
com generosidade, suas reflexões.
Outra exceção notável é a obra de Ernesto Sábato,
Nós e o Universo, uma coletânea de ensaios curtos
organizados em forma de dicionário. Sábato tinha sido
assistente de Mme. Curie, em Paris, antes de se decidir
pela literatura e de estrear exatamente com esse livro
extraordinário, premiado por um júri do qual Jorge Luiz
Borges fazia parte.
Notam-se, por outro lado, diferenças notáveis entre
as obras de Sábato e de Leite. Em primeiro lugar, Sábato
trabalha no silêncio do escritório: são textos literariamente
elaborados, burilados, que não escondem o fato de que
seu autor, naquele momento, se afastava da Ciência 
numa espécie de ajuste de contas  e ingressava no
mundo literário. Já o depoimento de Leite Lopes, gravado
no calor do momento, constrói-se sob a inspiração do
instante, sem apelo a nada fora da memória do autor. Além
disso, é a voz de um homem que sempre pretendeu
mergulhar cada vez mais e mais no mundo da Ciência. O
caráter espontâneo e vivo do livro de Leite Lopes dá a esse
texto um tom original e de notável interesse. É obra quase
autobiográfica, tingida pela experiência do autor.
Esses verbetes, em conjunto, articulam pontos e
traços, compõem linhas e esboços que, pouco a pouco,
iluminam a vida e nos revelam a face calorosa do professor
Leite Lopes, o retrato de um homem feliz, tocado pela
mesma felicidade que Vergilio vislumbrou em Lucrécio:
“felix qui potuit rerum cognoscere causas”.

Roberto Moreira Xavier de Araújo


CBPF

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APRESENTAÇÃO

Crítico, perspicaz, irônico, inquieto, mas, sobretudo,


apaixonado por tudo aquilo que faz e que o cerca, pela
Ciência, pela Educação, pelas Artes, pelas mulheres, pela
vida, enfim, José Leite Lopes é um dos maiores nomes da
Ciência brasileira. Essa sua paixão transcende, na verdade,
a Ciência e o leva a buscar interrelações com outras
atividades da sociedade, contribuindo para que a Ciência
se insira no contexto mais amplo da nossa Cultura. Desta
forma, o cientista e o humanista se completam, e se
fundem ainda com o artista Leite Lopes. Uma constante
preocupação com o papel ético e social do cientista
permeia também sua obra de forma muito marcante. Essa
paixão, nutrida por um intelectual extremanente ativo, que
teimou em dedicar toda uma vida à criação de um ambiente
científico no Brasil, o faz ir além de seus poros e invadir o
espaço dos outros. Este livro permitirá aos leitores
invadirem o universo de suas lembranças, de suas idéias,
de seus amores e vislumbrarem traços de um eterno
apaixonado.
A uma pessoa assim tão especial, é difícil dar um
presente especial quando ela completa 80 anos. Foi
exatamente pensando nessa dificuldade que me ocorreu
propor a Leite Lopes que fosse ele a nos dar um presente
na forma de um livro. Lembrei-me, então, que Ernesto
Sábato nos havia presenteado com o belo livro Nós e o
Universo, escrito em forma de verbetes, quando abandonou
a Física. Assim, comecei a escolher um conjunto de
palavras através do qual veríamos refletida uma espécie de
imagem cubista do aniversariante. A escolha era, portanto,
muito importante, pois deveria também refletir a
multiplicidade de interesses de Leite Lopes, permitindo a
cada leitor formar o perfil deste cientista ainda apaixonado

vii
pela Física. Decidido isto, quantos verbetes escolher? 83
me pareceu ser a escolha natural: 80 para comemorar seus
80 anos e 3 adicionais como a metáfora dos três pontos
das reticências a lhe desejar muitos e muitos anos de vida. 
Para minha alegria, Leite Lopes aceitou imediatamente o
convite e, no dia 27 de março de 1998, demos início à
gravação das entrevistas que se estenderam até o dia 10
de setembro, registradas em pouco menos de 7 fitas de
áudio de 60 minutos cada. A transcrição ipsis litteris das
entrevistas foi feita com a inestimável colaboração do aluno
Bruno Maia. Este texto foi editado por mim e foi revisto e
corrigido pelo Prof. Leite Lopes, que introduziu pouquíssima
informação que não consta das fitas. No árduo trabalho de
revisão, pude contar com o auxílio fundamental da Sra.
Márcia de Oliveira Reis Brandão e do Prof. Roberto Moreira
Xavier de Araújo. Aos três gostaria de externar minha
sincera gratidão. Agradeço ainda ao Prof. Amós Troper,
Diretor do CBPF, por seu decisivo apoio a esta publicação.
Durante o longo período de gravação das
entrevistas, mantive um convívio quase diário com Leite
Lopes e o número de horas que conversamos superou em
muito o número de horas gravadas. Nossas conversas
eram sempre pela manhã, em sua sala no terceiro andar do
CBPF, em meio a seus livros e seus quadros, e o ritmo de
trabalho não foi sempre uniforme, devido a vários fatores,
mas foi sempre muito prazeroso e, por várias vezes, seu
lado humano falou mais alto e suas palavras afloraram
carregadas de sentimento. Lembro-me, por exemplo, de vê-
lo emocionado quando pediu para ouvir o que havia dito
sobre “amor”; de sua indignação ao falar sobre a “seca”,
poucos dias após termos visto na televisão uma reportagem


A relação completa dos verbetes encontra-se ao final desta
apresentação.

viii
sobre a fome causada pela seca no Nordeste; de sua
empolgação recitando Rilke em alemão e em português; de
seus olhos divagarem quando falava de certas pessoas do
passado e do carinho com que se referia a outras.
Raríssimas vezes Leite pediu para falar sobre o tema
proposto em um outro dia; na grande maioria das vezes, ele
começava a falar imediatamente após eu lhe propor o tema
e, em certas ocasiões, era difícil fazê-lo parar.
Para o leitor que não conhece a obra do Prof. José
Leite Lopes, ofereço, agora, um resumo de sua trajetória
como homem e cientista.
Nascido em 28 de outubro de 1918, na cidade do
Recife, Pernambuco, Brasil, José Leite Lopes concluiu seus
estudos secundários no Colégio Marista, em sua cidade
natal, em 1934. Bacharelou-se em Química Industrial na
Escola de Engenharia de Pernambuco, em 1939.
Influenciado por seu grande mestre Luiz Freire, deu início
aos seus estudos de Física no Rio de Janeiro, para onde
veio com uma bolsa de estudos das indústrias Carlos de
Brito do Recife, por indicação do Professor Osvaldo
Gonçalves de Lima.
Em 1940, ingressou no Curso de Física da
Faculdade Nacional de Filosofia, Rio de Janeiro,
concluindo-o em 1942. Nesse mesmo ano trabalhou alguns
meses, a convite do Professor Carlos Chagas, no Instituto
de Biofísica, com uma bolsa Guilherme Guinle. Em 1943,
com uma bolsa da Fundação Zerrener, trabalhou no
Departamento de Física da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, assistindo
aos cursos de Gleb Wataghin e Mario Schenberg. Com
uma bolsa do Governo dos Estados Unidos, dirigiu-se à
Universidade de Princeton, onde trabalhou com J.M. Jauch
e fez sua tese de doutorado (Ph.D.), sob a orientação de
Wolfgang Pauli (Prêmio Nobel de Física), durante os anos
de 1944 e 1945. Em outubro de 1945, aos 27 anos, foi

ix
nomeado Professor de Física Teórica e Superior da
Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro e tomou
posse na cátedra em 1946. Em 1948, fez concurso para
cátedra de Física Teórica e Física Superior da Faculdade
Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil e recebeu o
grau de Doutor em Ciências pela mesma Universidade. Em
janeiro de 1949, juntamente com Cesar Lattes, e com o
apoio do Ministro João Alberto Lins de Barros, de Nelson
Lins de Barros e de Henry British Lins de Barros, fundou o
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Em 1949, ganhou
uma bolsa da Fundação Guggenheim e a convite de
Oppenheimer tornou-se membro do Instituto de Altos
Estudos de Princeton.
Entre 1955 e 1964, foi Diretor da Divisão de
Ciências Físicas do Conselho Nacional de Pesquisas. Nos
anos de 1956 e 1957, a convite de Richard Feynman, foi
Pesquisador Visitante no California Institute of Technology.
Ocupou vários cargos de chefia e de administração
científica no CBPF, no CNPq e na Universidade do Brasil.
Em 1960, organizou a 2a. Escola Latino-Americana
de Física no Rio de Janeiro e sugeriu ao Conselho Técnico-
Científico do CBPF que propusesse ao Ministério das
Relações Exteriores e à UNESCO a criação de um Centro
Latino-Americano de Física. Entre 1962 e 1964, foi
organizador e coordenador do Instituto de Física da nova
Universidade de Brasília. Até 1964 foi membro do Conselho
de Curadores do Instituto Superior de Estudos Brasileiros
(ISEB) onde apresentou conferências sobre energia
atômica. Nesse ano, aceitou convite para ser Professor
Visitante da Faculdade de Ciências de Orsay, Universidade
de Paris, onde permaneceu até março de 1967. Em 1969,
foi aposentado compulsoriamente da Universidade Federal
do Rio de Janeiro por decreto governamental baseado no
AI 5; em conseqüência, aceitou convite da Universidade

x
Carnegie-Mellon, Pittsburgh, para onde se transferiu como
professor visitante, durante o ano acadêmico 1969-1970.
Foi ainda demitido do Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas por portaria do Presidente desta Instituição. Entre
1970 e 1974, foi professor visitante da Universidade de
Strasbourg I, Université Louis Pasteur e, no ano em que
chegou, fundou, com Michel Paty e outros colegas, os
seminários sobre os Fundamentos da Ciência, que, mais
tarde, deram origem à revista Fundamenta Scientiae. Em
1974, foi nomeado, excepcionalmente, Professor Titular da
Universidade Strasbourg I, pelo Presidente da República
Francesa V. Giscard D’Estaing. De 1975 a 1978 foi Vice-
Diretor do Centro de Pesquisas Nucleares de Strasbourg
(Centre de Recherche Nucléaires, CNRS) e Diretor de sua
Divisão de Altas Energias. Voltou ao Brasil, em 1981, para
o Centro que havia fundado, mas não em definitivo.
Somente em 1986, após ser convidado pelo então Ministro
da Ciência e Tecnologia, Renato Archer, para dirigir o
CBPF, retornou de vez ao Brasil.
José Leite Lopes tem uma vasta obra científica, com
mais de 80 trabalhos publicados, dentre os quais
destacamos seu importante artigo de 1958, na prestigiosa
revista Nuclear Physics, no qual prediz a existência de
bósons vetoriais neutros, juntamente com bósons
carregados, como veículos da interação fraca, sugerindo a
unificação das forças eletromagnéticas com as forças
fracas e postulando a igualdade das constantes
fundamentais das interações fraca e eletromagnética. A
partir desta hipótese, Leite Lopes nos deu a primeira
avaliação correta da massa dos bósons vetoriais.
Além de suas atividades de pesquisa científica, Leite
Lopes preocupou-se sempre com a Educação e com o
papel social do cientista e da Universidade, como atestam
suas publicações sobre estes temas. De fato, é autor de 21

xi
livros, dentre livros-textos e de reflexões sobre Ciência, e
de mais de uma centena de artigos sobre educação e
política científica.
Como reconhecimento à sua vasta obra, recebeu o
título de Professor Emérito do CBPF (1992), da Univ. Louis
Pasteur, Strasbourg, França (1986) e da UFRJ (1984), de
Doutor Honoris Causa da UERJ (1989) e da Universidade
Federal de Pernambuco (1986). É membro de sete
Sociedades Científicas no Brasil e no exterior, tendo
recebido as seguintes condecorações: medalha da
Universidade Louis Pasteur de Strasbourg (1986); medalha
Carneiro Felipe da Comissão Nacional de Energia Nuclear
(1988); Ordre des Palmes Académiques, do governo
francês no grau de Officier (1989); Ordre National du
Mérite, entregue pelo Presidente da República Francesa no
grau de Officer (1989); Prêmio Nacional da Ciência Álvaro
Alberto (1989) e Prêmio México de Ciência e Tecnologia do
governo mexicano (1993).
Esta apresentação resumida  inevitavelmente fria
e formal  do curriculum vitae do Prof. José Leite Lopes é,
sem dúvida, incompleta, principalmente porque não reflete
o prazer de se conviver no dia-a-dia com Leite Lopes, de
compartilhar de seu idealismo contagiante, de seu
entusiamo que parece não ter fim.
Concluindo, gostaria de agradecer ao Prof. Leite
Lopes por ter aceito meu convite para preparar o livro que,
em princípio, gostaria de lhe dar de presente no seu
aniversário, como prova de minha admiração e amizade,
mas que acabou se transformando, acredito, em um
presente que Leite Lopes dá à comunidade científica e à
sociedade culta de nosso país. Caro Leite, parabéns e
muitos e muitos anos de vida!
Francisco Caruso
CBPF & UERJ

xii
Lista dos Verbetes

1. ACADEMIA 32. GEOMETRIA


2. AIDS 33. GLOBALIZAÇÃO
3. AMOR 34. HIROSHIMA
4. ARISTÓTELES 35. HISTÓRIA
5. ARTE 36. HUMANISMO
6. ATOMISMO 37. INCERTEZA
7. AUTORITARISMO 38. INFINITO
8. BACH 39. INTOLERÂNCIA
9. BELEZA 40. INTUIÇÃO
10. BRASIL 41. IRREVERSIBILIDADE
11. CAUSALIDADE 42. JUVENTUDE
12. CBPF 43. LIVRO
13. CETICISMO 44. MASSA
14. CHAGALL 45. MAXWELL
15. CIÊNCIA 46. MESTRE
16. CNPq 47. MISTÉRIO
17. DEUS 48. MORTE
18. EDUCAÇÃO 49. MULATA
19. EINSTEIN 50. MULHER
20. ELÉTRON 51. MÚSICA
21. ENERGIA 52. NACIONALISMO
22. ESPAÇO 53. NEWTON
23. ESTRASBURGO 54. PAIXÃO
24. ÉTICA 55. PARMÊNIDES
25. FEYNMAN 56. PAULI
26. FILOSOFIA 57. PINTURA
27. FÍSICA 58. PODER
28. FORÇA 59. POESIA
29. GALILEU 60. POLÍTICA
30. GENÉTICA 61. PORTINARI
31. GÊNIO 62. PRAZER

xiii
63. QUANTUM
64. QUARK
65. QUÍMICA
66. RECIFE
67. RELATIVIDADE
68. RELIGIÃO
69. RIO
70. SBPC
71. SECA
72. SOCIALISMO
73. TECNOLOGIA
74. TEMPO
75. UNIVERSIDADE
76. UNIVERSO
77. UTOPIA
78. VÁCUO
79. VARGAS
80. VIDA
81. VILLA-LOBOS
82. VINHO
83. Z

xiv
ACADEMIA
Pelo que aprendi, a Academia vem da época de
Platão, dos filósofos gregos (ver FILOSOFIA). Dizia o meu
Mestre Luiz Freire: gostaria de passear com Platão nos
jardins de Academus.
As primeiras Academias importantes foram as
Accademie dei Lincei e del Nuovo Cimento, fundadas na
Itália, por volta de 1600. Depois da condenação de Galileu
pela Santa Inquisição, os membros dessas Academias
ficaram com medo de se reunir, pois novas idéias poderiam
ser interpretadas pela Igreja como heresias e levar à
condenação quem falasse. Assim, as Academias ficaram
meio paradas após a condenação de Galileu e a de
Giordano Bruno, que morreu assado na fogueira.
No ano de 1660 foi fundada, na Inglaterra, a Royal
Society, por Charles II e, em 1666, a Académie des
Sciences de Paris, pelo Rei Louis XIV e seu ministro
Colbert. Essas Academias, nessa época, atendiam à
necessidade que tinham os sábios de se reunir para trocar
idéias, porque, até então, eram os mecenas, os homens
ricos, os nobres e os reis que tinham orquestras de câmara
em seus salões e apoiavam artistas e intelectuais, como,
por exemplo, Leonardo da Vinci, que morreu nos braços de
François I. A descoberta, nessa época, de fatos
experimentais científicos trazia consigo a necessidade de
discussão. Eu sei que na França vários cientistas se
reuniam, nesta época, na casa de um deles, chamado M.
Phévenot. Então, o que fez Colbert foi chamá-los todos.
Como acontece até hoje, a Academia era financiada pelo
Governo Francês. São governos sérios, não é? Não são
governos, como o brasileiro (ver BRASIL), que desprezam
a Academia, a pesquisa científica, a Universidade, mesmo
quando o governo é constituído, supostamente, de
intelectuais, de ex-professores universitários (ver
EDUCAÇÃO). Lá a coisa é diferente, é séria. Então a Royal
Society e a Académie des Sciences são as duas academias
mais importantes fundadas após a falência das academias
italianas, que tinham medo da Santa Inquisição.
Essas academias acompanharam o
desenvolvimento da Ciência e da pesquisa científica no
século XVII, na Europa Ocidental, principalmente na
França, na Inglaterra e na Alemanha. Espanha e Portugal
ficaram de fora, apesar das grandes realizações ligadas às
descobertas de novas rotas de navegação. A Santa
Inquisição, ou melhor a Igreja Católica, tomou o controle da
Educação nestes dois países e eu me pergunto se, nessa
época, foram criadas Academias de Ciências nestes países
que “descobriram” e colonizaram a seguir terras que
formam hoje a América Latina.
No Brasil, a Academia de Ciências foi fundada com
o nome de Sociedade Brasileira de Ciências, em 1916, e
mudou seu nome para Academia Brasileira de Ciências em
1922. Juntava, nesta época, muita gente importante, como:
Amoroso Costa, Arthur Moses, Álvaro Alberto, Álvaro
Osório de Almeida, Miguel Osório de Almeida, Carlos
Chagas e Oswaldo Cruz. Eram esses homens que faziam
pesquisa científica enfrentando toda a dificuldade que a
gente conhece.
A pesquisa científica no Brasil começou no fim do
século passado, com a fundação do Instituto Butantan e do
Instituto Oswaldo Cruz para combater pragas e pestes.
Oswaldo Cruz, por exemplo, teve a sabedoria de não só
acabar com a febre amarela no Rio, mas de criar também
um Instituto, uma verdadeira Escola de pesquisas
científicas em Biologia e Medicina Experimental, que
produziu gente de grande valor, inclusive homens como
Carlos Chagas, descobridor da doença de Chagas, que

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infesta a América Latina e toda a África. Chagas descobriu
esta doença desde os micróbios até os agentes
transmissores e realmente merecia ter ganhado o Prêmio
Nobel, mas a Academia de Ciências de Estocolmo tem lá
as suas razões para não dar o prêmio a países em
desenvolvimento, eu não sei; mas, enfim, aí está a
Academia.

AIDS
A AIDS, que os franceses chamam de SIDA, é uma
doença moderna terrível. Parece que foi descoberta nos
macacos na África e é sexualmente transmitida, o que é um
desastre. Essa doença tira a alegria do pobre, pois a alegria
do pobre é fazer amor, e você não pode mais sair por aí
afora fazendo amor com quem você encontra. Se você não
se proteger com um preservativo, que o brasileiro chama
afetuosamente de “camisinha”, está arriscado a pegar a
AIDS e isso dá lugar a uma morte terrível. O número de
pessoas infectadas no mundo é grande e cresce, e ainda
não se sabe como livrar a humanidade dessa doença
miserável. Quem sabe se o vírus dessa doença não saiu de
algum laboratório de pesquisa de guerra?

AMOR
Esse é um verbete muito importante na vida (ver
VIDA) do homem, não é? O Amor é a fonte de inspiração
das nossas vidas; sem o Amor a vida do homem seria uma
vida no Inferno. A mulher é a coisa mais nobre, a melhor
que o Criador fez na Terra  se Ele fez coisa melhor ficou
com ela, não é? (Ver MULHER). Então o Amor é o homem

3
com a mulher, a mulher com o homem; o Amor, sobretudo
este. Há também o Amor pelas Artes e pela Ciência (ver
CIÊNCIA). O Amor pela Ciência é muito importante, mas
vem depois do Amor pela Mulher.
Quando eu era jovem aprendi a namorar; no início
eram os namoros à distância, o amor platônico. Primeiro
houve uma moça que quando eu andava de bicicleta 
esta é a primeira vez que eu estou dizendo isto  a via
pelas grades da casa e uma vez ela me deu uma flor, uma
rosa toda cheirosa. Mas depois este Amor acabou, porque
ela me proibiu de ir ao cinema com os amigos e eu fui.
Mas o meu grande amor teve início quando eu
estava ainda terminando o curso secundário, em 1934. Eu
notei, numa parada de bonde, uma bela menina do Colégio
São José do Recife (ver RECIFE), acompanhada de uma
senhora. Achei-a tão bonita que logo o meu coração
acelerou e eu, felizmente, descobri que ela era aparentada
de amigos meus. Eu ia então a casa destes amigos, ficava
do lado de fora, e quando ela vinha visitá-los,
acompanhada da tia, podíamos trocar aqueles olhares. Era
um amor platônico e só mais tarde tive a coragem de 
como se dizia no Recife  “encostar”; quer dizer, chegar
perto dela e falar... isto foi no dia 8 de dezembro de 1934,
dia da festa da Nossa Senhora da Conceição. No Morro do
Arraial de Bom Jesus, que ficava perto de nossas casas,
havia uma igrejinha com a Nossa Senhora da Conceição e
havia uma procissão neste dia. Ela acompanhou a
procissão com a tia e eu então tomei coragem e encostei
junto dela e fiquei andando com ela, conversando o quê
não me lembro mais. A partir deste dia passei a ir à casa
dela e ficava no portão com os meus amigos que eram
aparentados dela, conversando todos com ela. Finalmente,
depois eu pude subir com ela para o terraço, mas sempre
com o chaperon, a pessoa que toma conta das meninas

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para que não haja excessos, figura que não existe mais
hoje. Então eu fiquei com ela e esse foi o meu grande
amor.
Ela esperou doze anos, de 34 a 46, para casar
comigo. Em 34 terminei o colégio secundário, em 35 me
preparei para a Escola de Engenharia, em 36 fiz o exame
de vestibular para Química Industrial e em 39 ficamos
noivos para que ela soubesse que eu ia ser fiel, pois havia
ganhado uma bolsa para ir para o Rio de Janeiro (ver RIO).
No Rio estudei na Faculdade Nacional de Filosofia e voltei
uma vez ou duas para vê-la, de navio, mas nem sempre
isto era possível. Fui para São Paulo e depois para
Princeton, num avião de dois motores no tempo da guerra,
em 1943. Ela foi com toda a minha família ao aeroporto e
trocamos algumas palavras e dei-lhe uns beijos, coisa que
há muito tempo não fazia. Chamei-a para Princeton, mas
não havia dinheiro nem da parte dela nem da minha para
nos casarmos; seria uma loucura, pois minha bolsa não
daria para isto. Bom, voltei e casei-me em 1946. Foi meu
grande Amor, acho que era a mulher mais bonita do
mundo, mas só fiquei casado com ela 10 anos. Neste
período levei-a a Princeton, para que ela conhecesse a
cidade onde eu estudei e depois tivemos dois filhos. Em
1955, fomos a Genebra, com meu filho mais velho, à
primeira Conferência para o Uso Pacífico da Energia
Atômica, da qual fui secretário, e na volta ela começou a
sentir-se mal, a emagrecer, a ter dores. Eu a levei a todos
os médicos possíveis no Rio e finalmente ela morreu em
fevereiro de 1956, de câncer no útero, o que só se
descobriu quando ela teve metástase e amanheceu um dia
paralisada do lado direito e foi uma tristeza, um drama para
mim. Enfim, isso foi o amor grande, o amor trágico e ela me
deixou só no mundo entregue às outras mulheres  desde
então o que faço é procurá-la nas mulheres que eu tenho

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tido. No fundo é isto, sem que seja uma diminuição das
outras, que são todas tão gostosas, tão amáveis, tão
amorosas e sem elas eu não poderia viver.

ARISTÓTELES
Aristóteles foi um dos maiores filósofos da Grécia
Antiga (ver FILOSOFIA). O grande Bertrand Russell,
filósofo inglês, já disse no seu livro History of Western
Philosophy que uma das coisas mais misteriosas na
História (ver HISTÖRIA) foi o aparecimento destes filósofos
na Grécia naquela época. E Aristóteles foi um deles. Ele
veio depois de Tales, cujo mérito foi ter introduzido a noção
de substância primordial para a matéria, e de Heráclito, que
afirmava que as coisas se realizam pela síntese de
contrários. Na Física contemporânea sabe-se que um fóton
morre e cria-se um par elétron-pósitron e este par morre e
nascem fótons, e isto é o Heráclito velho. Depois vieram
Platão, que dizia que o que era verdadeiro era o mundo das
idéias, e Aristóteles. Embora este não tenha dado nenhuma
contribuição à Física Moderna, foi importante porque
durante dois mil anos a sua Física e a sua Cosmogonia
formaram o esquema válido para o Universo.
Aristóteles descrevia as coisas como as pessoas
vêem. Para ele todas as coisas em movimento acabariam
parando e as coisas ocupariam um lugar dado no espaço
(ver ESPAÇO). Não haveria o vácuo (ver VÁCUO) e era
necessário que houvesse o ar para, de alguma maneira,
manter o movimento dos corpos. O fogo sobe porque é
mais leve, os corpos caem porque são mais pesados. Era
uma física ingênua que deu origem à sua Cosmologia, na
qual o Universo (ver UNIVERSO) seria limitado e a Terra
seria o centro de todos os movimentos. Debaixo da Terra

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haveria o inferno. A Lua, o Sol e os planetas conhecidos na
época girariam todos em torno da Terra e, finalmente,
haveria uma série de esferas concêntricas à Terra e a
última delas seria a das estrelas fixas. Além desta esfera
haveria Deus. O movimento abaixo da Lua seria explicado
como você mostra um pedaço de carne a um cachorro e ele
pula e pega esta carne  aliás, como dizia Poincaré, ao
fazer isto, o cachorro demonstra uma noção precisa de
espaço. Só acima da Lua o movimento dos corpos celestes
obedeceria a uma lei criada por um Deus. Essa coisa foi
negada bem mais tarde por Galileu (ver GALILEU) que fez
a primeira grande síntese da Física Moderna. Esse era o
Mundo de Aristóteles, que foi ligado à concepção de
Ptolomeu que comandou o pensamento por quase dois mil
anos, e aí reside a autoridade de Aristóteles. Você vê,
portanto, como as coisas evoluíam lentamente. Foi preciso
depois a crítica da escola dos nominalistas, com de
Benedetti, e culminou com a crítica de Galileu, que
começou a dizer que se você quer estudar a Natureza deve
ir a ela, fazer experiências e observações, e que descobriu
a lei da queda dos corpos e disse que o espaço era aberto,
infinito (ver INFINITO).
Não podemos esquecer que Aristóteles deu
contribuições à Lógica. A Filosofia de Aristóteles é,
portanto, muito importante. Eu, quando estava em
Estrasburgo (ver ESTRASBURGO), fui convidado para um
Congresso que houve na UNESCO em homenagem a
Aristóteles, que deu origem a uma publicação importante
chamada Penser avec Aristote, organizada por Sinaceur,
um filósofo marroquino. Nesta ocasião falei sobre os
elementos fundamentais da imagem física do Mundo,
lamentando que homens como Dirac e Feynman não
tivessem sido convidados para apresentar o estado atual da
nossa concepção física do Mundo à qual Aristóteles não

7
deu uma contribuição direta, mas ele pensou sobre o
Universo, fez a sua Física e por isto teve também o seu
lugar na História da Ciência, embora as suas idéias não
tenham sido felizes e tenham sido rebatidas por Galileu.

ARTE
Arte para mim, para início de conversa, é o fato de
que eu comecei a pintar em 1953. Antes disso, quando
estive na Universidade de Princeton, como estudante de
Wolfgang Pauli (ver PAULI), eu admirava a arquitetura
gótica que Princeton havia imitado de Cambridge e de
Oxford. Mas é uma cidadezinha que é uma beleza e a
Universidade é uma coisa que deixou uma impressão
profunda em mim. E lá, naturalmente, comprei muitos livros
(ver LIVRO) sobre arte e sobre música (ver MÜSICA) e ia
sempre a Nova Iorque ver cinema de arte e ensaio, como
eles chamavam, e museus. O Metropolitan Museum, o
Museu Guggenheim e o MOMA (Museu de Arte Moderna) e
Galerias, como o Frick Collection etc. Em cada ocasião,
além de admirar as obras eu comprava toneladas de
cartões com reproduções das obras, que serviam para que
eu olhasse, reproduzidos em escala pequena, os quadros
dos grandes pintores. Depois obviamente eu voltei para o
Brasil (ver BRASIL) e comecei a fazer fotografias das
reproduções com filmes coloridos, que haviam sido
inventados naquela época, em torno dos anos 40. Estas
fotos impressionaram muito um amigo meu em Santa
Tereza.
Quando voltei de Princeton, em 1946, eu morava em
uma pensão, chamada Pensão Internacional, em Santa
Tereza, que eram as ruínas do Hotel Internacional, onde se
havia hospedado a grande bailarina Isadora Duncan, pelo

8
que me disseram. Eu me casei em julho de 46 e voltei para
o Rio (ver RIO), para um quarto de apartamento em
Copacabana. Havia um matemático português, Antônio
Aniceto Monteiro, que morava nesta pensão, que achou
que eu deveria ir para lá e eu fui com a minha mulher. O
lugar era muito aprazível; um lugar alto e fazia uma
diferença de dois três graus com relação ao resto da
cidade, o que era muito importante no verão. Lá habitava o
famoso casal Arpád Szenes e Maria Helena Vieira da Silva.
A Vieira da Silva tornou-se depois uma das maiores
pintoras na França. Eles vieram para cá refugiados da
guerra. Havia também o pintor Carlos Scliar, que acabava
de regressar da Europa, onde tinha participado da guerra
como integrante da Força Expedicionária Brasileira. Havia
um crítico de Arte chamado Rubem Navarra, que depois foi
para a França e parece que enlouqueceu e morreu
prematuramente. Uma aluna de Arpád, uma americana, fez
um retrato a óleo de minha mulher Carmita, que é uma
beleza e até hoje está na casa de meu filho mais velho,
José Sérgio. Havia também um casal amigo, Adolpho e Ana
Soares, que eram ceramistas, e que nos visitavam muito na
Pensão Internacional. Aliás, nos fins de semana, iam à
pensão poetas e escritores como Manuel Bandeira, Murilo
Mendes e sua mulher, Maria da Saudade Cortesão, a
famosa Cecília Meirelles e seu esposo Heitor Grillo, o poeta
Ascenso Ferreira (ver POESIA). Iam todos visitar Maria
Helena e Arpád Szenes. Eu morava num quarto em cima
do deles e descia para ouvir música de quarteto, as
músicas de Debussy, de Bach (ver BACH) e era uma
delícia! Influenciado por essas coisas todas, pelo convívio
com esses pintores e artistas, fui me interessando, cada
vez mais, pelas Artes.
Foi então, em 1953, que meu amigo Adolfo Soares
vendo minhas fotografias me disse que eu deveria pintar.

9
 Mas como é que eu vou pintar? Eu sou físico e meu
tempo é consumido na pesquisa científica. Assim, Soares
comprou pincéis, tintas e uma tela e eu então comecei a
pintar sozinho. Ainda guardo a minha primeira tela, onde
usei todas as cores e ficou uma coisa horrível e aí, com a
tinta preta, eu comecei a cortar e a selecionar a tela e
resultou uma coisa que eu acho que não é má.
Desde 53 venho pintando e acho que fiz quadros
muito bonitos. Num certo momento da minha vida eu saía
de lotação e ficava impressionado com a cor das folhas das
amendoeiras no inverno carioca e, nesta época, isto me
impressionava enormemente e me inspirava. Desde aquela
época até hoje eu não parei de pintar. A grande gravadora,
pintora e pensadora Fayga Ostrower esteve recentemente
lá em casa vendo meus quadros e me disse que eu deveria
tomar cursos, mas eu não quero saber de cursos, eu pinto
sozinho. A minha pintura sai de dentro de mim. Às vezes
pinto uma árvore no Jardim Botânico ou uma foto tirada do
porto da baía de Salvador, mas a maior parte das vezes é o
que sai de dentro de mim, é a minha vida. E o que é
importante é que eu não paro; faço Física (ver FÍSICA),
faço pesquisa e, para descansar, eu pinto, e ao pintar eu
crio novos problemas, problemas diferentes da Física, que
eu resolvo, consciente ou inconscientemente. E quando o
quadro sai muito bonito isto me dá uma enorme alegria,
quase como a que eu encontro na Física (ver PRAZER). Eu
posso comparar a alegria espiritual diante de um quadro
que você concluiu e que lhe agrada muito com a alegria da
descoberta científica. Isso encanta a gente, dá uma alegria
que penetra o corpo além do espírito. É quase que uma
coisa como o amor das mulheres, a criação científica e
agora a criação artística são coisas muito importantes para
mim.

10
Naturalmente, quando eu me exilei na França, os
grandes museus eram aventuras fabulosas que
contribuíram para o meu aperfeiçoamento artístico. Isso é o
que eu posso dizer sobre Arte.

ATOMISMO
Atomismo é uma doutrina inventada pelos gregos,
sobretudo por Leucipo e Demócrito, entre a metade do
século V a.C. e o final do século IV a.C. Esses homens
disseram que as coisas, as substâncias, tudo que existia no
Universo (ver UNIVERSO) seria constituído de átomos, de
pequenas partículas minúsculas, indivisíveis, em movimento
incessante e, para isto, eles admitiam o vácuo (ver
VÁCUO), onde se daria este movimento dos átomos.
O Atomismo foi muito importante, foi a grande
contribuição da Grécia Antiga à Ciência Moderna. A noção
de átomo foi ressuscitada no século XVIII, na Química (ver
QUÍMICA), sobretudo pelo químico inglês John Dalton, que
formulou leis sobre as reações químicas, dando um status
científico ao átomo.
Newton (ver NEWTON) dizia que todas as coisas
criadas por Deus (ver DEUS) deveriam ser feitas de
átomos, que estariam em movimento e seriam indivisíveis,
pois seria impossível quebrar o que Deus havia feito uno,
indivisível, idéia que os físicos modernos não seguiram e
quebraram o átomo.
Atomismo é então o fio de Ariadne, que conduziu as
pesquisas científicas na Física até agora e talvez conduza a
um impasse.
Naturalmente, a noção de átomo desenvolveu-se e
viu-se que o átomo não era impenetrável, não era indivisível
e sim um sistema complexo. Esta história tem origem a

11
partir da descoberta do elétron por J.J. Thomson. Ele
próprio formulou um modelo atômico no qual haveria uma
carga elétrica positiva, uniformemente distribuída em uma
região de 10-8 cm, no interior da qual estariam distribuídos
os elétrons. Esta concepção levou Ernest Rutherford a
investigar experimentalmente a estrutura atômica da
matéria. Para isto utilizou as partículas alfa emitidas por
fontes radioativas e com elas bombardeou finas folhas
metálicas, de ouro, por exemplo. Ele verificou assim que as
partículas alfa são desviadas pelos átomos do alvo e se os
átomos fossem constituídos como queria Thomson, as
partículas alfa teriam todas desvios muito pequenos.
Entretanto, Rutherford verificou que um número pequeno,
mas não desprezível, de partículas alfa sofria uma deflexão
enorme ou voltava quase para trás. Isto não seria possível
no átomo com a distribuição homogênea de cargas
positivas de Thomson. Só uma carga positiva concentrada
num ponto daria lugar a uma repulsão em uma colisão
frontal de modo que este desvio fosse bastante forte.
Nasce, assim, o modelo atômico nuclear de Rutherford.
Depois veio o modelo atômico de Bohr, que dependia dos
trabalhos de Lorentz e Einstein.
Einstein introduziu o atomismo na luz. Esta beleza
que é a luz é constituída não de ondas, como queriam os
físicos do século passado, mas de partículas, os quanta de
luz (ver QUANTUM), energias concentradas que têm uma
velocidade igual à da luz, não param nunca. Depois veio a
Mecânica Quântica, veio a Física Nuclear, veio a Física das
Partículas e, nesta evolução, muitos físicos importantes
tiveram preconceitos. Quase todo físico importante tem
preconceitos, porque uma vez que ele faça uma descoberta
ele se deixa penetrar pelas idéias de sua descoberta, o que
muitas vezes impede a extensão dessa descoberta a outros
campos e a novas idéias. Por exemplo, havia nos anos 20,

12
até meados dos anos 30, um preconceito quanto a novas
partículas. Para esses físicos as partículas seriam o elétron
(ver ELÉTRON), o próton (núcleo do átomo de hidrogênio)
e os fótons (os quanta de luz). Na verdade, esses físicos
rejeitaram de imediato o conceito de fóton, introduzido por
Einstein em 1905; foi só em 1923, com a descoberta do
Efeito Compton, que passaram a aceitar os quanta de luz.
Essas seriam as partículas em substituição aos átomos.
Quando Pauli introduziu a noção de neutrino para
explicar a emissão beta dos núcleos radioativos  isso era
necessário porque a energia do elétron emitido era
contínua desde um valor mínimo até um máximo disponível
 ele não publicou esta idéia. Ele falou desta invenção
numa carta aos físicos reunidos em uma conferência na
cidade de Tübingen, na Alemanha, afirmando que no
momento da desintegração de um nêutron em um próton
cria-se um elétron e uma partícula neutra que acompanha o
elétron e a energia é distribuída entre os dois. Pauli primeiro
chamou esta nova partícula de nêutron, mas quando o
nêutron foi descoberto por Chadwick então Fermi, em um
seminário em Roma disse: la particella di Pauli è piuttosto
un neutrino e non un neutrone. Depois Pauli esteve em
Pasadena e declarou mais tarde, em Roma, que ele não
permitiu que se imprimisse lá a sua idéia sobre o neutrino.
Foi Fermi quem aproveitou a idéia e fez a grande teoria do
decaimento beta que serviu de base para a teoria da
interação fraca, que hoje é adotada.
Em 1935, o físico japonês Yukawa propôs uma
teoria na qual haveria um novo campo, diferente do
eletromagnético, cujos quanta teriam massa, diversamente
dos fótons. Os quanta de Yukawa teriam uma massa
aproximadamente 200 vezes maior do que a do elétron e,
no início, eram chamados de mésotrons, depois de mésons.
Niels Bohr criticou Yukawa, perguntando-lhe porque ele

13
tinha feito uma teoria inventando uma nova partícula. Isto
porque havia preconceito contra novas partículas. Quando
se descobriu, na radiação cósmica, que havia partículas
com essa massa, os físicos passaram a trabalhar
loucamente sobre a teoria dos mésons de Yukawa, depois
da Guerra. Em 1947, foram descobertos os píons por Cesar
Lattes, Cecil Powell e Giuseppe Occhialini, as partículas de
Yukawa. Os que haviam sido descobertos antes na
radiação cósmica eram os múons. A partir daí desenvolveu-
se, ou melhor, começou a Física das Partículas. A Física
das Partículas começou em 1947 com os trabalhos de
Lattes, Occhialini e Powell.
Depois vieram os quarks, inventados por Murray
Gell’Mann para descrever os hádrons (ver QUARK). Hoje
temos seis quarks e seis léptons (partículas semelhantes ao
elétron e ao múon). Há muito mistério (ver MISTÉRIO)
nestas últimas partículas. O atomismo conduziu a estas 12
partículas e não se sabe mais se existem outras partículas
ou não, incluindo aquelas já preditas pela Supersimetria.
Estamos, então, em um impasse, quer dizer, a simplicidade
e a unidade do ideal atomista parecem não existir. Há essa
variedade de partículas, que é fugidia. À medida que você
chega à unidade, ela se multiplica em outras partículas e
não sabemos ainda resolver estes mistérios. A unificação
parece que existe para os campos, para as interações. Eu
próprio contribuí para a unificação eletrofraca de Glashow-
Weinberg-Salam (ver Z), mas ainda estamos meio parados
nesse terreno.
Eis a que conduziu o atomismo de Leucipo e
Demócrito: a uma Física sempre em progresso, com
fronteiras fugidias, o que é uma beleza! Esses mistérios
mostram que a Ciência não acabou, como alguns filósofos
e historiadores erroneamente afirmam. Enquanto o Homem

14
existir, enquanto existir este Universo enorme, misterioso,
não acabou coisa nenhuma.

AUTORITARISMO
Autoritarismo é um tema que pertence à Política (ver
POLÍTICA), às Ciências Políticas. Ao longo da História
sempre houve regimes autoritários: ditadores, imperadores,
monarcas que exerciam poder concentrado (ver PODER).
Houve Nero, César, o grande Caesar, Alexandre Magno,
que foi aluno de Aristóteles, foi o grande Imperador Grego
que invadiu os povos do Oriente, e outros tantos.
Depois houve o autoritarismo recente, na Alemanha
de Bismarck, que invadiu a França, em 1870, e tantas
outras guerras. Sempre houve os símbolos autoritários que
se digladiavam. Bismarck tomou a Alsácia e a Lorena e o
rei Napoleão III foi até preso pelos alemães quando
inspecionava as fronteiras. Depois então houve a Guerra
de 1914-1918, sobretudo entre a França e a Alemanha, que
foi uma guerra terrível, com uma matança terrível dos dois
lados, principalmente na Batalha de Verdun. O Tratado de
Versailles foi um tratado que punia muito a Alemanha e daí
originou o aparecimento de um homem como Adolf Hitler,
que foi o homem que enganou o povo alemão e dele
obteve todo o apoio. Eleito pelo parlamento, eu acho, ele
foi o Führer, uma espécie de primeiro ministro, e depois
eternizou-se no poder como grande ditador. Foi o homem
que reconstruiu o exército, aparelhou a Alemanha para a
guerra e derrotou a França, a Áustria, a Polônia e só não
conseguiu atravessar o canal para bater a Inglaterra. E
quando invadiu a Rússia aí veio o desastre. Foi a Rússia
que resistiu e derrubou Hitler, que se suicidou durante o
cerco final de Berlim. É o exemplo clássico, para quem

15
viveu esta época, de autoritarismo moderno; Mussolini na
Itália e Hitler na Alemanha.
Este autoritarismo deu origem a uma fuga de
cérebros da Europa para os Estados Unidos, como Albert
Einstein (ver EINSTEIN) e escritores como Thomas Mann, e
daí resultou um fortalecimento enorme das universidades
americanas (ver UNIVERSIDADE), que já estavam muito
bem estruturadas, apoiadas por grandes industriais
americanos e também pelo poder executivo americano.
Esses cérebros contribuíram muito para o êxito da Ciência
(ver CIÊNCIA) nos Estados Unidos.
A América Latina atraiu alguns nomes de destaque.
O México recebeu, sobretudo da Espanha de Franco, os
escritores e intelectuais espanhóis que fundaram editoras
novas como o Fundo de Cultura Econômica, que publicou
livros importantes. No Brasil houve uma pequena recepção
de valores como Gleb Wataghin, o pai da Física Moderna
no Brasil, Luigi Fantapié, o homem da teoria dos funcionais
analíticos, houve a contribuição da escola francesa que, em
São Paulo, contribuiu para o desenvolvimento das Ciências
Humanas, da Sociologia à Filosofia. Vieram homens como
Fernand Braudel, Claude Lévy-Strauss, como Roger
Bastide. Houve o grande poeta Giuseppe Ungaretti (ver
POESIA) que esteve em São Paulo. No Rio de Janeiro,
vieram para a Faculdade Nacional de Filosofia, René
Poirier, que era um filósofo das Ciências muito interessante,
com quem tive a oportunidade de conviver, um psicólogo
chamado Ombredane, e um homem de letras chamado
Fortunat Strovsky, dentre outros. Esses foram frutos
recebidos pelo Novo Mundo a partir do autoritarismo de
Hitler e de Mussolini na Europa.
Agora, em geral, você compreende, é sempre assim,
o problema do regime ditatorial versus o regime
democrático. Na Europa e nos Estados Unidos a

16
democracia floresceu e aqui na América Latina a
democracia floresce em condições menos confortadoras.
No Brasil, tivemos a ditadura de Vargas, em 1937, que
coincide com a ascensão do nazismo e do fascismo na
Europa, do estalinismo na União Soviética, em combate
sempre uns com os outros.
Aqui no Brasil houve a fundação do partido
comunista nos anos 20, cujo líder tornou-se depois Luís
Carlos Prestes, que foi um homem de grande prestígio
tendo participado das revoluções de 1922 e 1924, quando
havia os tenentes que se insurgiam contra a Velha
República (ver BRASIL), que era uma coisa horrível. Um
período de oligarquias, da política café com leite. Arthur
Bernardes governou praticamente em estado de sítio.
Então houve estes levantes provocados por figuras
militares que queriam acabar com isso.
Em 1922 houve também a Semana de Arte
Moderna, com o aparecimento de homens como Manuel
Bandeira, Villa-Lobos (ver VILLA-LOBOS), Mário de
Andrade e outros que se somaram a este clima geral de
descontentamento. Tudo isso foi crescendo e, em 1930, a
eleição foi ganha por Júlio Prestes de São Paulo e os
gaúchos, tendo a frente Vargas, foram contra esta eleição
que era, evidentemente, não muito correta, e fizeram um
movimento revolucionário. Vargas assumiu a presidência da
república e ficou no cargo provisoriamente até 1934. Em
1932, houve a revolução de São Paulo para derrubar
Getúlio Vargas e que, no fundo, visava a reimplantar a
política do poder paulista no Brasil; eles perderam. Getúlio,
em 1934, foi eleito pelo parlamento, por quatro anos. Em 38
deveria haver eleição, mas, em 35, houve um movimento
armado comunista, quando Prestes foi preso. Houve uma
falta de conhecimento da situação brasileira por parte dos
líderes comunistas e essa revolução de 35 gerou uma

17
polarização interna da qual resultou que Getúlio Vargas
anulou as eleições e se transformou em ditador,
proclamando o que se chamou regime do Estado Novo,
com a nova constituição e ele ficou no poder até 1945.
Houve nesse período coisas inadimissíveis: torturas,
prisões, como as do grande escritor Graciliano Ramos,
preso e torturado, que escreveu um clássico da literatura
chamado Memórias do Cárcere. Mas houve realizações do
governo Vargas importantes, que deu as bases do Brasil
Moderno (ver VARGAS).
Quando Getúlio assumiu em 1950, havia uma
oposição da liberal-democracia terrível contra ele,
conduzida por um homem chamado Carlos Lacerda, que
fez com que Getúlio dissesse que só sairia morto do palácio
e, de fato, o suicídio de Vargas fez adiar de 10 anos um
golpe de estado.
Em 64 houve um golpe de estado que instaurou um
regime autoritário no Brasil, a famosa ditadura militar que
durou até 85. Eu, inclusive, fui vítima deste golpe. Perdi a
cátedra e fui exilado. Eu pensava no exílio que o regime
autoritário no Brasil permaneceria até o fim do século, mas
houve a deterioração da situação econômica e passou-se,
finalmente, a um regime pseudo-democrático.

BACH
Johann Sebastian Bach. Podemos considerá-lo
como o grande mestre da música ocidental, da música
barroca. Figura extraordinária. Compositor prolífico.
Grandes cantatas. Missas solenes. Os concertos para cravo
e orquestra. Ah! Extraordinário! A Paixão segundo São
Mateus, a Paixão Segundo São João. Ah, quanta coisa de
Bach... Praticamente impossível você ouvir toda a música

18
de Bach em sua existência. Ele foi uma fonte de inspiração
para o nosso Heitor Villa-Lobos (ver VILLA-LOBOS),
grande compositor brasileiro. O maior compositor das
Américas, do pólo sul ao pólo norte, como dizia nosso
amigo Roquette-Pinto. Villa-Lobos inspirou-se em Bach e
construiu esta singularidade na música brasileira que se
chama as Bachianas Brasileiras. A Bachiana número 1 para
oito violoncelos tocada inclusive por Mestislav
Rostropovitch, um grande celista. A bachiana número 4
também é uma beleza.
Sua obra máxima, A Paixão Segundo São Mateus,
foi redescoberta por Felix Mendelssohn-Bartholdy, nome
que os alemães gostam de dizer completo. Eu acho que
uma das maiores contribuições de Mendelssohn-Bartholdy
foi a descoberta dos manuscritos de Bach.

BELEZA
Acho que a beleza é o critério que deve orientar a
nossa vida. Devemos sempre procurar os nossos gestos,
as nossas ações, as nossas iniciativas e o nosso trabalho
em coisas belas. Você quando trabalha deve estar
gostando muito do que está fazendo, pois deve ser uma
tortura você trabalhar no que não gosta. E o gosto aí é
expresso pela beleza do trabalho que você faz. Em Ciência,
então, beleza é claramente fundamental. É o que o grande
físico teórico Paul Andrien Maurice Dirac dizia: você deve
ser sempre guiado pela beleza, pela estética, pela
simplicidade das idéias, antes até do que sua possibilidade
de verificação experimental. Foi essa a crítica que ele fez a
Erwin Schrödinger, que havia estabelecido primeiramente
sua Mecânica Ondulatória sob a forma relativística, que é
atualmente conhecida como equação de Klein-Gordon.

19
Schrödinger abandonou esta equação pois dela não obteve
o espectro do átomo de hidrogênio dado
experimentalmente. Ele fez depois uma aproximação não-
relativística e só então conseguiu o acordo com a
experiência. O ponto é que a equação relativística que ele
estava descobrindo era para uma partícula de spin zero,
enquanto que o elétron tem spin ½. Dirac dizia que se
Schrödinger tivesse acreditado na beleza da sua equação
relativística o mérito teria sido dele e não de Oskar Klein e
Walter Gordon.
Há também o próprio trabalho de Dirac, que chegou
a uma equação belíssima para descrever o elétron, que é
um dos grandes acontecimentos da Física Teórica, que
abre novos horizontes e novas possibilidades de trabalhos,
e, sempre que você encontra um resultado novo bonito, fica
encantado.
Eu tive esse sentimento em alguns trabalhos que fiz
ao tentar generalizar a ligação entre as forças
eletromagnéticas e as forças fracas e quando eu li um
trabalho de Feynman, em 1958, no qual ele propunha que a
interação fraca tinha a forma geométrica dada por uma
forma vetorial menos uma forma axial. Fiquei
imediatamente possuído pela idéia de que como o fóton é
uma partícula vetorial então o bóson intermediário (ver Z)
seria vetorial também; ambos sendo vetoriais, isso indicava
que entre eles havia uma relação íntima. Propus então isso
no trabalho e fiz a constante de interação do campo
bosônico com a corrente fraca igual à constante da carga
elétrica, que é a constante de interação entre o campo
eletromagnético e as correntes eletromagnéticas. Essa
igualdade, no fundo, já expressa a idéia de unificação entre
essas duas interações, acoplada ao fato de que os dois
quanta, o fóton e o bóson vetorial, tinham o mesmo spin
(são partículas vetoriais). Isso só foi reconhecido mais tarde

20
e depois saiu como conseqüência do trabalho de Salam,
Weinberg e Glashow e o próprio Steve Weinberg cita o
meu trabalho na sua conferência Nobel.
Nessa época eu tinha um sentimento de que essas
partículas deviam pertencer à mesma família, e só não
escrevi no trabalho que eram parte de um multipleto, pois
ao fazer g=e em uma certa fórmula eu calculei a massa do
bóson vetorial como sendo da ordem de 40 a 60 GeV. Esse
seria um valor muito grande para o parceiro de multipleto do
fóton que tem massa nula (se é que a gente pode falar em
massa nula do fóton, pois o fóton tem sempre a velocidade
da luz e nunca está em repouso). Assim, achei que com
esta enorme diferença de massa dificilmente os dois
bósons formariam um multipleto e eu me recolhi com medo
que o editor recusasse meu trabalho, mas foi uma época
em que eu senti uma grande beleza nessa idéia.
Outra satisfação foi quando calculei a seção de
choque de processos fracos por intermédio do méson .
Embora o píon não decaia em elétron e neutrino, ele pode
decair muito bem em múon e neutrino. Logo, se o múon
aparece numa interação com o , como o píon tem
interação forte com o próton ele poderia ser o intermediário
na captura dos múons negativos por próton. Fiz os cálculos.
Antes se conheciam apenas avaliações feitas por outros
físicos, mas não se conhecia precisamente a função de
onda nuclear e não se conhecia o vértice próton-píon.
Utilizei em meus cálculos alguns resultados de um trabalho
de Chew e Low, que propunham um modelo para o próton
extenso que dava bons resultados para as colisões píon-
nucleon de baixas energias; em particular, utilizando o valor
da constante que eles tinham encontrado, eu pude fazer os
cálculos da captura do múons por próton através do píon e
isso deu lugar a uma coisa nova que é a interação fraca
pseudo-escalar induzida. Essa interação foi descoberta em

21
meus cálculos e deve ser considerada em adição às
interações vetoriais e axiais de Feynman e Gell’Mann.
Então esse trabalho também foi muito importante, e foi
retomado logo em seguida pelo físico norte-americano
Lincoln Wolfenstein. Bem mais tarde ele publicou um
trabalho em homenagem a mim, por ocasião dos meus 70
anos, intitulado “A Interação Pseudo-Escalar Fraca” (in
Leite Lopes Festchrift, Fleury, N., Joffily, S., Martins-
Simões, J.A., Troper, A. (Eds.), Singapore, World Scientific,
1988), dizendo que eu fiz os cálculos para descobrir essa
interação. Quando eu estive com ele em Pittsburgh ele
disse: "I practically stole your paper"  eu praticamente
roubei seu trabalho. É claro que ele não roubou; ele apenas
deu mais ênfase às conclusões a que eu havia chegado, e
desenvolveu depois outras coisas.
Então essa noção de beleza está enraizada na
Física, na Ciência (ver CIÊNCIA). Há pesquisas que são
encomendadas, as pesquisas tecnológicas, de ciências
aplicadas. É um industrial que quer um novo processo
tecnológico, enquanto as grandes descobertas, os grandes
avanços, provêm sem encomenda nenhuma; é o cientista
fazendo-se perguntas sobre os processos da natureza que
ele estuda, que ele investiga, e quando ele encontra uma
resposta a uma dessas perguntas e quando essa resposta
funciona, e é verdadeira, ele é tomado de êxtase; se você
quiser é uma beleza comparada à beleza de um quadro ou
ao prazer de ouvir uma música de Bach (ver BACH).
Conheço o caso da física e da pintura (ver PINTURA) pois
comecei a pintar há 45 anos, em 1953, fiz algumas coisas
bonitas, pelo menos é o que eu acho e o que meus amigos
dizem, e quando eu faço um quadro bonito eu sinto aquela
beleza que me invade o espírito e o corpo.

22
BRASIL
Brasil, essa terra estranha à qual eu pertenço, e que
é uma terra gostosa, pelo menos deveria ser, não é? Você
olha no mapa, um mapa feito pelos cartógrafos do norte, e
a ênfase é dada sempre ao hemisfério norte, à Europa, aos
EUA, com aquela boca da Flórida querendo abocanhar
aquele presunto que está embaixo, que é a América do Sul.
O Brasil é a parte principal desse continente descoberto,
dizem, há 500 anos; descoberto uma chupeta! Existiam
povos antes no Brasil, como no México os Aztecas, como
existiam os Incas nos Andes, e centenas de povos
anteriores, como os Mexicas, os Maias... Enquanto havia
essa civilização pré-colombiana no Hemisfério Norte, no
México, na Guatemala, na América Central, nos Andes,
onde havia os Incas, precedidos pelos Xibas e outros, na
ilha de Marajó, no Amazonas, floresceu a civilização
Marajoara, os Guaranis descendo até a Argentina, e havia
os índios todos nessa nossa Terra.
É claro que o espírito de expansão européia lá pelo
séc. XVI fez com que os navegantes da Escola de Sagres
que se aventuraram ao mar, Vasco da Gama, Magalhães e
outros, descobrissem novas rotas marítimas e terminassem
por achar, por se defrontar com terras desconhecidas das
Américas, entre elas o Brasil. O Brasil desde essa época
até hoje evoluiu, teve a sua história, história difícil, não é? À
época colonial, os Portugueses adotaram uma colonização
repressiva; nos anos 1700 houve um padre franciscano
chamado Francisco Faria, que montou uma tipografia para
imprimir publicações e a coroa portuguesa proibiu a
impressão de qualquer coisa no Brasil. Imagine você viver
em um país em que não se podia publicar nada, como não
se podia fabricar nada também, nem palitos de fósforo, e a
Inglaterra que dominava Portugal. Nós éramos, portanto,

23
colônia da Inglaterra; éramos terceirizados pela Inglaterra,
país que estava começando a indústria têxtil e exportava
parte de sua produção para América do Sul. Segundo o
grande historiador inglês Hobsbawn, a América do Sul tinha
um mercado para os tecidos ingleses e foi ela que salvou
essa indústria.
Os portugueses, evidentemente, não vieram para
construir uma nação, como nenhum outro colonizador,
ingleses e outros, não vieram para construir nações; vieram
para buscar novas riquezas, pimentas, especiarias, buscar
coisas exóticas que não havia na Europa. Ao passo que
nos EUA a coisa foi diferente. Embora o Brasil tenha a
mesma idade que os EUA, há uma diferença extraordinária
e que eu procurei saber um pouco, não sei se sei, mas
procurei ler um pouco sobre as causas desta marcante
diferença. Houve a guerra das religiões no século XVI, a
reforma de Lutero e Calvino, houve a guerra das religiões
na Europa Central e isso produziu uma certa emigração de
gente que saía das perseguições, que fugia das guerras
para os EUA, com a idéia de se fixar lá e construir qualquer
coisa e o governo dos EUA deu aos emigrantes que iam
para o Oeste terrenos ao passo que aqui nunca se deu
terreno a ninguém; pelo contrário, tira-se a cabeça de quem
procura terra no Brasil. Houve, portanto, essa diferença
histórica muito grande. Nos anos 1780-86, houve a Guerra
de Independência dos americanos, que ganharam a guerra.
Os EUA produziram homens de alto calibre como Benjamim
Franklin, que era um grande estadista, diplomata e físico
também, que investigou a eletricidade atmosférica.
Produziu homens como Thomas Jefferson, que disse que
queria que escrevessem em seu túmulo não que ele tinha
sido presidente dos EUA, mas sim que ele tinha fundado a
Universidade de Virgínia. Isso tudo contrasta com nossos
estadistas que nunca fundaram universidade alguma.

24
No Brasil, na mesma época, por volta dos anos
1768, influenciados pelos filósofos do século das luzes,
pelos filósofos que contribuíram para a Revolução
Francesa, houve a Inconfidência Mineira. Houve aquele
poeta Tomás Gonzaga e Tiradentes foi executado,
sacrificado, morto. Então não tivemos capacidade de
ganhar a guerra da independência como os americanos
ganharam da Inglaterra, e a produção dos homens notáveis
nos EUA fez com que estes seguissem uma trajetória
histórica diferente da nossa. Outro aspecto importante é
que os EUA se industrializaram rapidamente, fizeram as
estradas de ferro, coisa que no Brasil foi abandonada; a
famosa Great Western, que era uma companhia de estrada
de ferro lá no meu Pernambuco, foi abandonada.
Os filósofos europeus na época, como Erasmo de
Roterdã, viajavam muito; iam a Veneza, a Roma, iam pedir
a benção ao Papa, e ele era alimentado pela idéia de que a
Igreja tinha que voltar às suas origens puras, pois a Igreja
tinha se deixado levar pela riqueza material, daí a
corrupção, daí a reforma de Lutero e os trabalhos de
Erasmo de Roterdã Portugal optou por entregar a educação
(ver EDUCAÇÃO) aos Jesuítas, aos Curas, ao passo que a
Inglaterra e a França nos anos de 1600 foram levadas a
fundar academias (ver ACADEMIA) que deram origem no
século XVII à ciência, à ciência experimental. Ao passo que
no Brasil, que estava abafado por Portugal, a educação
tinha um encaminhamento medíocre, até a vinda de Dom
João VI, em 1808. O Brasil começa a contar para valer a
partir desta data e, portanto, temos menos de 200 anos de
existência. Como é que se pode querer contar a existência
do Brasil em séculos em que era proibido fazer impressão
de qualquer coisa? Quando Dom João VI fugiu de Portugal,
graças ao nosso libertador que foi Napoleão Bonaparte que
invadiu Portugal, e protegido pela esquadra britânica

25
aportou no Rio de Janeiro com a sua corte, constatou que
não podia viver com as condições que eles próprios haviam
estabelecido no Brasil. Foi então que se começou a
publicar, abriram-se os Portos, fundou-se o Museu
Nacional, o Jardim Botânico Real, a Academia Real Militar,
que depois deu lugar à Escola Politécnica e à Faculdade de
Medicina. O Brasil foi tomando corpo como um país, como
um império. Depois de Dom João VI veio Dom Pedro I, que,
em 1822, proclamou a famosa independência do Brasil e
depois foi chamado a Portugal para ser o Dom Pedro IV, o
rei, e deixou o futuro Dom Pedro II, ainda menor de idade.
Dom Pedro II era um homem interessante,
inteligente, culto, que mantinha relações com figuras cultas
como Wagner, Bell, o inventor do telefone, e mandou
Joaquim Gomes de Souza, o matemático do Maranhão,
para estudar na Europa, onde ele apresentou memórias na
Academia de Ciências de Paris (ver ACADEMIA). Então
houve uma certa intelectualização com Dom Pedro II, mas
depois, em 1889, houve a proclamação da república
influenciada pelos positivistas. Eles influenciaram na
política, mas no domínio da educação e da cultura foram
um desastre, tendo sido contra a universidade.
Enfim com a república de 1889 até 1930, a velha
república, era o domínio das oligarquias, eram os estados
que mandavam, com suas bandeiras, seus hinos, o Brasil
não era uma nação federalizada. A partir de outubro de
1930, Getúlio Vargas (ver VARGAS) acabou com aquela
política execrável do café com leite, o presidente ou era de
São Paulo ou de Minas Gerais. Passando por cima dos
detalhes, dos pormenores, Vargas foi o fundador do Brasil
moderno. Ele lançou as bases do Brasil industrial:
Petrobrás, Eletrobrás, BNDE, criou a assessoria
econômica. Então é esse o Brasil que estamos herdando
agora. Já passamos pela ditadura do Estado Novo, a

26
ditadura militar de 1964 a 1985, estamos entrando agora no
que se chama período democrático com as famosas MP,
medidas provisórias, são verdadeiros decretos-leis. Por
outro lado, o Congresso tem deputados e senadores que se
deixam corromper por vantagens oferecidas pelo Governo
como rádios, concessões, dinheiro, e votam tudo que o
presidente pede. Vivemos, portanto, uma pseudo-
democracia; então temos que lutar, não é?
A nova geração está recebendo de nós uma
herança difícil, para que o Brasil prossiga em uma marcha à
qual tem direito. Esse presidente atual, Dr. Fernando
Henrique Cardoso, gostaria de transformar a trajetória do
Brasil na trajetória dos EUA, mas as trajetórias históricas
são diferentes, as condições iniciais são diferentes; os
grandes industriais americanos apoiaram no início do
século a educação básica, a universidade, a ciência,
construíram museus... Quais os industriais que fizeram isso
no Brasil? Não fizeram coisa nenhuma, pelo contrário,
querem ganhar dinheiro, querem é não pagar imposto de
renda. Que país pode se desenvolver com toda essa
omissão desses homens de poder? Impossível! Que país
pode se desenvolver sem Ciência?
Muitos colegas da minha geração, a primeira
geração da Física brasileira que foi fundada por Gleb
Wataghin, Mario Schenberg e Marcelo Damy, foram para o
exterior aprender Física (ver FÍSICA), que é o que nos foi
dado. Outros aprenderam outras coisas: aprenderam a ser
mecânicos, engenheiros, médicos, biólogos. Lattes, Tiomno
e eu fomos fazer Física e sempre pensamos que devíamos
voltar para o Brasil, para construir a Ciência no Brasil e
posso afirmar que nós ganhamos. Fizemos trabalhos
importantes, a Física brasileira começou muito bem, mas
tudo isso está sendo ameaçado de ser destruído por esse
governo neo-liberal, que vende a preço de banana podre o

27
nosso patrimônio, Volta Redonda, a Vale do Rio Doce, e se
omite no apoio à Universidade; um governo constituído de
ex-professores universitários que não apoiam a
Universidade nem a pesquisa científica. Esse é o Brasil e
confesso que nunca pensei chegar às vésperas dos 80
anos e encontrar esse Brasil de tão difícil trajetória.

CAUSALIDADE
A nossa noção de causalidade está ligada à física
clássica. Você tem um acontecimento (acontecimento A) e
ele produz um outro acontecimento ligado a ele
(acontecimento B) que é o efeito do acontecimento A;
dizemos que o acontecimento A é a causa e o B, o efeito.
Na mecânica de Newton quando você integra a equação de
movimento, que é uma equação de segunda ordem, você
precisa das condições iniciais para determinar uma
trajetória. Dadas as condições, iniciais a trajetória é bem
definida e o ponto material segue uma trajetória bem
determinada, e nessa trajetória você sabe que um estado
do móvel é conseqüência de um estado anterior. E vice-
versa, isso também vale para o passado.
Agora, quando você estuda Relatividade (ver
RELATIVIDADE), você exige que as leis da Física sejam
invariantes com relação ao grupo de Poincaré. Você tem o
cone de luz que divide o espaço-tempo em regiões: duas
no interior do cone de luz, que dão a partir da origem o
cone do futuro e no sentido contrário o cone do passado,
mais duas outras partes fora do cone de luz. Você pode
tomar um acontecimento qualquer como a origem O do
cone de luz que vai se seguir. Qualquer outro
acontecimento A que estiver dentro do cone futuro a partir
da origem O pode ser o efeito do acontecimento da origem.

28
O fato de estar no cone do futuro é invariante para qualquer
sistema de referência que se deduza do primeiro por um
movimento retilíneo e uniforme. Então, o princípio de
causalidade deve ser relativisticamente invariante. Ao
contrário, não há nenhuma relação de causa efeito entre o
acontecimento A e um outro que esteja fora do cone de luz.
Por exemplo, um acontecimento que acontece ao mesmo
tempo em que eu estou falando não pode ser
conseqüência do que eu estou dizendo. Isto porque é
preciso uma certa velocidade de propagação entre o que
acontece aqui comigo, e o acontecimento que vai se dar
depois. Se a distância entre dois eventos é tal que seria
necessária uma velocidade de propagação da informação
superior à da luz, então um acontecimento não pode ser
considerado como efeito do outro. Esta é a noção clássica
de causalidade.
Na Mecânica Quântica, entretanto, o princípio de
causalidade é ferido mortalmente por uma razão muito
simples; é que na Mecânica Quântica existe a causalidade
para a amplitude de probabilidade, para a função de
Schrödinger, que obedece à equação de onda de
Schrödinger, que é uma equação de primeira ordem no
tempo. Mas é o módulo quadrado dessa amplitude de
probabilidade que dá a probabilidade. Então, na Mecânica
Quântica, se você tem um acontecimento aqui você tem a
probabilidade para que outros acontecimentos aconteçam.
Na realidade, você tem uma diversidade de futuros que
seriam conseqüências do acontecimento A, cada um deles
com uma certa probabilidade. Você vê, portanto, que não
há esse determinismo da física clássica no que se refere ao
princípio da causalidade. A Mecânica Quântica apaga um
pouco o princípio de causalidade, pois fala apenas de
probabilidades para que um dos acontecimentos possíveis
a partir do acontecimento A aconteça.

29
CBPF
Quando voltei de Princeton, em 1946, onde fiz o
doutorado com Wolfgang Pauli (ver PAULI), assumi a
cátedra de Física Teórica na Faculdade Nacional de
Filosofia. Eu queria que lá se fizesse física moderna: física
de partículas, física nuclear, eletrodinâmica quântica, que
era o exemplo marcante da teoria dos campos na época.
Para isso comecei a dar aula de manhã à noite. Além das
aulas de física teórica e de física superior, a que era
obrigado, realizava cursos extraordinários para formar
gente o mais cedo possível para ter com quem discutir
possíveis pesquisas. Mas o ambiente na Universidade do
Brasil, que se tornou mais tarde a Universidade Federal do
Rio de Janeiro, era o pior possível (ver UNIVERSIDADE).
Havia poucas exceções como o Costa Ribeiro, que era um
grande professor de Física, que tinha feito trabalhos de
pesquisa com Bernhard Gross, e a quem são devidas as
primeiras pesquisas de Estado Sólido no Brasil; mas para a
física teórica, física nuclear e teoria dos campos, só havia
eu no Rio de Janeiro.
Em São Paulo havia um grupo grande em torno de
Mario Schenberg, o grande mestre de São Paulo. Eu queria
estabelecer um grupo no Rio de Janeiro que pudesse
discutir e colaborar com o grupo de São Paulo, onde
estavam Wataghin, Schenberg, Marcelo Damy, na física
nuclear experimental etc. Mas o Reitor, o Sr. Pedro Calmon
Muniz de Bittencourt, amigo do regime salazarista, não
sabia que havia a bomba atômica e nem que a pesquisa
científica era importante. Ele só ajudava mesmo o
Professor Carlos Chagas, que era uma grande figura,
fundador do Instituto de Biofísica, que se tornou um grande

30
centro de pesquisa de reputação internacional. Para nós
outros, físicos humildes e modestos, não vinha nenhuma
ajuda da reitoria e da universidade. Por exemplo, quando
era aluno da faculdade de filosofia, pelo fato de ter um
diploma de Químico Industrial, fui convidado pelo Prof. Luigi
Sobrero, professor da Universidade de Roma, ao me
examinar do primeiro para o segundo ano, para ser seu
assistente e nunca fui nomeado. Então era esse o
problema no Rio: o que fazer para estimular a física
moderna no Rio de Janeiro? Eu lutava pelo regime de
tempo integral, que garantiria aos professores salários que
lhes permitissem viver dos trabalhos de ensino e de
pesquisa na Universidade, mas o DASP  o Departamento
Administrativo do Serviço Público, o precursor do tal
Ministério da Reforma Administrativa , proibia o tempo
integral. Eu lutava muito por isso, publicava, esperneava,
até que a fundação Rockfeller, que era uma fundação
benemérita no mundo inteiro, propôs entrar no regime de
tempo integral escolhendo três professores: Carlos Chagas,
eu e um terceiro que eu acho que era o Lagden Cavalcanti,
professor de genética. Então, a Fundação Rockfeller daria
o complemento de tempo integral no primeiro ano, depois
iria decrescendo por 25% até que a universidade
assumisse sozinha o tempo integral. A universidade recebia
o dinheiro suplementar da fundação e guardava o dinheiro,
não repassava nada aos professores. Desmoralizou-se o
acordo até que a Fundação cancelou-o.
Quando o Lattes fez a grande descoberta com
Powell e Occhialini dos mésons , eu mantinha
correspondência com ele e lhe disse que era bom ele vir
para o Rio de Janeiro, pois em São Paulo já havia um time
formado, e já tínhamos discutido em São Paulo o que fazer
no Rio de Janeiro para estimular a pesquisa em Física.
Aproveitando a fama de Lattes com a descoberta do ,

31
propus à Faculdade Nacional de Filosofia, especificamente
ao Costa Ribeiro e ao Plínio Sussekind Rocha, meus
colegas, que se criasse uma cadeira nova, uma cátedra de
Física Nuclear e que ela fosse oferecida ao Lattes. Isso foi
feito. A Congregação aprovou, o Conselho aprovou, o
presidente Dutra mandou ao Congresso, que aprovou a
mensagem e criou a cátedra de Física Nuclear e o Lattes
foi convidado.
De Bristol, Lattes foi para Berkeley, onde produziu e
detectou o méson  em aceleradores, e antes de sua volta
ao Brasil ele mandou um amigo, Nelson Lins de Barros, que
trabalhava no consulado de Los Angeles, para ver como
era a situação no Rio. Naquela oportunidade disse ao
Nelson que a situação era profundamente difícil, porque o
reitor não dava a ajuda que precisávamos ter para o
Instituto de Física. Então Nelson levou-me ao irmão dele, o
Ministro João Alberto Lins de Barros, que era um político de
grande prestígio e que tinha tomado parte no movimento do
tenentismo em 1922 e 1924, tinha sido membro da coluna
Prestes e era amigo do Getúlio Vargas. Era também um
homem que tinha grande recurso e prestígio na política
nacional e eu contei ao João Alberto o clima e as
dificuldades da universidade, e ele disse que não podíamos
deixar de estimular a Física Nuclear no Brasil. Se o Calmon
não ajudasse na universidade faríamos uma instituição fora
da universidade. Aí nasceu a idéia do instituto, do CBPF. O
Lattes estava em Berkeley e o seu prestígio internacional e
nacional dava toda a segurança para que esse instituto
saísse. Ele voltou para o Brasil e em 15 de janeiro de 1949
houve uma reunião, uma assembléia, constituída de João
Alberto, Álvaro Alberto, figuras de renome, professores de
física etc. Fundou-se o CBPF: o Centro Brasileiro de
Pesquisas Físicas. O Lattes de Berkeley me mandou uma
procuração e eu assinei a ata de fundação por mim mesmo

32
e pelo Lattes e assim saiu o CBPF. Inicialmente a sede do
Centro foi em escritórios no centro da cidade. O dinheiro
vinha do João Alberto, vinha do Mario de Almeida, um
banqueiro que deu dinheiro para a construção de um
pavilhão, que é o pavilhão Mario de Almeida, que fica nos
fundos do campus da universidade na Praia Vermelha.
O Calmon, apesar dos seus defeitos, assinou um
acordo pelo qual dava mandato universitário ao CBPF; isto
significava que nós podíamos fazer cursos, e os primeiros
cursos de pós-graduação foram dados por nós,
especialmente por mim, no CBPF.
Desde sua criação, as atividades no CBPF eram
muitas. Feynman (ver FEYNMAN), que tinha passado aqui
rapidamente em 1949, voltou em 51/52, e passou o ano
sabático todo no CBPF e fizemos um trabalho juntos. O
Lattes voltou à colaboração com a Bolívia para expor
sistemas eletrônicos para detecção de partículas na
radiação cósmica em Chacaltaya, a 5 mil metros de altitude.
A UNESCO mandou uma missão de pesquisadores:
Occhialini, Camerini, Molière, físico alemão, e técnicos
como Helmut Schwartz, técnicos em alto vácuo e o Gerard
Hepp, especialista em eletrônica. A UNESCO deu também
bônus para que se comprassem livros e assim fizemos uma
biblioteca rapidamente, que se tornou uma das melhores da
América do Sul (ver LIVRO). Os laboratórios começaram a
se expandir. Lattes e Camerini construíram os aparelhos
eletrônicos, e faziam viagens de aventura de caminhão e
de trem até chegar a Chacaltaya, onde eles expunham as
placas de emulsões nucleares e os sistemas eletrônicos ao
bombardeio das partículas das radiações cósmicas. Eu
convidei Tiomno, que tinha feito doutorado em Princeton e
que era um físico que tinha feito belos trabalhos com
Wheeler e com Eugene Wigner. Ele estava em São Paulo,
para onde havia sido convidado, mas ele era carioca,

33
gostava daqui e eu insisti para que ele viesse para o Rio.
Convidei também o Guido Beck, que já tinha estado no Rio
de Janeiro, na Faculdade Nacional de Filosofia; ele veio de
novo e gostou tanto do clima de entusiasmo do Centro que
decidiu aceitar nossa oferta para que ficasse. Então o
grupo teórico era dirigido por uma trinca que era Guido
Beck, Jayme Tiomno e eu mesmo. A partir daí acho que
formamos mais gente do que a universidade de São Paulo
durante o mesmo período. Devo citar um grupo de físicos
enviados por meu querido mestre Luiz Freire, de
Pernambuco: Fernando de Souza Barros, Samuel Mc
Dowell, que está hoje como professor da faculdade de
Yale, Ricardo Palmeira e Luiz Carlos Gomes, além de um
número grande de físicos, inclusive Moysés Nussenzveig,
que Beck descobriu em São Paulo, e veio para cá fazer
tese sob orientação de Beck no CBPF. O CBPF tornou-se
rapidamente um grande centro de pesquisas e muito
famoso, para onde vieram físicos argentinos, Daniel Amati,
Alberto Sirlin, que haviam se formado em Buenos Aires, e
vieram e foram alunos de Feynman e de Molière, e vieram
estudantes até dos EUA, como Davidson, e outros do
Panamá, Peru, Bolívia, e de outros países; tornou-se um
centro verdadeiramente, o grande centro da América
Latina.
Em meu artigo sobre Richard Feynman no Brasil eu
reproduzo algumas cartas trocadas entre o Feynman e eu
mesmo, nas quais ele menciona que sente um carinho
grande pela instituição Centro Brasileiro de Pesquisas
Físicas, que começou muito bem. Infelizmente, a despeito
disto, até hoje o CBPF vem atravessando crises após a
época heróica. De fato, passamos por crises com sangue,
suor e lágrimas, mas conseguimos resistir até agora e
espero que esse novo governo de professores
universitários no poder nos mantenha em plena condição
de desenvolver nossas atividades de pesquisa e de ciência.

34
CETICISMO
O ceticismo é importante na Ciência. Um cientista
começa seus trabalhos sendo céptico, porque ele faz
perguntas, cria problemas. Descartes dizia que é preciso
duvidar e chegou à conclusão: “penso, logo existo”, mas ele
achava que tinha que duvidar. Nós duvidamos sempre de
explicações até que uma certa explicação de um certo
fenômeno se revele uma descrição coerente dos
acontecimentos ligados a este fenômeno e, assim, se tenha
um modelo científico. Então o cientista é no início céptico,
ele põe em dúvida, não aceita de imediato uma explicação,
a não ser que depois encontre razões o suficiente para
aceitar o que lhe é proposto.

CHAGALL
Marc Chagall, o grande pintor russo, fantástico, que
depois emigrou para Paris e fez os belos trabalhos que nós
todos conhecemos e admiramos. É um dos pintores que eu
mais admiro; um homem que tira de dentro de si a
inspiração para os quadros que ele pinta. Depois da
revolução comunista sob a direção de Lenin, trabalhou lá
como comissário, mas depois saiu. Passou por vários
lugares da Europa e fixou-se em Paris. Não posso
descrever o que ele pintou; é preciso ver! Eu estive na
ópera de Paris, a famosa Opera, e a abóbada do teto é
pintada por Marc Chagall, a convite de André Malraux; uma
beleza não é! Eu estive também em vários museus em
Paris: no Louvre, em Orsay e, entre os pintores expostos,
Marc Chagall, é um dos que mais me influenciaram, que

35
mais me deixaram marcas profundas. Acho-o
extraordinário, de uma beleza indescritível!

CIÊNCIA
A Ciência, o que é a Ciência? A ciência em ação, a
ciência sempre na fronteira... Ora, a Ciência não é senão as
nossas tentativas de buscar respostas às perguntas que
nos fazemos sobre o universo em que vivemos, sobre a
estrutura das coisas que nos envolvem e sobre nós
mesmos. Ciência é feita via pesquisa científica, a
investigação científica. Na pesquisa científica o homem de
ciência é como uma pessoa que está na sala escura à
procura de um objeto; ele não sabe onde está o objeto nem
como ele é, e só quando ele o encontra é que aquilo se
torna uma coisa conhecida, um objeto que ele estuda e
conhece.
Minha experiência pessoal teve início em 1940,
quando decidi dedicar-me à pesquisa científica. Comecei a
trabalhar em pesquisa sob a direção de Wolfgang Pauli (ver
PAULI), que foi meu grande mestre, e a partir daí, em 46,
fiz meu doutorado com ele, em 44/45, em Princeton. Em 46,
fui nomeado professor de Física Teórica e Física Superior
na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do
Brasil, como se chamava naquela época a UFRJ, e desde
então nunca parei de fazer pesquisa científica.
Há a Ciência que você conhece e transmite a seus
alunos. Como em 46 não havia ambiente científico, quanto
menos nas áreas de física moderna, nuclear, de partículas
e de física teórica no Rio de Janeiro, eu dava aula de
manhã e de noite para estudantes para que eles se
tornassem capazes de discutir comigo. Ensinava a eles o
que é fundamental, desde Galileu (ver GALILEU),

36
passando por Newton (ver NEWTON) e Maxwell (ver
MAXWELL), Lorentz, Einstein (ver EINSTEIN), Rutherford,
Bohr, a Mecânica Quântica, a Teoria Quântica dos Campos.
Com esses fundamentos e com a parte matemática
necessária você começa a investigar, a fazer perguntas e
foi o que eu fiz. Na época, havia os problemas das forças
nucleares, das forças entre prótons e nêutrons, nêutrons e
nêutrons, e prótons e prótons que são responsáveis por
nós estarmos aqui, pela estrutura do núcleo atômico.
Estudei essa parte que era desconhecida e ainda hoje é
tema de investigação. Então publiquei trabalhos... e o que é
publicar trabalhos? É apenas divulgar uma solução de um
problema que você se pôs e para o qual encontrou essa
solução que achou satisfatória, achou bonita, ficou contente
com ela. Neste caso, você manda o artigo para uma revista
para que outros leiam, compartilhem com você a alegria
desse resultado. Quem faz uma investigação científica e
faz uma descoberta científica sofre uma grande alegria,
talvez similar ao pintor quando ele consegue pintar um
quadro cuja beleza o encanta. Isso é parte da Ciência. Uma
vez encontrado esse resultado você o cataloga e ele passa
a ser parte da ciência morta, a ciência na estante, a ciência
dos livros, essa que você comunica por já ter sido feita. Mas
o professor que não faz pesquisa, que é o caso típico nas
universidades (ver UNIVERSIDADE) privadas no Brasil, é
aquele que só transmite o que está catalogado nos livros
empoeirados, ao passo que a verdadeira transmissão de
conhecimento que se esperaria encontrar na verdadeira
universidade é aquela feita por professores que realizam
pesquisas. Mesmo quando se trata de transmitir
conhecimentos antigos como os de Galileu, Newton e
Maxwell, quem faz pesquisa os transmite de uma maneira
vivaz e o estudante sente, pois, aspectos sutis desses

37
conhecimentos, que só o pesquisador percebe quando ele
próprio faz pesquisa.
A pesquisa científica é a ciência em ação, em plena
atividade, uma fronteira que nunca pára e você não sabe
na hora qual é o resultado que você vai encontrar. Fiz
trabalhos importantes em 1958 que hoje são triviais porque
alguém os encontrou, mas na época não eram.
O futuro da Ciência será sempre um futuro risonho,
eu acho. Porque há quem diga que a Ciência acabou, que
a História acabou (ver HISTÓRIA). Isso é uma besteira;
como se fôssemos Deus (ver DEUS) e conhecêssemos a
estrutura de todo o universo. Ora, nós estamos
mergulhados em um universo misterioso, os cosmólogos e
os físicos de partículas não sabem ainda direito a sua
estrutura, o que é a matéria cinzenta. Há sempre coisas
novas, há sempre perguntas a se fazer. O futuro da Ciência
é um futuro brilhante, é um futuro de muitos séculos, desde
que a humanidade não seja destruída pela ação do próprio
homem, que é o grande predador da natureza.

CNPq
CNPq quer dizer originariamente Conselho Nacional
de Pesquisas. Os conselhos nacionais de pesquisas foram
criados por volta da primeira guerra mundial nos EUA
(National Research Council), na Itália (Consiglio Nazionale
di Ricerca) e são organizações importantes porque foram
idealizadas para financiar a pesquisa científica, conceder
bolsas de estudo, de maneira que se assegurasse o futuro
da ciência do país em questão e para isso você precisa
estimular os estudantes que têm vocação para ciência, os
quais, uma vez estimulados, devem seguir seus cursos de
graduação, de pós-graduação, de aperfeiçoamento, em

38
geral, no exterior. Muitos americanos foram para a Europa,
para Göttingen, para Munique, para Cambridge, como foi o
caso de Oppenheimer, de Rabi e outros, porque nos EUA,
em meados desse século, era pequeno o número de
cientistas, você os contaria nos dedos das mãos. No Brasil
isso foi uma aspiração também: a existência de um
Conselho de Pesquisas que pudesse ser uma agência
financiadora de projetos científicos, de pesquisadores, de
bolsas para jovens. Eu fui um daqueles que receberam
bolsas de governos e de fundações estrangeiros, da
fundação Guggenheim, assim como Mario Schenberg. Em
1951, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas no
Brasil, por uma comissão organizada pelo Almirante Álvaro
Alberto, que tinha prestígio junto ao presidente Dutra e ao
presidente Getúlio Vargas (ver VARGAS). A estrutura do
Conselho Nacional de Pesquisas foi aprovada em 1951.
Como estava nos EUA, na época recebi uma carta do
Álvaro Alberto dizendo que, como eu estava fora não
poderia pertencer à comissão, mas que ele gostaria que eu
a ela pertencesse se aqui estivesse.
O Conselho de Pesquisas foi muito importante
porque ele começou a completar o regime de tempo
integral para os pesquisadores que ganhavam muito pouco,
como ocorre nesse governo atual (1998), que é um
desastre tanto para a universidade quanto para a pesquisa
científica. Voltando ao CNPq daquela época, ele dava
complemento salarial de modo que os pesquisadores da
universidade e dos institutos de pesquisa, como o Instituto
Oswaldo Cruz, pudessem ter um salário que lhes permitisse
viver pensando só em pesquisa, vivendo só no laboratório,
porque o pesquisador é diferente do funcionário que acaba
o expediente, vai embora para casa e vai se distrair; o
pesquisador não tem hora para pensar nem para trabalhar,
porque ele está, em geral, sempre mergulhado nas suas

39
idéias; a sua cabeça lhe pertence e a sua cabeça está
povoada de idéias que são bonitas, são lindas. Isso exige
que ele se dedique só a essas coisas.
Depois, quando houve a época da grande inflação,
1956-60, o Conselho começou a dar bolsas em número
muito pequeno, atravessou uma crise e foi aí que tive uma
ação importante, porque eu escrevia artigos em jornais e
em revistas, sobre a necessidade de apoio à pesquisa,
sobre estruturas novas. Eu fui muito militante pela Ciência
no Brasil. Escrevi na revista chamada Tempo Brasileiro um
artigo sobre treinamento científico para engenheiros
(reproduzido em meu livro Ciência e Desenvolvimento) e
um jovem economista, José Pelúcio Ferreira, leu esse
artigo indo para Brasília, e veio depois me procurar para
saber como se devia fazer. Ele era ligado ao Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) me levou
a este banco, cujo diretor era o economista Jaime Magrassi
de Sá, e nós três descobrimos que esse banco dava
dinheiro e empréstimos a industriais e havia uma cláusula
que dizia que uma certa porcentagem deste empréstimo
devia ser aplicada em tecnologia, em aperfeiçoamento
tecnológico, mas, em geral, eles não faziam e comiam o
dinheiro. Dessa conversa surgiu a idéia da criação do que
se chamou de Funtec, que é o Fundo de Tecnologia e
Ciência.
O Funtec foi muito importante, e se transformou
depois na FINEP, que é a Agência Financiadora de Estudos
e Projetos, e marcou a entrada do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico, no apoio à pesquisa científica
e à pesquisa tecnológica. Essas organizações  a FINEP
em particular  atuavam paralelamente ao Conselho
Nacional de Pesquisas (CNPq) e, com o passar do tempo,
isso tudo foi refundido. Eu também fui favorável à criação
do Ministério da Ciência e Tecnologia, em função do que

40
aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, na qual a
Ciência teve um papel tão importante. O projeto da bomba
atômica tornou-se realidade graças a vários físicos teóricos
tais como: Oppenheimer, Hans Bethe, Richard Feynman,
John von Neuman, Eugene Wigner, dentre outros, que, no
fundo, eram pesquisadores abstratos, mas que foram
capazes de concluir um projeto de natureza prática, como
você sabe, uma prática trágica como a bomba atômica (ver
HIROSHIMA). Porém, isso demonstrou aos governos  em
particular, ao norte-americano  que projetos científicos
abstratos podiam dar lugar a importantes desenvolvimentos
tecnológicos. Foram criados o Ministério da Ciência na
França, na Inglaterra e no Brasil (não nos EUA pois não
precisa destas coisas, já que é um país de história
singular). No Governo João Goulart, o Conselho Nacional
de Pesquisas era subordinado diretamente ao Presidente
da República e havia muitos outros órgãos submetidos ao
presidente. Várias pessoas achavam isso um excesso de
centralização e o próprio governo naquela época queria
fazer uma reforma, a fim de aliviar a carga à qual o
presidente estava sendo submetido, e queria anexar o
Conselho Nacional de Pesquisas ao Ministério da
Educação. Foi aí que eu achei que o Ministério da
Educação já tinha uma tarefa gigantesca, que era a de dar
educação ao povo brasileiro, coisa que não se conseguia
historicamente. Eu propus, então, que se criasse o
Ministério da Ciência e Tecnologia e nessa propaganda eu
fui acompanhado de pesquisadores como Haity
Moussatché, Hermann Lent, Walter Oswaldo Cruz, Antonio
Couceiro, Arthur Moses, mas sua criação só viria depois do
regime militar, que apoiou a pesquisa mas sem criar o
Ministério da Ciência e Tecnologia, que foi criado no
governo de Tancredo Neves & José Sarney. São órgãos
integrantes desse Ministério: o Conselho Nacional de

41
Pesquisa (que passou a chamar-se Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a
FINEP.
Todos esses órgãos são, em princípio, importantes,
mas tudo isso depende de um projeto político do governo; o
governo que quiser apóia a Ciência e o que não quiser não
apóia. Paradoxalmente, em 1998, temos uma situação
muito adversa ao desenvolvimento científico com um
Governo cujo Presidente da República é ex-professor
universitário e talvez até pesquisador em Sociologia; o
Ministro da Educação é ex-professor universitário e ex-reitor
de uma Universidade Pública; o Ministro da Ciência e
Tecnologia foi professor da Universidade de Minas Gerais e
fez pesquisas; pois bem, paradoxalmente, repito, é este
governo constituído de ex-professores e ex-pesquisadores
que está curvando, está diminuindo, está bloqueando o
progresso da Ciência no país e o financiamento da Ciência,
está atacando a Universidade Pública  como se a
Universidade Privada não fosse outra coisa se não uma
empresa visando a lucros , e fugindo do dever histórico
(como na França) que é o financiamento federal público da
pesquisa científica e da educação, em todos o níveis. Note
bem que o atual presidente dos EUA, Presidente Clinton,
anunciou, em discurso recente sobre o estado da união, um
aumento histórico de 10% para a Fundação Nacional de
Ciência, que é o maior aumento que já teve essa fundação
na qual se concentra o financiamento federal público para a
pesquisa. Portanto, os EUA, que constituem um exemplo
sagrado para nossos estadistas, contrariam a vontade de
nossos estadistas, que atualmente estão tentando sufocar
a Ciência, o que é um absurdo!

42
DEUS
Deus é um mistério, é um ato de fé, aliás.... Eu tive
uma educação católica; meu pai me pôs para estudar no
Colégio Marista, que é um colégio católico dos irmãos
maristas (franceses), muito bom. Tive então uma educação
católica, segui os preceitos da confissão e da comunhão e
achava, como acho ainda hoje, o ritual da missa muito
bonito. Depois, à medida que a gente vai avançando na
vida, a gente vai encontrando coisas, e a fé vai se
atenuando. Por exemplo, é muito duro você acreditar em
um Deus construído à nossa imagem, que desce ao nosso
nível, se preocupa com as nossas necessidades. Nós o
evocamos quando dele sentimos necessidade, quando
vemos pessoas que morrem de câncer (como minha
querida primeira esposa), outras que são submetidas ao
amor e à fúria de Deus. É difícil você aceitar isso e, então,
você passa, como Spinoza e Einstein (ver EINSTEIN), a
buscar um Deus na harmonia das leis da Física (ver
FÍSICA), porque a subestrutura harmoniosa do Universo
(ver UNIVERSO), que o estudo da Física nos revela, é
carregada de um mistério (ver MISTÉRIO) muito bonito e
para estes dois pensadores este mistério, esta beleza (ver
BELEZA), esta harmonia do mundo seriam, talvez,
identificados com Deus. Einstein, aliás, tinha o hábito de
perguntar “será que Deus teria escrito esta equação?”, mas
era, na verdade, uma metáfora que ele usava.
Eu não posso discutir com uma pessoa sobre Deus
(respeito muito quem acredita firmemente, e as que não
acreditam também) pois, no fundo, é um ato de fé.
Acontece que a Ciência também não explica tudo, não é?
Há mistérios na Física que eu faço, que nós fazemos; as
três famílias fundamentais de léptons, as três famílias de
quarks (ver QUARKS), os oito glúons  os campos de

43
calibre das interações fortes  os fótons, enfim, tudo isso é
misterioso! Uma pergunta que você pode fazer (que
Einstein também se fazia) é: “será que Deus ao criar o
universo teve uma escolha? Será que haveria outras
possibilidades de estruturar o universo?” Toda a
Cosmologia, que atualmente se unifica um pouco com a
Física das Partículas Elementares, nos leva a refletir sobre
essas profundas questões a respeito do Universo. Alguns
físicos chegaram a afirmar, no final do século passado, que
com as sínteses de Newton (ver NEWTON) e de Maxwell
(ver MAXWELL) não havia mais mistério na Física.
Entretanto, foi exatamente nesta época que se descobria o
mundo do átomo (ver ÁTOMO), dos quanta (ver
QUANTUM), da relatividade (ver RELATIVIDADE).
Atualmente, há físicos que escrevem sobre a “teoria
final”, decretam que a Ciência acabou (ver CIÊNCIA). Será
possível que nós, que somos uma titica de mosca, em um
planetinha em torno do sol, julguemos que conhecemos
todo o Universo? Uma “chupeta”! O que é a matéria
cinzenta (ou escura) que hoje povoa a maioria do Universo
e não se sabe nem de que é formada (por isso é escura)?
Sabe-se pelo efeito gravitacional, pelo movimento de
corpos visíveis que não poderiam ser explicados a não ser
postulando-se a presença de matéria oculta. Então, no
Universo, na Física, na Ciência, os mistérios existem...
muitos... e nós achamos que esses mistérios serão
resolvidos um dia. Eu não sei; temos que continuar!
Mas o que é difícil é trazer Deus ao nosso plano e
fazer com que ele participe das nossas fúrias, das nossas
alegrias; evocá-lo quando dele precisamos (que é o que faz
o povo, pedindo a proteção a Ele e, às vezes, obtendo essa
proteção). Já no início da civilização, os homens, que
tinham medo das tempestades, do trovão, do relâmpago,
dos elementos naturais, atribuíam isso tudo a seres

44
superiores, a deuses... Quem sabe? Deus é um mistério,
como na Ciência há muito mistério: porque o Universo foi
construído assim? Porque essas leis da natureza são
assim? São leis bonitas que explicamos, descrevemos
como fizeram físicos famosos: Einstein, o grande Isaac
Newton, meu querido amigo Richard Feynman (ver
FEYNMAN), Pauli (ve PAULI), e apesar de suas
descobertas nunca conseguimos penetrar no mistério de
Deus. Ainda não me provaram também que Ele existe; fica,
então, como um ato de fé.

EDUCAÇÃO
A educação é um dos problemas graves do Brasil
(ver BRASIL). Historicamente a sociedade brasileira fez o
pecado mortal de abandonar a educação básica do povo,
desde o tempo da colônia. O português veio para cá
(evidentemente não descobriu o Brasil, mas invadiu as
terras dos índios, dos habitantes que aqui estavam) e
tomaram conta, como os espanhóis tomaram conta da
América espanhola, e daí saiu a colonização.
Diferentemente dos ingleses e dos habitantes da Europa
central que foram para os EUA, os protestantes e os
peregrinos, aqui os portugueses vinham para se apossar da
terra, retirar as riquezas (ouro preto, verde, amarelo)
enviando tudo para Portugal. Com essa riqueza
reconstruíram Lisboa depois do grande terremoto; com
esse ouro Portugal pagava a dívida que tinha com a
Inglaterra. O português vinha para cá e voltava para casa,
sem nunca se preocupar em construir uma nação. O que é
fundamental é que abandonaram não somente os
governos, os governadores (os mandatários das
capitanias), imperadores, mas sobretudo abandonaram a

45
educação da população, porque quanto menos você sabe
menos a você se paga. Essa falta de educação básica é
grave até hoje, afetando o Brasil de forma notável.
Houve uma época nos anos 50-60, em que as
indústrias estrangeiras vinham para cá se instalar, pois
encontravam mão de obra barata. Isso hoje acabou e o
Brasil não está preparado para o século que já começou,
que é o século da tecnologia. O País está precisando de
gente bem educada, gente que tenha uma educação
tecnológica, uma educação profissional. O Colégio Pedro II
foi fundado em 1827 pelo Imperador, mas quantos colégios
Pedro II foram fundados? Apenas um, no Rio de Janeiro,
que era a capital, mas não houve um só Colégio Pedro II
fundado nos outros estados, nas províncias, o que é um
absurdo, como se a educação devesse ser restrita ao
Distrito Federal, à capital da República. A Educação é
básica, é fundamental. Sem Educação você tem uma
população que não sai da pobreza, que não sabe nem
distinguir água suja de água limpa, não sabe distinguir
coisas para a sua própria vida, para constituir a sua família
etc. Sem falar nos políticos que são mal-educados, são em
geral corruptos, são ignorantes, não conhecem os
problemas do país e fazem discursos demagógicos (ver
POLÍTICA). Então vimos ao longo da história um país que
se resumia a uns politiqueiros, a uns políticos de São Paulo
e de Minas Gerais. Isso mudou com a Revolução de 1930,
com Getúlio Vargas, que fundou o estado moderno. O
Ministério da Educação foi criado depois de 30: o Ministério
da Educação e Saúde, depois Ministério da Educação e
Cultura, agora somente Ministério da Educação. Mas o
Ministério da Educação não basta; é preciso que a
sociedade aja, atue. Há escolas privadas e colégios
privados no curso secundário que são um verdadeiro
comércio, não é? A maioria das universidades privadas

46
também visa ao lucro e há as universidades federais que,
bem ou mal, cresceram ao longo desses anos. O governo
atual, que é um governo no qual presidente e ministros
(ciência, educação, cultura) são ex-professores de
universidades públicas (aposentados cedo), infelizmente
não atua junto à universidade para que ela se modifique,
para que melhore. O ministro da educação disse em
entrevista recente a um jornal “que o modelo atual está
falido”, mas qual é o modelo novo que ele propõe?
Eu aprendi a lutar pela Universidade (ver
UNIVERSIDADE); lutei pela Universidade de Brasília, fui o
primeiro coordenador do seu Instituto de Física, contribuí
para a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(ver CBPF), e acho que os cientistas atualmente têm que
se preocupar com o problema da educação básica e não
podem ficar em seus castelos de marfim. Eles devem
dedicar algumas horas por mês, ou por semestre, e entrar
em contato ou fazer com que colégios secundários ou
professores os convidem para dar palestras sobre os
últimos avanços da ciência, como eu fiz. Isso é uma
obrigação das universidades, principalmente da
universidade pública, que a cada ano, durante alguns
meses, devem abrir as portas e oferecer cursos de
reciclagem para os professores de segundo grau, pois os
professores da educação básica são muito mais
importantes do que nós cientistas, porque eles fazem a
cabeça dos meninos, e esses meninos que tiverem
educação básica serão os cidadãos de amanhã, os
médicos, os engenheiros, os advogados, os militares, os
operários; esse pessoal deve ter uma educação básica
aprimorada, o que não acontece atualmente. Há uma
deterioração progressiva, desde o regime autoritário (ver
AUTORITARISMO), uma decadência enorme da educação.

47
O grande educador brasileiro foi Anísio Teixeira, que
fez reformas no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em
todos os níveis. Ele foi destituído da universidade pelo
governo autoritário do Sr. Gustavo Capanema, que era o
ministro da educação, ajudado pelo escritor Alceu Amoroso
Lima, líder católico e um grande intelectual, mas que teve
esse grande defeito: tachava de comunista a equipe de
Anísio Teixeira, que foi aluno de John Dewey, filósofo
americano, e formou-se na Universidade de Columbia. Se a
reforma que Anísio Teixeira estava fazendo no Rio
continuasse no Brasil inteiro, o Brasil seria certamente
diferente hoje. Esse, a meu ver, é o problema número um
do país: a Educação.
Evidentemente, existe a questão da economia, mas
qual economista, que desde os anos 40 quando o
economista ficou importante como assessor dos poderes da
república, apontou a educação como fundamental para o
desenvolvimento? Eles falam em transferência de
tecnologia, que, na verdade, é transferência de fábrica da
Volkswagen para cá... transferência de tecnologia uma
“chupeta”! Porque o operário torce o parafuso aqui como
torcia lá e os desenhos, projetos e planos são inventados lá
fora. O que é verdadeiramente importante é a educação
básica, para que a população esteja apta a se desenvolver,
a aprender mais, a ter uma educação superior e a criar
tecnologia, ela própria. A educação deve ter como objetivo
dar uma base fundamental para uma vida melhor da
população e ser capaz de criar conhecimento novo para um
mundo novo que está diante de nós.

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EINSTEIN
Einstein, depois de Newton (ver NEWTON), é o
maior físico de todos os tempos. Grande figura,
extraordinária. Eu o conheci pessoalmente, pois passei 2
anos em Princeton fazendo doutoramento, e com ele
cruzava freqüentemente quando ia ao Institute for
Advanced Study. Depois passei um outro ano no próprio
Instituto, e lá estava Einstein fazendo seminários sobre uma
extensão de sua Teoria da Relatividade Geral,
comparecendo aos concertos musicais e ouvindo palestras
e conferências de colegas, entre eles Bertrand Russell, um
grande filósofo.
Einstein nasceu em Ulm, na Alemanha, e não foi um
estudante que se destacasse; pelo contrário, ele detestava
o sistema educacional empregado, gostava de ler livros de
divulgação científica e um dia deram-lhe um livro de
geometria que ele chamava de “a sagrada geometria”, o
qual lhe mostrou a beleza lógica da construção da
geometria euclidiana (ver GEOMETRIA). Depois seus pais
se mudaram da Alemanha e ele quis ingressar no Instituto
Politécnico de Zurich, mas não conseguiu na primeira
tentativa. Alguns colegas tornaram-se amigos como Marcel
Grassman. Como Einstein se aborrecia assistindo aos
cursos regulares, ele lia livros de divulgação científica,
gostava da teoria de Maxwell, que tinha vindo à luz em
meados do século XIX. Era Grassman quem, na véspera do
exame, dizia a Einstein o que tinha acontecido e ele
estudava para passar de ano e depois voltava às suas
divagações. Encontrava-se com companheiros, como a sua
mulher Mileva e Maurice Solovine, o tradutor famoso dos
livros dele para o francês, para discutir vários assuntos.
Esse grupo era chamado ironicamente de Academia
Olímpica (ver ACADEMIA).

49
A dificuldade de obter emprego depois de formado
(situação parecida com a atual) fez seu pai escrever para
Wilhelm Ostwald e para vários figurões da Ciência na
Alemanha, até que um colega dele, que tinha um pai
famoso, conseguiu um emprego para Einstein no escritório
de patentes em Berna, capital da Suíça, e ali Einstein
ganhava seu dinheirinho, examinava as patentes
rapidamente e quando estava livre abria a gaveta e
começava a ler escondido do diretor, que deve ter sido um
homem extraordinário, Herr Haller, porque fingia que não
via que ele fazia coisas fora do trabalho.
Em 1905, Einstein escreveu 3 trabalhos fantásticos,
o ano de 1905 foi o seu ano maravilhoso, comparável aos
anos de 1666-1667 que foram os anos maravilhosos de
Isaac Newton. Einstein escreveu um trabalho que é
praticamente a Teoria da Relatividade Restrita (ver
RELATIVIDADE) e é uma beleza! Vocês devem ler o
original para ver a força dos argumentos que ele
empregava. Escreveu na mesma época um trabalho sobre
argumentos heurísticos sobre a constituição da luz, no qual
ele propunha, para explicar o efeito fotoelétrico, que a luz
não era onda e sim constituída de quanta de luz (ver
QUANTUM), energia concentrada em corpúsculos que se
propagam com a velocidade da luz, e outro sobre o
movimento browniano.
Na sua Teoria da Relatividade Restrita, ele criticava,
por exemplo, a noção de simultaneidade. Antes desse
trabalho dois acontecimentos simultâneos para um
observador seriam simultâneos para todos os outros
observadores, onde quer que eles estivessem, quaisquer
que fossem os seus estados de movimento. Einstein
mostrou que a noção de simultaneidade é relativa; dois
acontecimentos são simultâneos para mim, mas se você
passar aqui animado de movimento retilíneo e uniforme

50
você verá um acontecer antes do outro. Há, portanto, uma
quebra da simultaneidade por causa do movimento. Outra
contribuição importante deste artigo de 1905 foi o
estabelecimento de que é o grupo das transformações de
Lorentz que deixa invariante a teoria eletromagnética de
Maxwell. O que caracteriza esse grupo de Lorentz é que o
tempo, que era absoluto para Newton qualquer que fosse o
observador, quando você passa de um referencial para
outro, se transforma. Então as coordenadas (x,y,z,t) se
entrelaçam para dar as novas coordenadas (x’,y’,z’, t’t).
Trata-se de uma transformação de espaço em tempo (ver
TEMPO) e de tempo em espaço (ver ESPAÇO). É
realmente uma beleza o trabalho de Einstein, pois
introduziu profundas modificações nas noções de espaço,
de tempo, de campo eletromagnético, de corrente junto
com carga elétrica etc. Todas essas grandezas passam a
constituir tensores no cálculo tensorial a quatro dimensões
e isso foi visto muito bem depois por um físico professor
dele na Politécnica, que era o Hermann Minkowski. É
extraordinário o trabalho científico de Einstein!
Além disso, Einstein era um grande pensador, um
homem que se interessava por todos os problemas que
afetavam a vida do homem. Você poderia dizer dele o que
Bertrand Russell disse em sua autobiografia, ou seja, que
três coisas o animaram na vida: o amor (ver AMOR) das
mulheres (ver MULHER), a compreensão da natureza e a
compaixão pela humanidade. Einstein tinha compaixão pela
humanidade e se interessava por todos os problemas que
afetavam os cidadãos, mas voltemos a sua carreira
científica.
Depois de 1905 foi contratado como professor no
Instituto Politécnico de Zurich e posteriormente foi professor
em Praga, que pertencia ao Império Austro-Húngaro.
Finalmente, Max Planck o chamou para Berlim, que era a

51
grande capital da Física na época, onde havia um time
extraordinário de físicos. Um dos problemas que Einstein se
punha era porque a Relatividade Restrita sempre
privilegiava as observações de um físico que estivesse em
um movimento retilíneo e uniforme em relação a outro. Ele
queria saber o porquê do privilégio deste movimento
retilíneo e uniforme e procurou estender o princípio da
relatividade restrita, segundo o qual as leis da Física não
mudam, são invariantes, quando se passa de um sistema
inercial para outro sistema inercial, em movimento retilíneo
e uniforme em relação ao primeiro. A partir daí ele fez uma
descoberta extraordinária ao refletir sobre o que Galileu
(ver GALILEU) tinha encontrado, que a massa da
gravitação é igual à massa de inércia (ver MASSA). O fato
da massa de inércia ser igual à massa de gravitação implica
que as coisas no campo de gravidade uniforme e
homogêneo caem todas com a mesma aceleração, levam
todas o mesmo tempo para cair no vácuo. Uma bola de
chumbo e uma pena de pavão levam o mesmo tempo para
cair no chão. Isso porque quando você escreve mi=mgg,
no primeiro membro temos a massa de inércia multiplicada
pela aceleração e no segundo membro temos a massa de
gravidade multiplicada pela aceleração da gravidade; como
as duas massas são iguais elas desaparecem ficando 
igual a g e então todos os corpos, independendo de sua
natureza e estrutura, têm a mesma aceleração da
gravidade de um campo. O próprio Einstein disse que este
foi o momento mais feliz de sua vida, porque ele havia
compreendido que todos nós caindo num campo de
gravitação uniforme somos incapazes de dizer se estamos
em um campo de gravidade ou não. Veja, aquele tinteiro
está em repouso em relação a mim, porque nós caímos
todos com a gravidade. Se houvesse um objeto que caísse
com aceleração diferente da gravidade, aí poderíamos dizer

52
que estaríamos num campo gravitacional, pois esse objeto
estaria caindo diferente dos outros. Ao mesmo tempo ele
disse que se você estiver em um sistema de inércia no qual
existe um campo de gravidade uniforme, então esse
laboratório é indistingüível de um outro laboratório que, em
vez de ter um campo de gravidade, esteja sendo
uniformemente acelerado para cima com aceleração igual
em valor absoluto ao valor da aceleração da gravidade.
Não há diferença entre os dois: este é o princípio da
equivalência. Daí ele começou a escrever trabalhos que
não estavam corretos, até Marcel Grassman ensinar a ele o
cálculo tensorial absoluto, a geometria de Riemann, e então
ele desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral.
Sua grande intuição foi dizer que o tensor g  que
entra no elemento de linha ds2= g dxdx, que mostra que
as distâncias entre dois pontos variam à medida que você
se desloca no espaço curvo, é o da métrica do espaço-
tempo, é o campo de gravitação. Isto o levou, aliás, a dizer
filosoficamente que ele achava que na Física (ver FÍSICA) o
experimento era o último meio para decidir, mas que para
criar você poderia criar pelo pensamento, como os antigos
queriam. Einstein afasta-se da famosa máxima de Newton
(ver NEWTON) hipothesis non fingo, não forjo hipóteses.
Newton disse que a gravidade era um mistério, porque era
uma ação instantânea à distância a qual ele não
compreendia e sobre a qual não faria hipóteses, pois
hipóteses metafísicas ou físicas não devem ser feitas e
tudo deve sair da experiência e voltar para ela. Já Einstein
achava que você pode criar um conceito sem que a
experiência o tenha sugerido, como esse da métrica do
espaço-tempo, g, ser potencial do campo de gravitação;
não há experiência nenhuma induzindo a isso; foi a grande
intuição matemática de Einstein.

53
Em 1919, quando houve o eclipse solar em Sobral
no Ceará, verificou-se uma predição da Teoria da
Relatividade Geral, que Einstein havia construído, i.e.,
confirmou-se que a luz sofre deflexão pelo campo de
gravitação por onde ela passa. Isso foi feito observando a
posição de uma estrela durante o eclipse e os astrônomos
compararam essa distância para quando não havia eclipse,
constatando que eram diferentes, pois o raio de luz sofria
uma deflexão, uma atração, pelo sol. Isso fez dele um herói
internacional em um mundo que acabava de sair da I
Grande Guerra, com aquele massacre de Verdun, aquela
matança de franceses e alemães. A Europa estava
cansada de guerra e em 1919 se viu que havia um homem
alheio a essa política, que se preocupava em meditar sobre
a natureza do Universo (ver UNIVERSO), sobre a natureza
das coisas, sobre a natureza da luz. Então é esse o grande
Einstein que escreveu vários livros e sua autobiografia
encontra-se escrita no livro “Albert Einstein Scientist
Philosopher”, que é uma beleza, como depois os trabalhos
todos sobre política (ver POLÍTICA) e filosofia (ver
FILOSOFIA) que escreveu também.

ELÉTRON
O elétron é a partícula mais importante já
descoberta, pois é ela que nos serve. É o elétron que
constitui a corrente elétrica, é o elétron que projetado contra
o anteparo da televisão produz as imagens por
fluorescência. O elétron foi descoberto há 101 anos,
quando muitos cientistas pensavam que a Física tinha
acabado, que tudo seria explicado pela teoria de Newton e
pela teoria eletromagnética de Maxwell; o resto seriam
aplicações tecnológicas, detalhes... mas exatamente nesse

54
fim de século houve descobertas importantes que não eram
descritas pelas teorias existentes: os raios-X, a
radioatividade por Becquerel (ambos desenvolvidos por
Pierre e Marie Curie) os raios catódicos estudados por
Joseph John Thomson e por Jean Perrin e verificou-se
(Thomson sobretudo) com experiências, fazendo-se passar
os raios catódicos por campos elétricos e magnéticos
cruzados, que esses raios catódicos não eram ondas no
éter mas eram partículas provenientes dos átomos (ver
ÁTOMO). Acabava-se aí a concepção de átomo indivisível;
o átomo teria dentro dele elétrons e esses elétrons, para
que o átomo seja eletricamente neutro, deviam estar se
movendo dentro de cargas positivas que também
constituíam o átomo. Então Thomson descobriu o elétron,
determinou a relação entre sua carga e sua massa e fez o
primeiro modelo atômico. O átomo teria dimensões da
ordem de 108 cm e seria preenchido por uma geléia, uma
carga positiva e dentro dessas cargas positivas estariam
vibrando os elétrons. Quando ele propôs isso, Lord
Rutherford , valendo-se das partículas alfa que tinham sido
estudadas por sua equipe e por Madame Curie,
bombardeou alvos de matéria, sob a forma de folhas
delgadas de alumínio, de zinco, de ouro e outros metais e
verificou que as partículas alfa sofriam desvios, os quais
provinham da interação das partículas alfa com os átomos
do alvo. Se esses átomos fossem constituídos como queria
Thomson, os ângulos de desvios com relação à direção
inicial seriam muito pequenos. Rutherford encontrou que,
em geral, os ângulos de desvio são realmente pequenos,
mas havia desvios enormes. A partícula alfa ia colidir com o
alvo e praticamente voltava para trás, i.e., fazia um ângulo
maior do que 90 graus e isso não era possível de se
compreender a partir do modelo de Thomson. Seria preciso
que no átomo as cargas positivas estivessem concentradas

55
praticamente num ponto, de modo que as partículas
positivas entrando no átomo encontrariam um núcleo
atômico como um ponto e poderia ocorrer uma colisão
frontal que produziria um desvio enorme da partícula alfa; o
elétron, então, passou a ser considerado um constituinte do
átomo, em torno do núcleo atômico. Haveria um espaço
vazio grande entre o elétron e o núcleo atômico, e a partir
daí houve o desenvolvimento da física atômica, da
mecânica quântica (ver QUANTUM) e da teoria nuclear e
posteriormente da física das partículas. Logo, o elétron é
importante pois foi a primeira partícula fundamental a ser
descoberta e foi para o elétron que foi desenvolvida a teoria
dos quanta; foi para o elétron que de Broglie propôs que
além de partícula devia ter uma estrutura ondulatória
associada à partícula, generalizando a dualidade onda-
partícula que Einstein havia introduzido para a luz, i.e., por
um lado, experimentos de difração e interferência
confirmavam a visão ondulatória da luz, por outro, não
havia dúvida a partir das experiências do efeito fotoelétrico
e do efeito que a luz se comportava como um conjunto de
corpúsculos. Então, segunda-feira, quarta-feira e sexta-feira
a luz seria constituída de fótons e terça-feira, quinta-feira e
sábado se propagaria como onda. Essa dualidade onda-
corpúsculo foi um problema para os físicos, pois envolve
conceitos que se excluem: os corpúsculos são como nós
que somos indivíduos e estamos concentrados em nós
mesmos, ao passo que as ondas se propagam e se
espalham no espaço.

ENERGIA
Falar sobre energia é muito importante porque a
energia, em princípio, é a capacidade de fazer trabalho e

56
nós conhecemos a energia mecânica, a energia calorífica, a
energia luminosa, a energia elétrica, a energia nuclear, a
energia da fusão nuclear, e a da fissão nuclear, a energia
solar, todas formas de energia muito importantes para
serem utilizadas em prol do homem. É uma pena que
nossos arquitetos não saibam ou não estejam interessados
na aplicação da energia solar nas casas, hotéis e
residências no Nordeste e no Norte do Brasil, porque
existem conversores de energia solar em energia elétrica
que servem para aquecer e para resfriar a água, e isso com
energia solar, certamente, seria mais barato que a energia
que utilizamos. Existe também a energia eólica. O Brasil é
um país problemático, difícil, porque não aproveita a
energia solar disponível em um país tropical e terminaremos
importando energia ou um projeto inventado em um país
polar. A Suíça, nos Alpes, por exemplo, tem conversores de
energia solar, a França também usa muito este tipo de
energia. Então é esperar que isso possa ser feito um dia
em larga escala no Brasil (ver BRASIL).
Sob o ponto de vista da Física, o conceito de
energia foi precisado no século passado creio eu, com o
princípio de conservação de energia, por Mayer e por Joule.
Mayer foi um alemão que tomou um navio e fez uma
viagem e nessa viagem ele inventou o princípio de
conservação de energia. Joule fez a famosa experiência
fazendo cair um peso ligado a uma barbatana que gira
dentro da água, e a queda do peso gera energia mecânica
e essa energia se transforma em calor pela barbatana que
gira dentro da água e a partir daí ele calculou o equivalente
J que é o equivalente mecânico da caloria 4,17 J/cal. Além
do princípio de conservação de energia devemos destacar
o famoso princípio conhecido como a Segunda Lei da
Termodinâmica, que foi iniciado por Sadi Carnot, físico
francês, e depois essencialmente desenvolvido de maneira

57
completa pelo famoso físico alemão Rudolf Clausius. O
segundo princípio diz que “para transformar calor em
trabalho é preciso que haja transporte de uma fonte a alta
temperatura para uma outra fonte de baixa temperatura”,
mas a transformação não é total; há uma parte da energia
que é utilizada e outra parte que não é.

ESPAÇO
O espaço é uma noção fundamental, que está na
origem das nossas idéias em Física (ver FÍSICA), em
Geometria (ver GEOMETRIA) e que se interrelaciona com
tempo, matéria, substância.
Isaac Newton falava de espaço absoluto e concebeu
a famosa experiência do balde cheio de água, pendurado
na vertical por uma corda. Você torce a corda que sustenta
o balde e depois o solta. O balde começa a girar e a corda
começa a se desenrolar. No início, o balde está em
movimento, e a superfície da água fica em um plano
horizontal até que, pelo atrito da água com as paredes do
balde, ela entra em rotação; a existência de uma força
centrífuga faz com que a água suba pelas paredes e então
chega um momento em que a superfície livre da água tem a
forma de um parabolóide. Quando o balde pára, a água
continua girando na forma de um parabolóide. Newton
então disse que o espaço absoluto existia. As duas fases
do movimento  a primeira quando o balde gira e a água
não teve tempo de girar e encontra-se com sua superfície
plana, e a segunda em que a água está em movimento e o
balde em repouso  deveriam ter a mesma configuração,
pois tratam do movimento relativo do balde em relação à
água e da água em relação ao balde. A diferença das duas

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situações seria devida ao fato de a água girar em relação
ao espaço absoluto.
Leibniz, que teve uma grande controvérsia com
Newton, disse que o espaço absoluto deveria ser um
conjunto de pontos de posições possíveis para um
corpúsculo, por exemplo, e não é possível que esse
conjunto de pontos exerça uma ação física.
Newton, evidentemente, não mudou de opinião, até
que apareceu Ernest Mach, que disse que o movimento
não era em relação ao espaço absoluto, mas era em
relação a toda a matéria que preenchia o Universo. Seria
esse movimento em relação à essa matéria global cósmica
que daria lugar a essas formas diferentes. De fato seria a
origem da inércia, da massa de inércia.
Einstein (ver EINSTEIN), em 1905, com a Teoria da
Relatividade (ver RELATIVIDADE), introduziu uma relação
entre os conceitos de espaço e de tempo (ver TEMPO). Na
Mecânica de Newton o tempo é absoluto, i.e., se você
passa de um sistema de referência para outro em
movimento em relação ao primeiro, mudam as coordenadas
espaciais, mas o tempo, não. Para Newton, dois
acontecimentos simultâneos, que acontecem no mesmo
instante de tempo em relação a um observador em um
certo laboratório, ainda continuarão simultâneos em relação
a qualquer outro observador animado de um movimento
retilíneo uniforme em relação ao primeiro. Einstein mostrou,
assim como Lorentz e Poincaré, que a simultaneidade
observada em um sistema de referência desaparece
quando se passa para um outro sistema animado de um
movimento retilíneo e uniforme em relação ao primeiro. A
simultaneidade é um conceito relativo e está ligada a um
dado sistema de referência. A distância entre dois
acontecimentos introduz no novo sistema de referência
uma diferença temporal. Daí se dizer que o tempo se

59
transforma no espaço e o espaço no tempo, e as fórmulas
de transformação são as chamadas fórmulas de Lorentz, as
quais não deixam mais o tempo ser absoluto e invariante,
mas o tempo se transforma em função das coordenadas
espaciais, como essas se transformam também em relação
às antigas e em relação ao tempo. Surge, assim, o conceito
de espaço-tempo na Teoria da Relatividade Restrita.
Já na Teoria da Relatividade Geral, o espaço que
se estende sobre todo o cosmos é um espaço curvo
riemanniano, e isso é uma coisa que Einstein descobriu em
1915 com suas famosas equações. Ele procurava saber por
que um movimento retilíneo e uniforme é privilegiado e
deixa as leis da Física invariantes, que é o que diz o
princípio da relatividade restrita. Einstein procurava saber
se não haveria leis invariantes em relação a um movimento
qualquer, e então ele começou a descobrir que um
movimento qualquer, com forças, com acelerações, gera
sempre um campo de gravitação. A gravidade, portanto,
está ligada a um movimento qualquer e está ligada a uma
geometria do espaço de Riemann.

ESTRASBURGO
Fui para Estrasburgo em 1970, quando saí do Brasil
(ver BRASIL) não podendo trabalhar mais aqui devido ao
Ato Institucional n 5. Em 1969, fui para a Universidade de
Carnegie-Mellon, em Pittsburgh, nos EUA, a convite de
Lincoln Wolfenstein e Sergio de Benedetti. Depois de
passar um ano lá, fui convidado para Etrasburgo e aceitei,
pois não me interessava politicamente ficar nos EUA, que
tinham tido grande influência no golpe militar de 64, que
instalou uma ditadura no Brasil.

60
Estrasburgo é uma cidade belíssima e passei lá 16
anos seguidamente. Adorei. Uma cidade pequena, visitada
por Júlio Cesar. A cidade tem uma catedral construída entre
os séculos IX e XI que é uma beleza, e tem uma
Universidade importante, onde estudou Wolfgang Goethe,
o grande poeta alemão. Estrasburgo serviu como ponte de
união entre a França e Alemanha e a Europa unida, porque
houve guerra entre França e Alemanha e Bismarck tomou
Estrasburgo da França e a cidade passou quase 50 anos
(de 1870-1918) sob regime alemão. Antes disso ela era
uma cidade independente, livre, e foi comprada ou anexada
por Louis XIV. A confluência das culturas alemã e francesa
a tornam particularmente interessante. Come-se bem,
bebe-se bem e há cidades ao redor de Estrasburgo,
bosques e florestas que são um encanto, que você não
encontra em outras cidades (ver RECIFE, RIO). A catedral
é um grande museu com aqueles grandes vitrais. Como é
que eles A construíram? De qual tecnologia (ver
TECNOLOGIA) dispunham no século IX ou XI para
transportar aquelas pedras todas para cima? Isso é uma
beleza! Eu sou metade estrasburguense e metade
brasileiro, sei lá... ou quase, gosto, depois do Brasil
evidentemente, da França e do México, seguramente um
grande país.

ÉTICA
O comportamento ético dos indivíduos é muito
importante. Há certos princípios de comportamento que são
importantes, como por exemplo: um cientista tem que ter
ética, ele tem que respeitar um trabalho de seu colega, tem
que tratá-lo com respeito; o professor universitário tem que
ter um comportamento ético de respeito aos estudantes, os

61
estudantes uns com os outros também devem ter o
comportamento ético. Esse comportamento ético está em
baixa no século que estamos vivendo, em virtude do
crescimento espetacular da tecnologia, sobretudo, o que
faz com que as pessoas se considerem desobrigadas de
manter uma certa ética, um comportamento em obediência
a esses princípios. Esperamos que esse comportamento
melhore e que a educação (ver EDUCAÇÃO) contribua
para que todas as pessoas de uma população tenham um
comportamento ético, respeito pela verdade, pelo que é
considerado como uma noção verdadeira, pela cultura.
Nesse sentido a ética é muito importante na vida das
sociedades.

FEYNMAN
Richard Philip Feynman, um dos maiores físicos
deste século, era um homem que tinha uma imaginação
extraordinária, era um grande físico teórico. Eu o conheci
em 1949 quando ele passou pelo Instituto de Estudos
Avançados de Princeton, onde me encontrava. Ele veio a
primeira vez ao Rio de Janeiro, para o CBPF (ver CBPF),
por sugestão de Jayme Tiomno. Depois ele estava na
Universidade de Cornell e, em 1951, nós acabávamos de
construir nosso pavilhão Mario de Almeida, aqui no Campus
da Praia Vermelha da UFRJ, e eu, que era o chefe da
Física Teórica no CBPF, convidei o Feynman para vir.
Como ele ia passar de Cornell para o California Institute of
Technology (Caltech), pois tinha direito a um ano sabático,
ele conversou com Bacher, que era o chefe da física no
Caltech, que concordou com que ele tirasse o ano sabático
antes de ir para lá. Assim, ele veio para o Brasil, para o
CBPF, passando o ano sabático 1951/1952.

62
Feynman era um homem extraordinário. Eu o fiz dar
cursos na Faculdade Nacional de Filosofia, quando ele teve
oportunidade de conhecer o estudante brasileiro e criticar a
situação que viu, como testemunha um livro que exagera
um pouco sua crítica, pois foi escrito pelo filho do Sr.
Leighton, um físico amigo do Feynman, e o filho do
Leighton é um músico de rock’roll. Mas o Feynman deu um
curso no CBPF, na Faculdade de Filosofia e um curso de
Cálculo Numérico na Escola Nacional de Engenharia, que
foi um dos cursos mais impressionantes ao qual assisti. Ele
brincava com os números com os dedos, como se fossem
brinquedos; fazia todas as operações. Deu também um
curso sobre a teoria dos mésons, sobre a eletrodinâmica.
Ele tinha ficado famoso em 1948, com a sua QED
(Eletrodinâmica Quântica) explicitamente covariante, e os
diagramas de Feynman, usados em vários domínios não só
na Teoria Quântica dos Campos, como também na Física
do Estado Sólido.
Feynman e eu trabalhamos juntos durante
1951/1952 e fizemos um trabalho, sobre teoria pseudo-
escalar do dêuteron, e era fantástico discutir com ele, ver
como ele tinha uma extraordinária imaginação criadora e
conferia os cálculos que eu fazia de uma maneira ágil e
muito boa. Era um homem como poucos já conheci na
Física. Ficamos amigos e depois, em 1956, ele me
convidou para o Caltech e fiquei lá um ano. Foi lá que fiz
um dos dois trabalhos mais importantes de minha carreira,
onde eu descobri, fazendo o cálculo da captura do múon
pelo próton, transformando-se em nêutron e neutrino, que
havia uma interação fraca pseudo-escalar induzida pelo
píon. Fiz o cálculo da taxa de absorção do múon que emite
um píon negativo, absorvido pelo próton, que se transforma
em nêutron, e o múon negativo se transforma em neutrino
( + p   +  + p   + n). Eu fiz esse cálculo e isso

63
não é suficiente para explicar a captura, mas dá uma
contribuição importante; quanto maior a massa do lépton
maior a importância e essa interação pseudo-escalar
induzida é um efeito da interação forte.
A visita de Feynman foi muito importante para mim,
pois a cada semana passávamos horas discutindo e
assistindo a seus cursos e aprendi enormemente com ele.
Antes de 1956 ele veio nos verões de 54 e 55; gostava
muito do Rio de Janeiro e do CBPF, e tenho um artigo
sobre ele com cartas trocadas nas quais ele elogia o CBPF
como a instituição mais importante do hemisfério sul.
Ganhou o Prêmio Nobel em 1965 pelos seus
trabalhos junto com Tomonaga e Schwinger. Era um físico
que gostava de dar aula e ele tinha a opinião, que eu tenho
aliás, de que é impossível separar pesquisa de ensino; o
indivíduo que só pesquisa sem fazer ensino é incompleto,
falta-lhe uma dimensão. Ao ensinar você aprende muita
coisa, com as perguntas dos jovens. Por isso ele recusou o
convite para permanecer em Princeton e preferiu ser
professor do Caltech pelo resto da vida dele. Bem eis aí um
grande homem, um grande físico.

FILOSOFIA
A Filosofia é o conjunto de concepções práticas e
teóricas acerca do ser, do homem e de seu papel no
universo (ver UNIVERSO). A Filosofia foi inventada no
fundo pelos filósofos gregos. Em última análise pode-se
dizer que é o conjunto de reflexões sobre a vida (ver VIDA),
a morte (ver MORTE), sobre o ser, sobre a natureza, o
universo, sobre nós mesmos. A Filosofia constitui um
conjunto de pensamentos, muito importante. Bertrand
Russell, um grande filósofo inglês, disse que uma das

64
coisas mais misteriosas na História (ver HISTÓRIA) foi o
aparecimento dos filósofos na Grécia antiga. Centenas de
anos antes de Cristo, você tinha Tales, da Escola de Mileto,
Anaximandro, Anaxágoras, tinha Heráclito, um dos filósofos
mais importantes, que dizia que a realidade é composta de
proposições contrárias e contraditórias, e o um é feito de
todas as coisas e todas as coisas contêm o um. Heráclito
dizia: "Seres mortais seres imortais, um vive a morte do
outro e morre a vida do outro". Vemos aí que ele descobriu
que um fóton desaparece e que aparece o par elétron-
pósitron, um par elétron-pósitron se aniquila e aparecem
fótons. São os contrários gerando noções, objetos, coisas.
Isso tudo foi inventado por Heráclito, o homem da dialética.
Você tem Platão, o homem que dizia que o importante são
as idéias e inventou a Academia (ver ACADEMIA), você
tem Aristóteles (ver ARISTÓTELES) que inventou o Liceu,
o Colégio, quem, no fundo, inventou a lógica. Mas na
Filosofia da Ciência Aristóteles foi péssimo, porque disse
que o universo era finito, formado de esferas concêntricas,
com centro na terra, em número igual ao número de
planetas conhecidos mais o Sol, a Lua e a esfera das
estrelas fixas. Além da esfera das estrelas fixas não haveria
mais estrelas, seria então o lugar onde moraria Deus, ou
Darcy Ribeiro, não é?
A filosofia aristotélica prevaleceu por quase dois mil
anos, adotada praticamente como dogma pela Igreja. Foi
preciso esperar por Galileu Galilei (ver GALILEU), passados
2 mil anos, para marcar o declínio do aristotelismo.
Galileu, com o telescópio, que tinha sido inventado
na Holanda, olhou para o céu e viu que havia luas e
satélites que giravam em torno de Júpiter. Isso contradizia o
que diziam os livros sagrados, que todos os movimentos se
produziam em torno da Terra, e ele viu que havia
movimentos de corpos celestes que não eram em torno da

65
Terra. Com isso, ele adotou a concepção de Copérnico
rejeitando a de Ptolomeu.
Foram esses filósofos que foram importantes.
Depois de Galileu veio Newton (ver NEWTON), que é um
grande físico teórico que você pode considerar como
filósofo, que escreveu o famoso livro Philosophiae Naturalis
Principia Matematica que durante séculos foi o dogma que
comandou o pensamento dos homens, só substituído pela
Mecânica Quântica, em 1925, e pela Relatividade (ver
RELATIVIDADE) de 1905 e 1915. Com Newton se
desenvolveu a Filosofia da Ciência que é a interpretação
das leis, dos teoremas, das descobertas científicas que os
homens fazem acerca do Universo, das coisas, dos
fenômenos e acerca de nós mesmos. A Filosofia, se você
quiser, engloba tudo isso, pois ela engloba o conjunto de
proposições e o conjunto de respostas às perguntas que
nos fazemos: de onde viemos, para onde vamos, quem
somos e sobre a natureza das coisas e do homem, sobre a
vida e a morte, sobre o espaço (ver ESPAÇO) e o tempo
(ver TEMPO), sobre todas as coisas susceptíveis de
especulação.
A separação da Ciência e da Filosofia foi muito
proveitosa, pois permitiu que a Ciência tomasse novos
rumos. Você compreende, os gregos não se interessavam
por descobrir as coisas experimentalmente, como deveria
ser; o que interessava a eles era o diálogo, era o
pensamento, eram os diálogos socráticos, as controvérsias
as especulações. A Ciência, como entendemos hoje,
começou com Galileu, com Isaac Newton, que achavam
que quem quisesse saber sobre alguma coisa da natureza
deveria olhar para a natureza, fazer alguma experiência
com a natureza.

66
FÍSICA
Eu considero a Física como a rainha das ciências,
porque ela procura descobrir e interpretar as leis da
natureza, as leis do movimento, as leis da mecânica, as leis
do calor, que são as leis da Termodinâmica, as leis dos
fenômenos luminosos, dos fenômenos elétricos,
eletromagnéticos, dos fenômenos atômicos, todos os
fenômenos que acontecem no Universo e obedecem a
certas regularidades, que são as leis físicas. A Física se
ocupa em descobrir essas leis, essas regularidades, e, ao
mesmo tempo, ela utiliza muito a Matemática; ela observa
os fenômenos, faz experiências, faz observações e, para
descrevê-los, necessita dos formalismos matemáticos. É a
Física a ciência que mais utiliza a matemática avançada,
mais profundamente, mais do que a Química, a Biologia
etc. Então a Física é a rainha das Ciências.
A Física começou com a concepção errônea de
Aristóteles, depois houve Galileu, Newton, houve os
grandes homens que desenvolveram a Mecânica, como
d’Alembert, Maupertuis etc. Houve depois James Clerk
Maxwell, que descobriu o campo eletromagnético, houve
Michael Faraday. No fim do século passado, alguns
incautos diziam que com a mecânica newtoniana e com a
teoria eletromagnética se podia explicar toda a Física.
Exatamente neste momento, no fim do século passado,
houve a descoberta de fenômenos que não eram descritos
nem pela teoria de Newton (ver NEWTON) nem pela de
Maxwell (ver MAXWELL). Joseph Thomson descobriu o
elétron (ver ELÉTRON) e então os físicos disseram que os
átomos (ver ÁTOMO), que haviam sido inventados pelos
gregos, e que depois mostraram-se úteis para explicar as
leis das reações químicas, não eram bolas compactas, mas
dentro deles deviam estar os elétrons, origem dos raios

67
catódicos. Descobriu-se a radioatividade, descobriu-se o
raio-X, ou raio de Röntgen, e esses fenômenos, todos
descobertos no fim do século passado, exigiram novas
idéias.
Em 1900, houve a teoria quântica de Planck que foi
necessária para descrever a composição espectral da
energia da radiação. Em 1905, Einstein, que foi "o segundo
Isaac Newton", aproveitou a idéia de Planck para dizer que
a luz não é constituída de ondas e sim de corpúsculos, de
quanta de luz, que foram chamados depois de fótons e
assim ele introduziu a dualidade onda-corpúsculo na Física
Moderna, que ele dizia que não entendia. Somente dezoito
anos mais tarde, em 1923, os físicos foram acreditar nos
quanta de luz. Além disto, Einstein criou a Teoria da
Relatividade (ver RELATIVIDADE), que liga espaço (ver
ESPAÇO) com tempo (ver TEMPO), quantidade de
movimento com energia, e atribui à energia uma massa e a
todo corpo que tem massa uma energia de repouso que é a
massa de repouso multiplicada pelo quadrado da
velocidade da luz, que é uma concepção fantástica.
Depois ele quis saber por que é que o princípio da
relatividade restrita diz que as leis da física são invariantes,
se você passa de um sistema inercial para outro em
movimento de translação retilíneo uniforme em relação ao
primeiro. Então ele queria saber por que o privilégio do
movimento retilíneo uniforme. Ao procurar interpretar
fenômenos em sistemas acelerados, ele descobriu a teoria
relativística da gravitação, em 1915, e ficou famoso por
isso. Nesta teoria o importante é o campo, como em
Newton era ação instantânea à distância. A partir de 1916,
o potencial de gravitação é descrito pelo tensor da métrica
g. Os movimentos de grande vibração no espaço cósmico
dão origem às supernovas. Dependendo da massa da
estrela, esta ao se contrair, emite parte de sua massa. O

68
espaço está ligado à gravitação, e esses abalos se
propagam: são as ondas de gravitação, conduzidas pelos
quanta de gravitação (grávitons), que ainda não foram
detectados diretamente.
Em 1917, Einstein fez mais dois trabalhos
importantes: um foi a descoberta da emissão de luz
induzida e o outro foi a transformação da cosmologia, que
era uma espécie de astrologia, em uma ciência baseada na
relatividade geral, que descreve a origem do universo. A
evolução do universo e da cosmologia mostra que no
espaço cósmico, na escala das grandes massas, a força de
gravitação, que é uma das quatro forças fundamentais da
natureza, é que domina, soberana, e faz com que a matéria
se contraia a uma temperatura tal que as estrelas brilham,
se produzem reações nucleares de fusão, transformando
hidrogênio em hélio e, quando acaba o hidrogênio, que é o
combustível, a força de gravitação continua agindo e faz a
matéria se reduzir, podendo se transformar finalmente em
buracos negros.
A Física descreve todas essas coisas, e tem até
importância na Biologia. Schrödinger, que descobriu a
Mecânica Ondulatória, que é equivalente à Mecânica
Quântica, escreveu um livro importante chamado What is
life?, no qual ele refletiu sobre fenômenos físicos na
Biologia, e esse livro foi muito importante para os biólogos.

FORÇA
Foi Aristóteles quem deu a noção de violência,
portanto de força, como a causa promotora dos
movimentos dos corpos; uma vez cessada a violência, o
movimento acabaria e o corpo cairia em uma posição onde
ficaria sempre. Esta idéia caiu com Galileu. Fazendo

69
experiências ou pelo menos pensando em experiências de
esferas muito bem polidas em planos inclinados, cada vez
menos inclinados, ele verificou que o movimento se
prorrogava cada vez mais e então enunciou o princípio de
inércia, que diz que um corpo, na ausência de todos os
outros, está sempre em movimento retilíneo uniforme ou
está sempre em repouso. Essa idéia de Galileu é
importantíssima, pois deu o mesmo status, o mesmo nível
ontológico, ao repouso e ao movimento retilíneo uniforme.
Se você não precisa de causa para o repouso, não precisa
de causa para o movimento retilíneo uniforme, qualquer
que seja o objeto. Em seguida, Newton, que estabeleceu a
noção de força mais precisa válida até hoje, entendia a
força como sendo a causa da mudança de velocidade: toda
vez que em um movimento há uma mudança de
velocidade, essa mudança é causada por uma força, uma
variação na velocidade por unidade de tempo, que é a
aceleração, e a força é proporcional à aceleração e o
coeficiente de proporcionalidade é a massa de inércia (ver
MASSA). A força peso depende da massa de gravitação, a
massa gravitacional. Com Galileu mostrou-se que a massa
de gravitação é igual à massa de inércia, pois todos os
corpos caem com a mesma aceleração na queda livre, daí
o fato de quando você vê filmes de pessoas que caem de
grandes altitudes sem abrir o pára-quedas, todas elas, sem
ar, cairiam com a mesma velocidade, a mesma aceleração,
levariam o mesmo tempo para cair, quer dizer, o tempo de
queda é independente da constituição química da massa
do corpo. Como Einstein disse mais tarde: ao cair, o corpo
em queda livre não sente seu próprio peso. Então essa é a
noção de força; F= ma é a fórmula fundamental de Newton,
que é a causa eficiente do movimento. Conhecendo a
força, você integra e obtém uma família de trajetórias, e se
forem definidas as condições iniciais você tem uma

70
trajetória única. Essa noção de força valeu dos anos
maravilhosos de Newton, até 1925, ano da descoberta da
Mecânica Quântica.

GALILEU
Galileu Galilei foi o fundador da ciência moderna, foi
um homem que achou que para se conhecer as harmonias
da Natureza, as regularidades e as leis da natureza, deve-
se ir à natureza, enquanto os filósofos gregos, Aristóteles
(ver ARISTÓTELES), Sócrates, Platão, Heráclito e outros,
embora tenham fundado a filosofia (ver FILOSOFIA), que é
uma beleza, se interessavam mais pelos diálogos e pelas
especulações. Galileu observava a natureza, descobriu a lei
da queda livre dos corpos, as leis do movimento, descobriu
o princípio de inércia, e, com o telescópio apontado para o
céu, descobriu coisas, montanhas na lua, as manchas do
sol e os satélites de Júpiter, que orbitavam em torno deste
planeta. Essa observação desmentia a afirmação de
Aristóteles de que todos os movimentos se davam em torno
da Terra. Com isso Galileu quase acabou queimado,
porque ele estava dizendo uma heresia, estava indo contra
um dogma da Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Galileu foi condenado pelos cardeais e pelos seus colegas
universitários, os dedos-duros, que também naquela época
já existiam, e que, certamente, levaram à fogueira Giordano
Bruno. Galileu foi condenado à prisão domiciliar e
desmentiu o que disse, porque sabia que a verdade
científica mais cedo ou mais tarde seria demonstrada. Eu
acho que ele foi muito sabido com esta atitude. Esse é o
grande Galileu Galilei, a quem devemos o pensamento
experimental científico moderno.

71
GENÉTICA
Genética é uma ciência muito importante que se
desenvolveu de uma maneira muito rápida. A genética,
como o próprio nome diz, está ligada aos genes dos seres
vivos. Está atualmente em evidência pelo aparecimento do
problema da clonagem, que é a criação de seres vivos
idênticos a outros já existentes e isso abre problemas éticos
graves, muito sérios. A Engenharia Genética tem tido um
desenvolvimento muito rápido nos laboratórios e pode ser
voltada para o bem; você pode criar através de
manipulação genética variedades novas de frutas, legumes;
o milho pode ser alterado geneticamente de modo a dar
uma variedade mais gostosa. Mas também pode ser
utilizada para o mal; se você cria uma pessoa ou um animal
de uma maneira não controlada é uma coisa muito séria.
Portanto, seria necessário que os biólogos, as autoridades
e pensadores se inclinassem nas conseqüências dessa
aventura da genética.

GÊNIO
Acho difícil definir gênio. Temos exemplos de gênio:
Isaac Newton (ver NEWTON), Galileu (ver GALILEU)
certamente era um gênio, Maxwell (ver MAXWELL) era um
gênio, Albert Einstein (ver EINSTEIN) é o segundo gênio da
física depois de Newton, que considero o maior de todos.
Há ainda toda esta turma: Niels Bohr, de Broglie,
Schrödinger, Heisenberg (ver INCERTEZA), o querido
mestre Wolfgang Pauli (ver PAULI), Feynman (ver
FEYNMAN), com quem eu convivi muito, tanto aqui no
Brasil quanto em Pasadena. Essas são pessoas cuja

72
atividade intelectual extravasa a cabeça, o espírito, passa
pelos poros e invade o espaço alheio. Eu acho que isso é o
gênio! Na música certamente podemos citar Bach (ver
BACH), Mozart, gênio que compunha com 5 anos de idade,
Beethoven, Villa-Lobos (ver VILLA-LOBOS), nosso Villa-
Lobos, certamente um gênio. São todos homens que, com
sua atividade intelectual no setor em que se destacam,
fazem com que essa atividade cresça exponencialmente.
Eles não conseguem controlar: a criatividade do gênio sai
pelos poros, pelos olhos, nariz e invade o espaço alheio.

GEOMETRIA
A Geometria, que começou com Euclides, tornou-se
um dos ramos da matemática mais importantes com
Descartes, criador da Geometria Analítica, um instrumento
importantíssimo. Depois veio a Geometria Descritiva e, com
Riemann, veio a Geometria Riemanniana, a geometria dos
espaços curvos, que vai além da obra de Euclides.
A geometria adquiriu um papel importante na Física
(ver FÍSICA) com Einstein, que de um certo modo tinha o
ideal de geometrizar a Física. A Relatividade Geral (ver
RELATIVIDADE), ou teoria relativística da gravitação,
baseada na idéia de que o espaço físico não é euclidiano,
mas sim um espaço riemanniano, é uma das mais belas
teorias construídas pelo homem. Para fazer esse trabalho,
Einstein aprendeu com seu colega Marcel Grassman a
Geometria de Riemann. Nela soube encontrar os
instrumentos para generalizar as equações de Poisson e
chegou às conhecidas equações de Einstein para o campo
de gravitação.
As Geometrias não-euclidianas (de Riemann, de
Lobatcheviski, e outros matemáticos), constituem hoje,

73
após a contribuição fundamental de Einstein, um dos ramos
mais importantes da Física. Atualmente o ideal da
geometrização da física passou para um segundo plano,
com o avanço da teoria quântica, e hoje um dos problemas
fundamentais é o casamento da Teoria Quântica com a
Gravitação, a construção de uma Quantum Gravity. Aí tem
mistérios, como o problema do menor comprimento, que
corresponderia a uma energia máxima, mas até hoje não
sabemos se chegaremos ao comprimento de Planck. À
medida que o comprimento diminui enormemente fica difícil
saber o que acontece no espaço-tempo, quais são as leis
da Física, e tudo isso está em aberto; as singularidades do
Universo (ver UNIVERSO), os buracos negros etc. Este é
um assunto muito atraente para os jovens abrirem novos
caminhos.

GLOBALIZAÇÃO
A Ciência é um exemplo de globalização, no sentido
de universalização. Uma lei natural, uma lei física, é válida
universalmente; não existe uma Física no Brasil e uma
Física da Alemanha, como queriam os nazistas. A Física é
universal e suas leis valem em todo o Universo. Aristóteles
(ver ARISTÓTELES) queria movimentos perfeitos na área
celeste e movimentos não descritíveis quantitativamente
sobre a Terra. Galileu (ver GALILEU) e Newton (ver
NEWTON) afirmaram que as leis da Física valem no Céu e
na Terra, são leis universais. Então, a globalização, no
sentido de universalização, é muito importante como parte
da cultura, como parte do pensamento humano.
Agora, no sentido da economia e da política,
“globalização” é o novo nome dado ao imperialismo
americano, que é quem lucra com isso, não é? Os EUA

74
atualmente, do ponto de vista da política, se julgam o
Império Romano. Querem que suas leis econômicas sejam
válidas em outros países, em outras terras, e punem firmas
européias que fazem comércio com Cuba, porque eles têm
raiva de Cuba, só porque Fidel Castro impediu que Cuba
continuasse a ser como antes, um cassino para os ricaços
americanos irem lá fazer farra. Ele nacionalizou as
indústrias, que eram exploradas pelos americanos, e daí
resulta que o socialismo chinês é aceito, o soviético idem e
o cubano não.
Aqui no Brasil o legado mor da ditadura militar foi a
submissão aos EUA. Depois houve certos caminhos
nacionalistas, mas no fundo no fundo com a
redemocratização torna-se até pior essa submissão.
Atualmente deseja-se “globalizar”, mas globalizar o quê?
Um fazendeiro de Cabrobó do sertão pernambucano deve
competir com o fazendeiro de Oklahoma, de Iowa, que
produz toneladas e toneladas de soja com uma eficiência
fabulosa. A globalização é no sentido de que devemos
competir com eles. Então a globalização, no fundo no
fundo, é o novo nome do imperialismo americano.

HIROSHIMA
Hiroshima é um nome que se tornou universal por
causa da bomba atômica que os EUA lançaram em cima
dessa cidade causando milhões de mortos e feridos. Os
cientistas norte-americanos fizeram a bomba porque tinham
medo de que os alemães fizessem-na sob o nazismo,
porque as leis fundamentais para se fazer a bomba foram
descobertas na Alemanha, por Otto Hahn. Mas uma vez
terminada a guerra na Europa, em maio, muitos cientistas
americanos achavam que não se devia mais jogar a bomba

75
atômica, pois a guerra contra o Japão iria terminar e a
Rússia tinha prometido entrar na guerra. No fundo, foram
os militares e os políticos, com o presidente Truman
comandando, que ordenaram o lançamento da bomba para
mostrar aos russos que eles tinham uma arma poderosa.
Os senadores americanos  eu sei porque eu vivi essa
época  julgavam que ninguém mais descobriria como
fazer a bomba, achavam que era segredo e acabou! Não
sabiam que na União Soviética havia dos melhores físicos,
como Landau, Kapitza, e tantos outros, que eram capazes
de fazer a bomba, como Joliot na França, Cockroft na
Inglaterra, e outros cientistas espalhados que não tinham
problema nenhum para desenvolver a energia nuclear. A
questão da bomba é uma questão de dinheiro, de
aplicação.
Hiroshima é síntese desse horror atômico ao qual
os japoneses têm um horror terrível, uma repugnância que
deveria servir sempre de exemplo para a Humanidade.
Entretanto, a ameaça continua, porque o tratado de não
proliferação é unilateral, na medida em que não impõe
sérias restrições aos países que possuem os segredos da
bomba atômica, e a possuem; é um tratado que se limita a
proibir que outros países façam a bomba, como a Índia e o
Paquistão, que já mostraram que podem fazê-la. O Brasil
recusava o tratado da não proliferação, mas agora com
esse governo neo-liberal resolveu assinar esse tratado
mostrando que se submete aos EUA, bondosamente.

HISTÓRIA
A história, da Matemática, da Física (ver FÍSICA), da
Filosofia (ver FILOSOFIA), é o relato dos acontecimentos e
à medida que o tempo passa queremos evocar o que se

76
passou; por isso é preciso recorrer aos historiadores,
àqueles que ou observaram os acontecimentos, ou que
conhecem documentos que relatam o que se passou.
A história da Física, por exemplo, é um relato das
idéias que aconteceram na Física e conduziram às
descobertas das leis que descrevem os fenômenos e das
teorias e modelos ao longo do tempo, e esse é um legado
muito importante. Só que é preciso saber que para que haja
a história da Matemática, da Química, da Física etc. é
necessário que haja o desenvolvimento dessas ciências, e
muitas vezes as pessoas não se dão conta disso. Enquanto
se estimula a História da Ciência é preciso que se estimule
a Ciência também.
À História é que recorremos porque é a nossa
memória, é a memória do que foi o Brasil, do que foram a
Cultura e a Ciência no Brasil (ver BRASIL). É importante
que se conserve a lembrança do que se conseguiu realizar.
Historicamente foi um desastre a colonização no Brasil, pois
foi repressiva, proibiu a impressão de coisas, e o Brasil no
fundo só começou a se administrar e a aparecer a partir de
1808, quando houve a invasão de Portugal por Napoleão
Bonaparte e o Rei, protegido pela esquadra inglesa, fugiu
para o Rio de Janeiro. A partir daí começou a desabrochar
o Brasil, com todos os erros e defeitos que conhecemos. A
contar daí é que apareceu a História do Brasil, a história
brasileira. Há muita coisa que a história oficial conta e que
não foi bem assim, como o mito da “Independência ou
Morte”. Eu não sei se o Dom Pedro I saiu a cavalo, como
naquele quadro de Pedro Américo, puxou a espada e gritou
“Independência ou Morte”; não sei se isso é verdade, há
quem diga que não. Mas é importante ressaltar, sobretudo,
que a nossa pesquisa científica começou em 1900, e é
fundamental que se tenha um relato e que se preserve a
memória do que se realizou em Ciência no Brasil.

77
HUMANISMO

Eu acho que o que se designa como Humanismo 


o conjunto de disciplinas que se relacionam com o homem,
com os valores culturais do homem, com os valores da
ética e da filosofia  apareceu na Renascença e fez
desenvolver a Ciência logo depois. O humanismo foi muito
importante, com todos aqueles grandes pintores e poetas,
gente como Michelangelo, Leonardo da Vinci, entre os
pintores, e não foi dissociado do legado dos filósofos como
Sócrates, Platão e Aristóteles (ver ARISTÓTELES). Ao
longo da vida humana sempre houve um desenvolvimento
do estudo dos valores humanos, dos valores da filosofia e
da ética e, atualmente, é muito importante que o homem de
Ciência se preocupe também com os valores humanos, não
apenas com os resultados científicos duros, crus, mas com
seu significado para o homem. O humanismo é realmente
muito importante. Existe, inclusive, uma academia do
humanismo, criada recentemente: a Academia Internacional
de Humanismo em Buffalo em NY, nos EUA, a qual me
escolheu para membro. Eles publicaram um volume muito
importante intitulado Challenge to the Enlightenment,
contendo estudos sobre os desafios ao Iluminismo.
O Iluminismo foi muito importante nos séculos XVII e
XVIII, período em que mais se desenvolveu o humanismo.
No século XVII houve o início da revolução científica, cujo
impacto na Física Moderna vocês todos conhecem.
Em suma, humanismo é esse conjunto das ciências
humanas e do significado das atividades intelectuais do
homem.

78
INCERTEZA
O princípio da incerteza é um dos princípios
fundamentais da Mecânica Quântica (ver QUANTUM) e foi
formulado por Werner Heisenberg. Em Mecânica Quântica,
uma variável física, um observável, é representado por
operadores lineares no espaço de Hilbert auto-adjuntos, de
tal maneira que os autovalores desses operadores são
números reais. Acontece que esses operadores, em geral,
não comutam uns com outros; por exemplo, a posição de
um elétron (ver ELÉTRON) é representada por um
operador que aplicado a uma função de onda dá como
autovalor as coordenadas do elétron, mas em geral quando
você tem vários operadores para você definir o estado
quântico de um sistema você tem que escolher o conjunto
de operadores que comutam todos entre si. Como a
posição não comuta com a quantidade de movimento p, e a
regra fundamental de Heisenberg é qp  pq = i  , que é a
unidade imaginária i multiplicada pela constante de Planck
dividida por 2. Então resulta que você não pode conhecer
ao mesmo tempo, em uma mesma observação, a posição e
a quantidade de movimento de um elétron. Se você
determinar a posição e a quantidade de movimento existirá
sempre um erro em ambas as variáveis, de modo que você
não pode conhecer exatamente a posição e a impulsão, ou
quantidade de movimento, do elétron ou de qualquer outra
partícula sub-atômica. Diz-se, então, que existe uma
incerteza sobre essas variáveis; quando você conhece
exatamente a posição do elétron você não conhece nada
sobre a sua impulsão, e vice-versa. Assim, se x
representar a incerteza em torno da posição x0 do elétron e
p a incerteza sobre a sua quantidade de movimento,
existe uma relação que nos diz que xp  h/4. Isso
significa que na Mecânica Quântica você não pode

79
determinar o estado de um elétron como se fazia na
Mecânica Clássica, na qual dados N elétrons, o número de
variáveis para definir um estado é 6N, variáveis que são as
três coordenadas do elétron e as 3 projeções da
quantidade de movimento, num total de 6 variáveis para
cada elétron e, portanto, para N elétrons dá 6N. Isso não é
possível na Mecânica Quântica, na qual a função de onda
que determina o estado de um sistema quântico só pode
ter, por exemplo, as 3N variáveis das coordenadas e a
quantidade de movimento não está determinada ou vice-
versa.
O princípio da incerteza é verificado
experimentalmente. Para você observar a posição de um
elétron você tem que bombardeá-lo com fótons que se
chocam com o elétron e levam à nossa retina a informação
sobre a posição dele. Mas ao chocar-se com o elétron, o
elétron sofre uma perturbação na sua quantidade de
movimento, e então nunca é possível determinar ao mesmo
tempo, precisamente, a posição e a quantidade de
movimento do elétron; esse é o princípio da incerteza de
Heisenberg.

INFINITO
O infinito, em geral, para as pessoas comuns, é
qualquer coisa infinitamente grande, que não tem limite. A
primeira noção precisa do infinito aparece na teoria dos
conjuntos, na qual você tem o conjunto dos números
inteiros 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7... que não acabam. Este conjunto
é interminável mas enumerável, porque dado um número
qualquer enorme, você pode sempre acrescentar um a
esse número e obter um número maior e daí você vai até o
infinito. O infinito aí aparece como o limite de um número

80
inteiro n quando você faz n crescer indefinidamente. Por
essa noção, você sabe que o conjunto dos números pares
é tão longo e grande quanto o conjunto dos números
inteiros; você pode sempre associar a um número par um
número inteiro definido e os dois conjuntos são infinitos e
têm a mesma potência, a mesma medida. Existe também o
conjunto contínuo, que é o conjunto de números reais
compreendidos entre 0 e 1 no qual você tem uma
quantidade não enumerável de números reais que estão
compreendidos entre 0 e 1.
Houve também um grande matemático alemão,
chamado George Cantor, que introduziu os números
transfinitos, que seriam os números além do infinito, mas a
noção mais precisa de infinito é essa que mencionei.
Na Física também aparecem infinitos, mas ela
simplifica as coisas. A Física se utiliza do cálculo
infinitesimal, da teoria das funções, e é claro que quando
você calcula uma grandeza como as correções a certos
valores pela teoria das perturbações, você às vezes
encontra resultados infinitos, e isso você não pode admitir.
O resultado físico infinito é uma bomba que explode e não
tem limite. Uma grandeza física tem que ter sempre um
valor finito. Então, na Física, quando você encontra um
valor infinito você tem que eliminar esse infinito. É o que se
fez na Teoria dos Campos, através da renormalização, que
é uma técnica para eliminar essas grandezas que
calculadas dão valor infinito. A teoria deve ser
renormalizada e com isso escondem-se debaixo do tapete
esses infinitos, de modo a obter resultados finitos
observáveis mensuráveis.

81
INTOLERÂNCIA
Você encontra a intolerância em indivíduos, em
grupos de indivíduos, em sociedades, em países. Um
exemplo de intolerância da Igreja Católica ocorreu na época
da inquisição com relação a Giordano Bruno, que foi
queimado por dizer que o espaço era infinito, como o
espaço euclidiano; intolerância com relação a Galileu Galilei
(ver GALILEU), porque ele construiu um telescópio que foi
inventado na época em que ele vivia, por volta de 1630, e
ao olhar para o céu ele descobriu coisas que não se
conheciam antes dele: superfícies irregulares da lua,
manchas solares, os satélites do planeta Júpiter etc. Ao
enunciar que existiam satélites que giravam ao redor de
Júpiter, Galileu feria o dogma de que a Terra estava em
repouso e que todos os corpos celestes se moveriam em
torno dela; logo todos os movimentos celestes seriam em
torno da Terra, enquanto Copérnico achava que o que
estaria em repouso era o Sol e em torno dele se moveriam
os planetas. Então a descoberta de movimento em torno de
Júpiter era contrária à idéia de que os movimentos de todos
os corpos celestes seriam em redor da Terra. A Igreja foi
intolerante com Galileu Galilei, e o condenou à prisão
perpétua domiciliar, o que evitou que ele tivesse sido
queimado. Isso é um espécie de intolerância.
A intolerância se encontra também, por exemplo, na
época de McCarthy. Para esse deputado americano havia
uma certa infiltração comunista na administração
americana, que resultou no macartismo, que era uma
intolerância com relação a essas pessoas. Não podemos
esquecer a intolerância dos nazistas em relação aos
judeus, negros e minorias raciais, tudo isso é insuportável!
Não deve haver intolerância, como há, por exemplo,
a intolerância atual do governo dos EUA em relação à ilha

82
de Cuba, que é governada pelos socialistas, por Fidel
Castro, enquanto os EUA reconhecem a União Soviética e
têm relação íntima com a China, cujo regime é comunista.
O governo dos EUA, o parlamento americano, votou leis
que punem quem tiver intercâmbio com Cuba e isso é uma
intolerância inaceitável. As nações do mundo não deveriam
permitir isso, mas estamos diante do poder e esse poder
cria imposições como essa intolerância em relação a Cuba.

INTUIÇÃO
Intuição é o sentimento de que se conhece o que se
está procurando. A intuição na física é fundamental. Você
tem a prova, a demonstração daquilo que você procura, e
tem a intuição, o sentimento prévio de que você vai
alcançar aquilo que você quer mostrar; nesse sentido a
intuição é muito importante, porque você pressente que
existem equações, por exemplo, que exprimem uma certa
lei física a qual você ainda não conhece. Então você busca,
procura, investiga, e ao investigar você lança mão de
coisas já conhecidas, e é nisso que consiste a dedução.
Mas quando você tem a intuição de alguma coisa é como
se você tivesse uma revelação, um acesso direto àquilo
que você procura demostrar. Já na Mecânica Quântica a
intuição é mais difícil porque ela se baseia em todo um
formalismo, na teoria dos operadores no espaço de Hilbert,
mas essa teoria dos operadores é apenas um auxílio, pois
o que é importante na física é o sentimento físico daquilo
que você procura demostrar, daquilo que você procura
encontrar.

83
IRREVERSIBILIDADE
O melhor exemplo de irreversibilidade acontece
quando você considera um sistema A, que sofre uma
evolução no tempo e se transforma finalmente no sistema
B. Ao mesmo tempo que há a transformação de A em B, a
transformação invertida de B em A pode ocorrer; quando
ela ocorre, então diz-se que a reação é reversível. Agora os
fenômenos que acontecem na Física e que acontecem na
realidade são irreversíveis; o tempo, por exemplo, é
irreversível. Você tem uma transformação que acontece e
você não tem a inversa: nós envelhecemos, nós nos
lembramos do passado e não do futuro. Enquanto na Física
dos fenômenos fundamentais, na Mecânica Clássica e na
Quântica, existe uma reversibilidade temporal, já na
realidade os fenômenos são irreversíveis. Você se atira
numa piscina pulando de um trapézio dentro da água. Sua
energia se transforma de potencial em cinética, se
comunica à água, que entra em movimento e depois, para
que o fenômeno inverso ocorresse, seria necessário que
toda a energia da água se concentrasse em você, e fizesse
você voltar para trás e pular para o trapézio. Esse processo
invertido não acontece. É verdade que a Mecânica
Estatística diz que a probabilidade que isto aconteça é
mínima, muito pequena, comparada com a idade do
universo, e que, portanto, haveria um momento em que as
moléculas das águas modificariam seus movimentos de
modo a empurrá-lo para cima, mas na realidade ninguém
acredita nisso, pois ninguém nunca viu alguém voltar para o
trampolim. Logo, os fenômenos são irreversíveis e a
irreversibilidade decorre de uma transformação de um
estado inicial a um estado final, cuja transformação inversa
não se produz.

84
JUVENTUDE
Juventude me lembra giovinezza na Itália. A
juventude é a fase mais gostosa da vida, quando a gente
sai da infância, passa pela adolescência e depois dos 15/16
anos vai descendo os anos, vai adquirindo experiência, vai
encontrando o amor, vai namorando, vai aprendendo as
coisas. Aos poucos vai absorvendo o conhecimento das
coisas que nos envolvem dos fenômenos novos, das
transformações, do amor, da vida, então isso que é
importante na juventude. A juventude eu acho que vai até
uns 40 anos, talvez até uns 50, não é? Eu acho que não há
idade limite, é claro. A pujança física é fundamental para a
juventude; depois, com o passar do tempo, as células, os
sistemas biológicos vão sofrendo e vão entrando em
decadência. Então chega o momento que a gente perde a
juventude, mas entra na velhice gostosa e o importante é
saber envelhecer; envelhecer suave e docemente.
Na juventude você tem aquela agressão, dinâmica
penetração, ousadia; aos poucos você vai adquirindo
conhecimento, vai passando fases, até chegar aos anos em
que você acha que as coisas devem acontecer com
tranqüilidade, com calma. O importante na vida (ver VIDA) é
passar da fase adolescente para a juventude, dela para a
fase madura e da idade madura para a velhice e
envelhecer suavemente.

LIVRO
O Livro é o armazém do conhecimento. A gente
escreve livro sobre todos os assuntos possíveis; o
conhecimento humano se transmite nos livros. Atualmente

85
já não é mais no livro, é através da informática, do
computador, que alguns acham que irá substituir o livro,
mas é gostoso pegar um livro, folheá-lo. Havia o tempo em
que no livro as folhas eram todas fechadas, você pegava
uma faca e suavemente cortava uma por uma, ia
acariciando, passando de página em página. O livro é uma
coisa importante e eu sou do tempo do livro, sou do tempo
do lápis e papel. Entre os livros guardo cartas e fotos. Os
livros são a única riqueza que tenho! Eu não sou rico a não
ser adquirindo livros e aos 80 anos ainda procuro comprar
livros, e folheá-los e ler aos poucos, suavemente.

MASSA
Nós não sabemos a origem da massa dos
corpúsculos, das partículas, da massa de todos nós, da
massa gravitacional e da massa de inércia. A Mecânica nos
ensina que a massa de inércia é o coeficiente de
proporcionalidade entre aceleração, a mudança de
velocidade no movimento, e a força que causa essa
mudança de velocidade; toda vez que há mudança de
velocidade, mesmo em direção, em sentido e, em geral, em
grandeza, há uma força, uma violência, que é a causa
dessa aceleração e o coeficiente de proporcionalidade é a
massa de inércia, ao passo que a massa de gravitação é o
coeficiente de proporcionalidade entre a aceleração da
gravidade e a força peso. Mostra-se, na Mecânica
newtoniana, que a massa de inércia é igual à massa de
gravitação; isso foi mostrado por Galileu Galilei (ver
GALILEU), e serviu depois na Relatividade Geral (ver
RELATIVIDADE) de Einstein (ver EINSTEIN). Ernest Mach
dizia que a massa provinha da interação de um corpo com
toda a matéria existente no Universo (ver UNIVERSO). De

86
fato, você vai andando e quando passa por uma árvore há
uma força de gravitação entre a árvore e você, mas você
não sente nenhuma mudança, pois ela não é suficiente
para lhe causar o que quer que seja. É a interação de nós
outros com a massa existente em todo o universo, dizia
Mach, que deve ser a origem da massa. Já Hendrich Anton
Lorentz, grande físico holandês, atribuía a massa do elétron
à sua interação com o campo eletromagnético criado pelo
próprio elétron. O elétron cria um campo, esse campo age
sobre os outros corpúsculos, mas age sobre o próprio
elétron, sobre seu próprio criador, e esta reação do campo
sobre o elétron daria a massa do elétron (ver ELÉTRON). É
claro que essa idéia bonita serviu numa época em que o
elétron era a única partícula que havia além do próton, mas
depois descobriram outras partículas (ver QUARK, Z),
inclusive neutras e sem massa.
Atribui-se hoje a origem da massa dos quanta de
certos campos ao mecanismo de Higgs, que é um
mecanismo que não se sabe se é verdadeiro mas é o único
ao qual se recorre na teoria dos campos de calibre para
gerar massa. Mas, de qualquer forma, não se compreende
por que há uma variedade de massas, por que a massa do
neutrino é tão pequena, se não for nula, por que a massa
do top quark é enorme, por que a massa do lépton  é tão
grande (ambas maiores do que a massa do nêutron), nós
não sabemos por que, a não ser que se descubram novas
teorias, “novas cordas”, mas com a teoria usual, com as
noções intuitivas que a Teoria de Campos nos dá, não
somos capazes de conhecer ainda a origem da massa.

87
MAXWELL
James Clerk Maxwell foi o homem que, em meados
do século XIX, sintetizou as leis que haviam sido
encontradas no eletromagnetismo: a lei de Coulomb, a lei
de Faraday, a lei de interação entre corrente e ímã,
corrente com corrente, e entre as cargas elétricas etc. Ele
sintetizou tudo isso em equações e dessas equações saiu
uma coisa nova. Maxwell viu que era preciso que além da
corrente de cargas houvesse a corrente de deslocamento
(a derivada em relação ao tempo da indução elétrica D), e
era necessário esse fator novo para que houvesse uma
consistência da teoria, para que a conservação de carga
fosse satisfeita etc. As equações de Maxwell foram muito
importantes porque foi a partir delas que construíram toda a
eletrodinâmica. Ludwig Boltzmann ficou tão encantado com
as equações de Maxwell que disse que um Deus escreveu
esses sinais e, imitando o Fausto de Goethe, disse: “Ein
Gott hat diese Zeichen geschrieben”. Então as equações de
Maxwell caracterizam o campo eletromagnético, que é o
segundo encontrado na Física; historicamente, o primeiro
campo foi o gravitacional, embora para Newton a gravitação
resultasse de uma ação à distância. No século XIX veio
Maxwell que caracterizou o campo eletromagnético,
constituído dos campos elétricos e magnéticos, e depois
Einstein com a Relatividade Geral (ver RELATIVIDADE)
caracterizou o campo de gravitação. A partir do século XX
houve novos campos que caracterizam as partículas
elementares. As partículas são quanta de campos (ver
QUANTUM), e essa relação quantum-campo é muito
importante. Atualmente, tentamos unificar as quatro
interações da Natureza. A nossa tendência é procurar
unificar, pois somos muito limitados, não podemos ter
conhecimentos muito diversificados e procuramos sintetizar,

88
reduzir uma coisa à outra e é isso que caracteriza a Física
atual: a tendência para unificar as interações.

MESTRE
Mestre é o professor que a gente encontra na vida e
que muda nossa vida!... que nos enriquece, e que faz com
que nós todos tenhamos uma lamparina dentro de nós, um
candeeiro, e de repente você encontra um mestre, um
professor, que tem um certo conhecimento, uma certa
intuição, e uma certa maneira de transmitir um
conhecimento que nos encanta, e de súbito é como se ele
aumentasse a luz da lamparina e do candeeiro
transformando-a em uma chama incessante. O mestre é
aquele que faz isso, mudando a vida das pessoas,
transmitindo de uma maneira característica o conhecimento
como ninguém mais saberia transmitir.

MISTÉRIO
Mistério é tudo aquilo que não pode ser explicado
em termos racionais pela Ciência, pelas doutrinas
conhecidas; é o enigma. O mistério é muito importante na
religião (ver RELIGIÃO); o mistério da Santíssima Trindade,
três deuses em um só (ver DEUS), é um mistério e são
afirmações nas quais a razão não intervém.

89
MORTE
A morte a gente representa sempre por um
esqueleto andando com uma foice, nos ameaçando a
sensação da vida. A morte é o fim, é quando acaba toda a
manifestação de vida; a morte é a negação da vida, não é?
O termo final de nossa passagem pela terra, se é que
depois vamos para outro lugar. A morte é a divindade
mitológica representada pelo esqueleto humano armado de
foice. Estar entre a vida e a morte, estar sob grande
ameaça, morte aparente, estado de extrema redução das
funções vitais que dá a aparência exterior de morte.
Tomo em minhas mãos o livro Poésie, de Rainer
Maria Rilke (ver POESIA), e ouso traduzir trechos de alguns
de seus belos poemas sobre a morte.

I.
Senhor, dai a cada um a sua própria morte,
Que se origine desta vida,
Onde ele encontrou o amor, um sentido e sua
[angústia.

Pois não somos senão a folha e a crosta.


A grande morte que cada um carrega em si
É o fruto em torno do qual tudo muda.

II.
Finale

A morte é grande.
Nós lhe pertencemos,
Boca que ri.

Quando no coração da vida nos julguemos,

90
Ela ousa de súbito
Chorar em nós.

III.
Hora Grave

Alguém chora neste instante em alguma parte do


[mundo,
Sem razão chora no mundo,
Chora sobre mim.
Alguém ri agora em alguma parte da noite,
Sem razão ri na noite,
Ri de mim.

Alguém caminha agora em alguma parte do mundo


Sem razão caminha no mundo,
Se dirige a mim.

Alguém morre agora em alguma parte do mundo,


Sem razão morre no mundo,
Olha para mim.

MULATA
A mulata é o símbolo da beleza da mulher brasileira
(ver BELEZA); a mulata é uma coisa indefinível, é um
primeiro princípio, é um postulado da beleza; é a mulher
que todos nós desejamos (ver MULHER)!

91
MULHER
A mulher é a coisa mais bonita criada por Deus
nesse mundo, e se ele criou coisa melhor que a mulher ele
escondeu dos homens e guardou para ele próprio. A mulher
é o que há de mais bonito no universo! Depois da mulher é
que vêm as outras belezas (ver BELEZA): a beleza da
Ciência, das Artes, da Pintura, da Música, da música de
Bach (ver BACH), de Beethoven, de Mozart, de Franz Liszt
ou de Gustaf Mahler, mas a mulher supera tudo isso, e por
causa de mulher tanta coisa se faz, tanto drama ocorre,
tanta tragédia, tanta beleza, tanto êxtase diante da mulher
bonita. A beleza da mulher é uma coisa insuperável no
mundo.

MÚSICA
É uma combinação especial de sons que dão uma
certa harmonia, aquilo que a gente caracteriza como
melodia harmonia. Quando você pensa na música de
Johann Sebastian Bach (ver BACH), de Franz Schubert, os
trios de Schubert, o quarteto de Schubert, as sonatas de
Schubert para o piano, de Liszt, as sinfonias de Gustav
Mahler conclui que a música é uma beleza, é uma coisa
que eleva a alma e você não pode analisar. Você ouve, por
exemplo, A Arte da Fuga, que foi talvez a última
composição de Bach, repetidas vezes, mas não tem sentido
decompor e analisar a música. A decomposição em partes
não tem sentido pois a música é uma combinação integral
de sons que dão uma emoção especial ao nosso espírito.
Eis o que disse Rilke sobre a música:

92
Música: respiração das estátuas, talvez:
Silêncio das imagens. Língua
Na qual acabam as línguas, tempo
Perpendicular aos corações que fundem.

Sentimentos para quê? Metamorfose


Dos sentimentos em quê? Em uma paisagem de
[sons.
Música: país estrangeiro, coração que se escapa
De nós. Espaço o mais íntimo de nós mesmos
Que, se elevando acima de nós,
Nos expulsa: partida sagrada.

Nosso interar
Nos envolve,
Como um longínquo perfeitamente exercido.
Como um reverso do ar,
Puro,
Imenso,
Inabitável.

NACIONALISMO
O nacionalismo é a exaltação de tudo aquilo que se
refere à nação à qual pertencemos, da qual somos
originários. O nacionalismo se opõe ao universalismo (ver
GLOBALIZAÇÃO), e todos os países têm uma certa forma
de nacionalismo. O homem que pertence a uma certa
nação tem um laço que o liga a esta nação e não pode
deixar de ter um certo apego à nação na qual ele nasceu e
na qual vive em comunhão com os outros homens.
Portanto, o nacionalismo pode ser natural. Os americanos
são nacionalistas porque querem tudo para eles. Como nós

93
brasileiros devemos ser nacionalistas, ser brasileiros. O mal
é quando há o nacionalismo artificial; o sujeito é brasileiro
mas prefere as coisas para os EUA, então não é o
nacionalista brasileiro, mas sim o nacionalista alienado de
outra nação. Ao longo da história eu acho que não houve
nenhuma nação, nenhum país importante, que não
estivesse associado ao nacionalismo que seu povo tem,
pelos princípios, pelas belezas, pela constituição, pelas
realizações do seu povo e da sua nação. Entretanto, o
nacionalismo pode muito bem ser exaltado, ser deformado,
e transformado em uma teoria, em uma concepção,
exaltada e imprópria.

NEWTON
Isaac Newton, grande físico-matemático, astrônomo
e filósofo Inglês, certamente o maior dos físicos de toda a
História, o homem que depois de Galileu (ver GALILEU)
Galilei soube descobrir o cálculo infinitesimal, e soube
formular a Mecânica, as leis do movimento, que são hoje
ainda utilizadas para calcular o movimento e a trajetória dos
satélites e dos foguetes espaciais enviados da Terra para o
espaço.
Isaac Newton, nos anos de 1660, teve que passar 2
anos em casa, pois na Inglaterra havia a peste e todas as
instituições públicas estavam fechadas, e Newton passou
em casa esses dois anos, que os historiadores chamam de
anos maravilhosos, porque durante esses anos ele
descobriu as leis do movimento e da gravitação universal,
que podemos traduzir por uma metáfora: "a maçã que cai
de uma árvore, o faz pelo mesmo motivo que a Lua gira ao
redor da Terra". Tudo isso é um mesmo movimento, é um
movimento causado pela força de gravitação e o que difere

94
um do outro são as condições iniciais. Newton descobriu
isso, como Galileu já havia dito, que as leis do movimento
dos corpos celestes são as mesmas dos movimentos dos
corpos terrestres.
Newton fez o cálculo infinitesimal como também fez
a teoria da luz. Foi quem decompôs a luz branca em suas
cores, fazendo uma experiência moderna, na qual ele
pegou o raio de luz e o fez passar através de um prisma
que dividiu a luz nas suas componentes. A seguir, escolheu
uma delas (a luz vermelha, por exemplo) e passou por outro
prisma e viu que ela não se decompunha mais; foi uma
experiência moderna.
Newton foi uma figura extraordinária, embora tivesse
um caráter meio estranho, porque ele foi honrado na
Inglaterra, onde chegou a ser Tesoureiro do Reino, foi
presidente da Royal Society e, como presidente, designou
uma comissão para saber quem tinha encontrado primeiro o
cálculo infinitesimal, se ele ou Leibniz, famoso filósofo
alemão. Para isso ele nomeou uma comissão com seus
amigos, ele mesmo escreveu o relatório para essa
comissão e nesse relatório dizia que tinha sido ele o
primeiro naturalmente. Então seu caráter, de acordo com
nosso amigo Hawking, deixava muito a desejar, mas como
cientista foi a maior figura, provavelmente, de toda a
História (ver HISTÓRIA).

PAIXÃO
Quando você tem um amor (ver AMOR) por uma
mulher (ver MULHER) bonita, e você não faz outra coisa se
não pensar nela, você traduz isso dizendo que você está
apaixonado por ela, tem paixão por ela. A paixão é um

95
movimento violento por alguma coisa que você admira,
ama, deseja e quer para você só, isso é a paixão.

PARMÊNIDES
Parmênides foi um dos filósofos da Grécia antiga,
muito importante (ver FILOSOFIA). Ele propôs que só
existiria o Um; assim ele negava a variedade, o mundo tal
como ele existe. Uma das frases típicas dele é essa: "o que
é, é e não pode não ser, o que não é, não é e não pode
ser" e tudo aquilo que pode ser pensado é, e tudo aquilo
que é pode ser pensado.
Uma vez, em um seminário em Princeton, proferido
pelo famoso matemático francês Jacques Hadamard, que
escreveu um livro sobre a psicologia da invenção
matemática, lembro-me de que Einstein, a alguns assentos
distante de mim, fez a seguinte pergunta: "quando você tem
uma idéia nova ela está associada a uma palavra nova?".
Essa pergunta, de um certo modo, naquela época, me
lembrou Parmênides; o que é, é, e deve ser pensado, e o
que é pensado é! Mas, infelizmente, não me lembro da
resposta de Hadamard. Depois houve filósofos discípulos
dele que procuraram conciliar a filosofia dele com a
realidade, e disseram que haveria várias unidades, vários
"uns". De qualquer maneira, o pensamento de Parmênides
foi importante por que deu lugar à idéia de unidade.

PAULI
Wolfgan Pauli, meu querido mestre (ver MESTRE),
um dos fundadores da teoria quântica, o criador da teoria
não-relativística do spin do elétron ver (ELÉTRON) e que,

96
junto com Werner Heisenberg, foi o fundador da
Eletrodinâmica Quântica no formalismo hamiltoniano. Pauli
deu contribuições importantíssimas sobre a correlação de
spin e estatística; além disso, era considerado a
consciência da Física, o que estava publicado, ele sabia.
Em 1951, quando voltei, fiz um trabalho "On the particle
picture of the quantized Bose field", que considerei
importante e tive uma grande alegria ao fazê-lo. Queria
saber se era possível representar teoricamente um universo
em que só existissem prótons, porque era uma época em
que não se havia descoberto o anti-próton; se não existisse
o anti-próton haveria uma partícula tipo o próton só com
uma carga, era possível isso? Eu mostrei que não, quer
dizer, é possível, mas é uma teoria não-local e não-causal.
Eu fiz esse trabalho e mandei-o para o Pauli e ele me
escreveu uma carta dizendo que eu lesse um artigo do
Dirac, e que se o Dirac não tivesse feito algo parecido
então ele iria ler meu trabalho e, de fato, Dirac tinha
abordado questões parecidas com aquelas que eu tinha
abordado. Isso me deu uma grande alegria, pois
independentemente de Dirac eu descobri coisas
importantes que ele próprio publicou. Esse episódio ilustra
o que era Pauli. Trabalhei e convivi com ele durante 2 anos.
Depois, num terceiro ano, em Princeton, Jauch sugeriu que
eu trabalhasse com ele e me deu uma grande alegria. Pauli
tinha fama de ser muito crítico, mas ele me tratava como
um filho, era de uma gentileza enorme. Eu ia da
Universidade ao Instituto de Altos Estudos e lá na biblioteca
às vezes vinha me buscar para saber se tinha "anything
new". E quando ele ia no verão para Saradak Lake, junto
com Einstein, fugindo do calor insuportável de Princeton,
ele me escrevia perguntando como ia o trabalho, quais
eram os resultados e discutíamos por carta. Essas cartas
minhas a ele estão publicadas em um livro da Springer

97
Verlag, "Wolfgang Pauli Briefwechsel", e haverá um volume
em que sairão as cartas dele para mim.
Pauli dirigia um seminário em Princeton e neste
seminário falaram homens como George Gamow e Hans
Reichenbach e uma vez Pauli me deu um trabalho dos
físicos hindus H.J. Bhabha, e S.K. Chakrabarty, sobre raios
cósmicos, para que eu expusesse no seminário.
Pauli era um homem muito abordável e muitas
vezes, depois do trabalho, saíamos juntos, ele, Jauch, Ning
Hu e eu. Íamos tomar uma cerveja na Nassau Tavern, e aí
todos gostavam de contar histórias. Jauch contava histórias
dos grandes físicos e Pauli era muito orgulhoso do “efeito
Pauli” que era o seguinte: “se no laboratório estivesse
sendo feita alguma experiência importante e se alguma
coisa desse errado, eles sabiam que Pauli tinha estado por
perto"; ele era orgulhoso disso mais do que de seus
trabalhos. Uma vez Ning Hu, um físico chinês, disse na
conversa na cervejaria que na China só uma pessoa e meia
compreendia a teoria da relatividade (ver RELATIVIDADE)
e de repente Pauli deu uma bruta gargalhada e perguntou:
"Who is the Half?". A gargalhada provém de um trocadilho:
a pergunta era, na verdade, ao mesmo tempo uma
afirmação: “Who = Hu”, o físico chinês, era a metade!

PINTURA
Uma beleza a pintura (ver BELEZA)! Eu travei
contato com a pintura quando vim ao Rio de Janeiro e me
hospedei na Pensão Internacional, com a minha mulher (ver
AMOR). Eu tinha acabado de casar, e lá estava um casal
famoso de pintores: Arpád Szenes, que era um pintor de
nacionalidade húngara, mas radicado em Paris, e sua
mulher Maria Helena Vieira da Silva, nascida em Portugal,

98
mas também residente em Paris. Ambos eram muito
famosos como grandes pintores, e tinham fugido de Paris
com a ocupação alemã e estavam instalados na Pensão
Internacional em Santa Teresa, para onde me levou o
matemático português Antonio Aniceto Monteiro, que
também estava hospedado lá. Também estava lá Carlos
Scliar, um grande pintor brasileiro, e então foi o meu
primeiro contato com a pintura. Eu via lá o Arpád que dava
aulas de pintura e tinha alunas americanas e Maria Helena,
separada dele, evidentemente em outro atelier, para um
não influenciar o outro. Depois eu fui para os EUA e
sempre que ia a New York para visitar os museus, fazia
coleção enorme de cartões e reproduções de pinturas.
Depois, na Europa, foram as catedrais góticas. As catedrais
góticas são de uma beleza (ver BELEZA) comparável à
beleza da mulher (ver MULHER e MULATA). Ia ao Louvre e
ao museu d’Orsay com freqüência quando estava na
França.
Em 1953, um amigo meu ceramista, Adolpho
Soares, que gostou das fotos coloridas que eu fazia,
perguntou porque eu não pintava e eu disse que não sabia.
Ele comprou para mim tintas, tela e pincéis e eu comecei a
pintar e a partir daí não paro, desde 53. Acho que comecei
a fazer quadros bonitos desde o início. Fui evoluindo,
estudando. Eu ia ao Jardim Botânico, com meus filhos
pequenos, e enquanto eles ficavam brincando eu pintava,
desenhava as árvores, as velhas mangueiras do Jardim
Botânico. A partir daí eu fui pintando, pintando e houve um
momento em que senti uma espécie de estalo; era a época
de inverno, em que as folhas das amendoeiras no Rio ficam
amareladas e avermelhadas, e caem, o que é de uma
beleza extraordinária, e eu andava de ônibus e de lotação e
ficava encantado ao olhá-las e passou-me pela cabeça
porque eu não desistia da Física e me dedicava à pintura.

99
Mas não fiz isso, continuei fazendo Física, e continuei
pintando. Hoje tenho uma centena de quadros, porque a
pintura para mim não é uma obrigação, é um prazer, é um
relaxamento (ver PRAZER). Eu pintava de noite quando
tinha insônia, como faço até hoje.
Não cabe a mim julgar minha obra artística, mas eu
acho que tenho alguns quadros bons. Eu nunca expus,
exceto na ocasião dos festejos de meus 80 anos, no Iate
Clube do Rio de Janeiro, exposição organizada por Mirian
de Carvalho e Francisco Caruso. Mas mesmo assim, muitos
amigos meus pediram e muitos deles têm quadros meus,
amigos e amigas, muito mais mulheres, naturalmente.
A pintura para mim é uma beleza. Sendo um físico
teórico, eu queria fazer alguma coisa com as mãos e a
pintura me deu essa possibilidade.

PODER
Dizem que o poder corrompe, não é? O poder é
parte da estrutura dos estados desde a antigüidade até
hoje, e esse poder toma várias formas: o poder absoluto, a
monarquia absoluta, a monarquia constitucional, a república
e na república você tem o parlamentarismo e o
presidencialismo, e no presidencialismo o poder está na
mão do presidente, na monarquia está na mão do rei ou do
primeiro ministro. O poder, quando é bem exercido, é
importante, mas pode ficar um poder absoluto, totalitário,
fascista, o que é uma opressão do povo. Quer dizer, o
poder dá as diretrizes para que se realizem as coisas
dentro de uma sociedade, mas há o perigo intrínseco de
corromper as pessoas que exercem esse poder. Você vê
que em todos os setores, nas universidades (ver
UNIVERSIDADE) e nas instituições, tem que haver um

100
poder supremo, e esse poder pode ser bom ou mau. O
importante é quando ele é bom e realiza coisas úteis para a
sociedade, para os homens e as mulheres.

POESIA
Há grandes poetas brasileiros. Podemos citar os
velhos parnasianos, mas os que admiro mais são: Manuel
Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de
Mello Neto, que lemos e ficamos encantados. Dentre os
estrangeiros, o maior para mim foi Rainer Maria Rilke,
nascido na Tchecslováquia, poeta de língua alemã, de
grande poder. Na minha opinião é o maior, como também
T.S. Eliot, o poeta inglês de origem americana. Os quatro
quartetos de Eliot são uma beleza! Rilke escreveu as
Elegias de Duino.
Rilke tinha uma vida meio mística, se dedicou só à
poesia, não trabalhava e era sustentado por princesas, que
lhe ofereciam castelos na Europa. Ele esteve muito tempo
no castelo de Duino, que eu conheço, pois é no caminho
para Trieste, e lá ele escreveu as Elegias de Duino. Ele
morou lá sozinho, adorava a solidão e, segundo ele, um dia
uma voz soou no seu ouvido e daí nasceu a poesia: "quem
pois se eu gritasse me escutaria no reino dos anjos, e se
mesmo um deles de súbito me abraçasse de encontro ao
seu coração, eu sucumbiria ante sua existência mais
poderosa, pois o belo não é senão o começo do terrível que
apenas podemos suportar e se assim tanto o amamos, é
que ele suavemente nos desdenha destruir" e tem outro
pedaço que diz: "A quem recorrer... nem aos anjos nem aos
homens e já os animais sabem por instinto que não nos
sentimos seguros, nesse nosso mundo interpretado, resta-
nos talvez em alguma parte da ladeira alguma árvore que

101
possamos rever cada dia, resta-nos o caminho de ontem e
a doce lealdade de um hábito que caiu em nós que ficou e
não partiu"; essa é uma parte das Elegias de Duino.
Nos meus livros de Física tenho sempre uma frase
de Rilke; para meu livro Fondements de la Physique
Atomique escolhi: “Erde, ist es nicht dies was du willst:
unsichtbar in uns erstehn?”  “Terra não é isto que queres
invisível ressurgir em nós?”  “Erde! Unsichtbar”: “Terra!
Invisível!”. No fundo você vê que a Ciência é a terra feita
invisível em nossas idéias. Coloquei no meu último livro, A
Estrutura Quântica da Matéria, uma poesia extraordinária
de Rilke como epígrafe: "com as mãos trêmulas te
construímos, átomo sobre átomo as tuas torres elevamos
mas quem poderia te completar, ó catedral" Isto é uma
beleza! Esse homem é um dos maiores poetas porque tem
um senso filosófico profundo das coisas. Ele vivia isolado,
casou-se, separou-se e escrevia cartas para a mulher, as
cartas sobre Cézanne. Rilke foi secretário do grande
escultor Auguste Rodin e ele escreveu um livro sobre Rodin
e como seu secretário ele aprendia, via o que Rodin fazia
na escultura, e ele dizia que é importante trabalhar sempre,
trabalhar é uma grande inspiração. Naturalmente tem o
Eliot também quando fala sobre o tempo, tempo passado,
tempo presente, e tantas outras poesias que eu não sei de
cor, mas são poetas extraordinários.

POLÍTICA
Eu não sou político, mas sou obrigado a fazer a
política científica. Outros são obrigados a fazer política
industrial, desenvolvimentista, artística, quer dizer,
estabelecer conjuntos de regras para poder realizar coisas
no setor considerado.

102
E tem a política como se manifesta nas vésperas de
eleições, como agora, quando há tanta sujeira. E nessas
eleições, pela primeira vez no Brasil, temos um Presidente
que forçou uma modificação na constituição para que ele
próprio pudesse ser reeleito. Ele poderia fazer isso para
que o próximo pudesse ser reeleito, mas ele fez isso para si
próprio, o que considero um dos piores exemplos de caráter
na política nacional.

PORTINARI
Cândido Portinari, grande pintor brasileiro, talvez o
maior, o símbolo da pintura do Brasil (ver PINTURA). Tive a
honra de conhecê-lo porque ele tinha um filho, João
Cândido, e esse filho é um homem muito importante, que
se dedica à divulgação da obra do pai, que na época ia
estudar engenharia elétrica, ou no MIT ou na França, e
Portinari convidou-me para jantar na casa dele para
trocarmos idéia a respeito disso; foi aí que eu o conheci.
Ele, nesta ocasião, me presenteou com um pincel muito
fino, dizendo que era muito importante para desenhar.
Depois estive com ele outra vez, quando esteve aqui um
físico experimental italiano, Sergio de Benedetti,
trabalhando no CBPF, o qual manifestou desejo de
conhecer Portinari. Combinei, então, um jantar com o
Portinari. Estas foram as duas vezes em que estive com
ele. Fora isso, ia às suas exposições.
No prédio do Ministério da Educação, no Rio de
Janeiro, você encontra murais belíssimos pintados por ele,
como também os ladrilhos no exterior foram todos eles
desenhados por Portinari. A sua pintura é muito bonita. Ele
tem quadros extraordinários, retratos belíssimos e sua obra
exprime a realidade brasileira, os plantadores de café, a

103
primeira missa no Brasil, e tem grandes murais por ele
pintados que estão no edifício das Nações Unidas em NY.
Grande pintor, que certamente simboliza a pintura
brasileira, comparável aos grandes pintores mexicanos
Diego Rivera, Orozco e Siqueiros.

PRAZER
Prazer é o que nos satisfaz o corpo e o espírito, o
que nos dá alegria, o que nos proporciona um certo gozo
da vida. E o prazer você tem de diversas formas. Você tem
prazer apreciando uma bela mulher (ver MULHER), e isso é
a coisa mais bonita no mundo, a mulher bela produz um
prazer… um prazer indizível, que você não pode traduzir; é
um prazer similar a escutar uma Fuga de Bach, que você
não pode descrever, mas lhe dá aquela alegria espiritual e
faz você voar no espaço. A beleza (ver BELEZA) de uma
mulher e a sua sensualidade dão um prazer como um todo,
é aquele conjunto que você apreende de uma vez e que lhe
penetra o corpo e a alma.
Prazer você tem também vendo belas pinturas,
vendo belas esculturas, vendo belas arquiteturas, vendo a
bela arte (ver ARTE), como você tem prazer na Física (ver
FÍSICA). Eu tive esse prazer ao fazer um trabalho original e
propor umas idéias novas; isso dá uma alegria muito
grande a cada um de nós. O prazer intelectual de fazer
ciência também é um prazer. Há o prazer sensual, o prazer
sexual, o prazer ao ler um belo livro de literatura, há, enfim,
várias formas de prazer que são as que nos dão alegria.

104
QUANTUM
Quantum foi o nome dado por Max Planck à unidade
de energia (ver ENERGIA) trocada entre a radiação e a
matéria. Antes disso julgava-se que a energia era trocada
continuamente entre a radiação e a matéria, e a matéria
absorvia quantidades arbitrárias de energia, e poderia emitir
também quantidades arbitrárias de energia. Planck verificou
que para obter uma fórmula que descrevesse a distribuição
espectral da energia irradiada por um corpo negro era
necessário supor que entre a radiação e a matéria as trocas
de energia se fazem de maneira descontínua. A matéria
não absorve, portanto, uma quantidade arbitrariamente
pequena de energia; ela absorve unidades, grãos, quanta
de energia, e também emite da mesma maneira. Ele teve
que supor que a energia de um quantum é proporcional à
freqüência da radiação e a constante de proporcionalidade
é o quantum de ação, a famosa constante de Planck. Ao
propor isso, Planck provocou uma revolução e fundou as
bases da chamada “velha teoria quântica”, mas, no fundo,
ele ficou alarmado, pois era um homem conservador,
especialista em Termodinâmica. Ficou tão alarmado que
chegou a afirmar que a quantização era característica do
processo obscuro de troca de energia, mas que no espaço
livre a radiação se distribui por ondas que obedecem às
equações de Maxwell (ver MAXWELL). Foi Einstein (ver
EINSTEIN) quem, em 1905, cinco anos depois do trabalho
fundamental de Planck, propôs que a radiação, mesmo
propagando-se livremente no espaço, não era constituída
de ondas, mas sua energia se distribui em grãos de energia
que são os quanta de energia, os quanta de luz, que depois
foram chamados de fótons. Einstein, portanto, foi bem além
de Planck.

105
A imensa maioria dos físicos não gostou dessa idéia
de Einstein e o atacava. Houve mesmo um grupo, do qual
Planck fazia parte, que, ao propor o nome de Einstein para
a Academia de Ciências da Prússia (ver ACADEMIA),
declarou que embora ele fosse um físico extraordinário, que
tinha dado grandes contribuições à Física, como por
exemplo, para a teoria quântica dos calores específicos 
que é o primeiro trabalho sobre a física do estado sólido
sob a forma quântica , era inevitável que ele fizessse
alguma besteira ao atirar em todas as direções, como no
caso de sua proposta da estrutura quântica da luz, que era
uma coisa na qual não se devia acreditar. Einstein
manteve-se calado, mas só em 1923, quando o físico
americano Arthur Compton, estudando a difração de raios-
X, a passagem de raios-X através da matéria, é que o
conceito de quanta de luz passou a ser aceito pela maioria
da comunidade científica.

QUARK
Os quarks foram introduzidos por Murray Gell'Mann,
ao propor a estrutura da matéria de tal sorte que prótons,
por exemplo, e outras partículas que antes se pensava que
eram partículas elementares (pontuais), como os nêutrons,
os mésons , os mésons K, partículas que têm interação
forte, que se chamam hádrons, na realidade tinham uma
sub-estrutura.
Hoje em dia são conhecidos seis quarks: o quark u,
o quark d, o quark c, o quark s, o quark t e o quark b; essas
letras vêm das iniciais das palavras inglesas que dão nome
aos quarks, pois os americanos e ingleses julgam que a
língua deles é universal, é o novo latim, e utilizam até
palavras de cozinha na Física, e nós brasileiros, em geral

106
temos pudor em usar essas palavras de cozinha traduzidas
para nossa língua, e então usamos o original como um
anglicismo: u é o quark up (para cima) o d é o down (para
baixo), o c é o charm (o encantado), o s é o strange (o
estranho), o t é o top (que está no peito), e o b é o bottom
(que está na bunda, não é?).
Essas partículas não foram ainda descobertas
livremente; não se consegue produzí-las em estado livre,
mas as estruturas de prótons, nêutrons, mésons  e K, as
propriedades dessas partículas são bem descritas em
termos desses quarks. É por isso que se acredita que
existam mesmo os quarks.
Não sabemos se esse é o estado final da estrutura
atomística da matéria (ver ÁTOMO). Eu particularmente
acho muito estranho como as partículas fundamentais da
matéria, conforme sugerido por Demócrito e Leucipo, e
depois revivido na ciência moderna, constituem uma
unidade fugidia. Idealmente deve-se considerar um número
pequeno de partículas atômicas, em termos das quais você
descreveria a matéria toda, mas à medida que você se
aproxima de um número pequeno de partículas
elementares, a coisa se alarga e a unidade parece sempre
fugidia. Hoje temos seis partículas fundamentais, os seis
quarks, sendo que há os quarks mais leves e os mais
pesados; o quark top é pesadíssimo, tem uma massa de
150 GeV. Como é que você pode admitir uma partícula
simples com essa massa toda, 150 vezes maior do que a
do próton? Todos os quarks têm propriedades similares e
também há os seis léptons. Essa foi uma palavra inventada
por Moeller e por Rosenfeld para indicar as partículas leves,
que são uma generalização dos elétrons (ver ELÉTRON).

107
QUÍMICA
A Química foi a ciência que me atraiu quando eu era
estudante do colégio Marista. Havia um professor muito
bom, chamado Irmão Pacômio, que dava aulas muito
bonitas fazendo experiências com materiais simples, e
essas experiências mostravam reações químicas nas quais
se produziam belos compostos, púrpuras, vermelhos, azuis
e misturando dois líquidos de dois tubos de ensaio
produzia-se um precipitado belíssimo. Isso tudo me
encantou e me levou a querer saber qual era a estrutura
íntima da matéria. Logo depois eu soube que havia uma
profissão de químico no Recife, porque Pernambuco era
uma terra onde a economia era baseada nas usinas de
açúcar, e cada usina tinha que ter um químico. Decidi,
então, seguir a carreira de Química Industrial. Então estudei
bastante Química. A Química Orgânica, por exemplo, é
muito bonita; aquelas séries todas têm uma certa simetria, a
Físico-Química me encantou e depois, com a influência de
Luiz Freire e outros, deixei a carreira de químico para ser
físico.

RECIFE
Recife é minha cidade natal, extraordinária! Recife
tem uma grande personalidade. Recife das pontes, dos
grandes poetas, de Augusto dos Anjos, de Manuel
Bandeira, de João Cabral de Mello Neto, das ruas de
nomes poéticos: Rua Aurora, da Paz, da Harmonia, da
Alegria, essas ruas todas eram objetos até de poemas nas
poesias (ver POESIA) de Manuel Bandeira, meu Recife
Morto, saudades de Recife. Eu vivi em Recife, naturalmente
sou pernambucano. Minha família instalada no Recife, meu

108
avô paterno veio de Portugal e lá fundou a família Ferreira
Lopes, que tem a sua beleza (ver BELEZA), seus encantos,
e tem uma personalidade intelectual forte; gente como
Gilberto Freyre, Silvio Rabelo, Olivio Montenegro, Anibal
Fernandes, o grande pintor Cícero Dias, o outro pintor
famoso, do qual até acabei de comprar um livro, Vicente do
Rego Monteiro.
O Recife era o primeiro porto para os navios vindos
da Europa atracarem. Então, os emigrantes vindos da
Europa que tinham dinheiro suficiente para uma viagem
mínima ficavam em Recife, e daí muita gente ficou por lá:
muitos intelectuais, muitos judeus, muitos oriundos da
Europa Central, que construíram um Recife
intelectualmente forte. Gilberto Freyre que produziu uma
revolução nos anos 30 com seu livro Casa Grande e
Senzala, é um homem de Pernambuco e fez questão de
não sair de Recife. Eu saí pois não havia escola de
ciências, não havia como um físico se formar em Recife, e,
como eu, muita gente migrou: Josué de Castro, Cícero
Dias, que foi para o sul e depois foi para Paris onde vive
até hoje, e tantos outros. Mas o Recife é o Recife, cantado
por Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira, é uma beleza!

RELATIVIDADE
Nós podemos atribuir a origem da relatividade a
Galileu (ver GALILEU) e Newton (ver NEWTON). O
princípio da relatividade nos diz que as leis da Mecânica
não mudam quando se passa de um sistema de referência
no qual é válido o princípio de inércia, chamado de sistema
de referência inercial, a outro em movimento retilíneo e
uniforme em relação ao primeiro. As leis da Mecânica são
invariantes, pelas transformações de Galileu, que permitem

109
passar das coordenadas de um sistema às coordenadas de
outro dotado de um movimento retilíneo e uniforme em
relação ao primeiro. Entretanto, aplicando as
transformações de Galileu às equações de Maxwell (ver
MAXWELL), descobertas no século XIX, verifica-se que
essas equações não são invariantes com relação a essas
transformações e a velocidade da luz dependeria do
sistema de referência. Este problema interessou a Albert
Einstein, Hendrik Antoon Lorentz e Henri Poincaré. Os três
abordaram o tema; Poincaré, que era um grande
matemático, publicou um trabalho muito bom, no qual
buscou quais as leis de transformação das coordenadas de
um sistema de referência inercial para outro que deixariam
invariantes as equações de Maxwell. Lorentz também
deduziu estas leis. Einstein, independentemente, chegou a
essas transformações e as chamou de transformações de
Lorentz e esse nome pegou. As transformações de Lorentz
não-homogêneas são aquelas segundo as quais você
passa de um sistema de referência a outro, primeiro por
uma translação e depois pela transformação de Lorentz
propriamente dita, e são também chamadas de
transformações de Poincaré. O que Einstein descobriu você
pode resumir de uma maneira sofisticada dizendo que as
leis da Física (ver FÍSICA) devem ser invariantes com
relação às transformações do grupo de Poincaré próprio.
Esse princípio da relatividade enunciado por
Einstein é muito importante. Muito mais do que Lorentz e
Poincaré, Einstein foi eloqüente, escreveu muito e foi quem
deu a significação física para esse princípio. Em geral, as
leis da Física relacionam variáveis de um fenômeno físico
entre si, como, por exemplo, a equação PV=nRT relaciona
a pressão e o volume com a temperatura de um gás
perfeito etc. Mas a lei de relatividade é uma super lei, que
diz como devem ser as leis da Física. Essa é a Relatividade

110
Restrita, cujas conseqüências são muito importantes; uma
delas diz que a velocidade das ações físicas é uma
constante universal, que a velocidade das ondas
gravitacionais deve ser a da luz, e corpos que têm massa
de repouso não podem chegar a essa velocidade; só os
fótons e os grávitons podem chegar a essa velocidade, pois
não tem sentido falar nessas partículas em repouso. As
conseqüências dessa teoria foram enormes para toda a
Física Moderna. Depois da descoberta da Mecânica
Quântica, o problema fundamental era casar a Mecânica
Quântica com a Teoria da Relatividade Restrita, uma
grande vitória obtida por Paul Adrien Maurice Dirac. A
equação de Dirac, que é a equação relativística do elétron
(ver ELÉTRON), é uma equação quântica obedecendo ao
princípio da relatividade.
Einstein, a partir de 1905 e nos anos seguintes, se
perguntava por que o movimento tinha que ser de
translação retilínea uniforme, para passar de um sistema a
outro e obter a invariância de uma lei física; qual é o
privilégio desse movimento? Ele queria generalizar o
princípio da relatividade para movimentos não uniformes e
não retilíneos, e assim descobriu a Relatividade Geral.
Primeiro descobriu o princípio da equivalência, momento
que ele diz ter sido o mais feliz de sua vida. Nós todos aqui
submetidos a um campo de gravitação uniforme estamos
caindo todos com a mesma aceleração, como descoberto
por Galileu, o que dá lugar ao fato da massa de gravitação
e de inércia serem iguais e todos os corpos caírem em
queda livre com a mesma aceleração, i.e., no vácuo, levam
o mesmo tempo, seja uma bola de chumbo ou uma pena de
pavão. Einstein aproveitou-se disso para dizer que um
corpo em queda livre perde seu próprio peso, ou ainda que
a queda de um corpo num campo de gravitação uniforme é
equivalente a um corpo que não cai, mas que está em um

111
sistema de referência dotado de um movimento de
translação uniformemente acelerado para cima; isso é
equivalente a um corpo que cai com aceleração g, e, então,
o movimento de translação desse sistema tem uma
aceleração igual a –g. Isso é equivalente a um movimento
em um sistema inercial no qual há um campo de gravitação
uniforme, onde todos os corpos caem com aceleração g.
Einstein partiu para a Relatividade Geral, uma teoria muito
bonita, na qual ele atribui propriedades dinâmicas à
geometria do espaço (ver ESPAÇO), relaciona a Gravitação
à Geometria do espaço de Riemann e a matéria e a
gravitação são obtidas pelas propriedades de curvatura do
espaço.

RELIGIÃO
O homem primitivo atribuía todas as coisas que via,
as tempestades, os elementos, o ambiente em que ele
estava mergulhado e certas coisas que ele não poderia
entender, a seres superiores, que deveriam regular esses
elementos e a vida de cada um deles. Daí nasceu o culto a
esses seres superiores, a uma divindade (ver DEUS) e,
então, daí nasceram depois as religiões sob várias formas
no Oriente, no Ocidente. A noção de divindade e o culto da
divindade são a essência da religião. Você tem a religião
cristã, a muçulmana, a judaica. A cultura e a civilização
européia provêm do culto judaico-cristão. Evidentemente, a
religião atribui a seres superiores, a um Deus, a causa do
Universo (ver UNIVERSO), a causa para todas as coisas.
Há aqueles que crêem e os que não crêem. A Ciência (ver
CIÊNCIA) procura desvendar os mistérios do Universo, mas
não consegue, pois há muito mistério (ver MISTÉRIO), há
muita coisa na Ciência sem explicação e a Religião então

112
entra em cena e é uma questão de foro íntimo você
acreditar ou não em uma ação de uma divindade superior.

RIO
O Rio de Janeiro é uma cidade encantadora.
Quando eu vim a primeira vez do Recife (ver RECIFE) para
o Rio, achei que era uma bela cidade, com todas as suas
praias, seus coqueiros, suas palmeiras e mangueiras, muito
bem arborizada. É uma cidade espremida entre as
montanhas e as praias, e tem as belas morenas (ver
MULATA), não é? As moças do Rio de Janeiro são
belíssimas!
Eu vim do Recife, em 1937, e em 39, já formado em
Química Industrial, ganhei uma bolsa das indústrias Carlos
de Brito & Cia. para vir estudar no Rio e aqui me instalei em
1939/40 e aí comecei a viver no Rio, que era a capital
federal, uma cidade que tinha grandes vantagens na
época. Infelizmente, depois o Senhor Juscelino Kubitschek
transferiu a capital para Brasília e essa transferência foi
brutal, coisa que não se faz em parte nenhuma. Na
Alemanha atual, por exemplo, durante muito tempo a
capital foi a cidade de Bonn, e ultimamente com a
unificação da Alemanha, após a queda do muro de Berlim,
os alemães decidiram transferir a capital para a cidade
tradicional que é Berlim, mas a transferência da capital de
Bonn para Berlim se dá lentamente, adiabaticamente,
dando vantagens a Bonn que está perdendo a sede do
governo, a sede do Parlamento. Isso não aconteceu no Rio
de Janeiro; aqui a saída foi brutal, parece que o Juscelino,
os mineiros e os paulistas tinham ciúme do Rio de Janeiro e
tiraram tudo que era possível. As instituições do governo
deram vantagens e mordomias para os funcionários irem

113
para Brasília, ganhando apartamentos de graça, ganhando
em dobro, e o Rio de Janeiro assistiu à retirada das
empresas, das sedes das grandes multinacionais para
Brasília, Minas, e para São Paulo. Então o Rio de Janeiro
sofreu. Depois houve o Estado da Guanabara,
transformaram a capital em um Estado e finalmente, com a
ditadura, anexou-se a cidade do Rio de Janeiro ao Estado
do Rio de Janeiro, que é um Estado pobre, enquanto o
Estado de São Paulo é um Estado rico, próspero. Lá você
não tem só prosperidade na capital, mas também nas
outras cidades como Ribeirão Preto, Sorocaba, Mogi das
Cruzes. Em São Paulo há muitas universidades espalhadas
(ver UNIVERSIDADE), e muito cultivo, muita indústria, muito
trabalho e muita produção. É isso que o Estado do Rio de
Janeiro precisava ter.
Quando cheguei aqui o antigo Estado do Rio de
Janeiro tinha muita produção de laranja e banana, depois
essa produção decaiu. É preciso retomar essa agricultura
no Rio. O norte do Rio, por exemplo, é paupérrimo; Campos
é só sede de açúcar, de goiabadas. É preciso que haja
projetos, programas de industrialização e de agro-
indústrias, de modo que a cidade do Rio tenha sua beleza
fundamentada em sua estrutura econômica forte.

SBPC

A SBPC  Sociedade Brasileira para o Progresso


da Ciência  foi fundada em 1948, no estado de São
Paulo, e foi graças à iniciativa de alguns pioneiros, dentre
os quais posso citar Maurício Rocha e Silva, que é um
biólogo paulista famoso por descobertas na área da
farmacologia, farmacodinâmica e Haity Moussatché, que
era um fisiologista do Rio de Janeiro no Instituto Oswaldo

114
Cruz, que trabalhou com Miguel Osório de Almeida e deu
contribuições importantes à farmacodinâmica. Esses dois
cientistas são os grandes fundadores, mas houve muitos
outros que cheguei a conhecer em 1948: Maurício Rocha e
Silva, Hermann Lent, Paulo Sawaya, Alberto Carvalho e
Silva entre outros. Eu comparecia a algumas reuniões
desde aquela época.
A SBPC organiza a cada ano uma grande reunião
em alguma das cidades brasileiras, Rio de Janeiro, Porto
Alegre, São Paulo, Natal, Recife, Belém etc. Cada vez mais
vão milhares de cientistas, de sociólogos, de educadores
que apresentam trabalhos e participam de discussões,
mesas-redondas sobre temas importantes como: a relação
Ciência e a Sociedade, as dificuldades burocráticas que o
governo nos impõe, o desenvolvimento da Ciência, Ciência
e Educação etc. É uma Sociedade muito importante porque
congrega milhares de cientistas, e nessas reuniões se tem
a oportunidade de não só nos conhecermos uns aos outros,
como de debater temas que são de interesse não só
científico como também temas gerais que interessam à
sociedade em geral.
Um programa importante que realizamos no Rio de
Janeiro é o SBPC vai à Escola. Nós tivemos a idéia de que
os cientistas  cuja missão fundamental é fazer seu
trabalho de pesquisa, criar conhecimento novo, trabalhar no
seu laboratório, no seu gabinete de meditação, descobrir
novas leis , mesmo preocupado com esses problemas,
seriam as pessoas indicadas para irem às escolas de
ensino médio, convidados pelo professor da matéria
correspondente, e falar para os estudantes. Eu tive a
ocasião de fazer inúmeras conferências no colégio Santo
Inácio, Pedro II e em vários outros colégios no Rio de
Janeiro e a meninada adorava. Eu falava sobre a origem da
Ciência (ver CIÊNCIA), sobre Isaac Newton (ver NEWTON),

115
sobre Galileu (ver GALILEU), sobre os filósofos gregos (ver
FILOSOFIA), sobre Einstein (ver EINSTEIN), sobre
Relatividade e Mecânica Quântica, pois na televisão,
atualmente, as descobertas científicas aparecem a cada dia
e são objetos de noticiário nos meios de comunicação:
“descobriu-se o buraco negro; uma super nova apareceu; o
quark top foi descoberto”. É natural que as crianças
queiram saber o que é isso, e ninguém melhor que os
especialistas para lhes ensinar (ver EDUCAÇÃO). Eu acho
que aquele que faz pesquisa tem que ensinar, é o melhor
professor porque, mesmo ensinando uma coisa velha, ele
ensina com um método novo, destacando a aventura da
pesquisa científica. O pesquisador transporta essa aventura
para a transmissão de um conhecimento dando-lhe
roupagem nova e isso é muito importante. Ficaria muito
contente de ver este projeto reproduzido em outras
regionais da SBPC.

SECA
A seca é um dos problemas brasileiros crônicos
mais vergonhosos, não é? Porque você compreende, o
Oriente Médio, Israel, Arábia Saudita, Palestina, Jordânia,
todos eles vivem em climas que conduzem à seca. Israel,
entretanto, com tecnologia e ciência resolve esse problema.
No Brasil o que tem acontecido é que uma classe política
ignorante (ver POLÍTICA), ao longo dos anos, tem se
aproveitado da seca, do dinheiro destinado ao
departamento nacional de obras contra as secas, para a
construção de açudes, os quais, em geral, são construídos
em fazendas de grandes proprietários, e não há açudes
construídos para a população pobre, não é? O desvio das
águas do rio São Francisco e uma ligação dele com outros

116
rios poderiam dar lugar a uma irrigação tipo Califórnia, não
é? Um exemplo disso é a cidade de Petrolina e a cidade
gêmea de Juazeiro (fronteira entre Pernambuco e Bahia)
que têm o clima sequíssimo e onde praticamente não
chove, mas com a irrigação provida pelo rio São Francisco
há grandes cultivos de uvas, mangas, tomates, fabrica-se
vinho que é exportado para a Europa e são, portanto,
cidades prósperas. Portanto, essa irrigação tem que ser
estendida, e para isso é preciso que se resolva o problema
da ignorância e da corrupção. É um absurdo a situação
atual do sertão brasileiro.
A fome que roda em torno da seca deixa marcas até
nas famílias abastadas. Eu me lembro que, quando era
criança, na minha família se comiam muitos pratos no
almoço e no jantar; à mesa havia inúmeros pratos: peixes,
frango, carne assada, filé, purê de batata, arroz, macarrão,
tudo isso ao mesmo tempo.... Comia-se demais e eu
atribuía isso ao medo, ao exorcismo contra a fome.
A seca é um problema grave do Brasil (ver BRASIL)
e os governos, em geral incompetentes, com ministros
incompetentes, não tinham (ou não têm) planos para
resolver este problema. Para isso é preciso acabar com os
grandes latifundiários, os grandes proprietários rurais, que
fazem os poços nas fazendas deles e o povo que se dane
e que morra de fome. É preciso acabar com isso! Agora,
como acabou a época das revoluções, eu não sei como vai
ser essa democracia governada por esses corruptos que
não resolvem esses problemas fundamentais do Brasil.

SOCIALISMO
Socialismo é objeto de estudo de sociólogos e dos
cientistas políticos. Eu sou um físico. Posso citar os

117
famosos Jean Jaurès, Karl Marx, o homem fundamental do
socialismo e do comunismo e, ultimamente, o socialismo
concreto que foi um desastre na União Soviética, que
fracassou. No entanto, a doutrina socialista é importante,
pois prega o desaparecimento das injustiças e das
desigualdades, prega que o homem deve ser bom e deve
ter acesso ao trabalho, deve ter direitos sociais inabaláveis
e, em geral, o governo de todos os países violam esses
direitos de conquista. O socialismo se preocupa com o
trabalhador que foi tradicionalmente explorado. O Brasil,
por exemplo, construiu a sua civilização baseada no
trabalho dos escravos, a nossa economia até 1889 era
baseada na escravatura (ver BRASIL). Havia um regime
monárquico e o Brasil foi o último país a abolir a
escravatura, pouco antes da República. O Brasil tem um
quadro social dos mais terríveis, e mesmo com a República
até hoje, no interior, há pessoas que são quase escravos.
Houve, ao longo da história do Brasil, um desprezo das
elites, dos homens que tinham voz e poder, pela educação
(ver EDUCAÇÃO), principalmente pela educação básica do
povo e isso está se traduzindo hoje em dificuldades
enormes. Estamos entrando no século XXI, em que é
importante a educação técnica, profissional, o
conhecimento de novas tecnologias (ver TECNOLOGIA), e
nosso povo é um povo que tem 140 milhões de pessoas
que vivem abaixo da linha de pobreza, e temos um salário
mínimo ridículo, não é?

TECNOLOGIA
Tecnologia é muito importante, sobretudo nos
tempos modernos. O que podemos dizer é que a tecnologia
é a arte de aplicar conhecimentos científicos de maneira a

118
resolver problemas de interesse para uma sociedade, para
a humanidade. A Tecnologia, inicialmente, não resultava da
Ciência (ver CIÊNCIA); era desenvolvida por inventores, por
técnicos, manipulando, tentando, errando, e com isso se
desenvolveram muitas tecnologias.
Uma coisa admirável na Europa são as igrejas, as
catedrais góticas, construídas em séculos na Idade Média,
nos séculos IX e X, e anteriormente. São igrejas belíssimas,
altas, e você se pergunta que tecnologia eles usavam para
construir e como levavam tijolos e pedras enormes lá para
cima.
Há também as tecnologias primárias desenvolvidas
por índios, por tribos que não tiveram conhecimento
científico, e que têm um civilização importante, uma
medicina própria para eles, com a qual eles curam as
doenças. Os nossos índios têm tecnologias próprias, as
quais muitas vezes são subestimadas ou abandonadas
pela nossa civilização, pela medicina oficial, mas deveriam
ser preservadas. Esse é um problema com o qual as
Nações Unidas deveriam se preocupar, prevenir e recolher
os dados sobre tecnologias dessas tribos, pois elas estão
desaparecendo e seria preciso que o conhecimento que
elas têm dessa tecnologia que eles inventaram, fosse
reproduzido.
Há também as tecnologias avançadas: o
computador, os aceleradores de partículas, as tecnologias
de estado sólido para atingir temperaturas baixíssimas,
para altas temperaturas na metalurgia, novos tipo de aço
etc. A Tecnologia é importante na nossa civilização atual
industrializada, e o Brasil, por exemplo, devia educar (ver
EDUCAÇÃO) a sua população de modo que ela estivesse
preparada para ingressar nesse novo século, no qual, aliás,
já ingressamos, e que está baseado mais e mais em novos
conhecimentos e novas tecnologias. Por isso, nós

119
precisamos dominar, importar, adaptar, criar novas
tecnologias, e assim propiciar uma vida mais agradável
para nossa população, com o cuidado de não alienar o
homem dessa sociedade tecnológica (ver UTOPIA).

TEMPO
O tempo é um mistério, é um dos problemas dos
filósofos, dos físicos, dos psicólogos, que é sempre
analisado. Pensa-se que está tudo conhecido e resolvido
quando não está! Há o tempo psicológico, o tempo que
passa. O tempo resulta das transformações que nos
rodeiam; se não houvesse transformações, se nós
estivéssemos em um mundo absolutamente congelado, não
haveria tempo, porque as coisas não se transformariam;
então é preciso que as coisas se transformem, envelheçam.
O envelhecimento é a ação do tempo nos objetos, nas
pessoas, nas coisas. O tempo vai passando e elas vão se
transformando, se desintegrando, decaindo.
Newton (ver NEWTON) definiu o tempo como uma
coisa que passa e flui independemente da matéria e que
flui uniformemente. Ele definiu o que se chama de tempo
absoluto. Você tem dois fenômenos, dois palitos de fósforo
que duas pessoas acendem ao mesmo tempo e são dois
acontecimentos simultâneos para mim que estou olhando
os dois, mas essa simultaneidade dos acontecimentos,
para Newton, era válida para qualquer observador;
movendo-se de qualquer maneira que fosse ele veria
sempre essa simultaneidade como eu estou vendo aqui. Foi
Einstein (EINSTEIN) quem mostrou que essa
simultaneidade era relativa; dois acontecimentos
simultâneos, para mim, não o são mais para um marciano
que por aqui passar em movimento retilíneo e uniforme e

120
olhar para estes mesmos acontecimentos, porque o fato
dele estar em movimento significa que um acontecimento
que é simultâneo a outro emite um sinal de luz que chega
ao marciano antes do outro sinal que caracterizou o outro
acontecimento. A simultaneidade provém do fato que
observo dois acontecimentos e há dois raios de luz que
incidem sobre esses acontecimentos e se refletem e trazem
as imagens respectivas aos meus olhos. Einstein dizia:
“chega um trem às 10 h na estação, há uma coincidência
com a chegada do trem na estação e a indicação do relógio
às 10 h”. Isso acontece para mim que estou na estação,
mas uma outra pessoa que está correndo verá o trem
chegar antes ou depois das 10 h. Einstein, assim,
considerou que o tempo se transforma da mesma maneira
que uma coordenada espacial quando se passa de um
sistema de coordenada a outro, e daí resulta que na
Relatividade (ver RELATIVIDADE) você pode usar a
metáfora de que “o tempo se transforma em espaço e o
espaço em tempo”, porque o fato de dois acontecimentos
se realizarem separados por uma certa distância acarreta
uma diferença de tempo para um observador que está em
movimento retilíneo uniforme, quer dizer, essa distância
espacial cria uma distância temporal.
Por outro lado, as equações de Newton na
Mecânica são reversíveis, quer dizer que se você observar
o movimento que prossegue com o tempo correndo para o
futuro, se você inverter o tempo e fizer o tempo correr para
o passado, as leis de movimento não mudam. Por exemplo,
você tem moléculas em um gás em movimento e se você
inverter o tempo você não observa nenhuma diferença, ao
passo que sabemos que os fenômenos que acontecem ao
nosso redor são irreversíveis. Uma pessoa que está em um
trampolim sobre uma piscina dá um pulo e cai na água, a
energia (ver ENERGIA) que ela tinha se transformou de

121
energia potencial em energia cinética que foi transmitida à
água. Por sua vez, o mergulho formou ondas que se
espalharam e depois que ela sai da piscina essa energia se
dissipa. Ninguém nunca viu a pessoa que caiu na piscina e
que está lá nadando de repente voltar atrás e subir no
trampolim. Para isso seria preciso que todas as moléculas
da água que receberam a energia transmitida voltassem
atrás e simultaneamente se chocassem contra a pessoa e
comunicassem a ela um movimento tal que ela pudesse
subir. As leis da física dizem que isso é possível, mas com
probabilidade mínima  “nearly zero”, como diriam os
ingleses  porque, gastaria um tempo superior à idade do
Universo (ver UNIVERSO).
O tempo (ver TEMPO) e o espaço (ver ESPAÇO),
na criação do Universo, foram criados no chamado Big
Bang. Você não pode dizer que em um ponto do espaço
houve uma explosão, que se expandiu no espaço, pois o
espaço e o tempo foram criados na grande explosão. Não
há um palco onde está o espaço e onde o tempo se
desenrola; na física atual, o espaço e o tempo são criados
da mesma maneira que a matéria é criada, que, na
verdade, não se sabe de onde é que veio.

UNIVERSIDADE
Acho que não deveria falar sobre Universidade, pois
há os grandes professores, atuais colegas meus da
Universidade do Rio de Janeiro, do Centro de Estudos
Avançados dessa Universidade, como os professores
Moysés Nussenzveig, Leopoldo de Meis, Pinguelli Rosa
que se reuniram na agradável Angra dos Reis e a partir daí
publicaram documentos de como a Universidade deve ser.

122
Acontece que eu, humildemente, desde 1948 
portanto há 50 anos exatos , fiz um discurso de posse da
cátedra de Física Teórica na Faculdade Nacional de
Filosofia chamado ”Universidade e Pesquisa: os nossos
Problemas” e nessa ocasião eu criticava a Universidade na
qual eu entrava. Era tradição todo professor fazer um
discurso e eu disse que não tinha muita alegria e tinha até
hesitado em fazer o discurso, porque a verdade é que os
problemas fundamentais da Universidade não estavam nem
resolvidos e nem devidamente formulados, e, sobretudo, a
Universidade naquela época era o local onde o professor ia
para a sala de aula, dava aula, quando ia, e depois ia para
seu escritório fazer outras coisas. Se era professor de
Matemática, fazia Engenharia; se era advogado tinha seu
escritório de advocacia; se ele ensinava Biologia,
trabalhava em um hospital, era médico, enquanto que o
pesquisador, o professor de Universidade como eu vi em
Princeton, onde me formei sob a direção do grande
Wolfgang Pauli (ver PAULI), se dedicava integralmente à
sua cátedra, à sua pesquisa, à sua Universidade. Acho que
a Universidade deve ser isso, por isso eu lutei a vida toda e
publiquei muito. O memorial da América Latina de São
Paulo publicou um livrinho de bolso, chamado A
Universidade Brasileira, que reproduz esse meu discurso de
cátedra de 1948, e um outro que eu tinha publicado antes,
intitulado “Reflexões sobre a Universidade”.
Estou convencido de que a Universidade tem que
mudar, mas fundamentalmente a Universidade tem que ser
um lugar onde se procura um conhecimento novo, onde se
faz pesquisa, onde se faz criação artística, científica,
literária e nesse ambiente é que se pode ter uma boa
formação do estudante. Ele tem que aprender não um
conjunto de conhecimentos que se põe para ele goela
abaixo; ele tem que aprender os fundamentos para criar,

123
para ter iniciativa, e por isso ele deve começar a pesquisa
mesmo antes do curso de pós-graduação, no seu curso de
graduação. Era essa a concepção que nós tínhamos, eu,
Mário Schenberg, Cesar Lattes e outros. Hoje em dia você
faz graduação, a pós-graduação, depois a pós-pós-
graduação, o pós-doutorado, e vai fazer pesquisa já velho,
não é! A Universidade tem que ser isso, quando você entra
já tem a noção de pesquisa ao estudar na graduação, tem
que ter iniciativa, participar de seminários e, ao mesmo
tempo, quebrar as individualidades dos departamentos,
valorizar os conhecimentos transdisciplinares que envolvem
Física, Biologia e várias especialidades. Os estudantes
devem ter uma preparação tal que mais tarde eles possam
mudar de campo de pesquisa, de campo de trabalho. Há
muito físico que faz Biologia, por exemplo. Outra coisa, a
Universidade tem que abrir suas portas para os professores
do ensino médio, tem que dar cursos; algumas delas o
fazem, mas tem que ser obrigatório, universal, abrir suas
portas, dar cursos de reciclagem para professores da
Escola Média, de modo que haja um fluxo de conhecimento
visando à elevação desse nível de escolaridade, e dos
professores do ensino médio que, evidentemente, são
pessoas que precisam de amparo dos pesquisadores. Eles,
no fundo, são mais importantes que o professor
universitário, pois eles lidam com as crianças, quer dizer,
com aqueles que serão amanhã os cidadãos que vão
construir a base de nossa sociedade.

UNIVERSO
Universo é tudo o que observamos, o nosso
universo é aquilo que nossos telescópios alcançam até um
certo limite, até um certo horizonte, além do qual não

124
podemos mais ver. Ele é objeto de estudo da Cosmologia,
que antigamente era mitológica. A Cosmologia apareceu
como ciência a partir do ano de 1917, quando Einstein (ver
EINSTEIN), depois de ter descoberto as equações da
Relatividade Geral, e depois de ter sido descoberta a
primeira solução de Schwarzschild das equações de
Einstein, fez um trabalho em que aplicou a Relatividade
Geral (ver RELATIVIDADE) ao Universo. Ele considerou um
universo estático; para isso precisou introduzir uma
constante nova, a constante cosmológica . Mais tarde
houve um físico americano, Hubble, que descobriu a
expansão do universo. Ele verificou que da mesma maneira
que você sopra um balão e esse balão se dilata em todas
as direções o universo estaria assim; ele teria se originado
em uma grande explosão, em algum ponto, e esse ponto
está entre aspas, um Big Bang, e daí tudo foi sendo criado:
o espaço (ver ESPAÇO), o tempo (ver TEMPO), a matéria,
uma sopa de quarks (ver QUARK) e talvez sub-quarks, sub-
léptons e à medida que o Universo foi se expandindo foi se
esfriando. A temperatura era quase infinita nos segundos
após a criação e então, à medida que foi se expandindo, foi
aparecendo o universo, o espaço, o tempo e a matéria.
Essas partículas foram se resfriando, construindo assim os
núcleos e depois os átomos (ver ÁTOMO), moléculas,
proteínas, o Universo vivo.
Então hoje há essa concepção da grande explosão
da qual resultou tudo que constituiria nosso universo. Muita
gente diz que a Ciência chegou ao fim, porque já
descobrimos tudo. Isso é uma mentira, pois estamos na
Terra, que é uma meleca de mosca no mapa pequenino e
nós estamos dentro dessa meleca ou na sua superfície
olhando para o espaço, e formulando nossas idéias. É claro
que pode haver muitas coisas que não conhecemos e que
podem mudar totalmente nossas idéias. É certo que

125
grandes progressos foram realizados. A descoberta da
universalidade das leis, por exemplo, é fabulosa, não é?
Aristóteles (ver ARISTÓTELES) achava que havia
as leis celestes e os movimentos abaixo da lua que não
eram submissíveis a regularidades que só existiam para os
corpos celestes que obedeciam às leis produzidas por um
Deus. Galileu (ver GALILEU) chegou e disse que as leis no
céu são as mesmas que as da Terra, ele fez a primeira
grande síntese e então descobrimos isso. Houve a
Mecânica de Newton (ver NEWTON) que descreve a queda
vertical de uma maçã, o movimento de uma pedra que você
joga que percorre uma parábola e cai, ou o movimento da
Lua em torno da Terra ou da Terra em torno do Sol, da
mesma forma. Existe uma força que é a gravitação
universal, que ele não sabia direito o que era, e isso o
incomodava, mas essa lei existe e esta é uma força que
rege e atua sobre toda a matéria; é soberana no Universo.
Quando você olha para uma estrela bonita nas noites em
que você foge das luzes da cidade, a luz dessa estrela que
nos encanta é produzida pela matéria que é atraída pela
gravitação; ela se contrai e quando se contrai aquece,
atinge temperaturas altíssimas que dão lugar a reações
nucleares, a transformação do hidrogênio em hélio, que é o
que produz a luz do sol e das estrelas, até que o hidrogênio
se consome; aí a gravitação continua a sua ação de
contração e a estrela começa a se desintegrar, a
transformar-se em supernova e finalmente se transforma
em um buraco negro e nós não sabemos ainda o que pode
acontecer depois. Há singularidades no Universo, há tanto
mistério no Universo que é uma temeridade dizer que já
acabou a Ciência (ver CIÊNCIA), que não há mais o que se
descobrir; conversa fiada, isso é coisa para sociólogo
japonês fantasiado de americano.

126
UTOPIA
Utopia é uma fantasia imaginada por algum filósofo,
sociólogo ou algum pensador que imagina uma
configuração ideal e se diz “ah, isso é uma utopia”, isso é
um regime em que os homens seriam todos felizes, no qual
estaríamos cercados de fadas, de Vênus, das deusas
gregas, uma beleza seria a utopia. Agora, o que acontecerá
nesse século XXI, no qual todos se preparam para entrar?
Aliás, já estamos no século XXI. Desde que a União
Soviética ruiu, no fim dos anos 80 e início dos anos 90,
acabou o século XX, como também o século XX começou
só a partir de 1917, com a Revolução Russa.
Ficam todos pensando que haverá um mundo
melhor, uma chupeta! Há tanto desastre, tanta regressão.
O Brasil de minha mocidade, por exemplo, era muito mais
gostoso, muito mais tranqüilo, muito melhor do que o Brasil
atual. O crescimento populacional é um problema e a
população mundial cresce enormemente, criando
problemas, como produzir alimentos e dar trabalho para
todos. Há uma maldição produzida pela tecnologia (ver
TECNOLOGIA), que está automatizando tudo e retirando
trabalho manual. Essa automatização nos bancos, por
exemplo, você tem os computadores que fazem tudo e
então o resultado é o “chomage”, é a falta de emprego. É
como se a tecnologia e a ciência trabalhassem para o
homem perder o emprego. Poderia perder o emprego se
tivesse um amparo social para ele se dedicar ao lazer, para
fazer poesia, música, para se distrair, mas não tem; ele fica
sem emprego, sem trabalho, sem dinheiro e é um desastre,
é a anti-utopia que está se configurando no horizonte do
novo século. Eu acho que a derrocada do socialismo real
deu lugar a um capitalismo mundial, chamado de

127
globalização (ver GLOBALIZAÇÃO), que é o novo nome
para o imperialismo; globalização é a palavra que quer dizer
a dominação imperial dos países mais avançados,
sobretudo dos EUA, sobre o resto do mundo. Você
encontra supermercados, shoppings em todas as partes do
mundo; isso é uma utopia? Termina então o robô fazendo
os carros e terminaremos na anti-utopia com o robô
descansando do trabalho, saindo e fazendo a fila para
comprar o carro, porque foi ele que ganhou dinheiro
enquanto o homem está sem emprego, está sem dinheiro
para nada, nem para comer. Então nossos homens,
pensadores, filósofos, e a ONU, deviam estar todos
meditando sobre isso, mas esses cabras não fazem coisa
nenhuma. Inventaram ultimamente a tolerância: temos que
ter tolerância. Como é que se pode ter tolerância com a
miséria rondando 140 milhões de brasileiros ganhando
menos de um salário mínimo e vivendo muito mal? Temos
que ter tolerância com isso? Uma chupeta! Então tem que
haver uma nova forma revolucionária de mudar essas
coisas e criar uma verdadeira utopia que eu não sei qual é,
pois estamos caminhando para destinos que não
conhecemos e que se apresentam com preliminares
péssimos.

VÁCUO
O vácuo, sintetizando em uma frase, é a ausência
da matéria. Você tem máquinas que fazem o vácuo, que
começam a chupar o ar como naquela experiência que se
fazia no colégio secundário. Você tem uma redoma e uma
campainha lá dentro a qual você faz soar e depois que
você faz o vácuo não ouve mais nada, o que prova que o
som se propaga pelo movimento vibratório do ar. Quando

128
você retira as moléculas de ar e faz o vácuo, o som não se
propaga mais, pois não há moléculas para transmitir esse
movimento. Ao passo que no vácuo propaga-se a luz. Em
analogia com a propagação do som, os físicos do século
passado diziam que deveria haver algo como o ar que
propaga o som; deveria haver algo similar no espaço que
propaga a luz e esse algo eles chamaram de éter. Seriam
as moléculas deste éter que propagariam a luz, mas esse
éter que preencheria todo o vácuo, todo o espaço (ver
ESPAÇO), tinha propriedades contraditórias: deveria ser
muito tênue para não frear os movimentos dos astros, dos
planetas, da lua ao redor da Terra e da Terra em redor do
sol, mas ao mesmo tempo devia ter uma rigidez metálica,
de tal sorte que a luz se propagasse com velocidade
extraordinária. O conceito de éter desapareceu com
Einstein, que mostrou que no espaço vazio, no vácuo,
existe o campo e o campo nele se propaga.
O vácuo na Mecânica Quântica (ver QUANTUM) é
definido como o estado de energia zero e todas as
propriedades observáveis devem ser nulas, mas, na
realidade, há um novo vácuo que resulta da quebra de
simetria onde não há só um estado de vácuo, mas existem
vários estados de vácuo e um pode se transformar em
outro. Você tem uma quebra de simetria quando você
escolhe um desses estados do vácuo e em relação a ele
você constrói as propriedades que dão lugar à massa e
outras coisas mais (ver MASSA). E o vácuo é uma coisa
dinâmica, pois a Mecânica Quântica mostra que o número
de corpúsculos não comuta com a amplitude de um campo
e então quando você tem um número de partículas zero o
campo flutua, o campo não é zero, o campo flutua em torno
desse valor, e essa flutuação é que dá lugar a propriedades
importantes. Por exemplo, no vácuo, para criar um quark
(ver QUARK) que não se conhecia, você manda energia

129
suficiente para um acelerador e bombardeia um alvo. De
repente do vácuo nascem partículas novas. Quando ocorre
a desintegração do nêutron em próton, do vácuo são
criados um elétron (ver ELÉTRON) e um neutrino. Quando
você tem um átomo excitado e ele passa para o estado
fundamental ele emite luz, quer dizer um fóton sai, e esse
fóton estava lá no átomo (ver ÁTOMO)? Não, a concepção
é que o fóton é criado, saiu do vácuo, esse vácuo é um
sistema dinâmico de partículas virtuais que você pode
tornar real, quando fornece energia suficiente ao sistema.

VARGAS
Getúlio Vargas mudou o Brasil (ver BRASIL); antes
da Revolução de 30 havia a República Velha, dominada
pelas oligarquias. Eram os estados que mandavam, cada
um com a sua bandeira, seu hino e seus mandarins. Havia
a política do café com leite, que era a alternância de um
presidente de São Paulo e um de Minas Gerais. Houve,
então, a Revolução de 30: para a substituição de
Washington Luís houve uma eleição e essa foi toda
fraudada, com a vitória de Júlio Prestes; os tenentes, que já
tinham se levantado em 1922, em 1924 fizeram a chamada
coluna Prestes, que percorreu o Brasil inteiro, encontrado a
miséria e visto que o Brasil tinha que mudar. Essa
Revolução de 30 evidentemente foi limitada e foi o segundo
abalo no país; o primeiro foi a abolição da escravatura,
tardiamente em 1888. A Revolução de 30 produziu um
grande homem, um grande estadista, Getúlio Vargas. Todo
mundo o critica porque ele queria ficar eternamente no
mandato (ver AUTORITARISMO). São Paulo, que tinha
perdido com seus barões do café o predomínio da política,

130
revoltou-se em 1932, mas foi derrotado e depois Vargas foi
eleito em 1943 pela Assembléia Constituinte.
Em 1937, Vargas proclamou o Estado Novo e não
poderia ser diferente porque na realidade aquela época não
era a época de hoje. Ficam esses falsos democratas
exigindo que Vargas se comportasse de outro modo, mas
havia a Revolução Comunista de 35, havia o Integralismo
de 38, a Guerra Fria, e então Vargas instituiu o Estado
Novo, a ditadura, que evidentemente fez muitas
arbitrariedades e torturas, mas foi ele quem mudou o Brasil
e quem queimou as bandeiras dos estados, acabou com os
hinos dos estados, introduziu a noção de nacionalidade, a
marcha para o oeste, muito importante porque o Brasil era
apenas essa camada fina ao redor da costa. Vargas criou a
Petrobrás e em plena guerra conseguiu que Roosevelt
vendesse ao Brasil a usina de aço, que é a de Volta
Redonda, a qual foi responsável por um grande progresso
e pela aceleração da industrialização do País.

VIDA
Vida é uma palavra complexa porque a vida em si é
um mistério. O que é a vida, o que é o ser vivo? O que
distingue a matéria viva da matéria inerte? Esse é um
problema dos biólogos, como foi dos filósofos, mas é um
problema da Ciência (ver CIÊNCIA), da Religião (ver
RELIGIÃO). Dizem que a vida sobre a Terra é passageira,
depois tem a vida eterna. Seria bom que existisse a vida
eterna, mas ninguém nunca veio da vida eterna para nos
contar, não é? E tem a vida de cada um de nós e a questão
é viver a vida da melhor maneira possível e isso depende
de cada um, do destino de cada um. Esse destino está
traçado? Está escrito? Os biólogos descobriram que há

131
uma programação em cada ser vivo ao nascer. Isso
significa dizer que o destino já estava escrito antes dele
começar a viver ou quando ele tomou forma? Estes são
problemas complicados que excedem a minha capacidade
de análise. O importante é levar a vida como o grande
poeta Ascenso Ferreira dizia: “mulheres em flor que
esperais, se não forem os homens, é o tempo, o tempo sim
esse grande papão de mulheres”, ou seja, ele se refere à
vida das mulheres (ver MULHER)! Na mocidade, na
adolescência, elas são belas, e depois vão ficando mais
maduras mas sempre belas, pois a mulher é sempre bela, e
a vida do homem sem a mulher é uma coisa horrível, não
é? Então eis a vida: a vida dos cientistas, artistas, pintores,
poetas, escritores, cada um leva a sua vida nesse mundo
amargurado, cheio de tanta beleza (ver BELEZA) e tristeza.
Então essa é a vida que nós devemos viver, uma vida a
melhor possível.

VILLA-LOBOS
Heitor Villa-Lobos, o maior músico brasileiro, aliás o
maior músico de todas as Américas (ver MÚSICA), desde o
Alaska até a Patagônia; grande figura, boêmio, uma vida
extraordinária, genial (ver GÊNIO). Um homem que
escreveu um número enorme de composições, não sei nem
se já são determinadas ou contadas essas composições.
Gosto muito do Villa-Lobos. A primeira vez que o ouvi foi na
universidade de Princeton, em uma discoteca e lá ouvi o
quarteto número 5 dele, depois fiquei conhecendo as
Bachianas. Uma beleza a bachiana número 1 para oito
violoncelos, tocada inclusive pelo grande Rostropovitch,
que é o grande especialista, e tocou essa bachiana para 8

132
violoncelos, que era o instrumento do qual ele era o melhor
tocador.
Villa-Lobos começou a ficar célebre quando ele
tocava no cinema acompanhando filmes mudos e, uma vez,
o grande pianista Arthur Rubinstein foi ao cinema e ouviu
as músicas acompanhando o filme, quando de repente
houve um breve intervalo, e ele ouviu uma música que ele
achou exótica, rara, estranha e bonita, e se aproximou para
saber quem estava tocando. Era Villa-Lobos, que o recebeu
mal, disse que os pianistas, em geral, não adoravam a
música, queriam só usá-la para se destacar. Rubinstein
ficou meio chateado, mas ele estava hospedado no Glória
ou no Copacabana Palace e uma bela manhã acordou,
como de costume, às sete da manhã e viu Villa-Lobos
acompanhado de um grupo grande de músicos dizendo:
estou aqui para mostrar o que eu fiz, e tocou coisas para
ele que o deixaram tão encantado que Rubinstein
patrocinou a sua ida para Paris. Em Paris, Villa-Lobos disse
que não tinha ido para aprender e sim para mostrar o que
tinha feito.
Eu nunca cheguei a falar pessoalmente com Villa-
Lobos, mas o apreciava de longe. Uma vez eu fui a
Petrópolis com um matemático francês, Jean Dieudonné,
acompanhado pela adida científica da embaixada da
França, Madame Gabrielle Mineur, e ao voltar dessa visita a
Petrópolis ele queria ver uma mata tropical; soubemos que
havia um concerto no Teatro Municipal da Orquestra
Sinfônica dirigida por Villa-Lobos e então eu fui com eles
até a porta, e tanto fiz que entramos de graça e o Villa-
Lobos regeu a Bachiana número 7, uma beleza... uma
verdadeira serenata.
Na obra para violão de Villa-Lobos tem coisas
comparadas a Chopin. Eis aí Heitor Villa-Lobos, grande
músico que admiro profundamente.

133
VINHO
Infelizmente eu não sou um enólogo e não guardo
na cabeça os grandes vinhos que bebi, mas adoro vinho,
sobretudo o vinho tinto, principalmente depois que aprendi
que o vinho tinto combate o colesterol. Os franceses
naquela área do Mediterrâneo tomam muito vinho e as
doenças cardio-vasculares lá são mais raras. O vinho é
uma delícia; uma boa refeição acompanhada de um belo
vinho tinto é importante e isso me faz lembrar dos 20 anos
que passei na França, com suas adegas; que maravilha!
Comprei recentemente uma Eurocave que é um
refrigerador especial para vinhos importado de Bordeaux,
que mantém a temperatura de 10-12 graus. Vinho francês,
italiano, chileno, argentino... Há bons vinhos brasileiros
como o Velho Museu, que tomei recentemente no Satiricon.
Dentre os franceses tem o Bourgogne, o Bordeaux, o Vin
du Pays, que é o vinho de outros terrenos da França e tem
os famosos brancos da Alsácia, uma delícia o
Gewürtztraminer, é um vinho formidável, gostosíssimo, o
vinho Riesling, seco, não esse vinho alemão que se compra
na garrafa azul que é vinho da Argélia que o alemão
engarrafa e vende por preço baixo aqui, iludindo os
brasileiros, não é? O vinho é sem dúvida uma das coisas
mais gostosas da vida (ver VIDA).

Z
Atualmente, na Física, designa-se com Z índice
zero, o bóson neutro que intermedia as interações fracas
entre correntes fracas neutras. É o bóson Z0 que, aliás, cá
entre nós, foi predito por mim, em 1958, em um trabalho

134
que publiquei na revista Nuclear Physics, editada em
Amsterdã. Nesse trabalho eu propus a igualdade entre a
constante de interação dos bósons com a corrente fraca g,
e a constante elétrica e, que é a carga do elétron, que é
também a constante de acoplamento eletromagnético.
Como eu achava que para o bóson tinha sido determinada
a sua natureza geométrica por Feynman, Gell’Mann e por
Marshak e seu estudante hindu Sudarshan (que
determinaram a natureza vetorial V-A para a interação), se
a interação era vetorial então devia ter como intermediário
um bóson vetorial, e como o fóton também era vetorial veio-
me à cabeça que os fótons e as partículas vetoriais fracas
deviam ter um parentesco íntimo, deviam pertencer à
mesma família. Traduzi isso dizendo que a constante g de
interação dos bósons vetoriais da matéria era igual à
constante e, que é a constante de interação dos fótons com
a matéria “g=e”. Nesse mesmo trabalho eu disse que eram
conhecidas as interações em que havia uma troca de
cargas, determinadas pelas partículas que hoje são
chamadas de W + e W , os bósons vetoriais carregados.
Propus que deveria existir um bóson vetorial neutro que
deveria ser o intermediário das correntes fracas neutras e
dei um exemplo; não era uma sugestão acadêmica, porque
seria um bóson trocado entre um elétron e um nêutron em
um choque elástico, por exemplo; o elétron e o nêutron
podem ter uma interação fraca de segunda ordem com
troca de W, mas isso seria uma contribuição desprezível,
ao passo que, em primeira ordem, essa interação fraca
0
seria por meio desse bóson Z . Eu não o chamei assim,
mas esses bósons foram objetos de previsão, em 1972, por
Weinberg, Salam e Glashow, e aí é que receberam as
+
denominações de W W  e Z. Concluindo, a partícula Z é o
bóson neutro, que eu tive a honra de, modestamente,
prever a existência (ver BELEZA) e que foi detectado nos

135
anos 80 por Carlo Rubbia e sua equipe no CERN, embora,
evidentemente, outros senhores cavalheiros sejam mais
dignos de citação na literatura internacional.

FIM

136
Índice Onomástico

Brandão, Márcia de Oliveira


Reis, viii
A Braudel, Fernand, 17
Alexandre Magno, 16 Bruno, Giordano, 1, 77, 88
Álvaro Alberto, (Almirante), 2,
35, 42, 43 C
Amati, Daniel, 37
Américo, Pedro, 84 Calvino, João, 26
Amoroso Lima, Alceu, 52 Camerini, Ugo, 36
Anaxágoras, 70 Cantor, George, 87
Anaximandro, 70 Capanema, Gustavo, 52
Aniceto Monteiro, Antônio, 9 Cardoso, Fernando Henrique,
Archer, Renato, xi 29
Ariadne, 12 Carmita, 10
Aristóteles, 6, 7, 8, 16, 70, 72, Carnot, Sadi, 62
75, 76, 80, 84, 135 Caruso, Francisco, iv, xiii, 108
Carvalho e Silva, Alberto, 124
Castro, Fidel, 81, 89
B Cavalcanti, Lagden, 34
Bach, Johann Sebastian, 10, César, 16
20, 21, 24, 79, 99, 112 Cézanne, Paul, 110
Bandeira, Manuel, 10, 18, 109, Chagall, Marc, 39
117, 118 Chagas, Carlos, ix, 2, 3, 33, 34
Bastide, Roger, 17 Chakrabarty, S.K., 105
Beck, Guido, 37 Charles II, 1
Becquerel, Henri, 59 Chew, Geoffrey, 23
Beethoven, Ludwig van, 79, 99 Chopin, Frederic, 143
Bell, Graham, 28 Cícero, iv
Bernardes, Arthur, 18 Clausius, Rudolf, 62
Bethe, Hans, 44 Clinton, Bill, 46
Bhabha, H.J., 105 Cockroft, John Douglas, 82
Bismarck, Otto von, 16, 66 Colbert, Jean-Baptiste, 1
Bohr, Niels, 13, 14, 40, 78 Compton, Arthur, 13, 61, 114
Boltzmann, Ludwig, 95 Copérnico, Nicolau, 71, 89
Bonaparte, Napoleão, 28, 83 Cortesão, Maria da Saudade,
Borges, Jorge Luiz, v 10
Bose, Satyendranath, 104 Costa Ribeiro, Joaquim, 33, 34

137
Costa, Amoroso, 2 Dieudonné, Jean, 143
Couceiro, Antonio, 45 Dirac, Paul Adrien Maurice, 8,
Coulomb, Charles Augustin de, 21, 22, 104, 120
94 do Rego Monteiro, Vicente, 117
Cruz, Oswaldo, 2, 3, 43, 45, dos Anjos, Augusto, 117, 118
123 Dutra, Eurico Gaspar, 34, 43
Curie, Joliot, 82
Curie, Marie, v, 59, 60
Curie, Pierre, 59
E
Einstein, Albert, iv, v, 13, 17,
D 40, 47, 49, 53, 54, 55, 56, 57,
58, 61, 64, 65, 73, 74, 76, 78,
d’Alembert, Jean Le Rond, v, 72 79, 80, 93, 95, 103, 105, 113,
D’Estaing, Giscard, xi 114, 118, 119, 120, 121, 125,
da Gama, Vasco, 25 129, 130, 134, 138
da Vinci, Leonardo, 1, 84 Eliot, T.S., 109, 110
Dalton, John, 12 Erasmo de Roterdã, 27
Damy, Marcelo, 30, 33 Euclides, 79
Davidson, J.P., 37
de Almeida, Mario, 36, 67
de Andrade, Carlos Drummond,
F
109 Fantapié, Luigi, 17
de Andrade, Mário, 18 Faraday, Michael, 73, 94
de Araújo, Roberto Moreira Faria, Francisco, 25
Xavier, vi, viii Fernandes, Anibal, 117
de Benedetti, Sergio, 7, 65, 111 Ferreira Lopes, 117
de Bittencourt, Pedro Calmon Ferreira, Ascenso, 10, 141
Muniz, 33, 36 Ferreira, José Pelúcio, 44
de Brito, Carlos, ix, 122 Feynman, Richard, iv, x, 8, 22,
de Broglie, Louis, 60, 78 23, 36, 37, 38, 44, 49, 67, 68,
de Carvalho, Mirian, 108 69, 78, 144
de Castro, Josué, 117 Fleury, Norbert, 24
de Meis, Leopoldo, 132 Franco, 17
de Mello Neto, João Cabral, François I, 1
109, 117 Franklin, Benjamim, 26
de Sá, Jaime Magrassi, 44 Freire, Luiz, iv, ix, 1, 37, 116
de Souza Barros, Fernando, 37 Freyre, Gilberto, 117
Debussy, Claude, 10
Demócrito, 11, 15, 115
Descartes, René, 38 G
Dewey, John, 52 Galileu, Galilei, 1, 7, 8, 40, 41,
Dias, Cícero, 117 56, 70, 71, 72, 75, 76, 77, 78,

138
80, 88, 89, 93, 101, 102, 118, Joffily, Sérgio, 24
120, 125, 135 Joule, James, 62
Gamow, George, 105 Júlio Cesar, 65
Gell’Mann, Murray, 15, 23, 114,
144
Glashow, Sheldon, 15, 22, 145
K
Goethe, Johann Wolfgang von, Kapitza, Pyotr Leonidovich, 82
66, 95 Klein, Oskar, 21, 22
Gomes de Souza, Joaquim, 28 Kubitschek, Juscelino, 122
Gomes, Luiz Carlos, 37
Gonzaga, Tomás, 27
Gordon, Walter, 21, 22 L
Goulart, João, 45 Lacerda, Carlos, 19
Grassman, Marcel, 53, 57, 79 Landau, Lev, 82
Grillo, Heitor, 10 Lattes, Cesar, x, 15, 30, 34, 35,
Gross, Bernhard, 33 36, 133
Guggenheim, 8, 42 Leibniz, Gottfried Wilhelm, 63,
Guinle, Guilherme, ix 102
Leighton, Ralph, 68
H Leighton, Robert B., 68
Leite Lopes, José, iv, v, vii, viii,
Hadamard, Jacques, 103 ix, xi, xii, xiii
Hahn, Otto, 82 Leite Lopes, José Sérgio, 10
Haller, Friedrich, 54 Lenin, 39
Hawking, Steve, 102 Lent, Hermann, 45, 124
Heisenberg, Werner, 78, 85, 87, Leucipo, 11, 15, 115
104 Lévy-Strauss, Claude, 17
Hepp, Gerard, 36 Lins de Barros, Henry British, x
Heráclito, 6, 70, 77 Lins de Barros, João Alberto, x,
Higgs, P.W., 94 35, 36
Hilbert, David, 85, 90 Lins de Barros, Nelson, x, 35
Hitler, Adolf, 16, 17, 18 Liszt, Franz, 99
Hobsbawn, Eric, 26 Lobatcheviski, Nikolai
Hu, Ning, 105, 106 Ivanovitch, 80
Hubble, Edwin, 134 Lorentz, Hendrik Antoon, 13,
40, 55, 64, 93, 118, 119
J Louis XIV, 1, 66
Low, Francis, 23
Jauch, Josef Maria, x, 105 Lucrécio, vi
Jaurès, Jean, 127 Lutero, Martim, 26
Jefferson, Thomas, 26
João VI, Dom, 27, 28

139
M N
Mach, Ernest, 63, 93 Napoleão III, 16
Magalhães, Fernão de, 25 Navarra, Rubem, 9
Mahler, Gustaf, 99 Nero, 16
Maia, Bruno, viii Neves, Tancredo, 45
Malraux, André, 39 Newton, Isaac, 12, 30, 40, 41,
Mann, Thomas, 17 48, 49, 53, 54, 55, 58, 59, 63,
Maric, Mileva, 53 64, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78,
Marshak, Robert E., 145 80, 95, 101, 102, 118, 124,
Martins-Simões, José Antônio, 129, 130, 135
24 Nussenzveig, Herch Moysés,
Marx, Karl, 127 37, 132
Maupertuis, Pierre Louis
Moreau de, 72
Maxwell, James Clerk, 40, 48,
O
53, 55, 59, 73, 78, 94, 95, Occhialini, Giuseppe, 15, 34, 36
113, 118 Ombredane, André, 18
Mayer, Robert von, 62 Oppenheimer, Robert, x, 42, 44
Mc Dowell, Samuel, 37 Orozco, José Clemente, 112
McCarthy, Joseph, 89 Osório de Almeida, Álvaro, 2
Meirelles, Cecília, 10 Osório de Almeida, Miguel, 2,
Mendelssohn-Bartholdy, Felix, 123
21 Ostwald, Wilhelm, 54
Mendes, Murilo, 10
Michelangelo, 84
Mineur, Gabrielle, 143 P
Minkowski, Hermann, 55 Pacômio (Irmão), 116
Moeller, Christian, 116 Palmeira, Ricardo, 37
Molière, 36, 37 Parmênides, 103, 104
Montaigne, Michel Eyquem de, Paty, Michel, xi
iv Pauli, Wolfgang, x, 8, 14, 32,
Monteiro, Antonio Aniceto, 106 40, 49, 78, 104, 105, 106,
Montenegro, Olivio, 117 132
Moses, Arthur, 2, 45 Pedro I, Dom, 28, 84
Moussatché, Haity, 45, 123 Pedro II, Dom, 28
Mozart, Wolfgang Amadeus, 79, Pedro IV, Dom, 28
99 Perrin, Jean, 59
Mussolini, Benito, 17, 18 Phévenot, M., 1
Pinguelli Rosa, Luiz, 132
Planck, Max, 56, 73, 80, 86,
113, 114

140
Platão, iv, 1, 6, 70, 77, 84 S
Poincaré, Henri, 7, 31, 64, 118,
119 Sábato, Ernesto, v, vii
Poirier, René, 18 Salam, Abdus, 15, 22, 145
Poisson, Denis, 79 Sarney, José, 45
Portinari, Cândido, 111 Sawaya, Paulo, 124
Portinari, João Cândido, 111 Schenberg, Mario, x, 30, 33, 42,
Powell, Cecil, 15, 34 133
Prestes, Júlio, 19, 140 Schrödinger, Erwin, 21, 32, 75,
Prestes, Luís Carlos, 18, 19, 35, 78
140 Schubert, Franz, 99
Ptolomeu, 7, 71 Schwartz, Helmut, 36
Schwarzschild, M., 134
Schwinger, Julian, 69
R Scliar, Carlos, 9, 106
Rabelo, Silvio, 117 Sêneca, iv
Rabi, Isaac Isidor, 42 Sinaceur. M.A., 8
Ramos, Graciliano, 19 Siqueiros, David Alfaro, 112
Reichenbach, Hans, 105 Sirlin, Alberto, 37
Ribeiro, Darcy, 70 Soares, Adolpho, 10, 107
Riemann, Bernhard, 57, 65, 79, Soares, Ana, 10
80, 121 Sobrero, Luigi, 33
Rilke, Rainer Maria, ix, 97, 100, Sócrates, 77, 84
109, 110 Solovine, Maurice, 54
Rivera, Diego, 112 Spinoza, Baruch, 47
Rocha e Silva, Maurício, 123, Strovsky, Fortunat, 18
124 Sudarshan, E.C.G., 145
Rodin, Auguste, 110 Sussekind Rocha, Plínio, 34
Röntgen, Wilhelm Conrad, 73 Szenes, Arpád, 9, 10, 106
Roosevelt, Franklin Delano, 140
Roquette-Pinto, Edgar, 20 T
Rosenfeld, Leon, 116
Rostropovitch, Mestislav, 20, Tales de Mileto, 6, 70
142 Teixeira, Anísio, 51, 52
Rubbia, Carlo, 145 Thomson, J.J., 12, 13, 59, 60,
Rubinstein, Arthur, 142, 143 73
Russell, Bertrand, 6, 53, 55, 70 Tiomno, Jayme, 30, 37, 67
Rutherford, Ernest, 12, 13, 40, Tiradentes, 27
60 Tomonaga, S.I., 69
Troper, Amós, viii, 24
Truman, Harry S., 82

141
U W
Ungaretti, Giuseppe, 17 Wagner, Richard, 28
Washington Luís, 140
Wataghin, Gleb, x, 17, 30, 33
V Weinberg, Steven, 15, 22, 145
Vargas, Getúlio, 19, 29, 35, 43, Wheeler, John Archibald, 37
50, 139, 140 Wigner, Eugene, 37, 44
Vergilio, vi Wolfenstein, Lincoln, 24, 65
Vieira da Silva, Maria Helena, 9,
106, 107 Y
Villa-Lobos, Heitor, 18, 20, 79,
142, 143 Yukawa, Hideki, 14, 15
von Neuman, John, 44

142

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