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desindustrialização do Brasil
Logo, uma recessão seria o remédio indicado para debelar um quadro econômico
inflacionário. A recessão, defendem estes economistas, derruba a demanda e, como
resultado, os preços caem.
A recessão, por sua vez, significa que a produção está em plena contração; é quando a
atividade econômica se retrai. A economia produz menos, diminuindo a oferta de bens e
serviços disponíveis para o consumo em uma comunidade.
Logo, em que pese o estoque de moeda relativamente estável, em uma economia com uma
menor quantidade de bens e serviços sendo ofertada no mercado, os preços tendem a subir.
A moeda perde poder de compra. A recessão é um fenômeno cujos efeitos são
necessariamente inflacionários.
Por que então o entendimento distinto do senso comum? Por que a propensão a equivaler
crescimento econômico com inflação e recessão com deflação?
O que a inflação monetária não pode garantir, contudo, é um aumento efetivo e sustentável
da produção, da atividade econômica.
A demanda real é aquela originada justamente pela maior oferta de bens e serviços na
economia, conforme sugere a Lei de Say: "a oferta gera sua própria demanda". Ainda hoje a
Lei de Say é rejeitada por muitos economistas. Mas isso decorre de uma errônea
compreensão da teoria monetária.
Eu só posso demandar bens no mercado ofertando nele as mercadorias por mim produzidas.
Eu intercambio a minha produção pela produção de outros fabricantes. A moeda, nesse
processo, funciona apenas como o meio de troca, como o bem "intermediário" que eu aceito
receber em troca dos meus produtos, para poder adquirir logo mais adiante as mercadorias
que eu realmente desejo. Quanto mais eu produzo, maior será meu poder de compra no
mercado. Maior será minha demanda real no mercado.
O ponto central deste artigo é entender que o aumento da demanda real, uma maior
produção na economia, tem efeitos deflacionários e não inflacionários, ao contrário do que
costumam afirmar muitos economistas. E queda da demanda real, uma menor produção na
economia, exerce inevitavelmente pressões inflacionárias. Tudo o mais constante, uma
recessão provocará um aumento dos preços.
Em resumo, basta aplicar a velha lei de oferta e demanda. Quanto mais bens e serviços são
ofertados no país (crescimento econômico), menores tendem a ser os seus preços. Quanto
menos bens e serviços são ofertados (recessão), maiores tendem a ser seus preços. Produção
em alta, preços em queda. Produção em baixa, preços em alta. Economia em crescimento,
os preços caem. Economia em contração, os preços sobem. Simples assim.
Verdade seja dita, quando analisamos o acumulado dos últimos doze meses, outubro de
2009 seria o pior mês da história, período em que a produção despencou 10,3%. Entretanto,
aquele era o ano após o estouro da crise de 2008. A queda de então foi mais acentuada,
porém, mais abrupta e a reversão não tardou a chegar. Foram 13 meses de produção
industrial decrescente.
Agora, embora a retração não seja (ainda) tão profunda quanto a de 2009, desde março de
2014 o índice de produção industrial vem apresentando queda após queda, registrando
incríveis 19 meses consecutivos de contração da indústria.
Outra marca histórica apresentou a produção de bebidas, com queda de 5,4% em dezembro
de 2015. A indústria farmacêutica segue a mesma tendência, tendo encolhido 12,2% em
2015, também o pior mês da série histórica. Todas as atividades industriais contempladas
pela PIM-PF em 2015 contraíram, com a exceção do aumento de 3,9% das indústrias
extrativas.
A ironia das estatísticas de produção jaz em duas das cadeias produtivas mais protegidas e
subsidiadas da indústria nacional: a de veículos automotores e a de informática e
eletroeletrônicos, as quais encolheram nada menos que 26% e 30%, respectivamente. Isso
configura não apenas as maiores contrações da indústria nacional em 2015, como também o
pior mês das séries históricas de cada um desses setores. Uma marca ímpar e, sem dúvida
alguma, um sucesso estrondoso de política industrial nacional.
Das dez principais economias do globo, nenhuma apresenta contração similar à nossa.
Alguns países registram crescimento, outros, pequenas retrações. Nenhum, porém,
consegue igualar a infeliz façanha da indústria brasileira, qual seja, o nível de produção
industrial está 8,6% abaixo do de 2003. À exceção da indústria de vestuário e de couros,
todas as cadeias produtivas do Brasil estão em um patamar abaixo do de 2003. Mais uma
conquista no campo das políticas públicas e outro troféu para a prateleira dos insucessos do
governo petista.
Em virtude disso tudo, nada mais natural que os índices de preços registrem aumentos
persistentes diante da decrescente atividade industrial. E considerando que o ajuste na
estrutura produtiva ainda está em curso — mais fábricas fecharão as portas e/ou reduzirão o
nível de produção neste ano —, a recessão da economia seguirá exercendo pressões
inflacionárias.
Desde a brusca apreciação do dólar a partir de 2003 até 2011, o IPCA e o INPC não
registravam crescimento de dois dígitos. De acordo com a última leitura dos índices, em
janeiro, os preços subiram 10,71% e 11,31%, respectivamente.
E tudo isso apesar da contenção do crédito bancário — em termos reais, o crédito tem
decrescido nos últimos meses — e da inédita estabilidade dos agregados monetários. Há 25
meses, o M1 cresce a taxas anualizadas de um dígito, sendo que, em cada um dos últimos
sete meses, o agregado registrou crescimento negativo. Ambos os fenômenos jamais haviam
ocorrido na era do real. O M2 compartilha de tendência semelhante, cresce a taxas
anualizadas de um dígito desde fevereiro de 2015, um recorde de onze meses consecutivos.
Grande parte da atual desgraça é explicada pela depreciação do câmbio. Também contribui,
e muito, a profunda recessão da economia — evidenciada pela retração histórica da
indústria. Adicione a esses fatores as expectativas de inflação e a desconfiança e o quadro
fica cada vez mais difícil de remediar.
Isso tudo nos leva a duas lições fundamentais. Primeiro, o aumento da oferta monetária nem
sempre se traduzirá em aumentos de preços ao consumidor. Da mesma forma, uma
diminuição da quantidade de moeda não garantirá uma redução em tais preços. Tudo o que
podemos predicar é que um aumento do estoque de dinheiro em uma economia tende a
elevar diversos preços, não apenas os dos bens de consumo final, mas de toda a gama de
bens, serviços e ativos disponível no mercado.
Conclusão
Ainda não chegamos ao fundo do poço. A atividade econômica está em plena retração e
sem tendência de reversão. É certo que, em algum momento, a queda na produção da
economia cessará, mas reverter o quadro e aumentar a produtividade não será fácil. Isso
requer a retomada dos investimentos, o que necessariamente exige confiança, o ingrediente
mais escasso no Brasil do governo Dilma.
Se o Banco Central tem como meta explícita enfraquecer o real em pelo menos 4,5% ao
ano, medido pelo IPCA, não deveríamos esperar nada além da contínua desvalorização do
câmbio. O dólar em alta é o sintoma mais patente da doença que acomete o real brasileiro,
cuja causa pertence inteiramente ao governo.
Por isso tudo, o quadro inflacionário atual é tão resiliente. A melhor política é esperar
acabar o mandato da presidente — ou impedir a sua continuidade — e rezar/orar por um
Fed frouxo, capaz de enfraquecer o dólar globalmente — o que há grandes chances de
ocorrer, por sinal, mas isso é assunto para outro artigo.
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